PSD de Lisboa escolhe futuro líder no meio de convulsões internas
Pela primeira vez vai haver uma eleição na concelhia de Lisboa, a maior do país, para permitir ao partido falar a uma só voz na cidade. Esse é o objectivo. (...)

PSD de Lisboa escolhe futuro líder no meio de convulsões internas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-02-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pela primeira vez vai haver uma eleição na concelhia de Lisboa, a maior do país, para permitir ao partido falar a uma só voz na cidade. Esse é o objectivo.
TEXTO: Um compara o partido a "uma vaca cujas tetas os dirigentes têm dificuldade em largar". O outro quer que a cidade discuta os prós e os contras da prostituição legalizada. Os militantes do PSD escolhem pela primeira vez o presidente da concelhia de Lisboa no próximo dia 28. A nova concelhia do PSD vai ser a maior do país, reunindo mais de nove mil militantes. Dentro do partido, algumas expectativas vão no sentido de o seu líder poder alcançar considerável protagonismo político. Até hoje, a organização do PSD de Lisboa, tal como de outros três concelhos, era atípica em relação ao resto do país: estava dividida em nove secções, o que dificultava tanto os processos eleitorais como a união das estruturas locais a uma só voz. A partir de agora, as secções serão transformadas em núcleos, todos eles representados por quem ganhar a disputa. Por enquanto, há dois candidatos. As eleições surgem num momento em que se agudizam os conflitos internos entre dirigentes e autarcas locais "laranja". O vereador Santana Lopes entrou em rota de colisão com a distrital e a bancada social-democrata na Assembleia Municipal de Lisboa, ao ponto de os desentendimentos se terem tornado um tema central na campanha para a concelhia. "Unir para renovar" é o lema do candidato mais batido nas lides autárquicas, o antigo vereador Sérgio Lipari. O seu rival, Paulo Ribeiro, não poupa críticas ao estado a que o seu partido chegou em Lisboa, "semelhante àquele em que Sócrates colocou o país": "É um PSD que se autoflagela". Daí a metáfora da vaca. Militante da Lapa, bairro onde cresceu e onde continua a morar aos 42 anos, Paulo Ribeiro garante que com ele tudo será diferente: "Estou aqui não para tirar leite à vaca mas para a alimentar". Pagar quotas em atrasoNão é a primeira vez que este empresário do ramo informático recorre a alegorias zoológicas quando fala do PSD. Em 2009, comparou os dirigentes do partido a porcos-espinhos ferindo-se uns aos outros. Desta vez, avança para a corrida mesmo ciente de que a candidatura "aritmeticamente vencedora" é a outra. É ao lado de Lipari - que foi, durante vários anos, presidente da poderosa secção A, de Benfica - que estão a primeira vice-presidente do partido, Paula Teixeira da Cruz, e ainda António Nogueira Leite e Vasco Rato. Lipari é vice-presidente da distrital. Mas é igualmente deste jurista que se fala quando se recordam escândalos como a entrada de algumas dezenas de militantes da secção A para a empresa municipal que gere os bairros sociais, a Gebalis, quando foi director-geral. Ou da arregimentação a eito de militantes dos bairros sociais para engrossar o peso político da dita secção. O candidato diz-se magoado com as mentiras que os colegas de partido têm inventado. "Fui crucificado publicamente no passado", queixa-se. Para o bem e para o mal, a reputação de zelo partidário exacerbado não o larga: "Temos indicação de que a candidatura de Ségio Lipari vai pagar quotas em atraso a militantes [para estes votarem nele]. Não há mecanismos que o impeçam", acusa Paulo Ribeiro. O empresário não divulga para já os apoios da sua candidatura, que assume como contracorrente. Já foi alvo de críticas de promiscuidade pela sua empresa ter, por várias vezes, prestado serviços ao PSD, na gestão de candidaturas autárquicas. "Perdi dinheiro para ajudar o partido", assegura.
REFERÊNCIAS:
O casamento visto pelo designer de moda Nuno Baltazar
Nada foi surpreendente mas esteve tudo muito bem. Como se esperava. Como a família real britânica precisava. A noiva, o vestido, a cerimónia ajudaram a recuperar a sofisticação e o glamour que tem faltado nos últimos tempos à família real. São as conclusões do designer de moda Nuno Baltazar, que comentou a cerimónia em directo no Público online. (...)

O casamento visto pelo designer de moda Nuno Baltazar
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-05-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nada foi surpreendente mas esteve tudo muito bem. Como se esperava. Como a família real britânica precisava. A noiva, o vestido, a cerimónia ajudaram a recuperar a sofisticação e o glamour que tem faltado nos últimos tempos à família real. São as conclusões do designer de moda Nuno Baltazar, que comentou a cerimónia em directo no Público online.
TEXTO: Como em todos os casamentos, o momento mais esperado era a chegada da noiva, Catherine “Kate” Middleton. Neste caso, era mais saber quem desenhara o vestido. “Gostava que fosse a casa Alexander McQueen”, dizia Nuno Baltazar poucos minutos antes de a noiva aparecer. O seu desejo foi satisfeito. Apesar de não ser uma criação da Alexander McQueen, que se suicidou no ano passado, foi a escolha acertada, considera o designer. Sendo um vestido para o casamento de um príncipe que, um dia, será rei (William, o noivo, é o segundo na linha de sucessão), não teve nenhum dos ingrediente mais excêntricos que fazem parte da assinatura McQueen. “Mas tinha toda a elegância e modernidade a que a etiqueta McQueen nos habituou”. Neste casamento houve uma preocupação patriótica. O que como que anunciava que esta seria a escolha mais acertada. Kate Middleton, agora duquesa de Cambridge, “optou por uma marca inglesa que ultrapassou claramente Vivianne Westwood ou Paul Smith, há muito referências da moda inglesa”, considerou Nuno Baltazar. “E não deixou de ser uma homenagem áquele que foi, sem dúvida, o grande génio da moda inglesa; e vem confirmar que a marca se mantém viva. ”Mal viu a noiva, o primeiro comentário de Nuno Baltazar na cobertura minuto a minuto que o PÚBLICO online fez da cerimónia, foi: “o vestido tem um corpo estruturado até à cintura. É todo em cetim duchesse (o Rolls Royce dos cetins), com renda chantily sobreposta. O decote é em V e a manga é justa. A saia rodada tem com pregas a partir da cintura, detalhe típico dos anos 50, e tem também pregas na parte de trás, o que lhe dá tridimensionalidade e ajuda a dar mais volume e comprimento à cauda. Esta, em formato U tem o comprimento certo e não é demasiado pesada. Um compromisso perfeito entre o tradicional e o jovem, como ela é. "Nuno Baltazar considerou que a escolha do vestido reflectiu o espírito de modernidade da noiva, que soube manter-se fiel ao design britânico mas não aos nomes mais tradicionais. O vestido, garantiu o designer de moda português, vai tornar-se tendência. “De certeza absoluta”. Sendo que tem a vantagem de ser intemporal: é bonito hoje e vai continuar a ter beleza daqui a muitos anos. No capítulo dos acessórios, a noiva usou uma tiara Cartier de 1936, que foi oferecida pela rainha mãe à então princesa Isabel quando esta completou 18 anos. Os brincos foram desenhados propositadamente para a cerimónia pelo joalheiro Robinson Pelham. O bouquet de flores campestres, muito pequeno, foi delicado, disse Nuno Baltazar. A maquilhagem foi também discreta, destacando os olhos, que estavam fumados e realçavam a cor do olhos da noiva, dando profundidade ao olhar. O único apontamento menos feliz que Nuno Baltazar apontou foi o véu, que caia a direito sobre a testa e rosto da noiva. “Estava demasiado próximo da cara”, sentenciou o designer. Os elegantes Nuno Baltazar elegeu a irmã de Kate, Philippa “Pippa” Middelton e a princesa Victoria da Suécia como as mais bem vestidas da cerimónia. “A irmã da noiva é muito bonita e fica muito bem dentro do vestido comprido anatómico, cor de marfim, drapeado e a contornar muito o corpo. O vestido, também da autoria de Sarah Burton, realça a sua silhueta invejável. Também ela optou por um look discreto sem adornos demasiado ostensivos. ” “O Príncipe William esteve bem, apenas com um ar mais velho. O facto de estar com menos cabelo puxa-o mais para o lado dos príncipes de Gales e abafa um pouco o sorriso terno que herdou da sua mãe”. Quanto ao resto das escolhas de roupa da família real, o comentário menos bom vai para a Rainha Isabel II “Está igual a si própria, num conjunto amarelo ‘mal-disposto’!”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave rainha ajuda corpo princesa casamento marfim
A indignação da Índia
O ano passado terminou para a Índia numa nota de indignação pública que sobrecarregou o país com raiva, frustração e pessimismo. A causa, como todo o mundo sabe, foi a violação brutal e fatal de uma jovem mulher num autocarro em andamento, depois da qual ela e o seu companheiro – ele próprio espancado quase até à morte – foram atirados, nus, para a rua numa noite gelada. A selvajaria e a crueldade gratuita do ataque chocaram profundamente o país. Mas há outras razões para os protestos espontâneos que congestionaram os pontos centrais de Nova Deli (a um tal ponto que o Governo foi forçado a mudar o local das reuni... (etc.)

A indignação da Índia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-01-15 | Jornal Público
TEXTO: O ano passado terminou para a Índia numa nota de indignação pública que sobrecarregou o país com raiva, frustração e pessimismo. A causa, como todo o mundo sabe, foi a violação brutal e fatal de uma jovem mulher num autocarro em andamento, depois da qual ela e o seu companheiro – ele próprio espancado quase até à morte – foram atirados, nus, para a rua numa noite gelada. A selvajaria e a crueldade gratuita do ataque chocaram profundamente o país. Mas há outras razões para os protestos espontâneos que congestionaram os pontos centrais de Nova Deli (a um tal ponto que o Governo foi forçado a mudar o local das reuniões com o Presidente russo, Vladimir Putin, que visitava o país). A raiva que se derramou nas ruas de Nova Deli e em muitas outras cidades indianas foi impulsionada por um grande descontentamento acumulado – pela violação animalesca e pelo assassínio daquela mulher ainda sem nome [o nome entretanto foi revelado – trata-se de uma estudante de Medicina, Jyoti Singh Pandey], sim, mas também pela corrupção pública e privada generalizada, pela ausência de governação e responsabilização, e por muito mais. Anos de raiva reprimida irrompem agora. Claramente, o Governo não merece – e não recebeu – clemência. O Governo falhou na prevenção do crime, e falhou novamente quando as suas apáticas, ineficientes e corruptas forças policiais não foram capazes de responder apropriadamente. Uma administração completamente moribunda e esclerosada simplesmente não soube cumprir o seu dever. Quando os protestos eclodiram, o Governo, num ataque de idiotice cega, enviou cargas policiais sobre manifestantes pacíficos, homens e mulheres, com longos bastões, canhões de água e gás lacrimogéneo. Claro que esta mão pesada nada resolveu. A fúria dos cidadãos intensificou-se numa determinação sombria; o impulso repressivo do Governo foi desafiado e derrotado. Desde então, os gestos simbólicos substituíram a liderança. Nem um único funcionário governamental teve a coragem, competência ou decência de estar à altura da ocasião. A oposição também fraquejou, não fazendo mais do que apenas criticar o sistema vigente. Após um atraso inconcebivelmente longo de sete dias, o primeiro-ministro Manmohan Singh finalmente quebrou o seu incompreensível silêncio sobre a violação. Mas a sua declaração pública não ofereceu respostas ou qualquer bálsamo – na verdade, nada além de superficialidades. Depois, humilhantemente, Singh perguntou, sotto voce, aos que o rodeavam: "Correu tudo bem?"Explodiu uma torrente de ira electrónica. Cartazes de protesto podiam ser vistos por todo o país: "Não! Primeiro-ministro, não está tudo bem. " Claramente, Maquiavel estava correcto: para um líder político, o desprezo do povo é pior do que o seu ódio. Em seguida, num outro acto irreflectido, a vítima, lutando pela vida, foi enviada de avião para um hospital em Singapura. Ninguém disse ou pôde dizer porquê. Foi lá que morreu – alguns dizem que já chegou em morte cerebral. O seu corpo foi então levado apressadamente de volta à Índia, onde foi discretamente, quase sub-repticiamente, cremado. Se o Governo a temia viva, ficou petrificado com a sua morte. Esta loucura insensível e desumana envergonhou toda a Índia. Como resultado, o Governo da Índia perdeu irremediavelmente a confiança do público; a autoridade do sistema evaporou-se. Uma dura pergunta é agora frequente e abertamente colocada: "Será esta a Praça Tahrir da Índia?" Mesmo que não seja, como pode uma Índia internamente enfraquecida responder adequadamente aos seus muitos testes externos, a severidade dos quais foi recentemente sublinhada pela morte de dois soldados indianos por tropas paquistanesas ao longo da Linha de Controlo na Caxemira?Ao mesmo tempo, enquanto a Índia se debate, a Ásia do Nordeste agita-se na escolha de novos líderes, já instalados na China, no Japão e nas Coreias do Norte e do Sul. Com uma China assertiva, uma mudança de regime em curso em Myanmar, um Bangladesh problemático, um Nepal constitucionalmente imóvel e tensões étnicas contínuas no Sri Lanka, os desafios orientais da Índia são muitos e importantes. Mas são ainda mais severos a oeste da Índia, com o Paquistão caminhando para eleições (assim se espera) na Primavera de 2013, e com a retirada das tropas da NATO do Afeganistão. A diplomacia indiana enfrenta tempos de provação em ambos os países. Mais a oeste, também, questiona-se o estadismo indiano. Como é que a Índia, que continua dependente de energia do Médio Oriente, se posiciona nas muitas crises que assolam essa região? Como enfrentará a questão nuclear do Irão – um país com o qual mantém estreitos laços históricos, culturais e económicos – ou a guerra civil na Síria, a ascensão do salafismo no Egipto e o impasse israelo-árabe?Além disso, a Índia já não parece ser o vigoroso motor económico que gozava dos favores dos investidores globais há apenas cinco anos. Já há quem diga que o "I" em BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) devia referir-se agora à Indonésia. A Índia mantém elevados défices fiscais e da balança corrente; a inflação nos preços dos alimentos está nos dois dígitos; e a rupia enfraqueceu. Quanto ao comércio com a China, o The Economist ressalva que "por cada dólar em exportações para a China [principalmente de matérias-primas], a Índia importa três". Pode a indignação transformar-se em catarse? Claramente, o actual Governo não é capaz de implementar qualquer das mudanças necessárias. Uma resposta possível residirá em eleições antecipadas: um novo mandato para uma Índia que necessita desesperadamente de renovação. Traduzido do inglês por António Chagas/Project SyndicateJaswant Singh, antigo ministro Indiano das Finanças, dos Negócios Estrangeiros e da Defesa.
REFERÊNCIAS:
Entidades NATO
O Douro e as pontes
Povo e Douro são o centro da história do Porto. A mais de 60 metros do nível das águas, Gustave Eiffel construiu uma ponte em ferro, de uma só linha, a D. Maria Pia. D. Luís I inaugurou-a em 1877. Antes, experimentou-se-lhe a resistência, com 1500 toneladas de peso sobre o tabuleiro, de uma à outra margem. Suportou. Da encosta, a ponte sugere uma ave que pousa. Como lhe compete, o rio ficou debaixo, a correr para o Atlântico. O comboio aproveitou e sobrevoou-a a raiar o século XX, que ao Porto tudo chega sempre mais tarde. Passou lá 114 anos. Foi substituída pela de São João em 1991. Abandonaram-na. Empurram-se... (etc.)

O Douro e as pontes
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DATA: 2013-10-25 | Jornal Público
TEXTO: Povo e Douro são o centro da história do Porto. A mais de 60 metros do nível das águas, Gustave Eiffel construiu uma ponte em ferro, de uma só linha, a D. Maria Pia. D. Luís I inaugurou-a em 1877. Antes, experimentou-se-lhe a resistência, com 1500 toneladas de peso sobre o tabuleiro, de uma à outra margem. Suportou. Da encosta, a ponte sugere uma ave que pousa. Como lhe compete, o rio ficou debaixo, a correr para o Atlântico. O comboio aproveitou e sobrevoou-a a raiar o século XX, que ao Porto tudo chega sempre mais tarde. Passou lá 114 anos. Foi substituída pela de São João em 1991. Abandonaram-na. Empurram-se uns aos outros na responsabilidade de a cuidar. Um monumento nacional e internacional!A ponte pênsil, mais cá em baixo, era fraquinha para as gentes irem e virem de uma margem à outra. Houve novo concurso. Eiffel jogou de novo a sorte e ficou de fora, com outros concorrentes de menos relevância. Théophile Seyrig, seu aluno e colaborador na D. Maria, foi o vencedor. Um certame transparente, não predeterminado quanto ao vencedor. Como hoje (?). Construiu a ponte que foi inaugurada com dois tabuleiros, o superior em 1886, o inferior em 1888. É a ponte Luís I, D. Luís I ou D. Luís. O processo do concurso está arquivado no Palácio da Bolsa. O Douro persiste na marcha entre serena e febril para a Foz. Com percalços. As margens comprimem-no. A direita na Ribeira, juntinho ao tabuleiro inferior. Invade-lhe o território, perturba-lhe o fulgor das águas do ventre no Inverno. Zangado, possesso na tempestade e chuva a rodos, toma a margem, ocupa casas, restaurantes, ruas e ruelas, trai o comércio e despeja dor a quem por ali habita. Desprezaram-lhe o caudal. A natureza requer regras, ordem e disciplina de que é exemplo. Vence o aperto da Luís I, distende-se, vai por ali fora, encontra mais adiante outra ponte. A da Arrábida, quase na Afurada. Edgar Cardoso construiu-a , já na era do cimento e betão armado. Salazar inaugurou-a em 1963. É uma das seis que vigiam o Douro lá de cima, a ligar as duas cidades. Diz-se que o seu arco em betão foi dos maiores do mundo. Por “cá” tudo é maior quase em tudo. De origem, foi equipada com dois elevadores em cada margem do rio. Era despesismo e as pessoas da Afurada e arredores bem podiam vir e ir de autocarro que os STCP facturam. Bloquearam-nos há anos. O rio não mete férias, nem é ribeirito que seque se não chove. Deixa a Arrábida, distende-se mais. Se o Inverno é mesmo Inverno, conquista a Afurada. Alaga e tudo leva, derruba muros e paredes de defesa, desaloja pescadores, mulheres e filhotes. Engole barquitos de arrasto por ali à deriva. Indiferente, corre à Foz. Mergulha no mar. Poupa a Marina de Canidelo, local lindíssimo, ao fundo na margem esquerda. Deve aproveitar-se, de dia ou à noite. Estacione no único bar/restaurante sobre o Douro que ali há. O Charme & Gourmet. Alongue o olhar por aquela imensidão de água azul a brilhar que o visível vai até ao mar. Observe o casario do lado de lá, o Porto. O local é lindo, lindo. E poético. Procurador-Geral-Adjunto
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulheres
A selecção já tem “coiso” e uma “força sempre a crescer”. Tenham medo
A selecção já tem hino, anunciou nesta quinta-feira a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) com estrondo no seu site na Net. “Kika, a jovem estrela da música portuguesa, dá voz a Vai Portugal!, música apresentada esta quinta-feira em Óbidos. Veja o videoclip”, diz-nos a FPF. Fui ver. Num primeiro momento fiquei sem conseguir pensar. Foi a primeira vez que me aconteceu. Num segundo momento, fiquei tipo António José Seguro no minuto em que viu o António Costa anunciar nas TV’s que era candidato a secretário-geral do PS, que não sei explicar como é, mas não é coisa boa. Comecemos pelo título, Vai Portugal! Vai? Entã... (etc.)

A selecção já tem “coiso” e uma “força sempre a crescer”. Tenham medo
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2014-05-29 | Jornal Público
TEXTO: A selecção já tem hino, anunciou nesta quinta-feira a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) com estrondo no seu site na Net. “Kika, a jovem estrela da música portuguesa, dá voz a Vai Portugal!, música apresentada esta quinta-feira em Óbidos. Veja o videoclip”, diz-nos a FPF. Fui ver. Num primeiro momento fiquei sem conseguir pensar. Foi a primeira vez que me aconteceu. Num segundo momento, fiquei tipo António José Seguro no minuto em que viu o António Costa anunciar nas TV’s que era candidato a secretário-geral do PS, que não sei explicar como é, mas não é coisa boa. Comecemos pelo título, Vai Portugal! Vai? Então não se sabe já há muito tempo que a lusa selecção ia? Vai para onde? Então não era para o Brasil?Então lembrei-me que quem fez o vídeo não é português — um tal RedOne, que a FPF diz ser um “famoso produtor e compositor”. Devem pois ter explicado mal a proposta ao tal RedOne (se calhar também dava um bom treinador para o Benfica), que deve ter ficado a pensar que a encomenda era outra. Quanto à cantora, uma tal Kika, que a FPF apresenta como “a jovem estrela da música portuguesa”, não conheço. Peço desculpa, com a crise do país e do PS tenho ouvido pouca rádio para lá das notícias. A música é tipo abana-para-a-esquerda; abana-para-a-direita; levanta-os-braços; baixa-os-braços; abana-a-cabeça e agora-corre-um-bocadinho. Um pop que dá para tudo, desde passar a ferro a ter sexo com alguém 25 anos mais novo ou mais velho que nós. E agora o filme. Rapidamente se percebe que tenta mostrar Portugal e a paixão da sua gente pela bola. A paixão é revelada com uns rapazes e raparigas a correrem de um lado para o outro com as cores de Portugal e a verem jogos pela televisão; um homem com um bigode farfalhudo e um pastor de fartas barbas, vestido com uma samarra e com meia-dúzia de borregos a correrem. Há também um barbeiro e um padeiro, que têm em comum o facto de não terem nem barba nem bigode. Mostra ainda uma senhora a estender uma bandeira portuguesa na corda da roupa e Kika no meio do Estádio Nacional (uma provocação a Pinto da Costa), primeiro sozinha e, já no final, com uma data de malta a mexer os braços para baixo e para cima. Pelo meio, umas crianças batem palmas e mexem os braços. Quanto à imagem de Portugal, tudo se resume a um cacilheiro, uma gaivota, um avião, uma vista geral de Lisboa, umas casas às cores, muitas varandas com flores, umas salinas e uma bandeira portuguesa. Está pois tudo dito sobre a paixão lusa pela bola e pela imagem do país e as suas gentes. Falta a letra. E aqui é que a coisa pia mais fino. Com refrão não há crise, podia ser a de qualquer selecção do mundo: “Portugal, meu Portugal/ de mãos dadas pela selecção/ Portugal meu Portugal/ todos juntos pela mesma paixão/ Portugal allez/campeão allez/ traz contigo mais uma vitória”. Há, porém, fora do refrão, duas frases no mínimo polémicas. A primeira é quando a Kika canta: “Portugal que emoção nos teus pés a força da nação”. Até me arrepiei, só de pensar que a força da nação também está nos pés do Meireles, do Rafa e do ÉderMas mais polémico é quando a cantora diz: “Todos nós a torcer, uma força está sempre a crescer”. Kika? Uma força sempre a crescer? Que força a menina pensa que virá à cabeça do pescador, do barbeiro, do padeiro e do pastor da samarra? O IVA?Só posso pensar que há mão do Passos Coelho, que pensa aproveitar a cantiga para hino do plano de natalidade. Eis pois o hino da selecção para o Brasil. O que me custa é resumir tudo isto a uma palavra. Só me ocorre uma: o “coiso”. Aquilo que não se percebe bem o que é. É assim um “coiso” entre o pequeno Saul e os UHF. Se Portugal não trouxer o caneco, pelo menos já há uma desculpa. Foi o “coiso”. Deu azar. PS: Não terem colocado umas barbas à Kika é mais uma grande falha.
REFERÊNCIAS:
Os livros do esquecimento
Entre tudo o que se editou em Portugal nos u´ltimos anos, sa~o muitos os ti´tulos que se perderam na memo´ria, em fundos de cata´logo, nos becos sem sai´da da distribuic¸a~o. Mais do que as novidades, as grandes obras esquecidas sa~o os achados de cada Feira do Livro. Estas 24 correspondem a uma escolha ta~o subjectiva quanto possi´vel - acrescente, se puderNão se fale de um livro e ele morre. É uma frase repetida por editores sobre um silêncio que condena, que não deixa vestígios para a construção de uma memória e para a sua capacidade de ser alimentada. Sem esse discurso sobre, o leitor não pode fazer como Tami... (etc.)

Os livros do esquecimento
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-30 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140530170436/http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=335103
TEXTO: Entre tudo o que se editou em Portugal nos u´ltimos anos, sa~o muitos os ti´tulos que se perderam na memo´ria, em fundos de cata´logo, nos becos sem sai´da da distribuic¸a~o. Mais do que as novidades, as grandes obras esquecidas sa~o os achados de cada Feira do Livro. Estas 24 correspondem a uma escolha ta~o subjectiva quanto possi´vel - acrescente, se puderNão se fale de um livro e ele morre. É uma frase repetida por editores sobre um silêncio que condena, que não deixa vestígios para a construção de uma memória e para a sua capacidade de ser alimentada. Sem esse discurso sobre, o leitor não pode fazer como Tamina, a personagem de Milan Kundera que vivia com uma missão muito pessoal: trabalhar o cérebro de modo a não esquecer o rosto do marido. Ela diz da memória pessoal e da dos homens enquanto colectivo. Tamina serviu a Kundera para trabalhar, entre outros, o tema do esquecimento na Checoslováquia invadida pela União Soviética. Nos anos que se seguiram a esse Verão de 1968, a sociedade programou-se para esquecer o passado. Tamina, a mulher a quem mataram o marido, decidiu resistir à ordem para apagar da memória, anotando todos os vestígios de uma existência ameaçada de maneira a impedi-la de se esfumar — é um dos sete contos que compõem O Livro do Riso e do Esquecimento, ensaio literário sobre a memória de um autor muito valorizado nas décadas de 70 e 80 que passou a ser visto com alguma desconfiança pela crítica quando se tornou um best-seller. Os seus livros vendem em todo o mundo, traduzidos, reedita- dos, permitindo-lhe uma confortável vida de ex-exilado político em Paris. Passados 45 anos desde que se estreou com Risíveis Amores, em 1969, Milan Kundera recupera presti´gio e apontam-no como candidato a Nobel talvez num dos momentos menos criativos da sua vida literária. Está longe de ser um autor esquecido. Nas livrarias há sempre um exemplar de Kundera. Ele é, em simultâneo, best-seller e long-seller, um escritor sempre procurado cujas vendas disparam a cada novidade. A memória é dos que ficam, como ele. Mas arrisque-se outra lista — arrisque-se o exercício de procurar os que inexplicavelmente apareceram e desapareceram sem deixar rasto embora tivessem tudo para fazer parte da tal memória que Tamina fez por não perder porque era tudo o que tinha. Um nome, dez, 15, 50. . . autores e títulos que passaram ao lado da atenção de lei- tores, livreiros e muitas vezes da crítica. Foram apostas de editores que escolheram publicá-los seguindo um u´nico critério, a qualidade, uma valorização subjectiva que não escapa ilesa às regras do mercado — foram apenas o que foram, e não volumes à espera de um dia melhor ou da simples destruição. Tamina, a personagem-metáfora que luta contra o esquecimento no livro de Kundera, é aqui uma espé- cie de guia para recuperar livros que se perderam na memória recente mas ainda têm uma presença física, ainda que no limiar da invisibilida- de. Mais do que as novidades, esses “livros perdidos”, os condenados pela falta de um discurso que produza memória colectiva, protagonizam cada edição da Feira do Livro — e a de Lisboa começou ontem. São eles os grandes achados e só estão vivos porque alguém os leu e não os esqueceu. A possibilidade de uma listaE pode ser por causa de uma frase. Um papel verde-alface a marcar a página fechada: “Em italiano exis- tem duas palavras sono e sonho, enquanto o napolitano tem uma só, suonno. ” Original de 2001, Montedidio foi editado pela primeira vez em Portugal pela Ambar, saiu de circulação e voltou reeditado pela Bertrand em 2012. É considerado um dos grande livros contemporâneos em Itália. Escrito por Erri di Lucca (Nápoles, 1950), poeta, tradutor, revolucionário, operário, autor múltiplo, é o relato do quotidiano de um rapaz de 13 anos, na- politano como o escritor, a quem o mestre Errico ensina como quem ensina um ofício que cada dia é curto, como “uma dentada” — esse quotidiano em que o rapaz aprende a palavra ammor, com consoante dobrada, e a querer fazer voar um pedaço de madeira. A escrita é depurada, os capítulos breves, cada palavra medida porque “neste bair- ro de vielas chamado Montedidio se se quiser cuspir para o chão não se encontra um espaço livre entre um pé e o outro”. O aplauso em Itália ditou-lhe traduções, mas editar é quase sempre uma aposta em que ganhar e perder são hipóteses iguais à partida. Numa geografia próxima está A Ilha dos Demónios, da catalã Carmen Laforet (1921-2004). A Cavalo de Ferro editou-o em 2009, era o livro que se seguia ao romance que a tinha apresentado como uma das grandes escritoras espanholas do século XX: Nada, com o qual venceu o prémio Nadal, em 1994. Em A Ilha dos Demónios, publicado oito anos depois do sucesso inicial, Laforet recupera o espírito da jovem protagonista de Nada, que a crítica chegou a comparar a Holden Caulfield, o rapaz de À Espera no Centeio, de J. D. Salinger. Desta vez, a acção decorre em 1938, ano de mudança na vida de Marta Camino, na passagem da adolescência para a idade adulta. É Las Palmas, nas Canárias, em ambiente de Guerra Civil, numa família entre o exílio e o trauma. O tempo entre Nada e este A Ilha dos Demónios foi precioso para confirmar o talento de Laforet. A insegurança que sentiu entre um livro e o outro passou a fazer parte da sua biografia e a acrescentar-lhe interesse. Os títulos sucedem-se, o ritmo é sôfrego, tanto tem sido o esquecimento. São dezenas de livros perdidos mas “imperdíveis”. Mede-se o exagero do qualificativo enquanto se acrescentam títulos à lista à custa da supressão de outros. Pede-se ajuda a editores, críticos, tradutores, leitores. Bibliófilos. Mas são os editores que melhor sabem da relação entre o que se publica e o que se vende, do que sai sem quase ser visto. Enviam listas mais ou menos extensas. Não se repetem e recomendam-se uns aos outros. Nomeiam ficção e poesia entre os livros mais esquecidos a encontrar no Parque Eduardo VII. Por exemplo: em 2005, passou discreto um dos grandes poemas épicos numa tradução a reter, de José Lino Grunewald. Falamos de Os Cantos, de Ezra Pound, editado pela mesma Assírio & Alvim que tem colocado no mercado muita da poesia que se publicou nas últimas décadas em Portugal. Não há editor que a propósito da Feira do Livro não fale dos saldos da Assírio — como dos da Relógio D’Água, da Cavalo de Ferro ou da Cotovia. . . Os clássicos, lembram. Mas esses são os que sempre vão vendendo. Outro exemplo: O Bom Soldado Svejk, do checo Jaroslav Hasek (1883-1903), sátira que desmonta de forma corrosiva o poder de um Estado. O original foi publicado em 1929 e a Tinta-da- China traduziu-o na íntegra, pela primeira vez, em 2012. Em português do Brasil, um clássico menos conhecido mas a merecer lugar de honra entre os grandes romances a não esquecer: A Menina Morta, de Cornélio Penna (1896-1958). Publicado em 2006 na colecção de Literatura Brasileira coordenada por Abel Barros Baptista para a Cotovia, é um marco pela originalidade, pela elegância da escrita e pelo modo como se dedicou a um universo mais pessoal num tempo de agitação social. Todas as geografiasA passagem para a senhora que se segue é intuitiva. Eudora Welty (1909-2001), uma das grandes prosadoras da América, de quem a Antígona publicou, em 2013, As Maçãs Douradas (1949), um prodigioso livro de contos que guarda o que de mais precioso e cru existe no imaginário do interior sul do Estados Uni- dos. Welty é com frequência nomeada como inspiração de muitos escritores que tentam captar-lhe a simplicidade aparente que vem de um talento raro de observadora do quotidiano e do seu olho clínico. O outro, a nu, é o seu tópico. É exímia em captar-lhe a gíria e o inconfessável, exercício de que resultam livros de grande riqueza linguística e densidade humana. O feito de verosimilhança, por mais desconcertante, acontece. Um pouco em contraste com a alucinante escrita do argentino Roberto Arlt e Os Sete Loucos. Não consta dos tops este homem nascido em Buenos Aires, em 1900, com a história de Erdosain, um cientista perdido nas suas convicções e imerso numa espiral de mal-entendidos que serviu ao autor argentino para ensaiar, num estilo surreal, uma nociva concepção de sociedade e para romper com “os bons modos da época” e do que tinha sido até então a sua própria escrita entre a autobiografia e a escola prussiana, a origem da sua família. “Aquilo a que chamamos loucura é a falta de hábito do pensamento dos outros”, lê-se, e é bom que haja caneta à mão para que a mente retenha este livro de 1929, editado em português em 2003, pela Cavalo de Ferro. Sabe-se que a subversão é um dos caminhos para permanecer ou ser- se esquecido. O egípcio radicado em França Albert Cossery (1913-2008) não produziu muito mas nenhum dos seus oito livros merece se não um lugar de destaque em qualquer estante. São dele Os Homens Esquecidos de Deus e Mendigos e Altivos, ambos editados pela Antígona. Um modo de escrever em que o escárnio convive com grandes descrições do que pode ser a maior miséria humana, nunca incompatíveis com o riso. Coincide na estante com Os Javaneses, romance de Jean Malaquais (1908-1998), francês nascido polaco, vencedor do prémio Renaudot em 1939. Poderia ter como subtítulo os “homens também esquecidos por Deus” — no caso, os trabalhadores de uma mina na ilha de Java, na década de 30. Malaquais escreve sobre viver na exclusão, no limite de meios e de linguagem, criando códigos de sobrevivência — e assim expõe alguns dos seus ideais políticos, próximos do trotskismo, facto que não compromete em nada a qualidade literária do livro. Está feita a ponte para o Leste. A Vida e o Sonho de Sukahanov revelou Olga Grushnin (Moscovo, 1971) em mais um exemplo, agora actual, de que ideologia e boa literatura são conjugáveis. Sukahanov é um homem de mais de 50 anos satisfeito com as suas conquistas pessoais até que o Kremlin muda de comando. Não é tanto a acção o que conta, mas o modo como a escritora consegue dar densidade ao que poderia ser uma existência banal de mais um ser humano comprometido com o seu passado. A Bizâncio publicou este romance em 2007. O que é feito dele?A lista tenta ser abrangente nas suas limitações. Clássicos, contemporâneos, geografias diversas. A norte, o norueguês Jon Fosse (n. 1959), com É a Aless, novela de um autor conhecido sobretudo pela sua dramaturgia. Não chega a cem páginas, mas é como imergir na mente de alguém e acompanhar as suas hesitações, os seus impulsos, percebendo nessa cadência única uma melodia universal. A Cotovia publicou-o em 2008. O vizinho do lado é sueco. Chama-se Torgny Lindgren (n. 1938) e escreveu um romance sobre o compromisso de um jorna- lista com a realidade. A acção arranca em 1948, ano de um surto de tu- berculose numa zona inóspita da Suécia onde o correspondente de um pequeno jornal é acusado de inventar um périplo gastronómico muito pouco conveniente. O romance chama-se A Última Receita na tradução portuguesa, também de 2008, da Cavalo de Ferro. Lembrar os imerecidamente esquecidos e ter de não falar da maioria é um exercício doloroso. Na ficção de Kundera, Tamina tinha um rosto para não apagar e ele era tudo. Não é o caso desta lista em aberto. Entre os grandes livros esquecidos das livrarias, dos leitores, dos jornais, há muitos em português. A escolha vai para Uma Aventura Secreta do Marquês de Bradomín, de Teresa Veiga, pseudónimo de uma autora nascida em Lisboa em 1945 que prefere não falar dos livros que escreve. Não há um rosto, apenas nomes de personagens contadas entre silêncios neste livro de contos — que talvez seja oportuno neste momento em que os leitores parecem estar a reconciliar- se com o género.
REFERÊNCIAS:
Lisboa: PSP detém 33 suspeitos e apreende mais de 90 quilos de haxixe
A PSP desmantelou hoje em Lisboa uma rede de tráfico de droga, que resultou na detenção de 33 suspeitos e na apreensão de mais de 90 quilos de haxixe. A operação "Party" começou às 23h00 de ontem e incluiu 27 buscas domiciliárias em Lisboa e em várias localidades da Área Metropolitana da capital, como Cascais, Oeiras, Estoril, Amadora e Loures. Durante a madrugada foram detidos 33 suspeitos, entre os quais 24 homens e nove mulheres, com idades compreendidas entre os 17 e 57 anos. Foram ainda apreendidas mais de 450 mil doses individuais de haxixe, bem como outras quantidades de LSD, "ecstasy" e quatro armas de fo... (etc.)

Lisboa: PSP detém 33 suspeitos e apreende mais de 90 quilos de haxixe
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2004-06-16 | Jornal Público
TEXTO: A PSP desmantelou hoje em Lisboa uma rede de tráfico de droga, que resultou na detenção de 33 suspeitos e na apreensão de mais de 90 quilos de haxixe. A operação "Party" começou às 23h00 de ontem e incluiu 27 buscas domiciliárias em Lisboa e em várias localidades da Área Metropolitana da capital, como Cascais, Oeiras, Estoril, Amadora e Loures. Durante a madrugada foram detidos 33 suspeitos, entre os quais 24 homens e nove mulheres, com idades compreendidas entre os 17 e 57 anos. Foram ainda apreendidas mais de 450 mil doses individuais de haxixe, bem como outras quantidades de LSD, "ecstasy" e quatro armas de fogo. Entre os detidos está um filho da vice-presidente da Assembleia da República, Leonor Beleza, avançou à Lusa fonte policial. Segundo a PSP, a rede agora desmantelada era liderada por duas mulheres e um homem, com idades entre 27 e 33 anos, que se dedicavam "ao transporte e posterior distribuição" de estupefacientes aos restantes membros do grupo. A rede foi detectada depois de a PSP ter vigiado, seguido e interceptado dois automóveis de alta cilindrada que seguiam no sentido Sul-Norte da auto-estrada do Sul, uma das quais transportava droga no lugar habitualmente reservado à roda sobressalente. A operação envolveu 108 elementos da investigação criminal, quatro equipas de intervenção rápida com 36 pessoas, sete elementos da divisão de trânsito e três viaturas rápidas, bem como dois agentes acompanhados de cães especializados na busca de drogas. Os detidos serão ouvidos amanhã no Tribunal de Instrução Criminal.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Cientistas clonaram embriões humanos
Uma equipa de cientistas norte-americanos anunciou hoje ter conseguido clonar embriões humanos a partir de células adultas da pele doadas por dois homens, através da a mesma técnica que permitiu criar a ovelha Dolly há 11 anos. Os cientistas, da empresa Stemagen, em La Jolla, na Califórnia, utilizaram 29 ovócitos humanos, doados para investigação por mulheres. Começaram por lhes retirar o ADN do núcleo, para colocar depois no seu lugar o ADN das células da pele dos dois dadores. Conseguiram assim obter cinco embriões, que chegaram à fase de blastocisto, a fase em que surgem as famosas células estaminais, capazes ... (etc.)

Cientistas clonaram embriões humanos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2008-01-18 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20080118023126/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1316983
TEXTO: Uma equipa de cientistas norte-americanos anunciou hoje ter conseguido clonar embriões humanos a partir de células adultas da pele doadas por dois homens, através da a mesma técnica que permitiu criar a ovelha Dolly há 11 anos. Os cientistas, da empresa Stemagen, em La Jolla, na Califórnia, utilizaram 29 ovócitos humanos, doados para investigação por mulheres. Começaram por lhes retirar o ADN do núcleo, para colocar depois no seu lugar o ADN das células da pele dos dois dadores. Conseguiram assim obter cinco embriões, que chegaram à fase de blastocisto, a fase em que surgem as famosas células estaminais, capazes de originar todos os tipos de tecidos que compõem o organismo. De facto, estas experiências de clonagem de embriões humanos têm como objectivo a obtenção de células estaminais embrionárias para fins terapêuticos — e não o nascimento de clones, como ocorreu no caso da Dolly. A ideia é utilizar as células estaminais no tratamento de doenças, com a particularidade de serem células feitas à medida de cada doente, uma vez que resultaram de clones deles. Ora, hoje, a equipa norte-americana relatou, na revista Stem Cells, que os testes genéticos em dois dos cinco embriões obtidos indicavam que eram provavelmente clones (sendo o seu ADN igual ao do dador das células da pele). E que, em relação a um terceiro embrião, tinham sido feitos testes genéticos adicionais — mandados repetir num laboratório independente com idênticos resultados —, confirmando-se que era mesmo um clone. No fim desse processo de verificação, os embriões foram destruídos. Não é a primeira vez que se anuncia a criação de clones humanos. Em 2001, a empresa norte-americana Advanced Cell Technology dizia tê-lo conseguido com a mesma técnica. Porém, os embriões só chegaram a ter quatro e seis células, pelo que ficaram numa fase muito mais precoce do que a do blastocisto e não houve confirmação de que eram clones. Entre 2001 e ontem, houve a fraude do sul-coreano Hwang Woo-suk, que em 2005 alegou ter produzido clones de embriões humanos e ter neles recolhido células estaminais. Por tudo isto, Samuel Wood, o coordenador da equipa da Stemagen, sublinhava ontem na BBC online: “De facto, fomos os primeiros em todo o mundo a recolher células adultas e a documentar que fomos capazes de clonar embriões a partir delas. ”Por causa dos problemas éticos relacionados com os embriões e a clonagem humana, há cientistas a explorarem outras vias de obtenção das células estaminais embrionárias que não passam pelo embrião. Ouvido pela BBC, Jack Price, do King’s College em Londres, especialista em células estaminais, dizia ontem que a experiência da Stemagen é um avanço. “É um progresso técnico. Mostra que o uso de embriões humanos ainda é promissor. ”
REFERÊNCIAS:
Atletas não profissionais usam esteróides e hormonas comprados na Internet e a amigos
Rui injecta-se com esteróides em casa, antes de ir dormir. Tó já o fez de madrugada atrás do balcão de um bar. César usa os balneários do ginásio. Três casos de doping em nome de um corpo perfeito, sem medo dos riscos que podem ser fatais. Rui, Tó e César (nomes fictícios) são três desportistas amadores que retratam um mundo escondido do consumo de substâncias vendidas ilegalmente. Não vivem à margem da lei, porque os desportistas amadores não estão contemplados no decreto-lei que regula o doping em Portugal. O tráfico e consumo de produtos dopantes são proibidos, mas as sanções são dirigidas apenas aos desportis... (etc.)

Atletas não profissionais usam esteróides e hormonas comprados na Internet e a amigos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2008-01-23 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20080123204233/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1317474
TEXTO: Rui injecta-se com esteróides em casa, antes de ir dormir. Tó já o fez de madrugada atrás do balcão de um bar. César usa os balneários do ginásio. Três casos de doping em nome de um corpo perfeito, sem medo dos riscos que podem ser fatais. Rui, Tó e César (nomes fictícios) são três desportistas amadores que retratam um mundo escondido do consumo de substâncias vendidas ilegalmente. Não vivem à margem da lei, porque os desportistas amadores não estão contemplados no decreto-lei que regula o doping em Portugal. O tráfico e consumo de produtos dopantes são proibidos, mas as sanções são dirigidas apenas aos desportistas federados. O Governo prepara-se agora para alterar a situação. Até lá, “vão continuar a existir ginásios que encobrem o negócio”, alerta Tó, segurança da noite em Coimbra e frequentador dos chamados “ginásios do ferro” há mais de uma década. Depois de ter visto amigos a “darem-se mal” com a experiência diz que já não toma nada, porque os riscos para a saúde não compensam os ganhos que se vêem ao espelho. “O consumo dessas substâncias pode potenciar o cancro do fígado, da próstata e da pele, pode provocar hipertensão, enfarte do miocárdio, atrofia dos testículos, esterilidade masculina, alteração do comportamento”, lembra Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, que deixa o risco de morte para o fim da extensa lista de “inconvenientes”. Indiferente aos perigos do consumo excessivo de medicamentos, alguns até para uso veterinário, Rui está apostado em prosseguir o seu objectivo. Começou há três semanas a toma de um verdadeiro “cocktail” de fármacos para ganhar músculo, prática que no meio se chama de “ciclar”. O conhecimento que tem das propriedades dos esteróides anabolizantes e hormonas de crescimento atestam que é rodado nestas andanças. São nove anos de contacto com substâncias proibidas, a aprender com colegas e desconhecidos em chats na internet. São nove anos a trabalhar para conseguir o que chama “um corpo Danone”. “Nós andamos a treinar para ficar maiores e descobrimos que para isso temos de tomar alguma coisa. Começamos pelos batidos, mas as coisas naturais não são tão rápidas nem têm os mesmos efeitos”, explica Rui, que está a tomar “Deca e Equipoise, um medicamento que é dado aos cavalos de corrida”, diz. Sob o anonimato, não se importa de revelar os detalhes da sua história, mas Rui é uma excepção. “Estamos a falar de um jogo proibido. As pessoas não contam tudo o que fazem nem tudo o que sabem”, garante o trabalhador da construção civil, 36 anos. A Internet é uma boa fonte não só para comprar tudo o que é preciso mas também para trocar ideias e ficar mais informado. Há chats onde se trocam opiniões sobre as “melhores doses” para se conseguir atingir os “melhores resultados” e até se ensina como injectar as substâncias. “Furas a pele com a agulha, quando a penetração oferecer mais resistência é porque atingiste o músculo. (. . . ) Se entra sangue é porque atingiste uma veia, o que é mau. Retira a agulha, troca por uma nova e repete o procedimento noutro sítio”, explica um site português aos que têm medo de se injectar. A injecção de esteróides que Carlos dá na sua própria nádega duas vezes por semana já é um gesto mecânico. Gastou 480 euros para perder algum peso e ganhar músculo em oito semanas. Em mente já está a preparar o próximo “ciclo de winstrol para secar”, ou seja, definir os músculos. Os medicamentos – muitos deles vendidos apenas com receita médica – arranja-os através de “um amigo que também toma e que os vai comprar lá fora”. Tudo começou depois de seis anos a treinar sem ver resultados, em 1999. “Antigamente, conseguiam-se os medicamentos através de conhecimentos na farmácia, agora as coisas vêm de fora ou são mandadas vir pela Internet. Tenho um amigo que chegou a comprar cenas no E-bay. O grande risco de comprar na Internet é poder não receber nada. Mas na vida quase tudo se baseia no risco”, explica Tó, 31 anos. Comprar a desconhecidos também se pode revelar um logro. “A hormona de crescimento é muito cara. Sei de pessoas que a tomaram e depois puseram placebo na cápsula usada e venderam-na. As pessoas nunca descobrem, mas estão a ser enganadas”, alerta Tó. Nos ginásios, o tema surge naturalmente nas conversas de balneário. Quem vende tenta seduzir quem não consegue atingir o corpo ideal. “Os jovens tomam tudo o que lhes dão”, afirma Tó, lembrando os “gangs de marginais que aceitam miúdos cada vez mais novos. São putos que se querem afirmar e que tomam esse tipo de coisas para aumentar a massa muscular”, explica. Um estudo sobre comportamentos de saúde dos jovens revela que em Portugal existem crianças de 11 anos que já experimentaram o doping. “Há mais rapazes do que raparigas e os mais velhos são os que dizem mais vezes ter experimentado”, explicou à Lusa Mafalda Ferreira, uma das autoras da investigação realizada pela Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade Técnica de Lisboa. As bailarinas da noite e os seguranças são grupos onde o consumo está generalizado. Mas Tó garante que os esteróides e hormonas são “tomados por todo o tipo de gente”. Os candidatos mais vulneráveis estão identificados: “As pessoas mais vaidosas com o corpo, com menos posses económicas e com menos conhecimento dos malefícios são as que têm mais probabilidades em vir a tomar”, explica o professor de Educação Fisica André Freire, baseando-se no estudo de fim de curso que realizou para a Universidade Lusófona. José Júlio Castro, vice-presidente da associação portuguesa de ginásios, sublinha que “não se pode confundir ginásios com centros de dopagem e locais onde se praticam actos ilicitos”, lembrando que os ginásios de hoje são espaços de bem-estar que promovem a saúde. Já Tó tem uma percepção diferente, porque se calhar os espaços que frequenta também são diferentes: “Nos ginásios todos treinam para o mesmo: para o ego, para o espelho. Não para a saúde”.
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Lenços de amor: juras, promessas e declarações à moda antiga
"A amizade que eu lhe tenho só por morte terá fim. Aceite este lenço e não se esqueça de mim". Quando acabou de dizer a frase Alzira entregou o lenço a Joaquim e só o voltou a ver passados 17 anos. Foi um amor que resistiu ao tempo e à distância. Alzira Inácio é “minhota de gema”. Apaixonou-se por Joaquim Lopes em 1952, num tempo em que as raparigas, sobretudo da região Norte do país, ainda bordavam em quadrados de linho, com linhas coloridas, mensagens de amor e desenhos codificados. O Lenço de Namorados que Alzira bordou para Joaquim já atravessou oceanos e encontra-se novamente em sua posse. “Foi feito em pont... (etc.)

Lenços de amor: juras, promessas e declarações à moda antiga
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2008-02-15 | Jornal Público
TEXTO: "A amizade que eu lhe tenho só por morte terá fim. Aceite este lenço e não se esqueça de mim". Quando acabou de dizer a frase Alzira entregou o lenço a Joaquim e só o voltou a ver passados 17 anos. Foi um amor que resistiu ao tempo e à distância. Alzira Inácio é “minhota de gema”. Apaixonou-se por Joaquim Lopes em 1952, num tempo em que as raparigas, sobretudo da região Norte do país, ainda bordavam em quadrados de linho, com linhas coloridas, mensagens de amor e desenhos codificados. O Lenço de Namorados que Alzira bordou para Joaquim já atravessou oceanos e encontra-se novamente em sua posse. “Foi feito em ponto pé de flor e tinha as nossas iniciais bordadas a ponto cruz. Os desenhos eram uns raminhos fraquinhos porque eu sempre gostei de coisas simples”, conta. Segundo Ana Catarina Mendes, antropóloga que estudou os Lenços de Amor do Museu Nacional de Etnologia, os símbolos mais recorrentes que encontramos nos Lenços estão directa ou indirectamente ligados ao seu tema chave: o amor. Corações, motivos florais, chaves, pássaros e ramos, como os que Alzira bordou, são alguns dos desenhos mais frequentes. “Encontramos também silvas que são adornos bordados em forma de cercadura que imitam motivos florais e são também utilizadas para as orlas dos lenços”. Quando Joaquim trocou o Minho pelo Brasil, Alzira tinha 17 anos e tinha namorado. “Namorava com outro porque não tinha muita confiança no que ia para o Brasil, mas já gostava dele, claro”. Quando soube que Joaquim ia partir, comprou “um paninho” e começou a bordar. Apesar de serem quatro irmãs, só Alzira aprendeu a arte dos Lenços de Namorados. “Copiava os da minha mãe e fazia às escondidas dela, nunca nos ensinou porque não queria que aprendêssemos, dizia-nos: ‘Não vos ensino, isso já não se usa, agora têm que aprender coisas modernas. ”Joaquim só voltou do Brasil em 1969. Nos 17 anos que estiveram separados pouco comunicaram a não ser por raras cartas. “Foi por Deus”, conta Alzira. Antes de Joaquim ter deixado o Minho, Alzira “despachou logo” o seu namorado. “Depois tive muitos pretendentes mas nenhum me agradava. Muitos até me vinham pedir ao meu pai em casamento mas eu não queria cá nada disso. Só com o que estava no Brasil”, recorda. Ficou à espera que Joaquim voltasse e diz que se não fosse ele não era mais nenhum: “Se ele não viesse, não casava”. Como anéis de noivado“Os lenços eram uma espécie de anéis de noivado”, conta Ana Catarina Mendes, na medida em que o seu uso por parte do homem significava aceitar o compromisso com a moça que o bordou. Eram uma declaração de amor que as “moças em idade casadoira” ofereciam como uma prenda entre namorados. Os Lenços de Amor ou de Namorados têm como origem os lenços senhoris dos séculos XVII e XVIII e foram posteriormente adaptados pelas mulheres do povo. Numa primeira fase, começaram a ser usados como adereço do traje feminino passando mais tarde a peça integrante do enxoval que a moça começava a preparar na infância. “Entre lençóis e atoalhados era comum bordar-se um lenço subordinado ao tema do amor”, explica Ana Catarina, “depois de concluído era usado pela autora na bainha da saia ou no bolso do avental e mais tarde seria oferecido ao rapaz por ela escolhido. Este, por sua vez, para assumir publicamente o compromisso, usava-o por cima do casaco domingueiro, no bolso, ou ao pescoço”. O lenço que Alzira bordou não cumpriu estes rituais, porque foi terminado perto da data da partida de Joaquim. Alzira sabia ler e escrever, completou com êxito a terceira classe. Por isso, a frase que bordou foi escrita por ela e não copiada de lenços já existentes como outras moças faziam. “Quem não sabia ler copiava os versos de outros lenços o que fazia com que a maior parte dos erros se deva à cópia (é comum encontrarem-se ‘S’ invertidos). Mesmo quando a autora sabia escrever, muitas vezes fazia-o com base na oralidade produzindo versos como: “Quando te vejo meu bem/ Meu amor minha alegria/Alebio do pensamento/ Cando sera esse dia”, esclarece, Ana Catarina Mendes. O lenço que Joaquim levou para o Brasil e trouxe consigo 17 anos depois mantém-se, ainda hoje, quase intacto. Com medo de o estragar, nunca o lavou. Em 1970, quando já ninguém esperava, Alzira e Joaquim casaram. “O meu marido era muito alegre e muito jeitoso. Havia raparigas mais bonitas que eu mas ele escolheu-me a mim. Eu era mais simples. Da minha parte também se não fosse com ele já não era, estava decidido”. ”Amores à moda antiga”Hoje com 76 anos, Alzira reconhece que os Lenços de Amor como compromisso são coisa do passado. “São amores à moda antiga”, reconhece, “As minhas filhas já não bordaram lenços, são de outra geração, os namoros agora são diferentes claro. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Alzira cita de cor parte da quadra que Camões escreveu há mais de 400 anos e resume, intemporalmente, as transformações que ocorrem nas formas de manifestar afecto. Nas relações actuais, já não se cose com as linhas coloridas que um dia desenharam mensagens de amor codificadas. Ana Catarina Mendes conta que hoje em dia a produção individual é praticamente inexistente. Salvo raras excepções, os Lenços encontram-se à venda nas lojas de artesanato e as raparigas quando se casam encontram-nos aí. Os quadrados de pano que em tempos tiveram inscritos promessas de amor eterno são, actualmente, peças de artesanato procuradas por turistas em busca de coisas “típicas”, considerados verdadeiros objectos de colecção. Nos últimos cinco anos, a “Adere – Minho”, Associação para o Desenvolvimento Regional do Minho vendeu mais de 2500 Lenços de Amor. Todos os Lenços certificados passam por esta associação e são oriundos de concelhos da região Norte como Ponte de Lima, Viana do Castelo, Barcelos, Braga ou Melgaço. Ana Catarina Mendes contou ao PÚBLICO que os Lenços de Amor estão muito em voga. “Um pouco em todas as áreas de criações multiplicam-se os artistas, em busca de inspiração, recorrem cada vez mais a temas do artesanato popular” e exemplifica: “Durante a Cow parade 2006 duas vacas tinham estampados motivos típicos dos lenços dos namorados e até os hipermercados Continente lançaram, no Outono de 2004, uma linha de roupa de casa e porcelana, inspirada nos mesmos, que incluía serviço de jantar, café e chá, atoalhados e roupa de cama. ”A história de Alzira e Joaquim pertence à das gerações passadas, onde os Lenços ainda não eram comercializados ou estudados mas apenas simples manifestações de amor. Joaquim e Alzira tiveram duas filhas e um casamento de quase 30 anos. “O lenço deu resultado”. Joaquim morreu em 1999. O objecto que em tempos fora o único elo que os unia ficou com Alzira. “Está aqui sempre comigo, as linhas é que desbotaram um bocadinho porque eu tive que o lavar com lixívia de tão negro que estava”, conta, como se juntamente com o lenço estivesse uma parte da sua vida da qual nunca se irá separar.
REFERÊNCIAS:
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