Quando somos pequenos...
Um caso de teatro infantil fantasioso q.b. e inteligente sem deixar de ser didáctico é suficientemente raro para que seja obrigatório chamar a atenção para as sessões familiares deste fim-de-semana na Culturgest. (...)

Quando somos pequenos...
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um caso de teatro infantil fantasioso q.b. e inteligente sem deixar de ser didáctico é suficientemente raro para que seja obrigatório chamar a atenção para as sessões familiares deste fim-de-semana na Culturgest.
TEXTO: É decididamente imparável este Ricardo Neves-Neves: ainda há dias escrevia eu sobre a sua encenação de uma ópera bufa, Canção do Bandido, e ei-lo agora com uma peça de teatro para a infância, isto além de ser ele próprio dramaturgo!Companhia: Teatro do Eléctrico Encenação: Ricardo Neves-Neves Actor(es): Susana Madeira, Vítor Oliveira Texto: Ana LázaroNo caso importa contudo começar pelo princípio, de modo duplo aliás: pelo texto de Ana Lázaro e desde logo pela sua fala inicial. “Quando somos pequenos tudo nos parece gigantesco”. Catamarã é o nome de uma menina que sonha viver numa ilha do Pacífico. E Catamarã, a peça, aborda o crescimento, o deixarmos de ser “pequenos” pelo prisma da aprendizagem. Por que precisamos das palavras? Quais as letras necessárias? Por que há o que nos dizem serem erros ortográficos? Como se relacionam as palavras com os objectos? E para que servem os números? Por que é também pela matemática que nos relacionamos com o mundo? E qual a sua lógica, a sua música?Em suma, em Catamarã – Nas Ilhas Salomão Ninguém Se Preocupa Com Os Erros Ortográficos não estamos apenas com uma dessas fantasias de “quando somos pequenos…”, mas com um modo fantasioso de sugerir o que de difícil pode ter uma aprendizagem, e também do prazer que o conhecimento pode ser. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Duas observações contudo: 1) a parte sobre os antípodas, com um globo terrestre, em si mesma divertida, pode contudo ter um nível de complexidade e de inteligibilidade excedentário; 2) mesmo que ocorra apenas por breves momentos, é de todo dispensável uma representação mais tipificadamente “infantilizante” (os actores são Susana Madeira e Vítor Oliveira, mas o reparo diz respeito à encenação). Um caso de teatro infantil fantasioso q. b. e inteligente sem deixar de, à sua maneira, ser também didáctico é suficientemente raro para que se chame a atenção para as sessões familiares deste fim-de-semana na Culturgest: este sábado às 16h, no domingo às 11h e às 16h. E ainda a propósito do “imparável” Ricardo Neves-Neves: Banda Sonora, o notável espectáculo que estreou em Março no São Luiz, vai ser reposto em Março do próximo ano, mas desta vez irá também visitar o Teatro Municipal Rivoli, no Porto, e o Cine-Teatro Louletano. É caso de júbilo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave infantil
Anna resgata comida do lixo para combater o desperdício
Há “comida perfeita” a ser deitada fora pelos supermercados todos os dias. Anna Masiello resgata-a e partilha no Instagram. O dumpster diving é só uma das “muitas coisas novas” que Anna quer dizer — e fazer — para resolver o problema do desperdício. (...)

Anna resgata comida do lixo para combater o desperdício
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há “comida perfeita” a ser deitada fora pelos supermercados todos os dias. Anna Masiello resgata-a e partilha no Instagram. O dumpster diving é só uma das “muitas coisas novas” que Anna quer dizer — e fazer — para resolver o problema do desperdício.
TEXTO: Sobre a bancada da cozinha, amontoam-se legumes e frutas: 55 bananas, dez tomates, caixas de morangos, de feijão-verde, de alho-francês, de cogumelos, embalagens de salada, de peras, maçãs, quivis, nabos, courgettes, um melão, um limão, uma cebola, um pimento. O suficiente para duas refeições para quatro pessoas, muito doce de fruta, muito bolo e gelado de banana. Tudo pronto para ser cozinhado ao longo do dia. Tudo recolhido nos caixotes do lixo de um único supermercado na noite anterior. Pouco passava das 22h quando Anna saiu para mais uma noite de dumpster diving. Mochila às costas, luvas, um saco de compras a rolar pela calçada de Lisboa. Ia “mergulhar no lixo”. Não por fome ou desespero. Mas como forma de combater o desperdício alimentar. A ideia é resgatar comida ainda boa para consumo, aproveitá-la e partilhar os resultados nas redes sociais. É expor o que a repulsa pelos sacos negros ajuda a esconder: uma sociedade de consumo que descarta tudo o que desça o limiar do mais-que-perfeito. Porque o que ela encontra, diz, é “comida perfeita”: algumas frutas podem ter pequenas manchas ou pedaços pisados e os legumes uma tonalidade amarelada. “Mas se alguém os tivesse em casa, comia-os. Sem dúvida. ”A poucos metros de distância, um homem varre para o passeio as últimas migalhas do dia, olha curioso. Anna Masiello e uma das colegas de casa, Fran Heiligenberg, 28 anos, estão de volta do primeiro de seis caixotes do lixo, perfeitamente alinhados nas traseiras de um supermercado de uma grande cadeia internacional. Quase já não há trânsito nesta zona das Avenidas Novas. Volta e meia, alguém passa a caminho de casa. Ninguém ignora. Ninguém interpela. “Acho que não esperam que duas raparigas, com um ar normal, vestidas à estudante, estejam a vasculhar o lixo”, diz Anna. “Por isso, espero que parem e se questionem sobre o porquê de estarmos a fazer isto, de estarmos a levar toda esta comida perfeita para casa. ”À superfície do primeiro saco do lixo, brilham cachos de bananas debaixo da lanterna do telemóvel. Há uma podre, que deixam ficar, mas as outras, apesar de algumas manchas na pele, resistem ao toque. Todos os despojos do supermercado se misturam: vegetais dignos de prateleira, outros com algumas manchas amarelas ou negras, outros já completamente estragados. Mas também vasos partidos, latas vazias, pacotes de lenços, plantas secas, luvas usadas, pedaços de papel e embalagens de francesinhas e de arroz de pato pré-cozinhadas, cujo prazo de validade terminou no dia anterior. São selectivas. Nem tudo o que consideram estar bom para consumo acaba na cozinha. “Temos um problema de luxo com o lixo”, ironiza Fran. Só levam aquilo de que gostam, que pode ser cozinhado, que conseguem carregar e que não esteve em contacto directo com os outros resíduos. Os brócolos, por exemplo, parecem em bom estado. Mas não são um vegetal com casca e, desta vez, o celofane que os protege está cheio de buracos. Numa hora, enchem os sacos e as mochilas. “Sinto-me mal por deixar o resto aqui sabendo que vai ser desperdiçado. Amanhã vai ser incinerado e isso magoa”, lamenta Anna. Faz as contas: “Eles põem o lixo cá fora três vezes por semana. Se pensarmos: três vezes por semana, todas as semanas, em todos os supermercados de Lisboa, torna-se assustador. ” Na esquadria de ruas entre o Campo Pequeno e o Saldanha contamos, pelo menos, 12 supermercados. O fim da licenciatura em Línguas e Tradução foi para Anna um ano de grandes questões. Era mesmo aquilo que queria fazer para o resto da vida? E, se não era, o que é que a “preocupava mais no mundo”, aquilo onde queria “investir cada segundo”? “Apercebi-me que o planeta e a natureza são aquilo com que realmente mais me importo e que quero proteger”, recorda a italiana de 25 anos. Não queria apenas traduzir os outros. Anna também tinha “coisas novas para dizer”. Há um ano e meio, decidiu regressar a Lisboa, onde tinha feito Erasmus. “Adorei a cidade, a língua, a cultura portuguesa. ” Escolheu um mestrado em Estudos do Ambiente e da Sustentabilidade no ISCTE. O pai é guarda-florestal. Anna cresceu a correr entre as árvores. Lembra-se de repreender os outros miúdos quando partiam ramos durante as brincadeiras. Mas o foco no desperdício e a vontade de abraçar um estilo de vida mais sustentável, Anna confessa ser uma novidade. Algo que começou a surgir depois de ter vindo para Portugal, entre a faculdade e as pessoas que foi conhecendo. Às tantas, decidiu “aceitar o desafio e tentar viver sem desperdício”. Tornou-se activista. “Acho que é mesmo avassalador todas as coisas que podemos fazer para não termos um impacto negativo no planeta. Quando tentamos fazê-las todas é impossível. ” Por isso, o processo tem sido gradual, passo a passo. Começou a comprar a granel e em segunda mão, a trocar os plásticos por alternativas mais sustentáveis, a criar em casa o creme de queijo e a pasta de dentes. E a relatar tudo na conta de Instagram @hero_to_0. Foi lá que publicou a fotografia da primeira incursão ao lixo, no final de Janeiro de 2019. Anna surge deitada no chão do quarto ao lado de um quadrado de vegetais e frutas alinhados em riscas coloridas. “Acho que a parte visual, a arte em geral ou isto – ver as coisas de uma maneira mais bonita – ajuda as pessoas a perceber melhor o tema. ”A experiência tinha sido uma “verdadeira montanha-russa”. Primeiro o “desconforto” de vasculhar no lixo, o medo de alguém as ver ali (foi Fran quem a desafiou e desde o início que vão em equipa), a hesitação em sujarem-se e depois perceberem que “não é sujidade, é só comida”. “Pegajosa, mas não nojenta. ” E, a seguir, a “adrenalina” de sentirem que estão a salvar comida e a consegui-la de forma gratuita, a vontade de levar tudo e perceberem que não podem com o peso, o confronto com “a quantidade de comida que só um supermercado deita fora num dia”. Ver no lixo comida suficiente para alimentar quem dorme na rua. Ainda hoje, as emoções alternam entre o entusiasmo e a indignação. Mas também “esperança”. “Nunca me tinha apercebido do poder das redes sociais até isto ter acontecido. ” Anna queria publicar uma fotografia que “pudesse chocar” e levar as pessoas a reagir. Na legenda, uma pergunta: “Isto parece-vos lixo?” Começou a receber gostos, partilhas, comentários, mensagens privadas. Vinham de pessoas “furiosas com o sistema”, com vontade de fazer o mesmo ou a sugerir soluções. O que levar? Luvas, sacos, mochilas e lanterna. Como fazer? Perceber se o supermercado escolhido deixa os contentores no passeio; falar com os funcionários para saber em que dias e horas colocam o lixo na rua; abrir os sacos com cuidado e ver o que está lá dentro; optar pelos alimentos com casca ou embalados e que possam ser cozinhados (por uma questão de higiene e segurança, Anna opta por não comer nada cru que tenha vindo do lixo); no final, arrumar todos os sacos de novo no contentor. Como um frigorífico comunitário, onde os supermercados pudessem deixar os produtos que consideram que já não são comercializáveis mas que ainda estão bons para consumo. Ou uma aplicação móvel ou um site onde se anunciassem os dias em que os contentores são colocados na rua, tal como já acontece noutros países. Rebaixas mais aliciantes. Equipas de dumpster diving. Ou a utilização de sacos diferenciados para os produtos alimentares, separados dos restantes resíduos. “Só vi um supermercado em Lisboa que põe etiquetas verdes nos sacos que têm comida boa para comer”, aponta Anna. Ideias não faltam. “Já disse que qualquer dia faço-lhe companhia numa noitada destas. ” Alice Estrela está sentada no chão da cozinha com Lucas, o filho de quatro anos, e um saco já cheio de comida. Quando Anna perguntou no Instagram se alguém queria ficar com parte dos alimentos que tinham recolhido naquela primeira noite, Alice foi uma das primeiras a responder ao apelo. “Vi a fotografia e só pensava: Conseguia fazer tanta comida daqui”, recorda. “Só os brócolos deram para fazer uma lasanha gigantesca, depois fiz esparregado e ainda guardei uns para a sopa. ”Desta vez, para delícia de Lucas, sobraram muitas bananas para um gelado caseiro. E muitos, muitos brinquedos, encontrados noutro contentor, já a caminho de casa. É um problema tudo isto ter vindo do lixo? “Estão impecáveis. Isto custa-me imenso porque, às vezes, vejo coisas até com pior aspecto no supermercado. ” Alice faz questão de trazer sempre o filho porque quer “educar um consumidor muito diferente”. Quer que para ele seja natural comprar a granel, reduzir o desperdício, reutilizar, reciclar. Não “uma coisa que se faz porque é moda”, mas porque, acredita, não há outra solução para o planeta que não passe por uma mudança drástica nos hábitos de consumo. Ao longo da manhã, o aroma doce das compotas domina a cozinha. Desde a primeira vez, que Anna e Fran tentam fazer do dumpster diving “um hábito”, ainda que não o façam todas as semanas. No dia seguinte, o ritual é quase sempre o mesmo: compõem tudo para uma nova fotografia, decidem o que cozinhar com o que recolheram e começam os preparativos. Antes de se desmanchar o quadro sobre o soalho, contamos as unidades: há 113 itens na fotografia, entre produtos avulso e embalagens. Dias depois, haveremos de regressar ao mesmo supermercado para avaliar os preços e tentar estimar o valor do que foi recolhido. Só em bananas, devem estar mais de dez euros sobre a bancada da cozinha, mais quatro euros em tomate e nove euros em saladas embaladas. No total: cerca de 50 euros. E para estas contas não entram os objectos encontrados noutro contentor, já perto de casa (brinquedos, uns ténis, um pote de vidro, um suporte de especiarias, entre outros). Num tachinho, já se cozinham os morangos. “Não precisa de açúcar, água, nada”, garante Fran. Numa panela maior, a compota de pêra e maçã. Noutro, o molho de tomate para a massa do almoço. “É impossível pensar que isto estava no lixo ontem à noite, podia ter sido comprado agora no supermercado”, aponta Anna. As rodelas de alho-francês, cebola, pimento-vermelho e cogumelos estão prontos a ir ao forno. Assim como o banana bread para a sobremesa. “Vai ser um almoço completamente livre de plástico e de lixo, super sustentável e vegan. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Anna é uma daquelas pessoas que não consegue ficar quieta muito tempo. Não dá para baixar os braços quando “há coisas muito pesadas a acontecer”. Lança-se em projectos e projectos e projectos. “Quero resolver muitos problemas”, ri-se. Acredita que a educação ambiental tradicional não tem sido capaz de mudar comportamentos. Por isso, procura novas abordagens, mais artísticas e descontraídas. Como a conta do Instagram ou os comics dos Diaries of a zero waster no Facebook. Ou o concurso Art Zero, que criou como palco de investigação para o trabalho final do mestrado. Ou a colecção de gabardinas que cria a partir do reaproveitamento de guarda-chuvas encontrados no lixo. “Para mim, desperdício zero não é só tentar viver sem produzir plástico ou lixo. É a vida inteira que vai ser sem desperdício e também o que está fora da minha vida. ” O objectivo é inspirar e ajudar outros a seguir as mesmas pisadas. “Todas as escolhas, da primeira à última num dia, da maior à menor, têm um impacto e nós temos a responsabilidade de escolher se esse impacto vai ser positivo ou negativo. ” Talvez uma pessoa não possa mudar o mundo, mas muitas podem fazer a diferença e, quem sabe, influenciar as instâncias de poder, os governos, as grandes empresas, a substituir as regras, a mudar os hábitos. “Nós temos o poder todo, porque é por nós querermos que o topo vai mudar”, acredita. 55 bananas – 10, 97€ 6 embalagens de morangos – 5, 94€ 10 tomates – 4, 38€ 4 citrinos (diversos) – 0, 99€ 1 limão – 0, 34€ 6 embalagens de salada – 7, 14€ 2 embalagens de rúcula – 1, 90€ 6 maçãs – 1, 89€ 1 embalagem de feijão-verde – 1, 49€ 1 embalagem de cogumelos – 1, 69€ 2 quivis – 0, 40€ 2 nabos – 1, 08€ 1 pimento-vermelho – 0, 60€ 2 curgetes – 1, 49€ 8 gengibres biológicos – 1, 50€** 1 cebola – 0, 19€ 1 embalagem de alho-francês – 0, 79€ 1 melão – 5, 67€ 2 embalagens de peras – 2, 98€ 1 planta (viola) – 0, 79€(*Valores estimados com base nas quantidades e preços por quilo apresentados no mesmo supermercado uma semana depois. **Encontrados no contentor de outro supermercado)
REFERÊNCIAS:
2019 – um ano perigoso
Mesmo neste pacato país, o rastilho anda por aí; uma iniciativa política mal gerida pode acendê-lo. (...)

2019 – um ano perigoso
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mesmo neste pacato país, o rastilho anda por aí; uma iniciativa política mal gerida pode acendê-lo.
