Porque é que é melhor comer sardinha do que salmão?
Um peixe dá-nos ómega 3 mas também metilmercúrio. Como avaliar riscos e benefícios? No Dia Mundial da Alimentação, a Gulbenkian organiza nova conferência sobre o tema com a apresentação de estudo. (...)

Porque é que é melhor comer sardinha do que salmão?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2012-10-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um peixe dá-nos ómega 3 mas também metilmercúrio. Como avaliar riscos e benefícios? No Dia Mundial da Alimentação, a Gulbenkian organiza nova conferência sobre o tema com a apresentação de estudo.
TEXTO: Comer peixe é bom para a saúde. É. Quer isso dizer que se gostarmos muito de atum e o comermos todos os dias a uma das refeições estamos a ter uma alimentação melhor, mais saudável? Não. Que o peixe faz bem, sobretudo os mais ricos em ómega 3, é uma mensagem que já interiorizámos. Mas há um outro lado, menos falado: os riscos. E estes prendem-se essencialmente com os contaminantes (como, por exemplo, o metilmercúrio). O que temos de fazer de cada vez que comemos peixe é, dizem os especialistas, encontrar o equilíbrio entre estes riscos e os benefícios. É este o tema da quinta conferência do ciclo O Futuro da Alimentação - Ambiente, Saúde e Economia, uma parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian e o PÚBLICO, que acontece hoje, no Auditório 2 da Gulbenkian, às 17h30, coincidindo com o Dia Mundial da Alimentação. Presidida por Carlos Sousa Reis, antigo presidente do Instituto Português de Investigação do Mar (Ipimar), tem como oradores José Luís Domingo, investigador catalão especialista em toxicologia, e Carlos Cardoso, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA, ex-Ipimar), que apresenta um estudo sobre os nossos hábitos de consumo de peixe e a relação riscos-benefícios. "As pessoas têm de seleccionar bem o peixe que comem e o tratamento culinário que aplicam", afirma Carlos Cardoso. Nem todos os peixes têm os mesmos níveis de contaminantes, nomeadamente de metilmercúrio. Os que têm níveis mais elevados são os que estão no topo da cadeia alimentar, ou seja, aqueles que se alimentaram de outros peixes e crustáceos que já tinham retido metilmercúrio que, por sua vez, tinham ingerido o do fitoplâncton e zooplâncton. E no topo estão peixes como o peixe-espada preto, os tubarões, as raias, o espadarte e, "em menor grau", o atum. Se absorvido em quantidades elevadas, o metilmercúrio afecta o sistema neurológico. E, sobretudo, pode ter consequências bastante negativas sobre o feto se as mulheres grávidas ou a amamentar consumirem muito uma determinada espécie de peixe mais contaminado. José Luís Domingo, o investigador catalão director do Seafood Risk Assessment da Universidade Rovira i Virgili em Tarragona, explica ao PÚBLICO, numa conversa telefónica, que há três coisas fundamentais a ter em conta quando se escolhe um peixe. A primeira é a procedência. "Há mares fechados, como o Báltico, junto a países altamente industrializados, onde os níveis de contaminação são maiores. " O segundo cuidado a ter é o de não consumir sempre a mesma espécie - por exemplo, o atum de que falávamos. E o terceiro é evitar consumir quantidades muito grandes de um tipo de peixe numa refeição. Mas como estas são indicações gerais, uma equipa liderada por Domingo criou um instrumento, o Programa Ribepeix, que permite ao consumidor medir os níveis de contaminação a que está sujeito quando ingere determinado tipo de peixe. "Fizemos uma lista das 14 espécies mais consumidas em Espanha, que imagino não serão muito diferentes das de Portugal, e, com a ajuda de análises químicas, construímos um simulador", explica o investigador. "Este indica todos os nutrientes, mas também os contaminantes, e, no caso destes, mostra se está a ultrapassar os níveis aconselhados. Se isso acontecer, propõe alternativas. "O inquérito que o IPMA fez sobre os consumos de peixe em Portugal diz-nos se os portugueses comem em excesso peixes com alto nível de contaminantes? Não há conclusões surpreendentes ou sequer preocupantes, mas o estudo - realizado no âmbito do projecto Goodfish, e que inclui 23 produtos de pesca diferentes e baseia-se em respostas de 1400 pessoas - aponta tendências. Por exemplo, a frequência do consumo de bacalhau e sardinha (fresca e em conserva) é superior entre os mais velhos; e o salmão é mais consumido entre as faixas etárias mais jovens. Cuidado com o ómega 6
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda consumo estudo espécie mulheres
Polícia carrega sobre manifestantes na AR
Cerca de 100 manifestantes subiram uma das ruas laterais da Assembleia da República, aproximando-se da porta da residência oficial do primeiro-ministro, nas traseiras do edifício, e acabando por ser alvo de uma carga policial. Onze pessoas ficaram feridas, das quais dez são agentes da PSP. Com vídeo (...)

Polícia carrega sobre manifestantes na AR
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-10-16 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20121016153332/http://www.publico.pt/1567486
SUMÁRIO: Cerca de 100 manifestantes subiram uma das ruas laterais da Assembleia da República, aproximando-se da porta da residência oficial do primeiro-ministro, nas traseiras do edifício, e acabando por ser alvo de uma carga policial. Onze pessoas ficaram feridas, das quais dez são agentes da PSP. Com vídeo
TEXTO: Para fazer face aos manifestantes que subiam a rua e já tinham derrubado um ecoponto, cerca de 20 a 30 polícias carregaram sobre o grupo. Segundo a TVI, 11 pessoas ficaram feridas: dez agentes da PSP e um manifestante, que foi transportado para o Hospital de S. José. Em frente à escadaria do Parlamento, onde há protestos desde as 18h, foram atiradas garrafas aos polícias, lançados petardos e foi ateada uma fogueira, que cerca das 23h ainda ardia com alguns detritos. Durante a tarde e parte da noite, centenas de pessoas protestaram frente ao Parlamento. Cerca das 21h, parte dos manifestantes desmobilizou, mas outros continuaram no local. De cartazes em punho, os manifestantes gritaram "gatunos"e "é hora do Governo ir embora". A maioria dos cartazes apelava "demissão" do Governo e ao fim da influência da troika em Portugal. Duas mulheres semi-nuas tentaram passar a barreira policial, sem sucesso. Outras pessoas solidarizaram-se com a iniciativa e começaram a despir as camisolas. Para dentro do perímetro policial foram arremessadas garrafas de vidro e cartões vermelhos, que simbolizam a vontade das pessoas em mandar o Governo para a rua. Muitos iam pedindo aos polícias que se juntassem a eles. Cerca das 20h30, os manifestantes já tinham invadido até metade do jardim da fachada principal do Parlamento (excepto na escadaria, ocupada pelo corpo de intervenção da PSP). Nessa altura, fizeram um cordão humano e espalharam-se em torno do edifício, acabando por se concentrar sobretudo na entrada lateral da Assembleia da República, junto ao parque de estacionamento. As pessoas que se encontravam ainda dentro do edifício foram aconselhadas a não sair, e ninguém foi autorizado a entrar. Por essa hora, já tinham rebentado dezenas de petardos e tinham sido atiradas muitas garrafas de cervejas aos polícias. Carrinhas do corpo de intervenção da PSP foram chegando sucessivamente, com agentes e alguns cães "para manter a ordem pública". Alguns agentes filmavam a manifestação, apesar de a Comissão Nacional de Protecção de Dados considerar estas gravações ilegais. A manifestação tinha começado calma por volta das 18h mas os ânimos foram-se exaltando com o passar do tempo e com a chegada de mais pessoas ao local. Por volta das 19h, o número de manifestantes não era suficiente para formar um cerco ao edifício, como pretendia a organização, mas já preenchia o espaço à frente da escadaria. Fonte da PSP disse ao PÚBLICO que estariam no local cerca de 1200 manifestantes, mas o número não é oficial. O ambiente tornou-se mais tenso quando um homem tentou retirar as vedações que impedem os manifestantes de chegar à escadaria da Assembleia da República. Nesse momento, outros manifestantes desviaram o homem do local e acalmaram-no. No entanto, pouco depois foram derrubadas várias grades e algumas pessoas conseguiram chegar ao jardim da Assembleia da República, onde foi montado um cordão policial. As grades colocadas em torno do edifício foram transformadas numa espécie de "muro das lamentações ", onde os manifestantes puderam colocar a sua opinião. A multidão esteve a ser vigiada por centenas de polícias e elementos do Corpo de Intervenção da PSP, cuja equipa foi sendo reforçada com o passar das horas. O ritmo das reivindicações foi acompanhado por um grupo de pessoas que tocavam bombos. Ao lado, um conjunto de manifestantes com cartões vermelhos na mão. Pouco depois das 19h havia ainda muitas pessoas a juntarem-se ao protesto. Pouco depois de gritarem "invasão" em uníssono, os manifestantes cantaram em coro o Hino Nacional. Tiago Lima, membro da Plataforma 15 de Outubro, disse ao PÚBLICO que a manifestação "está a ser muito combativa". Questionado sobre a hora a que pretendiam terminar o protesto, respondeu: "Gostaríamos de ficar até o Governo se demitir".
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP TROIKA
Autor de filme anti-islão condenado a um ano de prisão
O autor do filme anti-islão Innocence of Muslims, um copta radical egípcio a viver nos Estados Unidos, detido no final de Setembro na Califórnia, foi condenado na quarta-feira a um ano de prisão por ter violado a liberdade condicional. (...)

Autor de filme anti-islão condenado a um ano de prisão
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2012-11-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: O autor do filme anti-islão Innocence of Muslims, um copta radical egípcio a viver nos Estados Unidos, detido no final de Setembro na Califórnia, foi condenado na quarta-feira a um ano de prisão por ter violado a liberdade condicional.
TEXTO: Mark Basseley Youssef, de 55 anos, admitiu perante o tribunal californiano que utilizou identidades falsas para conseguir continuar oculto, depois da polémica gerada pelo filme e das ameaças que recebeu. Admitiu também que recorreu a um nome falso para obter uma licença de condução. O Tribunal de Los Angeles decidiu, por isso, condená-lo a mais um ano de prisão e a quatro anos sob vigilância das autoridades, avança a AFP. Os juízes disseram, também, que o filme é mais uma prova da sua propensão para infringir a lei. O procurador-adjunto Robert Dugdale referiu que Youssef “traiu” os actores que participaram no filme por não lhes ter dito que tinha acabado de sair da prisão e por ter feito uma versão com novos diálogos sem lhes pedir autorização. Já o advogado do autor do filme, Steve Seiden, contrapôs que o seu cliente tinha direito a alterar os diálogos já que obteve autorização dos participantes. Youssef, também identificado algumas vezes com o nome de nascimento, Nakoula Basseley Nakoula, tinha sido condenado em 2010 por fraude bancária. Chegou a cumprir uma pena de prisão de 21 meses, mas entretanto foi colocado em liberdade condicional. Estava, por isso, impedido de aceder à Internet. Depois de parte do filme que produziu ter sido colocado no canal de partilha online YouTube, as autoridades consideraram que violou a liberdade condicional em vários aspectos e que representava “um certo perigo para a comunidade”. O filme de Youssef levou a enormes protestos e manifestações populares no Médio Oriente, com dezenas de vítimas mortais, entre elas o embaixador dos Estados Unidos na Líbia. Innocence of Muslims tem enfurecido muçulmanos em todo o mundo, por ridicularizar o profeta Maomé, apresentado como um mulherengo e bandido. Qualquer representação visual do profeta é, de resto, considerada uma blasfémia para os muçulmanos e a proximidade do filme com a data do 11 de Setembro gerou ainda mais fúria. Do filme de duas horas, há excertos publicados no YouTube numa espécie de trailer em que os muçulmanos são apresentados como imorais e violentos. O profeta Maomé aparece em várias cenas de sexo, com mulheres e com homens, aprova o abuso sexual de crianças, aponta para um burro como “o primeiro animal muçulmano”. É ainda dito que o Corão não teve inspiração divina, que foi escrito a partir da Tora e do Novo Testamento.
REFERÊNCIAS:
Um périplo horripilante, de crimes e fantasmas, pelas ruas de Lisboa
Uma empresa de animação dá a conhecer uma capital diferente. Em vez de guias, são actores que se encarregam de liderar o caminho por entre histórias de uma Lisboa de outros tempos. (...)

Um périplo horripilante, de crimes e fantasmas, pelas ruas de Lisboa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.9
DATA: 2012-12-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma empresa de animação dá a conhecer uma capital diferente. Em vez de guias, são actores que se encarregam de liderar o caminho por entre histórias de uma Lisboa de outros tempos.
TEXTO: Arco da Rua Augusta, 21h30. Ouvem-se as solas dos sapatos marcando a calçada. Mas a cidade está quase silenciosa, é a imaginação que compõe um cenário de suspense: os efeitos dos focos de luz vindos do chão, junto ao arco, iluminam os queixos dos transeuntes e há quem passe com a gola do sobretudo virada para cima. O vento não sopra, o frio suporta-se. São as sombras e os silêncios que incomodam quem não está habituado a observar este tipo de noite, em Lisboa. Esta é uma história de fantasmas, para quem acredita neles. Para quem não acredita, então esta é uma história de teatro, onde o palco são as ruas inclinadas do centro histórico da capital, os espectadores são os clientes e os transeuntes ocasionais. Há um actor principal, vestido de capa preta com capuz e lanterna na mão. Os actores secundários, esses são os fantasmas. O contador de capa preta tem como função fazer ressuscitar os mortos de que fala, com o foco da lanterna na cara ou apontando-o para os edifícios onde eles, os mortos, terão vivido. "Foi aqui que viveu uma assassina", conta o narrador do passeio nocturno, dirigindo a luz à janela de um prédio devoluto. A história assume contornos de filme policial e os caminhantes escutam com atenção. Finda a narrativa, o périplo é percorrido de um fôlego, sem parar. E no fim, o contador grita ou sussurra um "sigam-me". E o grupo segue-o, pois claro. Crimes e lendasÉ assim que a Ghost Tours trabalha (www. ghost-tours-portugal. pt). À noite, para portugueses ou estrangeiros, fugindo da confusão do dia, onde turistas e lisboetas se atropelam numa cidade cada vez mais concorrida. De Inverno, o cenário fica mais carregado, o frio aguça a imaginação, e até em dias de chuva Lisboa parece ficar mais assustadora. O motivo do passeio são crimes e criminosos, lendas e acontecimentos horripilantes da História de Lisboa. O contador leva o grupo pela colina do Castelo acima e, na Sé, não obstante os gritos incomodados de um sem-abrigo, a atmosfera de macabro adensa-se. O céu está mesmo preto e a catedral profundamente amarela, a lua cheia a um canto. O contador está entusiasmado e lembra o dia em que um bispo foi lançado da torre da Sé, em pleno século XIV. "Conta-se que os seus restos mortais foram arrastados pela cidade e comidos pelos cães", vocifera. Os impropérios do sem-abrigo persistem, mas o contador não desmancha o seu papel. A sua voz é colocada e parece ecoar no silêncio da rua. Não admira que incomode os que já dormem, apesar de não passar das dez da noite. A subida acentua-se, desfilam fantasmas de assassinos, há muito falecidos, e das suas vítimas. E é no Pátio do Carrasco, a caminho de Santa Luzia, que o ambiente chega a gelar. De repente, o grupo transporta-se para um átrio quadrangular do século XIX, com casinhas baixas e janelas pequenas, carreiros intermináveis de plantas e vasos, roupa estendida nos varais, capachos à porta e gente que, embora ali viva, não vem espreitar, mas respira do outro lado da parede. A história é a de Luís Negro e o nome do pátio diz tudo. Adiante. Sangue, suor e gargalhadas O contador segue agora o fantasma de Manuela de Zamora, uma ladra, pelas Escadinhas de São Crispim. Mais uma vez, ninguém vem à janela por mais que o contador berre os feitos da mulher. O grupo arfa da subida, mas constata, com surpresa, que não conhecia aquele trajecto que desemboca à porta do Chapitô. A ladra ficou para trás, mas, uns minutos à frente, encontra-se uma outra, Giraldinha, agora nas Escadinhas de São Cristóvão. As pinturas murais alusivas ao fado acompanham a narrativa, enquanto um grupo de raparigas passa e estaca, olhando o contador com curiosidade. Querem seguir as palavras que captaram no ar, mas o mensageiro já voa pela Rua de Santa Justa, com a capa a ondular. Com a Praça da Figueira no horizonte, o grupo de caminhantes exibe alguma expectativa, agora que começa a entrar em território mais conhecido. Com o Castelo de São Jorge pendurado no céu, numa faixa amarelada de muralhas, o contador aproveita para lembrar que Lisboa tem lendas fundadoras, e que Ulisses protagonizou uma delas. A história perde dramatismo, mas ganha romance e fantasia, para contrabalançar a sílaba tónica dada aos crimes e assassinatos. Em torno, vislumbram-se rostos da noite, habituados, porventura, a homens de capa preta. Rapazes deslizando emskates, aos pés do mestre de Avis. O contador persiste no fito de aterrorizar transeuntes: senhoras e casais a passear, ou à espera de qualquer coisa no carro, turistas deambulantes. Os sustos são genuínos e parece que o contador já terá mesmo provocado gritos de pavor que terão acordado meia Baixa Pombalina. No entanto, a maioria destes sustos acaba por transformar-se em gargalhadas bem-dispostas. Tempo para aterrorizar um pouco mais os caminhantes, com os fantasmas dos cristãos-novos massacrados no Rossio. A luz da lanterna incide sobre a porta fechada da Igreja de São Domingos. Os pormenores violentos das mortes provocam esgares de reprovação nos rostos. Já houve quem tivesse reclamado contra o sadismo que o contador emprega ao relatar o Massacre dos Judeus de 1506, mas é esse o propósito, afirmará, mais tarde, o narrador. O périplo termina da pior maneira. Junto à estátua de D. Pedro, no Rossio, o contador apresenta a escrava Catarina Maria, que foi acusada de ser bruxa pela Inquisição. A imaginação dos espectadores arde com o relato da sua tortura e da sua morte, em auto-de-fé, numa fogueira anormalmente lenta. Histórias de outros tempos, mas que se tornam reais quando se olha para uma das fontes da praça e, em vez dela, se distingue claramente uma pira ardente e uma mulher que morre sufocada com o fumo e o pânico. Despindo a capaA noite continua enigmática, uma hora e meia depois. A lua cheia rodeia-se de uma névoa escura e o som das solas dos sapatos persiste no horizonte auditivo. No Rossio, o contador sorri, por uma última vez, e, sem que diga "sigam-me", desaparece, rodando sobre si, como se, na verdade, nunca tivesse existido. Afinal, o contador não desapareceu. Deu a volta à estátua de D. Pedro e regressou, sem a capa. Chama-se André Raposo e é um dos actores que colaboram com a Ghost Tours. O jovem alentejano, estudante de Publicidade e Marketing, mas actor profissional a tempo parcial, começou a trabalhar como contador de histórias para a empresa após ter conhecido a autora dos textos, a jornalista Inês Lampreia. O projecto, fundado em 2011 pelas empresárias Rita Ferreira e Sandra Ferreira, de 26 e 29 anos, foi a oportunidade que faltava no currículo de André e de outros três actores, que começaram a fazer os tours, em Fevereiro de 2012. Fazer teatro na rua tem sido um desafio para André, que enfrenta, sempre que veste a capa preta, todo o tipo de situações. "Tem sido interessante, para mim, trabalhar a reacção das pessoas, tanto do público como dos transeuntes com quem vou interagindo. À noite, a cidade muda muito. É bom trabalhar os estímulos", explica o actor. Os sem-abrigo são os que mais se incomodam com a passagem dos actores pelas ruas. Houve, inclusive, uma noite em que um sem-abrigo começou a insultá-lo em francês, mesmo aos seus ouvidos. São provocações que poderiam desconcentrar o actor, mas André afirma: "Tenho a personagem muito bem construída dentro de mim e o Contador de Histórias não se importa com o que lhe dizem". Nunca lhe aconteceu lançarem-lhe água de uma janela, até porque os que por ali vivem já estão habituados aos seus relatos macabros. Já com os clientes, a história pode ser outra. Num dos passeios, uma senhora esteve quase a desmaiar na Sé. "Estava com tensão baixa, mas a história do bispo também não ajudou nada", diz André. De acordo com o actor, a reacção entre portugueses e estrangeiros tem sido idêntica, mas confessa que não esperava tanta adesão do público português a este tipo de actividades. André Raposo conhece bem Lisboa e acaba por levar as pessoas por caminhos que geralmente não conhecem, para o percurso se tornar mais interessante. A chuva não é um obstáculo e é vista como um suplemento. "Já fiz um tour à chuva e funcionou muito bem. A cidade fica mais vazia, mais escura e mais assustadora", conclui André. "A minha personagem não tem medo de nada, mas eu tenho".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens mulher negro medo cães pânico
O inverno de Moz
A tour de Morrissey pelos EUA acaba quando o Inverno terminar numa altura em que, mais uma vez, se especula sobre se será esta última digressão do compositor de 53 anos. Acreditará ele, como na canção que canta, que só os novos são amados? Veremos se é verdade ou ironia. (...)

O inverno de Moz
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-01-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: A tour de Morrissey pelos EUA acaba quando o Inverno terminar numa altura em que, mais uma vez, se especula sobre se será esta última digressão do compositor de 53 anos. Acreditará ele, como na canção que canta, que só os novos são amados? Veremos se é verdade ou ironia.
TEXTO: Como quem não acaba de entrar num palco, como quem nunca de lá saiu, o homem por quem esperam calmamente mais de duas mil pessoas vai dizendo, microfone na mão: no meu quarto, tenho um banco de piano, uma guitarra. . . Claro, os aplausos renovam-se. “I feel… a song… in my heart”, completa, acto coordenado, todos os instrumentos arrancam com as primeiras notas de Shoplifters of the world unite (música dos Smiths). Morrissey e os seus músicos entraram como um disparo no Tilles Center for the Performing Arts, Greenvale, o local escolhido para o arranque da Morrissey Winter Tour 2013 pelos Estados Unidos que termina a 8 de Março em Portland, Oregon. O descaso do músico em palco é apenas aparente. O ar aborrecido, a despachar, como quem diz que não sabe bem se gosta muito de estar ali mas é ali que está, faz parte da persona que há muito criou, desde o início dos anos 80, ainda com os Smiths. É um descaso ensaiado. A actualidade está lá; a posição, irónica ou cínica ou militante perante algumas questões. Mas quando ele quer, com uma agenda própria. Logo ali, à primeira música, numa alteração pontual da letra, já a canção vai longe: "but last night a plan of a future war / was all I saw in Siria", em vez do original …on Chanal 4”. Alguns terão notado numa sala que encheu mas nunca se abandonou a ele, nunca o acompanhou, nunca se esqueceu que estava ali, nunca as suas vozes se sobrepuseram à dele, nem quando cantou, já a terminar, “I am the son/ and the heir/ Of a shyness that is criminaly vulgar”. Estamos a uma hora de Manhattan de carro, a cerca de duas no percurso alternativo, um combinado entre comboio, autocarro e uma espera que não tem que ver com o ritmo da cidade. Sabe-se que o autocarro há-de vir e ir até ao campus da universidade de Long Island, em Greenvale, uma população que ultrapassa em pouco os mil habitantes e vive, precisamente, em função da universidade. Brookville é o centro urbano mais próximo. Passa em pouco as três mil pessoas, quase tantas pessoas como a capacidade do auditório onde vai actuar e é considerada – signifique o que significar -- uma das vilas mais saudáveis da América para viver. Qual a razão para a escolha de Morrissey arrancar, ali, uma tour pela América? Especula-se. Teste intimista? O estado é o de Nova Iorque. Dois dias depois estará no BAM, em Brooklyn, uma das salas actualmente mais cotadas da cidade de Nova Iorque, diante de um público urbano e num dos grandes testes desta tour que parece, assim, começar baixinho, em Greenvale. Tudo leva a pensar isso. O facto é que estamos a lidar com Morrissey, no universo dele, ditado pela sua cabeça que permanece um mistério construído à custa de muita ironia e boa gestão do privado. Greenvale é, pois, o sítio. O ambiente antes do espectáculo poderia anteceder um ballet ou concerto de música clássica, não fossem uns “excêntricos” penteados com um estilo que tem o nome do cantor, uma ou outra tatuagem, a maquilhagem mais carregada em meia dúzia de raparigas, uma banca a vender T-shirts com frases de ordem com patente Morrissey registada, For those I love I Will Sacrifice ou England is mine anti t owes me a living. Trinta dólares a peça. Sim, podia ser um espectáculo para convidados, um novo teste à América que aí vem, nestes dois meses que se seguem a este 9 de Janeiro, quase sempre em salas que não ultrapassam os 2500, 2700 lugares. Pode ser por isso tudo. Pela intimidade que se procura como quem procura uma razão. Aquele não é um sítio óbvio. Mas se Morrissey foge desse previsível, acaba, no entanto, por tantas vezes se refugiar na segurança do que se repete. Basta que nesse princípio, na génese, tenha estado o êxito. Por isso em Greenvale, por menos óbvio, Morrissey também seguiu receitas certeiras. Do improvávelPor enquanto, o sotaque que mais se ouve é o inglês. Bebem-se as primeiras Brooklyn lagers, conversa-se baixinho; um rapaz magro com o penteado típico dos fãs de Morrissey e uma fotografia dos Smiths estampada nas costas do blusão de ganga pergunta a outro rapaz em que comboio veio. “De carro”, ouviu. Como de carro foram a maior parte dos pais e filhos, famílias inteiras, adultos na casa dos trinta, quarenta, cinquenta, uns poucos pré-teenagers e uma muito ténue amostra da população universitária que se poderia esperar, estando o concerto agendado para um campus universitário. É como que Morrissey a tocar em casa, que é como quem diz, entre quem, como ele, já prefere o lugar sentado de um concert hall, um copo de vinho ou cerveja a preços que um estudante não pode pagar, num lugar que, pelas suas características geográficas, é selectivo q. b. Só ali vai quem pode ou quem gosta mesmo de Morrissey. Mas caem logo clichés ou preconceitos. Morrissey não quis tocar baixinho e isso percebeu-se no arranque. Melhor. Antes do arranque, quando escolheu Kristeen Young, a songwriter e teclista do Missouri, com as suas melodias dissonantes para fazer a primeira parte de alguns dos seus concertos neste périplo americano. Numa entrevista ao Ípsilon em Julho de 2012, pouco antes de cancelar o espectáculo agendado para Cascais, Morrissey referia-se a Kristeen Young como a única cantora capaz de reter a tua atenção num momento em que deixara, garantia ele, de gostar da música que se faz. Morrissey, o provocador que nunca despe a capa de tímido, gosta destas tiradas. Kristeen tocou no Tilles Centre, mas o público estava distraído dela e o maior e mais espontâneo aplauso da noite, para quem não pediu qualquer aplauso, foi inteirinho para um muito jovem David Bowie que apareceu na grande tela a cobrir o palco, vídeo Jean Genie, uma música de 1972, que Morrissey escolheu para estar, como Nico que, juntamente com Lou Reed, definiu os Velvet Underground, ou Françoise Hardy, entre as suas inspirações de adolescente e com elas inspirar a plateia. Foi antes dos holofotes brancos varrerem a sala cheia, numa coreografia para a voz de Robin Guthrie, dos Cocteau Twints. Uma espécie de lista/poema, cantado; gravação com que Morrissey (Moz, para os fans) tem aberto alguns dos seus concertos desde 2004. É fácil recorrer a The Imperfect List neste momento do mundo, fazer repeat, e ter o sucesso garantido para a entrada que se aguarda. Eficácia testada. São 64 “coisas” menos boas, visão abrangente, que vão do Apartheid a Adolf Hitler, “the facking bastard Thatcher”, ao dentista, a Praça de Tiananmen, como às consequências de esquecer as chaves de casa. O compositor e guitarrista inglês Peter Wylie leu esta lista à namorada da época, fez dela um poema, e Morrissey um momento quase de ópera com a ajuda de Guthrie. Bravo!On repeatSim, ele repete. A indumentária, os gestos, a pose, as entradas em palco, o momento em que muda de camisa ou a despe ou a atira aos braços que se levantam no ar, os abraços permitidos, o contacto com o público. Em Greenvale, Morrissey apareceu de camisa e calças azuis escuras, o penteado de sempre, os cinco músicos que o acompanham vestidos de igual. Ou quase. Morrissey está ali para destoar e só ele tem a camisa aberta, a revelar o peito, como de costume, e como quase sempre a passar a mão pelas mãos dos que não se quiseram sentar e se colaram ao palco. Gesto quase blasé, o dele, de quem quer é passa à música, mas sabe que aquela é uma das etapas. E passa rápido pelas quatro primeiras. Shoplifters of the World Unite, Irish Blood, English Heart, Alma Matters e Still Ill… peças de um alinhamento que nunca deixa de ir aos Smiths e percorre trinta anos de carreira a solo de um dos mais consistentes e permanentes músicos britânicos no top 10 do seu país . Consistência talvez seja mesmo a melhor palavra para definir o músico em cena. Não se esperem grandes improvisos, mas a eficácia é à prova dos mais picuinhas. A sala está tão contida quanto ele, nunca se entregam um ao outro totalmente. Mas ele traz arranjos novos, dá largas à guitarra, à bateria, velhas cantigas parecem irreconhecíveis e a voz menos melosa, mais próxima da sujidade do rock. You’re the one for me, Fatty e as luzes apontadas à plateia, “strobe”, alucinação impiedosa que impede olhar o palco, e logo toda a alma em You have killed me, luzes para ele, num palco limpo. Só os músicos e três círculos de luz na bateria. Talvez um dos momentos mais altos do concerto que teve outro momento irrepetível, umas canções à frente, depois de I’m throwing my arms around Paris e de Speedway (uma das músicas que tirou mais aplausos da audiência, com Morrissey a ensaiar uma interpretação à medida daquela noite, ora toadas melancólicas, ora a vincar o ar de rock de todo o concerto). Há finalmente quem dance, quem invada o palco, sem sustos para os seguranças. E a frase “I can’t waist time anymore” a ganhar um simbolismo que Morrissey quer vincar em Action is my Midlle Name. E uma interpretação de olhos molhados em I Know it’s overOlá e adeusPausa precisa-se. Há nós em algumas gargantas e Morrissey está treinado para saber de si e de quem o ouve. E diz olá, tempo de dizer olá a um velho amigo, Ouija Board, Ouija Board … até ao apocalíptico Maladjusted. E como é que a sala não salta nem abana com esta versão de One Day Goodbye will be Fairwell? É ver Morrissey consigo mesmo. Se pudéssemos classificar esta relação ente o artista e quem o vê, seria um shy to shy. Diz-me quem é o mais tímido e logo te direi quem está a viver mais este momento. Ele parece imerso nele quando agarra no microfone e, no fim da música, o estende ao público. Alguém pergunta quem é o rosto que se repete nos dois bumbos da bateria? Ele não ignora, mas passa a outra pessoa e a outra e ninguém sabe a resposta e ele não responde, que não sabe, não pode, que tem estado demasiado ocupado… a sofrer. E já virou as costas para todos, The youngest is the most loved. Tudo antes que grandes letras manchem de vermelho o pano branco no topo do palco, Meet your meat, um statemant do vegetariano Morrissey que já vinha dos Smiths, Meat is Murder, com imagens servidas para chocar, animais criados para abater e ser bife no prato de cada um de nós. É a primeira vez que Morrissey sai do palco para deixar espaço à banda, adensar o drama na tela. E o microfone a apanhar outra vez alguém desprevenido. “Comentários?” O mais inteligente que se ouviu foi a pergunta “é mesmo verdade que não come ovos?” Claro que não come ovos. “O que é que isso lhe interessa?”, responde, já sem olhar a interlocutora. E ainda não tinha acontecido um cover. To Give para quebrar a tensão, música de outro, Frankie Valli, balada para quem se quer ver e ser visto como um crono para aclamar o que saiu dele. Entra a biográfica November spawned a monster e, outra vez Smiths, Sweet & Tender Hooligans. É tempo de limpar o suor e voltar de camisa lavada para Let Me Kiss You. Quem o conhece sabe o que se segue. A camisa sai, claro. Falta saber em que verso: “But then you open your eyes, and you see someone, that you physically despise”. É Morrissey nu, aos 55 anos. Auto-depreciação? “But my heart is open/ my heart is open to you”, as palavras finais são ditas a nu, camisa baixa antes de a atirar ao público e a saída uma hora e um quarto depois de entrar. Não se ouviu Suedehead, não se ouviram outros clássicos. Uma passagem pelos concertos mais recentes e percebe-se que há uma gestão da dose de mega-hits. O humor, o sítio ditam um alinhamento que aqui poderia ter tido muitos encores, mas teve o que melhor lhe serviu. How soon is now? Smiths a abrir e fechar o primeiro concerto da tour de 2013 de Morrissey pelos EUA e o palco é tomado de assalto. Uma criança entrega-lhe um envelope, uma rapariga abraça-o. Atenções distraídas para alguém que já o agarra pelos ombros. Segundos até ser posto fora, os mesmos que demorou o rapaz que viera de comboio com o blusão estampado com os Smiths a chegar até Morrissey e a forçar um cumprimento que foi um pouco mais do que isso. No fundo do palco, longe das luzes, Morrissey recompunha-se, recuperava a voz, saltou três versos. Visivelmente chateado virou as costas ao público, especula-se se será motivo para cancelar o próximo espectáculo. Nunca se sabe, conhecem-se-lhe as birras. Mas a voz regressa. Ele canta. “I am Human and I need to be loved/ Just like everybody else does…”O pano caiu, as luzes acendem-se e a sala fica vazia ao som de Klaus Nomi com Death, o lamento de Dido, de Purcell. Como num requiem. Fim do primeiro concerto.
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
Mau tempo já causou um morto e continua a provocar estragos
Um morto, dois feridos, quedas de árvores, pessoas desalojadas, deslizamentos de terras, derrocadas de muros e estradas cortadas. O mau tempo está provocar estragos de Norte a Sul do país. (...)

Mau tempo já causou um morto e continua a provocar estragos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.69
DATA: 2013-01-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um morto, dois feridos, quedas de árvores, pessoas desalojadas, deslizamentos de terras, derrocadas de muros e estradas cortadas. O mau tempo está provocar estragos de Norte a Sul do país.
TEXTO: Um idoso de 85 morreu em Abrantes, Santarém, com um traumatismo craniano depois ter sido projectado contra o chão pelo portão de casa, impelido pela força do vento. Duas pessoas ficaram feridas depois da queda de duas chaminés num prédio em Sintra. O telhado de uma casa em Santiago do Cacém, Santarém, foi arrancado pelo vento, deixando quatro pessoas desalojadas. Desde as oito horas da manhã de sexta-feira até ao meio-dia deste sábado que a Protecção Civil registou 3888 ocorrências em todo o país. Destas, 2589 são quedas de árvores. Os distritos mais afectados são Lisboa, Coimbra e Porto. Miguel Cruz, da Protecção Civil, disse ao PÚBLICO que a A1 está cortada ao trânsito desde o meio-dia ao quilómetro 138, na zona de Pombal. O encerramento da auto-estrada do Norte deveu-se à queda de árvores e a um poste de alta tensão e ainda não há previsões de reabertura. Também não se circula no IC2 na zona da Castanheira do Ribatejo. O IP3 está igualmente cortado na zona de Penacova e é impossível circular na A22 entre Monte Gordo e Vila Real de Santo António, disse à Lusa uma fonte da GNR. BarcelosUm pónei foi apanhado na noite desta sexta-feira pelas cheias do Rio Neiva, em Barcelos, ficando semi-submerso. O animal foi avistado este sábado pelas 8h00, tendo sido seguidamente resgatado por uma equipa de mergulhadores dos Bombeiros Voluntários de Barcelos, pelo que poderá ter passado toda a noite na água. O Rio Neiva galgou as margens e invadiu as leiras contíguas, onde a água chegou a atingir mais de 1, 5 metros de altura. À operação de salvamento – em que a dona do pónei participou – assistiram dezenas de curiosos. BejaSegundo o CDOS de Beja, neste distrito foram registadas mais de 40 ocorrências relacionadas com quedas de árvores e limpeza de vias. Em Santa Clara do Louredo duas viaturas ficaram danificadas, devido a quedas de árvores, de acordo com a mesma fonte. Coimbra Segundo avançou uma fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) à Lusa, “cerca de 90% das ocorrências” registadas nesta sexta-feira e sábado estão relacionadas com queda de árvores. Na noite desta sexta-feira a queda de uma árvore em Coimbra atingiu três veículos ligeiros. Em Montemor-o-Velho também caiu uma árvore sobre a cabine de uma viatura pesada de mercadorias. A chuva intensa e o vento forte provocaram ainda “pequenas inundações” que não atingiram edifícios e caíram “algumas estruturas mais frágeis” sem causar vítimas, contou a mesma fonte à Lusa. Os Bombeiros Sapadores de Coimbra receberam “centenas” de pedidos de auxílio nestes dois dias, “principalmente relacionados “com quedas de árvores e inundações”, disse à Lusa fonte da corporação, adiantando que “não houve nenhuma situação grave”. Segundo confirmação de fonte do Destacamento de Trânsito da GNR em Coimbra, várias estradas do distrito têm estado temporariamente cortadas ao trânsito ou com a circulação automóvel limitada, devido à queda de árvores e deslizamento de pedras ou terras. Os concelhos mais afectados são: Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Lousã, Mira e Montemor-o-Velho. CovilhãAs estradas no maciço central da Serra da Estrela estão fechadas devido a um intenso nevão, disse à agência Lusa fonte do Centro de Limpeza de Neve nos Piornos. A estrada que atravessa a montanha entre Piornos, Torre e Lagoa Comprida, está encerrada desde as 2h30. Às 8h, foram encerradas também as ligações a Manteigas e Loriga. "Está a nevar muito e há muito vento", descreveu a mesma fonte. No Centro de Limpeza de Neve, nos Piornos, a temperatura ronda os zero graus. Évora Segundo fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Évora, registaram-se 41 quedas de árvores, duas inundações nos concelhos de Estremoz e Borba e duas quedas de estruturas também nestes dois concelhos, diz a agência Lusa. Os concelhos de Évora e Estremoz foram os que registaram maior número de quedas de árvores. Figueira da FozO mau tempo provocou a derrubada de parte do muro do topo sul do Estádio Municipal José Bento Pessoa. A parede que separa o estádio e a estrada, no topo norte do recinto, foi igualmntre afectada, tendo caído parte da estrutura. Uma vez que a bancada sul não tem sido aberta ao público, danos não deverão colocar em causa o encontro de domingo entre a Naval 1. º de Maio e o Sporting de Braga B. A cidade foi também atingida por uma falha eléctrica. GuardaEntre a meia-noite e as 12h foi registada a queda de 24 árvores em São Romão, Manteigas, Aguiar da Beira, Celorico da Beira, Trancoso, Guarda, Gouveia, Vila Nova de Tazem, Fornos de Algodres, Gonçalo, Seia, Loriga e Pinhel, que “não causaram danos”, disse à agência Lusa uma fonte do CDOS deste distrito. A mesma fonte conta que a chuva forte provocou “o arrastamento de terras” em Pinhel e São Romão, no concelho de Seia. Descreve ainda que, em Manteigas, “os ecopontos voaram com o vento”. O coordenador do serviço Municipal de Protecção Civil fala na queda de duas árvores na cidade da Guarda, uma no recinto do Hospital Sousa Martins e outra no Parque Municipal, que também não causaram prejuízos. LeiriaO mau tempo no distrito de Leiria deixou quartéis de bombeiros sem comunicações via rádio e vários concelhos sem eletricidade, disse este sábado à Lusa fonte do CDOS. Entre a meia noite e as 12h00 deste sábado foram registadas 330 ocorrências, destacando-se quedas de postes de eletricidades e árvores que atingiram carros e habitações, impedindo a passagem em algumas estradas e linhas ferroviárias. A Protecção Civil não possui qualquer registo de feridos devido ao mau tempo neste distrito. LisboaVárias ruas de Lisboa têm estado temporariamente encerradas para limpeza de árvores ou objectos caídos – sobretudo painéis publicitários - na via pública arrastados pelo vento forte, disse à agência Lusa fonte do comando metropolitano da PSP da cidade. A situação mais permanente verificou-se na ponte 25 de Abril que tem a circulação de motociclos e veículos pesados suspensa devido ao estado da via e às fortes rajadas de vento, mas que poderá voltar à normalidade “dentro de pouco tempo”. Na avenida Gago Coutinho, o trânsito esteve suspenso para que as autoridades retirassem uma árvore caída, situação já resolvida, tal como aconteceu no túnel João XXI, em Lisboa. “As ocorrências de árvores e materiais caídos nas vias foram bastantes, por toda a cidade, mas mais durante a madrugada, e tratam-se de casos resolvidos rapidamente”, acrescentou a PSP. Fonte da Polícia Municipal de Lisboa referiu que em Monsanto, no Campo Grande e na rua Félix Correia também se registaram incidentes do mesmo tipo. Desde as 18h00 desta sexta-feira, a Protecção Civil registou 522 ocorrências na região de Lisboa, à excepção da cidade. A maioria delas está relacionada com quedas de árvores e postes, como aconteceu em Vila Franca de Xira e Alenquer. PenicheQuarenta pessoas que viviam num acampamento comunitário foram realojadas, neste sábado de manhã, na Casa Municipal da Juventude. A medida de prevenção deveu-se aos ventos fortes que abalavam as estruturas frágeis daquele local, disse à agência Lusa, o presidente da Câmara de Peniche. Em Peniche, a barra do Porto de Pesca está também encerrada desde as 09h30, estando proibida a entrada ou a saída de embarcações, adiantou o autarca, após uma reunião da comissão municipal da Protecção Civil. O responsável da Protecção Civil disse ainda que a estrada marginal norte está cortada até ao Cabo Carvoeiro, mesmo no lado oeste da península, assim como está condicionada ao trânsito a estrada nacional entre Atouguia da Baleia e Ferrel. Devido aos ventos fortes, as coberturas da Igreja de São Pedro, de um hipermercado da cidade e dos armazéns dos Serviços Municipalizados ficaram parcialmente destruídas. Entre as 60 ocorrências registadas no concelho desde a madrugada, registaram-se quedas de árvores e de sinalização rodoviária, telhas e chaminés partidas em habitações particulares e cabos eléctricos danificados. No terreno está uma centena de pessoas, entre bombeiros, funcionários da câmara e das juntas de freguesias, a acorrer aos pedidos de ajuda. Ponte da BarcaDuas pessoas tiveram de ser realojadas depois de um deslizamento de terras que afectou a sua habitação, na freguesia de Castro, à 1h49 da madrugada deste sábado, diz a Lusa com base em informações do Centro Distrital de Operações de Socorro de Viana do Castelo“Houve necessidade de realojar as duas pessoas que ali residiam em habitações de familiares e a situação está a ser acompanhada pelo serviço de protecção civil municipal”, concretizou o comandante distrital de operações de socorro, Paulo Esteves. Os bombeiros tiveram ainda de resgatar, com meios rodoviários pesados, duas pessoas que se encontravam num bar em Ponte de Lima e que foram surpreendidas pela subida das águas do rio Lima. No total, entre as 8h00 desta sexta-feira e 10h00 deste sábado, registaram-se 67 ocorrências no distrito de Viana do Castelo. Dessas, contam-se 22 por quedas de árvores, 20 por inundações, dez por deslizamentos de terra, quatro por desabamentos e três por quedas de estruturas, entre outras. Encerradas ao trânsito automóvel continuam as pontes românicas de Vilar de Mouros, em Caminha, e Estorãos, em Ponte de Lima, continuam há 24 horas encerradas ao trânsito automóvel, devido à subida das águas, respectivamente, dos rios Coura e Estorãos. A subida das águas do rio Vez levou ao corte da estrada municipal 505, em Sabadim, Arcos de Valdevez. PortalegreNo distrito de Portalegre, segundo o CDOS, ocorreram 24 quedas de árvores e duas inundações, nos concelhos do Crato e Arronches. De acordo com o CDOS de Setúbal, desde as 18h desta sexta-feira e as 8h deste sábado, registaram-se 91 quedas de árvores no distrito. SantarémUm homem, de 85 anos, morreu este sábado em Carreira do Mato, Abrantes, no distrito de Santarém, com um traumatismo craniano após ter sido projectado para o chão pela força do vento, confirmou a responsável pela Protecção Civil de Abrantes e presidente da autarquia local, Maria do Céu Albuquerque, à agência Lusa. “Ao ser projectado pelo portão de casa, impelido pela força do vento, o senhor caiu mal e bateu com a cabeça no chão não reagindo às tentativas de reanimação”, disse aquela responsável. Em Abrantes, até às 13h00 deste sábado, Maria do Céu Albuquerque apontou para dezenas de vias obstruídas pela queda de árvores de pequeno, médio e grande porte, duas casas destelhadas pela força do vento, cortes de luz em várias localidades, aluimento de terras e barreiras e desabamento de algumas casas que estavam em pré ruína. “No total registámos 386 ocorrências transversais a todo o distrito”, disse à Lusa o Comandante Distrital do CDOS de Santarém, Joaquim Chambel. A maioria das ocorrências – registadas até às 13h00 – foram quedas de árvores (311). Seguem-se 52 ocorrências por queda de estruturas, dez por desabamentos e deslizamento de terras, nove por quedas de cabos e ainda quatro inundações. Uma das árvores caiu em Almeirim e provocou o despiste de uma viatura pesada de mercadorias, mas, segundo o comandante, “não houve qualquer vítima”. Segundo a Protecção Civil de Santarém, duas pessoas, em diferentes locais, foram retiradas de casa por motivos de segurança, mas não há registo de desalojados. No distrito registaram-se igualmente cortes de electricidade em várias localidades, sem afectar as comunicações dos bombeiros e da Protecção Civil. SetúbalA Comandante Distrital de Bombeiros de Santarém, Patrícia Gaspar, adiantou à Lusa que “no concelho de Santiago do Cacém, o mau tempo deixou uma casa destelhada e quatro pessoas desalojadas, que, entretanto, já estão a já estão a ser apoiadas pelos serviços da protecção Civil Municipal”. Em Setúbal, o CDOS registou a ocorrência de cinco quedas de cabos eléctricos, três aluimentos de terras, uma pequena inundação numa habitação e 24 quedas de estruturas, sobretudo telhados de chapa e painéis de publicidade. SintraDois jovens foram feridos pela queda de duas chaminés de um prédio em Agualva, disse à agência Lusa o comandante dos Bombeiros de Agualva-Cacém, Luís Pimentel. De acordo com Luís Pimentel, ao início da tarde deste sábado o vento e a chuva fortes provocaram a queda das chaminés, tendo uma delas caído em cima de uma menina de 13 anos e de um rapaz de 18 anos. Ambos foram assistidos no local e um deles apresenta fracturas expostas. Posteriormente, foram transportados para o Hospital Santa Maria, em Lisboa. O mercado da Praia das Maçãs foi encerrado pela Polícia Municipal por volta das 11h00 deste sábado depois de parte da cobertura ter ruído devido à chuva e aos ventos fortes. O vereador da câmara municipal responsável pela área dos mercados, Pedro Ventura, disse à agência Lusa que não se registaram vítimas e que o mercado vai ter protecção policial durante este sábado. “Agora resta-nos avançar com a obra de reposição da cobertura”, adiantou. Em Sintra, o mau tempo afectou ainda parte da cobertura do mercado da Tapada das Mercês, mas com menor impacto do que aconteceu na praia das Maçãs. O Comandante da Protecção Civil de Lisboa, Elísio Oliveira, disse ao PÚBLICO que há visitantes no parque que estão presos na serra de Sintra, devido ao mau tempo. Porém, estão a ser acompanhados pelos bombeiros e pela Protecção Civil até estarem reunidas as condições para poderem abandonar o local. Vila Real A chuva e o vento forte provocaram pequenas inundações em estradas, devido à subida de ribeiros e verificaram-se ainda algumas quedas de árvores e de ramos, que não provocaram danos significativos, contou o comandante distrital de operações de socorro de Vila Real, Carlos Silva, à agência Lusa. A mesma fonte adiantou que na Régua ocorreram dois deslizamentos de terras em zonas que já estavam a ser movimentadas com vista à instalação de vinhas e que, portanto, ainda não estavam devidamente estabilizadas. “Mas sem significado nem importância de maior, são situações com alguma normalidade”, frisou. Segundo Carlos Silva, já começou a nevar no concelho de Montalegre. “As previsões apontam para a manutenção desta instabilidade ao longo do dia, embora a tendência seja para ir tendencialmente melhorando”, salientou. A Protecção Civil contabilizou 30 ocorrências durante a noite desta sexta-feira, a maior parte delas relacionadas com quedas de árvores e pequenas inundações, diz a agência Lusa
REFERÊNCIAS:
Depois da guerra, o paraíso era Portugal
Entre 1947 e 1952, 5500 crianças austríacas foram acolhidas por famílias portuguesas. Fugiam das marcas da II Guerra Mundial: a fome e o frio, o pai que tinha ficado na guerra. “Lá é o paraíso”, diziam-lhes as mães antes da partida. De regresso, já ninguém as entendia, já só falavam português. (...)

Depois da guerra, o paraíso era Portugal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-01-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre 1947 e 1952, 5500 crianças austríacas foram acolhidas por famílias portuguesas. Fugiam das marcas da II Guerra Mundial: a fome e o frio, o pai que tinha ficado na guerra. “Lá é o paraíso”, diziam-lhes as mães antes da partida. De regresso, já ninguém as entendia, já só falavam português.
TEXTO: Nunca na vida Fini Gradischnig tinha visto uma banana ou uma laranja. Nem imaginava que numa terra mais a sul da sua, a Áustria, houvesse gente a comer sopa fria de tomate. Muito menos imaginava um país em que as crianças pudessem brincar despreocupadas um dia inteiro. Filha da II Guerra, nascida no Inverno de 1941, um dos mais rigorosos do século, sabia bem o que era passar fome ou não ter pai – o seu “foi para a Rússia e lá ficou”. É tudo o que sabe dele. Um dia, numa aula, um professor perguntou quem queria passar umas férias fora do país, em casa de uma família, que poderia ser portuguesa, espanhola, suíça. Fini Gradischnig tomou logo a decisão. Até porque gostou muito de uma daquelas palavras: Portugal (não sabia ainda que nunca mais se separaria dela). Tinha oito anos e tratou de tudo, até dos papéis para a viagem e de conseguir a assinatura da mãe. “Era assim, éramos muito mais independentes, também fruto daquele tempo horrível. ”A família que a esperava em Lisboa era de Lagoa. E é daí, onde vive actualmente, que parte para Lisboa para nesta quinta-feira, às 18h30, no Centro Cultural de Belém, contar a sua história, no lançamento da “Acção Crianças Cáritas Portugal”, uma iniciativa que recorda o acolhimento de milhares de crianças austríacas por famílias portuguesas nos anos que se seguiram à II Guerra Mundial. A exposição, no CCB, pode ser visitada até ao fim de Janeiro. Ao mesmo tempo, as Cáritas portuguesa e austríaca lançam uma campanha de angariação de fundos para ajudar famílias portuguesas carenciadas (a maior parte do dinheiro será recolhido na Áustria, num gesto de agradecimento a Portugal). “Como Portugal está a passar por tempos difíceis, com as crianças a sofrerem as consequências da crise, era o momento certo para agradecer esta generosidade”, explicou o embaixador da Áustria, Bernhard Wrabetz, que promoveu a iniciativa. Como Fini, outras 5500 crianças austríacas foram acolhidas, entre 1947 e 1952, por famílias portuguesas, num programa da Cáritas. Fugiam à destruição e à miséria do pós-guerra. Em Viena, entravam num comboio com destino a Génova, em Itália, onde eram esperadas por um barco que as levaria ao destino final, Lisboa, numa viagem raramente calma, quase sempre horrível. Levavam uma mala e, ao pescoço, um cartão com o nome, um número e o apelido da família que os iria buscar no destino. Uma viagem duraA viagem era dura. Demoravam uma semana a chegar. Eram centenas de crianças, muito juntas. Há quem conte que veio a dormir debaixo dos bancos do comboio. Alguns ficavam doentes durante esses dias, no barco quase todos enjoavam, incluindo os funcionários da Cáritas que as acompanhavam até serem entregues às famílias, já depois de um banho que tomavam logo à chegada. Mas Portugal seria “o paraíso”, tinham-lhes prometido. E é assim que Fini descreve o que encontrou. Depressa as casas semidestruídas em que viviam nas grandes cidades austríacas dariam lugar a outras que lhes pareciam enormes, em aldeias ou pequenas vilas espalhadas pelo país. “Tudo era grande e bonito, de mais para mim, assustava-me um bocadinho”, contou esta austríaca ao PÚBLICO numa conversa ao telefone a partir de Lagoa, onde vive. “Lembro-me que depois de chegar e de tomar banho a minha mami [mamã, em alemão] me vestiu um vestido com uns barquinhos bordados e eu senti: ‘Pronto, agora és uma princesa. ’” Quase todas aquelas crianças passaram a tratar as pessoas que as receberam por pais – sem se esquecerem que havia uma família na Áustria à espera delas. Neste caso a mami era a filha mais velha do casal que a acolheu. Também essa "irmã" estará hoje no Centro Cultural de Belém. Muitas das crianças ficaram em vilas e aldeias do Alentejo e do Algarve, outras foram para Norte. O sotaque do Alto Minho (e nada que se pareça com alemão) com que Hannelore Rodrigues Cruz atende o telefone fica explicado quando conta que nunca fez a viagem de regresso à Áustria. Pouco se lembra dos anos que se seguiram à guerra. Nasceu em 1943 e chegou a Portugal com cinco anos. Recorda-se, isso sim, da infância na casa dos "pais adoptivos", uma casa senhorial numa quinta em Ponte de Lima. Da escola que ficava longe (três quilómetros a pé com o pai, que trabalhava na câmara, mais um autocarro), da quinta, de andar ao ar livre, de bicicleta, de passar tempo na casa dos caseiros. "Gostava deles, de ver a criação que eles tinham. E as vacas, eu adorava puxar por elas, trazia-as", recorda. Uma aldeia junto a EspanhaVoltou a Viena já com 23 anos para conhecer a família, com quem toda a vida tinha trocado correspondência – e com todas as dificuldades de quem já não falava alemão. Nunca viu o pai que, como todos os pais, estava em combate. Ele viu-a uma vez, foram-na mostrar aos dois anos. Mas essa viagem a Viena não durou mais do que três meses. Voltou para Portugal para terminar o curso de Canto no Conservatório, teve filhos e trabalhou sempre como professora de Educação Musical. O casal que a acolheu – a quem chama "pais adoptivos" apesar de nunca a terem chegado a adoptar – deixou-lhe parte dos bens em testamento. Stefanie Wiedermann, que hoje tem 74 anos, é excepção. Primeiro, foi preciso convencerem-na de que seria bom ir para Portugal. Depois foi das poucas a não querer ficar. Quando chegou foi buscá-la um "senhor alentejano muito alto, muito magro, num desses [carros] dona-elvira". Chamava-se José Lourenço Ventura. Ela chamou-lhe "padrinho". "Fui parar ao Alentejo, junto à fronteira com Espanha, mas é muito bonito". E assim trocou Viena durante oito meses por uma aldeia em Portalegre, chamada Porto de Espada. "Cheguei e não percebia nada, mas fui aprendendo. "Era tudo demasiado diferente: numa aldeia tão pequena, todos os alunos da escola primária em que a inscreveram tinham aulas na mesma sala, juntos. Os meses passavam e as saudades da mãe apertavam. Ao contrário das outras crianças, ela não queria ficar em Portugal. Foi para a Áustria e esqueceu-se logo do português: não queria voltar a sair. E como é que acabámos a ter esta conversa em Lisboa, numa casa em que Stefanie vive há 48 anos? Aos 20 anos veio visitar a família do "padrinho" a Portugal e decidiu que queria voltar a falar português. Foi para casa de uma amiga em Lisboa tirar um curso de Língua e Cultura Portuguesa na Faculdade de Letras (depois de a mãe ter enviado uma autorização de Viena porque o "padrinho" não via com bons olhos a ideia de ir "uma rapariga sozinha para Lisboa") e aí conheceu António. Conseguiu um emprego na secção comercial da embaixada e nunca mais voltou para a Áustria. "Uma criança não se dá"Até nas aldeias era comum haver mais do que uma família a acolher crianças ao mesmo tempo. E muitas perderam o contacto umas das outras quando regressaram às suas cidades na Áustria. Por isso, em 1998, Waltraud Hoffinger, que esteve por duas vezes em Portugal – acolhida pela família do "sr. dr. Lavadinho", um veterinário de Campo Maior – pediu listas à Cáritas, fez contactos, pôs anúncios em jornais à procura das pessoas que tinham estado em Portugal depois da II Guerra. Todos os meses há um encontro em que se juntam uns 30, da zona de Linz, onde vive. "E quando faço uma festa são 50 ou 60. "A partir desses contactos organizou, há 12 anos, uma viagem a Portugal de todas essas "crianças". Muitas já tinham perdido o contacto das famílias que as tinham acolhido e hoje é ela que lhes serve de tradutora e de intérprete. O português não esquece graças aos "amigos da RTP", a que está "sempre ligada", e à correspondência que nunca deixou de trocar com a família que deixou em Portugal. Waltraud conta a sua história ao telefone, de Linz. Mas em Lisboa conversámos com a “irmã do coração”, Maria Beatriz, que sempre lhe chamou "Traudi". Quis falar sobre a chegada, sobre o deslumbramento com as casas de banho de verdade, com os vestidos mandados costurar de propósito e os laços para as tranças. E os bibes com folhos que as meninas de Campo Maior usavam na altura. Maria Beatriz mergulha nos recortes e nas páginas de jornais que ao longo dos anos foi guardando religiosamente, em envelopes etiquetados. Lê todos os títulos, explica as fotografias. E detém-se numa frase que quase todos repetem: ao fim daquele ano em Portugal ninguém queria voltar para casa. “Isto é muito triste, no final muitas crianças não quiseram voltar”, comenta Maria Beatriz. “E as famílias ficaram… tristes. ” Ao fim da sua segunda temporada em Portugal – que durou mais de três anos – Fini tentou ficar para sempre. A avó não deixou, disse: “Uma criança não se dá”. Voltou então. Mas "sempre com as saudades". Um dia, 26 anos depois, foi o marido que lhe disse: "Tens de ir para Portugal, deixaste lá metade do teu coração. " E vieram os dois, para uma casa muito perto de onde passou quatro anos da infância, em Lagoa.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Páscoa à portuguesa numa ilha indonésia
Na imensa muçulmana Indonésia, apenas uma ilha tem uma maioria de católicos. Nas Flores, garantem os locais, a Páscoa é celebrada como os portugueses ensinaram há quatro séculos. A língua lusa já não é falada, mas ainda se reza em português. E o Ronaldo é o Ronaldo. (...)

Páscoa à portuguesa numa ilha indonésia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-03-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na imensa muçulmana Indonésia, apenas uma ilha tem uma maioria de católicos. Nas Flores, garantem os locais, a Páscoa é celebrada como os portugueses ensinaram há quatro séculos. A língua lusa já não é falada, mas ainda se reza em português. E o Ronaldo é o Ronaldo.
TEXTO: É um momento de fé único no mundo cristão. Numa pequena ilha das cerca de 14 mil habitadas do maior país muçulmano do mundo, a Indonésia, a Semana Santa da Páscoa é festejada nas Flores como missionários portugueses terão idealizado há cerca de quatro séculos. Só nesta ilha existe uma maioria católica no país e tudo é feito passo a passo como numa viagem ao passado. Bem-vindo a uma impressionante manifestação de fé. Os barcos avançam devagar. São dezenas deles, de simples pirogas de madeira a enormes embarcações de pesca. Estão abarrotar de gente. Milhares de pessoas que rezam em conjunto. Nas margens da cidade costeira de Larantuca, especialmente junto ao cais, esperam outros milhares. Uns em silêncio, outros acompanhando a oração com enorme devoção. É o início das festividades da sexta-feira santa da Páscoa numa ilha de um país em que 89% dos cerca de 250 milhões de habitantes são muçulmanos. A ilha das Flores é excepção: entre os cerca de um milhão de habitantes, 85% são católicos. A herança foi deixada pelos missionários dominicanos portugueses que, em finais do século XVI, quando da queda da possessão portuguesa de Macaçar, chegaram em grande número às Flores. As tradições por eles avançadas mantêm-se até aos dias de hoje. A Semana Santa, assim mesmo em português, é uma delas. Os habitantes, embora já não falem a língua de Camões, continuam a rezar na língua lusa, agora num mistura com o indonésio que já predomina nas orações. Porém, todas as celebrações continuam a reger-se pelas práticas deixadas pelos dominicanos. E os locais juram que continuam praticamente iguais. O caixão que nunca foi abertoÉ o caso da impressionante procissão dos barcos desta sexta-feira, dedicada ao “Santo Meninu”, em Larantuca, o centro de todas as festividades. O enorme cortejo é encabeçado por um barco tradicional remado por dois homens em que é transportado um pequeno caixão. Os locais acreditam conter uma relíquia da imagem do Menino Jesus e que terá dado à costa do Mar das Flores no século XVII. Um caixão que, asseguram, nunca foi aberto. É a fé que os faz acreditar naquilo que séculos de passagem de palavra dizem ser assim. As emoções e orações sobem de tom assim que o pequeno caixão chega a terra. Os locais e os muitos milhares de visitantes cristãos (na Indonésia estima-se que sejam cerca de oito milhões) que vêm de várias ilhas rezam a uma só voz. Acendem-se centenas de velas que seguem o cortejo até à “Kapela Santo Meninu” não muito longe do porto. Aí, milhares de pessoas que durante semana veneraram o seu santo vão continuar a rezar. Horas sem fim, com uma enorme devoção e indiferentes aos mais de 30 graus e um nível elevado de humidade que desespera os que não estão habituados a tão pesado clima. Uma semana de enorme féAs festividades da Semana Santa começaram no Domingo de Ramos (“Dominggu Ramu”), há quase uma semana. Na quarta-feira seguinte foi dia de retiro. É proibido executar qualquer tipo de trabalho, não se podem realizar festas ou mesmo viagens mais longas. É igualmente um dia para a paz, para que não haja qualquer tipo de conflitos. “Para alegria e não para a tristeza”, dizem. A par da oração, o dia é igualmente dedicado à limpeza da cidade, especialmente por onde vai passar a procissão desta sexta-feira à noite, outro dos momentos altos desta Semana Santa. Ao logo de quilómetros, na beira das estradas, estão já construídas as estruturas de bambu onde serão colocadas milhares de velas que vão iluminar o cortejo, muitas delas feitas ainda de favos de mel silvestre, como nos séculos passados. Na quinta-feira começaram alguns dos momentos de maior devoção. Foi o dia de cumprir “promessa” como ainda hoje se diz na ilha. São horas impressionantes de fé. Depois da missa das 20h na Catedral “Reinha Rosari”, no bairro “Postoh” – fundado pelos portugueses em 1613 –, os cristãos marcham rumo à Capela da Senhora Mãe (“Gereja”, do original português igreja, “Tuan Ma”, consagrada a nossa senhora “Mater Dolorosa”) e à Capela do Menino Jesus (“Kapela Santo Meninu”). Milhares de peregrinos juntam-se em filas de espera silenciosas para entrar nas igrejas. Ouvem-se orações permanentes rezadas em indonésio, mas mescladas com dezenas de palavras portuguesas. Antes de entrarem nas igrejas, os crentes descalçam-se. Assim que vencem as portas dos templos ajoelham-se e, muito lentamente, dirigem-se aos altares para uma pequena prece. Filas toda a noiteNa Capela da Senhora Mãe veneram a imagem imponente de uma santa de manto negro que os locais acreditam ter cerca de 500 anos e ser de origem portuguesa. Na “Kapela Santo Meninu” adoram o caixão que nesta manhã encabeçou a procissão marítima. Nos templos, dezenas de mulheres queimam centenas de velas e incenso sem parar ao longo de toda a noite e madrugada. No ar, um manto de fumo intenso cobre todo o espaço de igreja. As orações, cantadas também por dezenas de mulheres igualmente vestidas de negro e que se vão revezando nas preces sentadas em bancos rasteiros, nunca param. As filas para entrar nos templos duram toda a noite. São coordenadas pelos membros dos chamados comités organizadores que, com notório profissionalismo, dirigem os milhares de peregrinos. São eles o garante de que os movimentos de entrada e saída nos espaços de fé são constantes. Sempre num movimento lento, em silêncio, ou apenas acompanhados de preces sussurradas. Há gente de todas as idades nas filas. Os mais velhos ostentam as suas melhores roupas. As senhoras de cabelos arranjados e trajes finos; eles de fatos de gala ou camisas coloridas de tecido batik, dos ministérios indonésios onde trabalham. Já os jovens trazem camisolas do Barcelona ou do Real Madrid, de selecções de vários países, incluindo a portuguesa. Nas costas das camisas lusas surge invariavelmente o nome de Ronaldo. O nome do goleador português é gritado sempre que percebem que o seu interlocutor é português. Elas usam calças e blusas apertadas, num contraste gritantes com os trajes austeros das muitas noviças com quem se cruzam nas filas. Há gente que segue de lágrimas nos olhos, mas, na maioria, é notória a satisfação e o orgulho de participar nesta manifestação de fé que, garantem, é “única no mundo” e realizada “como os portugueses faziam há 400 anos”. Os visitantes estrangeiros são recebidos com sorrisos e com acenos de cabeça, como que agradecendo a sua presença. “Podem entrar à vontade e tirar fotografias. Estão a divulgar a nossa cultura e a nossa fé”, diz ao PÚBLICO um membro de um dos comités organizadores num inglês atrapalhado. Em 1979 um terramoto de forte intensidade atingiu a cidade de Larantuka. Morreram mais de 150 pessoas e centenas de casas foram destruídas, algumas delas junto a estes dois templos. As igrejas ficaram intactas. A fé, já inquebrantável, ganhava ainda mais razão de ser para a gente das Flores. O PÚBLICO viajou a convite do Governo da República da Indonésia
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O que terá faltado a este tão feliz reencontro com Devendra Banhart?
O cantor de Smokey Rolls Down Thunder Mountain e Mala (os dois únicos álbuns visitados no concerto) continua a mostrar-se uma figura ímpar, um cantor de excepção. 3,5 estrelas. (...)

O que terá faltado a este tão feliz reencontro com Devendra Banhart?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.8
DATA: 2013-08-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: O cantor de Smokey Rolls Down Thunder Mountain e Mala (os dois únicos álbuns visitados no concerto) continua a mostrar-se uma figura ímpar, um cantor de excepção. 3,5 estrelas.
TEXTO: Devendra Banhart Lisboa, Centro Cultural de Belém 3 de Agosto, 22h15Desta vez, e será a única vez, Devendra está só em palco. Aquela voz, a sua, que é corpo de actor, matéria moldável ao sabor das palavras, liberta-se com expressividade desarmante e deixa-nos suspensos. Claro que conhecemos as palavras e a canção. É Won't you come over, do último Mala, como são aliás quase todas as interpretadas sábado no Centro Cultural de Belém (e sexta na Casa da Música, no Porto). Conhecemos-lhes as palavras e os sons mas Devendra Banhart tem essa capacidade rara de, em concerto, ir além da canção gravada. Porque “está” em cada canção, porque se entrega a elas como se elas acontecessem verdadeiramente ali. Vê-lo cantar sem banda (aconteceu em duas músicas antes do encore) acentua essa sensação. E portanto, quando saiu de palco depois de lançar um breve “obrigado, tchau!” ao público que praticamente lotou o CCB, era óbvio que este não o deixaria ficar definitivamente nos bastidores. O concerto, afinal, podia não estar a começar (já passara quase uma hora desde o seu início), mas estava certamente longe de terminar (assim pensávamos). A banda regressou então, o rock tropicalizado de Carmensita e “tu primo colorado” levou meia dúzia de raparigas e levantar-se dos bancos para dançar, e isto está a ser bom e vai ser melhor ainda. Mas não foi. Devendra, corpo esguio dançando em bicos de pés, bailou discretamente com a guitarra e a banda acompanhou-o com intenção e graciosidade. Depois de Carmensita, nova despedida e o adeus definitivo. É tão bom, não foi?No regresso a Portugal depois de um concerto no Optimus Alive de 2010, e oito anos depois de concertos memoráveis no Sudoeste e na Aula Magna, Devendra Banhart trouxe um óptimo novo álbum, Mala, e um fato aprumado a condizer com a apresentação mais sóbria. Já lá vão os tempos em que o palco era como encontro de hippies de bom coração, de tropicalistas instalados mais a norte no hemisfério. Devendra Banhart é agora outro, naturalmente. A exuberância concentra-se agora, totalmente, na interpretação. E é aí que o cantor de Smokey Rolls Down Thunder Mountain e Mala (os dois únicos álbuns visitados no concerto) continua a mostrar-se uma figura ímpar, um cantor de excepção. Na banda de quatro elementos que acompanhou Devendra nesta última data da digressão europeia encontrávamos um discretíssimo Fabrizio Moretti, baterista dos Strokes, ou Rodrigo Amarante, o ex-Los Hermanos que assinou a primeira parte do concerto e que, com delicadeza no dedilhar da guitarra e dolência melancólica na voz segura, ocasionalmente acompanhado pelos restantes membros da banda de Devendra, citou discretamente a “Irene” de Caetano (e há realmente algo de Caetano nele), sussurrou versos para anotar (“milagre seria amor ter rima breve”) e deixou-nos com as expectativas em alta para o álbum a solo, intitulado Cavalo, que se anuncia para breve. Dificilmente teríamos melhor introdução para o que se seguiria. Tal como em Mala, começamos pelo "young man on a dancefloor" que acredita em “visões e preces” de Golden girls. Foi o início da curta viagem que passou pela pop luxuriante de Baby, pela doçura de Daniel ou pelo marulhar psicadélico intenso da muito celebrada Seahorse. Devendra Banhart arranhou o português e improvisou, bem humorado as primeiras linhas de uma nova canção (“eu não falo português”, precisamente), para agradecer o talento de Rodrigo Amarante, momentos antes de recebermos o balanço latino da envolvente Mi negrita. Devendra contém multitudes: é trovador latino americano que idolatra Caetano que idolatrava Carmen Miranda, é presença andrógina que dramatiza os versos cantados porque sim, as palavras são importantes, é admirador do folk rock californiana da década de 1970 que o aborda dando o indispensável passo em frente (Never seen such good things foi óptimo exemplo disso) e baladeiro com humor na ponta da língua - e venha daí uma canção romântica como em emissão radiofónica de 1960 que desembocará em disco bem oleado (Your fine petting duck). No concerto do CCB, sem recuar por um momento ao passado que primeiro o notabilizou (o de Rejoycing the Hands ou de Cripple Crow), Devendra foi tudo isso, por vezes na mesma canção. Mostrou-nos que a sua música miscigenada continua fascinante. Porém, uma hora e pouco depois do início do concerto, quando ele a banda que tão bem o acompanhara abandonou o palco para não mais voltar, fica-nos uma sensação de insatisfação. Tal não esteve verdadeiramente relacionado com a duração do concerto – já vimos alguns de duas horas que passam num repente; já estivemos em concertos perfeitos, e não queríamos um segundo mais de música, que não ultrapassaram os 40 minutos. Faltou o clique que transformasse este tão feliz reencontro com um músico ímpar num momento maior. Muito gostaríamos de saber que clique seria esse. Mas Devendra não voltou para o dizer.
REFERÊNCIAS:
Taxa de desemprego baixa para 16,4%
Número de desempregados no segundo trimestre recuou para 886 mil, mas continua a ser mais elevado do que um ano antes. (...)

Taxa de desemprego baixa para 16,4%
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Número de desempregados no segundo trimestre recuou para 886 mil, mas continua a ser mais elevado do que um ano antes.
TEXTO: A taxa de desemprego medida pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) recuou para 16, 4% da população activa no segundo trimestre. É a primeira descida em dois anos nas estatísticas do INE, mas o número de pessoas sem trabalho continua em níveis historicamente elevados. Em Portugal, havia 886 mil desempregados no segundo trimestre, menos 66, 2 mil pessoas do que nos três primeiros meses deste ano, mas mais 59, 1 mil do que no período homólogo. A taxa de desemprego recuou pela primeira vez desde o segundo trimestre de 2011. A queda, de 1, 3 pontos percentuais, é a maior entre trimestres em 15 anos, ao mesmo tempo em que houve um aumento marginal da taxa de actividade (de 0, 1 pontos percentuais). Ao todo, a população em idade activa passou a ter mais 6, 2 mil pessoas, aumentando para 5, 39 milhões de indivíduos. O Governo prevê, no entanto, que a taxa de desemprego continue a aumentar até ao final do ano. E os números continuam a espelhar as dificuldades de recuperação sustentada do mercado de trabalho. Mais de metade dos desempregados são pessoas que estão fora do mercado de trabalho há um ano ou mais tempo, uma realidade que não passa ao lado do facto de serem os mais velhos e os menos qualificados os rostos do desemprego de longa duração. Embora na comparação trimestral tenha diminuído o número de pessoas que continuam fora do mercado de trabalho há, pelo menos, 12 meses, há registo de 548, 3 mil pessoas – e o número é superior em 105 mil face ao segundo trimestre do ano passado. Entre os 886 mil desempregados, 463, 2 mil são homens (16, 4% da população activa masculina) e 422, 8 mil são mulheres (uma taxa de 16, 5%). Contratos a prazo aumentamDe Abril a Junho, a população empregada aumentou em 72, 4 mil pessoas face ao trimestre anterior (baixou em 182, 6 mil na comparação homóloga), o que ajuda a explicar a queda trimestral do desemprego. Mas os dados indiciam um crescimento frágil no número de empregos. Não só houve um acréscimo mais forte dos contratos com termo do que sem termo, como apenas há um aumento na agricultura, floresta, pesca e serviços (onde se incluem os empregos da hotelaria e restauração, que a partir de Junho são um catalisador dos chamados empregos sazonais). Pelo contrário, na indústria, construção e energia, o número de empregos recuou. A maior queda registou-se no Algarve, onde a taxa passou, do primeiro para o segundo trimestre, de 20, 5% para 16, 9%, ficando abaixo do valor registado no segundo trimestre de 2012, o que não acontece em nenhuma das outras regiões. O número de empregos engrossou entre quase todas as idades (a faixa dos 35 aos 44 anos foi a excepção), com o maior aumento percentual a registar-se na população jovem (dos 15 aos 24 anos). Nesta faixa etária, houve um crescimento de 4% no número de empregos, o equivalente a um acréscimo de 10, 1 mil empregos em três meses. Mas a entrada de pessoas com o ensino superior concluído baixou do primeiro para o segundo trimestre (2%), havendo apenas um crescimento entre a população empregada que concluiu o secundário (2, 1%) e o 9. º ano (0, 1%). Dados mais recentes do Eurostat, que publica estatísticas mensais, apontam para um recuo do nível de desemprego para 17, 4% da população activa em Julho. A taxa medida pelo gabinete estatístico europeu não é comparável com a do INE, uma vez que é calculada com uma metodologia diferente, baseando-se nas estatísticas trimestrais do INE e nos dados registados pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Governo vê sinal de esperançaO PSD já veio, em comunicado, notar a descida estimada pelo INE considerando-a “um importante avanço na situação social e económica do país”, por confirmarem, segundo os sociais-democratas, que “o esforço colectivo dos portugueses nos últimos dois anos não foi em vão”. Mais contida foi a reacção do ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Pedro Mota Soares, que embora, falando num sinal de esperança, se referiu ao desemprego como “a maior fractura do ponto de vista social” no país. O Bloco de Esquerda e o PCP vieram deixar alertas sobre os números do desemprego. O coordenador do BE, João Semedo, atribuiu o recuo da taxa a uma variação sazonal e o mesmo disse à Lusa o dirigente comunista José Lourenço. “O problema de fundo é a recessão da economia. Enquanto continuar a austeridade e provocar a recessão não conseguimos ter emprego para todos os portugueses”, afirmou, citado por aquela agência noticiosa. Também para o PCP os dados agora conhecidos “não revelam qualquer alteração da situação de desastre económico e social”, disse José Lourenço.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD PCP BE