Portugal é o país europeu onde o número de programadores mais cresceu
O número destes profissionais em Portugal aumentou 16% em 2018, indica relatório da sociedade capital de risco Atómico. (...)

Portugal é o país europeu onde o número de programadores mais cresceu
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: O número destes profissionais em Portugal aumentou 16% em 2018, indica relatório da sociedade capital de risco Atómico.
TEXTO: Portugal é o país europeu onde o número de pessoas formadas em programação mais aumentou no último ano, mas a tendência para a área atrair cada vez mais pessoas alastra-se a vários países. A informação surge destacada no relatório anual da Atómico, uma sociedade de capital de risco que há quatro anos analisa a evolução do sector tecnológico na União Europeia. Em 2018, há 5, 7 milhões de programadores na Europa – um aumento de 200 mil profissionais face a 2017. Embora a Islândia, a Holanda, a Suíça e a Suécia surjam como os países com a maior densidade de programadores na população, o número programadores em Portugal é o que mais cresceu, com um aumento de 16% face ao ano anterior. É um valor bem superior à média europeia de crescimento, que foi de 4%. “O sector da tecnologia está a atrair mais participantes – independentemente de medirmos isto pelo aumento de profissionais de saúde ou de executivos de sucesso a chegarem ao sector de tecnologia”, lê-se nas páginas do relatório, publicado esta terça-feira. As conclusões da Atómico resultam de entrevistas a cinco mil profissionais do sector na UE, combinadas com estatísticas de várias organizações parceiras, como o Laboratório Europeu de Física de Partículas (conhecido pela sigla CERN). Nota-se também um aumento geral do interesse em tecnologia, com a força de trabalho na área em Portugal a crescer 6% ao longo do último ano (melhor, só a França, onde o crescimento foi de 7%). De acordo com a Atómico, parte do interesse pela área em Portugal surge devido a histórias de sucesso, como as empresas OutSystems e Talkdesk, que começaram como startups e hoje estão avaliadas em mais de mil milhões de dólares. A OutSystems fez a quarta maior ronda de financiamento da Europa (360 milhões de dólares em Junho de 2018). O foco em Portugal não se limita à área da grande Lisboa, com dados da Atómico a destacar que o “Porto é o terceiro pólo que mais cresce na Europa”. No começo de Novembro, dados do relatório ScaleUp Portugal já tinham revelado que o Porto é a região com mais fundos investidos e mais receitas geradas, ultrapassando Lisboa pela primeira vez. É uma tendência europeia, diz Tom Wehmeier, sócio fundador da Atómico. “Tal como outros países da Europa, a tecnologia portuguesa continua a expandir-se para lá da capital. ”Os autores do relatório notam, no entanto, que é importante aprender com os erros do outro lado Atlântico, especialmente, quando o tema é a diversidade. “A tecnologia europeia tem escapado à maioria das criticas que têm envolvido empresas dos EUA”, lê-se no relatório. No entanto, 46% das mulheres entrevistadas pela Atómico notam que já foram alvo de discriminação no trabalho. A par disto, nas conferências do sector, há apenas 22% de participantes do sexo feminino, e grande parte dos fundos angariados por empresas europeias apoiadas por capital de risco em 2018 (93%) foram para equipas de fundadores exclusivamente masculinos. Os casos levam a Atómico a dizer que a Europa parece ter “um problema de diversidade e de inclusão. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Tom Wehmeier, os resultados são preocupantes e “sugerem que a tecnologia europeia tem um défice significativo em termos de diversidade. ”“A indústria está a falhar em fazer qualquer tipo de progresso significativo. A participação feminina na comunidade tecnológica europeia apenas aumentou um ponto percentual nos últimos dois anos”, lê-se nas conclusões do relatório. A pesquisa nota que, embora a maioria dos homens considere a área inclusiva, apenas 38% das mulheres partilham dessa opinião.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA UE
Cantoras carecas
Tancos é apenas o sintoma mais extremo de outras «cantoras carecas», como são o impensável amadorismo/oportunismo da tentativa de transferir o Infarmed para o Porto ou a guerra dos táxis versus Uber (...)

Cantoras carecas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tancos é apenas o sintoma mais extremo de outras «cantoras carecas», como são o impensável amadorismo/oportunismo da tentativa de transferir o Infarmed para o Porto ou a guerra dos táxis versus Uber
TEXTO: A Cantora Careca, de Eugène Ionesco, é uma das peças mais célebres do teatro do absurdo, onde nada faz sentido: desde o título às situações e diálogos entre duas famílias burguesas britânicas (mas que poderiam ser de outro país qualquer). Além disso, a universalidade da sátira de Ionesco assenta que nem uma luva aos reflexos corporativos das instituições portuguesas, tal como vimos ao longo da última semana: Forças Armadas, Justiça, Política, Cultura, não houve quase nenhum sector que tivesse escapado. A confirmar o gosto da teatralidade, o director da PJ Militar terá confessado ao juiz de instrução do caso de Tancos que o aparecimento das armas roubadas fora encenado «em nome do interesse nacional». Lê-se e não se acredita, mas pensando um pouco mais estamos perante uma explicação patética e grotesca daquilo que não poderia ter acontecido e aconteceu: um rocambolesco roubo de armas e a sua ainda mais rocambolesca recuperação, conseguida após o conluio entre o principal criminoso (tanto quanto sabemos até agora) e as instituições militares supostamente vocacionadas para investigar o crime. «Em nome do interesse nacional» é a chave da explicação corporativa em que se refugiam as instituições militares para esconderem o mistério de Tancos da indiscrição das instituições civis, nomeadamente da PJ e do Ministério Público. Como chegámos então a esta «cantora careca» (que «não lembra ao careca», como diria o comentador Marcelo) do teatro do absurdo e de um filme burlesco dos irmãos Marx? A explicação mais lógica – se é que podemos falar de lógica num caso onde impera a total falta dela – reside no mundo cada vez mais opaco de um poder militar doentiamente fechado dentro das suas casernas (afinal tão vulneráveis) face ao poder civil, e nas absurdas guerras corporativas que escapam ao controlo das instituições políticas democráticas e expõem à insignificância e ridículo absolutos o ministro da Defesa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas Tancos é apenas o sintoma mais extremo de outras «cantoras carecas», como são o impensável amadorismo/oportunismo da tentativa de transferir o Infarmed para o Porto, a guerra dos táxis versus Uber – passando o conflito do âmbito nacional para o municipal, já depois de aprovada a lei – ou, no campo judicial, a lotaria da escolha do juiz de instrução da Operação Marquês entre dois magistrados de perfis diametralmente opostos para decidir a sorte de um dos processos mais volumosos, complexos e polémicos da Justiça portuguesa. Finalmente, temos Serralves. E, aqui, a «cantora careca» é encarnada por dois mundos em conflito, onde todos ralham e ninguém parece ter razão, até porque nenhuma das partes falou claro e oportunamente. Nem a administração da Fundação que supostamente terá interferido na actividade do director artístico e curador da exposição de um artista muito polémico, Robert Mapplethorpe, com as suas fotografias «eventualmente chocantes», mas que veio tardiamente a refutar essa interferência. Nem o tal curador e director entretanto demissionário, mas que se afastou do palco do conflito, cultivando um silêncio incompreensível e alimentando versões contraditórias sobre a sua intervenção. Tudo isto proporcionou uma guerrilha entre defensores do curador – vindos basicamente do meio artístico – e da administração – oriundos sobretudo do mundo político e empresarial nortenho, enquanto se acentuavam os temores portuenses, designadamente da Câmara local, sobre os custos da polémica na reputação internacional de Serralves. Uma das chaves para o mistério é o choque entre dois mundos opacos que não sabem dialogar entre si, protagonizados pelo director demissionário e a presidente da Administração. Mas fica por perceber a já longa história das demissões (e não-substituições) em Serralves, já anteriores ao caso Mapplethorpe, por alegado autoritarismo da presidente. Seremos, de facto, um país acolhedor para as «cantoras carecas»?
REFERÊNCIAS:
Entidades PJ
A importância da liberdade
Este Corbyn considera que a causa das alterações climáticas não tem que ver com a produção de CO2 resultante da actividade humana, antes deriva de uma alteração da actividade solar. (...)

A importância da liberdade
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Este Corbyn considera que a causa das alterações climáticas não tem que ver com a produção de CO2 resultante da actividade humana, antes deriva de uma alteração da actividade solar.
TEXTO: Afinal há outro Corbyn. Chama-se Piers, é formado em Física, dedica-se à meteorologia e é irmão do líder do Partido Trabalhista britânico. Reclama-se seguidor do pensamento marxista, envolveu-se ao longo da sua vida em múltiplos movimentos de contestação da ordem capitalista, chegou mesmo a ser detido por acções insurreccionais e vem por estes dias ao Porto participar numa iniciativa de âmbito universitário. O que o traz ao Porto não é qualquer assunto do foro político-social; não é, por exemplo, uma manifestação contra a “gentrificação” da cidade ou um happening visando denunciar as múltiplas máscaras a que recorrem os especuladores neoliberais. Talvez tal tipo de iniciativas lhe não desagradassem, mas a verdade é que a sua vinda ao Porto radica noutra razão: integra um painel de cientistas que vêm sustentar a tese de que é muito escassa, senão mesmo nula, a influência humana no processo das alterações climáticas. É que este Corbyn, de uma certa forma ainda mais polémico do que o irmão, considera que a causa dessas mesmas alterações não tem que ver com a produção de CO2 resultante da actividade humana, antes deriva de uma alteração da actividade solar. Uma professora catedrática do Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Maria Assunção Araújo, doutorada em Geografia Física, decidiu promover uma iniciativa contracorrente, dando voz a um grupo ultraminoritário de cientistas que contestam a teoria, hoje consensualmente aceite, da antropogénese das mudanças climáticas. De imediato se gerou um burburinho mediático, questionando-se a legitimidade da realização de um colóquio deste tipo, verberando-se a atitude da Universidade do Porto, apelando-se mesmo ao cancelamento de tão escandaloso encontro. Na verdade, clamam as vozes de algumas almas puras, como pode a Universidade do Porto continuar a ser vista e frequentada como um lugar respeitável depois de dar público acolhimento a tão pérfidas personalidades. Imagino a sensação de repulsa e de nojo que percorre os corpos de tão sensíveis almas. Aliás, no intuito de realçarem o asco moral e intelectual que os participantes neste encontro e os demais (muito poucos) que compartilham as suas posições lhes causam, convencionaram designá-los por “negacionistas”. Eles negam a importância da acção humana nas alterações climáticas com o mesmo grau de perfídia com que historiadores desonestos e extremistas de direita negam o Holocausto judeu perpetrado pelos nazis. Impõe-se uma questão: para quando um julgamento de Nuremberga para esta gente?A coisa é mais séria do que parece. Lentamente, uma censura silenciosa foi fazendo o seu caminho. É provável que os cientistas que se vão reunir no Porto não tenham razão. O problema não é, porém, esse. Quando chegamos ao ponto de querer impedir um encontro de homens e mulheres da ciência pela simples razão de divergirem de uma posição cientificamente dominante - e política e socialmente consagrada - estamos perante uma preocupante ameaça ao primado do debate e até, no limite, da prevalência da liberdade. Acompanho inteiramente todos os esforços que têm sido feitos a nível internacional no sentido de contribuir para a redução dos efeitos nefastos que a acção humana tem causado no meio ambiente. Estou até disponível para compreender alguns excessos ambientalistas nesse plano. O que não aceito de forma alguma é a instauração da censura no mundo universitário. Por isso mesmo fez muito bem a Universidade do Porto em não acolher as sugestões de quantos preconizavam o cancelamento de uma iniciativa que pela circunstância de ser polémica não pode ser imediatamente apodada de ilegítima. Há uma coisa que todos percebemos: sabemos onde a censura começa, somos incapazes de imaginar onde ela acaba. E os piores censores são os que se dedicam a essa prática com a convicção de estarem a servir os melhores preceitos morais. Piers Corbyn corre o risco de ser mal recebido no Porto. Azar dele ter vindo ao nosso país na qualidade de cientista “negacionista”. Tivesse ele vindo como activista social empenhado em denunciar os excessos do turismo, a perfídia de investidores que, em nome do lucro, põem em causa a esplendorosa ruína de edifícios decrépitos sobre os quais paira esse incomputável valor do “espírito do lugar”, ou a obsessão austeritária do ministro Mário Centeno, empenhado em cumprir meticulosamente as regras de Bruxelas, e teria sido recebido como o corajoso e algo excêntrico defensor de posições contrárias ao mainstream instalado. Assim, está condenado a ser perseguido como um reles dissidente do mainstream consagrado. Há, porém, um pequeno problema que Corbyn coloca. Normalmente, os “negacionistas” da influência humana nas alterações climáticas são identificados com o ultraconservadorismo e com o ultraliberalismo. Corbyn, ao que se sabe, continua fiel ao marxismo, alheio a qualquer think tank conservador. Quem ama a liberdade não pode ter a mais pequena complacência diante de qualquer gesto de censura. A professora da Universidade do Porto que promoveu este colóquio revelou coragem ao fazê-lo. Ter coragem não significa ter razão científica. É provável que esta última lhe não assista. Só que há uma coisa que não podemos perder de vista: a vontade da liberdade é mais importante do que a preocupação com ter razão. Até porque só em sociedades verdadeiramente livres a razão se pode declinar no plural, condição imprescindível para a própria evolução do conhecimento científico.
REFERÊNCIAS:
Étnia Judeu
Beijar os avós é uma violência?
Uma criança obrigada a beijar os avós poderá ser violentada pela figura da obrigação. O grau de "normalidade" de um acto poderá escamotear a sua potencial violência. (...)

Beijar os avós é uma violência?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma criança obrigada a beijar os avós poderá ser violentada pela figura da obrigação. O grau de "normalidade" de um acto poderá escamotear a sua potencial violência.
TEXTO: Obrigar uma criança a beijar os avós é uma violência? É, pois se ela precisa de ser obrigada a fazê-lo é porque, possivelmente, não vê nos avós o mesmo que outros vêem. O que não é provável que aconteça num contexto em que os avós estiveram presentes desde cedo na vida da criança, investindo no afecto. O que é igualmente improvável que aconteça pelo simples facto de vivermos numa sociedade onde o acto de beijar (e amar) os avós é encarado como "normal". De resto, todo o acto humano é uma violência. Pelo mero facto de criar atrito, uma relação com um meio. A violência do início da vida pode magoar uma estrutura inatamente frágil, mas, na medida certa, ajuda, per se, a moldar a futura estrutura sócio-moral e a póstuma resiliência. Pelo simples facto de ser primitivamente "normal", é internalizada. O conflito com o meio torna-se mais notório numa infância tardia, ou na adolescência, quando a estrutura já prementemente autónoma contende as referências primárias. É aqui que a violência se poderá tornar mais flagrante. Pode ser que o jovem se oponha à sociedade a favor dos pais, ou vice-versa. Esta obstaculização surge, na realidade, a partir do exterior. Ela desenha a culpa que irá, por sua vez, fazer do sujeito simultaneamente violado, violentado e violentador. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Uma criança obrigada a beijar os avós poderá ser violentada pela figura da obrigação, se não aceitar a figura que é obrigada a beijar. Se as relações forem harmónicas, o contexto de obrigação é menos provável. Por outro lado, a "normalidade" do processo pode ajudar a facilitá-lo. Mas o grau de "normalidade" de um acto poderá escamotear a sua potencial violência. É essa aparente "normalidade" que explica o desacordo geral pelas afirmações de Daniel Cardoso proferidas no programa "Prós & Contras". No entanto, sou capaz de encontrar mil razões para que uma criança ache um grande frete beijar os avós (se bem que, tratando-se sobretudo de uma criança pequena, lembremos que um nível mínimo de constrição é requerido ao condicionamento moral, por isso talvez o frete consubstancie um acto de amor). No pólo oposto, temos, portanto, a possibilidade de um acto pretensamente violento não o ser se estiver inscrito na "normalidade" dos indivíduos. E, aqui, surge, por exemplo, o contexto do assédio feminino, que não representava há décadas o mesmo grau de violentação que representa actualmente. Foram as mulheres que se sentiram assediadas, e tiveram a coragem de o apontar, que fizeram a diferença, ao contribuírem para dar importância e patologizar um processo. À medida que o assédio, a sua temática, se foi relevando socialmente, aumentou a percepção da sua violência por parte das mulheres (e homens) do mundo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens violência ajuda criança mulheres assédio
Igreja e abusos: não ter medo
A Francisco e à Igreja, nesta hora difícil, resta o esteio do grito bíblico do Antigo e do Novo Testamento: “não tenhas medo!”, “não temais!”. (...)

Igreja e abusos: não ter medo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Francisco e à Igreja, nesta hora difícil, resta o esteio do grito bíblico do Antigo e do Novo Testamento: “não tenhas medo!”, “não temais!”.
TEXTO: 1. Abateu-se sobre a Igreja Católica uma das mais graves crises da sua história: a crise dos abusos sexuais. A descoberta de padrões sistémicos de abuso sexual de menores ou de maiores vulneráveis por padres católicos é devastadora. O comportamento padrão assenta num binómio: ao crime praticado soma-se o encobrimento pela hierarquia, que tinha obrigação de o punir e denunciar. Esta constância da atitude de encobrimento e de ocultação evidencia uma dimensão institucional, que obviamente atinge a Igreja enquanto tal e não apenas os concretos abusadores. Este padrão “crime-encobrimento”, de resto, é comum aos países em que se verificou um problema sistémico (Estados Unidos, Chile, Irlanda, Austrália) e aos países em que subsistem apenas casos pontuais e esparsos. O que naturalmente faz avultar a dita responsabilidade institucional. Note-se que esta dimensão institucional não resultou decerto, em muitos casos, de uma decisão organizada ou deliberada. Basta conhecer a “cultura organizacional” de tradição católica que aponta invariavelmente para a máxima “o escândalo é pior do que pecado” para perceber a disseminação do fenómeno da ocultação. Em Portugal há algumas décadas, especialmente em meios pequenos, esta “máxima moral”, muitas vezes defendida para evitar o efeito de imitação, era dominante. E ainda hoje é frequentemente invocada em alguns dos grupos católicos mais conservadores. É a velha cultura “quem não vê, não peca”, que o mesmo é dizer, “quem não sabe, não peca”. Como os padres abusadores percepcionaram a prática de que a “salvaguarda da instituição” estava à frente da “protecção das vítimas”, gerou-se um sentimento de impunidade, que seguramente potenciou o fenómeno. Uma coisa é certa: a crise dos abusos sexuais não atinge apenas a esfera individual de cada criminoso, ela atinge a Igreja no seu todo e, em particular, a hierarquia e o clero. 2. Não vale a pena enfatizar a gravidade dos crimes sexuais em geral e daqueles que são praticados sobre crianças em particular. O horror é indisfarçável. Mas a prática destes crimes por ministros consagrados da Igreja é ainda mais censurável. Mais censurável por frustrar e defraudar a confiança quase absoluta que pais e famílias devotas (e não devotas) depositam nos sacerdotes. Mais censurável por os sacerdotes terem especiais obrigações humanas, éticas e morais. Mais censurável porque a Igreja perfilhou e continua a perfilhar uma doutrina moral sobre as relações afectivas e sexuais que é rígida, inflexível e, por vezes, desumana. Mais censurável porque (ainda) dedica à moral sexual uma centralidade inusitada. Com efeito, como pode pregar-se uma doutrina moral rígida e fechada, supostamente “pura”, e depois não actuar perante a prática de crimes sexuais hediondos e altamente reprováveis (mesmo à luz de uma moral sexual libertária)? A violação ou abuso sexual de uma criança é um crime repelente, mas praticado por um ministro da Igreja e “tolerado” ou “protegido” pelos seus superiores é ignominioso. O dano provocado por estas revelações é de enormes proporções. Daí que a Igreja tenha de pedir perdão, de encontrar respostas para as vítimas e suas famílias e de dar uma satisfação à comunidade dos crentes e dos não crentes. 3. A consciência da gravidade do fenómeno e até da resposta começou na parte final do pontificado de João Paulo II, altura em que este estava já muito debilitado, com a consequente paralisia da Cúria. Bento XVI assume a questão como prioritária (juntamente com a reforma das finanças vaticanas), pedindo perdão, avançando com a “tolerância zero” e com a colaboração com as autoridades civis, bem como com as reparações. Ao fim de uns anos, a compreensão de que a podia já não estar em ou não ter condições para ultrapassar as resistências da Cúria, levou-o a gesto revolucionário e seminal: a renúncia. E com isso a abrir a porta à chegada de Francisco, ou seja, de um Papa que não estivesse “marcado” pelos jogos da corte vaticana. Francisco manteve a mesma determinação no combate aos abusos sexuais que vinha de Bento XVI, mas renovou largamente o governo da Igreja. Ao mesmo tempo, com a sua apologia da Igreja como “hospital de campanha”, mostrou uma abertura que desafia o conservadorismo e o tradicionalismo de alguns. A Igreja pode, deve e tem de fazer mais, mas será profundamente injusto dizer que Bento XVI ou Francisco transigiram ou pactuaram com o flagelo dos abusos sexuais. 4. É fundamental pedir perdão, acolher as vítimas, ressarci-las. É também imperioso denunciar todos os casos às autoridades civis, organizar os processos canónicos, encontrar remédios processuais (mesmo que só canónicos) para os crimes prescritos. O abuso tem de ser condenado, mas o encobrimento não pode ser tolerado. Ele possibilitou, ainda que não intencionalmente, uma grande parte dos abusos e é ele que põe em crise a Igreja como comunidade e como instituição. 5. Porque a crise tem uma dimensão institucional, também é necessária uma reflexão e uma resposta a esse nível. Pode ser um concílio, pode ser um sínodo, pode ser uma assembleia aberta aos leigos. Mas, na história da Igreja, uma grande crise nunca dispensou um grande momento de diálogo, que possa limpar, reconciliar e dar um novo sopro. E aí se falará decerto do celibato, da ordenação de mulheres e de toda a moral familiar, afectiva e sexual. Com tempo, sem pressão, sem automatismos simplistas nem etiologias de ocasião. 6. No imediato e sem hesitações, o Papa Francisco carece de todo o apoio contra a manobra oportunista em curso por banda daqueles que nunca defenderam uma Igreja aberta e transparente. Não se pode ter medo. Não se pode ter medo de enfrentar a verdade e cuidar dela. Não se pode ter medo dos que, em voo de abutre, querem instrumentalizar “politicamente” o sofrimento de tantas vítimas e o acumular de tantos erros. A Francisco e à Igreja, nesta hora difícil, resta o esteio do grito bíblico do Antigo e do Novo Testamento: “não tenhas medo!”, “não temais!”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. SIM e NÃOSIM. Bispos portugueses. A carta enviada ao Papa Francisco, mostrando o apoio total e disponibilizando-se para adoptar todas as medidas contra os abusos vai na melhor das direcções. NÃO. Governo italiano. A ameaça de suspender pagamentos à UE e a intenção de não cumprir as regras da zona euro levaram a uma baixa da perspectiva no rating. A Itália sofrerá; os outros também.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Não varrer a casa ao diabo (1)
O Papa não é o diabo como os tradicionalistas pensam, nem vai deixar o diabo à solta na Igreja, como desejam. (...)

Não varrer a casa ao diabo (1)
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Papa não é o diabo como os tradicionalistas pensam, nem vai deixar o diabo à solta na Igreja, como desejam.
TEXTO: 1. As narrativas do Novo Testamento insistem em dizer que a linguagem que o Nazareno preferia era a das parábolas. É muito incómoda porque não se lhe pode fixar um sentido único. Muitos cristãos lamentaram, e ainda lamentam, que os autores dos textos dos Evangelhos tenham perdido tempo com histórias enigmáticas. Seria preferível um catecismo, com uma mensagem bem precisa e um catálogo de deveres e proibições, válidos para todos os tempos e lugares. A história da Igreja seria construída de forma linear, sem altos nem baixos, serena como uma pedra. O zero seria o seu único número. Não foi assim que aconteceu. Jesus abriu uma nova Era de criatividade. Não fechou a história dos povos e das culturas. As parábolas são contra a clausura do sentido dos gestos e das palavras. Todas, porém, encerram inesgotáveis possibilidades de construir a vida humana, individual e social, no horizonte da busca da felicidade, encontrando-a não só na alegria que se recebe, mas, sobretudo, na que se dá. Os Actos dos Apóstolos atribuíram a Jesus uma expressão incrível: há mais alegria em dar do que em receber. Nos Evangelhos já existia uma lei paradoxal: quem ganha (à custa dos outros), perde e quem perde para que os outros possam viver, ganha. Vem isto a propósito de uma parábola sobre a reforma das diversas cúrias eclesiásticas: "Quando o espírito maligno sai de um homem, vagueia por sítios áridos, em busca de repouso e não o encontra. Diz então: ‘Voltarei para a minha casa, donde saí. Ao chegar, encontra-a livre, varrida e arrumada. Vai, toma outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, instalam-se nela. O estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim acontecerá também a esta geração má. " [1]Ao ler e ouvir certas propostas para o Papa limpar o Vaticano, de uma vez por todas, lembro-me desta parábola. Bergoglio chegaria com toda a sua energia e, como grande inquisidor, punha na rua, de alto a baixo e de baixo ao alto, toda a gente do Vaticano e fechava-o para obras. Depois, usando da sua infalibilidade, povoaria aquele Estado só de gente santa e fiel. A sua infalibilidade seria o equivalente à inteligência artificial de robots. De facto, continuou numa história de humanos, mas com o intuito incontornável de tornar tudo diferente. Não era uma renúncia à reforma nem uma cedência perante as resistências e oposições, de dentro e de fora da Igreja. Em vez de invocar a infalibilidade pontifícia e de pedir que lhe chamassem Santo Padre, optou por propor o estudo e a análise de todas as situações e considerou-se membro de uma Igreja sempre a reformar, feita de santos e pecadores. Situou-se sempre entre estes últimos. Nada disto significava um processo de inibição. Era uma nova forma de coragem: a Igreja não é minha, eu sou da Igreja de todos e eleito Papa para a Igreja de todos. Nem quero que ela continue na mesma, nem eu. Estamos na mesma barca de conversão. Conhecia e conhece o que foram os trabalhos de Jesus com os seus discípulos. A glória do Crucificado não foi a de ter êxito, mas a de não trair, mesmo diante das piores ameaças. Não estou a comparar o Papa a Jesus Cristo. Ele próprio acharia isso ridículo. Pretendo sublinhar, apenas, que o caminho seguido pelo Papa Francisco exige o envolvimento de toda a Igreja. 2. Não se pode negar que os adversários e opositores dos caminhos de Bergoglio, em relação à sociedade e à vida interna da Igreja, não o tenham ajudado a sentir a necessidade urgente de estudar métodos que responsabilizem toda a Igreja pelo seu futuro, como sinal e instrumento de transformação da sociedade. Igreja-Sacramento. Estava a tornar-se perigosa uma convicção falsa e muito divulgada: a reforma da Igreja e das cúrias é uma utopia do Argentino desenraizado. Cresceu com ele e com ele morrerá. Se havia muitos católicos impacientes com o silêncio dos seus bispos, outros, conscientes de que a Igreja é de todos, a responsabilidade pelo seu presente e pelo seu futuro não precisa de ser delegada. Alguns começaram a manifestar, de diversas formas, o que lhes ia na alma. Entre vários textos, importa referir, pelo seu carácter colectivo, a carta da Conferência dos Baptizados/as [2] aos bispos da Igreja de França. Destaco uma passagem onde existe um apelo à convocatória de um congresso, cujo objectivo seria, ao nível da França, “passar de uma participação facultativa e consultiva dos leigos – homens e mulheres evidentemente! – a uma presença efectiva nos locais de tomada de decisão, de acordo com modalidades a discutir. É o sacerdócio comum dos fiéis, o único citado no Novo Testamento que deve ser não apenas reabilitado, mas, no futuro, colocado no próprio centro de decisão”. Em paralelo, considera que um "Concílio do Povo de Deus" é incontornável para rever, em profundidade, as relações entre sacerdotes e leigos, para reformular o ministério ordenado que, nas condições disciplinares em que é actualmente exercido, levou aos excessos que conhecemos [3]. 3. Falta, em Portugal, um estudo sobre as atitudes e o comportamento dos católicos portugueses em relação ao Papa Francisco e aos seus desígnios. Conhecemos a clara posição do Nós Somos Igreja e de algumas personalidades. Entretanto, há novidades em curso para o governo da Igreja. No passado dia 18, o Papa publicou a constituição apostólica Episcopalis Communio (Comunhão Episcopal) com a qual reforça o papel do Sínodo dos Bispos, sublinhando a importância de continuar a dinâmica do Vaticano II. O Papa tem o cuidado de sublinhar: apesar de se configurar como um organismo essencialmente episcopal, o Sínodo dos Bispos não vive separado do resto dos fiéis, mas pelo contrário deve ser um instrumento adequado para dar voz a todo o povo de Deus. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Papa não é o diabo como os tradicionalistas pensam, nem vai deixar o diabo à solta na Igreja, como desejam. Como?É assunto para o próximo Domingo. [1] Mt 12, 43-45[2] Conférence des baptisé-e-s, Anne Soupa, presidente[3] Cf também Lettre au pape François de 31 Agosto 2018
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Não há milagres? (2)
Diz-se que não há testemunhos do riso de Jesus, mas abundam as referências ao seu requintado humor. (...)

Não há milagres? (2)
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Diz-se que não há testemunhos do riso de Jesus, mas abundam as referências ao seu requintado humor.
TEXTO: 1. O mal resulta da ausência de um bem que deveria existir, seja na natureza, seja no agir humano. A serenidade desta lucidez metafísica tem um inconveniente: ou é linguagem de robot para robots ou um insulto a quem sofre. As ciências estudam as causas desses disfuncionamentos, os processos de os evitar e os remédios da sua cura. Dizem-me que a imortalidade está no horizonte lógico da ciência. A promessa da longevidade e da juventude ilimitadas vai de encontro ao nosso desejo de viver bem, com saúde e sem envelhecimento. Esta conjectura agradável não pode evitar interrogações de carácter social, político, económico, cultural e ético. Os pós-humanistas julgam que essa hora chegará mais depressa do que se imagina. Até lá, mais vale encarar o facto de uma existência limitada que privilegia os laços da amizade e da solidariedade efectiva. A história do sofrimento dos inocentes deita para o caixote do lixo qualquer especulação sobre o mal. Repete-se, desde Epicuro (séc. III a. C), dos modos mais diversos, que Deus e o mal não podem coabitar. O mal é um escândalo e um problema para qualquer ser humano, mas especialmente para quem é religioso. Um mundo com mal e sem Deus talvez fosse menos problemático, pois ou Deus quer eliminar o mal e não pode, ou pode e não quer. Se quer e não pode, é impotente; se pode e não quer é mau. Nunca me impressionou muito essa conversa centrada num Deus encurralado pela lógica totalitária, sem espaço para a responsabilidade humana. O que mais me espanta é a nossa falta de juízo e de bondade. Somos testemunhas de guerras horrorosas. Sabemos que, na maioria dos casos, foram e são, a todos os níveis, frutos do desejo de pessoas e grupos possessos da vontade de dominação económica, política, cultural e religiosa. Em última análise, a resposta à graça da livre conversão à boa e imaginativa hierarquização dos nossos desejos pode ajudar a diminuir a loucura mundana. Encarar a vida como o desenvolvimento de todos os talentos para ajudar, de modo competente, as capacidades dos que não tiveram oportunidades é, talvez, um bom caminho para a nova civilização proposta pelo Papa Francisco. Para ele, o mal não é um problema teórico, mas um desafio a enfrentar mediante a praxis humana solidária, cristã. Daí nasce a fonte divina e humana dos verdadeiros milagres. 2. Diz-se que não há testemunhos do riso de Jesus, mas abundam as referências ao seu requintado humor. O texto escolhido para a liturgia do Domingo passado [1] e o proposto para hoje [2], colocam a questão dos milagres de forma tão pouco convencional que importa analisar. No primeiro, numa única narrativa, entre o trágico e o cómico, acontecem dois “milagres” muito improváveis. Segundo o Novo Testamento, o grupo dos fariseus – sobretudo os chefes das sinagogas – não via com bons olhos as inovações do Nazareno. Ora, nesse texto, é precisamente um chefe de sinagoga, chamado Jairo, a pedir, com insistência, a intervenção de Jesus para salvar a sua filha que estava a morrer: vem impor-lhe as mãos para que se salve e viva. Jesus não se fez rogado e acompanhou o pai da criança, seguido de grande multidão que o apertava por todos os lados. Entretanto, uma mulher extremamente doente que, há doze anos, sofria muito nas mãos de vários médicos e gastara todos os seus bens sem ter obtido qualquer resultado, antes piorava cada vez mais, tendo ouvido falar de Jesus, veio por entre a multidão e tocou-lhe no manto, dizendo consigo: se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada. E ficou. Não foi um gesto supersticioso, foi um puro acto de fé, isto é, de confiança absoluta. É verdade que a narrativa é cómica: quando Jesus pergunta quem me tocou, apertado pela multidão, os discípulos acham a pergunta descabida. De facto, Jesus sentiu que algo aconteceu no seu próprio corpo e a mulher, assustada e a tremer pelo que lhe tinha acontecido, disse a verdade. Jesus nem sequer diz que a curou: minha filha a tua fé te salvou. Ao dizer isto, Jesus exprimiu o mais íntimo da relação entre Deus e o ser humano. A coincidência de dois movimentos: o desejo de Jesus de curar – era a sua maneira de viver – e o desejo da mulher de ser curada. A salvação realiza-se no encontro desses dois movimentos. A fé salva porque é a entrega confiante ao amor que a precede. É o abraço de dois desejos: de Deus e da criatura. É, por isso, um exercício de liberdade. Deus deseja, mas não obriga ninguém a reconhecê-lo nos seus sinais. Quando Jesus diz à mulher foi a tua fé que te salvou, até parece que ele não fez nada. Não é verdade. Como diz o narrador, do corpo de Jesus saiu uma energia real que ele próprio estranhou. Essa graça encontrou-se com um desejo ardente e desesperado. Sem este desejo da mulher Jesus não podia nada. 3. No meio da confusão, vem a notícia da casa de Jairo: a tua filha morreu, não incomodes mais o Mestre. Jesus diz ao chefe da sinagoga: Não temas, basta que tenhas fé. Seguido de Pedro, Tiago e João, vendo grande alvoroço com gente que chorava e gritava, atreve-se a uma provocação que até parecia de mau gosto: a menina não morreu, está a dormir. Riram-se dele. Levando consigo o pai e os referidos discípulos, entrou no local onde ela jazia. Pegou-lhe na mão e disse: Menina, eu te ordeno, levanta-te. Ela ergueu-se imediatamente e começou a andar, pois já tinha doze anos. Ficaram todos muito maravilhados. Jesus recomendou-lhes, insistentemente, que ninguém soubesse do caso e mandou dar-lhe de comer. Noutros casos, as pessoas que reconheciam em Jesus uma energia estranha atribuíam-na a uma possessão diabólica porque ele não era um observante de convenções religiosas [3]. É essa a questão deste Domingo. Jesus foi à sua terra acompanhado dos discípulos. Chegado o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes interrogavam-se acerca da origem das suas palavras e acções prodigiosas, mas ficavam de fora. Porque seria? O conhecimento do estatuto modesto deste carpinteiro e da sua numerosa família secava qualquer interrogação de fundo. O conhecimento que tinham de Jesus era uma ignorância acerca da significação inovadora do que Ele andava a fazer e a dizer. Ao preferirem continuar num ram-ram sem surpresas e sem novos horizontes, ficaram onde sempre estiveram. O ritual foi cumprido e nada aconteceu. Ao contrário do Domingo passado, Jesus ficou espantado com a falta de fé daquela gente. Nas celebrações actuais da Eucaristia, para que algo aconteça de inovador, é preciso deixar-se convocar para a participação na reforma pessoal, da Igreja e da sociedade. Sem esse desejo activo, Cristo nada pode fazer. Os rituais são cumpridos, mas se as instituições da Igreja continuarem no seu ram-ram e a ignorar os desafios do Papa Francisco, que se pode esperar?Alguns julgam-se heróis da mudança pelo regresso ao que julgam ser a Santa Missa de Sempre, que nunca existiu como missa de sempre. Andam para trás para se realizarem como estátuas de sal, fruto de uma incurável miopia [4]. [1] Mc 5, 21-43Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. [2] Mc 6, 1-6[3] Mc 3[4] Jo 9
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Uma religião inteligente
Uma religião que não pensa, ou que só pensa o já pensado, cai no fundamentalismo e na violência. (...)

Uma religião inteligente
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.8
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma religião que não pensa, ou que só pensa o já pensado, cai no fundamentalismo e na violência.
TEXTO: 1. Para António Damásio, “não temos qualquer relato científico satisfatório quanto à origem e ao significado do Universo, ou seja, não temos uma teoria de tudo que nos diga respeito. Serve isto para recordar que os nossos esforços são modestos e hesitantes, e que devemos estar abertos e atentos quando decidimos abordar o desconhecido” [1]. Em certas formas de espiritualidade e de teologia, a modéstia não é a regra. Na orientação espiritual, não falta quem se julgue conhecedor da vontade de Deus e com capacidade de a discernir para si e para os outros. Implorar o Espírito Santo para acolher a sua luz é uma condição essencial para estarmos prontos a dar razão da nossa esperança, como recomenda S. Pedro [2]. Sem esse cuidado, seremos cegos guias de cegos. Pedir conselho é próprio de quem reconhece os seus limites. Daí a convencer-se que podemos coincidir, nas nossas opiniões, com a vontade de Deus, é presunção a mais. Em teologia, sempre me agradou a extrema modéstia de Tomás de Aquino. Foi discípulo de Alberto Magno, assim chamado pelo seu saber enciclopédico e pela sua curiosidade insaciável. Tomás tinha uma consciência pedagógica mais apurada. Notava que os mais novos tinham dificuldade em seguir a multiplicidade de questões no campo científico, filosófico e teológico. Comentou Aristóteles e muitos livros da Bíblia, participou em muitas questões disputadas e não receava ser exposto à curiosidade dos estudantes acerca dos temas mais variados. Resolveu elaborar um imenso guião para principiantes. Acabou por ser muito apreciado pelos investigadores. Trata-se da Suma de Teologia. Modesta era a sua própria ideia de teologia. Depois de expor o seu projecto, as suas exigências, o seu método e de estabelecer os argumentos humanos que apoiam a fé na existência de Deus, ao dizer vamos tentar saber como Deus é, suspende esse atrevimento: vamos saber como Deus não é [3]. A sua teologia é, sobretudo, uma anti-idolatria. Não atribuir a Deus e à sua vontade o que são construções nossas. No final da vida, a partir da sua experiência mística, disse: tudo o que escrevi me parece palha. A teologia negativa livrou-o da idolatria das concepções teológicas. Não era cepticismo. Como cantou, no seu poema para a festa do Corpo de Deus, seguiu o princípio: atreve-te quanto puderes. Não tinha o culto da humildade ignorante, nem se contentava com repetir um credo ortodoxo. Escreveu: “é necessário que aqueles que buscam as raízes da verdade se apoiem em razões e se esforcem por saber como é verdade aquilo que afirmam. De outro modo, se o mestre se contenta com resolver a questão com o recurso a autoridades, poderá assegurar, sem dúvida, ao ouvinte, o que está certo na fé, mas este não adquire ciência nem compreensão e ficará de cabeça vazia” [4]. A teologia cristã e a verdadeira espiritualidade são fruto da mente e do coração no interior da dinâmica da fé teologal, cujo termo não são os artigos da fé, mas o infinito mistério de Deus amado e conhecido. A oração faz parte da investigação teológica, como mostrou Sto. Anselmo, na perspectiva de Sto. Agostinho: “Não procuro, Senhor, penetrar na tua profundidade. . . Mas quero compreender, ainda que seja um pouco, a tua verdade que o meu coração crê e ama. Não procuro compreender para crer, mas creio para compreender, pois, bem sei, se não creio, não compreenderei” [5]. Nunca podemos prescindir do conhecimento científico nem do questionamento filosófico. Se não virmos que, pelo lado de Jesus Cristo, corre a vida e o sentido último da nossa história, não poderíamos acolher a sua graça. A graça não substitui a natureza, antes a reforça. Uma teologia sadia nasce e desenvolve-se dentro de uma espiritualidade aberta à acção evangelizadora. Uma prática evangelizadora exige e desenvolve uma vida e uma teologia mística. Karl Rahner insurgiu-se, com razão, contra uma teologia kerigmática que desprezava a investigação científica [6]. Uma teologia pastoral sem investigação é um engano. Uma teologia que pretende ser científica e não cheira a povo perde-se no vazio, como diz o Papa Francisco. 2. Não podemos crer sem interpretar. Edward Schillebeeckx, depois de todos os embates que teve com o Vaticano, mostrou que tinham interpretações diferentes das mediações humanas da fé. Elaborou, por isso, os pressupostos e a ciência da interpretação. Parte da experiência da fé na Bíblia, não como uma teologia da palavra, porque a palavra de Deus é a palavra dos seres humanos que falam de Deus. Dizer, sem mais, que a Bíblia é a palavra de Deus, não corresponde à verdade. Só é a palavra de Deus indirectamente. Os escritos bíblicos são testemunhos de homens e mulheres de Deus, que viveram uma experiência e a exprimem. A sua experiência vem do Espírito e, neste sentido, pode dizer-se, com razão, que a Bíblia é inspirada, mas, ao mesmo tempo, é preciso não esquecer a mediação humana, histórica, contingente. Nunca existe encontro directo de Deus, só a sós, com o homem. Efectua-se sempre através de mediações. São os seres humanos que falam de Deus. Não aceitar mediações históricas é cair, necessariamente, no fundamentalismo [7]. 3. Alegra-me que Aga Khan tenha dito que a religião ismaelita é uma religião inteligente. Tem como premissas a paz, o bem-estar, a sabedoria e o desenvolvimento [8]. Parece querer recuperar, na actualidade, o que foi uma das correntes criadoras do Islão medieval. Uma religião que não pensa, ou que só pensa o já pensado, cai inevitavelmente no fundamentalismo e na violência. Terá sido uma iniciativa inteligente a criação de um Estado judaico? Não irá aumentar o anti-judaísmo? Não será um Estado de exclusão?Não ficam mal, a nenhuma religião que queira ser inteligente, as observações do Papa Francisco:Uma fé que não nos põe em crise é uma fé em crise; uma fé que não nos faz crescer é uma fé que deve crescer; uma fé que não nos questiona é uma fé sobre a qual nos devemos questionar; uma fé que não nos anima é uma fé que deve ser animada; uma fé que não nos sacode é uma fé que deve ser sacudida. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Acrescenta também: existe o perigo real de deixar às gerações vindouras escombros, desertos e imundices [9]. Boas férias e até Setembro. [1] A estranha ordem das coisas, Temas e Debates, Lisboa, 2017, p. 332[2] 1P 3, 15-16; Rm 8, 26-27[3] S. Th. , I, q. 3, prólogo (cf. q. 12 e 13)[4] Quodlibet, IV, q. 9, a. 3[5] Proslogion, 1[6] Karl Rahner, Le courage du théologien, Paris, Cerf, 1985, pp 43[7] Maria Clara Bingemer, Experiência de Deus na contemporaneidade, Lisboa, Paulinas 2018. A autora teve em conta Karl Rahner, mas esqueceu-se de Edward Schillebeeckx, Je suis un théologien heureux, Paris, Cerf, 1995[8] Revista do Expresso, 21. 07. 2018[9] L’ Osservatore Romano, O clamor angustiado da terra, 12. 07. 2018, http://www. osservatoreromano. va/vaticanresources/pdf/POR_2018_028_1207. pdfFrei Bento Domingues interrompe a sua crónica em Agosto. Regressa como habitualmente no primeiro domingo de Setembro
REFERÊNCIAS:
Religiões Judaísmo
Kathryn Mayorga versus Cristiano Ronaldo
Este processo poderá ser de novo arquivado ou vir a desembocar numa acusação criminal. (...)

Kathryn Mayorga versus Cristiano Ronaldo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Este processo poderá ser de novo arquivado ou vir a desembocar numa acusação criminal.
TEXTO: A guerra judicial iniciada por Kathryn Mayorga, a norte-americana que acusa Cristiano Ronaldo de a ter violado em 2009, num hotel de Las Vegas, tem, para já, dois campos de batalha. O primeiro é o processo-crime que estava arquivado no Las Vegas Metropolitan Police Department (LVMPD) e que foi recentemente reaberto a pedido da queixosa. O LVMPD confirmou ter sido apresentada uma queixa, a 13 de Julho de 2009, por abuso sexual, tendo sido efectuados exames à vítima, queixa que viera a ser arquivada uma vez que a vítima não identificara o agressor nem o local da agressão. Segundo os advogados de Mayorga, esta teria identificado Ronaldo como o agressor algumas semanas mais tarde em novas declarações à polícia, tendo-lhe então sido dito que, caso avançasse com o processo, iria ser sujeita a retaliações e o processo seria publicamente apresentado como uma tentativa de extorsão. Certo é que o processo foi, agora, reaberto e o LVMPD irá efectuar novas diligências, entre elas, muito provavelmente, ouvir o denunciado. Este processo poderá ser de novo arquivado ou vir a desembocar numa acusação criminal e, nesse caso, poderá vir a ser emitido um mandado de captura internacional caso Ronaldo não se apresente voluntariamente para responder. Nessa sub-hipótese, um lugar absolutamente seguro para o jogador será Portugal já que a nossa Constituição determina que a extradição de cidadãos portugueses do território nacional só é admitida nos casos de terrorismo e de criminalidade internacional organizada. A outra frente da batalha é o processo cível em que o que está em causa é o pedido de uma, seguramente, elevadíssima indemnização – ainda não quantificada, tanto quanto é público – por danos ou prejuízos gerais, especiais, punitivos e ainda “alívio emocional” (emotional relief). Mas para chegar aí, Mayorga – para além de ter de provar que aconteceu aquilo que agora afirma publicamente – terá de conseguir que o Clark County District Court, o tribunal onde corre este processo, declare nulo e de nenhum efeito o acordo de confidencialidade (Non Disclosure Agreement) que celebrou com Ronaldo e em que recebeu 375. 000, 00 dólares (que teria de devolver). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Estes acordos de confidencialidade (NDA) ou pactos de silêncios urgiram nos anos 40 do século passado no âmbito do direito marítimo, tendo-se tornado comuns, em seguida, nos contratos com empresas tecnológicas com o objectivo de proteger segredos comerciais e informáticos, nomeadamente nos contratos de trabalho de forma a assegurar a “lealdade” dos empregados com a ameaça do pagamento de elevadas multas. Nos anos 90, os NDA generalizaram-se mas foram postos em questão quando Jeffrey Wigand violou o NDA que assinara e revelou os riscos para a saúde do consumo do tabaco que estavam a ser deliberadamente ocultados pela indústria do tabaco. Mas foi recentemente, com o surgimento do movimento #MeToo e a descoberta da forma como Harvey Weinsten utilizou, de forma sistemática, esses acordos, comprando o silêncio das vítimas para poder continuar a sua actividade de predador, que o valor dos NDA foi contestado de uma forma genérica, surgindo, inclusive, em diversos estados, iniciativas legislativas para reduzir significativamente o seu âmbito. Para anular a validade do acordo celebrado, os advogados de Kathryn Mayorga terão de provar que este NDA é um “contrato inaceitável” (unconscionable contract), nomeadamente porque Mayorga estava numa situação negocial imensamente inferior à de Ronaldo, inclusive tendo sido coagida a assiná-lo, pelo que não lhe foi possível a defesa dos seus direitos e interesses; ou, ainda, terão de provar que este NDA visa ocultar um crime de violação – em alguns estados, são proibidos os NDA em certos caso de abusos sexuais – embora as decisões dos tribunais sobre esta matéria não sejam uniformes. É isto que os advogados de Mayorga estão a tentar, também com a reabertura do processo-crime, e que os advogados de Ronaldo já estão a contrariar, nomeadamente, afirmando serem falsos (pirateados informaticamente) alguns dos documentos com afirmações de Ronaldo, cujos originais, seguramente, os advogados da queixosa não terão em seu poder pelo que dificilmente poderão fazer a prova da sua autenticidade. . . Prognósticos? Só no fim do jogo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos guerra tribunal consumo violação sexual abuso agressor
“Sentiu uma palmada na zona dos seus glúteos”
Daqui a uns anos um acórdão deste tipo será uma aberração, mas, actualmente, é normal dentro da nossa jurisprudência. (...)

“Sentiu uma palmada na zona dos seus glúteos”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Daqui a uns anos um acórdão deste tipo será uma aberração, mas, actualmente, é normal dentro da nossa jurisprudência.
TEXTO: Ficou provado em tribunal que estando a Maria embriagada na casa de banho do bar-discoteca, perdeu a consciência, altura em que o Jorge, segurança da discoteca, verificando a incapacidade da Maria de “reger a sua vontade e de ter consciência dos seus actos”, resolveu ter – e teve –? "relações sexuais de cópula vaginal completa, depois de a ter despido da cintura para baixo, mantendo-lhe a roupa a meio das pernas”. A Maria só recuperou a consciência quando, ainda na casa de banho, deitada no chão, com a cabeça encostada à porta de entrada, sentiu um empurrão na porta (e na cabeça. . . ), ouvindo nesse momento as vozes do arguido Jorge e do arguido Mário, barman da discoteca, pretendendo este último entrar também na casa de banho. Momentos depois, a Maria perdeu novamente a consciência só voltando a recuperar os sentidos quando, ouvindo, de novo, as vozes do Jorge e do Mário, “sentiu umas palmadas na zona dos seus glúteos, apercebendo-se também nesse momento que estava com os calções de ganga, as meias-collants e as cuecas que usava naquele dia puxados até à zona dos joelhos, o que imobilizava os seus movimentos da cintura para baixo, e que se encontrava posicionada de bruços, com o tronco totalmente apoiado na área do lavatório”. Voltou a Maria a perder, mais uma vez, a consciência, só voltando a recuperá-la quando já se encontrava sentada no sofá do bar-discoteca estando nessa altura já vestida da cintura para baixo e estando junto de si o Jorge e o Mário, tendo um deles atirado com água para o seu rosto. Provou-se, também, que estando a Maria inconsciente, o Mário mantivera igualmente com ela relações sexuais de cópula vaginal completa. Estes factos deram origem a uma condenação do Jorge e do Mário a quatro anos e seis meses de prisão, cada um, pela prática do crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência, mas com pena suspensa; o que levou o Ministério Público (MP) do tribunal do julgamento a recorrer para o Tribunal da Relação do Porto (TRP), pedindo que o Jorge e o Mário fossem para a prisão cumprir as penas que lhes tinham sido aplicadas, por assim o impor o “sentimento jurídico da comunidade”. Sublinhou o MP no seu recurso que nenhum dos arguidos tinha manifestado “qualquer ato revelador da interiorização do desvalor da sua conduta, designadamente confissão ou arrependimento”, e que não era admissível “deixar perpassar na comunidade uma ideia de impunidade de uma acção tão grave como aquela pela qual os arguidos tinham sido condenados”. No entanto, os juízes desembargadores Maria Dolores da Silva e Sousa e Manuel Soares, no passado dia 27 de Junho, não concordaram com a argumentação do MP e optaram por manter a suspensão da pena considerando que “as circunstâncias em que ocorreram os factos, as condições de vida dos arguidos, pretéritas e presentes. e a personalidade dos arguidos” permitiam concluir que as finalidades da punição poderiam ser alcançadas com a simples ameaça de prisão e a censura do facto. Importa dizer que quando o MP recorreu pedindo a prisão efectiva, não tinha uma qualquer agenda política ou social nem pretendia agradar a associações militantes de causas, sejam elas quais forem, como parece entender a Associação Sindical dos Juízes Portugueses no comunicado que emitiu na passada segunda-feira. O MP limitou-se a defender uma posição absolutamente defensável em termos legais e, no meu entender, correcta em termos existenciais. O TRP decidiu de outra forma, mantendo a suspensão da pena, o que é igualmente defensável em termos legais, mas, no meu entender, lamentável em termos existenciais. Estou absolutamente convencido que, daqui a uns anos, um acórdão deste tipo será uma aberração mas, actualmente, é normal dentro da nossa jurisprudência. De alguma forma, como afirmou a penalista Teresa Beleza, "são milénios de tradição de submissão e desigualdade que pesam sobre nós” e não é “fácil mudar formas de ver que tanto nos condicionam, quantas vezes de forma inconsciente”. Enquanto esperamos pela evolução das “formas de ver”, talvez não fosse má ideia escrevermos na lei que as relações sexuais sem consentimento são, pura e simplesmente, violação, acabando com este eufemismo do crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência que, objectivamente, encobre e desvaloriza penalmente efectivas violações.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime lei tribunal prisão comunidade social violação sexual abuso