Os tweets de James Gunn e os valores da Disney
James Gunn foi despedido devido a tweets ofensivos publicados há dez anos. O que colocamos nas redes sociais hoje pode vir a ter um grande impacto na nossa vida profissional. (...)

Os tweets de James Gunn e os valores da Disney
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: James Gunn foi despedido devido a tweets ofensivos publicados há dez anos. O que colocamos nas redes sociais hoje pode vir a ter um grande impacto na nossa vida profissional.
TEXTO: No dia 21 de Junho soube que James Gunn, director, produtor e argumentista de Os Guardiões da Galáxia, a saga de filmes de sucesso da gigante empresa Disney, foi despedido devido a tweets ofensivos de há uma década. Para mim, estes são actualmente os melhores heróis da Marvel e esta saga é, de longe, a melhor que já fizeram. E as receitas provaram-no — o segundo filme, por exemplo, está no top 10 de filmes da Marvel com mais vendas nas bilheteiras. Os tweets em questão tratavam-se de "piadas" sobre pedofilia e violação que nunca chegaram a ser cómicas — o próprio James Gunn afirmou que tencionava chocar uma pequena audiência de seguidores na altura e que há muito tempo que se arrepende de os ter publicado. Relembro que não são tweets recentes, têm dez anos. Tal não muda o facto de esta pessoa ter dito coisas ofensivas, mas as nossas conclusões neste caso não devem ser tão severas, pois dez anos é tempo suficiente para um indivíduo mudar a sua maneira de pensar e agir (o primeiro filme de Gunn pela Disney foi feito em 2014). Foi descuidado ao não apagar essas mensagens quando entrou numa empresa gigante e que se direcciona para as crianças. No entanto, James Gunn já recebeu o apoio de vários elementos da equipa dos Guardiões da Galáxia, como é o caso de Dave Bautista (que faz o papel de Drax), Zoe Saldaña (Gamora), Chris Pratt (Peter Quill / Starlord), Pom Klementieff (Mantis) e Michael Rooker (Yondu) — este último chegou mesmo a anunciar que vai apagar a sua conta no Twitter por estar farto desta rede social. O realizador também conta com o apoio de muitos fãs que já fizeram uma petição para Gunn voltar a fazer parte do universo cinemático da Marvel. Jim Starlin, o criador de Thanos (o antagonista do último filme dos Vingadores, o filme com mais sucesso de sempre da história da Marvel), também mostrou as suas palavras de apoio a Gunn, afirmando que "(. . . ) os tweets com mais de uma década de James Gunn foram errados e estúpidos, mas claramente foram feitos em tom de piada provocativa. (. . . ) A Disney aceitou um argumento podre e tomou uma péssima decisão". Na passada sexta-feira Alan Horn, o director máximo da Disney, afirmou que "os tweets de Gunn eram indefensáveis e inconsistentes com os valores da empresa", valores esses que já começam a ser bastante questionados pelos seguidores e não seguidores da empresa. Em causa está o caso de John Lasseter, que actualmente é o principal consultor criativo da Disney e já foi acusado de vários casos de assédio sexual. Muitos trabalhadores da empresa afirmaram em entrevistas que os seus actos foram bem mais graves do que aquilo que se ficou a conhecer. Acusam-no de tocar e esfregar mulheres abaixo da cintura durante reuniões e de lhes dar beijos indesejados no rosto e nos lábios, criando assim um ambiente profissional tóxico nos estúdios da Pixar. Ambiente esse que, segundo vários funcionários, era aceite pelos superiores hierárquicos, que, por sua vez, acabaram por favorecer as principais figuras masculinas dos estúdios. Quais são afinal os valores que a Disney tanto defende? Se um homem que enfrenta estas acusações continua a trabalhar na empresa, que argumentos pode ter face a uma decisão tão ríspida contra James Gunn?Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A minha opinião pode não ser imparcial por ser um grande seguidor dos filmes que James Gunn fez para a Marvel, mas condenar uma pessoa por coisas que disse num tom anedótico e provocativo há uma década não me parece correcto. O responsável já veio pedir desculpa publicamente pelas frases que proferiu e diz entender a posição da Disney, não escondendo o arrependimento pelos actos. No entanto, vê-se assim obrigado a largar um projecto que tantos frutos deu e no qual se entregou da melhor forma. Este caso deve ser visto como um exemplo para todos os trabalhadores e futuros trabalhadores: o que colocamos nas redes sociais hoje pode vir a ter um grande impacto na nossa vida profissional. Desta forma convido-te a visitar o teu passado nas redes sociais e a apagar tudo aquilo que hoje pode ser visto como ofensivo. Aliás, se calhar mais vale apagar todas as redes sociais porque aquilo que é inofensivo hoje pode vir a ser um tabu no futuro. Estou a lembrar-me, por exemplo, de um filme em que uma mulher está inconsciente e aparece um príncipe que a beija sem consentimento. Qual é o nome do filme mesmo? Branca de Neve, um clássico da Disney! Antigamente visto como algo inocente, hoje encarado como assédio sexual. Só porque a Disney não condena não quer dizer que seja correcto.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher homem social violação sexual mulheres assédio
Doações já feitas de gâmetas e embriões mantêm-se anónimas, as novas não
Proposta do Bloco sobre as "barrigas de aluguer" que prevê 20 dias após o parto para a gestante decidir se fica com o bebé baixou à comissão sem votação. (...)

Doações já feitas de gâmetas e embriões mantêm-se anónimas, as novas não
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Proposta do Bloco sobre as "barrigas de aluguer" que prevê 20 dias após o parto para a gestante decidir se fica com o bebé baixou à comissão sem votação.
TEXTO: As doações de esperma, óvulos e embriões feitas até 24 de Abril deste ano, data em que o Tribunal Constitucional (TC) considerou inconstitucionais algumas normas da lei da Procriação Medicamente Assistida (PMA), continuarão sob anonimato. Mas os cidadãos que nascerem com gâmetas ou embriões doados depois dessa data, tanto na sequência de tratamentos de procriação medicamente assistida ou de gestação de substituição poderão, caso queiram conhecer a identidade civil do ou da dadora, pedir essa informação ao Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, desde que tenham idade igual ou superior a 16 anos. O Parlamento aprovou nesta quinta-feira à tarde os projectos do Bloco, PSD, PS, PCP e PAN que prevêem um regime de transição para as regras de confidencialidade e identificação civil dos dadores. O CDS-PP votou contra todos os projectos, assim como metade da bancada social-democrata, alegando que são "inconstitucionais" por violarem "flagrante e clamorosamente" o princípio da igualdade. Metade da bancada social-democrata também votou contra. O acórdão do TC determinou o fim do anonimato dos dadores, o que fez com que o material já criopreservado, resultante de doações feitas antes desta alteração, não pudesse ser usado sem que os dadores autorizassem o levantamento do anonimato. Porém, como alguns não o aceitaram e noutros casos não foi nem é possível contactá-los, o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA) e a Associação Portuguesa de Fertilidade chegaram a alertar para a necessidade de suspensão de muitos tratamentos com recurso a material doado. O que chegou de facto a acontecer com casos de mulheres que estavam já a preparar-se para poderem engravidar com recurso à PMA. Se a situação dessas mulheres poderá ter solução mais rápida, os casos de recurso à gestação de substituição - conhecida como "barrigas de aluguer" - deverão demorar mais tempo. Porque baixou à especialidade por 45 dias o projecto de lei do Bloco que pretendia responder à declaração de inconstitucionalidade sobre a segurança jurídica da gestante de substituição, à qual não era permitido, por exemplo, revogar o contrato em que abdicava de uma série de direitos fundamentais até à entrega da criança, ou ainda sobre as condições de nulidade do contrato. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Bloco propõe, por exemplo, que a gestante tenha até ao final do prazo legalmente previsto para o registo de nascimento da criança, ou seja, 20 dias, para decidir ficar com ela. Esta foi a solução de compromisso a que os bloquistas se obrigaram para tentar fazer passar a lei, mas continuam a defender que o prazo ideal para a gestante dizer definitivamente que não ficaria com a criança era o início dos tratamentos. PS e Bloco multiplicaram-se em críticas ao CDS e a alguns deputados do PSD que se juntaram para pedir a fiscalização da constitucionalidade do diploma ao Tribunal Constitucional. Mas no PSD, mesmo entre deputados que votaram a favor das "barrigas de aluguer" em 2016, levantaram-se dúvidas sobre esta extensão do prazo para que a gestante volte atrás na sua decisão, lembrando até que o registo da criança poderá ser feito, mesmo contra a vontade da mãe, pelo seu companheiro numa qualquer conservatória. Os centristas viram ser recusado o seu projecto de resolução que propunha o aumento de três para cinco os ciclos de tratamentos de procriação medicamente assistida comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PSD PCP
Estado deixou nas mãos do Lone Star património cultural de 50 milhões
O conjunto de moedas raras, pinturas e fotografias pode ser vendido, mas não pode sair do país. Estado perdeu oportunidade de manter na esfera pública o espólio que já está contabilizado no balanço do banco. Fundo de Resolução alerta para a falta de garantias sobre destino do acervo. (...)

