O inúmero povo dos mortos de Alberto Giacometti
Mais do que um dos grandes artistas do século XX, foi — é — uma das presenças mais importantes em toda a história da escultura ocidental. A enorme retrospectiva que a Tate Modern lhe dedica até 10 de Setembro evidencia aquilo que nunca deixou de procurar: a verdade do rosto e do movimento. (...)

O inúmero povo dos mortos de Alberto Giacometti
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.1
DATA: 2017-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mais do que um dos grandes artistas do século XX, foi — é — uma das presenças mais importantes em toda a história da escultura ocidental. A enorme retrospectiva que a Tate Modern lhe dedica até 10 de Setembro evidencia aquilo que nunca deixou de procurar: a verdade do rosto e do movimento.
TEXTO: Alberto Giacometti (1901-1966) é um dos grandes artistas do século XX. Esta afirmação, ainda que consensual, carece de um esclarecimento e de uma correcção. É que, por um lado, a sua grandeza não vem da maneira como circulou em feiras ou bienais, nem dos valores extraordinários que as suas obras atingiram nas famosas casas leiloeiras; e, por outro, se o século XX é o da sua biografia, e o dos rostos que trouxe ao mundo, o seu verdadeiro tempo é o tempo do mundo e de toda a arte. Ou seja, Giacometti é uma das presenças mais importantes em toda a história da escultura ocidental – e isso é uma das primeiras coisas que se percebem na enorme retrospectiva que Tate Modern, em Londres, dedica ao escultor suíço até 10 de Setembro. Giacometti é uma das maiores retrospectivas de sempre dedicadas ao artista. Cruzando períodos muito diferentes, é uma exposição que torna explícito o facto de estarmos perante uma obra em permanente processo de experimentação e de descoberta. Ao longo das mais de 250 obras que aqui se reúnem, realizadas entre 1917 e 1965, é notória não só a inquietação — a que o próprio chama febre — presente a cada momento, mas também o modo como Giacometti foi procurando através de novas formas, de novos modelos e de novos materiais, a verdade do rosto, do movimento e da escultura. Como escreveu numa das suas notas: "Interesso-me muito pela arte, mas instintivamente interessa-me mais a verdade […]. Quanto mais trabalho, tanto mais a minha visão se torna diferente. ”Foi justamente esse desejo de encontrar novas formas de ver que levou Giacometti a procurar em diferentes movimentos artísticos seus contemporâneos princípios a partir dos quais desenvolver o seu trabalho. Mas, e apesar da sua proximidade a certos artistas e a certas escolas, cada uma das suas obras é singular na maneira como afirma a sua especificidade e constitui um território de diferença. Estas características fizeram com que, em 1936, quando confrontado com a necessidade de ter de escolher entre incluir as obras de Giacometti numa exposição dedicada ao cubismo e ao abstraccionismo ou noutra exposição simultânea sobre o movimento Dada e surrealista, Alfred Barr, então director do MoMA, em Nova Iorque, tivesse optado por dividi-las pelas duas exposições. Não é de facto possível, com total certeza, localizar o trabalho do artista num ou noutro campo. Aquela indecisão revela o modo como as suas esculturas, os seus desenhos e as suas pinturas constroem um lugar que, apesar de estabelecer diálogos com o seu tempo e as questões formais, conceptuais e políticas centrais que o caracterizaram, constitui, sobretudo, um caminho único por entre as diferentes expressões do modernismo europeu. Caminho este que culminará num forte interesse pelas questões do existencialismo tão intensas no pós-guerra. E será esse clima de desespero existencialista, de que a proximidade com Sarte e Simone de Beauvoir é um sintoma, que mais fortemente dará às suas obras o carácter de uma antropologia artística. É uma afirmação, esta de que a obra de Alberto Giacometti constitui uma espécie de antropologia artística, a fazer com algumas precauções, e forçando os limites disciplinares. Mas é uma afirmação que se funda no facto de o verdadeiro desígnio de Giacometti — testemunhado em cada uma das suas obras e nas suas palavras escritas e ditas — nunca ter sido a construção e a articulação de um sistema artístico, antes o de ver realisticamente um rosto, através do domínio da matéria e do gesto. Trata-se, como esta retrospectiva reitera, de um artista guiado pela ambição de fazer passar para o objecto escultórico a capacidade de ver um rosto humano a partir de dentro. Na primeira sala da exposição, é essa ambição que fica testemunhada: um conjunto de cerca de 50 esculturas de cabeças que acompanham todo o período em que Giacometti esteve artisticamente activo mostra como, insatisfeito com a pedra, o gesso, o bronze, o artista foi alterando o seu modo de fazer e pensar à procura de uma maneira mais exacta de fixar numa escultura o objecto da sua visão. Jean Genet, poeta francês e amigo muito próximo do escultor, diz que em Giacometti é o bronze que ganha: trata-se, escreve ele no seu O estúdio de Alberto Giacometti, de uma vitória do bronze sobre o bronze. E é um triunfo do bronze e sobre o bronze porque às mãos do escultor aquele material ganha uma vida desconhecida até àquele momento: nunca o bronze teve tanto movimento e tanto corpo como nas esculturas de Giacometti. E as obras reunidas pela Tate mostram como o artista foi conquistando o bronze e conseguindo imprimir-lhe uma intenção e uma relação entre peso e leveza que tão bem caracterizam a presença humana sobre a Terra. Se o bronze é uma das matérias de eleição do artista, o corpo, o rosto e o movimento humano são, em rigor, os seus únicos temas. Trata-se de uma atenção — que se constitui como inquietação filosófica e artística — à singularidade de cada ser. Investigando como cada rosto é igual a todos os outros e, simultaneamente, se distingue de todos os outros. De resto, é muito interessante ver os seus retratos (pintados e esculpidos) em conjunto: surgem diferentes modelos que o artista tentou retratar, diferentes matérias, mas ao mesmo tempo parece que é sempre um e o mesmo rosto, não porque o artista reduza as diferenças existentes entre cada um, mas porque há um comum a unir todos os diferentes seres que Giacometti enfrenta. Os seus modelos podem ser uma prostituta, a sua mulher Anette, o irmão Diego, o poeta Genet, ou outros quaisquer, mas à sua mão todos eles são e não são o mesmo rosto: dizem-se a si mesmos, na sua irredutível diferença, mas ao mesmo tempo constituem uma comunidade. Numa das suas conversas com Genet, Giacometti afirmou: "Quando vou pela rua fora e distingo ao longe uma pêga vestida, só vejo nela uma pêga. Assim que entramos no quarto e ela se põe nua à minha frente, vejo uma deusa. " Estas palavras revelam que Giacometti não procurava em cada modelo a sua especificidade histórica. Interessava-lhe, pelo contrário, sublinhar que quando desse rosto se vê o essencial não só essa figura se diz a si mesma na sua irredutível singularidade como se transforma numa figura universal, na qual todos nos reconhecemos. Num certo sentido, a esta operação escultórica corresponde um certo procedimento negativo: anulando tudo o resto, o artista procura encontrar aquele elemento mínimo que permite, no limite, reconhecer um rosto humano. Um mínimo de matéria para uma expressão intensa de vida. Abolir ao máximo a matéria, tentando chegar àquele ponto de equilíbrio entre a possibilidade de reconhecimento de um corpo e a sua dissolução no sem figura, no sem nome, no sem corpo. Trata-se de uma conquista à matéria e à forma que se traduz no reconhecimento da fragilidade do corpo e da vida e que esteve na origem de esculturas que oscilam entre uma grande escala — mulheres e homens com mais de três metros de altura — e a dimensão