TEXTO: Cumprir-se-ão no dia 1 de Janeiro dois anos da morte de Anthony Atkinson, um economista inglês que dedicou a sua vida ao estudo da desigualdade. O seu último livro – Inequality, what can be done? – foi publicado dois anos antes, em 2015; nele, Atkinson descreve o “inequality turn”, ou viragem da desigualdade, a partir dos anos 80, que atribui a uma conjugação de fatores: globalização, desregulamentação dos mercados de trabalho, perda de poder dos sindicatos, importância crescente dos mercados financeiros, tecnologia. E também a uma mudança radical na política de redistribuição dos governos dos países desenvolvidos, inspirados pelas reformas fiscais de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, que diminuíram a taxa de IRS aplicada aos rendimentos mais altos de 83 para 60%, no Reino Unido, em 1979, e nos EUA de 70 para 50%, em 1981, e depois para 38, 5%, em 1986. Deixa-nos um aviso: a desigualdade extrema é incompatível com o bom funcionamento da democracia. A profecia de Atkinson está a realizar-se. O site de opinião Project Syndicate (www. project-syndicate. org) publicou por estes dias a revista The Year Ahead, dedicada ao ano de 2019, escrita por políticos e académicos – incluindo três economistas que receberam o prémio Nobel. O título é sugestivo: “The Great Disruption”. Disruption significa “prevenir um sistema, processo, ou evento, de continuar a funcionar como é habitual ou expectável”. 2019 será, portanto, o ano da Grande Rutura do nosso sistema de mercado, político e diplomático. Não digo disrupção porque essa palavra está gasta na adoração provinciana das web summits e start ups, e não é bem disso que quero falar hoje. Portugal tem vivido nos últimos anos num clima de relativa serenidade devido à política de devolução de rendimentos do Governo do PS, com a pobreza a diminuir e os indicadores de confiança a subir. A percentagem de portugueses que confiam no Governo, segundo o Portal de Opinião Pública da Fundação Francisco Manuel dos Santos, aumentou de 15% em novembro de 2015 para 55% em março passado. Mas não é por isso que estamos livres de Gilet Jaunes, ou outra forma inorgânica de protesto dos despojados da promessa de prosperidade do século XXI. A taxa de pobreza é atualmente de 18, 3%, o que constitui uma melhoria face a anos anteriores, mas é ainda superior à do período pré-crise. Se quiser saber o que é ser pobre em Portugal, leia as excelentes reportagens publicadas pelo PÚBLICO nas últimas semanas. Cerca de 8% da população vive em famílias com intensidade laboral reduzida, que é o termo estatístico para designar situações em que as pessoas em idade laboral trabalham menos de 20% do tempo. Mais de 10% das trabalhadoras e trabalhadores são pobres em Portugal. E nunca é demais recordar que somos um dos países mais desiguais da UE – em 2017, apenas a Bulgária, a Lituânia, a Letónia e Espanha tinham uma distribuição do rendimento mais desigual do que Portugal. Dois dos suspeitos de Atkinson – a globalização e a tecnologia – deixaram já feridas em Portugal. Os economistas Sónia Cabral, Pedro Martins, João Pereira dos Santos e Mariana Tavares, num estudo intitulado “Collateral Damage? Labour Market Effects of Competing with China”, mostram como a concorrência da China diminuiu os salários e o emprego em Portugal, sobretudo nas mulheres, nos trabalhadores menos educados e mais velhos, confirmando resultados semelhantes nas economias americana, alemã, norueguesa ou francesa, entre outras. Os economistas Maarten Goos e Alan Manning foram os primeiros a mostrar como a automação, ao substituir empregos rotineiros e precisos, feitos por trabalhadoras com salários médios, é responsável por uma crescente polarização dos mercados de trabalho entre empregos “lovely” (adoráveis), bem pagos e confortáveis, e “lousy” (asquerosos), ou seja, mal pagos, com horários incompatíveis com a vida pessoal, com maiores riscos para a saúde física e mental. Tiago Fonseca, Francisco Lima e Sónia Pereira, no artigo “Job polarization, technological change and routinization: Evidence for Portugal”, mostram que esta polarização de origem tecnológica existe desde meados dos anos 90 no mercado de trabalho português. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Portanto, mesmo neste pacato país, o rastilho anda por aí; uma iniciativa política mal gerida, à semelhança do que aconteceu em França com o imposto sobre os combustíveis, pode acendê-lo. Quando ele começar a arder, vai ser preciso chegar-se à frente, como fez Macron, em desespero de causa, há duas semanas; não será certamente um qualquer almoço de Marcelo Rebelo de Sousa com camionistas, com o objetivo de “demover a radicalização”, que acalmará o desespero das pessoas. Em 2019 vamos ter eleições europeias em maio e legislativas em outubro. Será portanto um ano de debate democrático. Como não sei fazer previsões, vou deixar um desejo. Que este debate se centre na discussão das políticas que queremos ter para diminuir a polarização da sociedade e preservar a democracia. Parece-me evidente que soluções eficazes só se podem implementar à escala europeia ou, pelo menos, entre um grupo significativo de países da União. Atkinson pede mais progressividade nos impostos sobre o rendimento e propriedade, incluindo heranças. O Manifesto para a Democratização da Europa, recentemente lançado por um grupo liderado por Thomas Piketty, repousa em impostos sobre os lucros das grandes empresas, sobre os grandes proprietários e sobre as emissões de carbono. A mobilidade das empresas, do capital e dos trabalhadores qualificados exige que políticas como estas sejam discutidas e implementadas à escala da UE. Vai ser necessário voltar a uma regulação dos mercados com preocupações distributivas explícitas, como defendeu Atkinson, e regular as plataformas da nova economia digital, como discute outro economista, Jean Tirole, no seu livro A Economia do Bem Comum. Outro grande desafio destes tempos de incerteza são as migrações, que têm fomentado sentimentos de insegurança nas populações mais vulneráveis. Em qualquer destas matérias, só com um grupo alargado de países é que vamos poder avançar. A 26 de maio, elegemos o novo Parlamento Europeu. São 146 dias para evitar a grande rutura. Uma responsabilidade de todos nós. A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Partidos PS BE
Coisas
Vou tentar concentrar-me na tarefa que me foi pedida de tentar salvar deste mar de uso indevido, desatenção, desprezo ou esquecimento algumas palavras da língua portuguesa. (...)

Coisas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Vou tentar concentrar-me na tarefa que me foi pedida de tentar salvar deste mar de uso indevido, desatenção, desprezo ou esquecimento algumas palavras da língua portuguesa.
TEXTO: “As pessoas são seres extraordinários. Só têm um defeito: morrem. ” Não sei se é dos traços marcados daquela face, vida dura, vida longa em cada ruga; não sei se é daquele olhar cinzento quase transparente que intimida; não sei se é daquele feixe de luz que entra por uma abertura lá em cima e passa em tangente pelos seus cabelos revoltos, caindo, em forma de losango, na laje aos seu pés, de onde se refracta pouco menos do que impossivelmente. Mas de alguma coisa vem o poder de tornar convincente aquela meditação filosófica de um neo-alquimista num local recôndito das nossas serranias mais esparsamente habitadas. Alguma coisa é. Alguma coisa – quando não sabemos o nome, chamamos-lhe coisa. O problema é não sabermos, na nossa língua, o nome de tantas coisas que só julgamos que existem em inglês, em francês, em castelhano, mas que, afinal, também temos. Só precisaríamos de os aprender e, uma vez aprendidos, de não os esquecer. . . E aqui entra a história conhecida de um concidadão nosso que tinha emigrado, ainda novo, para terras de França e que, quando voltou à sua aldeia, já senhor de posição que lhe davam as posses que com ele trouxe para provar a vida ganha, ao olhar para as alfaias agrícolas que, por nostalgia, lhe tinham dado a ver familiares da sua terra, já não soube dizer o nome do ancinho com que tanto tinha trabalhado, símbolo rústico do atraso que tinha deixado para trás. Até que, ao passar, pôs o pé em cima dos dentes metálicos de um desses utensílios esquecido no chão, fazendo levantar o respectivo cabo de madeira, que lhe acertou, em cheio, na nuca. Imediatamente se deu o milagre de se lembrar claramente de duas coisas: de um palavrão em vernáculo e do nome do ancinho. Analogamente, talvez o povo precise ainda de umas canadas de bambu pelas orelhas abaixo para lhe despertar as memórias dos nomes que aprenderam na escola mas que agora só sabem em inglês. Que pena serem agora consideradas antipedagógicas, pois cairiam tão bem em certas mentalidades que os antigos mestres sabem estarem indissociavelmente ligadas às orelhas, grandes ou pequenas, sempre moucas para o português. Claro que tudo isto não passa de um grande chiste com que pretendo trazer de volta o tom mais aprazível da facécia ao universo de seguidores destas crónicas, tão avessos ao politicamente incorrecto como apreciadores da galhofa inteligente e substancial. E continuamos em tom de facécia quando os alerto para a dificuldade extrema não só de escrever em português, mas, sobretudo, de traduzir de outras línguas para português nomes de coisas que os portugueses não sabem, não querem saber e que ficam zangados quando lhes dizem quais são. Para quê descobrir que loop é lacete? Ficam contentes? Não, ficam aborrecidos por os contrariarmos na cisma de que loop não tem tradução. Além disso, lacete é feio. E para que havemos de ocupar a cabeça com nomes feios se podemos tudo designar em inglês, ou, em alternativa, por “coisa”, “aquela coisa” ou “coisinha”? É como termos de nos lembrar, caso a caso, de “executar”, “aplicar”, “levar a efeito”, “pôr em prática”, etc. , quando podemos dizer apenas “implementar” e ficar com mais tempo para apostar nos jogos de resultados desportivos ou para jogar mais uma partida de Game of Thrones ou de Grand Theft Auto XII?AçafateHá palavras assim: que eram de uma casa, há muito tempo. Que se aprenderam numa casa onde havia um objecto que nunca mais se viu, um nome que nunca mais se usou, um fiozinho de memória da casa da avó, da tia, da madrinha, de algum parente afastado, talvez de alguém chamado Palmira, Quitéria, Guiomar. Açafate. Um cestinho de verga fina, delicado, com uma cercadura baixa, aberto e sem asas, onde se guardavam pequenas coisas, que podiam ser pontas de lã, carrinhos de linhas, agulhas de fazer croché e de tricotar, dedais, ovos de madeira de coser meias. A moça do açafate, ou açafata, era uma “dama da corte que estava encarregada das roupas da rainha e das infantas e lhas entregava num açafate” (Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora, 8. ª Edição). Do mesmo modo, se podemos dizer “chega-me aquela coisa que está em cima da mesa”, ou “falta-me uma coisa que encaixa nesta coisa”, ou, mais tecnicamente, “pronto, lá me saltou uma mola deste pinchavelho!. . . ”, para quê aprender nomes de objectos que só se vêem em museus ou que só vou encontrar se me dispuser a consertar uma máquina de costura? Quanto aos brasileiros, ouvimo-los falar não de “coisas”, mas de “negócios”, passando pelas minudências de “um negocinho que encaixa naquele negócio lá”, no que pode parecer um sentido comercial tropical muito apurado: todas as coisas são negócios potenciais. Assim, ao contrário de franceses, ingleses, norte-americanos, australianos até, aos portugueses e brasileiros não lembra a maçada de terem de aprender um rol de nomes. É uma questão de economia. Ficam-se pelos infinitivos dos verbos, sem cuidar de saber qual é o nome correspondente daquela família (“e olhe lá!. . . ”). Qual é o acto de polir? Polidura ou polimento (e não “polissagem”, como erradamente vi escrito em letra de imprensa num veículo comercial circulante em Portugal). Qual o acto de soldar? Soldadura – com a variante soldura – ou soldagem. De ralar? Ralação, raladura. De serrar? Serração, serraria, serradura (serradura é também um nome para o pó que cai da madeira quando se serra; outro é serrim). E de malhar? Malha, malhada ou malhadela. De enfiar? Enfiamento. De cozer? Cozedura, cozimento, cocção. De coser? Costurar. De peneirar? Peneiração, peneirada. De equilibrar? Equilíbrio (e não “equilibragem”, por confusão com calibragem, acto de calibrar, o que é coisa bem diferente. As rodas dos automóveis, por exemplo, equilibram-se com pequenos chumbos, para distribuir o peso mais uniformemente durante a marcha, não se calibram, a não ser na fábrica das jantes, a que no Brasil chamam rodas). De rectificar? Rectificação (seja uma conta, seja uma peça metálica que se deformou e que se pretende que regresse à configuração inicial). E rectificador ou rectificadora é a pessoa que rectifica ou a oficina ou a empresa onde se fazem as rectificações (e não “retífica”, como vi no Brasil). De aceder? Acesso. Por isso, não invertamos as posições, inventando o verbo “acessar” a partir de acesso. Seria o mesmo que inventar “retrocessar” a partir de retrocesso, quando o verbo é retroceder. Ou formar “abcessar” a partir de abcesso, quando o correcto é abceder. Ou “progressar” a partir de progresso (progredir). E lamento desapontar, mas em Portugal não temos “amassos”, só temos amassadelas, que são sinónimos de amolgaduras, isto é, em carros depois de chocarem contra objecto pesado, nunca em pessoas. Temos até amassadura, para o acto de amassar o pão, por exemplo, mas para significar o acto de avaliar a consistência das carnes humanas – que é hoje considerado hábito bárbaro, a não ser em locais propícios a tais barbaridades – temos apalpadelas, apalpações e, em casos extremos, apalpões. Em casos mínimos, só com dois dedos, beliscões. É só. A diferença semântica é que, quando se amassa, aquilo que é amassado não volta à forma primitiva, passando de convexo a côncavo de forma quase definitiva, sendo reversível apenas a troco de um salário/hora de técnico especializado, ao passo que, quando se apalpa, a elasticidade do que é apalpado volta rapidamente à primeira forma, permitindo a continuidade do jogo quase indefinidamente (antigamente; hoje já não). Conferência não é só uma “reunião para tratar de assuntos particulares ou públicos”, mas também o acto de conferir. Armazenamento ou armazenagem? Os dois. E pelas casas, o que havia?Um psiché era um toucador com gavetas como uma cómoda, mas mais baixo, encimado por um espelho tríplice, cujas partes laterais eram móveis, para permitir observar ângulos da face (e do cabelo) invisíveis ao espelho frontal fixo. Palavra provavelmente com etimologia na princesa grega Psique (a Alma), do mito de Psique e Eros, tornada imortal a pedido deste. O galheteiro é um utensílio ainda identificável pelos mais velhos, mas não sei se ainda pelos mais jovens. Mas mesmo os mais velhos saberão o que são as galhetas do galheteiro?Uma dobadoura ou dobadoira, o que é? Quem doba ainda meadas em casa, ou seja, quem transforma meadas de lã em novelos? E, se o fizer, usa as costas de uma cadeira em vez da dobadoira. Uma almotolia era uma caixinha metálica hemisférica com um bico muito fino e comprido com que as mães oleavam as suas estimadas máquinas de costura, através de uns buraquinhos que existiam para o efeito. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Uma plaina é um instrumento com o qual o carpinteiro tira os empenos a uma tábua, já se sabe. Mas quantos saberão o nome de uma plaina grande? É uma garlopa, palavra estranha em português, o que se deve a ter derivado do neerlandês voorlop. E quem jogava à macaca na escola (será que alguém joga ainda?) ainda se lembra do nome da pedra redonda e chata (normalmente uma lousa, que outros conhecem por ardósia ou xisto) que se arrastava com o pé para dentro das casas quadradas desenhadas no chão? Era patela. Tal como o disco de ferro que se atira pelo ar no jogo da malha (ou do fito), para derrubar o meco de madeira (ou fito). Ah, e também é o nome da rótula do joelho. De Sísifo Fontes, da freguesia de Sortes, concelho de Bragança: “Trabalho há 44 anos numa repartição pública que não identifico, por medo de represálias, razão que me vai impedir também de participar na assembleia geral do Sporting Clube de Portugal destitutiva do presidente Bruto de Carvalho, por amor aos meus dentes, mormente os da frente. Acontece que no normal funcionamento dos serviços, a cada passo caímos em divergências de opinião, um colega e eu, sobre a propriedade deste ou daquele termo, desta ou daquela expressão em português. O problema é que, por mais que eu fundamente o meu ponto de vista consultando mestres gramáticos ou escritores ilustres, o meu colega tudo reduz ao pó da inutilidade. Não tem aí por casa algum livro cuja autoridade eu possa citar como insofismável, que me dê esperança de me manter no meu lugar até à minha aposentação definitiva?”Tenho, sim senhor. Dependendo da natureza das matérias em despique, talvez isso se pudesse resolver a bem, com o “Vocabulário da Língua Portuguesa”, de Francisco Rebelo Gonçalves, o “Diccionario da Lingua Portuguesa”, de António Moraes Silva, o “Diccionario Prosodico de Portugal e Brazil”, de António José de Carvalho e João de Deus, o “Diccionario dos Synonymos Poetico e de Epithetos da Lingua Portugueza”, por J-I Roquette e José da Fonseca, as “Lições de Linguagem”, de Augusto Moreno, os “Problemas de Linguagem”, de Cândido de Figueiredo, o “Em Prol da Língua Portuguesa”, de F. J. Cardoso Júnior, até o “Há que Defender a Língua Portuguesa”, da Liga Portuguesa de Profilaxia Social, mas, em casos similares, costumo socorrer-me, com bons resultados, de um exemplar da lista telefónica de Lisboa de 1974 (Páginas Amarelas) – que eu, nestas coisas, não sou bairrista. Tem é de ter alguma pontaria. . . .
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola rainha social medo princesa salário moça
E não é que isto é mesmo de comer?
O dia em que me estreei à mesa de um restaurante com o selo de qualidade Michelin. Antiqvvm, Porto, uma estrela. (...)

E não é que isto é mesmo de comer?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: O dia em que me estreei à mesa de um restaurante com o selo de qualidade Michelin. Antiqvvm, Porto, uma estrela.
TEXTO: Que partida esta, a de convidarem um apreciador de comida tradicional a visitar um templo de comida experimental e inovadora! Já se vê que a discrepância não chamusca nem pode chamuscar a arte e saber de quem pretende estar na vanguarda da cozinha. Por isso vou esforçar-me por não deixar que a inépcia do crítico cause prejuízo ou injustiça ao criticado. Primeiro o lugar, o restaurante Antiqvvm, no ambiente romântico da Quinta da Macieirinha, onde se instalou em tempos o Solar do Vinho do Porto. Bonitas arcadas fechadas a vidraças que nos dão o jardim e o concelho de Gaia de além-rio. A atenção aos pormenores constrói a qualidade: toalhas, guardanapos, talheres, música ambiente, mas, antes e durante a entrada em cena dos pratos, a atitude dos funcionários, esses intermediários tão importantes entre nós e aquilo que fomos buscar, é determinante. Passaram com distinção: acolhedores, atenciosos, prestáveis, simpáticos, conhecedores. Sem toque de uma certa sobranceria que por vezes afasta candidatos a clientes certos. Inicia-se o desfile de experiências com um prato branco no centro do qual existe um pequeno reservatório com água. O funcionário, com uma pinça, pega no que parece ser uma pastilha branca alta, compacta, e põe-na cuidadosamente no centro do reservatório. Quando, intrigado, observava eu o que poderia sair dali de comestível, avisou-me, mesmo a tempo, que era uma toalhinha para limpar as mãos. De facto, em contacto com a água, a parecença de pastilha inchou, cresceu e transformou-se num rolinho de tecido que cumpriu a sua função. Entretanto, ajudam-me, simpaticamente, a encontrar o meio copo de vinho que, além da indispensável água, será companhia na sequência de sabores: Quinta Valle de Passos, tinto. Gostei. Logo de seguida, dois pequeninos pratos de entradas inauguraram os procedimentos. Mas não eram pratos: uma bola em porcelana branca com a parte de cima elegantemente côncava recebia – nessa reentrância onde a colher redonda que me aguardava em cima da mesa mal cabia – uma ostra disposta nos tons de verde dos molhos; numa taça, bocadinhos de chicharro em molho de guacamole, tomates-cereja. O olhar está conquistado, pois a apresentação vai à frente, a demonstrar a qualidade de quem concebeu com tanta felicidade estética e confeccionou com esmero. Os sabores são suaves. Trazem-me pão, em pratos separados: uma fatia de focaccia de alecrim, ainda quente, muito boa, e um pedacinho de broa de Avintes, que reconheci com alegria, sem ser preciso esperar pela explicação. Senti-me mais acompanhado. Segue-se esturjão fumado em molho de manga e moscatel em gel. Agridoce, mas não enjoativo. Exótico, mas não ameaçador. Rua de Entrequintas, 220 Porto www. antiqvvm. pt Chef Vítor Matos, uma estrela Michelin Menu executivo com prato de peixe e prato de carne e um copo de vinho: 69€Prato de peixe: pregado em terrina de porco com molho de funcho e puré de aipo. Bom sabor. Subtil. Mas eu, por uma questão prática, descartaria o prato de bordas excessivamente altas, que estorvam os talheres no seu trabalho. Prato de carne: presa de porco com espinafres, cogumelos, risotto de cevadinha e molho de vinho tinto. Paremos um pouco: risotto é italiano para dizer “um arroz de”. Gosto de arroz. Mas este risotto engana-nos, porque não tem arroz, mas cevadinha. Ora, quando chega à língua, em vez daqueles grãos de que temos memória, surgem uns bagos inchados, leves, separados, que escorregam uns sobre os outros e brincam connosco. Confundiram-me. Gosto de arroz na arrozada. Além disso — eu sei que sou só eu — não tenho, dos cogumelos, a ideia de serem a mais interessante textura para se comer. De os fotografar, já gosto. . . Agarro-me à broa de Avintes para saber onde estou. Ao contrário da focaccia, agradável, mas talvez um pouco salgada, a perfeição da broa de Avintes salva-me, reconforta-me. Dá-me de volta o Norte. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sobremesa: “smile” de panna cotta de maracujá sobre uma bolacha. O amargo ligeiro da panna cotta em forma de carinha sorridente é contrariado pelo doce da bolacha. Um bocadinho de gelado de limão sela a refeição. Confirmo o meu problema: não sou perseguidor de sabores diferentes para além dos de um cabrito assado no forno que me provem realmente que o que eu não gostava era de mau cabrito assado. Tenho um limite, talvez baixo, para o número de sabores novos ou combinações raras que admito numa refeição. Ultrapassado, começa a tocar um alarme que passa do estômago para o fígado. Não foi o caso. Ficou tudo em paz com a subtileza das combinações e a mestria da confecção e da apresentação. As quantidades não foram acima nem abaixo do necessário, com a sensação de uma digestão tranquila. Neste requinte de almoço, sou o único português. Um casal jovem japonês vai fotografando os pratos e alternando de lugar, não sei porquê, ao longo da refeição. Atrás, uma rapariga faz perguntas em inglês, talvez para um blogue. Do outro lado da sala, um francês dos seus 70 anos aprecia os pedidos de seu vagar. Ao meu lado, uma jovem japonesa, sozinha, opta pelo mesmo que eu: “menu executivo” com prato de peixe e prato de carne. O restaurante é, de facto, uma boa embaixada de Portugal.
REFERÊNCIAS:
Um em cada sete americanos está farto de notícias
Estudo do Pew Research Center revela que 68% dos norte-americanos dizem-se cansados de tanta notícia diária. (...)

Um em cada sete americanos está farto de notícias
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.71
DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estudo do Pew Research Center revela que 68% dos norte-americanos dizem-se cansados de tanta notícia diária.
TEXTO: Durante a campanha eleitoral norte-americana de 2016, a quatro meses da vitória de Donald Trump, já os norte-americanos se diziam esgotados pelo excesso de cobertura noticiosa das eleições. Na altura, os dados de um inquérito do Pew Research Center apontavam para que 59% de eleitores americanos dissessem sentir-se submersos pela avalancha das notícias que acompanhavam o dia-a-dia da campanha de Trump e Hillary Clinton. Dois anos depois, a situação piorou: 68% dos americanos confessam a sua exaustão pela catadupa de informação diária. O estudo de opinião feito com 5035 cidadãos foi conduzido pelo think-tank norte-americano entre 22 de Fevereiro e 4 de Março e conclui que apenas 30% dos americanos está confortável com o que lê, o que vê, o que escuta, independentemente do suporte em que o faz. Do outro lado do espectro, são 68% os que assumem ser um excesso o que diariamente os meios de comunicação têm para lhes apresentar. E nos pratos da balança republicana e democrata, a tendência de esgotamento demonstrada pesa sobretudo para o lado conservador: 77% contra 61% de democratas. O que, noutra leitura, significa que os republicanos, ou eleitores com tendência mais conservadora, podem não estar tão disponíveis para as eleições intercalares de 6 de Novembro de 2018. Os resultados do inquérito revelam também que esta “fadiga” atinge sobretudo os eleitores que menos consomem informação numa base diária: 78% contra 62% de quem segue atentamente o “feed” noticioso. Ainda assim, a maioria dos norte-americanos diz seguir as notícias diariamente, enquanto 34% prestam atenção ao que se passa no seu país e no mundo apenas em doses homeopáticas, isto é, quando algo que considerem verdadeiramente importante está a acontecer. Oito em dez cidadãos americanos dizem que a imprensa “não informa” ou “não informa como deve ser” o seu público-alvo. Só 48% se dizem muito satisfeitos com a oferta noticiosa diária. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Outro dos resultados do estudo mostra uma clivagem entre grupos demográficos de brancos vs hispânicos ou negros: 73% de americanos brancos confessam-se exaustos com aquilo que as notícias diárias têm para lhes oferecer, contra uma percentagem de apenas 55% de hispânicos e negros. No campo do género, a cobertura noticiosa também não colhe: 71% de mulheres dizem-se fartas de notícias. A metodologia seguida pelo Pew Research Center para este inquérito apresentou perguntas relacionadas com o dia-a-dia noticioso do país sem mencionar especificamente a cobertura noticiosa das investigações que pendem sobre a Administração Trump ou a “omnipresença” das críticas do Presidente norte-americano aos principais meios de comunicação social, nomeadamente através da sua prolífica conta na rede social Twitter.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave campo social género estudo mulheres
Smart Cities Index, um manual de instruções para candidatos municipais
A Rede Nacional de Cidades Inteligentes publicou um índice que é um repositório de boas práticas na gestão das cidades. (...)

Smart Cities Index, um manual de instruções para candidatos municipais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.214
DATA: 2017-05-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Rede Nacional de Cidades Inteligentes publicou um índice que é um repositório de boas práticas na gestão das cidades.
TEXTO: O tamanho importa pouco. Não fosse assim, e Águeda dificilmente surgiria à frente de Cascais e outras 33 cidades portuguesas, e apenas atrás do Porto, no retrato tirado pela Rede Portuguesa de Cidades Inteligentes (Rener) ao que 36 dos seus associados andam a fazer, em termos de governação, inovação, sustentabilidade, qualidade de vida e conectividade. Mais do que uma tabela com uma classificação, o índice de 2016, agora publicado, é um repositório de boas práticas, espalhadas por esse país fora, de norte a sul, do litoral ao interior. Um verdadeiro manual para os candidatos, em ano de eleições locais. O que é uma smart city? O presidente da Câmara de Cascais considera que a entrada em cena, no jargão político, desta expressão significa que, dantes, “andávamos a fazer cidades estúpidas”. E antes que alguém se ofenda, Carlos Carreiras explica: uma cidade estúpida é “contra as pessoas”. Se o mundo, lembra, já foi dos impérios (século XIX) e das nações (século XX), o social-democrata acredita que agora o tempo é, e será, das cidades, beneficiando da “proximidade” que este nível de governação garante, em relação aos problemas, muitos, que urge resolver. É a palavra de um autarca que, vincando acreditar na democracia representativa, está a puxar, também, pela democracia “participativa e colaborativa”, e pôs concidadãos seus a desempenhar o papel de tutores de bairro - e já são mais de cem a ajudar a identificar problemas, no território do concelho - e que tem o orçamento participativo mais participado - o pleonasmo é inevitável - da Europa. Tão participado, nota, que na última edição os votos para os vários projectos ultrapassaram o total da votação de todos os partidos representados na câmara nas eleições autárquicas de 2013. E tão participado acrescenta, que ali, ao contrário de outros espaços de intervenção pública, são mais as mulheres do que os homens quem intervém. O conceito de cidades inteligentes, para quem tenha passado por ele de raspão, está muito associado à inovação tecnológica. E este índice não escapa a isso, medindo a forma como estas cidades usam a tecnologia em favor da optimização dos recursos (energia, resíduos, redes de transportes, etc), da transparência (através da criação de plataformas de dados abertos, da informação aos cidadãos, etc), ou da desburocratização dos serviços, para dar alguns exemplos. Mas o que se percebe ao ler as quase 150 páginas deste documento disponível no site da Rener é que a base desta inteligência urbana sempre foram as pessoas. Sejam elas os decisores - cuja “liderança política é fundamental” para mudar a forma como olhamos para a gestão das cidades, argumenta a responsável por este relatório, Catarina Selada - sejam elas “meros” cidadãos. E, quanto a estes últimos, o relatório é também um retrato de uma cidadania em mudança. Os projectos na área das smart cities exigem uma participação maior dos habitantes - seja apenas para a recolha de dados sobre a forma como usam os espaços e equipamentos ou para reportar problemas, através de iniciativas como “A minha rua” - seja para os pôr a decidir projectos, como acontece nos OP, cada vez mais disseminados pelo país (nesta amostra existem em mais de metade das câmaras). Ou a identificar desafios concretos no dia-a-dia das cidades que depois, aí sim, podem ser solucionados com recurso à tecnologia, como acontece no programa Desafios Porto, liderado pelo município e apontado como bom exemplo, mesmo lá fora, assinala o vereador do Ambiente e da Inovação desta cidade, Filipe Araújo. E quando uma câmara como a de Valongo decide abrir o jogo e disponibilizar na página de abertura do seu sítio da internet um acesso a todas as despesas que vai fazendo, o que está a fazer, explicava, no ano passado o autarca local ao PÚBLICO, é dar poder aos cidadãos. Poder de avaliação, de julgamento. José Manuel Ribeiro afirmou que um autarca que não quis identificar lhe chegou a dizer que aquilo era “perigoso”. Bom, a atentar no caminho que se vai fazendo por esse mundo fora, essa transparência de processos não é nada perigosa e, mais dia, menos dia, vai deixar de ser notícia. Embora este índice mostre que ainda há muito a fazer, neste campo, em Portugal. A disponibilização, imediata, de dados e informação sobre o desempenho dos municípios (contas, actividades, encaminhamento de processos, etc) e das próprias cidades (consumo de energia, lixo produzido, emissões de CO2, entre outros exemplos) ainda não está disseminada. Aliás, Águeda e Porto são os únicos municípios que, até ao ano passado, já tinham disponível uma plataforma online onde este tipo de dados, e muitos outros, está completamente aberto, num processo que, no caso do Porto, tem permitido a empresas desenvolver aplicações informáticas para áreas como o turismo, por exemplo. Outros casos de boas práticas estão melhor disseminadas. As bicicletas partilhadas são cada vez mais comuns e o salto agora é oferecer o serviço no modo eléctrico, algo em que Águeda - com o seu historial de ligação à indústria das bicicletas - fez questão de ser pioneira, assinala o autarca Gil Nadais. Este foi também um dos concelhos que mais rapidamente passaram toda a iluminação pública para LED, e que já está, noutro patamar, a estudar uma forma de colocar, nos postes espalhados pelo território, sensores para monitorizar