Shakespeare segundo Matías Piñeiro e a Inglaterra de Chris Petit no PortoPostDoc
Quinta edição do festival traz ao Porto dois dos mais interessantes nomes contemporâneos que confundem as fronteiras da ficção e do real. (...)

Shakespeare segundo Matías Piñeiro e a Inglaterra de Chris Petit no PortoPostDoc
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-13 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181013140819/http://publico.pt/1846573
SUMÁRIO: Quinta edição do festival traz ao Porto dois dos mais interessantes nomes contemporâneos que confundem as fronteiras da ficção e do real.
TEXTO: O argentino Matías Piñeiro, um dos mais cosmopolitas cineastas contemporâneos, e o britânico Chris Petit, autor de um dos títulos mais lendários do cinema britânico, Radio On, são as novas “adendas” à programação do Porto/Post/Doc. O festival portuense, que decorre no Rivoli, Passos Manuel e Trindade de 24 de Novembro a 2 de Dezembro, anunciara já uma retrospectiva integral da obra da dupla António Reis/Margarida Cordeiro e um workshop com a investigadora, crítica e cineasta Laura Mulvey. Prosseguindo o seu interesse pelos cinemas que transgridem fronteiras entre “ficção” e “documentário”, era inevitável que o Porto/Post/Doc viesse ter a estes dois cineastas. Piñeiro, uma das figuras de ponta do novo cinema argentino a par de gente como Mariano Llinás, tem recentemente levado a cabo uma série de adaptações livres de Shakespeare que se alimentam, de modo quase improvisacional, do próprio cenário em que tudo decorre. É o caso de três dos cinco filmes alinhados para a sua retrospectiva: Viola (2012), baseado em Noite de Reis, La Princesa de Francia (2014), inspirado em Penas de Amor Perdido, e Hermia & Helena (2016), sugerido por Sonho de uma Noite de Verão. Já Chris Petit, figura importante do cinema paralelo britânico, é recordado essencialmente por Radio On, o seu road movie pela Grã-Bretanha de finais dos anos 1970 ao som dos Kraftwerk ou de Bowie. O Porto/Post/Doc vai apresentar muitos dos seus filmes mais experimentais, como a meditação sobre as imagens Negative Space, ou os seus documentários dedicados ao escritor J. G. Ballard e ao argumentista Rudy Wurlitzer. Tanto Matías Piñeiro como Chris Petit estarão presentes no Porto, e Petit está igualmente escalado para uma conversa com Laura Mulvey, confirmando a atenção do certame portuense às “margens” do cinema contemporâneo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave princesa
Ninguém sabe o que é uma família
Shoplifters é um retrato “classista” do Japão, a contrapor conforto material e calor emocional, a perguntar o que é, realmente, uma família. (...)

Ninguém sabe o que é uma família
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-06 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181206212739/https://www.publico.pt/1851782
SUMÁRIO: Shoplifters é um retrato “classista” do Japão, a contrapor conforto material e calor emocional, a perguntar o que é, realmente, uma família.
TEXTO: Depois do desvio “metafísico” de O Terceiro Assassinato (filme sobre a “anatomia dum crime”, obcecado com a justiça, a verdade, a culpa), eis que Hirokazu Koreeda regressa a um território que, sabemo-lo bem, domina como poucos: o espaço familiar, o universo infantil, as relações entre crianças e adultos. Mas também uma espécie de zona escondida da sociedade e da cidade japonesa, um mundo oculto por trás das fachadas, movido por regras pouco canónicas (pouco “tradicionais”), onde nem o que parece uma família é exactamente uma família. Shoplifters é, por isso, o filme dele que mais directamente se liga a Ninguém Sabe (que foi o duríssimo filme que o revelou em Portugal), trocando a rudeza e a violência pela doçura que se encontra noutras das suas pequenas sagas familiares, como Andando. Realização: Hirokazu Kore-eda Actor(es): Kirin Kiki, Lily Franky, Sôsuke Ikematsu, Jyo Kairi, Miyu SasakiÉ mesmo a principal proeza de Shoplifters: compor um retrato de um universo onde a miséria está presente, inclusive a miséria moral, mas desfazendo ou recusando todos os clichés “automáticos” da representação dessa miséria. É ver, por exemplo, como o espaço acanhado da casa onde vivem os protagonistas, todos ao monte, sem privacidade, é filmado por Koreeda duma forma que exala, sobretudo, um sentido de pouco ortodoxa comunhão (como de costume, as cenas de conjunto, os enquadramentos apinhados de personagens, têm alguns momentos magníficos). Ou como as cenas dos roubos – sempre roubos “pequenos”, em mercearias, cafés, uma espécie de “furto de subsistência” sobre os quais Koreeda suspende todo o juízo (e pelo contrário, “convida-nos” a participar neles) – têm a dinâmica de mini-filmes de acção temperada por um “suspense” de burlesco. Claro que a “família”, para lá da sua bonomia mais ou menos assombrada, tem mesmo esqueletos no armário (ou no chão do jardim), histórias de uma violência bem mais dramática; mas a forma retardada como Koreeda o revela tem este efeito: quando percebemos que há mais do que os pequenos roubos, já lá estamos, e, como as crianças que a família “colecciona”, já fazemos parte daquele “agregado”. E é assim que Shoplifters caminha para um terço final bastante subversivo, a pôr em causa a ideia de família (e de maternidade, e de paternidade) como fenómeno definido pela biologia. “Não basta dar à luz para se ser mãe”, diz uma das mulheres. E nas derradeiras cenas, quando Koreeda segue as crianças enfim dispersas, de volta às suas famílias “legítimas”, essa subversão encontra imagens poderosas e comoventes (o derradeiro plano antes do corte para o genérico final é soberbo), a sua violência a voltar-se para um retrato “classista” do Japão, a contrapor conforto material e calor emocional, a perguntar o que é, realmente, uma família.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime violência espécie mulheres assassinato infantil
O discurso de vitória de Jair Bolsonaro
Leia na íntegra o primeiro discurso de Bolsonaro como 38º Presidente eleito do Brasil. (...)

O discurso de vitória de Jair Bolsonaro
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Leia na íntegra o primeiro discurso de Bolsonaro como 38º Presidente eleito do Brasil.