milimétrica e quase invisível de figuras aparentemente captadas no último momento antes do seu desvanescimento. Ao contrário de um pensamento movido pela ambição de encontrar a essência, estamos perante o reconhecimento da nossa fragilidade constitutiva e da solidão que caracteriza cada ser. E que, aqui, não são categorias existenciais, mas princípios artísticos. Em termos escultóricos, esta ideia de solidão implica subtrair cada rosto ao mundo, ao tempo e à história: era esse o acontecimento que se dava quando Giacometti, no seu atelier ou no quarto de uma pensão, observava longamente os seus modelos. Ao libertá-los dessas dimensões de contingência, impedia a sua diluição num conjunto de atributos que lhes fossem estranhos. Por isso, a relação de Giacometti com os seus modelos era uma relação de conhecimento; a sua ambição foi traduzir esse conhecimento no traço da pintura ou no bronze da escultura. Embora o conjunto de obras reunidas na Tate mostre o predomínio do rosto como tema recorrente, também mostra que essa presença arquetípica não corresponde a uma escolha, é uma febre artística. Escreveu Giacometti: "Não me importo se nas minhas exposições surgem sucessos ou fracassos… Não tenho quaisquer exigências, meramente quero fazer febrilmente. " Giacometti é sobre esta febre. E se isolar cada rosto e cada corpo é uma consequência desta vontade de conhecer cada individuo, cada figura, cada forma, o movimento é outra das características mais marcantes da sua obra. Poderiam dar-se muitos exemplos, mas a sua Figura a andar (Figure em marche, 1947) constitui um dos maiores: imbuída dos poderes do instantâneo fotográfico, esta escultura de um homem a andar consegue captar esse movimento imediato. Ao aspecto estático dos seus rostos esculpidos em pedra ou fundidos em bronze, Giacometti acrescenta o movimento que contraria a inultrapassável rigidez dos objectos escultóricos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "Nunca, nunca, a obra de arte se destina às novas gerações. Ela é oferenda ao inúmero povo dos mortos. Que a acolhem. Ou rejeitam. Mas os mortos de que falo nem vivos foram. Ou então esqueci-os […]. Embora presentes, onde pertencem essas figuras de Giacometti que eu cito, senão à morte?"Esta descrição das obras de Giacometti feita por Genet, depois de ter passado muitas horas no estúdio do artista a vê-lo trabalhar, é das melhores apresentações do seu trabalho. O carácter enigmático da passagem emerge da observação justa e rigorosa de um corpo de trabalho que nos surge como um elaborado processo de retirada das figuras e das coisas do mundo que partilhamos e habitamos, promovendo a sua passagem para o mundo das sombras. Que as suas esculturas não encontrem nos vivos do seu tempo os seus destinatários, mas que, pelo contrário, se constituam como oferenda ao inúmero povo dos mortos põe Giacometti sob o signo da inactualidade. Esse foi, aliás, um estado permanente do artista, expresso tanto nas suas preferências pelo ideal comunista de sociedade tão a contrapêlo do espírito do seu tempo, quer no modo como repudiou todas as convenções artísticas correntes; mas trata-se também de uma inactualidade metafísica, porque os corpos das suas esculturas parecem desejar a dissolução de si mesmos. Pode pensar-se numa espécie de transcendência conquistada através da mão do artista: são impressionantes as imagens mostradas nesta exposição do modo como as mãos de Giacometti, quando tomadas pela intenção de dar forma ao gesso dos moldes dos seus bronzes, se transformam em veículo primordial de ligação à Terra e, ao mesmo tempo, constituem uma forma de a transcender.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens guerra campo mulher homem comunidade espécie mulheres corpo prostituta
O tempo passou depressa pelo Fórum do Futuro
Na última semana houve salas esgotadas para ouvir a escritora Margaret Atwood ou o arquitecto Toyo Ito, interrogando o nosso mundo hoje, a partir de elementos da Antiguidade clássica. O Fórum do Futuro, no Porto, termina este sábado. (...)

O tempo passou depressa pelo Fórum do Futuro
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.166
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na última semana houve salas esgotadas para ouvir a escritora Margaret Atwood ou o arquitecto Toyo Ito, interrogando o nosso mundo hoje, a partir de elementos da Antiguidade clássica. O Fórum do Futuro, no Porto, termina este sábado.
TEXTO: Aconteceu em quase todas as sessões. Às tantas, o apresentador ou moderador, encarregado de contextualizar a vida e obra do convidado, declarava que o mesmo “dispensava apresentações”, como se afinal esvaziasse a sua utilidade ali, provocando sorrisos. Mas o sentimento geral foi esse. Os palestrantes eram de nomeada. E o público era conhecedor. Tem sido assim desde domingo, dia em que se iniciou o Fórum do Futuro, no Porto, com salas esgotadas, assistências atentas e participativas, gerando um ambiente tranquilo e ao mesmo tempo entusiasta, em torno de inúmeras palestras e performances protagonizadas por agentes de várias partes do mundo, de diferentes disciplinas, entre pensadores, artistas ou cientistas, que responderam ao desafio de pensar como a Antiguidade se manifesta nas ideias, na cultura e na arte dos nossos dias. “Estamos muito satisfeitos pelo nível da participação do público, com muitas sessões totalmente repletas, e pelo espaço de encontro e de troca de ideias em que o programa se transformou”, afirma em jeito de balanço o director e curador da iniciativa, Guilherme Blanc, destacando que as palestras ao final da tarde – uma novidade este ano – se revelaram um êxito, “sendo direccionadas para um público mais jovem, muitos deles estudantes de artes e não só, ou para artistas”, enquanto as sessões nocturnas tocaram um público mais transversal e menos especializado. O acontecimento termina este sábado, numa sessão a ter início pelas 21h30 no grande auditório do Rivoli, organizada em três actos em torno do tema das “ruínas” e da reconstrução da história, do Ocidente ao Oriente. É o ensaísta e romancista indiano Pankaj Mishra, autor de Tempo de Raiva – Uma História do Presente (Temas e Debates), que está guardado para o final, com moderação do escritor e produtor de cinema inglês Gareth Evans, reflectindo sobre a necessidade de rever a nossa compreensão do mundo e reexaminar as narrativas que lhe estão subjacentes, dado que a história do Ocidente, fundada na Antiguidade Clássica, tem esquecido os arquétipos de outras sociedades ou civilizações. Será um momento questionador que aglutinará alguns eixos principais que têm estado em debate. Por um lado constatar que em alturas de crise ou de impasse – seja do ponto de vista sociopolítico ou cultural – o Ocidente tende a regressar às suas estruturas basilares, ao que é perene, ao que lhe atribui sentido desde sempre. A Antiguidade sempre esteve viva. Mas dir-se-ia que em alturas de desagregação essa consciência torna-se nítida. No Porto existiram inúmeras demonstrações disso mesmo. Na quinta-feira ao final da tarde, no pequeno auditório do Rivoli, a dupla americana Mary Reid Kelley e Patrick Kelley tratou de expor que a sua prática artística profundamente contemporânea (filmes que cruzam o vídeo, poesia, pintura e performance) é afinal balizada por representações clássicas, como Dioniso, símbolo de caos e loucura, um facto constatável quando exibiram um divertido filme que recria o tema do Minotauro. O mesmo se poderia dizer da obra da escritora canadiana Margaret Atwood, recebida de forma entusiástica na noite de quinta-feira, no grande auditório do Rivoli, mostrando que é uma excelente comunicadora, discorrendo sobre a sua vida e obra – cerca de 60 livros de ficção, poesia e ensaio, muitos prémios e