Argus: a guitarra como caravela que recebe e dá cultura
Inspirado na Odisseia, o novo disco de Luísa Amaro une Portugal e Grécia. Estreia-se nesta quinta-feira no Museu do Oriente. (...)

Argus: a guitarra como caravela que recebe e dá cultura
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Inspirado na Odisseia, o novo disco de Luísa Amaro une Portugal e Grécia. Estreia-se nesta quinta-feira no Museu do Oriente.
TEXTO: Luísa Amaro, discípula de Carlos Paredes, tem nova odisseia na guitarra portuguesa. Chama-se Argus, une Portugal e Grécia sob inspiração homérica e é apresentado ao vivo a 22 e 23 de Maio no auditório do Museu do Oriente, em Lisboa, às 21h30. Com ela estarão os músicos que participaram no disco: Gonçalo Lopes, no clarinete baixo; o pianista italiano Enrico Bindocci; a cantora cipriota Kyriakoula Constantinou (que cantará na sua língua pátria e em grego); e António Eustáquio no guitolão. A aproximação à Grécia fez-se “por mero acaso”, na sequência do CD Meditherranios (de 2009): “Foi uma viagem pelo Oriente e eu não queria um corte, queria uma viagem de continuidade. Quando estala a crise, a mim pareceu-me claro que Portugal e Grécia, estando em cantos opostos, com séculos de cultura, têm vários pontos de união. ” Com essa ideia no horizonte, faltava-lhe um elemento essencial. “Para mim seria a voz, ou alguém que trouxesse a cultura grega. E tive a sorte de a encontrar. Numa vez em que fui tocar a Itália, apareceu-me um casal, ele italiano e pianista, ela cipriota e cantora. Pedi-lhe para improvisar voz numa música minha e ela fez aquele lamento grego, muito bonito, só com vocalizos. Gostei muito e vi ali um caminho para o CD. Isto em 2011. ”Assim foi surgindo Argus, construído a partir da Odisseia de Homero, sem que Luísa Amaro tenha pisado solo grego (é uma viagem pensada, mas ainda não concretizada). Foi reler o texto, que conhecera muitos anos antes a par d’Os Lusíadas, e escolheu o título: “Fui buscar o Argus, não só porque é um nome muito bonito, mas porque me traz o cão de Ulisses, que o reconhece e depois morre. Aliás, foi o único que o reconheceu. E acho que é por esse lado dos sentimentos que nos podemos unir todos, sem demagogias nem nada. Depois do Argus, fui ao Ulisses. Queria recriar um bocadinho deste mundo fantástico… E pensei noutra coisa: a minha guitarra, a forma como que eu a toco, que não é de Lisboa nem de Coimbra, que não é fado, mas sou eu, acaba por funcionar como uma caravela que vai recebendo e vai dando da sua cultura, ligando-se aos povos. ”Em Meditherranios essa ligação fez-se com instrumentos do Afeganistão, do Irão. “E agora, através da voz, a guitarra vai-se ligando à Grécia, a Chipre, a Itália, continuando essa viagem, unindo. ” Uma viagem com histórias curiosas, como esta: “Um dos temas, Cardaes, era uma música que eu tocava no final dos concertos para que os músicos pudessem improvisar. Em Itália, perguntaram-me se eu não queria improvisar com os músicos que estavam comigo. Assim fiz e, ao ouvir as vozes, achei que eles tinham intuitivamente arranjado uma forma de cantar aquilo. Depois contaram-me que uma parte da minha música era quase igual a uma música sacro-profana de Puglia, cantada pelas pessoas que levam o andor da Madonna di Picciano. Por isso, na gravação, aparece a meio a Kyriakoula a cantar o tema como é cantado em Itália. ”O disco, com temas que remetem para a Odisseia (Argus, Tirésias, Circe…), fecha com Penélope. “É o lado mais doce e traduz muito aquilo que é a minha guitarra – que pode ter suavidade, lirismo. Depois daquela viagem, voltamos ao nosso universo. ”
REFERÊNCIAS:
Escavações na Praia da Luz marcam nova fase da investigação para tentar encontrar Maddie
A polícia britânica lidera a investigação e pediu autorização às autoridades de Portugal para ir mais longe. Operações no terreno contam com a ajuda de polícias portugueses. (...)

Escavações na Praia da Luz marcam nova fase da investigação para tentar encontrar Maddie
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2014-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: A polícia britânica lidera a investigação e pediu autorização às autoridades de Portugal para ir mais longe. Operações no terreno contam com a ajuda de polícias portugueses.
TEXTO: Uma nova fase da investigação ao desaparecimento de Madeleine McCann começa esta segunda-feira com o primeiro de vários dias previstos de operações de buscas em terrenos em volta do resort Ocean Club onde a família de Inglaterra passava férias em Maio de 2007, na Praia da Luz. A menina desapareceu do quarto onde ela e os dois irmãos dormiam enquanto os pais jantavam num restaurante a algumas dezenas de metros. Em 2008, a investigação foi dada como terminada pela polícia portuguesa. Mas a britânica Scotland Yard nunca deu por concluído o inquérito que agora, além das buscas e possíveis escavações, passará também pela tentativa de ouvir oito cidadãos portugueses, não sendo claro, segundo a imprensa britânica se na qualidade de suspeitos ou de testemunhas. A área onde esta segunda-feira se inicia a primeira de várias fases deste novo patamar da investigação foi selada às primeiras horas da manhã. Já em 2007 tinha sido alvo de buscas pela polícia portuguesa. Mas as provas até agora reunidas conduziram de novo a esta zona, justificando a operação, disse Keith Darquharson, um antigo conselheiro da Metropolitan Police, à Sky News. Pelo menos um avião militar também sobrevoou a zona esta manhã, acrescentou a mesma cadeia televisiva. Desta vez, porém, além dos elementos da polícia portuguesa e britânica no terreno, e dos cães pisteiros, as equipas estão munidas de radares para penetração no solo, de modo a observarem possíveis suspeitas de transformação não natural do solo, que justifiquem eventuais escavações. As fotografias aéreas também permitirão detectar zonas suspeitas. A operação surge duas semanas depois de a polícia britânica ter anunciado estar a seguir todas as linhas de investigação credíveis. Na mesma altura, avisou que não é apenas porque se avança para um “fase significativa do trabalho” que se asseguram “imediatamente as respostas que explicam tudo”. Ao jornal britânico Daily Mirror, uma fonte não identificada disse que esta nova fase pode permitir “o grande avanço” que se espera no caso. A “hipótese de o corpo ser encontrado obviamente existe”, notou, acrescentando que esse é o cenário que os pais de Maddie continuam a querer rejeitar na esperança de que a filha ainda possa ser encontrada com vida. “Mas esse cenário de pesadelo também permitiria encerrar o caso”, conclui.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha corpo cães desaparecimento
“Sou a favor de canções com retratos reais”
Com apenas 17 anos, Lorde confirmou no Rock in Rio a força de uma pop pouco alinhada com a superficialidade. (...)

“Sou a favor de canções com retratos reais”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2014-06-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com apenas 17 anos, Lorde confirmou no Rock in Rio a força de uma pop pouco alinhada com a superficialidade.
TEXTO: Sabia-se por antecipação que, mesmo com Robbie Williams, Arcade Fire ou Justin Timberlake, o Rock in Rio de 2014 seria dos Rolling Stones e do seu frenesim blues/rock’n’roll. Numa espantosa demonstração de como se esquivar da passagem dos anos, canções e músicos (sobretudo Mick Jagger) pareciam desafiar as regras básicas do ciclo biológico aplicáveis na passagem pelo planeta. E fizeram-no com o espalhafato que tal empresa exigia. Daí que, em sentido contrário, tudo no concerto da adolescente neozelandesa Lorde, passados dois dias, tenha parecido ainda mais extraordinário. Carregando consigo um quarto da vida de Jagger ou Keith Richards, os 17 anos de Lorde, nascida Ella Yelich-O’Connor foram, na verdade, mais longe do que os Stones. Sem qualquer recurso a espectacularidade, apresentou-se num palco habituado a todo o tipo de fogo-de-artifício, big bands e contas avultadas de electricidade, com canções quase despidas, belíssimas na sua minimalidade, sobrevivendo e conquistando uma multidão sem truques na manga para lá de uma confiança assombrosa, uma voz cheia de brilho e um reportório curto mas absolutamente seguro. Uma pop sem outra grandiosidade que não seja a de Ella. A causa parece simples e explica-se em dois pontos. Por um lado, Lorde vem da Nova Zelândia, terra que, garante a cantora, é pouco dada à cultura de celebridades, pelo que a simplicidade das suas canções e a sua eficácia junto de milhões não a tornou hiper-ambiciosa em relação à sua projecção de estrela pop em palco. Por outro, conforme explica ao PÚBLICO um par de horas antes da sua actuação no Rock in Rio, a sua criatividade está, antes de mais, ao serviço das letras. “Escrevo as letras e só depois crio música à sua volta, mas tão simples quanto possível, para que aquilo que estou a cantar se perceba e chegue às pessoas”, diz. “Talvez a minha música seja muito minimal por essa razão, por ser movida pela letra. Se não gostasse tanto de música provavelmente escreveria poesia. ”E aquilo que chega através das suas letras está em sintonia com as declarações que Ella foi soltando durante o último ano, sem os filtros e as práticas recomendadas por ter passado a fazer parte, repentinamente, do circo pop. Justin Bieber por não retratar fielmente a vida de um adolescente, Taylor Swift por cultivar uma imagem de princesa de contos de fadas, perfeita e inacessível, Selena Gomez por cantar noticiando a sua disponibilidade sexual, todos foram alvo de comentários de Lorde, com a inocência e a postura refrescante de quem acha que não deve pedir desculpa por ter opiniões. Num ano, aprendeu a ser mais comedida na sua crítica a uma pop em que continua a reconhecer “um forte elemento de superficialidade”. “Se todas as canções fossem sobre o aquecimento global seria pop na mesma?”, questiona-se no camarim do Rock in Rio. Mas, na verdade, aquilo que surpreendeu Lorde foi ver-se sozinha, perceber que, à excepção de Lily Allen, o seu desprendimento e as suas críticas pareciam ecoar de tão isoladas. Tudo isto está inscrito mais ou menos explicitamente nos temas compostos por Lorde para o seu disco de estreia, Pure Heroine. Royals, o enorme sucesso que a tirou da Nova Zelândia e lhe garantiu um milhão de singles vendidos nos Estados Unidos, é já um desabafo de desilusão com a opulência desmedida que toma conta de uma pop actual que se esquece de criar uma ligação com os miúdos a quem se dirige, assentando antes numa necessidade de viver dentro de fantasias de luxo ou de estranho apelo à deificação através de uma clara diferenciação de universos que não se tocam – músico e público. “Sou muito a favor de canções pop com significados e retratos reais”, garante. “Mas não todas, claro, senão seria muito aborrecido. ”A ascensãoTudo tem sido meteórico e revelador da sua fibra no percurso de Ella Yelich-O’Connor enquanto Lorde. Depois de descoberta num concurso de canto pela Universal neozelandesa quando tinha apenas 12 anos, assim que a editora esfregou as mãos para capitalizar um talento bruto que poderia moldar à sua maneira, logo lhe saiu o tiro pela culatra. Quando assinou pela multinacional, Ella, que nunca tinha composto uma canção em toda a sua vida, fez saber que só aceitaria gravar um disco escrito por si. Esse primeiro disco, The Love Club EP, foi lançado em 2013 e antecedeu Pure Heroine, levando-a a perceber que a sua criatividade era desencadeada por gente como Timbaland e Kanye West, embora acabe por desaguar num conjunto de canções de uma outra riqueza melódica e que, não sendo revolucionário, não denuncia obsessões pessoais nem soa derivativo.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura adolescente sexual princesa circo cantora
Uma idosa ficou ferida numa explosão em Chelas, Lisboa,
Explosão ocorreu na Estrada de Chelas. (...)

Uma idosa ficou ferida numa explosão em Chelas, Lisboa,
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-06-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Explosão ocorreu na Estrada de Chelas.
TEXTO: Uma explosão num prédio na Estrada de Chelas, em Lisboa, seguida de incêndio provocou nesta terça-feira à tarde pelo menos um ferido, no caso uma idosa e que já foi transportada para o Hospital de S. José. A explosão, seguida de incêndio, destruiu por completo a cobertura do edifício de quatro andares onde, segundo algumas testemunhas ouvidas pelo PÚBLICO no local, funcionou um lar de idosos, entretanto desactivado. A vítima era a única moradora e ficou com queimaduras em 50% do corpo. Segundo o major Tiago Lopes, segundo comandante do Regimento de Sapadores Bombeiros, a mulher, com cerca de 90 anos, é "à partida" a única vítima. Os bombeiros vão ainda realizar buscas com cães dentro do imóvel uma vez que não podem ser utilizados meios humanos nesta operação pois o edifício apresenta risco de ruína. Não se conhecem as causas da explosão mas os bombeiros admitem que a origem possa estar relacionada com uma fuga de gás. Em frente ao edifício existe um prédio de habitação que também ficou com a cobertura danificada e os vidros das janelas partidos. Na altura do sinistro, encontrava-se uma rapariga em casa que não ficou ferida. Pelo menos duas viaturas estacionadas perto do local ficaram também danificadas. A explosão foi sentida a vários metros de distância da sua origem. A circulação na Estrada de Chelas foi interrompida. Foram mobilizados "muitos meios" para o local, disse à Lusa fonte dos Bombeiros do Beato. O Instituto Nacional de Emergência Médica foi também chamado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos mulher corpo rapariga cães
Policia Inglesa alarga buscas na praia na Luz até dia 14
Investigadores da Scoland Yard vão permanecer no Algarve, pelo menos até ao dia 14. A tarefa não parece fácil. (...)

Policia Inglesa alarga buscas na praia na Luz até dia 14
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-06-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Investigadores da Scoland Yard vão permanecer no Algarve, pelo menos até ao dia 14. A tarefa não parece fácil.
TEXTO: Desvendar o cado Maddie, na praia da Luz, não parece ser tarefa fácil. A policia inglesa começou nesta quarta-feira a fazer escavações e vai continuar no Algarve mais tempo do que tinha previsto. As equipas de investigadores decidiram prolongar por mais uma semana o trabalho. Os pedidos de colaboração às autoridades portuguesas tinham sido solicitados até à próxima segunda-feira, mas o prazo já foi alargado até ao próximo dia 14. O terreno, onde se suspeita que poderão vir a ser encontrados vestígios que conduzam à descoberta do que se passou com a menina inglesa, - desaparecida há sete anos - está a ser inspeccionado com geo-radares em toda a sua extensão. Durante esta a tarde, os investidores da Scotland Yard e os colegas da PJ tiveram as atenções concentradas numa zona limítrofe do terreno, próximo da zona urbana. Para afastar a curiosidade dos populares sobre o que possam vir a encontrar, montaram uma tenda para poderem fazer escavações à vontade. Abriram um buraco no chão, mas o que estava na terra não se sabe. Mas não parece ter sido relevante do ponto de vista policial. Enquanto os repórteres captavam imagens de polícias, com carrinhos de mão a retirar terra, uma outra equipa de seis investigadores britânicos lançava uma outra frente de trabalho. De picaretas erguidas, cavaram em mais três locais. O espaço vai ser “batido” em toda a extensão. A polícia britânica assumiu a liderança da investigação e parece determinada a não deixar nenhuma ponta solta de um processo, que chegou a ser dado por terminado pela polícia portuguesa. Novas informações, vindas de Londres, reabriram o processo. Por isso, os cães pisteiros ingleses estão de volta, mas desta vez quem define a estratégia são os britânicos, apoiados pela Policia Judiciária. Na primeira fase, a PJ investigava, a Scoland Yard apenas colaborava. O programa das buscas é vasto. No meio de um campo cobertos de ervas daninhas secas, situado junto ao mar, estão sinalizados, com bandeiras amarelas, cerca de uma dezena de locais a inspeccionar. Nos próximos dias, deverão ser feitas escavações junto à ramagem de duas figueiras – locais onde o solo se apresenta menos compacto. A praia da Luz está, de novo, no topo dos noticiários, embora não haja, por enquanto, qualquer novidade em relação ao desaparecimento da menina inglesa. O perímetro de segurança do local está a cargo da GNR, usando o patrulhando o cavalo e controlando todas as entradas e saídas no espaço transformado em campo experimental de investigação criminal. Os sapadores bombeiros também estão a colabora na limpeza do campo, bem como os serviços de higiene da câmara municipal de Lagos.
REFERÊNCIAS:
Peixeiras do mercado de Matosinhos vão ter designers e estilistas como vizinhos
Guilherme Pinto, Jorge Barreto Xavier e Guta Moura Guedes inauguram hoje a Quadra, uma incubadora de design que arranca com 15 projectos. (...)

Peixeiras do mercado de Matosinhos vão ter designers e estilistas como vizinhos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Guilherme Pinto, Jorge Barreto Xavier e Guta Moura Guedes inauguram hoje a Quadra, uma incubadora de design que arranca com 15 projectos.
TEXTO: A venda de galinhas vivas e ovos frescos ou de peixe acabado de amanhar convive bem com bancas de hortaliça fresca e enchidos do Minho ou Trás-Os-Montes. Mas a vizinhança deste comércio tradicional com ateliers de joalharia contemporânea e oficinas de moda também pode ser muito produtiva. Pelo menos é no que acreditam os novos inquilinos do Mercado Municipal de Matosinhos, que, a partir deste sábado vão ocupar a vintena de espaços ali criados pela Quadra - Incubadora de design, vocacionada para acolher, apoiar e promover “empresas e projectos capazes de responder ao desafio de trazer soluções e ideias na área do design que se destaquem pela inovação, pelo arrojo e pela sustentabilidade das suas propostas”. A estilista Maria Gambina, uma das novas inquilinas desta incubadora (cujo concurso para selecção de propostas arrancou há quase um ano) resume o que sente numa frase: “O espaço é arejado e luminoso, a vizinhança é boa; tenho a certeza de que vou trabalhar bem e começar a comer melhor”. O projecto “Primeira dança” de Maria Gambina, com o qual a estilista portuense tenciona criar vestidos de noiva alternativos e acessíveis, foi um dos seleccionados para integrar a incubadora. O júri ficou convencido com a sua ideia de criar alternativas “aos vestidos de princesa, caríssimos e ultrapassados” que a deixaram “deprimida” num passeio pela Baixa do Porto em Agosto passado. “Vi, logo de seguida um grupo de jovens rastafaris, todas tatuadas, a fazer uma despedida de solteira. E pensei: onde é que estas raparigas vão arranjar um vestido de noiva?Foi aí que surgiu este projecto, que se chama Primeira Dança porque será inspirado na música que as noivas hão-de escolher para abrir o baile”, explicou. Experimentar o apoio de uma incubadora foi a decisão seguinte. O período de submissão de candidaturas à incubadora decorreu de 1 a 10 de Setembro de 2013 e a selecção foi feita pela Escola Superior de Artes e Design (ESAD), a parceira da Câmara Municipal de Matosinhos neste projecto, que também vai instalar na Quadra o seu núcleo de investigação — o ESAD IDEA. O concurso, a que se apresentaram mais de 60 projectos, previa três tipologias de incubação: o coworking, para a incubação de ideias ou projectos, compreendendo o apoio à criação de empresas; a incubação, para apoio a empresas muito jovens nas várias áreas do design e, por fim, os projectos âncora, para empresas já consolidadas, sempre numa lógica curatorial dos projectos incubados. Os projectos seleccionados integram as várias áreas do design, tendo a diversidade sido um dos critérios de escolha: gráfico, arquitectura, equipamento, produção têxtil, moda, vídeo e multimédia, joalharia (ver Caixa). Segundo José Bártolo, um dos responsáveis da Comissão Instaladora da Quadra - Incubadora de Design e Director de Investigação do ESAD IDEA, a qualidade do projecto e adequação à identidade da iniciativa foi igualmente analisada, assim como foi avaliada a viabilidade financeira do modelo de negócio apresentado e o potencial de crescimento do projecto ou empresa. Expectativas em altaQuando na manhã deste sábado o secretário de estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, e a comissária do Ano do Design Português, Guta Moura Guedes, acompanharem o presidente da câmara municipal de Matosinhos, Guilherme Pinto na inauguração desta nova incubadora, encontrarão muita gente carregada de enormes expectativas. Toni Grilo, um luso-descendente já bem implantado no mercado francês onde assina o design de produto de várias marcas mudou-se há um ano para o Norte do Portugal. E está feliz com a proximidade às indústria do mobiliário, e com as vendedoras do mercado tradicional que avista pela janela. “Também são inspiradoras, não tenho dúvidas”, dizia ao PÚBLICO esta semana, em vésperas da inauguração. Andreia Oliveira, designer de moda, e Tiago Carreira, designer de comunicação, responsáveis da Klar, uma empresa e marca que já tem vendido para algumas lojas em Londres, louvaram o facto de aparecer um projecto com as características da Quadra. “Somos uma empresa pro-animal, com uma ética muito firme na utilização de matérias primas nas peças que produzimos, e por nisso custa-me um pouco olhar para aquelas galinhas vivas, aqui ao lado, confesso. Mas em tudo o resto só posso manifestar a minha satisfação pela simpatia das senhoras, que nos acolheram com muita curiosidade e boa disposição”, diz Andreia. Tiago sublinha a expectativa que lhe traz estar inserido numa incubadora com outros designers de vários ramos: “Temos sempre muito a aprender uns com os outros”, justifica.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola cultura princesa animal
Anda a comer comida verdadeira?
Coma comida e evite as imitações. Este poderia ser o resumo das ideias de Michael Pollan, o norte-americano a quem o The New York Times chamou a “consciência alimentar da nação”. Será uma das estrelas desta edição da FLIP. (...)

Anda a comer comida verdadeira?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2014-07-26 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140726170206/http://www.publico.pt/1663742
SUMÁRIO: Coma comida e evite as imitações. Este poderia ser o resumo das ideias de Michael Pollan, o norte-americano a quem o The New York Times chamou a “consciência alimentar da nação”. Será uma das estrelas desta edição da FLIP.
TEXTO: Michael Pollan escreveu um livro para dizer uma coisa simples: “Coma comida. Não em excesso. Vegetais, sobretudo”. Parece pouco, mas é suficiente para encher as 250 páginas de Em Defesa da Comida que, juntamente com o seu livro anterior, O Dilema do Omnívoro, no qual denuncia a omnipresença do milho nos alimentos industriais, fez deste jornalista norte-americano, professor na Universidade de Berkeley, uma das figuras mais influentes no universo da alimentação ética e saudávelEm Paraty, onde será uma das estrelas da edição deste ano da Festa Literária (FLIP), irá falar do seu mais recente livro, Cooked – A Natural History of Transformation, relato da sua descoberta das técnicas básicas de cozinha, usando a água, o fogo, a terra e o ar. Mas o debate centrar-se-á também, certamente, nos livros anteriores (publicados em Portugal pela Dom Quixote, enquanto Saber Comer: as 64 Regras de Ouro foi editado pela Lua de Papel) e nas suas ideias, como a de que os nutricionistas têm vindo a destruir a nossa relação com a comida, reduzindo os alimentos a nutrientes e acabando com o prazer, ou as “regras de ouro” que criou, como estas: “Coma apenas alimentos que podem apodrecer”, “Evite produtos alimentares cujos nomes incluam termos como ‘light’, ‘pouco gordo’ ou ‘magro’” ou “Coma as porcarias todas que quiser desde que seja você a cozinhá-las”. Há um mês a revista Time dizia que “os cientistas estavam enganados ao classificar a gordura como o inimigo” e aconselhava-nos a comer manteiga, num artigo que reflectia muitas das ideias que defende. Sente que começa a ganhar uma guerra?Não é exactamente ganhar uma guerra. Há um reconhecimento cada vez maior de que as velhas ideias sobre nutrição que se baseiam numa obsessão em nutrientes únicos, bons ou maus, como a gordura ou o açúcar, partem de um princípio errado. Temos que nos centrar muito mais na comida e no contexto social que rodeia o acto de comer. Sinto-me encorajado com as novas orientações para a nutrição no Brasil que são revolucionárias. Em vez de dizerem para comerem isto e não aquilo, elas dizem para as pessoas comerem com outras pessoas, comerem comida verdadeira e evitarem a altamente processada. É, julgo, o primeiro país a fazer algo tão progressista neste campo, relacionado com o contexto social da alimentação e não apenas a química daquilo que comemos. Há sinais de que a indústria alimentar está disposta a fazer mudançasAcredita nesses esforços? A revista The Atlantic defendeu que é fundamental que a indústria apoie estes esforços, porque é ela quem realmente chega às pessoas. Temos que ser um pouco cépticos em relação a alguns desses esforços. Há uma longa história da indústria parecer estar a dar resposta às preocupações das pessoas. Um exemplo é precisamente a campanha para a redução do consumo de gordura, em que reformularam a comida para lhe retirar gordura, e isso não ajudou. Por duas razões: a gordura não era o problema que se pensava, e também porque sempre que se tenta tornar a junk food um pouco melhor, as pessoas acabam por comer mais por acreditarem que é mais saudável. Alguns dos esforços da indústria são apenas formas de nos conseguir vender mais comida. Outros são reais. Temos que ser vigilantes. Os objectivos da indústria não são manter a nossa saúde ou o nosso peso – são vender-nos mais comida. Se uma empresa que faz comida processada incluir um cereal integral, por exemplo, isso ajuda? Junk food continua a ser junk food, mesmo que seja 10% melhor. Fala muito do que se passa nos EUA, as preocupações das pessoas com o que comem, as calorias, etc. Porque é que este fenómeno é tão grande nos EUA, sendo este um país feito de pessoas que vêm de outros países, alguns com sólidas tradições gastronómicas como a Itália?Em parte por não termos uma cultura alimentar estável. Em muitos países, o que as pessoas comem é o que comiam os pais e os avós, é cultural. Nós não temos uma única cultura alimentar, mas sim várias. Sem essa influência estabilizadora da tradição, tornamo-nos mais vulneráveis à propaganda, ao marketing, ao que se lê no jornal. Quando aparecem artigos sobre os riscos da gordura ou do açúcar, toda a gente muda a forma de comer. Por outro lado, somos muito moralistas na forma como comemos. Noutros países as pessoas comem por prazer, por ritual, para estar em comunidade, enquanto para nós a questão do prazer é um problema, porque descendemos de calvinistas que pensavam que ter prazer com a comida ou outras actividades animais era de alguma forma pecaminoso. Temos vindo a falar de comida em termos científicos há 150 anos neste país. Se recuarmos aos anos de 1850, havia já uma enorme discussão científica sobre a melhor forma de comer. Sentimo-nos mais seguros a falar sobre ciência do que sobre prazer. Recentemente surgiu nos EUA uma bebida, Soylent, que se destina a pessoas que não querem perder tempo com a comida. Esse é um excelente exemplo. Que produto ridículo. É algo que nos mantém vivos sem o prazer da comida. Mas há pessoas que parecem sensíveis a esta ideia de que somos prisioneiros da alimentação e de que seria bom libertarmo-nos disso. São as mesmas que acham que devemos um dia conseguir transferir a nossa consciência para um computador. O corpo é um problema para estas pessoas. Mantêm-no na Cloud da Internet. Para mim, comer é uma parte muito importante do meu lazer. Não quero libertar-me disso. São pessoas que não compreendem o prazer de comer. E ficarmos livres para quê? Ganhar mais dinheiro? Usar uma nova aplicação?Há uma arrogância terrível na ideia de que sabemos o suficiente para simular comida. A alimentação de cada animal é algo que foi sendo aperfeiçoado ao longo de milhares de anos para chegar à simbiose entre o que comemos e o que somos. Se virmos a história do leite em pó para bebés, uma tentativa de simular o leite materno, vemos que não correu muito bem. Ainda não sabemos como fazer leite que seja equivalente ao das mães. A Soylent faz parte de uma grande tradição em que a ciência tenta ser mais inteligente do que a evolução, e tal como as outras experiências, vai falhar. É um produto que não se destina a alimentar os micróbios no nosso aparelho digestivo, e uma das coisas mais importante que aprendemos sobre nutrição nos últimos anos é que 90% do nosso corpo são micróbios e que temos que tratar deles também. Este é o momento da História em que estamos mais afastados da verdadeira comida?Sim e não. Estamos a avançar em duas direcções diferentes a mesmo tempo. Sim, estamos muito afastados da natureza, mas ao mesmo tempo as pessoas estão a redescobrir os prazeres da comida, plantas e animais que são deliciosos, tradições alimentares. Estamos no melhor dos momentos e no pior dos momentos. Fala muito na importância das dietas tradicionais, mas os nossos estilos de vida mudaram muito ao longo dos séculos. Até que ponto devemos ser críticos dessas dietas tradicionais? Em Portugal temos doces com muitos ovos e açúcar, que são tradicionais. Como devemos encarar esse tipo de coisas?Ter muito açúcar nas nossas dietas não é algo assim tão antigo. Não tínhamos açúcar processado até ao final do século XIX. Sem dúvida que comemos açúcar a mais e começámos a ver problemas relacionados com isso no final do século XIX, quando começa a tornar-se muito barato. Claro que temos que prestar atenção ao estilo de vida. As pessoas que fazem muita actividade física podem consumir muito mais açúcar do que os que se sentam à secretária todos os dias. Mas quando falo de dietas tradicionais refiro-me ao tempo antes da farinha e do açúcar refinados. Há um argumento muito usado pelas pessoas que criticam o seu ponto de vista: a história da alimentação é a história da transformação, e a comida processada é apenas mais um episódio dessa história. Sim, desde há dois milhões de anos que estamos a transformar os produtos crus da natureza em formas que os tornaram mais nutritivos e mais deliciosos. E, de repente, alguma coisa começou a correr mal: aprendemos a processar os alimentos de uma forma que os pode ter tornado mais convenientes, mas tornou-os também menos nutritivos. Houve um ponto de viragem no que tinha sido até então uma história bastante gloriosa, que foi o aparecimento de farinha branca e o açúcar refinado, que acontece pela mesma altura. É nesse momento que nos tornamos demasiado espertos para o nosso próprio bem. Tiramos aos alimentos os nutrientes, as fibras, e de repente surgem deficiências nutricionais em pessoas que comem esta comida processada, e concluímos que é preciso reforçar estes alimentos com vitaminas. Os interesses da indústria não são os dos nossos corpos. A indústria quer tirar a fibra da comida porque com ela a comida não congela tão bem, não se conserva tão bem. Além disso, procura comida que seja imediatamente gratificante, que seja absorvida pelo corpo muito rapidamente. Mas acontece que essa fibra é precisamente o que os micróbios gostam de comer, e se se matam esses micróbios à fome começamos a ter problemas de saúde. Por isso, agora voltamos a pôr as fibras na comida. Vai funcionar? Provavelmente é melhor ter a fibra original, porque a acrescentada não vai funcionar da mesma maneira. Os críticos do seu trabalho acusam-no de diabolizar toda a abordagem científica à alimentação. Não existe ciência que nos ajude a ter melhores alimentos?Eu não sou anti-ciência. Limito-me a ter em relação a ela a visão céptica que um jornalista deve ter em relação a tudo aquilo sobre que escreve, como a política, por exemplo. Não somos anti-política, mas temos uma ideia clara das suas limitações e da corrupção que existe. E existe corrupção na ciência também, sobretudo na ciência ligada à nutrição. Olhe para a Associação Americana de Dietética, todas as reuniões deles são patrocinadas por empresas de fast-food. Conseguem realmente ter uma discussão honesta sobre junk food?E mesmo que a ciência reduza os alimentos aos seus componentes para tentar entender o que cada um faz, como consumidores não temos que pensar assim. A linguagem que funciona para a ciência não deve funcionar num restaurante. Não precisamos saber o que é um antioxidante ou o ómega 3 para comermos bem. Devemos olhar para a comida, e deixar os cientistas preocuparem-se com os nutrientes. Eles já descobriram coisas importantes, ajudaram-nos a perceber as deficiências de determinadas populações em certos nutrientes e a descoberta das vitaminas foi um enorme ganho para a saúde pública. Então quando enriquecemos um alimento com nutrientes que faltavam a uma população…… salvamos vidas. Podemos evitar problemas como a espinha bífida se acrescentarmos ácido fólico à farinha. Isso é algo de extraordinário, mas devemos recuar um pouco e perguntarmo-nos: porque é que faltava ácido fólico na farinha? Porque o tiramos de lá. O problema foi criado por nós, e não pela natureza. Outra crítica que se ouve frequentemente é que a forma de comer que defende só é acessível aos mais ricos. Nem toda a gente pode plantar legumes no jardim, e quem é muito pobre e não tem tempo para cozinhar prefere ter uma pizza congelada. Não é preciso ser-se rico para comer bem. Grande parte da história da cozinha tem a ver com camponeses aprendendo a fazer comida nutritiva dos piores pedaços de carne e restos de vegetais. Se soubermos alguma coisa de cozinha podemos comer muito bem por pouco dinheiro. É preciso algum tempo, é verdade. E hoje há pessoas pobres que não têm nem dinheiro nem tempo. Mas a ideia de que não se pode comer bem se não se tiver dinheiro para comida biológica ou local não é verdade. Se usar comida verdadeira, não processada, que envolve alguma preparação, pode comer muito saudavelmente. Mas cozinhar envolve práticas que deixámos de ensinar às pessoas. Se lhes ensinarmos técnicas básicas, se quando saímos a escola soubermos preparar dez pratos, ganhamos um enorme poder sobre as nossas dietas. Nunca pensamos no tempo que demoramos num restaurante, à espera de mesa, ou a pedir. É tudo tempo que podemos usar para cozinhar. É uma questão geracional? Uma geração que se afasta da cozinha, outra que a redescobre, outra que se volta a afastar?Houve uma altura em que cozinhar era mal visto e as pessoas preferiam fazer outras coisas – ver televisão ou navegar na Internet. A minha esperança é conseguir contar a história da cozinha de uma forma que leve as pessoas a pensar que é uma maneira mais interessante de passar uma hora do meu tempo do que, por exemplo, a ver um programa sobre cozinha na televisão. As pessoas hoje estão interessadas na cozinha, porque é que não a praticam? Julgo que é por estarem intimidadas. Cozinhar na televisão parece atletismo profissional, é uma actividade heróica. É incrivelmente difícil. Há facas, chamas, um relógio. Mete medo. Mas isso não é a verdadeira cozinha, que é na realidade muito simples. Há também um grande esforço da indústria alimentar para nos dizer que não temos tempo para a comida. Existem todos aqueles anúncios que mostram famílias de manhã a tentar sair de casa, levar as crianças à escola e chegar ao trabalho, a correrem como baratas tontas, sem tempo sequer para deitar leite sobre uma taça de cereais, e por isso as crianças têm que comer uma barra no carro. Na verdade, podiam ter posto o despertador para dez minutos mais cedo. Tem criticado os políticos por não lidarem como deve ser com a questão alimentar, e argumentou que isso tem a ver com o facto de não quererem interferir com algo que é visto como sendo da esfera privada. No entanto, há muitas outras questões privadas que são legisladas. Não se trata mais da força dos lobbies?O lobby da indústria alimentar e da agricultura é tremendamente poderoso. Por outro lado, tudo o que possa fazer aumentar o preço dos alimentos leva os políticos a paralisar. Os políticos gostam que a comida seja barata, quer seja saudável ou não. A comida barata mantém no lugar as cabeças de reis e rainhas. Há também a ideia de que as pessoas reagem muito quando o Governo lhes tenta dizer o que devem comer – quando o mayor [de Nova Iorque, Michael] Bloomberg tentou reduzir o tamanho dos copos de refrigerantes, o que me parecia uma medida muito sensata, as pessoas reagiram com horror ao que viram como um ataque a um direito fundamental de beber um refrigerante gigantesco. A comida é um assunto delicado. Há outra razão: o movimento pela verdadeira comida é ainda muito jovem e desorganizado para conseguir pressionar os políticos. Mas vai acontecer. Com o tempo seremos suficientemente fortes para compensar e penalizar os políticos como fazem os outros movimentos. A sua é já uma voz muito poderosa. Mas não sei jogar o jogo político. Não finjo que entendo de política. Todos temos diferentes tarefas, e a minha é contar a história de uma forma que, espero, chegue às pessoas, para que estas possam depois chegar aos políticos.
REFERÊNCIAS:
Cidadania também é "não copiar no teste" e "ir para a cama a horas"
Workshop sobre cidadania leva crianças de Oeiras a descobrirem conceitos como igualdade. Mas a “liberdade é a palavra mais bonita de todas”, diz Miguel, oito anos. (...)

Cidadania também é "não copiar no teste" e "ir para a cama a horas"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-07-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Workshop sobre cidadania leva crianças de Oeiras a descobrirem conceitos como igualdade. Mas a “liberdade é a palavra mais bonita de todas”, diz Miguel, oito anos.
TEXTO: O novelo de linha branca foi passando pelas pequenas mãos, que prenderam o fio até uma espécie de teia de aranha gigante ligar a dezena de crianças que, mais ou menos envergonhadas, iam dizendo o nome, a idade e o ano escolar que vão frequentar em Setembro. Depois, perceberam que se uma puxasse o fio, haveria pelo menos outra ou mais duas que se mexiam. Porque vivem em sociedade e as suas acções interferem com as dos outros – umas vezes por boas razões, algumas por más. E se deixarem cair o fio, as preocupações e a força que têm unidos para proteger o ambiente, os amigos, os animais de estimação (os exemplos que as crianças apontaram) irão enfraquecer. O jogo serviu para descontrair o grupo de miúdos que no sábado de manhã foi até à delegação da freguesia de Paço d’Arcos, no concelho de Oeiras. Crianças e mães contrariaram o sol apetecível que os chamava para a praia, a escassos 200 metros do edifício, e foram aprender a falar de cidadania no workshop Bússola Cidadã, organizado pelo Movimento Mudança Sustentável (MMS). O projecto pretende “democratizar e desmistificar a linguagem política” para que, ao simplificar os conteúdos políticos e cívicos, as pessoas se sintam mais atraídas a exercer uma cidadania participativa. O MMS candidatou o projecto Bússola Cidadã aos apoios da Fundação Calouste Gulbenkian, com o objectivo de “criar uma plataforma digital (com site, app e jogo) que adapte os conceitos da cidadania e da política a uma linguagem para crianças”, descreve Pedro Marques, presidente do MMS. A intenção última é levar os órgãos de soberania a fazerem o mesmo. E também compilar informação, já destinada aos adultos, sobre as formas de participação activa, como as reuniões públicas dos executivos e assembleias municipais e os projectos em discussão pública. O projecto seria aplicado nos municípios de Oeiras, Lisboa, Amadora, Sintra e Cascais, em escolas e associações recreativas, por exemplo. Depois da rede, as crianças meteram mãos à obra para construírem uma bússola, com esferovite, pregos, papel e cola. Para saberem onde fica o Norte magnético, mas também perceberem que a orientação é precisa no caminho que querem seguir durante a vida, de acordo com valores e princípios, regras e objectivos. Não houve grandes dúvidas sobre o que são direitos e deveres – e a Beatriz, de 6 anos, já sabe que ambos são diferentes para adultos e para as crianças. As crianças não chegaram ao próprio conceito de cidadania – ainda – nem falaram directamente de política. Mas ouviram e falaram sobre igualdade, participação, responsabilidade, respeito, liberdade, solidariedade, cooperação, transparência e integridade. Assim mesmo, por esta ordem, para que as palavras mais difíceis viessem no fim – e até aos adultos faltaram ideias para as descrever de forma acessível a crianças que frequentam o ensino básico. Igualdade é “todos poderem comer um bolo” – tenham o cabelo comprido ou curto, sejam rapazes ou raparigas -; a participação é um direito e um dever; a responsabilidade é “deitar a horas”; o respeito é “respeitar e seguir o que os adultos mandam”, mas “não é só entre as pessoas, é também para com os animais”; a liberdade é não ser escravo, mas também respeitar os outros; a solidariedade é “ajudar os outros”; a cooperação é “fazer um trabalho de grupo na escola”; a transparência é “não copiar no teste” e a integridade é ser justo, correcto e respeitar os direitos e deveres dos outros. A lista, feita com os contributos das crianças, foi enchendo um quadro branco. No final, o conceito menos percebido foi o da integridade. E o apontado como preferido pela maioria a liberdade. Como fizeram os irmãos Miguel, de 8 anos, e Diogo, de 5. “É a palavra mais bonita de todas”, diz o mais velho, que minutos antes segredara ao ouvido da mãe que a liberdade tinha vindo “depois da ditadura”. A maior parte das palavras aprendidas são novas e a mãe, Marta Girão, diz que são ainda “conceitos abstractos”. Alguns deles, os filhos já aplicam sem saberem, porque são miúdos “responsáveis e solidários”. Mas daí a chegar ao conceito de cidadania ainda há um longo caminho a percorrer. Sozinho no workshop, Rafael, de 12 anos pediu à mãe para vir. Teve uma disciplina de cidadania na escola, em Sassoeiros, mas os conceitos da transparência e da integridade foram descobertos hoje. E com a teia de fio branco percebeu que “sem os outros não conseguimos fazer nada; precisamos das outras pessoas para fazer uma coisa grande. ”
REFERÊNCIAS:
Trégua revela mais cadáveres e uma escala brutal da destruição em Gaza
Mortos são já mais de mil. Durante a trégua foram retirados mais de cem corpos debaixo dos escombros. Israel pode estender cessar-fogo até ao meio da tarde de domingo. (...)

Trégua revela mais cadáveres e uma escala brutal da destruição em Gaza
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.18
DATA: 2014-07-27 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140727170259/http://www.publico.pt/1664417
SUMÁRIO: Mortos são já mais de mil. Durante a trégua foram retirados mais de cem corpos debaixo dos escombros. Israel pode estender cessar-fogo até ao meio da tarde de domingo.
TEXTO: Palestinianos aproveitaram uma trégua nos combates em Gaza para ver as suas casas. Muitos não acreditavam na escala da destruição. Bairros inteiros não tinham uma casa intacta, a força de impacto das bombas israelitas lançou carros para cima de prédios que continuavam em pé. Durante o dia de sábado foram recolhidos mais de cem corpos o que, juntando às vítimas anteriores, fez subir a contagem total da operação militar israelita em Gaza para mais de mil vítimas. A maioria eram civis, embora houvesse também combatentes entre as vítimas. Em cima de escombros, palestinianos com a cara coberta com lenços tentavam retirar corpos de amigos ou familiares, levando-os a correr em sacos de plástico ou macas até à morgue. “Já tirámos seis e ainda faltam três”, dizia Mohammed Nasser no meio do um monte de cimento, que ia sendo revolvido por um bulldozer. Alguns cadáveres estavam já em decomposição. A pequena trégua humanitária era breve. Israel concordou estendê-la até à meia-noite deste sábado mas permanecia a incerteza sobre o evoluir da situação. Duas horas após o fim do cessar-fogo, o movimento palestiniano Hamas, que não concordou com o prolongamento da trégua, disparou rockets contra a região de Telavive. Durante a trégua, os residentes de Gaza apressaram-se a recolher tudo o que podiam de bairros arrasados – em Beit Hanoun, jornalistas descreviam a passagem de colchões, cobertores, fogões a gás carregados em táxis, burros, riquexós, ou mesmo em cima da cabeça de mulheres. Crianças passavam com pequenos sacos perto de um cavalo morto. Tudo sob o olhar dos soldados israelitas, que se mantinham no local prometendo não disparar – Israel disse que continuaria o trabalho de localizar e destruir os túneis usados pelo Hamas durante a trégua. Ao chegar pela primeira vez à sua rua, havia quem chorasse e parecesse não acreditar ao ver um manto de escombros onde antes estava uma construção, uma vida, uma casa. Uma amálgama cinzenta era pontuada por um ou outro objecto a lembrar que ali se vivia, como um microondas partido. Cabos de electricidade, sem apoio dos postes, serpenteavam pelo chão. “Esperava talvez que tivesse sido atingida por uma granada que tivesse provocado alguns danos”, dizia Akram Qassim, 53 anos, em frente à cratera no local onde antes estava a sua casa de três andares que partilhava com dois irmãos e as suas famílias. “Isto foi um terramoto. ”Ruas silenciosasO Washington Post notava um silêncio que marcava a escala da incredulidade. “Muitas ruas estavam quase calmas. As mulheres não soltavam lamentos. Os homens pareciam apáticos. ”Siham Kafarneh, 37 anos, era uma destas pessoas. Sentada à entrada de uma pequena mercearia, chorava baixinho o desaparecimento da sua casa. Tinha poupado durante dez anos para ela, contou ao Guardian, e mudara-se há dois meses. “Não restou nada. Tudo o que eu tinha foi-se. ”Num hospital perto, seis doentes e 33 médicos e funcionários do hospital saíam, aliviados, do departamento de radiografia, onde tinham passado a noite anterior, conta por seu lado o New York Times. Marcas de granadas e uma fachada danificada por balas mostravam o bom senso da decisão. Perto, duas ambulâncias do Crescente Vermelho foram atingidas, deixando um paramédico morto e outro ferido com gravidade. O jornalista da BBC Ian Pannell visitou o bairro de Shajaya, em Gaza, um dos mais afectados por fortes bombardeamentos israelitas. “É simplesmente espantoso – vê-se a destruição mais devastadora: edifícios completamente pulverizados, carros atirados a 50 metros no ar ficaram em cima de prédios, fachadas de edifícios de apartamentos desapareceram completamente”, enumera, no meio de escombros de pó cinzento e ruínas da mesma cor. O que não se vê: “O ar está pesado com o cheiro da morte. ” As pessoas tentam recuperar corpos e bens, “e, francamente, sair daqui”, conclui. Outros pensavam no que poderia ter acontecido. Olhando para a metade que restava da sua casa, Rami Sukar dizia: “Foi um milagre termos saído daqui vivos. ”Noutra parte do bairro, havia pessoas desesperadas por notícias de familiares desaparecidos. Rami Hatem Wahdan regressou depois de ter sido detido, há uma semana, por militares israelitas, junto com os homens adultos da família – as mulheres, um avô e três sobrinhos adolescentes ficaram para trás. Depois de dois dias detido, os combates impediram-no de voltar a casa. Conseguiu falar com a família por telefone uma vez. Agora está em frente à sua casa, arrasada, e não sabe o que pensar. “Onde está a Cruz Vermelha? O Crescente Vermelho?”, pergunta num frenesim.
REFERÊNCIAS:
O Papa Francisco e um livro inquietante
Se for verdade que só vale a pena ler os livros que nos abalam, muito ajudam os que acendem a esperança. (...)

O Papa Francisco e um livro inquietante
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.5
DATA: 2014-07-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se for verdade que só vale a pena ler os livros que nos abalam, muito ajudam os que acendem a esperança.
TEXTO: 1. Deixei, neste espaço, quatro crónicas sobre o estilo provocatório de alguns gestos, atitudes e intervenções do papa Francisco destinados, por um lado, a questionar e a despertar a vida da Igreja, em todas as suas dimensões e, por outro, a denunciar um sistema financeiro e económico que corrompe a própria natureza da política. Esta, em vez de se regenerar no serviço do bem comum, tornou-se um instrumento de decisões que reduzem os seres humanos pobres ou “improdutivos” a lixo social. Perante este comportamento, não admira que certos grupos classifiquem de populista a via deste argentino. Mesmo sem exigirem o uso majestático da tiara papal, esperam, do bispo de Roma, menos espontaneidade, modos mais cerimoniosos e protocolares. Mudo de registo. O tempo de férias – para quem as puder disfrutar - é considerado o mais adequado à redescoberta do essencial na cura da alma e do corpo. Existem no mercado espiritual várias técnicas de meditação – vindas do Oriente e adaptadas à clientela ocidental – de sucesso garantido e com modalidades de aplicação durante todo o ano [1]. Neste contexto, também desejo deixar aqui umas sugestões de meditação, menos sofisticadas e de êxito menos automático: um tempo preciso, a calcular por cada um e adaptável, segundo os imprevistos de cada dia. Essa meditação seria auxiliada, este ano, por um pequeno livro publicado nos finais do ano passado, dirigido à Igreja Católica para que saiba, em cada um dos seus membros, viver e agir no mundo contemporâneo. Chama-se “A Alegria do Evangelho” (Evangelii Gaudium). Pode ser encontrado em qualquer livraria. Está disponível na internet. Poderá ser lido em casa, na praia, no campo, no metro, no autocarro, no comboio ou nas maquinetas eletrónicas. A meditação deve ser feita de olhos interiores e exteriores muito abertos sobre o que está a acontecer em Gaza, na Síria, no Iraque, na Ucrânia, na Guiné Equatorial, nos jogos da Banca, nas periferias de todas as sociedades do mundo e à nossa volta. Objectivo: criar disponibilidade para a nossa conversão. 2. Segundo Franz Kafka, só deveríamos ler livros que nos ferem e abalam, leituras talvez pouco recomendáveis para férias, mas não resisto. O Papa Francisco apresentou-se como vindo do “fim do mundo”. Hoje, pretendo apresentar um livro, muito especial, que reúne textos sobre o embate, no século XVI, entre os espanhóis e os povos desse fim do mundo [2]. É uma obra de três dominicanos, durante muito tempo ocultada, para não ofender o nome de Espanha, hoje a sua grande glória. São textos nunca publicados em português. O primeiro é um grito, o célebre Sermão de António de Montesinos. O segundo apresenta-se como A brevíssima relação da destruição das Índias, de Bartolomeu de las Casas e o último é a Doutrina sobre os Índios, de Francisco de Vitória, o fundador do Direito Internaciona [3]. Quando olhamos para a história, ficamos deslumbrados com os séculos XV e XVI por causa das grandes viagens oceânicas que deram a esse tempo o título ambíguo de Era dos Descobrimentos. De facto, já eram terras com muitos habitantes. O que aconteceu foi a revelação da América, feita por Colombo em 1492, o caminho marítimo para a Índia, aberto por Vasco da Gama em 1498, a revelação do Brasil feita por Pedro Álvares Cabral em 1500, a primeira viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães (1519 a 1521). Acontecimento de uma tal dimensão, com actores tão prodigiosos, que remetem para um plano secundário aquilo que depois se revelou fundamental. O Grito de Montesinos, voz de uma pequena comunidade dominicana pobre – e estes não serão seres humanos? – despoletou um debate que desencadeou o processo da conversão de B. de Las Casas, que se tornou o grande defensor dos Índios, em Espanha e nas Américas, envolvendo a corte e a universidade de Valladolid e Salamanca. 3. A Brevíssima relação da destruição das Índias, deste dominicano, revela tantos requintes de crueldade dos colonos espanhóis, seus compatriotas, que de brevíssima não tem nada. Breve terá de ser a amostra de tanta desumanidade. (…) Para finalizar a sua crueldade procuraram todos os índios que se tinham escondido na mata, tendo ordenado que lhes dessem estocadas, matando-os e lançando-os penhasco abaixo. Não se contentando com as coisas tão cruéis que já dissemos, mas querendo engrandecer-se mais e aumentar o horror dos seus pecados, mandou que todos os índios e índias que os particulares tinham aprisionado vivos (porque naqueles malefícios podiam escolher alguns índios e índias para o seu serviço) e lhes pegassem fogo, tendo queimado vivos uns quarenta ou cinquenta. A outros deu ordens para os lançarem aos cães que os despedaçaram e comeram (…) mandou ainda cortar o nariz a muitas mulheres e crianças [4] (…).
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave humanos campo comunidade social mulheres corpo cães