parâmetros vários, como a temperatura, qualidade do ar, entre outros. Se alguém quiser perceber para que serve, pode visitar o centro de gestão integrada da câmara do Porto, onde o “futuro” já está a acontecer. Entre a preparação do Smart Cities Index, em 2015, e a sua publicação, a Rener, que entretanto passou a estar integrada como secção da Associação Nacional de Municípios, viu o número de membros disparar de 46 para 124 câmaras. O estudo foi feito com base num questionário ao qual responderam, atempadamente, 36 dessas primeiras 46 autarquias, entre as quais não se encontrava, na altura, Lisboa. Um gigante que não surge por isso neste retrato, embora seja reconhecido o trabalho que na capital se vai fazendo também nos diversos domínios analisados, e que abarcam múltiplos aspectos da gestão autárquica. A questão, e este índice prova-o, é que não é preciso ser-se uma cidade grande, ou universitária, para estar no pelotão da frente. Basta a vontade política e a capacidade de observar o que vai sendo uma tendência mundial e capacidade para incutir este espírito na organização municipal. O autarca de Águeda assume que, dada a dimensão do concelho, há dificuldades em arranjar bons contratos com as empresas que desenvolvem soluções para algumas áreas, mas garante que nem isso é impeditivo, pois acaba por beneficiar as empresas da envolvente. Gil Nadais não será candidato em Águeda, mas vê neste índice um bom documento de trabalho para quem se pretende atirar a um cargo deste tipo, tantos são os exemplos de boas práticas por ali espalhados. Já Carlos Carreiras, que acumula as suas funções na Câmara de Cascais com as de coordenador autárquico do PSD, explica que estes temas estão incluídos no documento orientador do partido e têm sido abordados em diversas reuniões com candidatos autárquicos, sendo que cada um adaptará as propostas às necessidades do respectivo concelho. “O país é muito diverso e eu tenho muito respeito por esta diversidade”, acentua o autarca do PSD. É que, se Cascais pode gabar-se do impacto positivo das suas hortas urbanas, que Carreiras vê como espaços que recuperam uma sociabilidade que o espaço urbano foi destruindo, falar deste tema num concelho rural não fará sentido, assume. Por outro lado, nestes, todas as respostas que a tecnologia possa dar a problemas como o isolamento, e a perda de serviços públicos de proximidade acabam por ser essenciais, e isso começa a estar reflectido neste índice. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Do ponto de vista da classificação, os municípios que apresentam um maior desempenho ao nível da inteligência urbana são Porto, Águeda, Cascais, Bragança e Guimarães, seguidos de Matosinhos, Braga, Sintra, Aveiro e Santarém. Segundo este relatório, no grupo de municípios com menos de 50 mil habitantes destacam-se Águeda e Bragança, sendo que na amostra de municípios com uma população entre 50 e 100 mil habitantes Aveiro e Santarém assumem a liderança. Mas, lembra Catarina Selada, na verdade foram identificadas boas práticas em grande parte dos municípios analisados, independentemente da sua posição na tabela de resultados geral. E é nesse sentido, pela partilha de experiências, que este índice acaba por ser um documento de leitura para quem pretenda governar uma cidade. A segunda edição do índice de cidades inteligentes, que actualiza um primeiro, com vinte municípios, de 2012, foi construída com base em recolha de informação, estatísticas e nas respostas de 36 municípios a questões relacionadas, indicadores agregados em cinco dimensões: Governação, Inovação, Sustentabilidade, Qualidade de Vida e Conectividade. Os municípios envolvidos são, por ordem alfabética, Águeda, Albufeira, Amadora, Aveiro, Baião, Barreiro, Beja, Braga, Bragança, Cascais, Castelo Branco, Esposende, Faro, Guarda, Guimarães, Lagoa, Leiria, Loulé, Macedo de Cavaleiros, Maia, Matosinhos, Olhão, Portalegre, Portimão, Porto, Póvoa de Varzim, Santarém, Sintra, Torres Vedras, Trofa, Valongo, Viana do Castelo, Vila Nova de Famalicão, Vila Nova de Gaia, Vila Real, Viseu.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD
Sobe para três o número de mortos em despiste de carro em ribanceira em Penafiel
A mulher, de 48 anos, morreu durante a madrugada desta quarta-feira, e será a avó do bebé de dez meses que também faleceu no acidente. (...)

Sobe para três o número de mortos em despiste de carro em ribanceira em Penafiel
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: A mulher, de 48 anos, morreu durante a madrugada desta quarta-feira, e será a avó do bebé de dez meses que também faleceu no acidente.
TEXTO: Um dia depois de um bebé de dez meses e o avô terem morrido num despiste de um automóvel numa ribanceira em Canelas, no concelho de Penafiel, uma mulher, alegadamente a avó do bebé, morreu também na sequência do acidente. A mulher, de 48 anos, morreu na madrugada desta quarta-feira, pelas 2h, depois de não ter conseguido resistir aos ferimentos graves, segundo apurou o PÚBLICO. A mulher será, segundo o Correio da Manhã, a avó do bebé de dez meses que morreu nesta terça-feira após o carro onde seguia ter caído numa ribanceira em Penafiel. O acidente provocou também ferimentos ligeiros em duas mulheres, avançou na terça-feira fonte do Instituto Nacional de Emergência Médica à agência Lusa. A ocorrência foi registada às 11h46 na Estrada Nacional 108, em Canelas, concelho de Penafiel, no distrito do Porto. O automóvel, onde seguiam cinco pessoas, caiu numa ribanceira, a uma distância de cerca de 50 a 60 metros, e ficou preso junto a uma lagoa do rio Douro.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher mulheres
Bebé de dez meses e avô morrem após carro cair em ribanceira em Penafiel
No automóvel seguiam cinco pessoas. O acidente ocorreu na Estrada Nacional (EN) EN108, em Canelas, concelho de Penafiel. (...)

Bebé de dez meses e avô morrem após carro cair em ribanceira em Penafiel
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: No automóvel seguiam cinco pessoas. O acidente ocorreu na Estrada Nacional (EN) EN108, em Canelas, concelho de Penafiel.
TEXTO: O despiste de um automóvel nesta terça-feira em Canelas, freguesia de Penafiel, provocou três mortos, entre os quais um bebé de dez meses, indicou à agência Lusa fonte dos Bombeiros Voluntários de Entre-os-Rios. Pelas 13h50 de terça-feira, o segundo comandante dos Bombeiros Voluntários de Entre-os-Rios, José Filipe Jesus, confirmou à Lusa que o número de vítimas mortais teria subido para duas, estando entre elas um bebé de dez meses. Fonte do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) avançou também à Lusa que um homem de 59 anos e o bebé eram as “vítimas mortais” deste acidente. A mesma fonte acrescentou que o acidente provocou também ferimentos ligeiros em duas mulheres, de 20 e 40 anos, e graves numa outra ocupante, de 40 anos, que foi encaminhada ao Hospital do Vale do Sousa. Já na quarta-feira, o PÚBLICO apurou que uma mulher, de 48 anos, que será a avó do bebé, também faleceu depois de não ter conseguido resistir aos ferimentos. De acordo com o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) do Porto, “o acidente aconteceu com um carro em que seguiam cinco pessoas”. Inicialmente, fonte do CDOS do Porto adiantou ao PÚBLICO que havia dois mortos a registar, mas que o bebé de dez meses estaria entre os dois feridos em estado grave. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A ocorrência foi registada às 11h46 na Estrada Nacional 108, em Canelas, concelho de Penafiel, no distrito do Porto. O carro terá caído numa ribanceira, a uma distância de cerca de 50 a 60 metros, e ficado preso junto a uma lagoa do rio Douro. As vítimas foram socorridas por bombeiros das corporações de Paços de Sousa, Melres e Entre-os-Rios, bem como GNR, Instituto Nacional de Emergência Médica e Polícia Marítima.
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR
Estado já gastou 55% dos fundos da banca para travar défice de 2011
A medida que, em 2011, permitiu ao Governo cumprir as metas da troika para o défice, continua a pesar nas contas do Estado e custo pode superar as estimativas. Usando critérios mais actualizados, os bancos deveriam ter transferido pelo menos mais 1000 milhões para o Estado. (...)

Estado já gastou 55% dos fundos da banca para travar défice de 2011
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.1
DATA: 2018-10-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A medida que, em 2011, permitiu ao Governo cumprir as metas da troika para o défice, continua a pesar nas contas do Estado e custo pode superar as estimativas. Usando critérios mais actualizados, os bancos deveriam ter transferido pelo menos mais 1000 milhões para o Estado.
TEXTO: Passados menos de sete anos desde que, no final de 2011, foi aprovada a transferência para o Estado dos fundos de pensões da banca, mais de metade do valor então recebido já foi usado para pagar pensões, a um ritmo próximo de 500 milhões de euros ao ano. Estes números ilustram o risco que o Estado assumiu com uma operação que, à semelhança de outras realizadas ao longo dos anos, ajudou a cumprir as metas do défice no ano da transferência mas passou para o sector público responsabilidades que se podem vir a revelar maiores do que o antecipado. Foi em Dezembro de 2011 que os fundos de pensões de diversas instituições financeiras portuguesas foram parcialmente transferidos, numa altura em que Passos Coelho era primeiro-ministro, Vítor Gaspar ministro das Finanças, e Portugal tentava, com grandes dificuldades, cumprir as metas para as contas públicas acordadas com a troika sete meses antes. Com o acordo assinado com a banca, o Estado assumiu a responsabilidade de passar a pagar as pensões de 27 mil bancários já aposentados. Em troca, recebeu dos bancos 5971 milhões de euros. Foi esse valor que permitiu que o défice de 2011 declarado três meses depois a Bruxelas fosse de 4, 2%, cumprindo as metas da troika, em vez dos 7, 8% para os quais estava a caminhar. O problema para as finanças públicas foi que, a partir desse momento, o Estado passou a ser responsável - através de transferências regulares das Finanças para a Segurança Social – pelo pagamento das pensões aos bancários aposentados, o que tem vindo a ter um peso na despesa pública próximo de 500 milhões de euros ao ano. No primeiro ano, foram 516 milhões de euros. Em 2017, atingiram-se os 469 milhões de euros, mostram os números publicados na execução orçamental mensal da Segurança Social e recolhidos pelo PÚBLICO. No total, entre Janeiro de 2012 e Agosto de 2018, o Estado já pagou a estes pensionistas 3250 milhões de euros, o que significa que já se gastou 54, 6% da verba recebida no final de 2011 pelos bancos. Ao contrário de outros fundos também transferidos para o Estado, como os da CGD, PT ou CTT, por exemplo, no caso dos fundos da banca, o montante transferido não foi colocado numa reserva especial, que, sendo rentabilizada através de investimentos, servisse unicamente para pagar as pensões. Neste caso, os 5971 milhões de euros foram absorvidos pelo orçamento, sendo utilizados para diversos objectivos, acabando na prática por reduzir as necessidades de financiamento do Estado. A questão que se colocou no momento da transferência – e que agora continua a colocar-se – é se o montante transferido pelos bancos em 2011, mesmo levando em conta a poupança obtida pelo Estado por ter ficado com menos necessidades de financiamento, se virá a revelar suficiente para pagar todas as pensões que o Estado assumiu. “Se se gastou mais de metade do valor em menos de sete anos, então teríamos de estar perante uma esperança média de vida do universo dos pensionistas de pouco mais de 12 anos. Surpreender-me-ia muito se isso acontecesse”, afirma Jorge Bravo, professor da Universidade de Évora, especialista em questões relacionadas com o Sistema de Segurança Social. Na base do valor acordado entre o Executivo e a banca em 2011, estiveram dois critérios fundamentais. O primeiro tem a ver com a tabela de mortalidade usada, isto é, a que ritmo é que se está à espera que as pensões deixem de ter de ser pagas. Quanto maior a esperança de vida considerada, mais elevadas serão as responsabilidades a assumir e mais alto teria que ter sido o valor transferido pelos bancos para o Estado. Neste caso, foram utilizadas as tabelas de mortalidade “TV 73/77 menos um ano” para os homens e “TV 88/90” para as mulheres. Jorge Bravo assinala o facto de estas tabelas, em particular a “TV 73/77”, serem bastante antigas e poderem subavaliar a esperança de vida dos beneficiários. De acordo com os relatórios do Sector Segurador e dos Fundos de Pensões publicados anualmente, em 2011, cerca de 35% dos fundos de pensões em Portugal usavam, total ou parcialmente, ainda a tabela 73/77, mas a maioria já usava somente a 88/90, que é mais recente. Em 2016, a utilização da 73/77 baixou para cerca de 27%, ganhando ainda mais força a utilização da tabela 88/90. O outro factor decisivo para a definição do valor a transferir é a chamada taxa de juro de desconto, isto é, o rendimento potencial anual que se estima que o valor do fundo pode gerar. Quanto mais alta a taxa de desconto assumida, menor a transferência que teria de ser usada. Nas negociações, os bancos pretendiam inicialmente que a taxa de desconto adoptada fosse de 5, 5%, que era a praticada por vários bancos (e aceite pelos reguladores) para o cálculo da capitalização dos seus próprios fundos. Mas o Governo forçou a descida para 4%, facto que obrigou os bancos a transferirem mais 900 milhões de euros do que pretendiam. Os 4% eram, na altura, um valor que não destoava do que se praticava no mercado. Em 2011, a quase totalidade dos fundos usava uma taxa de desconto situada entre 4% e 5, 5%. No entanto, desde esse momento até agora, muita coisa mudou nesta matéria, com os fundos de pensões a revelarem muito maiores dificuldades em obter rendibilidades elevadas. Em 2016, de acordo com o último relatório do Sector Segurador e dos Fundos de Pensões, a grande maioria dos fundos já usa uma taxa entre 1, 5% e 2, 5%. Se, em vez dos 4% utilizados, se tivesse adoptado na altura uma taxa de desconto de 2%, mais adaptada à realidade actual, em vez dos 5971 milhões de euros, os bancos teriam que ter transferido um valor próximo dos 7000 milhões de euros, isto é, mais cerca de 1000 milhões de euros. “Se se tivesse usado no momento da transferência uma taxa de desconto semelhante à que agora se aplica, as responsabilidades estimadas seriam maiores e a transferência teria sido mais elevada”, afirma Miguel Coelho, professor na Universidade Lusíada e especialista em temas relacionados com a Segurança Social. Embora salientando que os critérios utilizados “estavam em linha com os usados na altura pela banca e em linha com aquilo que era exigido pela supervisão”, o economista assinala que “os critérios adoptados correspondiam ao mínimo exigido uma vez que a adopção de critérios mais conservadores obrigaria a reforço dos fundos de pensões por parte dos bancos com efeitos negativos sobre os rácios de capital”. “Recorde-se as dificuldades de capitalização que os bancos tiveram nessa data”, afirma. No momento da negociação, no final de 2011, o Governo, com a troika acabada de chegar ao país, procurava reduzir o défice público desse ano e reduzir as suas necessidades de financiamento, mas tinha também a noção que estava com uma banca cada vez mais fragilizada, que poderia, como se veio a confirmar de forma dramática nos anos seguintes, vir a exigir intervenções muito dispendiosas por parte do Estado. Ainda assim, defende Jorge Bravo, o Estado deveria ter adoptado princípios de maior prudência, não só com uma taxa de desconto mais próxima do crescimento potencial do PIB português, mas também prevendo no contrato que as entidades antes detentoras do fundo seriam responsáveis por desvios significativos face ao cenário base. “O risco foi integralmente transferido para o Estado”, lamenta. O mesmo tipo de passagem de risco aconteceu com a transferência dos fundos de pensões de várias empresas públicas (algumas entretanto privatizadas) realizada ao longo dos últimos 15 anos pelos mais variados governos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por isso, defende Jorge Bravo, “a situação merecia que se fizesse agora uma nova avaliação actuarial independente, se não promovida pelo Governo, pelo menos por entidades como o Tribunal de Contas ou o Conselho das Finanças Públicas”. O PÚBLICO questionou o actual Governo sobre quais as estimativas actualizadas para as despesas futuras com os pensionistas da banca, mas não obteve qualquer resposta a esta questão em tempo útil. Estreia com o BNU A estreia na utilização dos fundos de pensões como forma de melhorar os resultados orçamentais do ano aconteceu logo em 1997, quando Portugal se preocupava em confirmar a entrada no euro, e o ministro Sousa Franco procedeu, durante o Governo liderado por António Guterres, à transferência do fundo do Banco Nacional Ultramarino. CTT ajudam a salvar o défice Em 2003, com Manuela Ferreira Leite nas Finanças, o Governo de Durão Barroso tenta, no meio de uma recessão, que Portugal cumpra a regra dos 3%. Para além de uma titularização de dívidas, transfere o fundo de pensões dos CTT para a CGA. O Eurostat aceita a contabilização da operação para o cálculo do défice. Mesma receita um ano depois Em 2004, já com Santana Lopes à frente do Governo e Bagão Félix à frente das Finanças, Portugal chega outra vez ao final do ano a precisar de receitas extraordinárias. Os fundos de pensões de empresas públicas são a solução, sendo transferidos de uma só vez os fundos da Casa da Moeda, da ANA, da NAV e da CGD. Esta última é, de longe a que gera uma maior receita, próxima dos 2500 milhões de euros. A PT antes da troika No final de 2010, novamente com as finanças públicas em crise aguda e Portugal pressionado, não só por Bruxelas, mas desta vez também pelos mercados, o Governo liderado por José Sócrates, com Teixeira Santos como ministro das Finanças, procede à transferência de outro fundo de pensões de grandes dimensões, o da Portugal Telecom. São 2418 milhões de euros que abatem no défice e diminuem as necessidades de financiamento do Estado numa altura em que os mercados se fechavam ao país. A vez da banca privada Em 2011, já com a troika instalada no país, o Governo vê nos fundos de pensões da banca um problema e uma oportunidade. O problema era dos bancos, já que os fundos estavam a forçá-los sucessivamente a injectar capital, um cenário que até poderia piorar nos anos seguintes. E a oportunidade era a de conseguir encontrar para o Estado uma entrada imediata de quase 6000 milhões de euros, numa altura em que as únicas entidades que emprestavam dinheiro ao país eram os parceiros europeus e o FMI. O negócio serviu também para colocar o défice dentro do que eram as exigências da troika.
REFERÊNCIAS: