Nasceu um campo de refugiados no centro da capital da Europa
“Aqui sente-se que há humanidade”, diz um sírio que acabou de chegar a Bruxelas para testemunhar uma vaga de solidariedade inédita. (...)

Nasceu um campo de refugiados no centro da capital da Europa
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Refugiados Pontuação: 18 | Sentimento -0.1
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: “Aqui sente-se que há humanidade”, diz um sírio que acabou de chegar a Bruxelas para testemunhar uma vaga de solidariedade inédita.
TEXTO: Um jovem iraquiano com a mão ligada espera para receber assistência médica de uma ONG, voluntários descarregam fraldas de bebé de um carro. Por trás de uma cantina de campanha onde se faz a distribuição da comida foram montadas 300 tendas de vários tamanhos… Bem-vindos ao campo de refugiados que nasceu no centro de Bruxelas, fruto de uma mobilização cidadã sem precedentes. “Se a Bélgica nos mandar de volta para o Iraque, eu e a minha mulher decidimos que nos suicidamos”, diz à AFP um dos ocupantes deste campo que começou a crescer no início do mês no Parque Maximilien, perto da Gare du Nord. Engenheiro em Bagdad, casado com uma psicóloga, o homem de cerca de trinta anos que prefere não dizer o nome continua nervoso e desconfiado. Diz ser “ateu” e espera que a Bélgica lhe atribua o estatuto de refugiado. Tal como centenas de homens, mulheres e crianças também ele encontrou um refúgio inesperado neste acampamento improvisado, onde reina uma atmosfera surpreendentemente descontraída. Todos eles, tenham vindo do Iraque, Síria, Somália, Eritreia ou Afeganistão, têm que esperar três a cinco dias para submeter o seu dossier no Serviço de Estrangeiros”. O campo nasceu em frente da sede desse organismo no momento em que o número de refugiados ultrapassou a capacidade de processamento destes serviços administrativos, que só conseguem tratar de 250 inscrições por dia. Sem saberem para onde ir, totalmente desprotegidos, os refugiados não tiveram outra escolha a não ser instalarem-se neste pequeno parque rodeado de edifícios de escritórios e prédios de habitação social, local de encontro habitual para os sem-abrigo e os toxicodependentes, situado não muito longe da sede das instituições europeias e do parlamento belga. Nos primeiros dias, cidadãos anónimos chegaram com algumas tendas, roupa ou comida. Depois estes bem-feitores criaram uma “plataforma cidadã” que contava no final desta semana com dez mil inscritos no Facebook. Em poucos dias, os voluntários, na maioria jovens, montaram uma pequena aldeia, com a ajuda de organizações não-governamentais. Fazer a triagem das doações que chegam em grande quantidade, organizar um posto médico e uma cozinha, orientar os novos voluntários e informar os refugiados sobre os passos a seguir: tudo está organizado no terreno. Mas o sistema permanece frágil, reconhece um dos voluntários. As famílias belgas continuam a chega com brinquedos e comida, propondo-se, às vezes, dar uma ajuda. “Eu até vi um senhor de fato e gravata a despejar o lixo dos caixotes”, conta Zained, um belga de origem iraquiana que ajuda como intérprete no campo. Alguns voluntários, no entanto, dizem-se chocados. “Estou orgulhoso de ver a velocidade com que esta solidariedade se organizou, mas também estou escandalizado. Um campo de refugiados é para países que não tem meios para fazer de outra maneira. Seria a última coisa que devíamos ver na capital da Europa”, critica Jean Pletinckx. Face à pressão mediática e das associações de apoio aos refugiados, o secretário de Estado para o Asilo e Migrações, o nacionalista flamengo Théo Francken, acabou por instalar 500 camas de campanha para os recém-chegados num edifício de escritórios ao lado do Serviço de Estrangeiros. Mas este centro de urgência só está aberto à noite, não tem duches e lá dentro não é permitido comer. “É completamente inadequado e indigno”, protesta Jean Pletinckx. Depois da sua abertura, há uma semana, o centro de urgência só recebe cerca de 20 pessoas por noite. Théo Francken censurou os refugiados que “preferem as suas tendas acolhedoras” e exigiu “um pedido de desculpa” aos críticos, provocando uma vaga de indignação entre a oposição e as agências humanitárias. Já esta segunda-feira, o primeiro-ministro Charles Michel deu ordem para que as condições de estadia no centro seja melhoradas, que ai sejam colocadas mais camas, e que este passe a estar aberto 24 horas por dia. O objectivo é "evacuar progressivamente" o acampamento do Parque Maximilien. Longe da polémica, um sírio de 52 anos, que partiu de Lattakia há um mês e chegou na passada quarta-feira a Bruxelas, recupera forças num banco do Parque Maximilien. “Aqui sente-se que há humanidade”, diz. Separado na Grécia dos seus filhos de 18 e 21 anos, que o regime sírio queria recrutar à força para o exército, ele considera “fantástico” o acolhimento recebido na Bélgica, e espera encontrar muito em breve os seus dois rapazes. AFP
REFERÊNCIAS:
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A dança (e a vida) no exílio
Esta sexta, Salia Sanou vem ao Rivoli com Du Désir d’Horizons, um espectáculo inspirado pelo período em que o coreógrafo orientou oficinas de dança em campos de refugiados em África. (...)

A dança (e a vida) no exílio
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Refugiados Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Esta sexta, Salia Sanou vem ao Rivoli com Du Désir d’Horizons, um espectáculo inspirado pelo período em que o coreógrafo orientou oficinas de dança em campos de refugiados em África.
TEXTO: Há mentiras que vêm por bem. Aos 24 anos, Salia Sanou (Léguéma, 1969) disse aos pais que ia deixar o Burkina Faso. Que ia para França continuar os estudos em Direito, tornar-se advogado. “Menti”, conta, entre risos, ao PÚBLICO. Foi fazer outra coisa, bem mais interessante: dançar na companhia da coreógrafa francesa Mathilde Monnier, que o recrutou para a sua equipa de bailarinos depois de o ter conhecido no Burkina Faso, nas audições para o espectáculo Pour Antigone (1993). Em três dias, tudo mudou na vida de Salia Sanou. “Quando a Mathilde Monnier me convidou para trabalhar com ela, fiquei muito surpreendido. Adorava dançar, dançava desde criança, mas nunca me tinha passado pela cabeça ir para a Europa dançar profissionalmente. ” Passados dois anos, abriu o jogo aos pais e aos amigos. “Primeiro os meus pais ficaram em choque, mas depois encorajaram-me”, recorda. “E perceberam que podia ajudar a família financeiramente. Correu tudo bem. ”Hoje, Salia Sanou é um dos coreógrafos africanos mais bem cotados no circuito da dança contemporânea. Traz esta sexta-feira ao Teatro Municipal Rivoli, no Porto, Du Désir d’Horizons, um espectáculo em estreia nacional que tem uma longa história por trás. Há cinco anos, no âmbito de uma iniciativa da fundação African Artist for Development, Sanou e alguns bailarinos da sua companhia, a Mouvements Perpétuels, orientaram uma série de actividades em campos de refugiados no Burundi e no Burkina Faso. “Os refugiados deixam quase tudo para trás. Perdem muita coisa. Perdem a sua dignidade, perdem a sua cultura. A prioridade num campo de refugiados é sobreviver. Fazer ateliers de dança permitiu-lhes valorizarem-se a si próprios, terem algo para partilhar e fazer em conjunto, recuperando algumas das suas raízes culturais”, explica o coreógrafo. No final do projecto, “toda a gente chorou” – mesmo aqueles adolescentes com cara de poucos amigos que à chegada de Salia Sanou diziam que só dançariam se ele lhes desse dinheiro. “Chorámos todos porque aquilo lhes fazia bem”, resume Sanou. Na altura, não lhe passou pela cabeça fazer um espectáculo a partir daquela experiência, mas a verdade é que ela não lhe saiu da cabeça. Não foi por acaso que algum tempo depois começou a construir Du Désir d’Horizons. “Nos campos de refugiados vês muitas coisas. Observei as várias dinâmicas que existem nesses lugares. Há crianças por todo o lado, mas elas não têm plena consciência do que se passa. Vão-se divertindo, são muito activas. Há os adolescentes, que podem ser muito agressivos, muito chateados. Depois tens as mulheres e as mães, que são muito doces. São elas que supervisionam o que ali se passa, que estabelecem a comunicação. Os homens adultos sentem-se muito perdidos, são como zombies. Nota-se pelas expressões faciais, pela forma como se mexem”, descreve o coreógrafo. “Perceber estas diferentes dinâmicas e estados emocionais foi muito importante para mim enquanto bailarino e coreógrafo. ” E foi isso que lhe serviu de “matéria” para traçar a coreografia deste espectáculo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em Du Désir d’Horizons, Salia Sanou quis trabalhar o tema do exílio. Fê-lo através “da postura, dos estados emocionais, da ligação com o outro, do isolamento, da alteridade”. “Há vários momentos no espectáculo em que me foco na individualidade. Mesmo se há movimento de grupo, nenhum bailarino é igual a outro. Cada um traz a sua história, o seu corpo, a sua visão da questão do exílio”, esclarece o coreógrafo. A transitar pela coreografia há uma contadora de histórias que dá voz a excertos do livro Limbes/Limbo, Un hommage à Samuel Beckett, da escritora franco-canadiana Nancy Huston, com quem Salia Sanou está agora a colaborar na sua nova criação, uma espécie de segundo capítulo de Du Désir d’Horizons. “Para mim, esse texto fala sobre o exílio. É importante criar passagens na peça onde há voz e dar voz às experiências dos refugiados. ” Originalmente, este espectáculo contava com dois refugiados que Sanou conheceu durante os ateliers nos campos. Contudo, eles não vão estar no Rivoli: a embaixada do Burkina Faso em França não lhes concedeu os vistos para viajarem, à falta de “provas de que não iriam sair da Europa”. Apesar de o elenco da peça ser composto por bailarinos de várias etnias africanas (e não só), Salia Sanou deixa bem claro que não quer fazer de Du Désir d’Horizons uma montra de danças tradicionais do continente. “Se vires referências de danças tradicionais é porque estão ao serviço da coreografia e da história”, sublinha. “Nós vivemos neste tempo e criamos neste tempo. ” Desde 1995, ano em que fundou a companhia Salia nï Seydou com o coreógrafo Seydou Boro, que Salia Sanou procura combater a visão exoticizada e estereotipada do Ocidente perante a produção cultural africana. “Muita gente nessa altura, e ainda agora, pensa que África são só tambores. Quisemos mostrar que há linguagens contemporâneas em África. Há muitos criadores, muitos jovens artistas que fazem óptimas coisas, mas que não têm oportunidades de vir apresentá-las à Europa”, nota Sanou, que também co-dirige com Seydou Boro o centro coreográfico CDC la Termitière, em Ouagadougou, onde se realiza a bienal de dança Body LanguagesAinda que o circuito europeu de dança contemporânea continue demasiado restrito e demasiado branco ("É uma realidade", admite), o coreógrafo considera que “tem havido uma evolução de mentalidades”. A mudança, diz, depende também dos programadores. “É preciso ir a África, como foi o Tiago [Guedes, director artístico do Teatro Municipal do Porto]. Há muitos programadores que têm medo”, diz. “Não é uma questão de meios. É o medo de abrir outras portas. Ficam no seu lugar de conforto e pensam que se mudarem alguma coisa na programação o público não vai aceitar bem. Mas o público é inteligente. ”
REFERÊNCIAS:
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Carta ao meu irmão: você tem dois dias
Somos bonitos, fortes, e inteligentes. Representamos unidos, no entanto, aquilo que Jair Bolsonaro detesta e despreza na sociedade: a negritude, a feminilidade, a homossexualidade, a fragilidade económica, o risco social, e numa extensão de sentido da minha identidade, a imigração (...)

Carta ao meu irmão: você tem dois dias
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 9 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Somos bonitos, fortes, e inteligentes. Representamos unidos, no entanto, aquilo que Jair Bolsonaro detesta e despreza na sociedade: a negritude, a feminilidade, a homossexualidade, a fragilidade económica, o risco social, e numa extensão de sentido da minha identidade, a imigração
TEXTO: A 8 de Setembro acordei em minha casa, em Lisboa, com uma notificação de mensagem vinda do WhatsApp. Com os olhos ainda embaçados, vi logo que o “zap” vinha do grupo “Irmãos”. A foto do grupo é singular, tirada em Arcos, pequena cidade do estado de Minas Gerais, Brasil profundo. Mostra os meus três irmãos homens, e eu com um lacinho vermelho na cabeça. É uma foto do meu primeiro aniversário. E também de um irmão, cinco anos mais velho, que faz anos quase no mesmo dia que eu. Na foto, está atrás de nós uma samambaia (feto em Portugal), bem frondosa e viçosa, e à nossa frente um bolo grande, bem brasileiro, cheio de açúcar. Eis a memória do início da minha vida. O presente já não é tão doce. Li o “zap”. Meu coração disparou. E senti um peso de chumbo no meu ombro direito. Desembacei os olhos. Li a mensagem outra vez. Várias imagens e memórias evocadas por aquela foto do grupo assaltaram a minha mente. Fui inundada por um sentimento de confusão. Éramos quatro irmãos, entre eles uma mulher negra e um rapaz homossexual. Éramos quatro irmãos negros, num país de profunda desigualdade racial/social e herança escravocrata. Tínhamos sobrevivido, embora tenhamos ficado órfãos na infância (para mim) e adolescência (para eles). Crescemos saudáveis. Somos bonitos, fortes, e inteligentes. Representamos unidos, no entanto, aquilo que Jair Bolsonaro detesta e despreza na sociedade: a negritude, a feminilidade, a homossexualidade, a fragilidade económica, o risco social, e numa extensão de sentido da minha identidade, a imigração. Seria apesar disto tudo um dos meus irmãos um eleitor de um candidato de extrema-direita, fascista? Por várias razões, algumas delas aqui evidenciadas, não queria acreditar. O tal zap do meu irmão consistia de uma notícia com muitas afirmações dúbias sobre a facada maldita em Bolsonaro. Não tinha fontes citadas no corpo do texto, nem sequer hyperlinks a demonstrar a proveniência daqueles três parágrafos, com 176 palavras refutáveis. Tinha todos os indícios de notícia falsa. A primeira reacção foi de uma jornalista indignada. Respondi com uma palavra: “Fonte?”. Em Portugal, a luz solar tinha acabado de aparecer. O Brasil mantinha-se submerso na escuridão da noite. Meu irmão estava provavelmente a dormir. Sem obter respostas, continuei a enviar várias perguntas desesperadas: “De onde vc tirou isto?” “Está louco?” e a dar orientações de literacia dos media: “Não partilhe texto sem indicar fontes. ”Doutorei-me, com mérito, passando por universidades em Portugal e nos Estados Unidos, países diferentes do meu país de origem. Fui uma das primeiras na família a terminar uma licenciatura, há 13 anos, e sou a primeira doutorada na família inteira, incluindo tios e primos. As minhas memórias de sucesso académico são tão frescas como as de discriminação racial. Ambas fazem de mim quem eu sou agora e abandoná-las seria um extermínio da minha identidade. No Brasil, na infância, crianças recusaram-me a dar as mãos nas brincadeiras de roda na escola primária por ser negra. Diziam-me na minha cara. Eu chorava baba e ranho. Em Portugal, o pai de um ex-namorado português loiro não falava comigo declaradamente por ser preta. Também o dizia descaradamente. Eu chorava baba e ranho. Nos Estados Unidos, no Texas, onde vivi quase cinco anos, tinha receio de correr no meu bairro de classe média alta, à noite, como os americanos brancos faziam-no. Não queria correr o risco de ser atirada por uma arma de fogo, como é uma constante no Texas. Eu aceitava, mas já não chorava. Agora escrevo contra aquilo que poderá acontecer no país, onde nasci, com um possível presidente, disparador de declarações racistas, misóginas, homofóficas e apologista do porte de armas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Isto é para dizer que já vi e vivi o racismo ao longo da minha vida nas suas diferentes matizes e geografias, mesmo ele não sendo moralmente aceite. O que poderá acontecer, a partir de agora, sendo o racismo e outras bizarrices instigadas pelo próprio presidente do Brasil? Estive feliz por algum tempo pelo despontar de movimentos de afirmação cultural e racial pelas Américas, e pelas políticas afirmativas que se alastravam pelo Brasil. Ver o retrocesso disto causa-me dor física e emocionalmente. Dói-me ainda mais descobrir que o meu irmão, aquele que saiu do mesmo ventre que eu, é a favor deste retrocesso, é a favor de um sujeito que instiga pensamentos racistas ao ofender quilombolas (descendentes de africanos escravizados) e indígenas, ao confundir relações inter-raciais com promiscuidade, e ter como objetivo reduzir as políticas afirmativas . O meu irmão acordou do seu sono. Não soube especificar fonte nenhuma. Meu irmão explicou-me que após a facada maldita tinha decidido o seu voto dizendo: “Depois dessa loucura eu me decidi, não estão tentando matar ele à toa não, tá incomodando muitos bandidos da política pode ter certeza. ” Desde 8 de Setembro, tenho tentado dialogar com o meu irmão. No entanto, ele ignora que uma boa parte da massa intelectual e cultural no mundo, como o sociólogo Manuel Castells e a cantora Madonna, está sim extremamente incomodada com o seu candidato predilecto. E não por este ser um herói salvador ou antes um exorcista do PT, mas por ser um “canalha à porta do planalto”. Permitam-me agora os leitores dirigir-me diretamente ao meu irmão. Eu posso ter lhe agredido, irmão, com as minhas palavras desesperadas nos nossos longos debates no WhatsApp. Se lhe agredi não foi intencionalmente e não foi certamente pela dor que eu queria que você sentisse. Mas sim pela dor que tenho sentido. Pela dor que sinto também agora por ter de partilhar isto tudo num jornal internacional, do país onde agora vivo. Mas ser mulher, negra, jornalista, e pesquisadora, no século XXI é isto. É ser livre. É estar no espaço público. É questionar o status quo. É lutar pela democracia, pela igualdade e pela liberdade no mundo, mesmo que isto doa às vezes. Eu só espero que você reflicta. Você tem dois dias.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Chama-se Fátima, o bebé que deu à costa em Tarifa
Bebé de 11 meses que chegou sozinha a uma praia de Cádiz num barco de imigrantes ilegais vai ser entregue aos pais. (...)

Chama-se Fátima, o bebé que deu à costa em Tarifa
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-08-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Bebé de 11 meses que chegou sozinha a uma praia de Cádiz num barco de imigrantes ilegais vai ser entregue aos pais.
TEXTO: Os socorristas espanhóis que a acolheram na praia de Tarifa chamaram-lhe Princesa. O bebé, de 11 meses, vinha num dos muitos barcos de borracha carregados de imigrantes subsarianos que nos últimos dias arriscaram deixar Marrocos e fazer a travessia do Estreito de Gibraltar para chegarem a Espanha. A menina chegou sozinha, sem pai nem mãe, e foram os que viajaram com ela que explicaram às autoridades espanholas que ela não tinha sido abandonada. No caos da partida, os pais viram-se envolvidos num confronto com polícias marroquinos e acabaram por não conseguir entrar em nenhum dos barcos que fizeram a travessia na madrugada da passada segunda-feira. Princesa chama-se Fátima. Com a velocidade a que a história da bebé se espalhou por televisões, sites de informação, twitters e facebooks, difícil teria sido que as autoridades espanholas e os pais da menina não tivessem entrado em contacto uns com os outros. Os primeiros ficaram a saber o seu nome, os segundos recolheram todos os pormenores dos dias que estiveram separados da sua filha. O casal africano (não se sabe ao certo de que país) ficou a saber que Fátima chegou a Tarifa com febre, que foi tratada e alimentada pelos serviços da Cruz Vermelha espanhola. Que dormiu muito bem na sua primeira noite passada na Europa e que acordou já com a testa fresca. Os pais de Fátima também foram informados que a segunda noite europeia da filha foi passada em casa de uma voluntária da Cruz Vermelha. Que a menina brincou com os filhos da sua anfitriã até serem horas de ir para a cama. Que chorou (pouco) na manhã seguinte, quando foi levada pelos serviços sociais para um outro centro, antes de ser entregue a uma família de acolhimento andaluza, depois de as autoridades terem considerado que está solução seria a que mais “favorecia o seu bem-estar”. O jornal espanhol El País escreve nesta sexta-feira que as forças de segurança espanholas vão facilitar o reencontro de Fátima com os seus pais. Muito provavelmente darão autorização à mãe para fazer a travessia de Marrocos para Espanha para a ir buscar. Muito provavelmente, as duas serão repatriadas. Não é certo que haja um futuro na Europa para esta família.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Rota da Líbia é um inferno de violência para as crianças migrantes
Muitas são espancadas e violadas ao longo da viagem em busca de refúgio na Europa. Nos centros de detenção, a violência continua, alerta a UNICEF. (...)

Rota da Líbia é um inferno de violência para as crianças migrantes
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 5 Refugiados Pontuação: 11 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Muitas são espancadas e violadas ao longo da viagem em busca de refúgio na Europa. Nos centros de detenção, a violência continua, alerta a UNICEF.