TEXTO: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Nunca estive sozinho. Sempre senti a presença de Deus e a força do povo brasileiro. Orações de homens, mulheres, crianças, famílias inteiras que, diante da ameaça de seguirmos por um caminho que não é o que os brasileiros desejam e merecem, colocaram o Brasil, nosso amado Brasil, acima de tudo. Faço de vocês minhas testemunhas de que esse governo será um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade. Isso é uma promessa não de um partido. Não é a palavra vã de um homem. É um juramento a Deus. A verdade vai libertar este grande país, e a liberdade vai nos transformar em uma grande nação. A verdade foi o farol que nos guiou até aqui e que vai seguir iluminando o nosso caminho. O que ocorreu hoje nas urnas não foi a vitória de um partido, mas a celebração de um país pela liberdade. O compromisso que assumimos com os brasileiros foi de fazer um governo decente, comprometido exclusivamente com o país e com o nosso povo --e eu garanto que assim será. Nosso governo será formado por pessoas que tenham o mesmo propósito de cada um que me ouve neste momento: o propósito de transformar o nosso Brasil em uma grande, livre e próspera nação. Podem ter certeza de que nós trabalharemos dia e noite para isso. Liberdade é um princípio fundamental: liberdade de ir e vir, de andar nas ruas, em todos os lugares deste país, liberdade de empreender, liberdade política e religiosa, liberdade de informar e ter opinião. Liberdade de fazer escolhas e ser respeitado por elas. Este é um país de todos nós, brasileiros natos ou de coração. Um Brasil de diversas opiniões, cores e orientações. Como defensor da liberdade, vou guiar um governo que defenda e proteja os direitos do cidadão que cumpre seus deveres e respeita as leis; elas são para todos. Porque assim será o nosso governo; constitucional e democrático. Acredito na capacidade do povo brasileiro, que trabalha de forma honesta, de que podemos juntos --governo e sociedade-- construir um futuro melhor. Esse futuro de que falo e acredito passa por um governo que crie as condições para que todos cresçam. Isso significa que o governo federal dará um passo atrás --reduzindo a sua estrutura e a burocracia; cortando desperdícios e privilégios, para que as pessoas possam dar muitos passos à frente. Nosso governo vai quebrar paradigmas: vamos confiar nas pessoas. Vamos desburocratizar, simplificar e permitir que o cidadão, o empreendedor, tenha mais liberdade para criar e construir e seu futuro. Vamos "desamarrar" o Brasil. Outro paradigma que vamos quebrar: o governo, de verdade, a Federação. As pessoas vivem nos municípios; portanto, os recursos federais irão diretamente do governo central para os estados e municípios. Colocaremos de pé a federação brasileira. Nesse sentido é que repetimos que precisamos de mais Brasil e menos Brasília. Muito do que estamos fundando no presente trará conquistas no futuro. As sementes serão lançadas e regadas para que a prosperidade seja o desígnio dos brasileiros do presente e do futuro. Esse não será um governo de resposta apenas às necessidades imediatas. As reformas a que nos propomos serão para criar um novo futuro para os brasileiros. E quando digo isso falo com uma mão voltada para o seringueiro no coração da selva amazônica e a outra para o empreendedor suando para criar e desenvolver sua empresa. Porque não existem brasileiros do sul ou do norte. Somos todos um só país, somos todos uma só nação!Uma nação democrática!O estado democrático de direito tem como um dos seus pilares o direito de propriedade. Reafirmamos aqui o respeito e a defesa deste princípio constitucional e fundador das principais nações democráticas do mundo. Emprego, renda e equilíbrio fiscal: é o nosso compromisso para ficarmos mais próximos de oportunidades e trabalho para todos. Quebraremos o círculo vicioso do crescimento da dívida, substituindo-o pelo círculo virtuoso de menores déficits, dívidas decrescente e juros mais baixos. Isso estimulará os investimentos, o crescimento e a consequente geração de empregos. O déficit público primário precisa ser eliminado o mais rápido possível e convertido em superávit. Este é o nosso propósito. Aos jovens, uma palavra do fundo do meu coração: vocês têm vivido um período de incerteza e estagnação econômica. Vocês foram e estão sendo testados a provar sua capacidade de resistir. Prometo que isso vai mudar. Esta é a nossa missão. Governaremos com os olhos nas futuras gerações e não na próxima eleição. Libertaremos o Brasil e o Itamaraty das relações internacionais com viés ideológico a que foram submetidos nos últimos anos. O Brasil deixará de estar apartado das nações mais desenvolvidas. Buscaremos relações bilaterais com países que possam agregar valor econômico e tecnológico aos produtos brasileiros. Recuperaremos o respeito internacional pelo nosso amado Brasil. Durante a nossa caminhada de quatro anos pelo Brasil, uma frase se repetiu muitas vezes: "Bolsonaro, você é a nossa esperança". Cada abraço, cada aperto de mão, cada palavra ou manifestação de estímulo que recebemos nesta caminhada fortaleceram o nosso propósito de colocar o Brasil no lugar que merece. Nesse projeto que construímos, cabem todos aqueles que têm o mesmo objetivo que o nosso. Mesmo no momento mais difícil desta caminhada, quando, por obra de Deus e da equipe médica de Juiz de Fora, ganhei uma nova certidão de nascimento, não perdemos a convicção de que juntos poderíamos chegar a esta vitória. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É com esta mesma convicção que afirmo: ofereceremos a vocês um governo decente, que trabalhará, verdadeiramente, para todos os brasileiros. Somos um grande país, e agora vamos juntos transformar esse país em um grande nação. Uma nação livre, democrática e próspera!Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!"
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Os principais ministros do novo Governo do Brasil
Começou por querer descer drasticamente o número de ministérios para 15, mas o Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, acabou por indicar 22 ministros, um número ainda assim abaixo da norma. (...)

Os principais ministros do novo Governo do Brasil
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.151
DATA: 2018-12-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Começou por querer descer drasticamente o número de ministérios para 15, mas o Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, acabou por indicar 22 ministros, um número ainda assim abaixo da norma.
TEXTO: Há cinco militares no Governo (mais o próprio Presidente e vice-presidente, o general Hamilton Mourão), três do partido Democratas (PSL), um do seu próprio partido, o Partido Social Liberal (PSL) e um do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Há duas mulheres e dois pastores evangélicos. Dois foram sugeridos por Olavo de Carvalho, filósofo brasileiro radicado nos Estados Unidos, que tem sido considerado o grande ideólogo da nova direita brasileira e o guru político de Bolsonaro. Cinco estão ou estiveram também sob investigação judicial: Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde; Onyx Lorenzoni, Paulo Guedes, Marcos Pontes (futuro ministro da Ciência e Tecnologia ) e Ricardo Aquilino Salles). Aqui ficam os nomes mais sonantes do futuro Governo brasileiro:É um dos dois “superministros” do Governo Bolsonaro e uma das suas estrelas maiores. Ganhou enorme fama ao liderar, enquanto juiz, a gigantesca Operação Lava Jato e terá, por isso, como grande prioridade a luta contra a corrupção. Pediu que a Segurança Pública fosse incluída no Ministério que vai liderar e terá sob sua alçada mais responsabilidades do que os antecessores. A escolha não caiu bem na esquerda, que o acusa de perseguição ao PT e, concretamente, ao ex-Presidente Lula da Silva, preso na sequência da Lava Jato. É um dos nomes mais polémicos do futuro Governo. Ernesto Fraga Araújo é embaixador e dirige o Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty. Ganhou destaque na campanha ao lado de Bolsonaro, chamando “terrorista” ao PT. Araújo foi sugerido por Olavo de Carvalho, um filósofo brasileiro que vive visto como o grande ideólogo da nova direita que agora conquistou o poder no Brasil. Fraga Araújo é admirador confesso das políticas do Presidente Donald Trump e, por isso, a sua chegada ao Ministério das Relações Exteriores insere-se numa estratégia mais abrangente de Bolsonaro relativamente às relações internacionais, que será de aproximação aos EUA de Trump, ao movimento liderado por outro ideólogo da direita radical, Steve Bannon, e a Israel. O economista de 69 anos é o outro “superministro”. Vai ser o responsável pelas Finanças, Economia e Planeamento da Indústria e Comércio. Um neoliberal assumido, é defensor dos mercados e das privatizações, afastando o próprio Jair Bolsonaro da visão estatal da economia que defendeu nas últimas décadas. A poucas semanas da segunda volta das presidenciais soube-se que o Ministério Público está a investigar Paulo Guedes por suspeita de fraude com fundos de pensões estatais. Ricardo de Aquino Salles é advogado e político filiado ao Partido Novo. Foi o último nome a ser anunciado para o Governo. É crítico do Movimento dos Sem Terra e o seu nome gerou alguma preocupação nos ambientalistas – tal como Bolsonaro, não vê com bons olhos as políticas ambientais principalmente na Amazónia. Tem sido questionado se o Brasil permanecerá no Acordo de Paris. No entanto, e ao contrário do que se esperava, Aquino Salles afirmou nos últimos dias que talvez seja melhor o país permanecer neste acordo global contra as alterações climáticas. Há dias foi acusado pelo Ministério Público Eleitoral de abuso de poder económico e uso indevido de meios de comunicação, durante a campanha para a eleição como deputado federal por São Paulo. Este é um Ministério criado por Bolsonaro, antes só existia o dos Direitos Humanos. A escolha recaiu em Damares Alves, pastora evangélica que é assessora do senador e pastor Magno Malta, e um dos apoiantes evangélicos mais próximos de Bolsonaro. Esta escolha foi uma forma de Bolsonaro dar protagonismo à bancada evangélica no Governo e afastar as críticas que lhe fazem sobre a sua postura em relação às mulheres. Do partido Democratas (DEM), Onyx Lorenzoni é um veterinário de 64 anos que vai ocupar a chefia da Casa Civil, há muito considerado o ministério mais importante do Governo. Será, por isso, o braço-direito de Bolsonaro nas questões políticas. Normalmente, quem ocupa esta pasta fica responsável pela articulação política no Congresso, aspecto que será fundamental durante a governação de Bolsonaro. Com cinco mandatos como deputado, todos marcados por uma forte oposição ao PT e por uma intransigente defesa da destituição da ex-Presidente Dilma Rousseff, teve um papel muito activo na escolha e anúncio de ministros durante a formação do Executivo. Recentemente foi ilibado de um caso em que era acusado de receber subornos através da chamada caixa 2 (saco azul) para financiar a sua campanha de 2014. Engenheira agrónoma e empresária, Tereza Cristina é presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, representada por 261 deputados e senadores, tendo sido por isso escolhida para representar a chamada bancada ruralista no Governo. É uma das duas mulheres que integram o Governo, e terá em mãos um dos sectores fundamentais. Bolsonaro chegou a anunciar a fusão deste ministério com o do Meio Ambiente, mas acabou por desistir da ideia depois de uma onda de críticas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Foi a outra indicação do filósofo Olavo de Carvalho. Autor de mais de 30 obras, Vélez Rodriguez é um professor e filósofo natural da Colômbia. Numa das obras que publicou, A Grande Mentira. Lula e o Patrimonialismo Petista, diz que o PT “conseguiu potencializar as raízes da violência” através de uma “perniciosa ideologia” e “revolução cultural gramsciana [referência a Antonio Gramsci, filósofo e política marxista italiano]”. Terá a cargo de uma das áreas consideradas fundamentais por Bolsonaro, que vê uma crescente ideologização das escolas, algo que pretende combater com o programa Escola Sem Partido.
REFERÊNCIAS:
Inconformismo na retirada das barracas de flores no Prado do Repouso
Arlinda e Rosa vão desistir, Sónia e Maria continuam. As barracas da porta do cemitério oriental foram retiradas pela câmara por alegada falta de segurança. Floristas podem continuar, mas só se montarem e desmontarem uma estrutura própria todos os dias. (...)

Inconformismo na retirada das barracas de flores no Prado do Repouso
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Arlinda e Rosa vão desistir, Sónia e Maria continuam. As barracas da porta do cemitério oriental foram retiradas pela câmara por alegada falta de segurança. Floristas podem continuar, mas só se montarem e desmontarem uma estrutura própria todos os dias.
TEXTO: O fim estava anunciado há quase meio ano. Mas na véspera da retirada das barraquinhas de venda de flores e velas do Cemitério do Prado do Repouso, Arlinda Neves ainda rezava “a todos os Santos” para que a notícia fosse “mentira”. O neto ia buscá-la dali a minutos para a ajudar a encaixotar a mercadoria excedente. Mas nas caixas de cartão não se arrumavam as memórias da mãe e da irmã, ali vendedoras noutros tempos, dos clientes que viu crescer e partir, da juventude como florista. Na manhã de quinta-feira, apesar das suas preces, os camiões da Câmara do Porto levantaram as quatro barracas do chão. E Arlinda Neves, 90 anos, sentou-se num banquinho, a poucos metros, a ver o fim. Emocionada. “Por estes dias só choro porque quero trabalhar. Não conheço mais nada. ”A sentença foi da Câmara Municipal do Porto. Um “parecer” dos serviços municipais deu conta do “avançado estado de degradação das estruturas” colocadas à entrada do cemitério e a autarquia, que tem como função “garantir que o exercício da venda ambulante seja realizado de acordo com o que ditam as normas do código regulamentar e de segurança”, entendeu que a solução passava pela retirada. Agora, diz o gabinete de comunicação do executivo de Rui Moreira, “caberá à junta de freguesia [do Bonfim] licenciar novas estruturas amovíveis que cumpram as normas em vigor”. A junta recebeu da autarquia a informação de que as barracas seriam retiradas e não deveriam ser substituídas por outras do género. “A decisão é da câmara e não me vou pronunciar sobre ela”, disse ao PÚBLICO o presidente José Manuel Carvalho, eleito nas listas de Moreira. A responsabilidade de emitir licenças passará para as juntas de freguesia em Janeiro e a do Bonfim dá o aval às floristas do cemitério que quiserem continuar. No entanto, “a concessão não pode implicar uma barraca fixa”, esclareceu: “Podem usar tendas amovíveis, a minha preocupação principal era as pessoas não perderem o seu negócio. ”Rosa Santos, 76 anos de vida e mais de 60 como vendedora naquele lugar, vai desistir. “Não posso levar e trazer a mercadoria todos os dias”, lamenta a apontar as muitas velas, cravos e baldes que ainda guardava na barraquinha na véspera da retirada. Foi parar ali com 13 anos, a fazer cumprir uma quase tradição familiar. A mãe acompanhava o avô no enfeite das lápides e acabou por ficar por lá, ela ajudava a mãe e substitui-a quando as forças já não chegavam para aguentar o negócio. António de Oliveira, seu ajudante e zelador dos gatos do cemitério, não se conforma com o desfecho: “A câmara nunca fez nada por estas barracas. As pessoas investiram aqui, pintaram os seus espaços. E agora ficam sem nada?”Quando a mãe de Sónia Pereira faleceu, a 13 de Setembro de 2015, ela enganou as saudades com idas diárias ao cemitério. Limpava a campa, punha-a bonita com flores. Um dia, decidiu plantar relva à volta e, contra todas as previsões, a cobertura medrou. “Ficou tão bonito que começaram a pedir-me para fazer isso noutras campas”, conta. Ela agarrou a ideia e quando surgiu a oportunidade de ficar com uma das barraquinhas de madeira na entrada do cemitério, não deixou escapar. O sobrinho de 15 meses estava numa instituição e com aquele emprego seria mais fácil ficar com ele. A ela e à sócia Paula chamam-lhes até “as meninas da relva”. Elas não se limitam a vender flores e velas. Fazem manutenções das sepulturas, jazigos e capelas. São “psicólogas”, ouvidos atentos, ombro amigo. “Às vezes é difícil não ficar deprimida aqui”, diz Sónia Pereira, 38 anos, “mas a gente gosta de ajudar”. Na reunião na câmara, quando lhes comunicaram a decisão de acabar com as barracas, tentou ainda propor uma outra solução. Mas “não houve espaço para negociação”, lamenta. “Se estas barracas não têm condições podiam pôr outras, a gente até podia pagar mais”, argumenta Maria da Conceição: “Quem quisesse ficava, quem não quisesse ia embora. ” Agora que não há volta a dar, só lamenta não ter feito “barulho” mais cedo. Os clientes, tristes com a perda, até lhes disseram estar disponíveis para rubricar um abaixo-assinado. “Não concordaram nada com isto. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O veredicto deixou Joaquim Guimarães, coveiro no Prado do Repouso, com os nervos em franja. Também ele tentou há meses ter uma barraquinha por ali, mas a resposta veio negativa. “Estão a destruir meios de sobrevivência”, acusa: “Estas pessoas estão a ser escorraçadas para a lama. A câmara preocupa-se com a imagem do espaço. E as pessoas?”Por estes dias, Arlinda Neves anda inconsolável. Saudosa de tempos que não voltam. É vendedora desde os nove anos - “hortaliças, frutas, corria a cidade toda” – e não se imagina fechada na casa do filho, em Gondomar. “Não gosto de estar a dar à língua nem de estar parada. E agora o que vou fazer?”Maria da Conceição e Sónia Pereira, há dois anos a trabalhar no primeiro cemitério público do Porto, benzido pelo Bispo D. Frei Manuel de Santa Inês, a 1 de Dezembro de 1839, vão continuar por ali. Maria e o filho já projectam levar um atrelado e só esperam não ter entraves. E resistir ao frio do Inverno e ao calor que derrete velas do Verão. Sónia não perdeu tempo. Ainda os camiões da câmara andavam por ali e já ela improvisava uma caixa com as mercadorias e vendia “à moda antiga” e inscrevia a promessa de continuar num quadro de giz. Nos próximos dias há-de levar um toldo. Resistir. “Estou perto da minha mãe, daqui não quero sair. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filho género faleceu
Johnson & Johnson terá ocultado presença de amianto no pó de talco
Empresa norte-americana teria sabido da presença da substância cancerígena nos seus produtos de talco, afirma a Reuters. É uma "teoria da conspiração absurda", defende a Johnson & Johnson. (...)

Johnson & Johnson terá ocultado presença de amianto no pó de talco
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.16
DATA: 2018-12-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Empresa norte-americana teria sabido da presença da substância cancerígena nos seus produtos de talco, afirma a Reuters. É uma "teoria da conspiração absurda", defende a Johnson & Johnson.
TEXTO: A gigante norte-americana de cosmética Johnson & Johnson (J&J) terá ocultado durante décadas que saberia da presença de amianto nos seus produtos de pó de talco. A acusação é da agência Reuters, que diz ter analisado documentos da empresa, alguns dos quais se encontram sob segredo de justiça. A empresa tem enfrentado centenas de processos judiciais nos Estados Unidos movidos por consumidores que alegam ter contraído cancro devido à utilização dos seus produtos, mas tem negado a presença da substância cancerígena no pó de talco. As suspeitas da presença de amianto nos produtos da J&J iniciaram-se, segundo a Reuters, em 1957, quando um laboratório externo apontou a presença de tremolite (um mineral fibroso que é um dos seis tipos de amianto) nas pedras de talco de um fornecedor italiano da empresa norte-americana. Contudo, em 1976, quando a Food and Drug Administration (a entidade que fiscaliza a produção de medicamentos e alimentos nos Estados Unidos da América) começou a impor limites à presença de partículas de amianto nos cosméticos derivados do talco, a J&J afirmou não ter detectado qualquer amostra da substância nos seus produtos. Ora, de acordo com a investigação da Reuters, baseada em documentos produzidos no âmbito de vários processos judiciais, tal não será verdade: em pelo menos três análises feitas entre 1972 e 1975 foi detectado amianto no seu pó de talco — numa destas, numa concentração "significativamente elevada". Desde então, e até ao início da primeira década do século XXI, a maioria das análises internas da J&J não identificaram a presença de amianto nos seus produtos, mas em algumas foram detectadas pequenas quantidades. A Reuters sublinha que apenas uma ínfima fracção do produto era testado e lembra que a Organização Mundial de Saúde indica que o amianto é perigoso mesmo em pequenas quantidades. A empresa reagiu entretanto a esta investigação. Os advogados da J&J sublinham que o pó de talco da marca é seguro e que não contém qualquer substância nociva, argumentando que o consenso científico é o de que o talco usado para fabricar o pó não provoca cancro, independentemente dos seus componentes. "O artigo da Reuters é parcial, falso e incendiário. Simplesmente, a história da Reuters é uma teoria da conspiração absurda", declara a equipa legal da gigante de cosmética. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nos tribunais norte-americanos, o sucesso da empresa na defesa perante os processos movidos por antigos consumidores tem oscilado. Em Julho, por exemplo, a empresa foi condenada a pagar quatro mil milhões de euros a 22 mulheres que afirmaram ter contraído cancro devido à utilização do pó de talco da marca. A J&J está a recorrer da sentença. Esta sexta-feira, e perante a divulgação da investigação da Reuters, as acções da companhia registaram uma queda superior a 10% na bolsa de Nova Iorque.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave concentração mulheres alimentos
Obesidade e preconceito
Atualmente, a taxa de discriminação pelo excesso de peso é comparável às taxas de discriminação pela raça e pela idade. (...)

Obesidade e preconceito
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Atualmente, a taxa de discriminação pelo excesso de peso é comparável às taxas de discriminação pela raça e pela idade.
TEXTO: A obesidade representa uma sobrecarga cada vez maior para os sistemas de saúde, dado que afeta mais de 20% das populações ocidentais. Em Portugal, na última década, a sua prevalência passou de cerca de 14% para 28%. Esta duplicação é assustadora, porque a obesidade aumenta significativamente o risco de desenvolver diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemia, doença hepática da obesidade (fígado gordo, na gíria popular). Muitas destas situações passam despercebidas durante anos, sem complicações clínicas evidentes, pelo que a consciencialização, tanto dos doentes como dos profissionais de saúde, é essencial para que sejam desenhadas estratégias de diagnóstico e possam ser realizados rastreios adequados. A obesidade está ainda associada a outras patologias, como a doença cardíaca coronária, acidente vascular cerebral, demência, apneia obstrutiva do sono e diversos tipos de cancro. Cada vez mais reconhecemos que a noção de distribuição de gordura, em vez do Índice de Massa Corporal (relação peso/estatura ao quadrado), está subjacente ao risco de doenças metabólicas em indivíduos obesos. A obesidade abdominal é o problema real. Costumo dizer aos meus doentes: diga-me o número das suas calças (saias) e digo-lhe que risco corre. Mais do que tratar a obesidade, precisamos de a prevenir através de mudanças no estilo de vida. Para isso, precisamos de mudanças na sociedade: mais atividade física e melhoria nos hábitos alimentares. A obesidade traz também consigo um estigma e um preconceito. Atualmente, a taxa de discriminação pelo excesso de peso é comparável às taxas de discriminação pela raça e pela idade, especialmente entre as mulheres. Em 1995-1996, a discriminação por excesso de peso foi relatada por 7% dos adultos dos EUA. Em 2004-2006, essa percentagem subiu para 12%. A discriminação está associada à estigmatização, ou seja, estereótipos negativos e preconceitos endossados por empregadores, prestadores de cuidados de saúde, professores, colegas, familiares e pela comunicação social. A discriminação assume comportamentos e formas diferentes, incluindo tratamento injusto, como despedimento de um emprego por causa do excesso de peso, ter salários inferiores, ou até a nível médico não receber tratamento médico adequado (recusa de uma cirurgia até atingir um peso predefinido). Estudantes com excesso de peso e obesos estão sujeitos a estigmatização por colegas e educadores. Os professores têm perceções preconcebidas sobre as capacidades dos jovens com excesso de peso ou obesidade, considerando que possuem menores competências sociais, de raciocínio, físicas e de cooperação do que os alunos com peso dito normal. Apesar do preconceito generalizado em relação a essa população, muitas dúvidas permanecem sobre a natureza, extensão e impacto da estigmatização baseada no peso e experimentada por muitos. Estas importantes questões só podem ser adequadamente ultrapassadas pelo aumento da consciência da sua existência, por debates alargados e por campanhas de promoção da literacia em saúde. Termino com um exemplo do que pode ser um preconceito, citando Cristina Cairo em A linguagem do Corpo:“A gordura é o casulo que a pessoa cria, inconscientemente, para se proteger e se esconder dos problemas externos. [. . . ]Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Muitas vezes a gordura é uma forma convenientemente usada para se conseguirem certos benefícios, como atrair a compaixão de outras pessoas, deixar de trabalhar naquilo que não gosta, escapar de certas obrigações que limitam sua liberdade e até mesmo testar o amor e a fidelidade do cônjuge. Mais uma vez vemos que o perigo está em nossa mente, não no mundo em que vivemos, e nem nos alimentos que comemos. ”O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Queijos, fiambre e sopas à venda em Portugal têm 70% de sal a mais
Açúcar também ultrapassa valores recomendados em centenas de alimentos analisados pelo Instituto Ricardo Jorge. Especialistas estão preocupados com consumo excessivo entre as crianças. Redução terá de ser drástica para cumprir metas de alimentação saudável aprovadas pelo Governo até 2020. (...)

Queijos, fiambre e sopas à venda em Portugal têm 70% de sal a mais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-10-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Açúcar também ultrapassa valores recomendados em centenas de alimentos analisados pelo Instituto Ricardo Jorge. Especialistas estão preocupados com consumo excessivo entre as crianças. Redução terá de ser drástica para cumprir metas de alimentação saudável aprovadas pelo Governo até 2020.
TEXTO: Os alimentos processados à venda em Portugal têm níveis de açúcar acima dos recomendados pelas autoridades de saúde e, relativamente ao sal, terão de sofrer um corte de 70% até 2020. A conclusão é de dois estudos do Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge que detectaram valores considerados preocupantes em todas as categorias de alimentos analisadas — tostas, sopas, fiambres e queijos, no que toca ao sal, mas também iogurtes e cereais de pequeno-almoço, relativamente ao açúcar. Todos estes alimentos têm valores acima do recomendado pela Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável (EIPAS), um plano aprovado pelo Governo, e cujas metas devem ser cumpridas até 2020: cinco gramas de consumo diário de sal e 50 gramas de açúcar (25g para menores de idade). Em Portugal, a quantidade de sal ingerida diariamente, em média, está 2, 3 gramas acima do valor recomendado pela Organização Mundial de Saúde (cinco gramas) — sendo que 66% das mulheres e 86% dos homens consomem sal em excesso. Pão, tostas, produtos de charcutaria e sopas são os produtos alimentares que mais contribuem para esse consumo abusivo, indica o estudo. Em relação às sopas prontas para consumo (ou seja, as sopas embaladas que estão à venda nos supermercados), no total das 382 ofertas consideradas, o teor de sal chega a atingir 2, 05g por cada 100g. Só relativamente a este tipo de produtos, o programa governamental EIPAS vai obrigar a uma redução de sal na ordem dos 80% nos próximos dois anos, retirando em média 0, 13g de sal por cada 100g de sopa. Ainda assim, e numa comparação com os valores detectados em alimentos comercializados noutros países europeus, Portugal até tem das sopas com teores de sal mais baixos à venda, a par da Irlanda. Já nos fiambres (porco, frango e peru), é Portugal que lidera a lista de países europeus onde se encontra teores de sal mais elevados. O valor médio detectado pelo Instituto Ricardo Jorge é de 3, 3 g/100 g, enquanto no Reino Unido os valores rondam os 0, 5g/100g. Novamente, a redução de sal exigida pelo EIPAS terá de ser superior a 80% para atingir nos próximos dois anos os 0, 3g/100g recomendados. O mesmo se passa com os queijos (flamengo, fresco, mozarela, creme, etc. ). Dos 93 produtos estudados, apenas dois têm um teor de sal inferior aos 0, 3g/100g de referência. E se em França a média de sal por produto de queijo ronda os 0, 1g/100g, em Portugal o valor dispara para 2, 6g/100g. Nos próximos dois anos, os queijos à venda em Portugal terão de ter menos 75% da quantidade de sal actual. Nas 126 tostas (de cereais, normais e integrais) avaliadas, apenas duas cumprem os valores de referência. Até 2020, terá de haver uma redução de sal na ordem dos 70%. Pedro Graça, director do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direcção-Geral de Saúde (DGS), ressalva que não foram analisados todos os produtos existentes no mercado, e que os valores médios dos lotes avaliados podem não corresponder aos números relativos aos produtos que os portugueses consomem de facto. "Se fizesse uma média ponderada do que os portugueses comem, o risco da ingestão de sal era menor do que no estudo", admite o especialista em declarações ao PÚBLICO. No que diz respeito ao açúcar, os investigadores avaliaram os cereais de pequeno-almoço e iogurtes disponíveis no mercado. Dos 122 iogurtes sólidos analisados, apenas 22 cumprem as recomendações definidas (5g/100g) pelo programa do Governo. O cenário é mais grave nos iogurtes líquidos — nenhum dos 45 produtos analisados respeita os valores (2, 5g/100ml). Quanto aos 103 cereais de pequeno-almoço avaliados, apenas seis cumprem o valor recomendado de açúcar para aquele tipo de produto (5g/100g). Tendo em conta que os cereais e os iogurtes são "alimentos frequentemente consumidos por crianças", o estudo aponta para a necessidade de intervir na indústria para que haja uma redução dos níveis de açúcar. Graça Raimundo, vice-presidente da direcção da Ordem dos Nutricionistas, acredita que deve haver uma “atenção especial por parte dos pais mas também das escolas” na selecção dos produtos consumidos. E realça que “o gosto se educa”, razão pela qual os pais devem ser mais “assertivos” na educação alimentar que dão aos filhos. Também Pedro Graça lembra que é durante os primeiros anos de vida que as crianças desenvolvem o paladar e que são educadas a preferir os sabores salgados e doces. Consumos excessivos nestas idades podem estar associados, décadas mais tarde, ao aparecimento de doenças como a diabetes ou acidentes vasculares cerebrais. "Essas patologias não são todas condicionadas, mas uma grande parte é. É condicionada pelo que os pais colocam na mesa dos seus filhos quando eles ainda não têm idade para decidir", defende o especialista. "Os pais pensam que estão a ser amigos ao dar um doce ou um salgado — mas o que estão a fazer é a condicionar o gosto da criança para o doce ou para o salgado, com consequências gravosas para o resto da vida. "O responsável da DGS ressalva contudo que o estudo do Instituto Ricardo Jorge não distingue entre o açúcar naturalmente presente nos alimentos e o açúcar adicionado no processo de fabrico, o que poderá distorcer alguns valores apresentados. Por exemplo, e no caso dos iogurtes, a lactose é um açúcar naturalmente presente a que se somam depois açúcares adicionados de forma indiferenciada. Para reduzir o consumo de açúcar e atingir os objectivos de 50 gramas diárias até 2020, Portugal tem avançado com algumas medidas, como é o caso da diminuição da quantidade de açúcar nos tradicionais pacotinhos disponibilizados nos cafés e restaurantes. Nos estabelecimentos das grandes superfícies, como num centro comercial, o Governo pretende reduzir os actuais oito gramas de açúcar por pacote para um máximo de quatro gramas até ao final de 2019. Graça Raimundo põe a tónica na sensibilização do consumidor, o que passa por, entre outras medidas, aumentar a literacia relativamente aos rótulos dos produtos alimentares. Os produtos processados “devem ser consumidos em pequenas quantidades”, dando-se primazia a alimentos naturais – se bem que seja necessário haver cuidados na sua confecção caseira, não adicionando demasiado sal ou açúcar. Mas a nutricionista também atribui responsabilidades à indústria alimentar, que deverá reduzir gradualmente os níveis de sal e de açúcar dos seus produtos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O trabalho junto da indústria alimentar já tem estado a ser desenvolvido, afirma Pedro Graça, mas de uma forma gradual, pois os "gostos e sabores não podem ser modificados de um momento para o outro". Se todos os anos se reduzisse "4% ou 5% do sal e do açúcar nos alimentos processados", ao "fim de quatro anos as reduções estariam na ordem dos 16% ou 20%", o que seria ideal, diz o especialista. Alguns países, como a Itália, estão já próximos dos valores recomendados pela Organização Mundial da Saúde, trabalhando há vários anos nesse sentido. A má alimentação está entre os factores responsáveis por mais de metade das doenças crónicas registadas em Portugal. Desde vários tipos de cancro às doenças cardíacas, passando pelas diabetes e as desordens ósseas e musculares, os efeitos negativos de uma alimentação desequilibrada representam a principal causa de morte e de incapacidade no país. Notícia actualizada às 12h15 de quarta-feira com esclarecimento sobre a percentagem de doenças crónicas resultantes da má alimentação e estilos de vida pouco saudáveis.
REFERÊNCIAS:
Estamos mais gordos do que pensávamos. Dois terços dos adultos têm excesso de peso
Primeiro inquérito nacional de saúde com exame físico comprova elevada prevalência de doenças crónicas na população adulta. (...)

Estamos mais gordos do que pensávamos. Dois terços dos adultos têm excesso de peso
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181229210621/http://publico.pt/1733566
SUMÁRIO: Primeiro inquérito nacional de saúde com exame físico comprova elevada prevalência de doenças crónicas na população adulta.
TEXTO: É indesmentível: uma parte significativa da população adulta em Portugal tem excesso de peso ou é mesmo obesa. Cerca de dois terços das pessoas pesadas e medidas no primeiro inquérito nacional de saúde com exame físico, em 2015, tinham um índice de massa corporal igual ou superior a 25 kg/m2, o que corresponde a excesso de peso, e 28, 7% eram já obesas. São dados preliminares do primeiro estudo de âmbito nacional realizado com esta metodologia que vão ser apresentados esta terça-feira em Lisboa e que suplantam em muito os resultados de inquéritos anteriores. A prevalência de obesidade surpreende e alarma a endocrinologista Isabel do Carmo, que conduziu dois estudos sobre este problema em 2004 e 2008 e que frisa que o resultado agora conhecido corresponde ao dobro do encontrado nessa altura. “Há uma grande subida na obesidade. É brutal. Estamos ao nível da Inglaterra”, lamenta Isabel do Carmo, que associa este resultado ao ”tipo de vida” que os portugueses fazem e acredita que a crise económica contribuiu para agravar a situação. “Isto é o espelho da crise, a comida barata é hipercalórica”, acentua. Cauteloso, Pedro Graça, director do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, assume que os números são, de facto, substancialmente mais elevados do que seria de esperar, mas nota que o anterior inquérito nacional de saúde (de 2014) se baseava apenas nas declarações dos inquiridos (auto-reporte) e incluía jovens desde os 18 anos (ao contrário deste, que incidiu sobre uma amostra representativa de 4911 pessoas dos 25 aos 74 anos), pelo que não podem ser comparados. Pedro Graça nota também que os dados são ainda preliminares. No inquérito de 2014, a prevalência de obesidade era de 16, 4%. “O que é auto-reportado é sub-reportado. As pessoas acham que são mais magras e mais altas”, explica. Mas os resultados deste primeiro inquérito nacional de saúde — que, além da clássica entrevista, incluíram um exame físico (com medição da tensão arterial, peso, altura e perímetros da cintura e anca) e colheita de sangue para análises — são muito mais abrangentes. Além de proporcionarem uma visão do estado de saúde da população, dos seus comportamentos de risco e de protecção para a doença, os indicadores permitem perceber a adesão aos cuidados de saúde preventivos. Olhando para o manancial de resultados preliminares, conclui-se que é, de facto, elevada a prevalência de algumas doenças crónicas, não só a obesidade, mas também a hipertensão (36% dos inquiridos apresentam valores superiores aos ideais), a diabetes (9, 8% tomam antidiabéticos ou têm diagnóstico de diabetes), a hipercolesterolémia (52, 3% tinham um colesterol superior a 190mg/dl). Há uma grande subida na obesidade. É brutal. Estamos ao nível da Inglaterra. Isto é o espelho da crise, a comida barata é hipercalóricaPara o investigador principal, Carlos Matias Dias, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), a elevada prevalência de algumas doenças crónicas não constitui novidade. O que o coordenador do Departamento de Epidemiologia do Insa destaca é a desigualdade entre regiões e as diferenças socioeconómicas que os dados demonstram. São geralmente as pessoas com menos instrução e com actividade não remunerada ou sem actividade que apresentam os valores mais desfavoráveis, quer em termos de doenças, quer nos determinantes, sublinha. Os homens revelam prevalências mais elevadas do que as mulheres no caso da hipertensão arterial (39, 6% contra 32, 7%) e da diabetes (12, 1% contra 7, 7%). E, apesar de haver mais mulheres obesas (32, 1% do total), o excesso de peso e a obesidade abdominal (também medida por constituir um importante factor de risco para doenças cardiovasculares) são mais frequentes na população masculina. A prevalência destas doenças aumenta também com a idade. Os valores mais elevados verificam-se entre os 65 e os 74 anos (nesta faixa etária 71, 3 dos inquiridos são hipertensos, 41, 3%, obesos, enquanto 23, 8% sofrem de diabetes). Comparando as sete regiões do país, é no Norte que se encontram os valores mais elevados de hipertensão arterial e de obesidade, enquanto os Açores apresentam piores indicadores na prevalência de diabetes. As diferenças encontradas são importantes para a priorização das intervenções no terreno, sublinha, a propósito, Carlos Dias. Nos determinantes de saúde, 79, 3% dos inquiridos afirmaram consumir fruta diariamente, enquanto 73, 3% comiam legumes ou vegetais pelo menos uma vez por dia. Mas no grupo mais jovem a prevalência destes consumos é bem inferior, tal como o é na população desempregada. Já o sedentarismo nos tempos livres é declarado por 44, 8% da população entrevistada. Cerca de um terço afirmava que praticava, pelo menos uma vez por semana, actividade física "de forma a transpirar ou sentir cansaço". A merecer também destaque surge a elevada percentagem de homens, 33, 8%, que assume ter tido um "consumo perigoso de álcool" (binge drinking), percentagem essa que no grupo mais jovem sobe para 51, 9%. Aqui, curiosamente, são os indivíduos com escolaridade mais elevada que admitem o consumo excessivo e pontual de álcool. Quanto ao consumo do tabaco, este é reportado por 28, 3% dos homens e 16, 4% das mulheres, observando-se prevalências mais elevadas nos grupos mais jovens. A exposição ambiental ao fumo do tabaco afectava 12, 8% dos inquiridos. Nos comportamentos preventivos, percebe-se que a maior parte das mulheres entre os 50 e os 69 anos (94, 8%) tinha feito uma mamografia nos dois anos anteriores à entrevista e que 86, 3% fizera uma citologia cervico-vaginal nos três anos anteriores. Mas a pesquisa de sangue oculto nas fezes, exame preconizado para o rastreio do cancro colorrectal, apenas tinha sido efectuada por 45, 7% dos entrevistados. Outro dado curioso: nos 12 meses anteriores à entrevista, um pouco mais de metade da população estudada (51, 3%) disse ter consultado um profissional de saúde oral. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sublinhando a importância deste inquérito, que é "centrado no cidadão em vez de ser centrado na doença", Raquel Lucas, do Departamento de Epidemiologia Clínica e Medicina Preditiva do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, observa que os dados confirmam que há indicadores que estão a melhorar, como o da pressão arterial, graças ao acesso ao tratamento, ao contrário do que acontece com outros. “Tem melhorado o que se corrige com fármacos, mais do que o que se corrige com comportamentos, como a obesidade”, acentua. “Esta é uma primeira abordagem já com a preocupação de mostrar a diferença entre homens e mulheres e entre regiões e as desigualdades que poderão ser colmatadas pelo sistema de saúde”, sublinha ainda a investigadora, que vai ficar a aguardar por mais dados. A pergunta seguinte, propõe, é a de saber quantas destas assimetrias regionais resultam da organização dos cuidados de saúde. Este inquérito foi promovido e desenvolvido pelo Insa e as sete regiões de saúde do país em parceria com o Instituto Norueguês de Saúde Pública. Com um orçamento total de um milhão e meio de euros, foi financiado em 85% pelo Programa Iniciativas em Saúde Pública (EEA Grants), sendo o restante da responsabilidade do Ministério da Saúde.
REFERÊNCIAS:
Estudo conclui que filhos de mães pouco escolarizadas tendem a ser obesos
Em Portugal, 21% das crianças têm excesso de peso e 6,5% são obesas. (...)

Estudo conclui que filhos de mães pouco escolarizadas tendem a ser obesos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.4
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181229210621/https://www.publico.pt/n1725843
SUMÁRIO: Em Portugal, 21% das crianças têm excesso de peso e 6,5% são obesas.
TEXTO: Dois investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) participaram num estudo internacional que conclui que os filhos de mães com baixa escolaridade apresentam um risco maior de terem excesso de peso e obesidade. De acordo com um comunicado sobre o estudo enviado pelo ISPUP, no qual participam os investigadores Henrique Barros e Sofia Correia, da Unidade de Pesquisa de Epidemiologia daquele instituto, em Portugal registaram-se “percentagens elevadas e excesso de peso e de obesidade e uma percentagem elevada de mães pouco escolarizadas”. Apesar das desigualdades de género terem sido semelhantes às observadas em outros países europeus, a diferença absoluta na proporção de excesso de peso entre os extremos de escolaridade foi “particularmente elevada nas raparigas”, acrescenta. Portugal apresentou uma percentagem de 21% de crianças com excesso de peso (resultado parecido com o observado em Espanha e Reino Unido), variando entre 9% na Holanda e 24% na Grécia e em Itália, lê-se na nota informativa. Em relação à obesidade, o estudo mostrou variações entre 1% em França e 6. 5% em Portugal. Para a investigação Impacto da Baixa Escolaridade Materna no Excesso de Peso e Obesidade na Primeira Infância na Europa foram recolhidos dados de 11 estudos europeus de coorte - projectos prospectivos em que os participantes são avaliados ao longo do tempo. Esses estudos, iniciados em fases “muito precoces”, levaram a num total de 45 413 crianças entre os 4 e os 7 anos, tendo os dados nacionais sido recolhidos no âmbito do projecto Geração XXI, coorte que segue mais de 8500 crianças desde o nascimento (em 2005-2006). “Independentemente de outras características, o risco de excesso de peso em crianças de mães pouco escolarizadas foi cerca 1. 6 vezes superior ao daquelas no topo da hierarquia”, valor que aumentou para 2. 6 quando avaliado o risco de obesidade, explicou Sofia Correia. “Em termos absolutos, verifica-se uma diferença média entre os extremos de escolaridade na proporção de excesso de peso e de obesidade de quase 8% e 4%, respectivamente”, acrescentou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Durante o estudo foram também observadas diferenças sociais na composição corporal das crianças em diferentes países europeus, o que pode contribuir para “perpetuar a desvantagem social” em saúde nos próximos anos, informa ainda o comunicado. Os autores do estudo concluem que estes resultados “reforçam a urgência de uma intervenção precoce, mesmo antes do nascimento, no sentido de alcançar equidade em saúde”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social género estudo