Estado deixou nas mãos do Lone Star património cultural de 50 milhões
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.05
DATA: 2018-08-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: O conjunto de moedas raras, pinturas e fotografias pode ser vendido, mas não pode sair do país. Estado perdeu oportunidade de manter na esfera pública o espólio que já está contabilizado no balanço do banco. Fundo de Resolução alerta para a falta de garantias sobre destino do acervo.
TEXTO: Depois de aplicar 3, 9 mil milhões de euros no Novo Banco e de abrir a porta a injectar outro tanto, o Estado deixou para o fundo de investimento norte-americano Lone Star 50 milhões de euros em moedas raras, fotografias contemporâneas, pintura, mapas portulanos e livros quinhentistas. Um património cultural real e valioso que corresponde a 5% do que os texanos investiram na instituição liderada por António Ramalho e que, fora do perímetro público, fica à mercê da estratégia cultural de cada governo. Mais valiosa do que a colecção de fotografia contemporânea, que foi o motor do marketing cultural do BES, e é agora do Novo Banco, o que se destaca no balanço do grupo dominado pelo fundo norte-americano é o acervo de numismática. Da leitura dos números inscritos em balanço percebe-se qual é o peso de cada uma das colecções: as moedas raras estão registadas por 29 milhões de euros; a fotografia por 10 milhões; a pintura (94 obras) e mapas portulano (quatro) por 10 milhões; e a Biblioteca de Estudos Humanísticos (Biblioteca Pina Martins) por 900 mil euros. As parcelas somam 50 milhões de euros, ou seja, precisamente 5% dos mil milhões de euros que os norte-americanos injectaram no Novo Banco para controlarem 75% do capital. A colecção de numismática, com exemplares anteriores à fundação do Reino de Portugal (1139) até à implantação da República (1910), inclui um total de 13 mil moedas e cédulas antigas. Há peças dos períodos hispano-romano, suevo, visigodo e árabe, e ainda da época medieval, dos descobrimentos e dos anos do ouro do Brasil. Para além de peças dos reinados de D. Fernando, como a Dobra Pé Terra, e de D. Afonso V, com o escudo, um projecto pessoal do rei, no Novo Banco ficou uma moeda em ouro, com um diâmetro de 32 milímetros e peso de 14, 32 gramas, cunhada por D. Pedro I, Rei do Brasil (1822-1831), para marcar a sua coroação. E sobre o seu destino há episódios que se contam no Banco de Portugal (BdP). Antes de o BES colapsar, o então presidente Ricardo Salgado sugeriu ao supervisor a aquisição desta colecção que o banco ainda guarda em cofres expositores criados para o efeito e localizados na cave do edifício sede, em Lisboa. Contactos que o PÚBLICO confirmou junto de fonte do BdP. Um quadro bancário envolvido no processo evoca que o BdP “não deu andamento depois de receber pareceres negativos”. Mas o que regista ainda hoje não é tanto o sentido da resposta, mas um dos argumentos: “O BdP disse que já tinha no seu acervo exemplares idênticos aos do BES, e isto ainda que os dedos de uma mão sejam mais do que suficientes para contar as peças conhecidas em todo o mundo. ” O que o leva a ironizar: “Portanto, para o BdP era suficiente ter na sua posse um exemplar raríssimo, pois ter dois já era uma fartura. ” O que ainda hoje lhe causa perplexidade é o que levou o Governo e o BdP, via Fundo de Resolução, a incluírem no pacote vendido ao Lone Star um acervo que estava no seu perímetro e que conta quase dois mil anos de História do território nacional. A colecção do Novo Banco com maior notoriedade pública é a de fotografia contemporânea, registada por 10 milhões de euros, e com quase mil peças de 300 artistas nacionais e internacionais. Em Janeiro, como o PÚBLICO noticiou, o seu destino mais provável parecia ser o renovado Convento de São Francisco, em Coimbra. Tanto o Ministério da Cultura como a autarquia confirmaram então que esse cenário estava a ser negociado, mas até hoje não houve quaisquer desenvolvimentos. A Biblioteca de Estudos Humanísticos (Biblioteca de Pina Martins) encontra-se neste momento em depósito na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), para que seja alvo de estudo. Adquirida em 2008 por Ricardo Salgado, está valorizada por 900 mil euros. Integra 1100 livros antigos, como, por exemplo, nove incunábulos, 600 peças do século XVI, a primeira edição (1585) das Obras Completas de Sá de Miranda, Os Lusíadas (1613), ou as cartas régias de D. Afonso V (1432-1481) e de D. Manuel I (1469-1521). No Novo Banco ficou igualmente mobiliário de época, mas há muitas réplicas encomendadas pelo antigo BES à Fundação Espírito Santo, o que, na prática, consubstanciava uma forma de financiar a entidade especializada no restauro e nas artes decorativas. O Novo Banco ficou ainda com 98 obras de arte, entre as quais quatro cartas náuticas portuguesas antigas e 94 pinturas que datam desde o século XVI até aos dias de hoje. A escola flamenga está bem representada, nomeadamente com uma pintura de Pieter Brueghel, o Jovem (filho), o Banquete na Aldeia, onde se pode ver uma ceia com muitos personagens e num canto, meio escondidas, duas figuras numa relação íntima. A obra de Pieter Brueghel é a mais valiosa da colecção de pintura (valerá cerca de cinco milhões) e encontrava-se na sala particular de Ricardo Salgado, ao lado do seu gabinete, onde este recebia os seus convidados e clientes. E servia para o antigo banqueiro aliviar o “clima” mostrando a cena mais picante. Outro exemplar da escola flamenga está assinado por Quentin Metsys: Financeiros (1620), como a designou o banco, embora também seja conhecida como Agiotas. No lote de artistas nacionais estão José Malhoa, Silva Porto, Josefa de Óbidos, Sousa Pinto, Helena Vieira da Silva, Árpád Szenes, Júlio Pomar, José Pedro Croft, João Hogan, Nikias Skapinakis, José Guimarães, Graça Morais, Jorge Pinheiro, Júlio Resende e Ângelo de Sousa. Cerca de uma vintena de obras foram emprestadas a museus nacionais [ver texto relacionado], estando em curso novos depósitos em instituições públicas. Hoje, depois de o banco passar para os norte-americanos, e se António Costa quisesse reforçar o património cultural do Estado português com as várias colecções do Novo Banco, seria mais difícil, pois já há valorizações no balanço da instituição. Ainda há seis meses, a colecção de numismática estava avaliada em 25 milhões de euros, mas entretanto já subiu quatro milhões. Os 50 milhões contabilizados em bens culturais e artísticos ajudaram António Ramalho a valorizar o activo do banco e a melhorar o capital. Teria sido diferente se as autoridades tivessem excluído do negócio o património cultural, sobretudo quando durante as conversações com o Governo os texanos condicionaram a entrada na instituição ao apoio dos contribuintes até 3, 9 milhões de euros (tendo já sido injectados 790 milhões). O Fundo de Resolução, o vendedor do Novo Banco, liderado por Luís Máximo dos Santos, constata agora que se “estes activos fossem retirados do balanço do Novo Banco, teria que existir a devida compensação” e esta “situação não foi prevista nas negociações de venda ao Lone Star” rubricadas em Novembro de 2017. Contratos que incluem dois impedimentos: os acervos herdados do BES não podem ser vendidos para fora do território nacional sem que o Estado autorize; e não podem ser partidos, para não se desvalorizarem. Nas conversações, Sérgio Monteiro foi a escolha do BdP. E declinou prestar declarações ao PÚBLICO sobre o dossiê. No entanto, instado a explicar as razões que o levaram a arrastar para o negócio os 50 milhões de euros de activos culturais, disse: “O Ministério da Cultura esteve envolvido na negociação desde o primeiro minuto e a preocupação foi garantir que as colecções não são vendidas para fora de Portugal, o que só pode acontecer se o Estado autorizar. Mas não há impedimento à venda se ficarem no país. ” Admitiu ainda que “como qualquer contrato, este também pode ser mudado”. O acordo inicial acabou por ser afinado já este ano, com a realização de um inventário das peças avulsas e a sua formalização em conjuntos. Neste quadro, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, e António Ramalho, presidente do banco, estabeleceram que, “por forma a que este património permaneça em Portugal”, o Novo Banco assume o compromisso de “não o alienar, vender ou ceder” sem que o Estado dê autorização “prévia e por escrito”. E, na perspectiva do Governo, o interesse público fica salvaguardado. Peças expostas em museus nacionais ao abrigo do contrato assinado já este ano entre o Ministério da Cultura e o Novo Banco com vista “à fruição pública”:Museu Nacional dos Coches, Lisboa: pintura a óleo do séc. XVII, Entrada Solene, em Lisboa, do Núncio Apostólico Monsenhor Giorgio Cornaro. Museu Francisco Tavares Proença Júnior, Castelo Branco: obra do pintor flamengo Jan Fyt do séc. XVII Natureza Morta de Flores. Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), Lisboa: obra de Elisabeth Louise Vigée Le Brun, séc. XVIII Retrato de Anne Catherine Le Preudhomme, Condessa de Verdun (permanente). Museu da Guarda: cinco obras de artistas portugueses contemporâneos, Nikias Skapinakis, José de Guimarães, Júlio Resende, Luís Pinto Coelho e João Hogan (permanente). Museu José Malhoa, Caldas da Rainha: duas obras de José Malhoa, Ao cair da Tarde e “Um coleccionador” (permanente). Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos: obra de José Malhoa, Cuidados de Amor (permanente). Paço dos Duques de Bragança, Guimarães: obra de Jean Baptiste Nicolas Pillement, Paisagem com camponeses e rebanho (permanente). Câmara Municipal de Setúbal: três obras de pintores portugueses dos séculos XVIII e XIX, de José António de Faria e Barros (Morgado de Setúbal) e João Vaz, setubalense, paisagista incontornável no panorama da pintura naturalista, e uma pintura do seu professor e amigo, António da Silva Porto. Mas na prática pode não ficar. Isto porque os acordos que foram rubricados não estão blindados aos ciclos económicos e políticos. E um governo com outra sensibilidade pode ter outro entendimento. Ao PÚBLICO o Fundo de Resolução admite-o: “A política cultural do país é da competência exclusiva dos diferentes governos”, daí que embora “os acordos” prevejam “expressamente que as colecções de arte deverão sempre ser mantidas em Portugal”, há a possibilidade de “o Estado Português” poder tomar outra decisão. Há até exemplos. Em 2012, o investidor Miguel Paes do Amaral era proprietário de um obra de 1486, assinada pelo mestre veneziano Carlo Crivelli e que constava da lista de bens de interesse patrimonial do Estado, não podendo sair de Portugal. A sua relevância justificou um empréstimo temporário ao Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. Ora, Paes do Amaral queria vender a pintura em Paris e o Governo de Pedro Passos Coelho levantou as protecções legais e a obra Virgem com o Menino, que estava em Portugal desde o final do século XIX, acabou a viajar até Paris, onde foi arrematada por três milhões de euros. E nem estava em causa encaixe para o Estado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E sobra sempre o caso BPN. É que o destino das pinturas que lhe pertenciam, ou por compra ou por dação em pagamento, e que estão agora na Parvalorem, continua por fechar. Passos Coelho deu orientações a Francisco Nogueira Leite, o ainda presidente do veículo público, para colocar em mercado 283 obras de arte que ali estavam parqueadas, com o argumento de que o Estado necessitava de encaixe financeiro. Na altura, na oposição, o PS travou judicialmente a venda de 84 obras do pintor catalão Joan Miró, a agora designada colecção Miró (que em 2017 foi oficialmente integrada no Estado). Mas “esqueceu-se” das restantes 195 pinturas (com preço de balanço de 3, 5 milhões), a maioria de artistas nacionais (Amadeo de Souza Cardoso, Vieira da Silva, Paula Rego, entre muitos outros), que a Parvalorem, tutelada por Mário Centeno, mantém com a indicação de venda. Interpelado, o Novo Banco declinou fazer comentários. Mas o Fundo de Resolução deixou um recado: “Dentro do enquadramento dado pelos poderes enquanto accionista, o Fundo de Resolução acompanha de perto todos os assuntos relacionados com o Novo Banco, nomeadamente a questão do acervo cultural pertencente à instituição. ”
REFERÊNCIAS:
E se nós, millennials, fizermos do voto uma moda?
Mostrem que são os cidadãos que hoje procuram fazer mais exercício físico, comer de forma mais saudável e que vão para a rua gritar que não existe planeta b. (...)

E se nós, millennials, fizermos do voto uma moda?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20190711010447/https://www.publico.pt/n1873545
SUMÁRIO: Mostrem que são os cidadãos que hoje procuram fazer mais exercício físico, comer de forma mais saudável e que vão para a rua gritar que não existe planeta b.
TEXTO: Eleição sim, eleição sim, a grande vencedora das eleições é sempre a mesma suspeita do costume: a abstenção. Abstenção essa que nos deveria chocar a todos e recordar todos aqueles que pereceram para que hoje, e de forma livre, homens e mulheres possam exercer o seu direito ao voto. A abstenção é dona e senhora em tempo de eleições europeias porque para muitos a Europa é um continente que fica lá muito longe e não nos serve de nada eleger meia dúzia de cabeças que vão engordar por mês cerca de 20 mil euros à conta dos cidadãos dessa mesma Europa. Esquecemos com uma imensa facilidade para que serve a Europa e que ela começa na nossa identidade porque o nosso passaporte, antes de tudo o resto, é Europeu. A pele da Europa é feita por cada um dos cidadãos de cada Estado-membro e aqueles que vão auferir os valores que refiro são os representantes dos nossos direitos, são os nossos braços numa Europa que se quer progressista e solidária, uma Europa que nós, millennials, esperamos que saiba proteger o nosso planeta. As razões que as pessoas apresentam para naquele dia específico não votarem são sempre muitas e extremamente inusitadas: porque choveu, porque a praia e o sofá estavam muito apetecíveis, porque simplesmente os políticos são todos iguais. Deixa-se assim o destino na mão de todos os outros para na semana seguinte abrirmos o peito no bitaite de café para nos queixamos da vida e dos “donos disto tudo”, que ajudamos a eleger porque não fomos votar. E quem não vota deve ter sempre presente que é cúmplice da hipotética má democracia e da hipotética governação danosa. No entanto, eu tenho esperança que a minha geração, que é aliás a geração que apresenta piores valores de abstenção no futuro presente, dê a volta a estes números. Afinal, as novas gerações são aquelas que estão na rua a pedir à Europa que proteja o nosso planeta. E se em dia de eleições encherem de stories as redes sociais com a ida ao local onde votam, demonstrando assim que são cidadãos activos e preocupados? Mostrem que são os cidadãos que hoje procuram fazer mais exercício físico, comer de forma mais saudável e que vão para a rua gritar que não existe planeta b. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No fundo esta geração à rasca está a tornar-se numa geração que procura defender os valores certos de forma rebelde, expressiva e massiva. Não estou com isto naturalmente a sugerir que sucumbam à proibição de fotografar o boletim de voto. Mas aqueles que partilham tudo e mais alguma coisa podem e devem, a meu ver, também partilhar e tornar uma moda este dever cívico que nos pertence a todos. Façamos uso das armas vazias do tempo presente para um dia contarmos às futuras gerações do país: “Sabes, no meu tempo partilhávamos tudo e mais alguma coisa na Internet, no entanto, e apesar de toda aquela futilidade, acreditas que fizemos com que uma geração inteira exercesse o seu direito ao voto?”Eu sei que sou uma sonhadora mas gosto sempre de acreditar que posso não ser a única. Dia 26 de Maio o voto e a Europa chamam por ti. Só isto já é um bom motivo para sair do sofá, não te parece?
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Vinhos de Portugal: como uma boa história vende um bom vinho
Num total de seis dias, divididos pelo Rio de Janeiro e São Paulo, perto de 80 produtores de vinho português andaram a contar as suas histórias por entre “batalhas” amigáveis e muita curiosidade do público brasileiro. (...)

Vinhos de Portugal: como uma boa história vende um bom vinho
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.7
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num total de seis dias, divididos pelo Rio de Janeiro e São Paulo, perto de 80 produtores de vinho português andaram a contar as suas histórias por entre “batalhas” amigáveis e muita curiosidade do público brasileiro.
TEXTO: As pessoas querem ouvir e os produtores não se cansam de contar. Cada um tem a sua história e o público que encheu o Vinhos de Portugal no Rio de Janeiro (de 31 de Maio a 2 de Junho) e depois em São Paulo (de 7 a 9 de Junho) estava ali mesmo para as ouvir e perceber o que é que, afinal, distingue o vinho português, que neste momento é já o segundo mais vendido no Brasil, logo a seguir ao chileno, e ultrapassando a Argentina em volume. O evento – uma organização dos jornais PÚBLICO, de Portugal, e O Globo e Valor Económico, do Brasil, em parceria com a ViniPortugal e curadoria da Out of Paper – cumpriu a sexta edição no Rio e a terceira em São Paulo e este ano apostou ainda mais no contacto directo de enólogos e produtores com os consumidores finais. O master of wine brasileiro Dirceu Vianna Júnior convidou enólogos das várias regiões para “batalhas” em que cada um tinha que demonstrar por que é que a sua região era a melhor. Foi uma oportunidade para Sara Dionísio, da Casa de Mouraz, explicar o que distingue o Dão. “Gosto de explicar por que é que me apaixonei pelo Dão. Há um lado mágico, não é uma região que se oferece logo à primeira. Temos que procurar as vinhas no meio da floresta e é preciso algum tempo para descobrir o seu potencial. ”A somar a isso, há ainda as vinhas velhas com os seus field blends, a mistura de castas que são vinificadas ao mesmo tempo. “As pessoas gostam muito dos vinhos de lote que são feitos na vinha”, diz ainda Sara Dionísio. “É uma marca identitária de Portugal. Não há muitos países com vinhas onde coexistem 30 ou 40 variedades de uvas. ”Osvaldo Amado, enólogo da Global Wines, brinca: “A batalha foi uma forma simpática de mostrar que, para além do Dão e da Bairrada, Portugal também tem o Douro e o Alentejo. ” E depois, mais a sério: “Temos a capacidade de mostrar regiões distintas que, com as mesmas castas, produzem vinhos muito diferentes, podemos, por exemplo, ver o que é a Touriga Nacional no Alentejo, no Dão ou no Douro. ”Há um lado didáctico até na escolha dos vinhos que para aqui se trazem. “Trouxemos um Touriga Nacional primário, sem barrica”, explica Osvaldo, “para mostrar melhor as características intrínsecas desta casta, e isto faz a diferença. ”E por falar em Touriga Nacional, a alemã Dorina Lindemann está no palco Vinhos Com, uma das novidades deste ano, na palestra “Vinhos com Sotaque”, a contar a história da extraordinária aventura, primeiro do pai e depois dela, para fazer vinho em Portugal, na alentejana Quinta da Plansel, e a forma como se apaixonou precisamente pela Touriga Nacional, numa altura em que era proibido plantar esta casta a sul do Tejo. Ao seu lado, Anna Jorgensen, filha de uma americana e de um dinamarquês, relata aventuras semelhantes e a forma como o seu pai, com uma esperteza já muito portuguesa, conseguiu contornar a proibição de identificar o Syrah nas suas garrafas. E o brasileiro Marcelo Lima recorda como o projecto da Quinta da Covela nasceu no lugar mais improvável do mundo, durante uma viagem ao Uzbequistão em que lhe falaram pela primeira vez do britânico Tony Smith, que viria a ser o seu sócio na quinta que pertenceu ao realizador português Manoel de Oliveira. Apesar de desde as primeiras edições o evento atrair alguns dos enólogos e produtores de maior prestígio de Portugal, de Anselmo Mendes a Luís Pato, de Domingos Alves de Sousa a Dirk Niepoort, houve alguns que foram ao Brasil pela primeira vez nesta edição. É o caso de Pedro Araújo, da Quinta do Ameal, que, entre outras coisas, se apercebeu que os brasileiros “não sabiam que se faziam brancos tão bons em Portugal” e deixa o evento convencido de que este é um mercado “com um potencial incrível” para vinhos brancos que, acredita, vão ter “um crescimento muito acentuado nos próximos anos”. Tal como Osvaldo Amado, Pedro Araújo sublinha o facto de o consumo per capita ser ainda muito baixo no Brasil – abaixo dos dois litros –, o que prova esse potencial de crescimento para vinhos tão diferentes como brancos, tintos, rosés, fortificados ou espumantes (se bem que, no capítulo da produção, os espumantes sejam a área em que o Brasil mais se tem destacado). O novo presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), Gilberto Igrejas, outro estreante no evento, diz que em relação ao vinho do Porto – do qual houve várias provas, nas duas cidades, conduzidas pelo crítico do PÚBLICO Manuel Carvalho – a estratégia deve ser dupla: por um lado, através de masterclasses, formar pessoas que sejam depois capazes de transmitir toda a complexidade deste vinho, e, por outro, “tentar desmistificar a ideia de que o vinho do Porto deve ser guardado para um momento especial”. Apesar de este vinho, e de o Douro, permitirem contar a história “da evolução de um povo, de uma cultura e uma tradição únicas e milenares”, Gilberto Igrejas sublinha que “temos que entender as regiões como parceiras e não entrar em competição”. Há tempo para ouvir todas as histórias e o interesse que Portugal desperta tem a ver precisamente com essa diversidade. Os três dias no Rio e os três dias em São Paulo deram para contar muitas histórias. A dos vinhos de talha do Alentejo, por exemplo, numa prova conduzida por Dirceu Vianna Júnior e na qual a assistência se multiplicou em perguntas sobre a especificidade desta técnica ancestral: como se controla a temperatura das talhas durante a fermentação? Será o processo semelhante ao das ânforas de barro usadas para manter a água fresca? Em vez de cubas de cimento poderia passar a usar-se o barro?Outros temas que não tinham estado presentes nos anos anteriores, mas que têm uma actualidade cada vez maior, surgiram noutras provas – ainda com Dirceu Vianna Júnior, os vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais e como perceber as diferenças entre estas categorias, e, no espaço Tomar um Copo, conversas sobre mulheres produtoras de vinho, ou o efeito das viagens de avião na forma como se percepciona um vinho. O palco Vinhos Com recebeu ainda os concertos de Tiago Bettencourt, no Rio, e de Márcia em São Paulo, e, em ambas as cidades, daquela que é já considerada uma embaixadora dos vinhos portugueses no Brasil, a cantora brasileira Adriana Calcanhotto. Dois dos momentos mais especiais dos eventos foram as provas verticais de Pêra-Manca, no Rio, e de Barca Velha, em São Paulo, ambas com a presença dos enólogos, Pedro Baptista e Luís Sottomayor, respectivamente. Quem vai ao evento – e foram nove mil pessoas que passaram pelo CasaShopping na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, e 3500 as que foram até ao shopping J. K. Iguatemi, em São Paulo – “quer ver as pessoas e as caras por trás dos vinhos”, resumia Dorina Lindemann, garantindo que no Rio o público que visitou o seu stand ficou tão encantado que o interesse se reflectiu imediatamente nas vendas através do importador. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas há ainda obstáculos a ultrapassar. “A questão das taxas é preocupante”, reconhece Gilberto Igrejas. “Temos que ver como podemos ajudar os nossos produtores a colocar cá mais vinhos, tentando aliviar essa carga de impostos. ”Há ainda muito trabalho a fazer, não só nesse ponto, mas no esforço contínuo para que os brasileiros conheçam cada vez melhor os vinhos portugueses. Por isso, anunciou a organização, o Vinhos de Portugal vai voltar ao Brasil no próximo ano, e as datas já são conhecidas: 29 a 31 de Maio no Rio de Janeiro, 5 a 7 de Junho em São Paulo.