adaptações para TV – a partir de ilustrações suas, projectadas no ecrã, onde ficou patente o papel dos mitos, lendas e contos de fadas na sua obra e na leitura do mundo actual. Mas o Fórum não quis apenas mostrar como a Antiguidade Clássica se manifesta hoje. Quis também olhar para o cânone ocidental, enquanto modelo de construção do mundo, de forma crítica. Não por simples reavaliação do passado, mas porque é cada vez mais nítido que uma Europa em crise, ou um pensamento Ocidental desgastado, só se enriquecerá aceitando entendimentos e experiências socioculturais diferentes da sua, tendo em vista a construção de outros itinerários. Já se percebeu. O passado, a memória, só interessaram por estes dias, no Porto, numa perspectiva de futuro. Na quinta-feira, no auditório de Serralves, um dos artistas franceses mais conhecidos dos nossos dias, Christian Boltanski, começava a sua comunicação dizendo que iria falar do passado, o que era estranho porque o mote ali era o futuro. Na verdade, como pouco antes enunciara o curador Ricardo Nicolau, na obra de Boltanski são uma e a mesma coisa. Nos seus trabalhos – fotografia, pintura, escultura ou instalação – interroga-se as narrativas históricas, o que deixam de fora ou a sua verdade, numa lógica onde o passado (a experiência), o presente (a acção), e o futuro (a expectativa), não se sucedem apenas diacronicamente, mas também sincronicamente. “Vi uma exposição dele em Guimarães, em 2012, onde usava roupas que circulavam pelo espaço, quase como se fosse uma coreografia, e desde aí fui conhecendo a sua obra e ficando cada vez mais curioso”, diz-nos Ricardo Rosário, designer, presente na sessão de Serralves, “e vê-lo aqui a falar sobre estas questões, a morte, a vida, a memória, a maneira como ele nos faz participar em histórias reais, é uma oportunidade única. ”Se na Antiguidade a possibilidade de transmitir, através da escrita, uma memória para o futuro, transformou a noção de tempo, o mesmo parece estar a acontecer agora com a Internet. Em vez de uma história com um percurso preciso e contínuo, temos regressos, descontinuidades, recuperações e convivências. Tudo muito rápido. E no entanto será que as nossas visões sobre o amor e o erotismo se terão transformado assim tanto desde que Platão escreveu O Banquete? Isso mesmo espelharam a escritora inglesa Marina Warner e a espanhola Beatriz Colomina, desenhando um longo percurso desde a Grécia clássica às redes sociais. Conclusões? “Fiquei com a ideia que o discurso romantizado sobre o amor não mudou assim tanto quando julgamos”, ri-se no final da sessão, Mafalda Florival, 34 anos, arquitecta, “mas fiquei a pensar quando uma das comunicadoras disse que durante séculos as representações femininas foram dominadas pelo olhar masculino. Ou seja, as mulheres não produziam as suas próprias imagens, limitavam-se a ser retratadas, e que agora, em parte por causa das redes sociais as mulheres passaram a auto-representar-se. Nunca tinha pensado nisso, pelo menos dessa forma. ”Fazer pensar. Eis um dos desafios do Fórum. Claro que haverá sempre quem vá à procura de confirmações. Mas existe também quem deseje o espanto. Ser atordoado. É difícil não o ser pelo artista plástico libanês Walid Raad, nome que se confunde com o de Atlas Group, que começa por falar da escola de artes (Cooper Union School of Art) em Nova Iorque, onde lecciona, para interrogar o neoliberalismo actual e terminar por questionar a relação entre Ocidente e Oriente a partir das artes. Pelo meio fala do seu trabalho artístico mais reconhecível, a ressuscitação da guerra civil no Líbano através de fotografias, vídeo ou textos, sempre na tensão entre a realidade e a ficção, focando-se nos acontecimentos traumáticos – que provocam uma cisão ou um corte, mas através dos quais se está sempre a voltar através da memória. O tempo, outra vez. “O trauma diz-nos que temos de abandonar uma noção cronológica do tempo”, dirá às tantas. “O passado já foi ou estamos a vivê-lo agora?”O libanês é um excelente comunicador. A sua apresentação tem algo de performativo. Traduz complexidade com eficácia. Horas antes, na quarta-feira, o arquitecto japonês Toyo Ito, vencedor do Pritzker em 2013, havia tido uma experiência muito diversa. O Rivoli lotou para o ouvir, mas o facto de se expressar em japonês – com tradução simultânea, nem sempre feliz, para português, através dos auriculares – não facilitou a mensagem. Durante o dia havia visitado Siza Vieira e também a Casa da Música. Ali focou-se em passar a ideia de que os novos espaços públicos devem recuperar a ligação entre seres humanos e natureza, mostrando-se ao mesmo tempo preocupado pela evolução urbana de Tóquio, que irá acolher os jogos olímpicos de 2020. “A cidade está a transformar-se numa enorme grelha de arranha-céus indiferenciados”, afirmou, discorrendo sobre a responsabilidade social da arquitectura, patente num dos seus projectos mais conhecido, Home for All, que serviu milhares de desalojados em consequência do terramoto de 2011. Em simultâneo mostrou edifícios públicos que tem vindo a desenhar e que recuperam elementos clássicos, tentativa de nos reaproximar de contextos naturais. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para os muitos estudantes de arquitectura que o foram ver, Toyo Ito é uma celebridade, algo constatável pelos muitos pedidos de fotografia que aconteceram no final. Mas a estrela maior dos últimos dias do Fórum foi Margaret Atwood, quase 79 anos, autora de A História de Uma Serva (Bertrand), no original The Handmaid’s Tale, o livro de universo distópico de 1985 convertido em série de TV em 2017, como se traduzisse o autoritarismo ou a misoginia da América pós-Trump ou do Brasil de Bolsonaro. Minutos antes, jantando entre os participantes do evento, era apenas alguém a partilhar as suas impressões sobre o Porto e as viagens que vai realizando pelo mundo. Ali, em palco, é a mesma pessoa e simultaneamente outra. Tem consciência do efeito que produz. É divertida, provocadora por vezes, quase sempre pertinente. Fala da sua infância – “queria ser pintora”, diz, ao mesmo tempo que mostra as suas ilustrações. Recorda os pais – a mãe, emancipada, longe de qualquer papel feminino subjugado, e o pai, um aventureiro – ou o irmão mais velho, que lhe contava histórias e desenhava heróis mitológicos, criando-lhe o gosto pela ilustração e pelas mitologias, que nunca mais largou, e que ainda hoje diz serem a base da sua actividade como escritora “muito visual”. Na adolescência adveio o gosto por clássicos, como a Ilíada e Odisseia, e pela ficção científica. A partir daí nunca mais teve dúvidas de que queria escrever livros, “mas com uma narradora feminina, porque todos os que lia eram narrados por homens”, diz, acrescentando que independentemente do contexto, “só se escreve sobre o nosso tempo”. Margaret Atwood tem razão segundo a noção de tempo cronológico. Pode-se imaginar séculos passados, mas não estamos lá, e também não sabemos o que vai ser o futuro. Mas o tempo, como as conferências não deixaram de evidenciar, pode ser múltiplo, dinâmico e heterogéneo. Não há esquemas únicos. Nesse sentido podem-se projectar novas formas de viver o tempo que temos para viver. Também por isso, pela relevância das matérias de reflexão que vai propondo, cinco anos depois, o Fórum do Futuro revela-se aposta ganha, dispensando apresentações.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens guerra escola humanos cultura social mulheres japonês feminina
Clara Não vai ali (expor em Lisboa) e já vem
Chamou-lhe Vou Ali e Já Venho "porque é isso mesmo" — a artista do Porto vai inaugurar a primeira exposição a solo em Lisboa e já vem. Espera-se um "mini festival de negação", para ver entre 25 a 27 de Outubro, no Art Room. (...)

Clara Não vai ali (expor em Lisboa) e já vem
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Chamou-lhe Vou Ali e Já Venho "porque é isso mesmo" — a artista do Porto vai inaugurar a primeira exposição a solo em Lisboa e já vem. Espera-se um "mini festival de negação", para ver entre 25 a 27 de Outubro, no Art Room.
TEXTO: Bate tudo certo: a inauguração da exposição Vou Ali e Já Venho termina às 21h, na Art Room, e a partir daí Clara Não terá meia hora para chegar a tempo da conversa na associação cultural Appleton, às 21h30. O percurso entre os dois eventos — não relacionados — já está marcado no Google Maps, brinca. Pode arrancar o “mini festival de negação” da artista portuense em Lisboa, de 25 a 27 de Outubro. Na exposição a solo na galeria Art Room, no Príncipe Real, espera-se uma “espécie de open studio do cérebro” da ilustradora — calma, numa versão “poética e não neurológica”. “Vou juntar os meus sentimentos todos e tirar um por um”, promete. “É agora que vamos descobrir que a Clara Não também é fofa?”, perguntaram-lhe. Ela espantou-se: “ Uma pessoa só porque é activista não quer dizer que não seja carinhosa”, ri-se. Para o provar, além das ilustrações “irreverentes onde reivindica a igualdade” e ironiza quem não contribui para ela — esta é para vocês, defensores do “pêlo mas só em algumas partes do corpo” — a artista vai expor e vender bordados, um “lado mais desconhecido do seu trabalho”. Vai ser ainda possível conhecer colagens com texturas, zines, desenhos feitos em tinta-da-china e os esboços originais que serviram de ponto de partida para prints bem conhecidos (e muito partilhados nas redes sociais). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Clara Silva, 24 anos, que pôs no nome artístico “o direito a dizer Não”, vai estar por lá durante os três dias da exibição, tanto a bordar como a fazer uma performance escrita. Num papel do tamanho de uma parede, vai escrever o manifesto para mulheres artistas independentes que criou, usando as duas mãos ao mesmo tempo para redigir em espelho vertical, espelho horizontal e a 180º. O resultado — que se tornou possível depois de vários meses a aprender a escrever também com a mão esquerda — vai estar à venda. Chamou à exposição Vou Ali e Já Venho porque gosta da "impertinência" da expressão, mas também porque resume exactamente o que vai fazer. "Vou ali a Lisboa e já venho. " Tal como depois, a 10 de Novembro, vai a Guimarães, expor na Área 55. O tema ainda está entre "O que é que ando a fazer?" e "Tenho comichões". Nas palavras da artista (que agora estão gravadas também num tote bag): “A verdade libertar-te-á, mas primeiro vai dar-te aquelas comichões bué irritantes. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave igualdade espécie mulheres corpo
João Ribas é o novo director do Museu de Serralves
Nome foi escolhido através de concurso internacional. Ribas chegou a Serralves há quatro anos pela mão da anterior directora, Suzanne Cotter. (...)

João Ribas é o novo director do Museu de Serralves
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-07-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nome foi escolhido através de concurso internacional. Ribas chegou a Serralves há quatro anos pela mão da anterior directora, Suzanne Cotter.
TEXTO: João Ribas, actual director adjunto do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, será o próximo director da instituição, substituindo Suzanne Cotter, que esteve cinco anos no cargo, anunciou esta quinta-feira a administração da Fundação de Serralves numa conferência de imprensa. O seu nome foi escolhido por unanimidade, na sequência de um concurso internacional, por um júri que incluiu a presidente e dois vice-presidentes de Serralves, respectivamente Ana Pinho, Isabel Pires de Lima e Manuel Ferreira da Silva, e ainda Vicente Todolí, o primeiro director do museu, hoje director artístico do Pirelli HangarBicocca, em Milão, Laurent Le Bon, presidente do Musée National Picasso, em Paris, e Jochen Volz, director da Pinacoteca de São Paulo. Salientando o “muito relevante percurso internacional” do novo director, Ana Pinho acrescentou que Ribas tem “a enorme vantagem de conhecer bem Serralves”. Num concurso que a presidente da fundação descreveu como “muito concorrido”, Ribas terá sido, segundo disse ao PÚBLICO um membro do júri, o único candidato português. E entre os que chegaram à fase final, cujo número e identidade não foram divulgados, Ribas, assegurou Ana Pinho, “destacou-se completamente, em especial pela sua entusiasmante, estruturada e fresca visão da programação artística e do que deve ser Serralves”. Numa breve sessão de perguntas, o novo director não adiantou nada de muito concreto que permitisse perceber melhor os contornos dessa visão que conquistou o júri, mas insistiu na ideia de que o museu deve “reflectir sobre as grandes questões da sociedade” que integra, realçou o compromisso de Serralves com a dimensão pública e cidadã da cultura, mostrou-se empenhado em “consolidar a projecção internacional dos artistas portugueses” e em reforçar a posição de Serralves como “pólo de referência internacional da arte contemporânea”, ao mesmo tempo que se propõe “abrir novos horizontes” e explorar “novas ideias”. Se Ribas vai poder contar, num futuro mais ou menos próximo, com o auxílio de um director adjunto é, segundo a administração, uma questão em aberto e que ainda não foi discutida. A escolha do novo director veio confirmar a notícia avançada pelo PÚBLICO na sexta-feira de que o nome de João Ribas era o mais referido para o cargo. Aos 38 anos, o curador torna-se assim o quarto director do Museu de Serralves, um dos mais prestigiados museus nacionais, e que deverá celebrar no próximo ano o seu 20. º aniversário com uma programação que é vista como um desafio acrescido para a nova direcção. Escolhido na sequência da saída de Cotter, anunciada em Setembro (após esta ter recebido um convite “irrecusável” para dirigir o Musée d’Art Moderne Grand-Duc Jean, no Luxemburgo), Ribas terá agora não apenas o encargo das comemorações ligadas ao aniversário, mas caber-lhe-á ainda acompanhar o projecto de instalação e dinamização da colecção Joan Miró e a abertura da Casa de Cinema Manoel de Oliveira. Cotter, com dupla nacionalidade britânica e australiana, foi anunciada como directora de Serralves em Outubro de 2012, substituindo no cargo o português João Fernandes, então convidado para subdirector do Museu Nacional Rainha Sofia, em Madrid. Quando foi inaugurado em 1999, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves escolheu para seu director o espanhol Vicente Todolí, que saiu do Porto para dirigir a Tate Modern, em Londres, considerada uma das mais influentes instituições culturais do mundo. A escolha de Ribas está, portanto, dentro de uma das tradições desta instituição portuense – uma fundação privada que recebe fundos públicos –, tendo o júri seguido os passos que levaram à escolha do português João Fernandes em 2003. Tal como Ribas, Fernandes era director adjunto quando se tornou o principal responsável pelo museu em 2003 e tinha a idade do novo director, que nasceu em Braga em 1979. João Ribas chegou a Serralves há quatro anos, pela mão de Suzanne Cotter. Na altura, a então directora justificou a escolha de Ribas para ocupar o cargo de director adjunto dizendo tratar-se de “um curador distinguido internacionalmente pela originalidade das suas exposições e pelo seu profundo compromisso com os artistas e o pensamento”. O próprio defendeu ser um globalista, quando chegou a Serralves, para usar um termo que se tornou moda com a presidência de Trump. Antes de Serralves, Ribas trabalhou nos Estados Unidos, onde viveu 26 anos, tendo sido curador do Drawing Center, em Nova Iorque, entre 2007 e 2009, e do MIT List Arts Center, o centro de artes visuais do famoso Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Cambridge, na área metropolitana de Boston, de 2009 a 2013. Vencedor, em quatro edições consecutivas (de 2008 a 2011), do prémio atribuído à melhor exposição pela Associação Internacional de Críticos de Arte, venceu ainda em 2010 o prémio Emily Hall Tremaine Exhibition pela exposição Man in the Holocene, apresentada no MIT List Arts Center. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Entre os artistas de quem comissariou exposições nos Estados Unidos contam-se nomes como Chris Marker, Frances Stark, Nairy Baghramian, Frederick Kiesler, Amália Pica, Joachim Koester, Akram Zaatari, Gabriel Arantes, Matt Mullican, Alan Saret, Stan Vanderbeek, Otto Piene, Emily Wardill, Rirkrit Tiravanija ou Ree Morton. Já em Serralves, sob a direcção de Cotter, comissariou Sob as Nuvens: da Paranóia ao Sublime Digital, em 2015, e mais recentemente, com Jochen Volz, Incerteza Viva: Uma Exposição a Partir da 32ª Bienal de São Paulo, que encerrará em Fevereiro próximo, tendo ainda organizado exposições de artistas como Helena Almeida, Michael Kreber, Gordon Matta-Clark, Salomé Lamas, Rachel Rose, Nick Mauss, Harry Smith ou Silvestre Pestana. O seu percurso começou na crítica de arte, tendo textos publicados em publicações como The New York Sun, Artforum, Mousse, Afterall, The Exhibitionist, Spike, Art News ou Art in America.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura rainha
Já há imagens daquela que foi a mais icónica rivalidade de Hollywood
Feud é a nova criação de Ryan Murphy e reconstrói a turbulenta relação entre Bette Davis e Joan Crawford. Novas imagens mostram Susan Sarandon e Jessica Lange nos respectivos papéis principais. (...)

Já há imagens daquela que foi a mais icónica rivalidade de Hollywood
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2017-05-23 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170523080248/https://www.publico.pt/n1759388
SUMÁRIO: Feud é a nova criação de Ryan Murphy e reconstrói a turbulenta relação entre Bette Davis e Joan Crawford. Novas imagens mostram Susan Sarandon e Jessica Lange nos respectivos papéis principais.
TEXTO: No início da década de 1960, Bette Davis e Joan Crawford tinham mais em comum do que o que poderiam imaginar face às suas diferenças irreconciliáveis. As duas actrizes, que se tornaram um símbolo da Hollywood dos anos 1930 e 1940, batalhavam para conseguir bons papéis numa fase já tardia das suas carreiras. Foi nesse contexto que Davis e Crawford, com 54 e 57 anos na altura, aceitaram contracenar juntas em Que Teria Acontecido a Baby Jane (1962), filme que se tornou um fenómeno de culto e chegou, inclusive, a ganhar um Óscar. Os bastidores desta produção servem agora de mote a Feud: Bette and Joan, a nova série de Ryan Murphy, autor de American Crime Story e American Horror Story. A história tem início no momento em que as duas actrizes aceitaram trabalhar juntas e vai percorrer a sua relação ao longo da rodagem, nomeadamente o episódio em que Bette Davis alegadamente pontapeou a sua co-protagonista na cabeça e a campanha de difamação encetada por Joan Crawford quando Davis foi nomeada para o Óscar pelo filme em que actuavam lado a lado. Feud focará também o preconceito etário, o sexismo e a misoginia que pautavam a indústria cinematográfica da época. “ [Quis explorar a ideia de] chegar aos 40, 45 e 50 anos, sentir que estamos no nosso melhor e haver a pessoas que dizem ‘Pronto, estás acabado”, disse Ryan Murphy à revista Entertainment Weekly, que divulgou as primeiras imagens oficiais da série. Your exclusive first look at Ryan Murphy’s addictive series starring @SusanSarandon & Jessica Lange is here! https://t. co/IFbGrajPG8 #FeudFX pic. twitter. com/d7Bmd7HSwJA inspiração para o drama de oito episódios surgiu quando Ryan Murphy se confrontou com o baixo número de mulheres a trabalhar atrás das câmaras apesar da crescente proliferação da televisão. “Os problemas tratados [na série] são modernos e as mulheres continuam a passar por este tipo de coisas hoje em dia”, disse Ryan Murphy, citado pelo The Hollywood Reporter. Desde então, criou a fundação Half, que visa preencher metade das vagas de realização das suas produções com mulheres. Em Feud, Scream Queens, American Horror Story e American Crime Story, mais de metade dos cargos da realização pertencem a mulheres. A série sobre Bette Davis e Joan Crawford inclui, aliás, 15 papéis interpretados por mulheres acima dos 40 anos, como Catherine Zeta-Jones, Judy Davis, Kathy Bates e Sarah Paulson. A elas junta-se Alfred Molina na pele do realizador Robert Aldrich. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Susan Sarandon (Bette Davis) et Jessica Lange (Joan Crawford) dans Feud pour Entertainment Weekly ! #FEUD pic. twitter. com/F1YUlYBGSrO envelhecimento feminino em Hollywood é o grande protagonista da série. “Joan era conhecida pela sua beleza tremenda. O que é que acontece quando essa beleza já não é considerada viável?”, questiona a actriz Jessica Lange. Por sua vez, Susan Sarandon refere que o que acontece em Hollywood quando as mulheres envelhecem é “um microcosmos do que acontece em geral às mulheres quando ficam mais velhas; a ideia de ficarem invisíveis ou deixarem de ser atraentes e desejadas”. As duas actrizes irão ser também produtoras executivas da série ao lado de Murphy e Brad Pitt. Relativamente a futuras temporadas, Ryan Murphy refere que gostaria de explorar outras brigas fora do entretenimento. “Acho que a série poderia ter alcance para recuar no tempo e na História”, diz em declarações à Variety. Feud chega aos Estados Unidos a 5 de Março e para já não tem data nem estreia prevista em Portugal.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime mulheres
Sociedade de Suicidologia reitera alerta para riscos em notícias sobre suicídios
Esta segunda-feira assinala-se o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. (...)

Sociedade de Suicidologia reitera alerta para riscos em notícias sobre suicídios
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Esta segunda-feira assinala-se o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.
