Ray, Liz, Sophia e esta coisa da alma
Ao meio-tempo, a edição 2018 do Festival de Locarno corre morna, demasiado morna. Mas Ray & Liz, de Richard Billingham, veio mostrar como é que se pode fazer grande cinema com alma. (...)

Ray, Liz, Sophia e esta coisa da alma
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ao meio-tempo, a edição 2018 do Festival de Locarno corre morna, demasiado morna. Mas Ray & Liz, de Richard Billingham, veio mostrar como é que se pode fazer grande cinema com alma.
TEXTO: Qualquer coisa vai mal em Locarno quando a Piazza Grande recebe fora de concurso o novo “Spike Lee joint”, BlacKKKlansman, estreado em Maio em Cannes, e apesar das quebras de ritmo e das guinadas de tom e do desequilíbrio permanente há mais garra e mais tomates e mais cinema e mais energia nas suas duas horas do que em praticamente toda uma competição internacional povoada por gente muito mais nova. (Há excepções e já lá vamos. )É também isso que se ouve pelas ruas de Locarno, por estes dias a ferver num calor “tropical” (para a Suíça, isto é) de 35 graus centígrados com 65% de humidade e trovoadas e aguaceiros que caem geralmente à hora do jantar ou quando começam as soirées ao ar livre da Piazza Grande. As competições de Locarno 2018, ao meio-tempo do festival, têm estado mornas, morníssimas. Sobretudo para um festival que nunca teve problemas de espécie nenhuma em atirar pauzinhos para a engrenagem, a sensação de queda na formatação do cinema autoral ou do filme de tema em co-produção é preocupante – faltam filmes fracturantes (mas a vindima ainda não acabou, é certo). Já falámos aqui dos casos de Ying Liang (A Family Tour) e Dominga Sotomayor (Tarde para Morir Joven); podemos juntar-lhes a argentina María Alché e o romeno Radu Muntean. Alché, que como actriz foi A Rapariga Santa de Lucrecia Martel, estreia-se como realizadora na longa-metragem com Familia Sumergida (Cineasti del Presente), atmosférico retrato de mulher que a morte da irmã atira para uma estufa onírica de questionamentos sobre a sua vida e a sua família. Mercedes Morán é excelente no papel principal, e o filme tem uma ideia de ambiente e construção extremamente conseguida, mas tudo acaba por se resumir a uma variação simpática, competente mas impessoal, sobre os micro-dramas de Martel que nunca descola do modelo. A vantagem dos cineastas da “nova vaga romena” – e Radu Muntean, que conhecemos em Portugal mais por Terça, Depois do Natal, fez parte da “primeira leva”, ao lado de Cristi Puiu ou Corneliu Porumboiu – é que o seu nível médio é geralmente bastante bom, pelo que mesmo os filmes menores têm sempre qualquer coisa de interessante. Alice T. (Concurso Internacional) é exemplar disso. No papel, é uma história de gravidez adolescente que nada parece ter de especialmente diferente, partindo de uma miúda-problema permanentemente em guerra com o mundo. No ecrã, com a ajuda preciosa de Andra Guti (a filha) e Mihaela Sirbu (a mãe), o filme transforma-se noutra coisa: o retrato de uma miúda, filha adoptiva, que apenas quer sentir-se parte da família mas não sabe como o fazer, com a construção da trama a evitar habilmente todas as armadilhas em que uma história destas poderia cair. Foi preciso passar por estes (e outros) filmes “de festival” para começarmos a trazer ao de cima as pérolas. E há uma que, como o sol vermelho a nascer que ilustra o seu cartaz, praticamente exige que lhe prestemos atenção – Sophia Antipolis (Cineasti del Presente), do francês Virgil Vernier, que começou pelo documentário e tem vindo a dirigir-se para a ficção. Com esta segunda longa, sobre vidas interligadas no parque tecnológico de Sophia Antipolis, tentativa de criar um Silicon Valley na Côte d’Azur, Vernier dilui totalmente as fronteiras ao colocar actores não-profissionais a interpretarem personagens que estão próximas das suas próprias vidas, como se encarnassem nos seus corpos a disfunção extrema do mundo contemporâneo, e a levantarem questões peculiarmente éticas sobre o que filma e como o filma. É um olhar clínico, impiedoso como o sol do meio-dia, sobre uma França atomizada, contemporânea, distópica, dividida entre aqueles que não têm e se matam a trabalhar para ter, e aqueles que têm e não sabem o que fazer com o que têm. Há uma peculiar ligação entre Sophia Antipolis e o Coincoin et les z'inhumains de Bruno Dumont – ambos são filmes que olham para a França moderna (e, por extensão, para o mundo à sua volta) como uma sociedade à beira do apocalipse, uma panela de pressão que precisa de explodir. Dumont fá-lo através do humor, do burlesco radical; Vernier prefere deixar a pressão continuar a subir enquanto filma um colapso em câmara lenta, esperando por uma explosão que não sabe de onde virá, como quem avisa que ela pode acontecer a qualquer momento. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas se já tínhamos uma ideia do que esperar de Vernier, já a estreia na realização do britânico Richard Billingham era uma incógnita. Vai-se a ver, Ray & Liz (Concurso Internacional) é a primeira grande surpresa de Locarno 2018 e o melhor dos filmes já exibidos na competição principal, mesmo que não saibamos se marca o início de qualquer coisa ou se é apenas um caso pontual. Isto porque Ray & Liz é o prolongamento do trabalho de Billingham como fotógrafo, dos retratos e dos pequenos vídeos que fez ao longo dos anos à volta da sua família, pai alcoólico e mãe violenta que deixavam os filhos literalmente à solta. Obra assumida e abertamente autobiográfica, episódios de uma infância pobre na era de Margaret Thatcher, é muito evidentemente filme de fotógrafo, na sua aproximação à imagem, no seu enquadramento cuidado, no modo como a rodagem em 16mm constrói uma textura de vida vivida, de experiência real. Mas Ray & Liz é também um filme, isto é, uma história que se conta com imagens, numa espantosa fuga formal às convenções do realismo britânico. Estamos mais próximos dos tableaux atmosféricos de Terence Davies, onde o que é preciso dizer é mostrado, mais do que dito, onde o diálogo é secundário e tudo passa pelo trabalho de imagem e montagem. Ray & Liz não tem nada de panfleto; é só um retrato de uma Grã-Bretanha que existiu e talvez ainda exista, feito por quem a viveu, mais interveniente e político do que muito filme de tema. É um filme singular, pessoal, com alma – precisamente aquilo que este ano Locarno pouco tem tido até agora. O PÚBLICO está em Locarno a convite do Festival de Locarno
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Partidos LIVRE
“Tem de haver algum cuidado na gestão do período experimental”
João Proença, ex-lider sindical e actual representante dos beneficiários na ADSE, defende que é preciso proteger os trabalhadores despedidos durante o período experimental. (...)

“Tem de haver algum cuidado na gestão do período experimental”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: João Proença, ex-lider sindical e actual representante dos beneficiários na ADSE, defende que é preciso proteger os trabalhadores despedidos durante o período experimental.
TEXTO: João Proença, que durante 18 anos esteve à frente da UGT e que sancionou três grandes revisões da legislação laboral incluindo uma no período da troika, evitar opinar sobre a alteração ao Código do Trabalho acordada na Concertação Social entre o Governo, as quatro confederações patronais e a UGT, a 18 de Junho. Ainda assim, e sobre o polémico alargamento do período experimental para alguns trabalhadores, o actual presidente do Conselho Geral e de Supervisão da ADSE vai avisando que é preciso encontrar mecanismos que protejam os trabalhadores despedidos durante esse período. Já em relação à função pública, defende que nada justifica o congelamento dos salários e que o Governo tem de definir uma política de recrutamento e de atracção de quadros, evitando que no futuro a entrada se faça, sobretudo, recorrendo à precariedade. Que apreciação faz das alterações ao Código do Trabalho acordadas na Concertação Social e votadas na generalidade pelo Parlamento?Não gostava de me pronunciar sobre isso. Em primeiro lugar, o Estado é uma pessoa de bem e os parceiros sociais são pessoas de bem, fizeram um acordo, respeite-se. Segundo, é evidente que tem de ser combatida a precariedade excessiva, embora alguma precariedade tenha de existir sempre. Mas algumas das soluções propostas, como o alargamento do contrato de curta duração a todas as actividades, não poderá criar novas bolsas de precariedade?Os parceiros sociais e o Governo analisaram a situação e não me iria meter nessa discussão. Portugal é o terceiro país da União Europeia com maior peso de contratos precários. Os contratos a prazo atingem sobretudo os jovens e as mulheres jovens, ou que voltam ao mercado de trabalho após licença parental, e isso é inaceitável. Sempre nos batemos contra as regras discriminatórias que permitem que os jovens e os desempregados de longa duração possam ser recrutados a prazo, mesmo que as tarefas sejam permanentes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A proposta do Governo acaba com a possibilidade de contratar a prazo trabalhadores à procura de primeiro emprego e desempregados de longa duração para assegurar funções permanentes. Mas ao mesmo tempo, alarga-se o período experimental (de 90 para 180 dias) na contratação sem termo destes trabalhadores. Não se trata também de uma discriminação?Não queria pronunciar-me sobre o período experimental. Há que ver que, no final do período experimental, a pessoa pode ser despedida sem qualquer indemnização e, portanto, o que tem de ser analisado é como se trata esta questão. Para mim, o problema não é a duração do período experimental, mas a violência de, durante o período experimental, se poder despedir o trabalhador, sem pré-aviso, sem indemnização, sem nada. Tem de haver algum cuidado na gestão do período experimental, não é tanto a duração. Acha que é importante que o Orçamento do Estado para 2019 preveja aumentos transversais de salários para a função pública?Sim. Nada justifica o congelamento de salários na função pública. Tal como nada justifica que o Estado esteja a provocar uma grande saída de quadros, para depois o Estado gastar verbas avultadas com prestações de serviços. Não faz sentido nenhum, tinha que haver uma política de recursos humanos dentro da Administração Pública e ela não é muito clara. Como vê a regularização de precários do Estado que está em curso?A regularização de precários é muito importante, mas já é a segunda ou a terceira regularização que é feita [em Portugal]. O Estado não consegue definir uma política de recrutamento e de atracção de quadros. Enquanto regulariza uns, vai admitindo outros e daqui a três anos está outra vez a regularizar os precários. Não há uma admissão normal dentro da Administração Pública, que precisa de concursos centralizados. Esta regularização de precários é muito importante, não pode é haver esta prática sistemática em que só se entra para a Administração Pública através da ilegalidade.
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Entidades TROIKA
Os construtores de Stonehenge podem ter vindo do País de Gales
As investigações científicas têm-se concentrado na origem das pedras daquele monumento. Mas uma técnica inovadora permitiu agora descobrir a origem geográfica das pessoas que o poderão ter construído através dos seus restos mortais. (...)

Os construtores de Stonehenge podem ter vindo do País de Gales
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: As investigações científicas têm-se concentrado na origem das pedras daquele monumento. Mas uma técnica inovadora permitiu agora descobrir a origem geográfica das pessoas que o poderão ter construído através dos seus restos mortais.
TEXTO: Um dos monumentos pré-históricos mais conhecidos do mundo, Stonehenge (na região de Wiltshire, Inglaterra), continua a guardar vários segredos, entre os quais quem seriam as pessoas que o construíram e que tiveram de transportar pedras que pesavam dezenas de toneladas, numa altura em que a roda ainda não tinha sido inventada, há cerca de cinco mil anos. Um estudo arqueológico recente, publicado na última edição da revista científica Scientific Reports, vem revelar que alguns dos restos mortais encontrados em Stonehenge poderiam pertencer a residentes do País de Gales que terão percorrido centenas de quilómetros para transportar as pedras que formam o monumento. Algumas das misteriosas pedras foram extraídas das montanhas Preseli, no País de Gales, pelo que o transporte poderá ter sido feito através de rotas marítimas ou terrestres. Existem várias teorias sobre a utilidade daquele monumento, constituído por um conjunto de menires reunidos em círculos, que vão desde um observatório astronómico até a um templo religioso. Os investigadores acreditam que terá funcionado como um local de enterro de dezenas de pessoas entre os séculos 33 e 28 a. C. As primeiras escavações no local, na década de 1920, nos chamados Buracos de Aubrey (em homenagem ao naturalista do século XVII John Aubrey que os localizou pela primeira vez) revelaram os restos mortais de 58 indivíduos, homens e mulheres, cujos cadáveres foram queimados antes de serem enterrados. Porém, em 1920 os investigadores enterraram-nos novamente naquele local e só em 2008 voltaram a ser encontrados os restos mortais de 25 desses indivíduos. O facto de terem sido cremados seria, aparentemente, um impedimento à descoberta de novos detalhes. “As altas temperaturas durante a cremação, que podem atingir os mil graus Celsius, destroem toda a matéria orgânica [incluindo o ADN], mas a matéria inorgânica sobrevive”, explicou ao diário britânico Guardian Christophe Snoeck da Universidade Livre de Bruxelas, principal autor do estudo. Uma técnica inovadora, descoberta por Christophe Snoeck e seus colegas, tornou possível analisar quimicamente os restos mortais através do estrôncio – um metal alcalino-terroso sete vezes mais pesado do que o carbono, que as plantas absorveram do solo. Quando os humanos ingeriram essas plantas, o estrôncio armazenou-se nos ossos, o que permitiu agora recolher informações sobre os últimos dez anos de vida daquelas pessoas. Isto porque as altas temperaturas, afinal, levam à cristalização da estrutura óssea que permite a recolha de dados através de isótopos. Chegaram então à conclusão de que dez dos 25 indivíduos cujos restos mortais foram encontrados (40%) não residiam nas proximidades de Stonehenge e que alguns teriam vindo precisamente da zona Oeste do País de Gales, perto das montanhas Preseli de onde as pedras foram extraídas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A investigação, realizada em colaboração com a Universidade de Oxford e o Museu de História Natural de Paris, lança uma luz sobre as possíveis origens geográficas da população do Neolítico que ajudou a construir o monumento. Embora não se possa afirmar com certeza absoluta que foram aquelas pessoas a construir Stonehenge, as datas coincidem e alguns arqueólogos sugerem ainda que as pedras poderiam fazer parte originalmente de um outro monumento no País de Gales, que foi transportado e reerguido em Wiltshire. Outra hipótese é que os restos mortais tenham sido transportados, já depois de cremados, para aquele local para serem enterrados como uma forma de ritual. “Os nossos resultados ressalvam a importância das ligações entre diferentes regiões – que implicavam tanto o movimento de materiais como de pessoas – na construção e no uso de Stonehenge”, garante Christophe Snoeck citado pelo diário El País. A nova descoberta é, portanto, “um exemplo único de que os contactos e intercâmbios no Neolítico, há cinco mil anos, se faziam em grande escala”, acrescenta o investigador. Vem desvendar alguns dos segredos da pré-história britânica e abrir caminho ao estudo das migrações humanas. Texto editado por Teresa Firmino
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Partidos LIVRE
Da astronomia aos bons costumes: a Inquisição e a censura científica
O Santo Ofício também foi responsável pela censura de livros. No caso de obras que tratavam de matérias científicas, os tópicos mais visados eram a medicina, a história natural, a astrologia e as artes divinatórias. (...)

Da astronomia aos bons costumes: a Inquisição e a censura científica
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Santo Ofício também foi responsável pela censura de livros. No caso de obras que tratavam de matérias científicas, os tópicos mais visados eram a medicina, a história natural, a astrologia e as artes divinatórias.
TEXTO: Responsável por impedir a difusão de doutrinas contrárias à fé católica, a Inquisição levou a cabo largas dezenas de milhares de julgamentos em Portugal, Espanha e Itália. Só no império português, terá conduzido pelo menos 40. 000 julgamentos e condenado à morte mais de 2000 homens e mulheres entre 1536 e 1821. Apesar de os julgamentos e os autos-de-fé terem sido as acções mais visíveis e sinistras do Santo Ofício, o tribunal eclesiástico foi também responsável por uma acção bem menos visível, a censura de livros. A Inquisição desempenhou um papel de grande relevância na chamada censura repressiva, uma vez que uma das suas principais tarefas era a publicação e implementação dos Índices dos Livros Proibidos. No caso de obras que tratavam de matérias científicas, os tópicos mais visados eram a medicina, a história natural, a astrologia e as artes divinatórias. Não obstante o leque de disciplinas ser relativamente abrangente, o exemplo mais emblemático, mas também o mais anómalo, foi, sem dúvida, a condenação do heliocentrismo. Em 1543, Nicolau Copérnico (1473 – 1543) publicou em Nuremberga uma das obras mais significativas da história da ciência, o De revolutionibus orbium coelestium. Para simplificar algumas questões técnicas no modelo geocêntrico de Ptolomeu, o modelo de Copérnico colocava o Sol, e não a Terra, no centro do Universo. A adopção generalizada do modelo heliocêntrico demorou várias décadas. No entanto, esta obra foi lida e utilizada durante mais de 70 anos pelos melhores matemáticos e astrónomos de toda a Europa. A situação alterou-se em 1616, com a proibição do De revolutionibus e de outros textos que admitiam a possibilidade da Terra se mover. A proibição de defender ou ensinar o modelo heliocêntrico teve repercussões tremendas nos anos seguintes e culminou na condenação de Galileu Galilei (1564 – 1642), em 1633. Depois de ter abjurado publicamente a sua convicção de que o Sol estava no centro do Universo e de que a Terra se movia, Galileu foi condenado pela Inquisição a viver o resto da sua vida em prisão domiciliária e a cumprir uma série de penitências religiosas. Pelas suas graves consequências para a história da ciência, o caso Galileu tem caracterizado, em larga medida, a história das relações entre ciência e religião e, em particular, o modo de proceder da Inquisição em relação à censura científica. Porém, enquanto na condenação do modelo heliocêntrico, defendido por Galileu no Diálogo sobre os dois máximos sistemas (1632), o que estava em questão era uma contradição entre um modelo cosmológico e as Escrituras, na esmagadora maioria dos casos a Inquisição não se detinha sobre questões técnicas ou científicas, mas antes sobre aspectos teológicos, doutrinais ou morais. Com a publicação do Índice Tridentino (1564), instituiu-se, pela primeira vez, um conjunto de dez regras que, na sua versão original ou em versões actualizadas, foram seguidas ao longo dos séculos XVII e XVIII. Ordenadas pela gravidade das matérias a censurar, as regras tridentinas condenavam todas as obras proibidas pela Igreja antes de 1515 (Regra I), as obras de Lutero, Calvino e outros protestantes (Regra II), e as traduções da Bíblia em vernáculo (Regra III). Nenhuma das regras tridentinas visava directamente conteúdos científicos, mas as regras VII e IX vieram a ter consequências sobre os livros que tratavam matérias científicas. Por atentarem contra o livre arbítrio, a regra IX condenava as obras de astrologia judiciária e artes divinatórias, permitindo apenas as obras de astrologia natural. A regra VII proibia todos “os livros que de propósito tratam de coisas lascivas e desonestas”, porque “não somente havemos de ter conta com a fé mas também com os bons costumes que com se lerem tais livros se corrompem e perdem facilmente”. A aplicação da regra VII foi decisiva na censura do médico português Amato Lusitano (1511 – 1568) e de várias outras obras de medicina. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A título de exemplo, veja-se a censura da Anatomia mundini (1541) do médico alemão Johannes Dryander (1500 – 1560). Num exemplar da Biblioteca Nacional de Portugal, a intervenção censória foi particularmente grave e levou à eliminação de um fólio inteiro (fólio 30). Como a representação do sistema reprodutor feminino era considerada matéria lasciva, a aplicação da regra VII deveria ter levado ainda à censura do fólio seguinte. No entanto, a censura era exercida não só por censores, mas também por livreiros, bibliotecários e leitores, o que implicava uma certa arbitrariedade nos critérios aplicados. Mas a relação complexa entre a severidade dos Índices e das regras tridentinas e a sua aplicação efectiva daria outra história. Historiador de ciênciaEsta série, às segundas-feiras, está a cargo do Projecto Medea-Chart do Centro Interuniversitário de História das Ciências e Tecnologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que é financiado pelo Conselho Europeu de Investigação
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Partidos LIVRE
Cientista sul-coreano vai liderar painel climático da ONU
Líder do IPCC substituído depois de 13 anos, um Prémio Nobel e uma série recente de episódios negativos. (...)

Cientista sul-coreano vai liderar painel climático da ONU
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Líder do IPCC substituído depois de 13 anos, um Prémio Nobel e uma série recente de episódios negativos.
TEXTO: O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas – o principal farol científico internacional da luta contra as alterações climáticas – tem um novo presidente. O sul-coreano Hoesung Lee vai substituir o indiano Rajendra Pachauri, que se demitiu em Fevereiro, depois de 13 anos à frente do IPCC (a sigla em inglês do painel), abalado por uma série de episódios negativos nos últimos anos. Hoesung Lee, 69 anos, é professor da Universidade da Coreia do Sul e especialista nos aspectos económicos das alterações climáticas, energia e sustentabilidade. Foi eleito esta terça-feira, numa reunião do IPCC na Croácia, por 78 votos contra 56 para o belga Jean Pascal van Ypersele. Ambos eram já vice-presidentes da organização criada pelas Nações Unidas em 1988, e na qual estão representados os governos de 190 países. Os relatórios periódicos do IPCC são uma espécie de barómetro sobre o que a ciência sabe acerca das alterações climáticas. Neles, procura-se avaliar toda a literatura científica sobre o assunto e sintetizá-la em conclusões sobre o que está a se passar com o clima, o que pode acontecer no futuro e quais as razões, os impactos e as soluções possíveis. Os resultados são aceites pela generalidade dos governos e servem de base a negociações internacionais no seio da ONU. A quinta avaliação do IPCC, concluída no ano passado, reiterou que o aquecimento global é inequívoco, que há 95% de certezas de que a maior parte da culpa é humana e que, no pior cenário, a temperatura da Terra pode subir até 5oC até ao final deste século. Para limitar este aumento a 2oC – um nível considerado aceitável – é preciso reduzir as emissões mundiais de gases com efeito de estufa entre 40 e 70% até 2050 e a zero até 2100, segundo as conclusões do IPCC. Hoesung Lee tem a tarefa de lançar a sexta avaliação global sobre as alterações climáticas, que levará cinco a sete anos até ficar pronta. O cientista sul-coreano já disse que deseja abordar mais os aspectos regionais do problema. Também quer alargar a participação científica das mulheres e de especialistas dos países em desenvolvimento. “Como economista a lidar com os temas da energia e do clima, estou particularmente interessado nas relações das alterações climáticas com a criação de empregos, saúde, inovação e desenvolvimento tecnológico, acesso à energia e combate à pobreza”, disse Lee, numa conferência de imprensa esta quarta-feira. Melhorar a estratégia de informação do IPCC é outra aposta do novo presidente do IPCC. “Acima de tudo, precisamos proporcionar mais informação sobre as opções que existem para a prevenção e adaptação às alterações climáticas”, diz. Nos últimos 13 anos em que foi liderado pelo cientista indiano Rajendra Pachauri, o IPCC passou da glória à suspeição. Em 2007, a organização foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz, juntamente com o ex-Presidente norte-americano Al Gore. Pachauri, líder do IPCC desde 2002, foi reeleito em 2008. Logo a seguir, uma série de episódios mancharam a imagem científica do painel. Em 2009 explodiu o caso climategate, com a revelação de emails de uma universidade britânica que lançaram dúvidas sobre a credibilidade de alguns trabalhos científicos usados pelo IPCC. Seguiu-se a descoberta de que o painel tinha considerado um estudo sem validade científica para afirmar que os glaciares dos Himalaias poderiam desparecer até 2035. Mais recentemente, Rajendra Pachauri foi acusado de assédio sexual por uma funcionária do instituto científico TERI, que dirige há décadas. Pachauri renunciou à presidência do IPCC em Fevereiro deste ano. O trabalho do IPCC é uma das bases para a adopção de um novo tratado internacional climático, que vem sendo negociado desde 2005. Um momento decisivo terá lugar no final deste ano, numa conferência das Nações Unidas em Paris, de 30 de Novembro a 11 de Dezembro. Espera-se que desta cimeira saia um acordo global, com compromissos para todos os países, para vigorar a partir de 2020.
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Entidades ONU
As Termas da Ferraria querem ser mais do que um spa
O Spa Termal na ilha de São Miguel, Açores, destina-se ao bem-estar. Mas está a ser feito um estudo para que as águas sejam reconhecidas pelas suas qualidades medicinais. (...)

As Termas da Ferraria querem ser mais do que um spa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.35
DATA: 2018-12-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Spa Termal na ilha de São Miguel, Açores, destina-se ao bem-estar. Mas está a ser feito um estudo para que as águas sejam reconhecidas pelas suas qualidades medicinais.
TEXTO: Para trás fica uma paisagem de cortar a respiração com as piscinas naturais de água quente, o mar de um azul transparente que bate nas rochas vulcânicas da praia de areia escura quase preta, em São Miguel, Açores. O agradável aroma das velas acompanha a descida das escadas que conduzem à recepção do spa das Termas da Ferraria, que fizeram grande furor nos anos 1950 quando ali funcionava um hospital termal e os doentes desciam de burro a íngreme estrada e, três semanas depois, saíam a andar pelo seu próprio pé. Foi por isso que “o povo começou a chamar de 'milagrosas' as águas salgadas termais que têm um teor de enxofre muito elevado”, conta o engenheiro Bruno Oliveira, responsável pelo actual espaço Spa Termal Termas da Ferraria que abriu há oito anos e “está, desde 1 de Abril deste ano, inscrito nas Termas de Portugal como tendo termalismo de bem-estar”. No início de 2019, Bruno Oliveira espera ter um corpo clínico com médico hidrologista e fisioterapeuta com especialidade em termalismo na equipa. “O objectivo é ter programas terapêuticos com supervisão médica”, elucida. Antes disso, é preciso proceder à certificação das termas com classificação médico-hidrológica e legal da água para doenças de pele e músculo-esqueléticas. No primeiro trimestre de 2019, o Inovação Tecnológica dos Açores (Inova), a entidade que analisa mensalmente 30 das 48 nascentes de água termal existentes nos Açores, deverá, então, começar um estudo à aplicabilidade das águas da Ferraria. João Carlos Nunes, do Inova, disse recentemente ao PÚBLICO que, apesar de o saber empírico afirmar que a água amarelada cura doenças de pele, tal só pode ser garantido depois de um estudo médico-hidrológico aplicado a utentes com doenças de pele. Um estudo monitorizado por um médico hidrologista que comprove a cura. “Consiste em registar evidência terapêuticas para fins medicinais”, referiu o também geólogo e professor universitário de vulcanologia. “Fazemos análises químicas e microbiológicas de controlo para assegurar que têm condições para serem usadas pelo público”, explica. Bruno Oliveira acrescenta que já foram, entretanto, recolhidas e analisadas as águas, durante três anos. Enquanto espera pela certificação das águas, as termas funcionam como espaço de spa de bem-estar, onde “a água do mar, que é aquecida pelo vulcão, chega a uma temperatura de 62 graus centígrados que depois é misturada com água do mar fria até descer aos 37 graus”, descreve Bruno Oliveira. “Medimos a temperatura da água de hora a hora”, garante enquanto explica que o lugar da Ferraria tem duas nascentes de águas termais de origem vulcânica que aquecem as piscinas naturais e abastecem o seu complexo termal. “Temos pessoas que nos procuram para o termalismo, nomeadamente através da talassoterapia, com banhos, sessões de relaxamento dentro de água, aproveitando todos os benefícios destas águas impares, que combinam da melhor forma as componentes de origem marinha e geotérmica”, descreve o responsável. Por aqui há vários tipos de massagens como a Jazz Massage (77 euros) e Azorean Stone Massage (80 euros). Ou ainda o envolvimento com algas e argila; massagem de relaxamento, relaxamento em água. “Nos packs de dia completo, o que tem mais sucesso é a 'Princesa por um dia', onde tentamos proporcionar um dia completo de relaxamento, sendo o relógio proibido”, realça. Mas voltemos à recepção onde os passos seguem para a zona de descanso e jacuzzi com água termal arrefecida com água do mar entre os 37 e os 38, 5 graus centígrados. E de seguida para a sauna, banho turco e depois para o corredor de contraste com água do mar fria. Depois, o convite é para dar umas braçadas na piscina interior, também com água termal arrefecida com água do mar, mas desta vez a uma temperatura entre os 36, 5 e os 38 graus. “Temos uma bomba com cerca de 20 metros que extrai a água do mar”, elucida Daniela Estrela, técnica do spa. Lá fora a piscina exterior, igualmente com água do mar e água termal, convida a um momento de relaxamento mesmo nos dias mais cinzentos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Se o apetite apertar, podemos sempre dar um salto ao restaurante com gastronomia típica, onde se pode experimentar Alcatra Regional e Polvo da Ilha Terceira. “As termas contribuem para o desenvolvimento do turismo de saúde e de bem-estar na região”, elucida Bruno Oliveira. Assim como empregam dezenas de pessoas, acrescenta. “Somos, provavelmente, o maior empregador da freguesia que utiliza praticamente só recursos locais”, informa. “Temos famílias completas a trabalhar connosco. ”O PÚBLICO viajou até São Miguel a convite do Turismo dos Açores.
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Em conversa de bar, garimpeiros gabam-se de chacinar uma tribo da Amazónia
Nos cantos mais recônditos da floresta há ainda povos isolados, que não conhecem o mundo moderno. Os primeiros contactos podem ser mortais, como terá acontecido no estado do Amazonas, no Brasil. (...)

Em conversa de bar, garimpeiros gabam-se de chacinar uma tribo da Amazónia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nos cantos mais recônditos da floresta há ainda povos isolados, que não conhecem o mundo moderno. Os primeiros contactos podem ser mortais, como terá acontecido no estado do Amazonas, no Brasil.
TEXTO: Não fosse o alarde provocado num bar por um grupo de garimpeiros a trabalhar numa exploração ilegal de ouro na Amazónia, o mundo poderia nunca ter sabido que parece ter sido um massacre. Os garimpeiros diziam ter encontrado membros de uma tribo que nunca teve contacto com a civilização exterior, perto da fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia. Embora fossem menos que os índios – que seriam cerca de dez – os garimpeiros manietaram-nos e mataram-nos a todos, revela Carla de Lello Lorenzi, porta-voz da delegação brasileira da Survival International, organização não-governamental de defesa dos povos indígenas. Segundo Lorenzi, os mineiros cortaram os corpos aos pedaços para evitar que flutuassem, e atiraram-nos para o rio Jandiatuba. Os mineiros tinham consigo ferramentas e ornamentos indígenas, o que corrobora a sua história. Perturbada pelo que estava a ouvir, uma pessoa presente no bar gravou a conversa dos garimpeiros e entregou a gravação às autoridades. Se a investigação subsequente confirmar o relatado, tratar-se-á de um dos maiores assassínios em massa de povos isolados das últimas décadas. Os defensores de medidas de protecção mais rigorosas dizem que o alegado massacre é prova evidente de que o Governo brasileiro não está a fazer o suficiente para proteger as mais de cem tribos que nunca estabeleceram contacto com o mundo exterior – e que não têm qualquer desejo de o fazer. “Se estes relatos se confirmarem, [o Presidente Michel Temer] e o seu Governo têm uma grande responsabilidade por este ataque genocida”, afirma Stephen Corry, director da Survival International, acrescentando que o executivo fez cortes na Funai, a Fundação Nacional do Índio, deixando-os “à mercê de milhares de invasores – mineiros, fazendeiros e madeireiros – desesperados para roubar e pilhar as suas terras. ”“Há anos que as terras destas tribos deviam ter sido adequadamente identificadas e protegidas – o apoio declarado do Governo àqueles que querem abrir as propriedades indígenas é absolutamente vergonhoso, e está a atrasar em décadas a luta pelos direitos indígenas no Brasil. ”De acordo com o New York Times, o governo fechou cinco das 19 bases usadas para monitorizar as tribos isoladas e evitar incursões de mineiros e madeireiros. Três das cinco instalações encerradas situavam-se no Vale do Javari, lar de mais tribos isoladas do que qualquer outro local no mundo. Por razões óbvias, pouco se sabe sobre o grupo indígena que foi alvo dos alegados homicídios. Lorenzi afirma que na região são conhecidos por Flecheiros – “aqueles que atiram flechas” – mas a sua língua e costumes, bem como a forma como interagem com pelo menos outras duas tribos isoladas que habitam a mesma área, continuam a ser um mistério. Os membros das tribos não são as únicas pessoas naquela zona da Amazónia, diz Lorenzi. Embora a exploração mineira seja proibida, os garimpeiros trouxeram para o local equipamento de terraplanagem, deixando atrás de si enormes crateras que podem ser vistas do ar. Segundo o governo, os mineiros trouxeram também a violência, sendo responsáveis por ameaças, prostituição infantil e assassínios. Mesmo que pacífica, até a sua simples presença nas terras protegidas pode ser perigosa para as tribos isoladas, pois os seus membros não dispõem de imunidade contra as doenças que os mineiros e os madeireiros levam consigo. Todo e qualquer contacto pode ser conflituoso ou até violento, e as tribos estão geralmente em desvantagem porque, como Lorenzi diz, “normalmente são arcos e flechas contra armas de fogo. ”Dado que envolvem dois grupos que evitam falar às autoridades, é sempre difícil obter informações precisas sobre estes contactos. Mesmo assim, às vezes surgem relatos de grandes atrocidades. A Survival International documentou a história de Marisa e Leida Yanomami, sobreviventes do massacre de Haximu em 1993. “Os mineiros mataram os nossos irmãos e o nosso pai com machetes; outros foram mortos a tiro”, contaram à organização. “Depois de matarem dez pessoas, no início da guerra, nós escondemo-nos no nosso shabono [construção comunal dos índios Yanomami], mas no dia seguinte os mineiros voltaram a aparecer. ”Numa declaração no seu site, a Fundação Nacional do Índio, órgão estatal para os assuntos indígenas, diz ter dado instruções ao Ministério Público para que investigue as recentes alegações. Também o Governo fez eco da sua última operação para proteger as terras protegidas, tendo encerrado em Agosto uma exploração mineira ilegal. As forças de segurança destruíram quatro máquinas de dragagem e aplicaram às empresas uma multa de um milhão de dólares por crimes ambientais. As investigações não são fáceis de levar a cabo. O local dos alegados assassínios, por exemplo, fica a 12 horas de viagem por barco, durante a estação seca. E é preciso lidar com um grupo de pessoas com a sua própria língua e com uma centenária desconfiança relativamente a forasteiros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Até os detalhes sobre a chacina são escassos, diz Lorenzi. E este vácuo de informações é a causa de outro receio dos activistas: que este tipo de encontros violentos aconteça muito mais frequentemente do que se sabe. “É muito provável, sim, porque é tão difícil de arranjar provas. São tribos isoladas e sem contacto com o exterior contra mineiros ilegais que pensam que podem fazer o que quiserem. E infelizmente, muitas vezes podem. ”Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos guerra violência ataque prostituição ilegal infantil
RTP lança nova grelha com muita ficção nacional e estreias na informação
Série centrada em Vera Lagoa, Snu Abecassis e Natália Correia é uma das novidades apresentadas esta quinta-feira. Haverá um filme português por mês e novos formatos na informação, mas o programa Prós e Contras mantém-se. (...)

RTP lança nova grelha com muita ficção nacional e estreias na informação
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181226201445/https://www.publico.pt/n1844009
SUMÁRIO: Série centrada em Vera Lagoa, Snu Abecassis e Natália Correia é uma das novidades apresentadas esta quinta-feira. Haverá um filme português por mês e novos formatos na informação, mas o programa Prós e Contras mantém-se.
TEXTO: Sob o mote "Criativisão", as novidades da RTP para os próximos meses foram apresentadas esta quinta-feira ao final da tarde no recentemente inaugurado LACS, em Lisboa. Gonçalo Reis, o presidente do conselho de administração da empresa, explicou que só ficaram de fora os planos para as áreas do digital e da rádio, que serão anunciados na próxima semana. A ficção nacional volta a ser uma das grandes apostas da estação. A RTP1 acaba de estrear, esta quarta-feira, Circo Paraíso, de Patrícia Müller (que, tal como Alma e Coração, a nova novela da SIC, gira à volta do circo). Em Novembro chega a versão série de Soldado Milhões, o filme de Jorge Paixão da Costa e Gonçalo Galvão Teles sobre a participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial que se estreou nas salas em Abril. 3 Mulheres, um projecto que esteve cinco anos em gestação e parte de uma ideia original de Fernando Vendrell e Elsa Garcia, tem estreia marcada para Dezembro: centra-se em Snu Abecassis, Vera Lagoa e Natália Correia, abrangendo toda a década de 60 e estendendo-se até às vésperas do 25 de Abril. No mesmo mês, estreia-se Teorias da Conspiração, de Paulo Pena e Artur Ribeiro, sobre uma jornalista a braços com uma enorme teia de poder e escândalos políticos e financeiros. Cada mês vai ter também um filme português em antena. Em Outubro, a honra calhará a São Jorge, de Marco Martins, seguindo-se Perdidos, de Sérgio Graciano, em Outubro, e o luso-espanhol 100 Metros, de Marcel Barrena, em Dezembro. Na informação, há dois novos formatos. Outras Histórias, que passará a seguir ao Telejornal, é um programa conduzido por Estela Machado que mostrará outras facetas de figuras mais ou menos conhecidas. Tempo Limite surgirá diariamente na RTP3, com a intenção de ir além do futebol e de focar outras modalidades desportivas, e terá apresentação de Inês Gonçalves. Em antena mantêm-se Linha da Frente, Sexta às 9 e Prós e Contras. O Jornal da Tarde e o Telejornal da RTP1 passarão em simultâneo na RTP3, onde haverá também resumos das principais notícias do dia a cada meia hora. Em termos de entretenimento, regressa em Outubro, para uma segunda temporada, a competição de costura Cosido à Mão, desta feita com Mariama Barbosa no júri. O Artesão, novo formato apresentado por Sílvia Alberto, andará à volta do país a descobrir quem trabalha com as mãos. Joker, o recém-estreado concurso com Vasco Palmeirim, é outro dos destaques da grelha, tal como os regressos de The Voice Portugal e O Preço Certo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No desporto, estão prometidas mais de mil horas dedicadas a outras modalidades além do futebol, sendo que este se fará representar pelos jogos da selecção nacional, mas também da Liga das Nações e da Taça de Portugal. O basquetebol estará na RTP2 e o futebol de salão aos domingos à tarde na RTP1. A RTP2, que faz 50 anos e, segundo a directora, Teresa Paixão, quer sublinhar o carácter inclusivo da sua programação, estreia novos formatos de entretenimento e ficção. Acende a Luz Para eu te "Ouvir" ensinará e desfará mitos sobre a Língua Gestual Portuguesa, a partir de 23 de Setembro, ao final da tarde. Já Clarabóia, uma encenação de Maria do Céu Guerra na Barraca, com texto de João Paulo Guerra a partir do livro só publicado postumamente de José Saramago, faz o teatro regressar à RTP2 no dia 6 de Outubro. Haverá também duas novas séries de ficção na RTP2. Sara, de Marco Martins, co-escrita por Bruno Nogueira e centrada em Beatriz Batarda, que já teve apresentação no IndieLisboa, arranca a 7 de Outubro, às 22h15. Antes disso, estrear-se-á Idiotas, Ponto. , : a criação do estreante Diogo Lopes, centrada em três amigos, chega à meia-noite do dia 20 de Setembro.
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Palavras-chave guerra mulheres circo
Bodyguard: uma das séries do Verão que não estamos a ver chega a Portugal via Netflix
O Verão há muito não é sinónimo de programação internacional descartável e Portugal já não é tão longe da TV americana, mas da safra de 2018 alguns títulos-chave ainda não se estrearam. (...)

Bodyguard: uma das séries do Verão que não estamos a ver chega a Portugal via Netflix
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Verão há muito não é sinónimo de programação internacional descartável e Portugal já não é tão longe da TV americana, mas da safra de 2018 alguns títulos-chave ainda não se estrearam.
TEXTO: Uma das séries mais elogiadas do Verão televisivo que agora termina vai estrear-se em Portugal no Netflix. Bodyguard, a estreia de uma série mais vista na última década no Reino Unido, vai chegar à plataforma de streaming a 24 de Outubro depois de um período estival em que algumas das novas séries não chegaram a Portugal — em parte pela potencial mudança de casa da HBO no país. A série britânica com Richard Madden (A Guerra dos Tronos) e Keeley Hawes (Ashes to Ashes) tem seis episódios e é da BBC. A notícia começou a desenhar-se nos últimos dias, quando a World Studios, da ITV britânica, anunciou que seria o gigante do streaming a distribuir a discutidíssima série que envolve terrorismo e acção hollywoodesca em todo o mundo à excepção do Reino Unido, China e Irlanda. Mal se estreou, recebeu cinco estrelas de jornais como o Guardian e audiências de 10, 4 milhões de pessoas, além de um share de mais de 40% — números raros na actual fragmentada experiência televisiva. Qualidade aliada à quantidade, ao que tudo indica, com base numa história sobre o veterano de guerra, David Budd, que se torna guarda-costas da ministra do Interior britânica Julia Montague, que defendeu o conflito militar em que combateu e cujas políticas são contrárias às do sargento. Criada por Jed Mercurio (Line of Duty), a série é um produto BBC mas com o braço de produção da concorrente privada ITV e o próprio Netflix como produtores – este último elemento só se soube agora, diz o New York Times, e faz temer, escreve o Guardian, que o novo rótulo “Netflix Original” condicione a distribuição da segunda temporada no Reino Unido. Não querendo fazer qualquer afirmação política, disse Jed Mercurio ao diário norte-americano, explora os temas do "debate segurança nacional versus liberdades civis" e se "fazer parte de intervenções militares no Médio Oriente influencia o terrorismo interno". Inclui acção como nos filmes de James Bond ou Jason Bourne, dizem os britânicos, e terminará no domingo na BBC com um episódio de mais de uma hora a fazer lembrar o que se antevê para o final da série mais vista do mundo, A Guerra dos Tronos, episódios longos como telefilmes a findar a série da HBO potencialmente no próximo Verão. A série de fantasia que popularizou Richard Madden é precisamente uma das que, nos últimos anos, refez a reputação das “séries de Verão”, mostrando que as grelhas do tempo quente nem sempre são descartáveis. Nos últimos anos, foi o Verão que trouxe Stranger Things e The Night Of, ou Twin Peaks e The Deuce, e foi no Verão que fenómenos como A Guerra dos Tronos atingiram os seus clímaxes. Mas em 2018, o Verão televisivo foi menos fértil no que toca às séries americanas em Portugal, muito porque a HBO pode (ou não) estar a mudar de casa no país. Este Verão, os espectadores americanos viram as novas séries Killing Eve, com Sandra Oh e a caça a um serial killer, da BBC America. Entusiasmaram-se também com Sharp Objects, com Amy Adams, ou Succession, e estão a regressar à Nova Iorque de 1977 entre prostituição, empoderamento feminino e punk rock com a segunda temporada de The Deuce, de David Simon. Todas são televisão que ainda não estamos a ver, ao contrário do que Portugal se habituou com o encurtar das janelas de exibição entre o país e os EUA originários nos últimos anos. E as três últimas são séries da HBO, que até ao final da Primavera ainda tinha morada certa em Portugal — o canal TVSéries, graças à parceria com a Nos Lusomundo TV, que era Home of HBO em Portugal desde 2015, garantindo estreias simultâneas e acesso directo a muitos dos seus conteúdos mesmo nos canais TV Cine. Nenhuma se estreou em Portugal, mesmo tendo The Deuce estreado em 2017 no mesmo dia e hora que nos EUA no TV Séries. A designação Home of HBO desapareceu do TVSéries em Junho, ao mesmo tempo que se antevia que a HBO Europe, a plataforma de video on demand do canal americano, ia começar a operar em Portugal como serviço de streaming. A HBO nada revelou na altura sobre o tema, e o canal TVSéries reiterou apenas ao PÚBLICO esta quinta-feira, através do seu gabinete de comunicação: “estamos a rever o âmbito da nossa parceria”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os últimos títulos HBO estreados pelos canais foram Barry, que deu dois Emmys aos actores Bill Hader e Henry Winkler, e a segunda temporada de Westworld, bem como o telefilme The Tale. A Primavera/Verão das estreias internacionais compor-se-ia em Portugal com Lodge 49 (AMC), Cobra Kai (YouTube), Castle Rock (TVSéries), Who is America? (TVSéries), a segunda temporada de Ozark e a nova The Innocents (Netflix). Nenhuma das séries de sucesso do Verão anglófono consta das grelhas dos canais temáticos do mês de Outubro e se o TV Séries não adiantou mais sobre os seus planos, ou não, de estreias HBO, falou sim de outras séries que tem previstas para o final do ano: Yellowstone, com Kevin Costner (6 de Outubro), a nova temporada de Will & Grace (11 de Outubro) ou, sem revelar datas, o regresso de House of Cards sem Kevin Spacey em Novembro e a quinta temporada de Vikings em Dezembro.
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A primeira sentença pós-#MeToo coloca Bill Cosby entre 3 a 10 anos na prisão
Actor e humorista transferido oficialmente do lugar de figura paternal da América para o de predador sexual violento. (...)

A primeira sentença pós-#MeToo coloca Bill Cosby entre 3 a 10 anos na prisão
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181220185850/https://www.publico.pt/1845151
SUMÁRIO: Actor e humorista transferido oficialmente do lugar de figura paternal da América para o de predador sexual violento.
TEXTO: Bill Cosby, actor e comediante, trocou o título de “pai da América” pelo de “predador sexual violento”. O primeiro foi ganho nos anos 1980 como ícone televisivo do Cosby Show, o segundo foi resultado do período entre 2004, quando violou Andrea Constand, e 2018, quando se tornou na primeira condenação pós-#MeToo. Aos 81 anos, um tribunal da Pensilvânia sentenciou Bill Cosby a uma pena de "não menos de 3 e não mais de 10 anos" de prisão efectiva depois de um primeiro julgamento anulado neste caso de agressão sexual agravada e de vários acordos extra-judiciais com outras das 60 mulheres que o acusam de actos semelhantes. A pena podia ir até 30 anos de prisão, e os procuradores do condado de Montgomery, onde o caso foi julgado, pediram segunda-feira uma sentença de cinco a 10 anos de prisão depois de o juiz ter agregado todos os crimes de que é acusado num só e feito com que a pena máxima, que poderia ascender a 30 anos, seja precisamente de 10 anos de prisão. Frisaram ainda que Cosby não mostrou “qualquer remorso” pelos seus actos. A CNN detalhava segunda-feira que a defesa de Cosby, na figura do advogado Joseph P. Green, pedira prisão domiciliária devido à idade de Cosby. “Homens cegos de 81 anos que não são autónomos não são um perigo, salvo talvez para si mesmos. ” Cosby nega os crimes de que é acusado. Andrea Constand e a sua família falaram também na segunda-feira em tribunal sobre o impacto dos crimes nas suas vidas. A ex-basquetebolista, de 45 anos, disse solenemente: "Ouviram-me, o júri ouviu-me e o sr. Cosby ouviu-me. Tudo o que peço é justiça conforme aprouver ao tribunal". O juiz Steven T. O'Neill decidiu classificar Bill Cosby como “predador sexual violento”, o que o obriga a apresentar-se às autoridades para ser registado como tal e ser sujeito a aconselhamento. Na segunda-feira, a psicóloga Kristen F. Dudley, do Sexual Offenders Assessment Board da Pensilvânia, defendeu em tribunal que Cosby tem um distúrbio de personalidade associado ao sexo sem consentimento e que merecia essa categorização. Esta terça-feira, Timothy Foley, um psicólogo convocado pela defesa, argumentou que Cosby não devia ser considerado predador sexual, tendo-o avaliado como "de muito baixo risco", cita o New York Times. Mas admitiu ignorar que o actor reconheceu ter usado sedativos para fins sexuais e não ter lido os depoimentos das queixosas. Depois de anos de conversas de bastidores, de alguns relatos jornalísticos e de incredulidade da opinião pública ou simples descrédito das suas alegadas vítimas, Bill Cosby foi a tribunal responder pelos crimes de agressão sexual agravada cometidos contra Andrea Constand. Conheciam-se da Universidade de Temple, onde Constand era directora da equipa de basquetebol feminino, e ele era como um “mentor” para ela. Um dia, em 2004, ela visitou-o em sua casa. O seu relato indica que Cosby lhe deu três comprimidos que diziam ser “naturais” para combater a ansiedade de Constand. Ela ficou incapacitada de resistir a actos sexuais como apalpões e penetração com os dedos. Em 2014, o seu caso era um de 15 noticiado pela revista New York, antecedidos por outros com o mesmo padrão de sedação e abuso sexual relatados à Newsweek. Nos meses seguintes juntar-se-iam dezenas de outros relatos de mulheres queixosas quanto a Cosby, o Cliff Huxtable da América que Portugal também consumiu nos anos 1980, figura com peso moral pela sua personagem mas também pela figura pública conservadora de Cosby. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O júri que em 2017 se reuniu durante 50 horas ao longo de seis dias nada conseguiu deliberar e o julgamento foi anulado. Isto depois de outras acusadoras não terem podido testemunhar e de várias investigações jornalísticas terem mostrado como Cosby tinha admitido no passado, conforme consta de documentos legais entretanto vindos a público, ter usado sedativos para conseguir sexo com mulheres e ter pago pelo silêncio das suas acusadoras. Retomado o caso em Abril de 2018, já depois de Bill Cosby se ter tornado numa das fontes de indignação que abriu caminho para as investigações que denunciaram Harvey Weinstein e a avalanche que viria a ser o movimento #MeToo, em apenas 14 horas em dois dias o veredicto foi claro para o júri: culpado de três crimes de agressão sexual agravada, incluindo penetração sem consentimento, penetração sem consentimento enquanto inconsciente e o uso de fármacos para evitar resistência. Foi autorizado que cinco mulheres que acusam Cosby de actos de violência sexual e sedação testemunhassem neste caso. O novo julgamento de Cosby foi o primeiro do momento #MeToo e a sua condenação foi também pioneira. As primeiras acusações, de seis crimes sexuais, contra Harvey Weinstein, o principal rosto da luta contra o assédio sexual, foram formuladas no início do Verão e as audiências em tribunal deveriam começar em Setembro. Tal como Weinstein, até agora Cosby manteve-se em liberdade condicional graças ao pagamento de uma fiança de 1 milhão de dólares. Ambos foram expulsos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e viram os seus projectos profissionais suspensos.
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Palavras-chave homens violência tribunal prisão sexo sexual mulheres abuso assédio ansiedade