REFERÊNCIAS:
A beleza está nos olhos de quem a compra
A Kylie Cometics, Fenty Beauty e Glossier chegaram há relativamente pouco tempo ao mercado dos produtos de beleza. Todas têm nomes influentes por detrás, mas a receita do seu sucesso está muito ligada ao diálogo aberto com o seu público-alvo, os millennials. (...)

A beleza está nos olhos de quem a compra
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Kylie Cometics, Fenty Beauty e Glossier chegaram há relativamente pouco tempo ao mercado dos produtos de beleza. Todas têm nomes influentes por detrás, mas a receita do seu sucesso está muito ligada ao diálogo aberto com o seu público-alvo, os millennials.
TEXTO: Kylie Jenner, Rihanna, Emily Weiss: o que têm em comum a socialite, a cantora e a blogger? Têm marcas de cosmética que estão em crescimento e que a geração de millennials segue e compra avidamente, deixando as marcas tradicionais à toa e a repensar as suas estratégias de marketing. A tendência já se faz sentir, sobretudo na carteira de cada uma destas, e de outras, personalidades. Kylie Jenner poderá tornar-se a pessoa mais nova de sempre a criar uma fortuna própria de mil milhões de dólares, graças à marca de maquilhagem Kylie Cosmetics, que valerá à volta de 800 milhões. Quem o diz é a Forbes, que escolheu a jovem empresária, personalidade de televisão e influencer de 20 anos (fará 21 em Agosto) para a sua mais recente capa. Também a cantora Rihanna lançou a Fenty Beauty, há um ano, e ainda esta semana soube-se que Lady Gaga conseguiu financiamento em Silicon Valley para a marca de beleza que está a criar, a Haus Beauty. O ano de 2017 ficou marcado pelo crescimento de marcas criadas por influencers como a blogger Emily Weiss, fundadora da Glossier. Já se sabe que as celebridades usam a sua capacidade de influência para vender produtos. A novidade é que se criou uma relação entre elas e os seus seguidores, com quem mantêm um diálogo aberto nas redes sociais e uma estratégia comercial focada no digital. Veja-se o caso de Kylie Jenner, que começou por lançar uma série de lip kits – conjunto de risco para os lábios e batom líquido a condizer – no final de 2015. Então, os tablóides queriam saber por que é que de repente os seus lábios pareciam ter aumentado vários tamanhos. No Youtube e na vida real, centenas de jovens experimentavam o desafio "Kylie Jenner", sugando um copo de plástico durante alguns segundos para ficarem com os lábios inchados. Kylie acertou no jackpot: os lip kits esgotaram em poucos segundos, marcando a tónica dos meses que se seguiriam, em que a produção mal conseguiu acompanhar a procura. O nome Kylie Cometics veio depois, bem como o lançamento gradual de novas categorias de produtos. “Ela permitiu, de certa forma, que os seus seguidores criassem a marca: não só o produto em si, mas também o packaging, as cores e os nomes”, descreve Georgina Rutherford, responsável de marketing e comunicações da IMA, uma agência de marketing de influencers, ao PÚBLICO. A página oficial Kylie Cosmetics é composta, em grande parte, pelo conteúdo que os seus seguidores e outros influencers publicam. “É evidente que ela ouve mesmo o que as pessoas querem e criou produtos de qualidade que muitos maquilhadores profissionais valorizam”, resume Georgina Rutherford, acrescentando que “as marcas de influencers têm uma linha de comunicação bidireccional com os fãs, o feedback é muito público e qualquer decisão é um debate de social media”. A youtuber portuguesa Helena Coelho conta ao PÚBLICO como foi "uma das pessoas que ajudaram a esgotar" o primeiro lançamento de lip kits em menos de um minuto. "Primeiro de tudo, o sucesso vem da própria pessoa e do marketing que está por detrás daquela família e da estética delas", comenta. “Estes produtos caíram na graça das pessoas e a própria Kylie tornou-se um ícone. Os produtos têm tido boas críticas, portanto as pessoas acabam por comprar mais do que uma vez. ”Helena Coelho recorda quando o conhecido youtuber norte-americano Jeffrey Star criticou o aplicador de lipgloss, acusando Jenner de tratar os clientes como “ratos de laboratório”. Então, Kylie respondeu de imediato no Twitter: “Quando vi o problema com os pincéis dos meus lip glosses parei toda a produção e mudei-os”. A socialite acrescentou que enviaria o novo produto a quem tinha comprado o primeiro. Independentemente da qualidade dos produtos, as pessoas têm “vontade de adquirir para testar”, refere ainda Helena Coelho. São tão “apelativos” porque um grande número de pessoas fala sobre eles na Internet – desde o tradicional cliente aos youtubers que fazem vídeos onde avaliam, criticam ou elogiam o produto. Beleza para todosPara o bem ou para o mal, é directamente às personalidades por detrás das marcas que as pessoas dirigem as suas críticas. Quando a KKW Beauty – lançada em 2017 com um kit de contour – anunciou a chegada de um anti-olheiras, foi a Kim Kardashian que os consumidores foram pedir explicações. Criticavam a quantidade de tons, queixando-se ainda de que nenhum correspondia ao tom de pele da modelo que aparecia nas fotografias promocionais. Em perfeita sintonia com a actualidade, Rihanna centrou a mensagem da Fenty Beauty precisamente no tema da inclusão, oferecendo ao todo 40 bases, mas nem foi a primeira marca a fazê-lo – há anos que a Cover Girl tinha uma linha, a Queen Collection –, só que foi pela comunicação e imagem de diversidade que a Fenty se destacou, deixando os fãs em êxtase e até emocionados. “Queremos que as pessoas apreciem o produto e não pensem 'é giro, mas só fica bem nela’”, explicava Rihanna no lançamento da marca. Semanas depois revelou à revista Time que “nunca poderia ter antecipado a ligação emocional que as mulheres estão a ter com os produtos e com a marca num todo”. Helena Coelho já experimentou quase todos os produtos da Fenty: “Até agora, tudo o que experimentei gostei bastante", revela. A marca está disponível em algumas lojas, como a Sephora, mas ainda não chegou a Portugal – de acordo com a youtuber chegará em Setembro. A distância física é uma barreira para quem comprar produtos destas marcas, admite. “Muitas vezes a encomenda fica presa na alfândega”, avisa. Quando chega a Portugal, una maioria das vezes, já passou o hype (novidade)”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A Fenty Beauty foi criada através de uma parceria com a Kendo, uma divisão do grupo LVMH, dono de marcas como Louis Vuitton e Givenchy e a mesma por detrás da marca de beleza da conhecida tatuadora Kat Von D. Fenty é o apelido de Rihanna, que o usa também nas colecções de roupa em colaboração com a Puma e na marca de lingerie que lançou em Maio. Existem ainda marcas fundadas por influencers, como é o caso, por exemplo, da Anastasia, centrada em produtos para sobrancelhas, criada pela maquilhadora Anastasia Soare. Já a Glossier, fundada em 2014 pela blogger Emily Weiss e que teve uma explosão em 2017, é praticamente um espelho dos seus clientes: em relação aos produtos que procuram e à forma como os compram. Para Weiss está ultrapassado o modelo em que uma pessoa decide os gostos dos clientes. “Já não é assim que as pessoas compram. As mulheres estão a descobrir produtos de beleza através de amigos”, garante em entrevista à revista The Cut. É uma ideia, aliás, resumida na página de apresentação da marca: “Não acreditamos que a beleza é criada numa sala de reuniões. ”
REFERÊNCIAS:
Sobre a noite passada: A Guerra dos Tronos teve o final que merecíamos?
A série acabou mas a conversa sobre o seu final está só a começar. The Iron Throne distribuiu poder, matou sonhos e terminou uma história que mudou a televisão. Contém spoilers. (...)

Sobre a noite passada: A Guerra dos Tronos teve o final que merecíamos?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: A série acabou mas a conversa sobre o seu final está só a começar. The Iron Throne distribuiu poder, matou sonhos e terminou uma história que mudou a televisão. Contém spoilers.
TEXTO: “Quando o ecrã fica negro, a série acabou”, dizia David Benioff antes de a última temporada de A Guerra dos Tronos chegar aos espectadores, constatando o óbvio e o definitivo da tarefa que dividiu com D. B. Weiss ao encerrar uma das maiores histórias da década audiovisual. Em 1996, tudo começava pelo olhar de uma jovem personagem, marcada pelas histórias que lhe eram contadas sobre o mundo lá fora. Na madrugada desta segunda-feira, tudo acabou lembrando o valor das histórias em torno de The Iron Throne. Livros, registos, memórias, numa série e numa patrulha que acabou mas que, como as conversas sobre o final de A Guerra dos Tronos, afinal está só a começar. Este artigo contém spoilers sobre o episódio final de A Guerra dos TronosE no fim, ficaram “aleijados, bastardos e coisas quebradas”. Seis reinos, um rei e uma rainha, um Norte independente, e o sonho de um rei para além da Muralha. No 73. º episódio de A Guerra dos Tronos, havia uma guerra para ganhar e a vitória coube a uma família que foi a porta de entrada do espectador para este mundo ficcional. Um deles em particular foi o seu primeiro narrador nos livros de George R. R. Martin (ainda por acabar) que servem de base às Crónicas de Gelo e Fogo: o jovem Bran Stark (Isaac Hempstead Wright), cujo olhar curioso nas alturas tanto serve para procurar dragões desaparecidos hoje quanto servia, há anos, para testemunhar um amor proibido que desencadeia esta história. Esse olhar impregnado de informação, guardião de uma certa ordem, é agora o olhar do rei. Las Vegas tinha razão, com as casas de apostas há muito a decretar que esta personagem algo desligada da realidade humana mas ligada ao que mais importa — à magia deste universo ficcional — seria o rei, o vencedor deste jogo. Numa cimeira pós-regicídio, Bran, the Broken, o “aleijado” do primeiro capítulo dos livros, é decretado monarca do último episódio. Sansa Stark (Sophie Turner), uma jovem que nunca foi quebrada, é rainha do Norte independente. Antes de irem para a cama, ou dela saídos ainda de noite, milhões de espectadores ficaram a saber que Jon Snow (Kit Harington) rumou a norte no seu fado de bastardo e que Arya Stark (Maisie Williams) navega para oeste, à descoberta. “O que une as pessoas? Exércitos, ouro, bandeiras? Histórias. Não há nada mais poderoso”, persuade Tyrion Lannister (Peter Dinklage), agrilhoado, autor da frase dos livros que deu também título ao quarto episódio, em Maio de 2011: “Tenho um ponto fraco no coração por aleijados, bastardos e coisas quebradas”. Ao longo dos anos, muitos preencheram estas categorias n’A Guerra dos Tronos e sua superação moral faz parte da mensagem desta história que, na televisão, foi a confluência de factores que deram aos espectadores a série que mereciam. Foi este o final merecido?Depois de The Bells, ou o episódio da destruição tornada mulher, The Iron Throne começou com aquilo que os Stark sempre souberam: o Inverno está a chegar. Era, porém, uma espécie de Inverno nuclear. The Bells foi inspirado no bombardeamento de Dresden na II Guerra Mundial e The Iron Throne começou levando os espectadores às horas após a queda da bomba em Hiroshima, com corpos vivos e mortos a pairar num vazio de som e cor. Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) serviu a Weiss e Benioff, autores e realizadores deste último episódio, para criar mais imagens memoráveis, de cinema blockbuster — as asas do seu dragão a fazerem-se suas, a consequência do seu ataque à cidade com os gémeos Lannister mortos sob estéticos escombros, e um dragão a derreter, finalmente, a roda (ou melhor, o Trono de Ferro do título do episódio), com a chama da dor da perda da sua mãe. A morte de Daenerys Targaryen, a de uma rainha danificada, cega pelas muitas traições, fez-se às mãos do herói trágico d’A Canção de Gelo e Fogo, Jon Snow, que extinguiu com uma facada os sonhos de um certo heroísmo feminista. Deu lugar a outro, incorporado por Sansa Stark e a sua vitória — “Ambas sabemos o que significa chefiar pessoas que não estão inclinadas para a liderança e uma mulher”, dizia Daenerys a Sansa há um mês. E assim, sob a ameaça e a ternura de um dragão enlutado, a história dos dois protagonistas desta canção com tantas cabeças foi uma tragédia — Snow, para muitos o centro moral da série, foi condenado a regressar à Muralha, talvez para viver além dela. Especial O Fim de A Guerra dos TronosO sonho da democracia, morto também com galhofa geral num episódio sem muitos sorrisos, foi substituído pela promessa de que “daqui em diante os governantes não serem nascidos, serão escolhidos” — pelos senhores e senhoras do reino e não pelo povo. É tudo “agridoce”, conforme o prometido por George R. R. Martin, embora os três autores tenham prometido não revelar o que têm em comum o final dos futuros livros e a versão TV. A série escreveu um fim para esta história, mas ela não acabou. Televisão e livros “são duas variações da mesma história, ou uma história similar, e isso acontece sempre que algo é adaptado”, lembrava George R. R. Martin à Rolling Stone. Os livros foram profusamente homenageados nas cenas finais de uma série que ultrapassou e moldou à sua imagem uma história que deles veio. Com The Iron Throne, começa o debate sobre o que pensam os seus autores sobre poder, género e fantasia: é tudo uma questão de ganhos e perdas, honra e danos colaterais? Se há uma certeza, é a do poder das histórias. “Gelo e fogo”, resumia a jornalista e especialista Mallory Rubin no programa Talk the Thrones. “Os primeiros 40 minutos foram bastante espectaculares”, defendeu, “em alguns momentos sentia-se aquilo a que o ritmo condensado da última temporada nos tinha conduzido”. Já “a segunda metade do episódio foi desafiante”. Nestes últimos 80 minutos houve mais diálogo, espelhando até as conversas dos espectadores entre episódios, como que preenchendo espaços de densidade narrativa entre as ruínas. Poderia o final de A Guerra dos Tronos alguma vez não parecer abrupto?“Nem todos ficarão felizes porque isso é especialmente impossível com esta série, mas A Guerra dos Tronos despediu-se como a melhor versão de si mesma”, avalia o crítico Tim Goodman na Hollywood Reporter. “Um final épico que corrige alguns grandes erros”, resume Lucy Mangan no Guardian com uma classificação de quatro estrelas em cinco. “Um bom último episódio que podia ter sido muito melhor”, sugere Erik Kain na Forbes. A escolha do seu rei, cujo trono é a sua digna cadeira de rodas e não um trono derretido pelo luto de um dragão, é penalizada pela forma como a série tem tratado Bran Stark, defende-se — “Bran tem sido uma das personagens mais insatisfatórias da série. É quase um homem, como disse a Jon, mas é sobretudo uma ferramenta de conveniência concebida para transmitir informação narrativa”, assinala Jeremy Egner no New York Times. “Um prémio de consolação para Sansa”, diz Daniel D’Addario na Variety. Entre a discussão formal dos feitos do episódio e a minúcia da intriga ou a coerência de seres mitológicos, o traço comum é a tensão entre a história que se quis contar e o tempo e as escolhas para o fazer. São coisas que Weiss e Benioff não vão ler. O seu plano para a noite passada era desligarem-se da Internet e beber. O que fica de A Guerra dos Tronos? Um copo de vinho, rubro da memória de uma série que decapitou o seu herói aparente, que tingiu um casamento de vermelho, que envenenou o seu rei petulante, que esmigalhou um príncipe confiante, que puniu a sua rainha ao som de um badalo que censurava — “Vergonha. Vergonha. Vergonha”. Deificou uma princesa renascida das chamas com três dragões para libertar escravos, manuseou ressurreições teimosas, matou o herói trágico e fê-lo voltar, fez filmes de terror com zombies, contou histórias palacianas ou de um servo cujo nome encerrava um trauma de pura emoção — e de tantas criaturas quebradas em mais de 70 horas passadas com incesto, violação, castração, tortura, saques, traições, sagacidade, ideias e diálogos exímios. O seu melhor tornou o seu potencial pior mais doloroso para os fãs, como as últimas semanas mostraram. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Esta é uma série que mostrou o que nunca tinha sido mostrado, narrativa e tecnicamente, em televisão. Simbiose entre literatura fantástica de bases realistas escrita por um objector de consciência e as potencialidades da televisão capaz de mostrar “a maior batalha” e o “momento mais sangrento”, A Guerra dos Tronos foi uma criatura televisiva que evoluiu para além do seu criador literário. E graças a isso sabe-se que agora é possível gastar milhões e meses para desenhar uma cena de acção ou fazer “worldbuilding” a uma escala antes só cinematográfica. Para o fim, ficam mais palavras. “As conversas geradas por A Guerra dos Tronos e outras séries são maravilhosas e necessárias porque reflectem questões que são muito mais amplas do que qualquer história em particular”, escrevia este fim-de-semana a crítica premiada com o Pulitzer Mary McNamara no Los Angeles Times. “Qualquer série que provoque esta profundidade de sentimentos sobre temas como cadência, desenvolvimento de personagens, inclusão e representação das mulheres é uma vitória, independentemente de como acabe. Elas são o verdadeiro, e o melhor, jogo em Game of Thrones. ” O ecrã ficou negro e A Guerra dos Tronos acabou, mas a conversa está só a começar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte guerra ataque mulher rainha negro homem violação género espécie mulheres princesa casamento morto luto feminista vergonha
Kendrick Lamar e Drake na linha da frente dos Grammy de 2019
A cerimónia decorrerá a 10 de Fevereiro, no Staples Center, em Los Angeles. Outros dos mais nomeados são Boi-1da, Brandi Carlile, Cardi B, Childish Gambino (...)

Kendrick Lamar e Drake na linha da frente dos Grammy de 2019
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: A cerimónia decorrerá a 10 de Fevereiro, no Staples Center, em Los Angeles. Outros dos mais nomeados são Boi-1da, Brandi Carlile, Cardi B, Childish Gambino
TEXTO: Os nomeados para a 61. ª edição dos Grammy, a decorrer a 10 de Fevereiro, no Staples Center, em Los Angeles, foram anunciados esta sexta-feira de manhã, por músicos como Alessia Cara, Janelle Monáe e Shawn Mendes ou o radialista Zane Lowe. Entre os mais nomeados encontram-se dois rappers: Kendrick Lamar, que também tinha sido dos mais destacados no ano passado e este ano ganhou um Pulitzer, com oito nomeações, e Drake, com sete. O anúncio deveria ter acontecido na quarta-feira, dia 5, mas foi adiado devido às cerimónias fúnebres de George H. W. Bush. A seguir a estes nomes, surgem os do produtor de hip-hop/r&b Boi-1da e o da cantora folk/country/indie Brandi Carlile, com seis nomeações, seguindo-se a rapper Cardi B, Childish Gambino, o nome que Donald Glover, também actor, cómico, realizador e argumentista, usa para fazer rap e r&b e cujo teledisco para This is America fez furor este ano, além de Lady Gaga, também nomeada como actriz para os Globos de Ouro por causa de Assim Nasce uma Estrela, da cantora de r&b H. E. R. , da cantora country Maren Morris, do engenheiro de masterização Mike Bozzi e do produtor de hip-hop Sounwave, colaborador assíduo de Kendrick Lamar. Este ano há uma novidade: um número maior de nomeados nas categorias principais. Outras nomeações:Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Conheça aqui a lista completa.
REFERÊNCIAS:
Portugal está em 10º lugar no ranking das democracias mundiais
Em contraciclo com a erosão a nível mundial, o país melhorou nos indicadores democráticos e de direitos e liberdades, revela estudo do projecto V-Dem, que analisa 201 países. A mudança de governo de 2015 fez variar alguns dados, mas pouco. (...)

Portugal está em 10º lugar no ranking das democracias mundiais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em contraciclo com a erosão a nível mundial, o país melhorou nos indicadores democráticos e de direitos e liberdades, revela estudo do projecto V-Dem, que analisa 201 países. A mudança de governo de 2015 fez variar alguns dados, mas pouco.
TEXTO: Portugal está em 10º lugar no ranking das democracias a nível mundial, segundo o Relatório da Democracia de 2018, o segundo relatório anual do projecto Variedades da Democracia (V-Dem), concretizado através de uma rede global de investigadores e peritos com sede na Universidade de Gotemburgo, que avalia a qualidade da democracia em 201 países de todo o mundo. No índice das democracias liberais – aquelas onde se verifica não só uma democracia formal, mas onde são respeitados os direitos e liberdades da população -, Portugal fica atrás apenas da Noruega, Suécia, Estónia, Suíça, Dinamarca, Costa Rica, Finlândia, Austrália e Nova Zelândia, que lideram o ranking por esta ordem. Nas análises mais sectoriais relativas aos indicadores eleitoral, de liberdades e de igualdades sociais, Portugal desce para o 11º lugar, ficando em 38º lugar em matéria de participação politica. “Portugal é um dos países em contra-tendência, já que a tendência mundial dos últimos 8, 10 anos tem sido, não necessariamente de reversão, mas de alguma erosão da democracia, mesmo em democracias estabelecidas. Não só os países que não eram democráticos se tornaram mais autoritários – Rússia, Turquia -, como democracias consolidadas como o Brasil conhecerem deteriorações”, diz Tiago Fernandes, coordenador do projecto V-Dem para a Europa do Sul (Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia). O projecto V-Dem começou em 2010 a recolher dados para quase todos os países do mundo desde 1900, e recentemente decidiu ir mais atrás, desde a Revolução Francesa, embora para menos países. À escala global, envolve mais de cinco mil pessoas, entre investigadores e peritos consultados para elaboração dos ratings. Os dados para a Europa do Sul foram calculados a partir das respostas a um questionário feito a cerca de 250 cientistas e peritos nacionais e internacionais, sendo a região que mais peritos consulta. Em Portugal, é financiado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e a coordenação está a cargo de Tiago Fernandes, do departamento de Ciência Política da Universidade Nova de Lisboa. Numa análise mais fina sobre a situação portuguesa, Tiago Fernandes analisou a evolução de alguns indicadores desde o início do programa de ajustamento, em 2011, até ao final de 2017. Desde logo a justificação das políticas públicas, tendo em conta se são mais dirigidas ao bem comum ou ao interesse de grupos específicos. Neste indicador (quadro 1), nota-se que durante o período da troika as políticas públicas foram fundamentadas tendo em conta o bem comum – salvar o país da bancarrota, como dizia o governo PSD/CDS. Mas mal termina o programa, em 2014, as justificações passam a ser mais em função de interesses específicos, uma tendência que dura pouco mais de um ano e volta a inverter-se em 2015, ano de eleições legislativas. Quando o actual Governo entra em funções, já a tendência para justificar as políticas com o bem comum tinha regressado ao ponto inicial, e assim se manteve. A mesma variação é verificada quando se analisa a amplitude de consultas feitas a organizações sociais e parceiros económicos para a elaboração de políticas: durante o período de ajustamento houve um nível elevado de negociação colectiva, até por imposição da natureza do programa, com implicações fortes a nível laboral – e portanto obriga por lei à negociação em sede de concertação social. Quando termina o programa, essa tendência de consulta decai, voltando a subir durante o ano eleitoral de 2015 (quadro 2). Curiosamente não há um regresso ao ponto de 2011 e até se verifica uma ligeira descida depois do governo PS com apoio do BE e PCP. O que pode ser interpretado com o facto de ter havido uma grande diminuição da conflitualidade social e do número de greves, ao contrário do que aconteceu na vigência do governo anterior. “A geringonça é uma consulta permanente”, justifica Tiago Fernandes. O terceiro indicador analisado, relativo à forma como o poder executivo avalia o poder judicial mostra uma variação semelhante, embora o contexto seja muito diferente. Aqui, verifica-se uma ligeira queda ao início de 2011, provavelmente devido à saída de cena do primeiro-ministro José Sócrates. Mas o nível de conflitualidade mantém-se elevado desde 2012 até ao fim do programa de ajustamento, o que pode ser justificado pela forma como o governo e a sua base de apoio de direita reagiu às sucessivas decisões do Tribunal Constitucional de “chumbar” várias medidas. A situação melhora com o fim do programa, mas a conflitualidade volta a subir no ano eleitoral e acentua-se com a entrada em funções do novo Governo PS, provavelmente motivado pela Operação Marquês. Na avaliação da distribuição dos apoios sociais (quadro 4), nota-se uma tendência para o Governo PSD/CDS privilegiar o assistencialismo (medidas para os mais pobres) em detrimento do carácter universal das medidas, porque, como diz Tiago Fernandes, “o investimento global é menor, não só porque o universo abrangidos é reduzido, como os montantes são mais baixos”. Isso muda a partir de 2015 (ano eleitoral) e a tendência de tornar universais esses apoios acentua-se com o Governo PS. Se na maior parte destes índices Portugal tem níveis bastante satisfatórios, quando não mesmo os melhores nos cinco países do Sul, já a participação das mulheres nos executivos deixa muito a desejar: com uma percentagem na ordem dos 20%, fica na segunda pior posição (não há dados para Itália), e a situação não melhorou com o actual Governo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Já no indicador que avalia a percepção de existência de corrupção e subornos no governo, Portugal manteve a melhor média da Europa do Sul durante a governação PSD/CDS, subindo ainda mais a confiança nesse executivo em 2014 (ano da prisão de José Sócrates) e descendo com o regresso do PS ao governo. “Embora esteja na média da Europa do Sul, a percepção de que membro do governo ocasionalmente pode desenvolver actividades de corrupção (valor 3) e suborno não melhorou, até piorou ligeiramente desde 2015”, analisa Tiago Fernandes. Quando se avalia o mesmo indicador mas em relação ao Parlamento, a situação é outra: a percepção é de que existe mais risco de corrupção entre os deputados.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD PCP BE
O espaço democrático está a encolher no mundo
Nos últimos dois anos, grandes países como os EUA, Rússia, Turquia, Brasil e Índia conheceram retrocessos democráticos. Só na UE quatro países deixaram de ser classificados como democracias liberais para serem vistos apenas como democracias eleitorais. (...)

O espaço democrático está a encolher no mundo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nos últimos dois anos, grandes países como os EUA, Rússia, Turquia, Brasil e Índia conheceram retrocessos democráticos. Só na UE quatro países deixaram de ser classificados como democracias liberais para serem vistos apenas como democracias eleitorais.
TEXTO: Estados Unidos, Brasil, Rússia, Turquia, Índia e Polónia: o Relatório da Democracia de 2018 identifica “tendências inquietantes” de retrocessos democráticos nestes seis grandes países, alguns dos maiores do mundo, mas também na Tailândia, Ucrânia e República Democrática do Congo. “Está a encolher o espaço democrático nos principais países do lado do espectro democracia-autocracia. Uma parcela muito maior da população mundial está hoje a experimentar a autocratização”, alertam os investigadores do V-Dem, dizendo que este declínio dos indicadores democráticos afecta já 2, 5 mil milhões de pessoas. A característica mais visível da democracia - a realização de eleições - permanece robusta por todo o mundo, e é ainda melhorada nalguns lugares, com níveis que permanecem próximos do máximo histórico. No entanto, pela primeira vez desde 1979, o número de países que se desviam da democracia (24) é o mesmo que o número de países que apresentam avanços. E isso é um sinal de alerta. Nos países onde se verifica essa erosão democrática, o retrocesso é sentido de maneiras mais obscuras: na diminuição da liberdade de imprensa, da liberdade de expressão e do estado de direito, o que representa uma redução massiva na protecção global dos direitos e liberdades. “Com a continuação do declínio nessas áreas, a significância das eleições também pode ser ameaçada”, lê-se no relatório. Numa leitura temporal desde a década de 70, o estudo permite notar um pequeno declínio nas democracias a nível global, embora ainda dentro dos limites de confiança. Esse declínio é particularmente perceptível para as três regiões com os maiores níveis médios da democracia: Europa Ocidental e América do Norte, América Latina e Caraíbas e a Europa Oriental. Assim, “a tendência para a autocratização que estamos a testemunhar hoje parece ocorrer principalmente nas regiões mais democráticas do mundo”, afirma o estudo, fazendo notar que essa conclusão não é transversal a todos os países dessas regiões, mas antes resultado da pressão sentida nalguns dos países mais populosos do mundo. Baseado na classificação de regimes políticos do mundo – democracias liberais, democracias eleitorais, autocracias eleitorais e autocracias fechadas (ditaduras) – este estudo conclui que nos últimos 10 anos (2007-2017), 20 países caíram uma categoria. Entre eles estão quatro membros da União Europeia que perderam o estatuto de democracia liberal e são agora consideradas democracias eleitorais: Hungria, Polónia, Lituânia e Eslováquia. Três países de outras regiões são colocados na mesma situação: Israel, Maurícias e África do Sul. Outras oito democracias fragilizaram-se nestes 10 anos e são agora classificadas como autocracias eleitorais: Comores, Honduras, Iraque, Nicarágua, Tanzânia, Turquia, Ucrânia e Zâmbia. E quatro Estados que costumavam ser democracias eleitorais são agora classificados como autocracias fechadas: Palestina (Cisjordânia), Síria, Iémen e Uzbequistão. Entre os 17 em que se verificaram melhorias, seis autocracias fechadas avançaram significativamente: Nepal e Butão tornaram-se democracias eleitorais, enquanto Fiji, Myanmar, Bangladesh e Maldivas são hoje consideradas autocracias eleitorais. A Tunísia é o único país que fez a transição da autocracia para se tornar uma democracia liberal, enquanto oito países avançaram para se tornarem democracias eleitorais, incluindo a Guiné-Bissau, Moldávia e Malawi. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em termos de sistemas políticos, os investigadores afirmam que as democracias liberais são sistematicamente melhores do que outros regimes a garantir a capacidade real de todos os cidadãos de influenciar o processo político - incluindo mulheres, minorias e indivíduos com diferentes status socioeconómicos. No entanto, mesmo nas democracias consolidadas, alguns desses grupos estão sistematicamente em desvantagem no acesso ao poder político. Os autores do relatório notam que “a exclusão política reduz o escopo dos direitos e liberdades democráticas liberais e eleitorais”. Numa abordagem global, os níveis médios de inclusão de mulheres e grupos sociais minoritários permanecem estáveis, com vários países a continuar a avançar em termos de inclusão das mulheres. Ainda assim, apenas 15% da população mundial - ou 1, 1 mil milhões de pessoas, vivem numa sociedade onde o poder político é pouco distribuído por género. Cerca de 500 milhões de pessoas vivem em países com níveis mais altos de exclusão de grupos sociais minoritários do que há dez anos atrás. A exclusão política devido ao status socioeconómico tem vindo a agravar-se desde a década de 1970 e afecta agora os grupos mais pobres em países que abrigam um quarto da população mundial, ou quase dois mil milhões de pessoas. Apenas seis países registaram um nível mais alto de inclusão na distribuição do poder político pelo status socioeconómico entre 2007 e 2017, enquanto 14 nações diminuíram significativamente a representação política dos mais desfavorecidos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos exclusão género estudo mulheres