TEXTO: O presidente da Sociedade Portuguesa de Suicidologia reiterou esta segunda-feira o alerta de que as notícias sobre suicídio não devem conter informação sobre o método, por causa do efeito de imitação que pode provocar. Em declarações à Lusa, Fausto Amaro, no âmbito do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio que se assinala esta segunda-feira, afirma que o efeito de imitação no suicídio existe e que a comunicação social não deve dar nem pormenores, nem explicar o método realizado para concretizar o suicídio nas notícias que veicula, referindo que o caso do vocalista dos Nirvana provocou outros por imitação. Kurt Cobain suicidou-se em 1994 aos 27 anos e seguiu-se uma "onda de suicídios em todo o mundo", por imitação e por identificação com o vocalista dos Nirvana, recordou Fausto Amaro, salientando que o papel da comunicação social é essencial para não realçar pormenores sobre o método. Outros fenómenos da Internet, como por exemplo os desafios na Baleia Azul ou Momo, são assuntos para a sociedade estar atenta, porque também "funciona como fenómeno de identificação e de imitação". Segundo Fausto Amaro, há um acordo com a Entidade Reguladora da Comunicação social e uma espécie de gentleman agreement (acordo de cavalheiros), em que a comunicação social tem toda a informação disponível. "Se nós dermos o suicídio de forma sensacionalista, realçando o método do suicídio, relatando pormenores que são escudados na notícia, provocamos mais suicídios, porque está absolutamente demonstrado na investigação desde o século XVIII que existe o suicídio por imitação e por moda", insiste. Fausto Amaro refere ainda que a "ocasião faz o ladrão", e sugere às autoridades locais que encontrem soluções para prevenir o acesso das pessoas a sítios altos, dando como exemplo que a Ponte de Luís I, no Porto, podia ter uma rede em baixo ou nas laterais. "A pessoa, se não tiver oportunidade, pode ser que já não pense nisso segunda vez", afirmou. O Dia Mundial de Prevenção do Suicídio foi criado em 2003 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Fausto Amaro recorda que em Portugal há registo de cerca de mil pessoas por ano a suicidarem-se e que no Sul do país há "mais do dobro de suicídios do que no Norte". Em Portugal há quatro vezes mais homens a suicidarem-se, em comparação com as mulheres, e os mais idosos, principalmente a partir dos 75 anos, põem mais vezes termo à vida do que os mais jovens. Ainda segundo Fasto Amaro, há três grandes mitos relacionados com o suicídio e um deles é de que quem fala de suicídio não se suicida. "Isso é falso e por isso os pais, os profissionais, os colegas de trabalho, os taxistas, os barmen, os chamados porteiros sociais, pessoas que podem encaminhar pessoas, devem estar atentos. Se a pessoa verbaliza ideias de se matar ou de que era melhor não viver, temos de dar atenção a isso", alertou o presidente da SPS, referindo a existência de linhas telefónicas de ajuda. Outro mito é que quem já tentou um suicídio não tenta uma segunda vez. "É falso", diz Fausto Amaro, referindo cerca de 50% de pessoas que fazem tentativas acabam por se suicidar. O terceiro mito é que o suicídio seja uma questão de doença mental. "É falso no sentido de que há muitos suicídios que não têm a ver com a doença mental", explica Fausto Amaro, embora refira que também haja doenças mentais que propiciam ou aumentam a probabilidade da pessoa suicidar. Fausto Amaro conta que não há propriamente sintomas ou sinais de que a pessoa se vai suicidar, mas é preciso atenção à "verbalização da ideia de morte ou a ideia de que não vale a pena viver, ou a ideia que está farto da vida que tem e que se deve dar atenção". Entre 2014 e 2016 os suicídios em Portugal têm baixado ligeiramente e, embora seja "uma pequena variação", é já considerada uma redução positiva, porque os números têm por base "registos mais rigorosos" do que no passado, onde existiam mortes classificadas como "causa incerta". Dados da OMS indicam que todos os anos se suicidam cerca de 800 mil pessoas no mundo, havendo muitas outras pessoas que tentam pôr termo à vida. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A Sociedade Portuguesa de Suicidologia realizou esta segunda-feira uma sessão científica e de divulgação, integrada nas iniciativas da International Association for Suicide Prevention (IASP) sob o lema "Trabalhar em conjunto para prevenir o suicídio". A iniciativa contou com a colaboração da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, e com o apoio institucional da Direcção-Geral da Saúde e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. O Congresso da Sociedade Portuguesa de Suicidologia em 2019 vai decorrer em Beja (Alentejo).
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OMS lança em Portugal plano mundial para pôr pessoas a fazer mais desporto
O objectivo é levar os países a promover "a actividade física junto das populações" numa lógica que envolva vários sectores e políticas. (...)

OMS lança em Portugal plano mundial para pôr pessoas a fazer mais desporto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-07-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: O objectivo é levar os países a promover "a actividade física junto das populações" numa lógica que envolva vários sectores e políticas.
TEXTO: Um em cada quatro adultos não pratica níveis suficientes de actividade física, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Os números são ainda mais preocupantes quando se olha para as jovens, as mulheres, os idosos, e as pessoas mais desfavorecidas ou portadoras de alguma deficiência ou doença crónica, esclarece um comunicado do Ministério da Saúde. Perante isto, e porque o sedentarismo é um dos factores que mais contribuem para o aparecimento de doenças crónicas não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, as doenças oncológicas, a diabetes e a obesidade, a OMS tem como meta até 2030 aumentar em 15% os níveis de actividade física em todo o mundo. “Pessoas Mais Activas para um Mundo Mais Saudável” foi o nome dado ao plano para os próximos 12 anos e Portugal o país escolhido para o seu lançamento, que terá lugar nesta segunda-feira na Cidade do Futebol, junto ao Estádio Nacional, na Cruz Quebrada. O objectivo é dar orientações claras aos países para promoverem, numa lógica que envolva vários sectores e políticas, "a actividade física junto das populações, nomeadamente através da criação de ambientes seguros e acessíveis, para pessoas de todas as idades”, refere ainda o comunicado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em Portugal, um em cada 10 portugueses tem diabetes, perto de quatro em cada dez sofre de hipertensão e mais de metade da população adulta apresenta excesso de peso, incluindo obesidade. É também dos países europeus onde a população vive menos tempo com saúde depois dos 65 anos. De acordo com a nota enviada pelo gabinete do ministro da Saúde, o Governo português assumiu a promoção da actividade física como prioridade nacional e tomou já várias medidas nesta área, como por exemplo a criação de um Programa Prioritário para a Promoção da Actividade Física. No lançamento, esta segunda-feira, está prevista a presença do Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, do director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Fernando Gomes, e ainda do primeiro-ministro António Costa e do ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues.
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Entidades OMS
A Leonor é diferente, mas não é fácil dar por isso
Tem 14 anos mas parece mais nova, vai à escola, faz ginástica rítmica, nada, pratica ténis, anda de bicicleta e tem um canal no YouTube com 1200 seguidores. A Leonor tem Trissomia 21 e a família luta para que o cromossoma a mais da Leonor não a limite. (...)

A Leonor é diferente, mas não é fácil dar por isso
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.10
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tem 14 anos mas parece mais nova, vai à escola, faz ginástica rítmica, nada, pratica ténis, anda de bicicleta e tem um canal no YouTube com 1200 seguidores. A Leonor tem Trissomia 21 e a família luta para que o cromossoma a mais da Leonor não a limite.
TEXTO: A Leonor vai à escola, faz ginástica rítmica, nada, pratica ténis, anda de bicicleta, está a aprender a patinar e tem um canal no YouTube com 1200 seguidores. Chega a casa e prepara sozinha as suas torradas bem barradas com manteiga, antes de se sentar a ver os vídeos favoritos no canal da internet, onde meninas de outras geografias fazem desafios e brincadeiras como aqueles que ela faz em casa com a mãe e outros convidados. A Leonor tem 14 anos, mas parece mais nova. É mais pequenina do que as colegas do colégio que frequenta no Porto, não tem trabalhos de casa e demora um bocadinho mais de tempo a fazer tudo. A Leonor tem Trissomia 21 e não é uma menina exactamente como as outras, mas, às vezes, é difícil percebê-lo. A culpa é da família, que desde o primeiro momento, luta para que o cromossoma a mais da Leonor não a limite. Não foi uma notícia fácil. Helena Belo, a mãe de Leonor, já tinha dois filhos quando soube que o bebé novo que ia chegar era diferente. Diz que nunca pensou em não levar a gravidez avante, porque, simplesmente, isso jamais faria parte dos seus planos. Para ela, qualquer interrupção de gravidez equivale a “matar um filho” e diz que não seria capaz de o fazer. O momento do parto, diz, foi “o maior alívio” da sua vida. Porque a Leonor nasceu de parto normal e sem qualquer complicação. Perante as hipóteses de o bebé nascer com outros problemas associados, a descoberta de que “só” teria de lidar com a Trissomia 21 foi uma benesse. “Agora, podia arregaçar as mangas e ir para a guerra”, diz a mãe de menina, de 47 anos, no campo de ténis da Foz do Douro, onde Leonor tem mais uma das aulas habituais. “A gravidez foi uma experiência muito rica e muito dura. Para termos experiências muito ricas, elas têm de ser duras, o que é um bocado irritante”, diz, a sorrir. Leonor soube que era diferente desde o primeiro momento. Ao mesmo tempo que lhe tentava dar uma vida o mais normal possível, a família nunca lhe escondeu que ela tinha Trissomia 21. Helena diz que lhe explicou a condição com que iria viver de forma simples. “Disse-lhe que as pessoas com Trissomia 21 são mais carinhosas, dão abraços melhores, são mais doces, mas não são tão boas a Português e Matemática. Ela ficou radiante”, conta. Por enquanto, a diferença que sente em relação aos outros é algo que não pesa à menina, diz a mãe. “Por enquanto, ela ainda vê isso como uma vantagem. Ela percebe que a escola é mais fácil para ela do que para os outros. Ainda não sofre com isso”, diz Helena. Ainda assim, há coisas que a miúda já vai notando. “Ela sente-se sempre um bocado à parte, porque os outros são mais rápidos. Com os meninos normais, está sempre em esforço. Mas esteve, pela primeira vez, num encontro em que só havia praticamente meninos com Trissomia 21 e também se sentiu um bocado deslocada. Não está nem num lado nem noutro”, conta. O grande receio é que a chegada da adolescência possa trazer à criança uma consciência mais dura do que é ser diferente, o que pode levar à depressão. Lá em casa, faz-se tudo para que assim não seja. Desde o primeiro momento que lidar com Leonor foi diferente de lidar com os dois filhos mais velhos - um rapaz, hoje com 22 anos, e uma rapariga, de 18 - nas coisas mais simples. “Todos os brinquedos e jogos são pensados para o objectivo daquele momento. São os mesmos jogos, mas a maneira como se brinca é diferente, porque tudo é pensado e tem de ser ensinado”, diz Helena. Agora, chegou a vez do YouTube. O Canal da Lê Belo começou há cerca de um ano e a menina tem agora 1200 seguidores. Não tem periodicidade certa nem um só tema. Às vezes Leonor conta cenas do seu dia-a-dia, outras vezes recebe convidados e faz jogos ou então pode estar com a mãe e os irmãos a realizar desafios. Desenrascada em frente a um computador - escreve em word, envia emails e acede à internet sem dificuldade - Leonor começou a seguir youtubers de livre iniciativa e a falar, entusiasmada, do que via, e a mãe viu ali mais uma oportunidade no caminho da autonomia da filha. “Não consigo ver nada sem olhar para a parte útil. ”Um dia desafiou-a a fazer os seus próprios vídeos, a criar o seu próprio canal. “Achei logo piada”, ri Leonor. A mãe gosta que a filha se divirta a fazer vídeos, mas quando lhe sugeriu a criação do canal, não foi com esse objectivo. “O canal é para quando ela for adulta. Não é para ser famosa nem para se divertir, embora ela se divirta. Os vídeos fazem com que ela fale com o público, pense e responda rápido, tente decorar algumas coisas. Quero que comece a saber falar em público. Começa com uma câmara para depois passar à fase seguinte. Não sei se ela vai querer, mas gostava que ela fosse uma oradora de superação. Para explicar aos outros como chegou aqui e dar força às outras famílias. Não quero que ela esteja limitada”, diz a mãe de Leonor. Nem sempre é fácil, até mesmo para ela. Foi preciso uma terapeuta dar uma ajuda a forçá-la na autonomia da menina. Em coisas simples. Deixá-la tomar banho sozinha. Dar-lhe a chave de casa. Permitir que ela faça algumas tarefas na cozinha. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Graças a esse empurrãozinho, é Leonor quem abre a porta do apartamento, em Matosinhos, depois de encontrar as chaves no fundo da mochila, quem prepara sem problemas as torradas com muita manteiga e corta dois grandes pedaços de limão para levar para o quarto onde se vai instalar a ver algumas das suas youtubers favoritas. “Adoro chupar limão”, explica a menina, ao mesmo tempo que diz que podem acompanhá-la, “desde que não façam barulho” para não quebrar a sua atenção. Dos vídeos que vai fazendo, diz que os dos desafios são os que mais a entusiasmam e gosta particularmente do “Torta na Cara”. Um pequeno filme em que ela e a irmã mais velha levam com chantilly na cara de cada vez que erram uma pergunta. Terminaram as duas besuntadas. Leonor ri-se. A mãe diz que ela está sempre a querer fazer novos desafios. Nos vídeos que agora vê, podem nascer novas ideias para o próximo filme que Helena vai filmar e a filha, sorridente, protagonizar. Um dia destes, há um vídeo novo no Canal da Lê Belo. Edição de video de Ana Marques Maia
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Partidos LIVRE
Adolescentes utilizam cada vez menos o Facebook e preferem o YouTube e Instagram
Em apenas três anos, o número de adolescentes que dizem utilizar o Facebook nos EUA desceu de 71% para 51%. E apenas 10% elege a rede como a sua preferida. (...)

Adolescentes utilizam cada vez menos o Facebook e preferem o YouTube e Instagram
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.16
DATA: 2018-07-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em apenas três anos, o número de adolescentes que dizem utilizar o Facebook nos EUA desceu de 71% para 51%. E apenas 10% elege a rede como a sua preferida.
TEXTO: O Facebook deixou de ser a rede social mais utilizada e popular entre os adolescentes, estatuto que conservou durante vários anos, de acordo com um estudo do Pew Research Center publicado esta quinta-feira. Com base numa sondagem feita nos Estados Unidos a jovens entre os 13 e os 17 anos, só metade dos inquiridos (51%) diz ainda usar o Facebook, uma descida de 28% (e de 20 pontos percentuais) face a 2015, quando a rede liderava a tabela das plataformas mais utilizadas, sendo referida por 71% dos inquiridos. O valor é inferior ao dos adolescentes que dizem utilizar o YouTube (85%), o Instagram (72%) e o Snapchat (69%), plataformas que têm conquistado cada vez mais margem de mercado entre os jovens. Atrás do Facebook está o Twitter (utilizado por 32% dos inquiridos), o Tumblr (9%) e o Reddit (7%). São agora as redes mais utilizadas pelos jovens norte-americanosA rede mais utilizada a nível mundial registou uma perda dramática da população adolescente nos EUAQuestionados sobre qual a rede que usam mais frequentemente, o Facebook volta a ficar em quarto lugar na lista de preferências dos inquiridos: o Snapchat é a plataforma mais utilizada por 35% dos adolescentes norte-americanos, seguido pelo YouTube (32%) e pelo Instagram (15%, detido pelo Facebook). O Facebook é a rede preferida de apenas 10% dos inquiridos. O mesmo estudo indica que, actualmente, 95% dos adolescentes norte-americanos tem acesso a um smartphone. Há três anos, esta percentagem ficava-se pelos 73%. O relatório revela também que 45% dos inquiridos dizem estar online “quase sempre” (apenas 24% em 2015). As raparigas são as que passam mais tempo ligadas: metade das inquiridas diz estar quase sempre online, contra 39% dos rapazes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Este não é o primeiro estudo a sugerir que o Facebook está a perder a liderança junto do público mais jovem: em Fevereiro deste ano, a analista de mercado eMarketer (propriedade do grupo de media alemão Axel Springer) apontava para uma queda dos utilizadores entre os 12 e os 24 anos, ainda que muitos deles migrassem para o Instagram, também detido por Mark Zuckerberg. “O Facebook tem a sorte de deter o Instagram, que continua a ser uma plataforma influente entre os jovens”, dizia a analista da eMarketer, Debra Aho Williamson, na altura em que foi divulgado o relatório. Em termos absolutos, porém, o Facebook continua a ser a rede social mais utilizada a nível mundial, com mais de dois mil milhões de utilizadores activos por mês.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave adolescente social estudo
Filipe Carvalho ganhou um Emmy e quer pôr Portugal no mapa de Hollywood
Português foi distinguido pelo seu trabalho na série Counterpart. A partir de Lisboa, o motion designer trabalha com algumas das maiores produções de Hollywood. (...)

Filipe Carvalho ganhou um Emmy e quer pôr Portugal no mapa de Hollywood
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-11-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: Português foi distinguido pelo seu trabalho na série Counterpart. A partir de Lisboa, o motion designer trabalha com algumas das maiores produções de Hollywood.
TEXTO: Setembro de 2018, oitavo dia. Em Los Angeles, apruma-se a passadeira vermelha. Todos os caminhos vão dar ao Microsoft Theater, que nessa noite concentra todas as estrelas de Hollywood. É a primeira cerimónia dos Emmy Awards, destinada às categorias mais técnicas. Os “Óscares da Televisão”, como são conhecidos, distinguem os melhores da indústria televisiva. E nessa noite, entre os melhores, houve um português galardoado: Filipe Carvalho ganhou um Emmy pelo seu trabalho na série Counterpart. Para os mais atentos, Filipe Carvalho, de 37 anos, não é um nome desconhecido. Já em 2015, o P3 dava a conhecer a história do motion designer que trabalhava, a partir de Lisboa, com alguns dos maiores estúdios de Hollywood. Nessa altura, o seu historial incluía colaborações em séries tão marcantes como A Guerra dos Tronos, Cosmos: Odisseia no Espaço e em filmes como Thor: o Mundo das Trevas e O Fantástico Homem Aranha 2. Agora, chegou outro reconhecimento, o mais desejado. “Para mim um Emmy é o derradeiro prémio porque é o mais difícil de conseguir”, sublinha em conversa com o P3. Naquele dia, rodeado pelas maiores estrelas da indústria, Filipe sentiu-se como uma autêntica criança. “Cresci a ver estas cerimónias, a sonhar com esta vida de Hollywood e de repente estou lá pela primeira vez”. Se antes da 70. ª edição dos Emmy, a nomeação já lhe soava a vitória, quando o chamaram ao palco para receber a estatueta, Filipe estremeceu. “Foi fantástico, nem queria acreditar que tínhamos ganho”, diz: “Todos temos aqueles sonhos de criança que nunca levamos muito a sério, mas de repente as coisas acabam por acontecer”. Com uma equipa composta por mais cinco pessoas, Filipe demorou quatro meses e meio a produzir o trabalho que lhe valeu o Emmy: o genérico de abertura de Counterpart, do canal Starz. A série, protagonizada por J. K. Simmons, vencedor de um Óscar, retrata a vida de um funcionário de uma agência de espionagem da ONU que descobre que o Estado tem ocultado a existência de uma dimensão paralela criada na altura da Guerra Fria. A Filipe coube a função de ser director de arte do genérico, função que acarreta assinatura na ideia original e na criação dos conceitos, trabalhados pela restante equipa. A construção da ideia foi facilitada pelo material disponibilizado pela produção, conta: “Tivemos a sorte de nos deixarem ter acesso praticamente total aos conteúdos da série, desde os sets de filmagem até aos adereços das personagens”. Depois, como é habitual no processo criativo, teve de estudar a bíblia — não a colecção de textos sagrados do Cristianismo, mas uma outra escritura: “Em Hollywood, na fase de construção da série, é criada a bíblia, um documento central onde está o script inicial, a descrição das personagens, as mudanças de cenários, enfim, tudo o que é preciso saber”. Na fase de gerir informação e de criar ideias, Filipe Carvalho, autodidacta, prefere isolar-se. “Aprendi a trabalhar nesta coisa do cinema e design sozinho, por isso acabo por me isolar, é o meu método”. Desse retiro, saem geralmente duas ideias diferentes. A produtora escolhe uma e a restante equipa – editores, designers, técnicos de som, animadores 3D - trata do resto. O “olhar cinematográfico” e registo dramático e minimalista de Filipe Carvalho contrastam com o estilo norte-americano. “Lá são tão bombardeados pelos media que existe uma grande saturação da estética tradicional, muito sensacionalista, muito colorida e com muito 3D, da qual o futebol americano é o melhor exemplo”. Filipe preserva uma “visão de europeu”, construída pelas suas referências culturais e artísticas. Em alguns casos, muitos desses modelos nada têm a ver com alguns dos projectos que já realizou — como é o caso das histórias de super-heróis e de produções de estilo Marvel. “Não são muito a minha onda”, assume. Filipe prefere criações mais “soturnas e até enfadonhas", como “thrillers políticos” e “dramas históricos”. Muita coisa mudou desde 2015, quando o motion designer conversou com o P3 pela primeira vez. Filipe foi pai de uma menina e, ao contrário do habitual, passou a dormir melhor. Incentivo importante para um passo que há muito queria dar: a criação da ForeignAffairs, a sua empresa com ligação directa para estúdios norte-americanos, os principais clientes. “Agora estou no outro papel: sou eu quem vai buscar os freelancers americanos e até portugueses para trabalharem comigo”, graceja. Para já, um dos principais objectivos é a consolidação da empresa no mercado, procurando relacionar-se com alguns dos estúdios com quem trabalhou enquanto freelancer – como a HBO, a Netflix ou a FX. É com esse fim em mente — e para dormir mais descansado — que Filipe colabora com um produtor norte-americano, que angaria clientes em Nova Iorque. “É uma pessoa muito importante porque quando estou a dormir ele está acordado a ser o meu intermediário”. A Foreign Affairs quer pôr Portugal no mapa das produções de Hollywood e promover o trabalho de portugueses. E a distância não será uma barreira para isso? “Não há qualquer entrave que a internet não resolva”, responde: “Eles não querem saber se o Filipe Carvalho está em Carnaxide ou em Los Angeles, aceitam-te como um deles, sem distinção”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Além de garantir uma "vida mais normal" e de permitir que traga trabalho para Portugal, o estúdio foi também o veículo para se reinventar uma vez mais. “Permite-me redireccionar o meu futuro: quero ser realizador e director criativo dos projectos”. É um caminho trilhado há já 24 meses e que o português espera terminar no próximo ano. Será nessa altura que uma série realizada por Filipe será apresentada. ”Não posso adiantar muito”, começa por dizer, acabando por abrir um pouco o jogo: será uma série documental sobre jornalistas e fotojornalistas em cenário de guerra. “Fomos falar com jornalistas que estiveram em cenários de conflito intenso e vamos procurar contar estes episódios da melhor forma possível”. A série, já baptizada como Viewfinder, terá o apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual e será feita em parceria com a produtora Até ao Fim do Mundo.
REFERÊNCIAS: