As bruxas de Berlim
Luca Guadagnino quis fazer do clássico de Dario Argento, Suspiria, mais do que “apenas” um filme de género. Foi esse o seu erro, numa remake que tem ideias a mais e cabeça a menos. (...)

As bruxas de Berlim
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Luca Guadagnino quis fazer do clássico de Dario Argento, Suspiria, mais do que “apenas” um filme de género. Foi esse o seu erro, numa remake que tem ideias a mais e cabeça a menos.
TEXTO: Talvez o melhor que se possa dizer desta nova encarnação de Suspiria seja que Luca Guadagnino não quis fazer uma simples remake do filme de Dario Argento. O original de 1977 era um tour-de-force esteta e estético, um filme onde a narrativa fantasmagórica servia apenas de pretexto para algo de visceral, uma experiência onde o espectador se abandonava ao bombardeamento caleidoscópico de cores, sons e corpos. Guadagnino e o seu argumentista, David Kajganich, reencontrando-se depois do passo em falso de Mergulho Profundo (2015 — já então uma remake falhada, para A Piscina), querem emprestar outra seriedade à história. Tudo se passa agora na Berlim de 1977, dividida pelo muro, numa “Alemanha no Outono” dilacerada pelos atentados da Facção Exército Vermelho e do grupo Baader-Meinhof. Mas mais valia terem ficado quietos: o seu Suspiria não peca por falta de ideias, peca pelo seu excesso e, paradoxalmente, pela paralisia de não saber o que fazer com todas. A história da “menina (literalmente) na mão das bruxas” — a jovem bailarina americana que chega a uma prestigiada academia de dança alemã e dá por si envolvida num pesadelo sobrenatural — é literalizada por Guadagnino e Kajganich de modo tão óbvio que até dói. Susie Bannion, que vem de uma comunidade fundamentalista e repressiva, encontra-se num lar de bruxas, literal e metafórico — um espaço inteiramente feminino, sem homens, cujo corpo docente tem poderes sobrenaturais e se alimenta do “sangue novo” que vai entrando. Mas mesmo neste “éden” demoníaco há uma luta surda pelo poder e pela direcção da academia, reflectindo o contexto sociopolítico em que Guadagnino e Kajganich situam o seu filme, entre continuação e ruptura, status quo e revolução. Realização: Luca Guadagnino Actor(es): Chloë Grace Moretz, Tilda Swinton, Doris Hick, Dakota Johnson, Angela WinklerNão é mal pensado responder ao formalismo cor de sangue de Suspiria 1977 com uma tonalidade plúmbea que remete para os “anos de chumbo” que se viviam, nem moldar a trama num filme de terror assumido, que reserva a Susie (naquela que é a melhor ideia do filme) um outro papel que não o imaginado por Argento e Daria Nicolodi. E há de facto algo de genuinamente interessante no modo como o corpo (feminino, sempre feminino) e o seu movimento são o centro do filme, geradores de vida e de morte pelo simples poder da sua presença. Ficasse Suspiria 2018 por aí e não seria mau filme. Só que, ao excesso grand-guignol de Argento, Guadagnino quis responder com um excesso tout court, e vá de reflectir a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto, os traumas do pós-guerra, a culpa, a vergonha, o fundamentalismo, carregando o conto de fadas macabro de ganga e lastro que em nada o servem. Luca Guadagnino quis fazer de Suspiria mais do que “apenas” um filme de género. Foi esse o seu erro. Talvez não fosse má ideia o rapaz abster-se de fazer remakes.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens guerra comunidade género corpo vergonha
Advogado de Ronaldo diz que documentos divulgados pelos media foram “fabricados”
Peter S. Christiansen, advogado norte-americano que irá representar Cristiano Ronaldo, se for acusado de violação, diz que os documentos foram roubados a sociedades de advogados por um hacker, que os vendeu a meios de comunicação com algumas partes adulteradas “ou completamente fabricadas”. (...)

Advogado de Ronaldo diz que documentos divulgados pelos media foram “fabricados”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Peter S. Christiansen, advogado norte-americano que irá representar Cristiano Ronaldo, se for acusado de violação, diz que os documentos foram roubados a sociedades de advogados por um hacker, que os vendeu a meios de comunicação com algumas partes adulteradas “ou completamente fabricadas”.
TEXTO: As razões que levaram o jogador Cristiano Ronaldo a celebrar um acordo e a pagar 375 mil dólares a Kathryn Mayorga, a norte-americana que o acusou de a ter violado em 2009, num hotel de Las Vegas, foram “distorcidas”. Quem o garante é Peter S. Christiansen, o advogado norte-americano que foi contratado para defender o jogador português na acção cível intentada pela ex-modelo. Num primeiro comunicado, divulgado na íntegra pela TVI, mas que também já constava no site da Gestifute, o representante legal do jogador de futebol alega que tudo o que aconteceu em Las Vegas foi “consensual” e que o pagamento a Mayorga não representa “uma admissão de culpa”. “O que aconteceu foi simplesmente que Cristiano Ronaldo se limitou a seguir o conselho dos seus assessores no sentido de pôr termo às acusações ultrajantes feitas contra ele, a fim justamente de evitar então tentativas, como aquelas a que estamos a assistir agora, de destruição de uma reputação construída graças a um trabalho intenso (. . . ). Infelizmente, vê-se agora envolvido no tipo de litigiosidade que é muito comum nos Estados Unidos” lê-se no comunicado, cuja proveniência foi confirmada ao PÚBLICO pelo escritório de Peter S. Christiansen, no Nevada, onde corre a acção cível contra o jogador da Juventus. Não é a primeira vez que Cristiano Ronaldo nega as acusações de violação de que é alvo – já o fez uma vez, através de uma publicação no Twitter –, mas a mensagem foi agora reforçada pelo seu advogado. “Cristiano Ronaldo nega veementemente todas as acusações constantes da referida acção cível, em coerência com o que tem feito nos últimos nove anos”, lê-se no comunicado. Na nota, Christiansen sustenta que os documentos “que supostamente contêm declarações do sr. Ronaldo e foram reproduzidos nos media são puras invenções”. O advogado refere-se aos documentos divulgados pela revista Der Spiegel — o acordo de confidencialidade e as respostas do jogador aos inquéritos a que foi sujeito no âmbito da respectiva mediação extrajudicial — e que diz terem sido roubados a sociedades de advogados por um hacker que os vendeu a meios de comunicação com algumas partes adulteradas “ou completamente fabricadas”. Dizendo-se convencido de que “a verdade prevalecerá” e que as leis de Nevada “serão aplicadas e respeitadas”, o advogado de Ronaldo não revela qual será a estratégia da defesa. Segundo a acusação interposta num tribunal do Nevada, o jogador terá alegado no decurso deste processo que o sexo foi consensual e que as lesões que Kathryn apresentava no ânus terão sido provocadas por outra pessoa. Cristiano terá, aliás, sustentado, segundo o mesmo jornal, que, consumadas as relações sexuais, regressou à discoteca com Kathryn. O Correio da Manhã noticia esta quarta-feira que terá sido o Real Madrid, que acabara de contratar o jogador até então ao serviço do Manchester United, a pressioná-lo para assinar o acordo com a norte-americana, numa tentativa de abafar qualquer eventual escândalo em torno da sua mais recente aquisição. O PÚBLICO questionou o clube espanhol, mas não obteve qualquer reacção a esta alegação. A polícia de Las Vegas, por seu turno, já veio entretanto negar que as provas recolhidas quando Kathryn Mayorga foi apresentar queixa, nomeadamente o vestido e a roupa interior que envergava na altura, tenham desaparecido. Quem o sustentara fora o advogado da ex-modelo, Leslie Stovall. No início de Outubro, a polícia de Las Vegas anunciou que reabrira, no mês anterior, uma investigação a uma queixa de violação apresentada em 2009 por Kathryn Mayorga. Dias antes, a Der Spiegel escrevia que a ex-modelo tinha interposto um processo contra Ronaldo num tribunal do condado de Clark, no estado norte-americano do Nevada. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por enquanto, Cristiano Ronaldo é visado apenas numa acção cível que pede a anulação do acordo de confidencialidade que pressupôs o pagamento de cerca de 323 mil euros a Kathryn e o acusa de vários crimes: agressão e abuso sexual, imposição intencional de sofrimento emocional, coacção e fraude, chantagem e conspiração, difamação, abuso de direito. Mas se for julgado e declarado culpado do crime de violação no âmbito de um processo penal, Cristiano Ronaldo arrisca uma pena de prisão perpétua. No estado do Nevada, as agressões sexuais são encaradas o crime mais grave logo depois do homicídio. Ao PÚBLICO Peter S. Christiansen recusou qualquer comentário adicional sobre este caso. No seu site, diz-se especializado em escrutinar todos os aspectos relacionados com acusações envolvendo violência sexual e violação e lembra que “infelizmente, sem uma defesa forte, é fácil que falsas alegações conduzam a condenações”. “Lutamos para proteger os nossos clientes de acusações falsas”, sublinha, lembrando que as pessoas acusadas de violação correm o risco de uma severa condenação, “incluindo décadas na prisão e o risco de ficarem registadas como abusadoras sexuais”, podendo por isso “perder o direito de estar perto de crianças”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime homicídio violência tribunal prisão violação sexo sexual abuso chantagem
Quando o design entra num bairro também o pode transformar
No Bairro do Lagarteiro, no Porto, Cecília Carvalho testou ferramentas de comunicação capazes de despertar a mudança. Uma ode ao design livre de tecnologia que não deixa ninguém de fora. E pode ser o início de uma outra narrativa. (...)

Quando o design entra num bairro também o pode transformar
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: No Bairro do Lagarteiro, no Porto, Cecília Carvalho testou ferramentas de comunicação capazes de despertar a mudança. Uma ode ao design livre de tecnologia que não deixa ninguém de fora. E pode ser o início de uma outra narrativa.
TEXTO: Na pergunta provocatória do assistente social da junta de freguesia de Campanhã cabia todo o combate de Cecília Carvalho. “Mas o que é que o design tem a ver com os pobres?”, perguntou José António Pinto quando a designer lhe pediu ajuda para a investigação da sua tese de doutoramento. Cecília queria estudar os contributos do design para a transformação em contextos desfavorecidos a partir do Bairro do Lagarteiro, no Porto. E isso soava estranho ao assistente social a quem a Assembleia da República deu, em 2013, a medalha de ouro da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Cecília Carvalho sorri. Aquela conversa, em Fevereiro de 2015, foi o início de tudo — e depois de cerca de ano e meio no terreno e da tese de doutoramento ter sido defendida em Julho, e aprovada por unanimidade, José António Pinto já não questiona a relevância do design na área social. E Cecília já não é a designer que era. A ideia já fazia parte da sua cartilha de princípios, mas depois do Lagarteiro ganhou certezas fechadas a cadeado: “Se não for junto das pessoas, o design e a investigação nesta área não valem a pena. É tempo desperdiçado. ”A entrada no bairro fez-se vagarosa. Cecília Carvalho acompanhou “Chalana” — como é conhecido o assistente social — em alguns domicílios e nos atendimentos no bloco 3 do Lagarteiro. Foi percebendo quem poderia desafiar a integrar o projecto. Ganhou um gabinete no mesmo bloco do bairro e, pouco a pouco, a confiança de quem habita aquela geografia oriental. Em Utopia nas margens: o papel do design na co-criação de alternativas num contexto de exclusão social, arquitectaram-se estratégias de comunicação capazes de despertar a mudança de hábitos alimentares entre esta população. A ideia, explica a designer de 41 anos, é continuar a aplicar as ferramentas desenvolvidas na tese. E isso pode ou não acontecer tendo a alimentação como tema. Pode ou não ser no Lagarteiro. “Aquilo que identifiquei em diagnóstico não tem a ver apenas com o Lagarteiro, mas com a sociedade actual. ”Ana Lúcia Lencastre puxa pela memória com o auxílio do “livro de histórias” escrito por Cecília. “Já foi há tanto tempo”, comenta sorridente quando desafiada a recordar o dia em que aceitou integrar a investigação da aluna da Universidade do Porto. “Aceitei logo e fui a única que foi quase sempre [às sessões]”, comenta orgulhosa. Naquelas páginas, uma espécie de guião de abordagem aos habitantes e um convite à participação, Cecília Carvalho contava que também ela havia crescido num bairro, o Parceria Antunes, numa tentativa de quebrar possíveis “cerimónias” e “desconstruir a figura de autoridade” a que poderiam associá-la. E cumpria uma dupla viagem: mostrar como tinha ali chegado e explicar até onde queria ir. O plano tinha raízes na sua tese de mestrado. Ao trabalhar com pessoas com deficiência motora e mergulhar na etnografia, novas luzes iam surgindo. Cecília atou laços de amizade, envolveu-se. E percebeu da maneira mais dolorosa, quando perdeu uma amiga, que a deficiência era apenas a face mais visível do problema daquelas pessoas. Depois veio uma reportagem no PÚBLICO a denunciar um SOS na zona pobre do Porto. “Muita gente acha que para fazer trabalho na área social é preciso ir para muito longe”, aponta. E ela, moradora em Campanhã, a geografia retratada no artigo, sempre quis demonstrar o contrário: “Existe tanta coisa que se pode fazer muito perto. ”A investigação foi realizada com um grupo primário de sete mulheres, entre os 18 e os 43 anos, e envolveu três fases de trabalho: individual, grupal e comunitário. Para desenvolver e testar ferramentas de comunicação, Cecília elegeu o tema da alimentação, “um assunto recorrente nos atendimentos”. Famílias com falta de dinheiro para comer (dois dos agregados familiares entrevistados tinham 50 cêntimos diários por pessoa para alimentação), um serviço de apoio deficitário, elevados índices de doenças corelacionadas com hábitos alimentares. O problema “transversal ao bairro” cor de tijolo erguido em 1973 era um bom ponto de partida para o trabalho — ainda que a ideia fosse criar metodologias válidas para qualquer matéria e contexto. Quando Cecília foi para o terreno, o Lagarteiro “era um lugar crítico, como dizia a iniciativa Bairros Críticos, em período crítico”. E os “constrangimentos financeiros” de um país “ocupado” pela Troika eram um teste para o seu trabalho: “Como desenvolver uma linguagem que permita mobilizar uma comunidade sem investir muito dinheiro e tendo de lidar com grandes dificuldades de literacia?”Os relatos das participantes sobre os hábitos alimentares possibilitaram um diagnóstico “relativizado” — ainda a necessitar de validação de especialistas na área médica ou da nutrição — do cenário do bairro. Apesar da existência de carências graves, Cecília notou “pouca influência do orçamento” nos hábitos dos entrevistados. “Tem mais a ver com aspectos do design do que com aspectos financeiros”, concluiu. E isso instigava a criação de alternativas “com criatividade e usando as circunstâncias e os meios para fazer diferente”. Ana Lúcia e a irmã Bruna, 24 e 20 anos, trazem sacos de compras nas mãos. Foram a casa da mãe, bloco 11 do Lagarteiro, para reencontrar Cecília Carvalho. A mais velha está prestes a ser mãe, a mais nova tem uma menina de sete meses. Os hábitos alimentares eram para a família Lencastre um assunto resolvido — mas pelas piores razões. “O que tinha para comer comia, não pensava muito nisso”, admite Ana Lúcia. E esse assunto está longe de estar arrumado. A semente plantada foi outra. “Um dos meus objectivos era fazê-las perceber que a realidade delas é o princípio de alguma coisa”, sublinha a designer portuense. Mas o próprio envolvimento das participantes era um braço de ferro permanente. A nota da investigadora no seu diário, em Junho de 2015, dá conta disso: “O fim-de-semana trouxe-me preocupações. Estou com receio que as taxas de participação não se compadeçam com as necessidades do projecto. ”Acabou por acontecer. Após o desenvolvimento individual, onde cada participante respondeu a um inquérito exploratório sobre o universo de consumo e hábitos do agregado familiar, gerou-se a discussão. E dessas conversas entre as sete mulheres, passou-se para a fase comunitária, com as participantes a transformaram-se em investigadoras. Ajudaram a construir os questionários e levaram-nos porta a porta. Viver no Lagarteiro influencia a forma como se alimentam, questionava a investigadora. — Olha, aqui no Lagarteiro não há nada!— E o que há, é caro. — Só há as lojas (. . . ) um saco de arroz é para aí um euro. Vamos ao Continente. . . — 60 e tal cêntimos. — 60 e tal cêntimos, 50 e tal cêntimos. . . A gente quer comer qualquer coisa, vem aqui à loja e perde logo a vontade de comer!Os diálogos reproduzidos na tese de Cecília Carvalho são, em si mesmos, uma dissertação. Se a pergunta é o que significa uma alimentação saudável, alguém comenta:— Não comer gorduras, ingerir certas e determinadas vitaminas, porque a gente precisa mais de umas do que de outras. Evitar muitos hidratos de carbono. Mas eu como. Cecília, para mim, o que quiseres comer, tu vais comer. Por isso, deves meter aí uns parênteses: grávida!— Se tivesses que dizer à tua filha o que é uma comida equilibrada, o que lhe dizias?— Filha, não sejas como a mãe! (risos)— Davas-lhe sopa?— Claro! Vou-lhe dar todos os dias. . . de manhã à noite! Meio dia e jantar! (. . . ) A alimentação de uma criança é diferente de um adulto, não é?Plantaram-se dúvidas, discutiram-se opções. Construíram-se cenários 3D das cozinhas, mapearam-se os locais onde faziam compras. Usou-se o trabalho manual como ferramenta para a análise, como apontou Cecília no seu diário, também repleto de desenhos: “De novo, os trabalhos manuais dão azo à conversa que flui entre o que ela queria falar e o que eu lhe ia perguntando. (. . . ) Ao sair disse-me ‘é bem melhor [estar aqui] do que ficar em casa a olhar para as paredes’. ”Para todo o processo, várias ferramentas foram idealizadas: a “. ppt analógica” foi absorver o registo a um Power Point tradicional e transferiu-o para uma folha de papel, numa lógica de “engenharia inversa”; à “BOSa”, matriz desenvolvida na área do marketing, foram adicionadas novas perguntas para uma reflexão mais incisiva; a “Arena das Necessidades”, construída com post-its, tornou mais “sintéticas e elegíveis” as respostas obtidas através da ferramenta anterior, de uma forma “muito visual”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Cecília Carvalho, “a intervenção do design foi capaz de gerar um melhor sentido de comunidade e emancipação colectiva”. E esse é o grande triunfo. Por um lado, a desconstrução do design enquanto “manifestação estética e elitista” (um exercício que também de dentro do ofício seria útil, diz). Por outro, a queda da ideia de que tecnologia é sinónimo de evolução. “As potencialidades do design não estão associadas às coisas mas às atitudes e a uma consciência crítica e criativa”, observa para logo explanar uma teoria: “É perante situações de extrema austeridade que provavelmente se revelam as mais notáveis manifestações do design. ”No Lagarteiro, a designer diagnosticou um apetite latente de comunidade e acção colectiva de mão dada com uma incapacidade em acreditar na mudança. Uma aparente contradição, não tão aguçada se no Lagarteiro se conhecer uma população veterana em sofrimento. Desacreditada de si mesma. A comunhão do design com desenvolvimento comunitário ainda causa “estranheza” a muitos. Mas talvez um fio se tenha atado — ou pelo menos para lá se caminhe. Não é por acaso que Cecília Carvalho cita na sua tese Boaventura Sousa Santos. Se “muitos dos nossos sonhos foram reduzidos ao que existe e o que existe é muitas vezes um pesadelo”, diz, “ser utópico é a maneira mais consistente de ser realista no início do século XXI”.
REFERÊNCIAS:
Entidades TROIKA
O regresso do monstro puritano
Sendo Michael Myers uma ideia, faz sentido que volte em 2018, época em que voltam ideias que julgaríamos mortas. (...)

O regresso do monstro puritano
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181026222343/http://publico.pt/1848533
SUMÁRIO: Sendo Michael Myers uma ideia, faz sentido que volte em 2018, época em que voltam ideias que julgaríamos mortas.
TEXTO: “Tudo o que sei sobre o Mal, aprendi-o em Bowling Green”, dizia John Carpenter referindo-se à cidadezinha do Kentucky onde cresceu. O seu Halloween de 1978 era o filme que mais directamente exprimia esse Mal escondido na vulgaridade da América rural ou suburbana, e Michael Myers a mais plena figuração dele. A sua indestrutibilidade, que alimentou sequelas sobre sequelas (com que Carpenter já nada tinha a ver e que nada tinham a ver com Carpenter), estava já contida no filme original: mais do que um corpo, Myers era (é) uma ideia. Representava a crueldade castradora do puritanismo americano, e a sua vingança sobre a liberdade sexual das raparigas americanas dos anos 70 — o que é toda a história e toda a moral do Halloween de 1978. Realização: David Gordon Green Actor(es): Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Andi Matichak, James Jude CourtneySendo Michael Myers uma ideia, faz sentido que volte em 2018, época em que na América e no resto do mundo também voltam ideias que julgaríamos mortas. A inteligência desta sequela, visível no argumento e na construção narrativa, está em saber tornar-se pertinente no contexto actual sem perder a relação com o original. Convém dizer que não é um projecto totalmente apócrifo: Carpenter tem um crédito de “executive producer” (como Jamie Lee Curtis, que retoma a personagem de Laurie Strode), terá sugerido dicas como “consultor criativo”, e participou no trabalho sobre a banda musical, que retoma e varia sobre a partitura que compôs para o original (algo que não é nada de somenos: o minimalismo electrónico de Carpenter está cheio de personalidade, mesmo se aqui — porque David Gordon Green é só David Gordon Green — a música nunca seja o batimento cardíaco do filme, e tenha um emprego bem mais convencional). Mas falávamos de inteligência e pertinência. Inteligente é, por exemplo, o pormenor de o filme nos introduzir à história a partir de uma perspectiva “humanista”: parece, durante algum tempo, que os protagonistas vão ser o par de psicólogos que quer “compreender” a mente de Michael Myers, e o trata, na visita à prisão-hospital psiquiátrico, como uma criança problemática, até perceberem da pior maneira que não há ali nada a “compreender”, que aquilo não é uma pessoa, é o Mal. E pertinente é a forma como a história se joga atirando os homens para fora (como no original) e ampliando a galeria de figuras femininas: Laurie Strode já é avó, e é na aliança da avó, da filha e da neta que se tem que se fazer frente a Myers — aqueles planos finais que põem três gerações de mulheres a enfrentar o monstro masculino, irracional e violento, constituem talvez a primeira expressão cinematográfica minimamente poderosa (porque ínvia, não ilustrativa) do “tempo do #metoo”. Claro que David Gordon Green não é, de todo, Carpenter, e a sensatez que podemos reconhecer ao projecto não tem um equivalente à altura no seu sentido de mise en scène, com demasiadas cenas filmadas de maneira banal, sobretudo na parte final (quanto mais próximo do clímax mais o filme se arrasta). Mesmo assim, parece-nos obra visível e interessante, para “carpenterianos”, em primeiro lugar, mas também para quem não o seja.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens filha prisão criança sexual mulheres corpo
Cat Power: “Sinto-me a levantar voo”
Depois de chegar a ponderar seriamente abandonar a música e retirar-se para um lugar remoto, Cat Power foi socorrida por Lana del Rey. Wanderer, o álbum que sucede a esse período, é da mais simples e pura beleza egoísta. “Não há choque emocional, não há dor neste álbum. Há amor, há uma finalização sem pontas soltas de muita coisa”. (...)

Cat Power: “Sinto-me a levantar voo”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois de chegar a ponderar seriamente abandonar a música e retirar-se para um lugar remoto, Cat Power foi socorrida por Lana del Rey. Wanderer, o álbum que sucede a esse período, é da mais simples e pura beleza egoísta. “Não há choque emocional, não há dor neste álbum. Há amor, há uma finalização sem pontas soltas de muita coisa”.
TEXTO: Facto mais ou menos mitificado, a Austrália sempre foi encarada como um destino de fuga para quem, pelas mais variadas razões, deseja subtrair-se do mundo (de um certo mundo, pelo menos) e cavar o seu anonimato. Alguém que resolva enfiar-se numa cidade pouco populosa como Burnie-Wynyard, Taree, Echuca-Moama, Wangaratta ou Yeppoon só com muito esforço da sua parte poderá ser apanhado por qualquer radar mediático – por mais foção ou bem calibrado que este possa ser. Quando, há dois anos, a editora Matador rejeitou o novo álbum de Cat Power, alegadamente argumentando que este não cumpria com os mínimos de apelo comercial exigíveis a uma artista com o percurso de Chan Marshall, a cantora manteve-se na estrada a tocar ao vivo para poder pagar a hipoteca da sua casa e sustentar a vida a dois com o filho que deu à luz em 2015. Mas era um piloto automático que tentava, sem grande sucesso, mascarar o pânico da situação em que se via metida. E foi então que Chan, confessa de imediato na entrevista telefónica com o Ípsilon, começou a pensar seriamente no capítulo seguinte da sua vida. Desaparecer do mapa da indústria musical, mudar-se para a Austrália, para um lugar porventura remoto, escrever um livro e dedicar-se a criar o seu filho foi uma das hipóteses mais consistentes que lhe surgiu. Autoria: Cat Power Domino; distri. PopstockE pensou nisso com grande seriedade, perguntando-se durante semanas se queria mesmo começar de novo, se conseguiria inventar um novo ponto de partida quando passsou mais de metade da vida a fazer canções e a mostrá-las ao mundo – em variáveis fases de desestabilização emocional. Sim, porque Cat Power nunca foi muito talhada para correr uma cortina entre a sua vida afectiva e a presença em palco, fazendo das suas actuações diálogos vivos e imprevisíveis com tudo quanto lhe ocupasse a vida no exterior. As canções, com ela, nunca foram mera reprodução de material gravado ou registos imutáveis de um determinado período. Por mais problemáticas e instáveis que fossem, as canções eram a sua vida e eram tudo quanto alguma vez tinha sabido fazer. Chan Marshall tinha pouco mais de 20 anos quando conheceu o director da Matador Records, embora só mais tarde, em 1996, tenha lançado pela editora o seu terceiro álbum What Would the Community Think. A Matador era a casa de Liz Phair e foi ao assegurar algumas primeiras partes da autora de Exile in Guyville – espantoso álbum de Phair que reimagina o clássico dos Rolling Stones Exile on Main St. a partir de um ponto de vista feminista – que Chan conheceu, em 1993, Tim Foljahn (dos Two Dollar Guitar) e Steve Shelley (dos Sonic Youth), os músicos que a acompanharam nos seus dois primeiros álbuns – Dear Sir (1995) e Myra Lee (1996) –, gravados no mesmo dia, em condições muito pouco elaboradas. Após duas décadas de relação com a Matador, Chan Marshall habituara-se a pensar no pessoal da sua editora como família. E foi por isso que a rejeição do material que tinha composto para o álbum que a partir de agora passamos a conhecer como Wanderer foi como uma facada de um pai na confiança da filha. Era já a segunda vez que esta rejeição acontecia. Já a primeira versão do álbum anterior que Cat Power tinha entregado na editora fora mandada para trás. “Já com o Sun [2012] a minha editora estava a exigir que lhe entregasse um hit record”, confirma a cantora. Ora Marshall nunca foi artista de se demorar muito pelas tabelas de vendas, de acumular milhões de visualizações no YouTube, de voltar para casa com Grammys a saltar-lhe do bolso do casaco. “Apesar de nunca ter sido esse tipo de artista”, reconhece, “trabalhei imenso para tentar entregar-lhes aquilo que imaginava que eles queriam de mim e com cada estupor de grama de integridade daquilo que seria a minha visão de um disco para eles. Mas foi muito difícil. ” O processo tornou-se uma experiência exaustiva, Chan esgotou as suas forças criativas, deitou fora um álbum completo e fechou-se num estúdio, em Paris, à procura de respostas até secar a sua conta bancária. “Depois fiquei bastante doente durante um par de anos – fiquei tão stressada que o meu sistema imunitário colapsou. ” Talvez porque o encantador polimento soul de The Greatest prometera uma ascensão a um estrelato que seria difícil de prognosticar à autora da rudeza dos primeiros álbuns; seguramente porque Sun (com a permeabilidade a sonoridades mais “electrónicas”) ascendeu ao top 10 norte-americano, a Matador terá decidido que sabia qual era o caminho que queria para Cat Power. Só que se Cat Power se mostrara manobrável – ou pelo menos disponível para os satisfazer – por alturas de Sun, a situação agora mudara. Em especial porque em 2014, no regresso de uma digressão que a levara até à África do Sul, descobriu que estava grávida. Na altura, no meio de um turbilhão emocional que envolvia não apenas a pressão da editora, mas também um desconforto crescente com a vida nos Estados Unidos, chegou também a considerar mudar-se para a Cidade do Cabo. O possível destino, na verdade, não era assim tão importante; era talvez mais um sintoma do mal-estar que se aporadava de si em território norte-americano, num clima pré-Trump (Marshall foi uma feroz apoiante de Bernie Sanders nas primárias democratas que deram a vitória a Hillary Clinton). “Muitos antes das eleições presidenciais, ainda antes de engravidar, já me cheirava a esturro quando a polícia começou a ficar militarizada na América”, diz. Foi então que se aproximou de grupos ligados ao movimento Occupy, convencida de que John Lennon falhara no seu muito optimista vaticínio de que uma canção podia salvar o mundo. “Para que merda ando eu a cantar?”, perguntou-se então. “Para quê quando há jovens negros, miúdos, a serem alvejados no cabrão do meu país sem qualquer razão?! E enquanto isso os meus amigos só queriam levar-me a farmers markets ou a feiras de antiguidades. Eu a pensar que o país estava todo fodido e que se nada daquilo chegava à televisão estávamos com um problema sério nas mãos. E tudo isto estava a consumir-me porque o consenso generalizado era a negação, a ignorância e a recusa de falar sobre o assunto. ”O mundo à volta de Chan Marshall não estava com bom aspecto. Tinha um ar medonho, de ameaça iminente, de enorme pressão e pouca ou nenhuma tolerância para qualquer passo menos seguro. Só que a gravidez e a maternidade mudaram tudo. Sobretudo a permeabilidade da cantora ao ascendente da Matador sobre a sua vida – “Não queria que interferissem comigo de forma nenhuma que me pudesse deixar doente de novo ou arriscar a minha situação delicada, estando grávida. ” Tendo começado a gravar Wanderer três meses após o parto, o álbum havia de seguir a ideia descomplicada de construção de “um espaço universal, de liberdade individual e de equilíbrio”. Um álbum que era, antes de mais, feito para si e não para responder às expectativas criadas numa folha de excel e nas receitas adequadas ao orçamento anual da editora. O resultado, como já antes o dissemos, foi rejeitado pela Matador, atirando Cat Power para um período de deriva e incerteza. Durante um ano, ponderou se deveria continuar a investir na continuidade da sua carreira. “Mas também não me importava muito porque era mãe, tinha o meu filho, estava muito feliz e não tinha espaço para me sentir zangada ou perdida”, diz ao Ípsilon. Até que, qual personagem providencial de conto de fadas, a feérica e quase ficcional Lana del Rey surgiu no seu caminho e lhe disse algo como “Chan, you’re fucking amazing”. Claro que não disse apenas isto. Convidou-a ainda para uma digressão conjunta que sarou todas as chagas de insegurança da cantautora. “A Lana lembrou-me dos velhos tempos do indie rock dos anos 90 em que toda a gente estava ao mesmo nível”, diz Marshall. “Todos tocávamos nas mesmas salas, partilhámos os mesmos autocarros na estrada, fazíamos digressões conjuntas, juntávamo-nos no backstage… Isso durou muitos anos e havia um verdadeiro sentido de comunidade. Depois as lojas de discos fecharam, apareceu a Apple Music, tudo mudou, as pessoas envelheceram, morreram, tornaram-se pais, professoras, advogadas, desistiram da música ou ficaram ainda mais estupidamente talentosas do que eram. ”Pode dizer-se que Lana del Rey salvou Cat Power – “Ela veio ter comigo para me oferecer uma rosa quando precisava desesperadamente desse gesto, quando sentia que estava tudo acabado”, reconhece Marshall. E há que apreciar a ironia de ter sido Lana del Rey, com fama (mais ou menos justa) de ser a mais articial figura da pop alternativa actual, a relembrar Marshall de uma verdade da música alheia às obrigações contratuais. Aconteceu que essa digressão de salvação com Lana coincidiu com Wanderer a fazer o seu caminho até às mãos de outras editoras, como a Domino, que tudo fizeram para assinar a artista em situação de abandono. A Domino venceu essa corrida, ainda antes de Cat Power ressuscitar a primeira canção que tinha trabalhado para Wanderer mas que não conseguira finalizar a tempo de entrar na proposta inicial do disco. Talvez porque Woman, na sua voz solitária, soava a “uma canção triste da Cat Power a cantar sobre ser mulher”, diz, enquanto ao juntar a voz de Lana del Rey passou a gozar de uma multidimensionalidade feminina que soltou a canção desse ensimesmamento paredes-meias com a lamúria. E Woman transformou-se num cisne, numa magnífica canção solar, possivelmente o degrau que faltava para elevar Wanderer até um álbum acabado, pacificado e pleno. Woman não fazia, portanto, parte da primeira versão de Wanderer que convenceu a Domino a apostar em Cat Power. Mas acabou por ser incluída e, talvez com a ajuda da popularidade mais transversal de Lana del Rey, não demorou a atingir uma popularidade expressa nos mais de três milhões de visualizações que o vídeo contabiliza no YouTube. Nova ironia: Wanderer, rejeitado pela Matador, é um hit record pelos padrões actuais na Domino. A pedra de toque: Woman nunca foi submetido à Matador e foi quase uma recompensa atirada para as mãos da Domino por ter acreditado num álbum em que Cat Power engrenava a marcha-atrás, desligava da corrente os sintetizadores e as electrónicas com que se obrigara a criar Sun, e recuperava uma relação descomplicada com as canções. Chan Marshall ri-se perante a sugestão de que, mesmo de forma acidental, Woman possa funcionar como lição para a Matador, provando que os seus instintos autorais serão, porventura, mais fidedignos do que projecções numéricas. Mas recusa alimentar qualquer discurso de rancor ou ressentimento em relação à sua anterior “família”, nem embarca em qualquer comentário verrinoso ou de vingança consumada. “Quando penso no sucesso deste single”, garante, “não olho para trás e não penso neles – eles desapareceram. Tenho boas memórias do tempo com a Matador, mas não quero pensar nelas, quero avançar com a minha vida, com o meu filho e com os meus amigos. ” Ou seja, não está interessada em qualquer forma de sarcasmo ou de ataque verbal à sua editora porque, conforme diz ter aprendido com a anterior editora, a qualquer momento a sua vida pode mudar. A resposta de Chan Marshall é, aliás, a de quem parece ter lançado todo o seu passado para uma gloriosa fogueira onde vê arder em todo o esplendor medos, ansiedades, remorsos e expectativas que antes equivaliam a um calvário pessoal. O seu tempo verbal, esclarece, passou a ser o presente do indicativo. E não se cansa de agradecer “o amor” que encontrou em fãs e outros artistas como “Florence [Welch], Lana, Neneh Cherry, Patti Smith e Nick Cave”. Wanderer soa, por isso, a conclusão de processo terapêutico, a purga em estádio final, com o passado arrumado em malas propositadamente deixadas fora do porta-bagagens na partida para um novo destino. Mesmo se com Woman, diz Chan, pôde “chegar ao mesmo sítio do qual sabia não ter chegado a partir”. Um falcão instalado no ramo de uma árvore alta, de olhos atentos, derramados sobre um vale ou uma encosta, durante aquele período perfeito da manhã em que o sol acaba de queimar o orvalho que ainda há pouco cobria a vegetação em redor. Talvez o falcão, a esta hora, já se tenha alimentado e queira apenas voar. “Sinto-me assim”, diz Cat Power após oferecer a descrição acima. “Sinto-me a levantar voo e não sinto que haja surpresas. Sinto que é um voo fácil, apoiado, sem peso, equilibrado, que desafia a gravidade. Não há qualquer choque emocional, não há qualquer dor neste álbum. Há amor, há uma finalização sem pontas soltas de muita coisa, há convite, há proclamação. É um grande fogo. ” Um grande fogo purificador, acrescentamos. E que permite a Cat Power fechar a porta que dá acesso ao mundo tumultuoso e conturbado em que vivemos e trancar-se em segurança. Não é apenas o passado que não tem chave para aceder a este Wanderer; é também a América de Trump (ainda que possa ser pressentida em In your face), o desastre ecológico, a ditadura financeira, as lutas pelos recursos primários, os golpes de bastidores, o vómito diário e insuportável de uma miríade de sinais de um apocalipse a que a humanidade se condena. Para Cat Power, Wanderer é um álbum egoísta, de recolhimento pessoal, de sobrevivência íntima, de defesa da sua sanidade física e mental, de construção de uma muralha dentro da qual possa preservar a sua integridade. Se Wanderer sugere uma viagem, essa é uma viagem por lugares sem tempo, com paragem em pequenas povoações, numa deambulação sem rumo e em que interessa a concentração no reduto mais nuclear – de Chan enquanto mulher e enquanto mãe, em que tudo pode ser reduzido a essa micro-escala de dois e em que os males à solta da caixa de Pandora não têm autorização para entrar. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É isso também que justifica um álbum mais alinhado com uma sonoridade folk, blues, country, acústica, guitarras e pianos a bastarem-se como motores para estas onze excelentes canções (Wanderer é a introdução e o encerramento perfeito, In your face é de uma beleza esparsa, aparentada do universo desértico dos Giant Sand, Horizon é uma das canções mais perfeitas e redondas de todo o cancioneiro de Chan, Me voy tem um travo deliciosamente mexicano). Wanderer soa à total despreocupação em espalhar pistas de contemporaneidade – apesar do episódico autotune – por entre os seus versos, ouve-se como um disco imaginado e concretizado com a imprevisibilidade e a espontaneidade da estrada. Como se, mesmo quando Cat Power se atira a uma versão muito pessoal e tocante de Stay (interpretada originalmente por Rihanna), estas fossem ideias recolhidas em viagem e fixadas sem qualquer preparação prévia, como pequenos documentos de final de dia em qualquer poiso de uma noite só. E é precisamente por aí, por esse recolhimento do mundo, que, afinal, percebemos que Chan Marshall encontrou a sua Austrália. Não enquanto refúgio sólido, com geografia definida e fácil de identificar, mas enquanto lugar abstracto que lhe permite viver em liberdade e fazer aquilo que sempre soube fazer melhor: um punhado de grandes canções.
REFERÊNCIAS:
Danças Ocultas pelo mar que leva ao Brasil
Depois da feérica experiência do disco ao vivo de 2016, o quarteto de concertinas de Águeda quis experimentar outras ondas e acabou por aportar ao Brasil. Com Jaques Morelenbaum na produção e Carminho, Zélia Duncan e Dora Morelenbaum por convidados. (...)

Danças Ocultas pelo mar que leva ao Brasil
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.16
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois da feérica experiência do disco ao vivo de 2016, o quarteto de concertinas de Águeda quis experimentar outras ondas e acabou por aportar ao Brasil. Com Jaques Morelenbaum na produção e Carminho, Zélia Duncan e Dora Morelenbaum por convidados.
TEXTO: Há um momento, na vida de um músico ou de um grupo, que se pensa já ter atingido o ponto mais alto ou a perfeição possível. Foi isso que aconteceu ao grupo de concertinas Danças Ocultas, de Águeda, depois de lançarem em 2016 um soberbo disco ao vivo a que chamaram Amplitude, gravado na Casa da Música (Porto) e no CCB (Lisboa) com vários convidados: Filarmonia das Beiras, Carminho, Dead Combo e Rodrigo Leão. Para trás ficara um lote já invejável de discos, numa progressão qualitativa: Danças Ocultas (1996), Ar (1998), Travessa da Espera (2002), Pulsar (2004) e Tarab (2009), além de uma colectânea chamada Alento (2011) e da participação do grupo num disco da jovem cantora e violoncelista brasileira Dom La Nena (o EP Arco, de 2014). A par destas gravações, o grupo foi refinando a sua abordagem ao instrumento, distribuindo as várias “vozes” musicais pelos quatro, à semelhança de um quarteto de cordas clássico: Filipe Cal ficou com as harmonias, Artur Fernandes e Francisco Miguel ficaram com as melodias e Filipe Ricardo toca concertina baixo, que de protótipo passou a instrumento fabricado por encomenda, com um fole que se abre ao tamanho de dois braços abertos. Autoria: Danças Ocultas Danças Ocultas; distri. Sony MusicCom Amplitude, chegados ao seu auge, continuaram a compor mas sem vislumbrarem novo rumo. “Há cerca de dois anos este material ainda estava demasiado em bruto. Com uma angústia muito grande da nossa parte, porque estávamos com alguma dificuldade, a nível dos arranjos, de chegar a soluções diferentes daquelas a que já tínhamos chegado com o repertório anterior. ” Perceberam, então, que precisavam de uma “intervenção artística externa. ” Com uma particularidade, diz Artur Fernandes: “Teria de ser alguém que preferencialmente não nos conhecesse, a nós e aos instrumentos. ” Havia uma razão forte para isso, como sublinha Filipe Cal: “No disco ao vivo, a orquestra amplificava os nossos instrumentos, desde logo pelos arranjos. E desenvolvemos ali um determinado conceito sonoro que, sem pretensiosismos, é muito difícil fazer melhor do que aquilo. Com aquela fórmula, estava feito. Melhor não conseguimos. E agora?”Foram, por isso, pensando em nomes, em possibilidades. “Quando se falou do Jaques Morelenbaum, por ter a ver com o tipo de música que ouvimos, lançámos o convite e ele aceitou. ” Como se tinham candidatado a um apoio da GDA, e ele foi concedido, isso permitiu-lhes viajarem até ao Rio de Janeiro. “O que nos abriu logo uma possibilidade maravilhosa, que foi trabalharmos com músicos locais. ” A sugerir novos horizontes. Jaques Morelenbaum tinha ouvido no Youtube “uma coisa ou outra” dos Danças Ocultas. Por isso, quando recebeu o convite “já sabia a que tipo de coisa vinha”, diz Artur. Filipe recorda que Jaques trabalhara com Carminho e esta participara no disco ao vivo dos Danças Ocultas, havia aí uma ligação: “Ela já lhe tinha falado de nós. ” E a participação de Carminho no espectáculo que deu origem ao disco ao vivo agradou-lhes tanto que os levou “ao impulso de escrever uma música especialmente para a voz dela. ” Foi O teu olhar (com letra de Tiago Torres da Silva) e é uma das três canções, num total de onze temas, na sua maior parte instrumentais, que surgem em Dentro Desse Mar. As outras são As viajantes, com letra de Carlos Rennó, cantada por Zélia Duncan, e Dessa ilha, com letra de Arnaldo Antunes e a voz de Dora Morelenbaum, filha de Jaques. “Estivemos quase um ano, desde o primeiro contacto após o convite ter sido aceite, até às gravações, em Dezembro de 2017, em trocas de mensagens, envios das partituras que tínhamos e trocas de ideias sobre encaminhamento estético e tipo de convidados. Ele foi depois ouvindo, sugerindo e o disco foi sendo construído. ” À ida do grupo para o Brasil as coisas ainda não estavam muito fechadas. “Estávamos até com alguma ansiedade”, diz Artur. Mas tudo fluiu sem contratempos. Trabalharam seis horas por dia no estúdio e, à medida das necessidades, Jaques ia contactando os músicos: Marcos Suzano, Paulo Braga, Lula Galvão, Rogério Caetano, Luís Barcelos, Marcelo Costa, Robertinho Silva, Tiago Abrantes e David Feldman, além do próprio Jaques no violoncelo. Somaram-se, assim, às concertinas do grupo e ao violoncelo de Jaques, percussões, guitarra eléctrica, bandolim, cavaquinho, violões de 6 e 7 cordas, clarinete, piano e piano eléctrico. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Foi, obviamente, um conjunto de contactos privilegiados, mas acima de tudo uma ideia do que cada músico podia fazer em determinada música. Foi esse o grande trabalho de produção dele”, diz Artur Fernandes. Quem ouvir o disco, numa sequência que o grupo quis pautar “pelo tipo de andamentos e de tonalidades”, entra e sai a dançar: Azáfama, a abrir, raia o fandango e Sorriso, a fechar, tem o pulsar de um baião. Pelo meio, surgem temas mais contemplativos ou mais sincopados, com algumas soluções surpreendentes. “Soldado, por exemplo, tem uma progressão que não é a típica da MPB ou do chorinho, é muito mais afro. Entendemos que, como a música tem uma sequência harmónica repetitiva e insistente, a referência seria uma coisa mais do tipo Olodum, mais baiana. ”Com um conceito estético, sonoro, desenvolvido ao longo dos anos, foi com estranheza que o grupo recebeu o resultado das gravações. “Com o Tó Pinheiro Silva, no início, e depois com o nosso técnico Nuno Rebocho, fomos desenvolvendo um conceito com um baixo profundo, redondo e aveludado e com uma equalização das nossas concertinas a cortar nos médios. E chamámos a atenção ao Jaques, repetidamente, que gostaríamos que o grave fosse equalizado nesse sentido. Ora quando recebemos as primeiras versões das misturas, levámos literalmente às mãos à cabeça”, diz Artur. “Estava muito mais sobre os médios”, acrescenta Filipe. “Uma semana depois, demos a mão à palmatória”, conclui Artur. “O trabalho do Jaques está fenomenal. Pois se nós queríamos trabalhar com o Jaques e com músicos brasileiros, o que esperávamos? Esta mistura pelos médios leva a música para um lado muito mais leve. E afinal era isto que nós queríamos!”Dentro Desse Mar vai ser apresentado ao vivo em Coimbra, no Convento São Francisco (no dia 31, às 21h30), seguindo-se Lisboa (Teatro Tivoli BBVA, dia 3 de Novembro, 21h30), Aveiro (Teatro Aveirense, dia 4, 21h) e Porto (Casa da Música, dia 21, às 21h).
REFERÊNCIAS:
Marina Silva declara apoio a Haddad na segunda volta das presidenciais
Candidata derrotada na primeira ronda diz ter o “dever ético e político” de apoiar o petista e acusa Bolsonaro de representar a “degradação da natureza, da coesão social e da civilização”. (...)

Marina Silva declara apoio a Haddad na segunda volta das presidenciais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.1
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Candidata derrotada na primeira ronda diz ter o “dever ético e político” de apoiar o petista e acusa Bolsonaro de representar a “degradação da natureza, da coesão social e da civilização”.
TEXTO: A seis dias da votação decisiva das presidenciais brasileiras, Marina Silva declarou o seu apoio a Fernando Haddad. A candidata da Rede – ficou em oitavo lugar na primeira volta, com apenas 1% dos votos – já tinha apelado aos seus eleitores para não votarem em Jair Bolsonaro, mas entendeu ser necessário oferecer o seu “voto crítico” ao concorrente do Partido dos Trabalhadores (PT), por considerar que uma vitória do ex-capitão traz consigo vários riscos o para o futuro do Brasil. “Perante o pior risco iminente, de acções que, como diz Hannah Arendt, ‘destroem sempre que surgem, banalizando o mal’, propugnadas pela campanha do candidato Bolsonaro, darei um voto crítico e farei oposição democrática a uma pessoa que, ‘pelo menos’ e ainda bem, não prega a extinção dos direitos dos índios, a discriminação das minorias, a repressão aos movimentos, o aviltamento ainda maior das mulheres, negros e pobres, o fim da base legal e das estruturas da protecção ambiental, que é o professor Fernando Haddad”, anunciou Marina, através de um comunicado, divulgado na segunda-feira à noite. Haddad agradeceu o apoio, numa mensagem partilhada no Twitter. O candidato do PT assumiu que o voto de Marina o honra, “por tudo que ela representa e pelas causas que defende”. A antiga senadora assume, no entanto, ter consciência de que os resultados que a sua candidatura obteve no dia 7 de Outubro não lhe permitem mais do que uma tomada de posição “simbólica”. “Sei que, com apenas 1% de votação no primeiro turno, a importância da minha manifestação, numa lógica eleitoral restrita, é puramente simbólica. Mas é meu dever ético e político fazê-la”, justificou. Marina Silva, que na segunda volta das eleições presidenciais de 2014 deu o seu apoio a Aécio Neves, o opositor da petista Dilma Rousseff, vê na candidatura de extrema-direita um “risco imediato a três princípios fundamentais” da sua postura política: protecção ambiental; respeito pelos direitos das comunidades indígenas; e defesa pela democracia. Sobre este último ponto lamenta o “pouco apreço [de Bolsonaro] às regras democráticas” e denuncia as “manifestações irresponsáveis e levianas a respeito das instituições públicas” proferidas pelo capitão reformado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A candidata da Rede à presidência do Brasil, uma evangélica ciosa da sua fé, criticou ainda a forma como Bolsonaro e os seus apoiantes estão a valer-se da fé cristã na sua campanha: “É um engano pensar que a invocação ao nome de Deus pela campanha de Bolsonaro tem o objectivo de fazer o sistema político regressar aos fundamentos éticos orientados pela fé cristã. A pregação de ódio contra as minorias frágeis, a opção por um sistema económico que nega direitos e um sistema social que premeia a injustiça, fazem da campanha de Bolsonaro um passo adiante na degradação da natureza, da coesão social e da civilização”. José Maria Eymael, da Democracia Cristã, que teve 0, 04% de votos na primeira volta, também anunciou o seu apoio à candidatura do PT na segunda-feira. Citado pelo Estado de São Paulo, o candidato presidencial que ficou em penúltimo lugar na primeira volta, com pouco mais de 41 mil votos, instou Haddad a “ultrapassar as barreiras do PT e a firmar, com as lideranças político-partidárias do país, um pacto nacional pela democracia no Brasil”.
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Palavras-chave direitos social mulheres extinção discriminação
Rita quer dar nova vida a brinquedos usados nas mãos de crianças indonésias
Mainan é o projecto de uma portuguesa que pretende recolher cinco mil brinquedos usados para entregar às crianças vítimas dos sismos de Julho e Agosto em Lombok, na Indonésia. De 20 de Outubro a 2 de Novembro, as lojas Knot e várias escolas lisboetas vão receber os donativos. (...)

Rita quer dar nova vida a brinquedos usados nas mãos de crianças indonésias
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.168
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mainan é o projecto de uma portuguesa que pretende recolher cinco mil brinquedos usados para entregar às crianças vítimas dos sismos de Julho e Agosto em Lombok, na Indonésia. De 20 de Outubro a 2 de Novembro, as lojas Knot e várias escolas lisboetas vão receber os donativos.
TEXTO: Este Verão, na ilha indonésia de Lombok, a terra tremeu e destruiu. Primeiro, a 29 de Julho, foi um sismo de 6. 4 na escala de Richter. Nos dias seguintes, seguiram-se abalos mais fortes, de 7. 0 e de 6. 5. Foi no dia deste último que Rita Xavier aterrou em Bali, em escala para Kupang. Quando aterrou, soube dos abalos que Lombok tinha acabado de sofrer. “O aeroporto estava um pânico”, conta à Fugas, explicando que as companhias aéreas começaram logo a devolver o dinheiro das passagens e a recomendar a todos os passageiros que saíssem da Indonésia. Rita não quis regressar. “Precisavam mais de mim do que nunca”, justificou àqueles que a tentaram demover da ideia. Não conseguiu ir para Lombok, porque as organizações humanitárias ainda não tinham chegado lá, mas ouviu relatos de uma ilha arrasada: “Casas destruídas, pessoas a dormir rua e toda a gente a chorar”, descreve. Durante o mês em que esteve no país, ainda sentiu outro sismo forte, de 6. 9. “Acordei de repente com a porta a abanar e a cama a tremer”, revela. Foram 15 segundos de susto, superados depois pela paisagem da ilha. “Depois de tudo, uma pessoa abre a janela, vê aquele cenário natural e fica logo em paz. " Garante que nunca sentiu medo, “apenas receio”, por temer que famílias que ficaram sem casa nunca cheguem a ser realojadas e por sentir a “preocupação” de uma população que antevê perder os fluxos de turismo que asseguram o ganha-pão daquelas ilhas. Segundo dados oficiais, foram registados 623 mortos, mais de 220 mil casas destruídas e prejuízos a rondar os 528 milhões de dólares. Desde há três anos que Rita Xavier passa o mês de Agosto nas ilhas da Indonésia - o seu “sítio especial”, como lhe chama. Quando chega a Kupang, as crianças rodeiam o carro a gritar o seu nome. Já a conhecem. O entusiasmo das crianças pode explicar-se pela mala recheada de brinquedos e roupa que Rita leva de cada vez que lá vai. “Levo sempre carradas de brinquedos que os meus irmãos mais novos já não querem e as crianças ficam sempre com os olhos a brilhar”. Naquelas circunstâncias, a entrega de brinquedos foi ainda mais especial. “Foi mágico”, assume. Quando regressou a Portugal, sentiu que “não podia ficar parada”. Criou o Mainan - que significa brinquedo em indonésio –, o projecto que pretende recolher cinco mil brinquedos para levar para Lombok. “São restos de infância transformados num novo sonho”, diz, apelando à participação de todos porque “toda a gente tem carradas de brinquedos em casa que não são utilizados”. Os brinquedos poderão ser entregues nas 14 lojas de roupa Knot, de 20 de Outubro a 2 de Novembro. O Mainan também vai passar por sete escolas de Lisboa: Externato Rainha D. Amélia, Colégio Planalto, Colégio Mira Rio, Colégio O nosso jardim, Centro Social do Sagrado Coração de Jesus, Externato do Parque e o Colégio de Santa Doroteia. O objectivo é incutir às crianças lisboetas a importância da solidariedade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Recolhidos os brinquedos, Rita vai partir para Lombok a 30 de Novembro, onde irá permanecer até 23 de Dezembro. Vai com mais quatro voluntários e um fotógrafo, para retratar a concretização do projecto. A intenção é promover uma exposição de fotografias e filmes quando regressar. “Queremos mostrar às pessoas para onde foi a doação”, explica, notando que as fotografias e filmes vão passar pelas escolas para que os alunos vejam os brinquedos que foram seus ganharem nova vida nas mãos de crianças separadas por mais de 12 mil quilómetros. Apesar de ser em vésperas da quadra natalícia, Rita frisa que não quer ser vista como a “mãe-natal”, pelo que a entrega dos brinquedos vai ser sempre acompanhada por actividades pedagógicas, como o ensino de inglês ou de matemática ou princípios de reciclagem. “Já está tudo a ser organizado em conjunto com escolas e lares indonésios. Vai ser incrível”, prevê Rita. Texto editado por Sandra Silva Costa
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Palavras-chave rainha social medo pânico
No Ponto: rebuçados de caramelo, Bouça-Cova
Regularmente, a Fugas divulga um vídeo novo sobre um doce diferente. (...)

No Ponto: rebuçados de caramelo, Bouça-Cova
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Regularmente, a Fugas divulga um vídeo novo sobre um doce diferente.
TEXTO: Na aldeia de Bouça-Cova, concelho de Pinhel, existem uns rebuçados típicos feitos à base de água e açúcar que têm a particularidade de serem prensados com símbolos. Interessante acima de tudo é que a última doceira que ainda faz estes rebuçados de caramelo, a senhora Dolorosa dos Santos, utiliza moldes com símbolos judaicos, que já vêm da sua avó Alexandrina, uma doceira que viveu até aos 102 anos. Dolorosa apenas sabe que assim se fazia e assim aprendeu, mas há decerto neste doce uma história guardada, que deixa entrever um passado sefardita nesta povoação. Tirando esse importante detalhe, há um paralelo claro entre a história destes rebuçados e a dos conhecidos rebuçados da Régua, por exemplo. É a história de um doce muito simples, barato, feito por mulheres e vendido na rua. Ainda hoje, a senhora Dolorosa frequenta feiras locais onde vende os tradicionais rebuçados de Bouça-Cova. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Cristina Castro criou o projecto No Ponto para registar e dar a conhecer os doces do país. Tem vindo a publicar a colecção A Doçaria Portuguesa, "os mais completos livros sobre a história e actualidade dos doces de Portugal". A investigação para este trabalho levou a autora a viajar por todos os concelhos em busca de especialidades doceiras. A partir da oportunidade de ver como se faz, de falar com quem produz, de conhecer vidas, histórias e tradições associadas à doçaria, surgiram os vídeos que desvendam um pouco de cada doce. Regularmente, a Fugas revela um vídeo novo sobre um doce diferente.
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Palavras-chave mulheres
Um hotel de luxo aberto ao mundo e aos vizinhos
A cadeia espanhola chegou a Portugal há um ano. Em Lisboa, o hotel de cinco estrelas, além das salas de conferências e de reuniões, tem também um restaurante, um spa e duas piscinas que podem ser usadas por quem vier de fora. (...)

Um hotel de luxo aberto ao mundo e aos vizinhos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: A cadeia espanhola chegou a Portugal há um ano. Em Lisboa, o hotel de cinco estrelas, além das salas de conferências e de reuniões, tem também um restaurante, um spa e duas piscinas que podem ser usadas por quem vier de fora.
TEXTO: É numa corrida contra o tempo que chegamos ao Iberostar. Há uma massagem marcada e o táxi demora a chegar. O hall de entrada é imponente e confirma que entramos num hotel de luxo em pleno coração de Lisboa, mesmo por trás do Marquês de Pombal, a piscar o olho ao Parque Eduardo VII e às lojas mais caras da cidade. O atendimento não podia ser mais atencioso e compreensivo. Afinal, estamos mesmo em cima da hora de entrar no spa. O percurso até ao piso -3 faz-se num ápice e o sorriso de Helena Marques, a terapeuta e responsável pelo espaço, transmite-nos calma. Ainda não aconteceu nada e já começamos a relaxar de um dia de trabalho. O Iberostar — o primeiro cinco estrelas a inaugurar em Portugal da cadeia com o mesmo nome com mais de 70 hotéis espalhados pelo mundo — é um convite a ficar no centro da capital, mas com privilégios de quem, mesmo em trabalho, consegue tirar um tempo para si, de férias. É assim com a Fugas. Depois de um dia de correrias, é altura de entrar noutra dimensão, como se regressássemos ao primeiro dia de férias. Uma massagem a dois é a proposta da cadeia espanhola que chega à Ásia e à América com sugestões de hotéis de praia, daqueles com tudo incluído, e que mais recentemente começou a abrir espaços nas grandes cidades. O spa tem duas terapeutas e três salas de tratamento, todas com chuveiro, além do circuito de águas, sauna, banho turco, chuveiros sensoriais e uma piscina interior climatizada, e ainda um ginásio aberto 24 horas. Quanto aos tratamentos, começam pela manhã, às 10h, e prolongam-se até às 19h — e há quem venha de fora do hotel para fazê-los, explica Inmaculada Muñoz, directora da unidade lisboeta, assim como há clientes de alguns dos hotéis vizinhos que chegam para usar as piscinas, interior e exterior. Helena Marques, com formação em fisioterapia, explica que, pela manhã, no spa, fazem-se mais massagens relaxantes e ao final do dia os pedidos são para as de combate à dor. Também há diferenças de género, os homens optam mais pelas relaxantes do que as mulheres. Mas ali a oferta é vasta e diversificada, desde as massagens de tratamento às de assinatura. A formação é feita pela cadeia, o que significa que em Lisboa, em Agadir ou em Havana as massagens e os produtos são exactamente os mesmos. Neste caso a proposta é para fazer uma massagem terapêutica a dois, meia hora (40 euros) de pressão nas costas, pescoço e massagem na cabeça com óleos que ajudam a fisioterapeuta a confirmar a sua teoria — eles relaxam mais do que elas. De roupão e chinelos, encaminhamo-nos para o elevador que apanhamos directamente para o sexto andar, onde fica o quarto, virado para a Rua Castilho, com traseiras para a Rotunda do Marquês. Ao todo são 166 quartos, entre eles a suíte presidencial a que foi dado o nome de Marquês de Pombal e que tem vista precisamente para a estátua de Sebastião José de Carvalho e Melo. Iberostar Lisboa Rua Castilho, 64, Lisboa Tel. : 215 859 000 E-mail SiteEmbora não fuja muito ao tradicional quarto de hotel, a suíte é espaçosa e com a cabine de duche a fazer a separação entre a zona do quarto e das instalações sanitárias. Há uma preocupação em ter tudo o que facilmente esquecemos em casa à disposição, do pente à escova de dentes, passando pelo amaciador para o cabelo. Afinal, os principais clientes são os que chegam à cidade para negócios, reuniões — o hotel tem três salas grandes para conferências, sete mais pequenas para reuniões, um business center e uma cozinha que trabalha só nestas ocasiões, além de bengaleiro, instalações sanitárias e uma entrada autónoma para que os clientes não se confundam com quem vem de fora para os encontros ou mesmo para festas. Embora as famílias não sejam o principal público, a piscina e os quartos comunicantes são um óptimo motivo para escolher o Iberostar, sugere Inmaculda Muñoz. A piscina também está aberta ao exterior por uma tarifa de 25 euros para passar o dia. “É um privilégio ter uma piscina no meio da cidade”, orgulha-se a responsável. Por enquanto as amenities continuam envoltas em plástico, mas o objectivo é acabar com este ou usar o biodegradável. A mudança está a ser feita, pouco a pouco, em todos os hotéis e resorts Iberostar, informa a directora. “Estamos a impulsionar o movimento ‘Wave of change’, centrado no cuidado em relação aos mares e oceanos. Não é fácil e tem um custo elevado, mas nós fomos os primeiros a anunciar em Espanha que os nossos quartos são livres de plásticos”, explica. Além do plástico, também há uma preocupação em acabar com o papel — por exemplo, na recepção, tudo o que possa ser digitalizado é, de maneira a reduzir o consumo de papel. No quarto, por cima do pequeno frigorífico do minibar, há uma garrafa de Porto Niepoort com 20 anos, além da máquina e das cápsulas de café. Petiscamos os doces que nos dão as boas-vindas e preparamo-nos para o jantar no Restaurante Luz. É ali, num espaço com ligação à piscina exterior, que se toma o pequeno-almoço (das 7h às 10h), o almoço (das 12h30 às 15h30) e o jantar (das 19h às 22h30). Depois disso, ainda se pode comer um snack no bar que fica no lobby do hotel (das 10h à 1h). Para quem queira ficar na piscina, não precisa de entrar no Luz e também pode fazer pequenas refeições no bar da piscina (das 10h às 18h). O restaurante fica nas traseiras do hotel, ou seja, para um cliente que chegue do exterior para experimentar o menu executivo (17 euros para entrada, prato, sobremesa e bebida), durante a semana, à hora do almoço, é preciso atravessar o hall, percorrer um corredor e meter-se no elevador que o leva a um piso inferior. A luz é imensa, pois embora se desça — o edifício tem oito pisos superiores e cinco interiores —, não se entra numa cave nem nada que se pareça, pois fica-se ao nível da piscina. E é este cenário que também convida a que, ao domingo, peguemos na família e possamos ir fazer um brunch. Trata-se de um pacote em que se pode incluir uma ida ao spa (36 euros) ou não (28 euros). O Restaurante Luz prima por ter uma carta diversificada, onde a cozinha portuguesa se cruza com a internacional, sempre com um toque contemporâneo. Para começar optamos por uma sopa de peixe com coentros (7 euros) e uns lagostins assados sobre parfait de couve-flor, emulsão de camarão e crocante de choco (15 euros), uma maravilha para os olhos e para o paladar, com os sabores do mar bem pronunciados. Continuamos no peixe, poderíamos ter experimentado o polvo confit com chouriço alentejano e migas de batata vitelote (22 euros), mas optamos pela garoupa grelhada com camarão tigre e molho de caldeirada (23 euros) e pelo lombo de bacalhau confitado sobre guisado de favas e chouriço, ovo de codorniz (21 euros), mais dois pratos vencedores pelas misturas improváveis de diferente pratos da gastronomia portuguesa. Mas há mais: massas, risottos e pratos de carne, como a vitela em crosta de frutos secos e polenta frita com creme de cherovia (23 euros) ou o prensado de porco a baixa temperatura, puré de aipo e maçã, emulsão de amêijoa (20 euros). Os pratos são bem servidos, o que significa que poderá partilhá-los. Para fechar a noite, a proposta de sobremesas também é diversa — do saudável prato de fruta laminada (6, 50 euros) à tábua de queijos portugueses e internacionais com tostas e goiabada (12 euros), passando pelos sorbets (5 euros). A escolha recaiu sobre o cremoso de Abade de Priscos com espuma de framboesa e sorbet de pêra bêbada (9 euros), uma surpresa pela harmonia de sabores. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Este hotel é o primeiro Iberostar em Portugal, mas a família Fluxà está apostada em continuar a investir no país, o Porto pode ser a próxima paragem — seguindo a linha de hotéis urbanos, que ainda são poucos, depois de Madrid e Barcelona, há outros dois, um em Budapeste e outro em Nova Iorque — e a inauguração de uma unidade no Algarve está prevista para o próximo ano e será um resort com uma política all included como é apanágio dos hotéis espalhados pelas praias deste mundo. A localização privilegiada no centro da cidade é um convite a quem trabalha na Rua Castilho ou nas proximidades não só para experimentar o menu executivo, como o spa e a piscina, sem esquecer o brunch ao domingo. Os mais distraídos poderão perder-se com facilidade nos elevadores e corredores do Iberostar. Embora esteja tudo bem assinalado, os percursos não são fáceis de decorar. A Fugas esteve alojada a convite do Iberostar
REFERÊNCIAS: