Pela primeira vez, foi possível induzir o crescimento de novos cabelos na pele humana
O inédito método poderá abrir o caminho a tratamentos eficazes da calvície feminina. (...)

Pela primeira vez, foi possível induzir o crescimento de novos cabelos na pele humana
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.096
DATA: 2013-10-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: O inédito método poderá abrir o caminho a tratamentos eficazes da calvície feminina.
TEXTO: Cientistas norte-americanos desenvolveram um método de regeneração capilar capaz de promover o crescimento de raiz do cabelo humano. Os seus resultados foram publicados na edição desta semana da revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Angela Christiano, da Universidade de Colúmbia (EUA), e os seus colegas utilizaram para isso papilas dérmicas, estruturas da pele que dão origem aos folículos do cabelo. A ideia de clonar folículos capilares a partir de papilas dérmicas já circula há várias décadas, mas, até agora, quando os cientistas tentavam fazê-lo, as papilas perdiam a sua capacidade de produzir folículos e regressavam ao estado de simples culturas de células da pele. Contudo, Colin Jahoda, co-autor do estudo, já tinha conseguido há vários anos colher, multiplicar e transplantar de volta para a pele de roedores papilas dérmicas desses animais, explica um comunicado daquela universidade. E os cientistas suspeitavam desde então que isso tinha sido possível porque, ao contrário das papilas dérmicas humanas em cultura, as dos roedores têm tendência a formar agregados tridimensionais. Era, portanto, provável que, de alguma maneira, esses agregados fossem capazes de recriar o seu próprio ambiente extracelular, fazendo com que as papilas interagissem devidamente e emitissem os sinais necessários para reprogramar a pele e induzi-la a formar novos folículos. “Isto fez-nos pensar que se cultivássemos as papilas dérmicas humanas de forma a incitá-las a formar agregados, tal como as dos roedores fazem espontaneamente, poderíamos criar as condições necessárias para induzir o crescimento de cabelo na pele humana”, explica a co-autora Claire Higgins, citada pelo mesmo comunicado. Para testar esta hipótese, os cientistas cultivaram papilas dérmicas colhidas junto de sete dadores humanos. Passados uns dias, transplantaram essas papilas para um enxerto de pele humana previamente colocado no dorso de ratinhos de laboratório. Em cinco casos, os transplantes deram origem a um crescimento capilar “de raiz”, por assim dizer, que se prolongou durante pelo menos seis semanas. Através de análises genéticas, foi possível confirmar ainda que o ADN dos novos folículos era geneticamente idêntico ao dos respectivos dadores. “Esta abordagem tem o potencial de transformar o tratamento médico da perda de cabelo”, diz, por seu lado, Angela Christiano. “Os tratamentos actuais tendem a travar a perda de folículos capilares ou a estimular o crescimento de cabelo já existente, mas não criam novos folículos. O nosso método tem, pelo contrário, o potencial de fazer crescer novos cabelos a partir das próprias células das pessoas. ”Isto poderá servir, em particular, para tratar a perda de cabelo nas mulheres. Cerca de 90% das mulheres que sofrem de perda de cabelo não são elegíveis para a técnicas de cirurgia de transplantação capilar, uma vez que não existe cabelo suficiente para redistribuir pelo couro cabeludo, explica ainda a investigadora. “Agora, este método dá-nos a possibilidade de induzir grandes quantidades de folículos – ou de rejuvenescer os que já existem – a partir de células provenientes de apenas umas centenas de cabelos, o que pode tornar a transplantação capilar acessível não só a estas mulheres, mas também aos grandes queimados. ”Embora sejam precisos mais estudos para confirmar estes resultados, os cientistas acreditam na possibilidade de dar início a ensaios clínicos do novo método num futuro próximo.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Obesidade atinge 10% da população portuguesa
Programa nacional aposta na prevenção. (...)

Obesidade atinge 10% da população portuguesa
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Programa nacional aposta na prevenção.
TEXTO: A obesidade atinge 1 milhão de adultos em Portugal e 3, 5 milhões são pré-obesos. São os principais resultados de um relatório que apresenta números preocupantes nos mais novos: cerca de 15% das crianças entre os 6 e os 9 anos são obesas e mais de 35% sofrem de excesso de peso. As questões socioeconómicas parecem ter uma influência decisiva. Na apresentação do relatório “Portugal: Alimentação Saudável em Números 2013”, esta quinta-feira, Pedro Graça, director do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), revelou dados que apontam para uma relação entre o nível económico e a obesidade: “Quando o rendimento familiar diminui, aumenta a prevalência da obesidade”. A idade e o grau de instrução são também importantes: “As pessoas de mais idade e com menos escolaridade sofrem mais com a obesidade”, afirmou. As limitações no acesso aos alimentos são preponderantes para a existência da obesidade: os produtos que fornecem muita energia a baixo custo são mais acessíveis e beneficiam de campanhas publicitárias muito fortes, o que acaba por fazer com que cheguem mais facilmente às pessoas mais carenciadas e com menor grau de instrução, logo, com menor capacidade para evitar o seu consumo. A média de consumo diário de vegetais na sopa aos 6 meses de idade atinge os 96% e no que toca a fruta, os números indicam que mais de 92% das crianças nesta idade consomem-na diariamente. No entanto, as boas práticas alimentares nos mais novos aparecem ao lado de dados menos positivos: numa base diária, mais de 10% das crianças com 18 meses têm acesso a sobremesas doces e 18% a refrigerantes sem gás. Existe quase um equilíbrio no que toca à distribuição do excesso de peso entre crianças do sexo masculino e feminino, embora com prevalência para os rapazes: 34% entre os 6 e os 9 anos apresentam excesso de peso, 18% estão num estado de pré-obesidade e mais de 15% são obesos. Os números relativos a raparigas ficam uns pontos percentuais abaixo: 30% têm excesso de peso, mais de 16% são pré-obesas e cerca de 13% atingiram a obesidade. A redução de boas práticas alimentares nos jovens parece caminhar a par com o aumento da sua autonomia. A percentagem diária da toma do pequeno-almoço durante a semana é de 89% nas crianças que frequentam o 6. º ano de escolaridade, mas desce para os 71% nos jovens do ensino secundário. O consumo de refrigerantes também aponta para esta tendência – à medida que se sobe de escolaridade, sobe a percentagem de consumo semanal deste tipo de bebidas. A modificação nos hábitos de consumo, com o aumento da ingestão de gorduras e proteínas de origem animal, associada ao sedentarismo, favorecem a incidência de obesidade. Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, referiu que o consumo de sal e a densidade energética dos alimentos constituem um problema que origina outros: “A obesidade por si só é doença e factor de risco para outras doenças, como problemas cardiovasculares, diabetes e hipertensão arterial”. A solução para o problema da obesidade resolve-se com apoio profissional integrado. Para Alexandra Bento, “a doença tem que ser seguida no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”. Neste momento, existem cerca de 100 profissionais ligados à nutrição nos cuidados de saúde primários do SNS. No seu entender, o aumento para 200 traria resultados importantes na luta contra a obesidade e outras doenças associadas. Em resposta, Fernando Leal da Costa, secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, afirmou que o ministério pretende criar condições para aumentar o número de profissionais: “Não ignoramos que ainda temos algumas falhas que têm que ser colmatadas”. Tendo como matriz o programa de alimentação norueguês de 1974, o PNPAS, com início em 2012, tem como objectivo prevenir a obesidade antes de ela aparecer. Aposta numa abordagem intersectorial entre entidades ligadas à saúde, agricultura e educação para um maior alcance na mudança de hábitos dos cidadãos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação consumo doença sexo alimentos animal
eBay retira artigos à venda de vítimas do Holocausto
Site de leilões reage a investigação de jornal britânico, que encontrou objectos de presos dos campos de concentração à venda. (...)

eBay retira artigos à venda de vítimas do Holocausto
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-11-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Site de leilões reage a investigação de jornal britânico, que encontrou objectos de presos dos campos de concentração à venda.
TEXTO: A plataforma de leilões eBay retirou do seu site vários itens de vítimas do Holocausto, na sequência de uma investigação do jornal britânico Mail on Sunday. Na noite de sábado, o jornal denunciou que itens como roupas, malas ou escovas de dentes de vítimas de campos de concentração da Segunda Guerra Mundial estavam à venda no eBay. O jornal mostra fotos de um uniforme listado de um padeiro polaco, que estaria à venda por um preço mínimo de 13. 000 euros. Contactado pelo Mail on Sunday, o vendedor, Viktor Kempf, disse que comercializava aquele tipo de artigos para financiar projectos editoriais. Entre vários outros artigos mostrados pelo Mail on Sunday estão um par de sapatos (1100 euros), uma mala (490 euros) e escovas de dentes (170 euros), todos pertencentes a judeus que estiveram em campos de concentração. A revelação causou reacções imediatas em líderes judaicos. A eBay pediu desculpas e disse que retiraria os artigos do seu site. “Não permitimos a venda de artigos desta natureza e temos milhares de funcionários para monitorizar o nosso site e as mais avançadas tecnologias para detectar itens que não deveriam estar à venda”, sustenta a empresa, num comunicado citado pelo Mail on Sunday. Apesar disto, na manhã deste domingo o PÚBLICO encontrou ainda pelo menos um artigo originário de vítimas do Holocausto – um crachá e uma estrela de David que os judeus eram obrigados a usar. Sendo um site utilizado por milhões de pessoas, o eBay tem enfrentado vários tipos de situações indesejadas – desde a venda de artigos de marfim, cujo comércio está proibido internacionalmente, até casos curiosos, como o de uma rapariga britânica que pôs a avó em leilão em 2009. Artigos da Segunda Guerra Mundial são encontrados aos milhares, sobretudo objectos militares. Em Maio passado, uma versão da famosa “lista de Schindler” – um documento com o nome de centenas de judeus salvos pelo empresário alemão Oscar Schindler – foi a leilão no eBay por uma base de licitação de três milhões de dólares (2, 3 milhões de euros), mas ficou sem comprador.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra concentração rapariga marfim
Jogos Olímpicos na mira dos índios da Amazónia
Jovens indígenas estão a ser treinados num projecto que procura talentos para a selecção olímpica brasileira de tiro com arco. Deixaram a aldeia e vivem em Manaus. Estão felizes e só o barulho os incomoda. (...)

Jogos Olímpicos na mira dos índios da Amazónia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-04-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Jovens indígenas estão a ser treinados num projecto que procura talentos para a selecção olímpica brasileira de tiro com arco. Deixaram a aldeia e vivem em Manaus. Estão felizes e só o barulho os incomoda.
TEXTO: Oito índios estão lado-a-lado, de arco e flecha na mão. Olham concentradíssimos para o horizonte. Respiram fundo. Erguem o arco, puxam o braço atrás e apontam, fechando um dos olhos e encostando a corda à boca e ao nariz. Sustêm a respiração, sempre em silêncio absoluto. Esperam o momento certo. É agora. Largam a corda e a flecha sai a grande velocidade. O alvo foi atingido em cheio. A missão foi cumprida. Só que a missão não é mais uma sessão de caça no meio da Amazónia, mas sim um treino na vila olímpica de Manaus. Inha Quira, Mui Piruata, Iagoara, Ywytu, Wanaiu, Ii Seen, Yaci e Wyrauassu são oito jovens índios que deixaram as suas aldeias para viver um ano em Manaus. O arco e a flecha sempre fizeram parte da vida deles. Os rapazes usam-nos para pescar e caçar logo pela manhã, quando saem para o rio ou a floresta com os pais. As meninas também se aventuram, quanto mais não seja pela brincadeira de acertar num lagarto ou num rato. Agora, os oito indígenas, com idades entre os 14 e os 21 anos, passam a maior parte do tempo a usar os seus nomes brasileiros (Nelson, Anderson, Drean, Gustavo, Jardel, Josiel, Graziela e Guibson) e a treinar-se para um dia serem atletas olímpicos. Esta “ideia inusitada” — como lhe chama Márcia Lot, a caçadora de talentos que foi descobri-los no meio da floresta —, surgiu em Setembro de 2012. Virgílio Viana, superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável, uma organização não-governamental, lembrou-se que estava na hora de aproveitar o talento natural dos índios. “Eles caçam uma arara voando a 100 metros de altura. O nosso desafio é misturar essa sabedoria tradicional com a tecnologia de ponta dos desportos olímpicos”, diz Virgílio Viana, um engenheiro florestal com muito trabalho feito na conservação da Amazónia. Lançada a ideia, Márcia deixou São Paulo e aventurou-se pela Amazónia dentro. Viajando de barco, esta mulher de meia-idade, formada em educação física e especializada em treino, foi-se “infiltrando nas comunidades”. Viajou até oito horas de distância de Manaus. Organizou provas para tentar perceber quem tinha talento para o alto rendimento. Mostrou filmes para explicar o que são os Jogos Olímpicos, porque em algumas aldeias ninguém fazia ideia do que isso era. Recebeu “nãos” de mães que jamais deixariam os filhos abandonar a aldeia. Mas também recebeu “sins” de pais que viram na mudança para Manaus uma oportunidade para os filhos. Depois de ter observado perto de 80 jovens, Márcia levou 12 indígenas para testes em Manaus e o grupo foi agora reduzido para oito. É difícil arrancar-lhes palavras e sentimentos. “São muito silenciosos”, como diz Márcia Lot, com uma bandeira do Brasil a amparar os cabelos grisalhos. Mas quase todos falam em oportunidade. “É uma oportunidade de treinar para Olimpíadas. Ela [Márcia] foi procurar talentos e tive a sorte de ser um deles”, diz Gustavo (Ywytu), de 17 anos, com muita timidez nas palavras e no olhar. Gustavo é um dos sete rapazes. Graziela, de 18 anos, é a única menina do grupo. Sorri, com vergonha da câmara. “É uma experiência boa e única. A gente morava no interior e quando a dona Márcia apareceu por lá, atrás de arqueiros para vir treinar para cá, gostei muito”, conta a jovem, cujo nome indígena é Yaci (lua). “Os meus pais apoiaram a minha vinda”, diz Graziela, que já fez testes para estudar contabilidade e espera que este projecto ajude a melhorar a imagem dos índios: “As pessoas podem descobrir que somos pessoas normais, como todo o mundo. ”O ruído que incomodaOs jovens índios, das etnias Kambeba, Karapanã e Baré, estavam habituados a usar o arco tradicional, em madeira. Agora, treinam-se com o arco olímpico e já estão adaptados. “Eu até achava que era difícil pegar numa pessoa que já começou com arco indígena, e que tinha vários vícios, mas o biótipo deles ajuda. Eles são robustos, têm uma estatura boa para o tiro com arco”, analisa Roberval dos Santos, várias vezes campeão brasileiro de tiro com arco e treinador destes jovens. “Eles têm talento natural”, acrescenta Roberval, que até agora não notou dificuldades em ensiná-los: “Nas três selectivas aqui, eles ficaram cinco dias e aprenderam o que normalmente levamos dois meses para ensinar para pessoas que vêm fazer aulas. ”O projecto “Arqueria Indígena” entrou numa nova fase. Até agora, os aspirantes a atletas passavam pequenos períodos (dez dias) em Manaus, para aperfeiçoarem a técnica. Agora, vão ficar o ano inteiro, separando-se das famílias. É um desafio maior, o preço do desejo de ser atleta olímpico. “Daqui para a frente, quero treinar e quem sabe entrar na selecção brasileira de arco e flecha. E ganhar”, diz Anderson Costa, de 15 anos. Mui Piruata, como também é conhecido, deixou ficar a mulher na aldeia. Sim, Anderson é casado, apesar de o ar tímido e imberbe não o denunciar. “Na primeira vez [que vim], ela [a mulher] ficou um pouco brava comigo. Queria até que eu dormisse fora de casa. Mas depois aceitou e apoiou eu vir para cá treinar. Ficou tudo bem entre nós”, conta o jovem, entre sorrisos. Anderson já tinha desafiado a lógica quando fugiu com a namorada pelo rio fora, porque os pais não aceitavam que eles se casassem. Só voltou quando a família concordou com o casamento. Agora, trocou a tranquilidade e o silêncio da aldeia de Três Unidos pela agitação e barulho de uma cidade com dois milhões de habitantes. A adaptação não tem sido fácil. “Tem sido difícil. Dá saudade dos amigos e da família, mas estou-me acostumando. Estou ficando bem. Tenho novos amigos”, reconhece Mui Piruata. O que mais o incomoda na cidade é o ruído. “Não suporto o barulho. E às vezes há muita quentura. ”Márcia confirma que “eles acham a cidade barulhenta”. “Às vezes preferem ficar quietinhos no quarto”, diz a tutora, que tem tentado fazer uma integração gradual. “Na primeira temporada, fomos ao supermercado, na segunda ao shopping center, na terceira ao cinema. Agora, vamos ao aeroporto. Tudo devagar, para não haver choque, porque muitos deles nunca tinham vindo para a cidade”, explica, acrescentando que nota fascínio e algum medo destes jovens pelas coisas novas da cidade. “O desporto salva”A diferença entre a aldeia e a cidade é ao mesmo tempo um perigo, mas também um teste para ver como reagem à pressão emocional de estar num sítio diferente: “Sinto que eles ficam bastante melancólicos, nostálgicos. Às vezes estão conversando e o olhar está longe, namorando a piscina olímpica da vila, porque a vida deles é na beira do rio”, diz Márcia Lot, que a cada dois meses os levará a passar alguns dias com a família. Roberval dos Santos também destaca esse lado psicológico. “Não basta ter uma boa postura, boa execução no tiro, têm de ter o psicológico muito forte. É nessa hora que se separa um campeão olímpico de um arqueiro que simplesmente participa em Olimpíadas. A gente precisa de os expor às dificuldades e à pressão psicológica de uma competição”, conta o treinador, que nos próximos meses os acompanhará em competições regionais e nacionais. Os primeiros “resultados foram muito bons”, diz Márcia Lot: “Foram primeiros no infantil e juvenil, junto com os branquinhos. Nós somos branquinhos para eles. ”Quando a Fundação Amazonas Sustentável criou este projecto, a meta eram os Jogos Olímpicos de 2016, que se realizam no Rio de Janeiro. Mas o treinador avisa que esse é um objectivo demasiado ambicioso. “O Mundial de 2017, os Jogos Panamericanos de 2018 e Olimpíadas de 2020, essas sim, podem ser as nossas metas. Conseguir colocá-los na selecção olímpica para 2016, onde há gente com 15 anos de experiência, é bem complicado”, diz o treinador, avisando também que ainda é cedo para perceber se algum destes indígenas tem estofo de campeão olímpico. “Leva anos para saber isso. ”Independentemente de os jovens se qualificarem para os Jogos Olímpicos, este projecto vai continuar. Porque não se esgota no aspecto desportivo. “Em primeiro lugar, é um projecto de inclusão, porque o indígena no Brasil foi muito rejeitado, por inúmeras décadas, e ainda é”, argumenta Márcia Lot. “Temos uma dívida histórica com os indígenas, porque a gente os massacrou muito. A gente tem a intenção de resgatar a auto-estima deles e a gente está conseguindo, porque eles se sentem valorizados. Estão muito contentes. ”Esta caçadora de talentos tem a “filosofia de que o desporto salva” e vê isso mesmo neste projecto: “A gente olha e a juventude está muito perdida. Quando os indígenas vêm para a cidade, sem uma meta e um foco, principalmente aqui em Manaus, acabam caindo na bebida, as meninas acabam caindo na prostituição e acabam-se perdendo. Eles são muito puros, muito ingénuos. Colocando-os no desporto, eles têm um foco”, defende Márcia, afirmando que esta iniciativa foi muito bem recebida nas aldeias e que nunca viu do outro lado o sentimento de que poderiam estar a ser explorados. A treinadora lembra até uma história, passada numa das aldeias que visitou. Como ninguém sabia o que são os Jogos Olímpicos, Márcia exibiu um filme em que se via uma atleta a receber a medalha de ouro. “No fim dissemos: ‘quem sabe um dia a gente possa trazer o ouro olímpico para a sua aldeia’. Aí o pajé, um senhor muito velhinho, disse: ‘Finalmente o homem branco vai devolver o ouro que levou de nós há tantos séculos. ’”
REFERÊNCIAS:
O cromossoma Y é muito mais vital (para os homens) do que se pensava
O cromossoma do sexo masculino não serve só para o desenvolvimento do aparelho reprodutor e das características sexuais dos homens. Ao que tudo indica, também garante a viabilidade do seu organismo. (...)

O cromossoma Y é muito mais vital (para os homens) do que se pensava
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.144
DATA: 2014-04-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: O cromossoma do sexo masculino não serve só para o desenvolvimento do aparelho reprodutor e das características sexuais dos homens. Ao que tudo indica, também garante a viabilidade do seu organismo.
TEXTO: Falemos de sexo. No início, não havia sexo. Nos longínquos antepassados dos mamíferos, os cromossomas que dariam origem aos actuais cromossomas sexuais humanos – o X do sexo feminino e o Y do sexo masculino – eram em tudo semelhantes. Formavam um verdadeiro “par”, tal como os outros 22 pares de cromossomas humanos ainda o fazem. Mas há dezenas de milhões de anos, isso mudou e o cromossoma Y começou a encolher drasticamente, tendo perdido, até hoje, 97% dos genes que inicialmente continha. Esta aparente fragilidade levou alguns especialistas a propor que o cromossoma Y tinha os dias contados, mas dois estudos publicados esta quinta-feira na revista Nature vêm contrariar de vez esta teoria da deterioração progressiva e inevitável do cromossoma Y. Os autores de duas análises genéticas independentes – a equipa de Henrik Kaessmann, da Universidade de Lausanne (Suíça), por um lado; e a de David Page, do Instituto Whitehead (EUA), por outro – compararam agora, com uma resolução sem precedentes, o cromossoma Y humano com o de uma série de espécies de mamíferos, do ornitorrinco e do canguru ao chimpanzé e ao ser humano, passando pelos ratinhos, os touros e outros. Conseguiram a partir daí acompanhar a evolução, ao longo do tempo, desse bocadinho de ADN supostamente atrofiado e em constante declínio. E ambas as análises confirmam que o cromossoma Y, embora tenha efectivamente perdido muito material genético no início, tem-se mostrado desde então excepcionalmente estável – e nada frágil. O cromossoma Y, apesar de possuir apenas umas centenas de genes, tem sido difícil de reconstituir porque contém muitas sequências genéticas repetitivas e invertidas, o que levou cada uma destas equipas a utilizar estratégias específicas de sequenciação. A equipa de Kaessmann conseguiu determinar, em particular, que o cromossoma Y terá surgido como tal há cerca de 180 milhões de anos. Quanto à equipa de Page, já tinha recentemente mostrado que, na sua versão humana actual, dos 600 genes que partilhava ancestralmente com o seu homólogo (o cromossoma X), o cromossoma Y apenas reteve 19. Para Page, o facto de existirem desta forma duas cópias de cada um desses 19 genes (uma no X e uma no Y), o que é muito raro, sugere que, na ausência dessa duplicação, alguma coisa não correria bem. E que é por isso que a evolução se encarregou de os preservar no diminuto cromossoma Y ao longo de dezenas de milhões de anos. Genes de eliteMas graças à comparação entre humanos, chimpanzés e macacos rhesus, descobriram algo mais: nos últimos25 milhões de anos, o cromossoma Y humano apenas perdeu um gene ancestral dos 20 que já estavam presentes no antepassado comum a estas três espécies. “Não estamos apenas perante uma escolha aleatória no repertório genético ancestral do Y”, diz Page em comunicado do Instituto Whitehead. “Estes são genes de elite. ”A equipa norte-americana descobriu ainda uma outra coisa importante: uma dúzia desses genes são activados em diversas células e tecidos do corpo, sendo provavelmente essenciais para a regulação da actividade de genes em todo o organismo e não apenas nos tecidos relevantes para a função sexual humana. Isso leva os autores a argumentar que, sem o cromossoma Y, é todo o organismo dos homens – e não apenas o seu aparelho reprodutor – que se tornaria inviável. “Os nossos resultados indicam não só que o cromossoma Y veio para ficar, mas também que precisamos de o levar a sério, e não apenas no tracto reprodutor [masculino]”, salienta Page . “A evolução está a mostrar-nos que este genes são verdadeiramente importantes em termos de sobrevivência”, acrescenta por seu lado Daniel Bellott, autor principal do estudo norte-americano, no mesmo comunicado. “Foram seleccionados e apurados ao longo do tempo. ”Ambos os cientistas pensam que a próxima fase de seu trabalho deverá consistir em determinar o que é que esse conjunto vital de genes do cromossoma Y faz exactamente – o que está longe de estar esclarecido. Contudo, o que lhes parece óbvio é que, apesar de isso não ser detectável à primeira vista pela sua anatomia, as células das mulheres (que possuem um par XX de cromossomas sexuais), são diferentes, a algum nível fundamental, das dos homens (com o seu par XY). “As células [dos homens e das mulheres] são diferentes do ponto de vista biológico”, diz Bellott. Mas apesar disso, os biólogos celulares e os bioquímicos continuam a estudar células [de mamífero] sem fazer a mínima ideia se são XX ou XY. Trata-se de algo muito fundamental para a biologia e a biomedicina, mas ninguém lhe tem dado muita atenção. ”
REFERÊNCIAS:
Seis novos filmes completam a selecção oficial de Cannes
O festival acrescenta um filme fora da competição, outro a Un Certain Regard e quatro aos visionamentos especiais. (...)

Seis novos filmes completam a selecção oficial de Cannes
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.118
DATA: 2014-04-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O festival acrescenta um filme fora da competição, outro a Un Certain Regard e quatro aos visionamentos especiais.
TEXTO: Há mais seis filmes para serem projectados na 67ª edição do Festival de Cannes. A selecção deste ano fica assim completa, anunciou esta quarta-feira a organização do festival. Entre os realizadores agora revelados está André Téchiné, com L’Homme qu’on aimait trop. Entre os filmes que se juntam aos já anunciados a 17 de Abril está ainda Fehér Isten (White God), do húngaro Kornél Mundruczól, que aparece na secção Un Certain Regard e acompanha a história de uma rapariga de 12 anos que foge de casa para ir à procura do seu cão. À secção de visionamentos especiais, em que participa a portuguesa Teresa Villaverde no projecto As Pontes de Sarajevo, juntam-se Of Men and War, o documentário do francês Laurent Bécue-Renard, The Owners, do cazaquistanês Adjlkhan Yerzhanov , Géronimo, do francês Tony Gatlif e El Ardor, do argentino Pablo Fendrik com a participação de Gael García Bernal, membro do júri do festival deste ano deste ano. L’Homme qu’on aimait trop é exibido fora de competição e conta com a participação de Catherine Deneuve, Guillaume Canet, Adèle Haenel. Esta é a 12ª participação de André Téchiné como realizador em Cannes, desde 1969 com o filme Paulina S’en Va. Foi distinguido apenas uma vez com o prémio de melhor realizador pelo filme Encontro, e em 1985 e 1999 fez parte do júri que atribui a Palma D’Ouro.
REFERÊNCIAS:
Tribunal italiano confirma que foi Amanda Knox que matou a estudante Meredith Kercher
A americana quis "intimidar e humilhar" a colega de quarto, que foi alvo de um ataque de grupo. (...)

Tribunal italiano confirma que foi Amanda Knox que matou a estudante Meredith Kercher
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.1
DATA: 2014-04-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A americana quis "intimidar e humilhar" a colega de quarto, que foi alvo de um ataque de grupo.
TEXTO: O tribunal de apelação de Florença, que tinha nas mãos o recurso sobre a morte de Meredith Kercher, concluiu que foi a sua colega de casa, a americana Amanda Knox, quem deu a facada fatal que matou a estudante inglesa. “O tribunal concluiu que a lâmina que causou as lesões na parte esquerda do pescoço da vítima, de onde saiu a maior parte do sangue, e que causou a morte de Meredith Kercher, foi manuseada por Amanda Knox”, diz a conclusão do processo, um relatório de 300 páginas. A lâmina pertence a uma faca que foi encontrada, depois do crime, escondida na casa de Raffaele Sollecito, que na época do crime, 2007, era namorado de Knox. Amanda Knox e Raffaele Solecito já foram julgados pelo crime, tendo sido considerados culpados e condenados a pesadas penas de prisão. Porém, após quase quatro anos de prisão, foram libertados depois de o julgamento ter sido anulado. Knox regressou a casa, onde defendeu ter sido injustiçada, declarando-se novamente inocente — escreveu um livro a contar a sua história. Apenas um dos três acusados, Rudy Guede, da Costa do Marfim, continua na prisão, a cumprir 25 anos de cadeia. Porém, foram apresentados recursos e o caso voltou aos tribunais. Em Janeiro, o tribunal de apelação confirmou a pena de 25 anos de Solecito, que está proibido de sair de Itália até haver nova decisão. O caso de Knox, que vive nos Estados Unidos, é mais complexo, pois terá de haver, agora, um pedido de extradição. De acordo com o documento do Tribunal de Florença, Meredith Kercher, uma estudante da Universidade de Leeds que estava em Perugia, na Itália, num programa de intercâmbio entre universidades (tal como Knox), foi atacada por "um grupo" — Knox, Solecito e Guede. Ao contrário do que foi sugerido no primeiro julgamento, o crime não teve motivações sexuais. O documento diz que Knox tinha "o desejo de intimidar e humilhar" Meredith Kercher, com a qual partilhava a casa e com quem se dava mal, e que Solecito apoiou a namorada. Os ferimentos no corpo da vítima indicam um ataque múltiplo, e não apenas de um indivíduo, como os advogados de defesa de Knox e Solecito defenderam no primeiro julgamento. O tribunal determinou que o clima de tensão entre as duas raparigas fez eclodir o conflito. “É um facto que a dada altura da noite as coisas aceleraram. A rapariga inglesa foi atacada por Amanda Marie Knox e Raffaele Sollecito, que estava a apoiar a namorada, e por Rudi Hermann Guede, e cercada no seu próprio quarto”, conclui o tribunal.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime morte tribunal ataque prisão corpo rapariga marfim
Clayton devia ter morrido por injecção letal e acabou “torturado até à morte”
A forma mais indolor e asséptica de matar dá cada vez menos garantias de uma morte sem “punição cruel e pouco comum” aos defensores da pena capital. Resta à Justiça dos EUA decidir se intervém. (...)

Clayton devia ter morrido por injecção letal e acabou “torturado até à morte”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A forma mais indolor e asséptica de matar dá cada vez menos garantias de uma morte sem “punição cruel e pouco comum” aos defensores da pena capital. Resta à Justiça dos EUA decidir se intervém.
TEXTO: Já todos vimos no cinema ou numa série de advogados aquele momento em que os guardas prisionais se apressam a fechar a cortina e a assistência percebe que algo está a correr mal numa execução. Foi o que aconteceu na terça-feira, em Huntsville, uma pequena cidade do Oklahoma. Clayton Lockett tinha sido condenado a morrer por injecção letal, o método usado preferencialmente nos 32 estados norte-americanos que mantêm a pena capital por ser considerado o mais indolor e asséptico para matar. Há muito que essa crença está posta em causa, numa polémica que cresceu à medida que se foi tornando mais difícil encontrar no mercado um dos químicos do cocktail triplo mais usado. Eram 18h23 (início da madrugada em Portugal) quando foi injectado a Clayton o sedativo que o deveria ter adormecido. Tratando-se um fármaco, o midazolam, uma benzodiazepina muito pouco testada — e cuja origem o estado insistira em manter secreta —, as testemunhas foram avisadas de que demoraria mais do que o habitual a fazer efeito. Dez minutos depois, foi considerado inconsciente, seguindo-se a administração dos restantes dois fármacos. Passados três minutos, Clayton começou a gemer e a contorcer-se, depois a gritar e a tentar libertar-se e levantar-se da maca. Eram 18h39 quando as cortinas se fecharam. Nos minutos que se seguiram nem os jornalistas nem os advogados conseguiam perceber o que se estava a passar. Depois, o director do Departamento Correccional, Robert Patton, veio explicar que tinha havido um problema — a veia na qual os químicos tinham sido injectados “rebentara”. A segunda execução da noite, a de Charles Warner, já não ia acontecer. Mas e Clayton? Clayton morreu, quando Patton já tinha notificado o procurador-geral do adiamento da execução. Tinham passado 43 minutos desde o início do processo, quando sofreu o que “parece ter sido um devastador ataque cardíaco”. “Foi terrível, difícil de presenciar”, diz David Autry, um dos advogados. Clayton, acusa Madeline Cohen, outra advogada, foi “torturado até à morte”. Crueldade e ConstituiçãoA batalha dos abolicionistas contra a injecção letal concentra-se em provar que não impede uma “punição cruel e pouco comum”, o que a Constituição proíbe. Em 2007, a questão chegou ao Supremo Tribunal, mas a injecção letal sobreviveu. Na altura, todos os estados menos um recorriam ao mesmo cocktail de químicos: tiopentato de sódio para anestesiar e colocar o condenado inconsciente; brometo de pancurónio para paralisar os músculos; e cloreto de potássio para induzir paragem cardíaca e provocar a morte. Em 2010, os estados que praticam a pena de morte começaram a ficar sem doses de tiopentato de sódio e a única empresa com aprovação da agência federal que faz o controlo dos medicamentos (FDA) para fabricar o produto anunciou ruptura de stock. Em Janeiro de 2011, fez saber que cessara a produção. A maioria dos estados passou então a recorrer ao pentobarbital, um fármaco usado para praticar a eutanásia em animais e uma solução que durou pouco: o laboratório dinamarquês Lundbeck, o único na Europa que aceitava exportar o produto para os EUA, decidiu deixar de o fazer. Começou a era do segredo. Sabe-se que os estados recorrem a diversos produtos e a diferentes empresas que preparam fármacos que não foram aprovados pela FDA, laboratórios que não o são verdadeiramente e que vendem anestesias que não passam por um controlo nacional. Ao longo do ano passado, vários condenados foram a tribunal para tentar descobrir a origem dos fármacos com que as autoridades prisionais tencionavam executá-los. A falta de medicamentos foi um dos motivos para a diminuição no número de execuções em EUA em 2013 — 39 contra 43 nos dois anos anteriores. Alguns, como o Texas, lutaram em tribunal pelo direito de continuar a executar com novos produtos; noutros, como na Carolina do Norte, passou a vigorar o que, na prática, é uma moratória. Juízes e sofrimentoResultado da falta de qualidade, nos três últimos anos, as execuções no estado que mais condenados mata, o Texas, demoraram em média o dobro do tempo do que no processo usado antes, escreve o Guardian. Clayton, de 38 anos, foi condenado à morte em 2000 pela violação e morte de uma jovem que raptara e que enterrou viva; Charles Warner por matar e violar uma menina de 11 anos. Depois de a governadora do Oklahoma, Mary Fallin, ter desafiado o painel de juízes que tinha travado temporariamente a execução de Clayton e de Charles, o tribunal acabou por negar as queixas dos condenados. No que quase pareceu uma celebração — ou, no mínimo, um desafio — o Oklahoma marcou as duas execuções para a mesma noite, algo inédito desde 1937. “Um estado infligir um grau tão grande de sofrimento é a definição exacta de punição cruel e pouco comum”, comentou Erwin Chemerinsky, reitor da Faculdade de Direito da Universidade da Califórnia. “Os tribunais têm de intervir e impedir execuções com protocolos não testados que têm o potencial para infligir um sofrimento tão terrível. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Quase um quarto dos portugueses continua sem conseguir pagar despesas básicas
Três anos de troika trouxeram de volta a marmita, deram impulso às promoções e houve quem regressasse aos campos para cultivar a própria comida. Com um apertado orçamento familiar, os consumidores jogaram à defesa. (...)

Quase um quarto dos portugueses continua sem conseguir pagar despesas básicas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2014-05-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Três anos de troika trouxeram de volta a marmita, deram impulso às promoções e houve quem regressasse aos campos para cultivar a própria comida. Com um apertado orçamento familiar, os consumidores jogaram à defesa.
TEXTO: O bairro é pobre. Daqueles de prédios altos brancos, a precisar de pintura. Com carros abandonados, um ar de desleixo, mas com escola básica e clube recreativo. Ouvem-se homens a conversar e, na paragem, uma fila de moradores aguarda pelo autocarro. Ao fundo da rua, há uma imensidão de terreno onde Manuel Gomes está a regar favas de mangueira em punho. Na Quinta da Princesa, no Seixal, nascem ervilhas, milho, feijão ou cana-de-açúcar, cultivados por cerca de 120 famílias, pelos cálculos da câmara municipal. Nos últimos anos, a procura por áreas para cultivo agrícola aumentou, não só aqui, como em todo o concelho. Susana Lança, responsável pelo projecto Rede de Hortas Urbanas do Município do Seixal, explica este fenómeno pelas dificuldades económicas, motivadas pela crise. “As famílias estão no limite em termos de esforço financeiro e a possibilidade de terem acesso a um espaço para cultivarem os seus próprios alimentos é uma solução cada vez mais afirmada pelos munícipes”, adianta. Manuel Gomes, 51 anos, fez da sua horta um lugar de terapia. Tem sido a sua pequena mercearia de bairro nos últimos anos, sobretudo, desde que ficou sem emprego na construção civil. “Ajuda muito a pôr comida na mesa”, vai contando, enquanto rega. Na Quinta da Princesa, a procura é tal que o bairro se organizou com a ajuda da câmara para criar a uma cooperativa agrícola e conseguir organizar melhor os nove hectares já cultivados. Mariano Dias e Domingos Borges, membros da comissão instaladora, garantem que as pessoas estão a cultivar mais. Por mês, Domingos consegue levar para casa, pelo menos, um saco com legumes. “Ontem precisávamos de cebola para o jantar e eu vim aqui buscar”, exemplifica este trabalhador da construção civil, no desemprego. Aqui a crise sempre foi uma presença constante. Mas nos últimos três anos, marcados pela presença da troika do Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu, a sombra ficou maior. Em Portugal, o desemprego de longa duração já afecta meio milhão de pessoas. A taxa de emprego está em níveis de 1980 (51, 1%) e, em três anos de assistência financeira, a economia destruiu 332 mil postos de trabalho. O contexto económico e as medidas de austeridade fizeram aumentar a percentagem de pessoas que admite não ter capacidade financeira para cobrir as despesas básicas. De acordo com a empresa de estudos de mercado Kantar Worldpanel, em 2010, 19, 2% dos consumidores diziam sofrer com o impacto da crise. Em 2011, eram já 22% os que não tinham dinheiro para as necessidades básicas. Em 2012, chegaram aos 27%. E aos 24, 7% no ano seguinte. Classe média ajusta gastosNem todos reagiram da mesma forma à austeridade. Sofreram mais ou menos consoante a sua situação social e profissional. No início, a classe média e, sobretudo, quem conseguiu manter o emprego, ajustou. "Fizeram cortes mais fáceis e e óbvios: reduziram bens supérfluos, no excesso na roupa, nos almoços fora, nas viagens”, ilustra Clara Cardoso, sócia da Return on Ideias, consultora que, juntamente com a Ipsos Apeme e a Augusto Mateus e Associados, analisa de forma permanente o comportamento dos consumidores. Os portugueses jogaram à defesa, mostraram mais ponderação, mas, em 2010, ainda “acreditavam que a crise passaria sem que nada de radical lhes fosse exigido. Enganaram-se”, continua a especialista, que exclui desta análise os que já sentiam na pele os impactos devido, sobretudo, ao desemprego. A prudência reflectiu-se no maior planeamento das compras ou na redução de visitas aos centros comerciais. Mas foi a partir do momento em que a troika e o Governo assinaram o memorando de entendimento, em Maio de 2011, que se sentiu “com grande profundidade o impacto da crise”, diz, por seu lado, José António Rousseau, professor e consultor. “Fundamentalmente pela questão psicológica, porque a redução dos rendimentos não foi de imediato, foi acontecendo”, sustenta. Ainda com Sócrates na liderança, o ano começou com um aumento da taxa normal de IVA de 21 para 23% que teve um efeito directo na factura do supermercado: mais 38 euros, pelas contas feitas, na altura, pela Kantar. No primeiro semestre, 47% dos portugueses não compraram uma única peça de roupa e desenharam-se três estratégias para contornar a crise: aproveitar as promoções, comprar mais marcas da distribuição e substituir um produto por outro semelhante (carne de vaca por frango, por exemplo). Em 2012, a alteração na lista de bens com IVA – um compromisso do Governo de Passos Coelho com a troika - provocou uma das maiores mudanças: a restauração passou a ter de aplicar um imposto de 23%, em vez de 13%. E, por isso, levar comida para o trabalho passou a ser uma estratégia seguida por 40% dos portugueses (29% em 2009). O consumo de produtos frescos começa a aumentar. No carrinho há mais azeite, açúcar, carne ou peixe, mas nas lojas de electrodomésticos, móveis ou roupa, as vendas caíram na ordem dos 4, 2%, como reportava a Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED) no segundo trimestre de 2012. O frigorífico dos portugueses regressava aos anos 1980, com comida mais tradicional, menos sumos e refrigerantes ou lácteos. As vendas de Nestum aumentaram 7% em seis meses, num sinal de poupança forçada para muitos. Viciados em descontosNos supermercados, as promoções estão ao rubro. A utilização de cupões de desconto dispara 40%. E o Pingo Doce pára o país no 1º de Maio, com 50% de desconto em todos os produtos (em compras superiores a 100 euros e excluindo electrodomésticos). Foi, como afirmou Ana Isabel Trigo de Morais, directora geral da APED, “o ano de todas as promoções” e mudou a forma como os maiores operadores do retalho alimentar lutam pelos clientes. Os holofotes viraram-se para o preço e, diz, Clara Cardoso, instalou-se “um novo modo de estar”: “uma sociedade de descontos, atenta, cheia de informação”. A troika deixa o país “viciado em descontos”, garante, por seu lado, José António Rousseau. Andreia Moreira, professora desempregada de Vila Nova de Gaia, passou a encarar uma ida às compras como uma função estratégica para poupar. Com tempo livre, em 2012 deslocava-se três vezes por semana ao supermercado para pesquisar preços. Juntava vales de desconto a promoções para conseguir os melhores valores. E, à medida que iam sendo anunciadas medidas de austeridade, sentia um impulso para travar os gastos. “Há como que uma retracção subconsciente. As compras passam a ser bem planeadas. Nada de desperdícios”, confessa. Hoje, Andreia já não tem tanto tempo para delinear estratégias. A família cresceu (foi novamente mãe) mas há três coisas que não vai voltar a fazer: “Comprar por impulso, fazer compras sem lista e sem analisar as promoções”. A vaga de descontos, em 2013, fez com que a quota de mercado das marcas da distribuição caísse pela primeira vez, numa inversão da tendência de crescimento. As rivais marcas detidas pela indústria alimentar começaram a ser vendidas com preços atractivos, por vezes, com diferenças mínimas, levando o consumidor a colocar no carrinho produtos que, até então, eram tradicionalmente mais caros. Os primeiros meses do ano passado foram duros. Reintroduziu-se, por exemplo, a sobretaxa de 3, 5% sobre os rendimentos acima do salário mínimo. Os cortes nos subsídios de férias dos funcionários públicos e reformados mantinham-se mas a medida seria chumbada, em Abril, pelo Tribunal Constitucional. Os portugueses estavam “em modo de sobrevivência”, diziam os estudos da Kantar. No primeiro semestre, a venda de produtos de bens de grande consumo caiu 3, 7% em volume, a primeira descida significativa dos últimos anos. A cesta de compras encolheu. Menos azeite, menos farinhas, menos pão, menos detergente para a máquina de loiça, menos fruta, menos peixe. “Entre 2012 e o primeiro trimestre de 2013 tivemos categorias de produtos que viram desaparecer cerca de um terço do seu mercado, como electrodomésticos ou produtos de entretenimento”, diz Ana Isabel Trigo de Morais. No meio da tempestade, o comércio tradicional começa a merecer a preferência de quem procura lojas perto de casa: a quota de mercado cresce 0, 3 pontos percentuais entre Janeiro e Junho de 2013, em comparação com 2012, atingindo os 15, 4% (APED). O fenómeno não é, contudo, generalizado. No segundo semestre, os indicadores económicos trazem algum alento. O desemprego - que começou a baixar a partir do segundo trimestre – continua a reduzir, partindo, contudo, de níveis históricos elevados. As exportações evoluem de forma positiva. E a reposição dos subsídios de férias na função pública, em Novembro, ajudou a antecipar compras de Natal. O consumo total das famílias cresceu 0, 8% entre Outubro e Dezembro, mas ainda caiu entre os bens não alimentares, como roupa ou calçado (INE). As tímidas melhorias não apagam, contudo, um ano que fechou com um aumento de 4%, face a 2012, do número de pessoas com empréstimos em incumprimento (eram quase 662 mil no ano passado segundo o Banco de Portugal). No limite do “espartanismo”Em três anos de troika, os portugueses mudaram de forma radical a forma como gerem o orçamento familiar. Mas a professora da Universidade Católica, Rita Coelho do Vale, acredita que da turbulência saiu um consumidor melhor. “Mais racional, menos sensível ao aumento do ego e à compra em função da marca, com quase orgulho em ser racional. Quem não perdeu rendimentos tem, hoje, vergonha no acto do consumo desmesurado”, defende. Os portugueses, diz, “chegaram ao limite do espartanismo”. E isso mesmo parece indiciar a subida de 1, 7% nas vendas do comércio no primeiro trimestre de 2014, face a 2013, divulgadas pelo INE. A APED também dá conta de um crescimento expressivo do consumo de produtos não alimentares (telecomunicações, electrodomésticos e artigos de papelaria, por exemplo). Certo é que é cada vez mais difícil traçar um retrato generalista dos consumidores. “Temos uma sociedade mais segmentada, mais difícil de conhecer e de colocar em caixinhas”, resume Clara Cardoso. Ao lado dos que deixam de comer fora de casa e seguem com atenção os descontos, há os que só compram mesmo o que podem. Como António Lopes, 43 anos, que nos terrenos disponíveis ao pé de casa, na Quinta da Princesa, Seixal, prepara a terra para semear feijão. “Junto com arroz e é muito bom”.
REFERÊNCIAS:
Morreu Hans Ruegi Giger, o criador do Alien
O artista suíço criou a atmosfera do filme Alien de Ridley Scott e o seu protagonista, o extraterreste Alien. (...)

Morreu Hans Ruegi Giger, o criador do Alien
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2014-05-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: O artista suíço criou a atmosfera do filme Alien de Ridley Scott e o seu protagonista, o extraterreste Alien.
TEXTO: Morreu Hans Ruedi Giger, o artista plástico surrealista que criou o monstro do filme Alien, de Ridley Scott. O artista plástico morreu segunda-feira, aos 74 anos, devido a lesões provocadas por uma queda, noticiou o canal de televisão suíço SRF. Giger criou Alien com a ajuda de Carlo Rambbaldi, criador do ET de Spielberg, e esse trabalho valeu-lhe o Óscar de efeitos especiais em 1980. Ridley Scott pediu-lhe que construísse a criatura que dá nome ao filme depois de ter visto Necronomicon, uma antologia de pinturas de seres híbridos, entre o humano e o animal, com uma aura obscura e sexual. Scott sentiu-se especialmente inspirado com a pintura de 1976 Nacronom IV, que serviu de base para Alien. Giger acabou por ser contratado para pensar vários outros aspectos visuais do filme, como o Planeta LV-426 ou o Space Jockey, extraterrestre que deu origem ao Alien. Nascido em 1940 na Suíça, Giger sempre foi encorajado pelo pai a estudar farmácia, mas formou-se em arquitectura e design industrial em Zurique, nos anos 1960. Aqui começou a trabalhar em design de interiores. Dedicou-se depois à pintura a tempo inteiro – a sua primeira exposição individual nesta cidade foi em 1966. Começou por pintar a tinta, depois a óleo e finalmente com aerógrafo, que viria a abandonar nos anos 1990, usando nessa altura apenas lápis e canetas de feltro. Durante estes anos desenvolveu uma estética própria, inspirada pelo surrealismo de Dalí, pelos contos e fábulas do escritor Sergius Golowin, foi amigo de ambos, e pelas histórias de Lovecraft, autor norte-americano de fantástico e horror do início do século XX. Para além destas influências, um distúrbio do sono de que sofria, terror nocturno, ajudou a criar as suas primeiras criações. Giger começou a pintar como forma de lidar com esta perturbação que o fazia sentir terror nas primeiras horas de sono. Em 2000, numa entrevista à revista americana Esoterra, o pintor confirmava que pintava aquilo que temia. “Eu pinto aquilo de que tenho medo, mas também aquilo de que gosto. Neste momento, os meus medos são muito estúpidos: problemas de dinheiro. Eu tenho muitas divídas e não muito dinheiro por causa da manutenção do Museu Giger”, disse sobre o espaço que abriu no castelo St. Germain, em Gruyères, na Suíça, comprado em 1998 para expor permanentemente o seu trabalho. Antes mesmo do sucesso de Alien, Giger já tinha realizado Swiss Made, em 1968 e Tagtraum, em 1973. Dirigiu ainda Giger’s Necronomicon, um documentário de 40 minutos em que mostra o processo de criação do monstro Alien. Além das suas criações no cinema, Giger participou também no conceito visual por trás de Koo Koo, o primeiro álbum a solo de Debbie Harry, a vocalista dos Blondie, lançado em 1981. Na capa, a cara da cantora aparece trespassada por agulhas o que Debbie Harry descreveu como uma combinação de punk, acupunctura e ficção científica. Também os videoclips das suas músicas I know you know e Backfired, deste mesmo álbum, têm a realização de Giger. No primeiro é visível a ideia do biomecânico, que caracterizava o trabalho do artista plástico: a roupa que a cantora veste tem pintados desenhos que querem criar a ilusão de um corpo mecanizado.
REFERÊNCIAS:
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