TEXTO: Kamis tem nove anos. Partiu com a sua mãe da Nigéria, atravessou o deserto de carro e foi resgatada no mar quando o bote em que seguia estava à deriva antes de ser confinada a um centro de detenção na cidade líbia de Sabratha, onde não havia praticamente água. “Eles costumavam bater-nos todos os dias. Batiam nos bebés, nas crianças e nos adultos”, contou Kamis. “Aquele lugar era muito triste. Não há lá nada. ” Aza, a mãe, pagou 1400 dólares pela sua viagem e a dos filhos. Garante que desconhecia os riscos envolvidos, mas que voltar para trás não era uma opção. Enquanto esperavam no bote só pensava: "Fiz tudo isto pelos meus filhos e pelo seu futuro, não quero perdê-los. [. . . ] Se for eu, não faz mal [morrer], mas eles não. "As denúncias das organizações são uma constante e o trabalho dos técnicos e voluntários no terreno incansável, mas os resultados continuam a ser diminutos. Para os milhares de crianças que atravessam o Mediterrâneo central todos os anos – em 2016 foram 26 mil, o dobro do ano anterior e nove em cada dez sem a companhia de um adulto – a viagem do país onde nasceram em direcção à Europa está carregada de perigos. E não é só no mar. O mais recente relatório da Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, divulgado esta terça-feira, concentra-se sobretudo nas dificuldades e privações que as crianças enfrentam em terra, em particular na Líbia, menos documentadas pelas agências, jornais e televisões internacionais. “Eles costumavam bater-nos todos os dias. Batiam nos bebés, nas crianças e nos adultos. [. . . ] Aquele lugar era muito triste. Não há lá nada. ”O documento – A Deadly Journey for Children: The Central Mediterranean Migrantion Route – dá conta, por vezes em detalhes perturbadores, de histórias de violência, escravatura e abusos sexuais de que são alvo estas crianças extremamente vulneráveis que procuram chegar a Itália. Histórias que, na maioria das vezes, não denunciam por medo serem presas ou deportadas. Por trás deste receio está também o facto de muitos dos agressores usarem uniforme. A avaliar pelos testemunhos das 122 mulheres e crianças ouvidas (82 mulheres e 40 menores), as fronteiras são particularmente perigosas. “A violência sexual está espalhada e é sistemática em zonas de cruzamento e em checkpoints”, garante o relatório. Pela sua posição geográfica – tem uma ampla costa mediterrânica e faz fronteira com a Tunísia, a Argélia, o Níger, o Chade, o Sudão e o Egipto – a Líbia tem servido de destino a muitos dos que procuram desesperadamente chegar à Europa e, por isso, tem vindo a transformar-se no epicentro desta violência extrema. “Quase metade das mulheres e crianças entrevistadas [ao longo da preparação do relatório] foi vítima de abuso sexual durante a migração”, lê-se no documento. “E com frequência mais do que uma vez em mais do que um local. ” Aproximadamente um terço admitiu ter sido alvo de algum tipo de violência na Líbia. “Muitas destas crianças foram brutalizadas, violadas e mortas nesta rota”, disse à televisão pública britânica Justin Forsyth, vice-director executivo da Unicef, que neste novo relatório mapeia 34 centros de detenção na Líbia, três deles no interior do país, em zonas de deserto, a maioria geridos pelas entidades governamentais encarregues do combate às migrações ilegais. Nestes locais que podem chegar a ter sete mil pessoas a falta de água, de comida e de cuidados médicos é permanente, embora a situação seja ainda mais grave nos centros entregues a grupos armados e cujo número se desconhece. Nestes centros entregues às milícias, os abusos são ainda mais recorrentes e o acesso que a eles têm a Unicef e outras organizações de auxílio aos migrantes e refugiados é muitíssimo mais diminuto. Em 2016, mais de 180 mil pessoas passaram da Líbia para Itália, entre elas quase 26 mil crianças, a maioria a viajar sozinha. E a tendência é para que este número cresça, explica o vice-director executivo à BBC, porque a situação em países como a Eritreia, a Nigéria e a Gâmbia está a piorar. Issaa, 14 anos, é dos que tentaram a sua sorte sem que um adulto o acompanhasse. “O meu pai juntou dinheiro para a minha viagem, desejou-me boa sorte e depois deixou-me ir”, disse aos técnicos encarregues do inquérito da Unicef. Isto aconteceu há dois anos e meio e este rapaz do Níger está hoje num centro líbio. Tudo o que Issaa quer é “atravessar o mar” e procurar trabalho para poder ajudar os cinco irmãos que ficaram em casa. Grande parte desta violência começa nos traficantes a quem os migrantes pagam para poder atravessar o deserto ou cruzar o Mediterrâneo. O negócio está entregue a criminosos que muitas vezes obrigam mulheres e crianças a prostituírem-se para pagarem as suas dívidas. Muitas das mulheres que chegam à Europa para entrar em redes de exploração sexual passam pela Líbia, diz o relatório. A situação instável em que o país vive torna muito difícil controlar este sistema que perpetua vários tipos de abuso e que parece estar completamente fora de controlo. A Unicef está agora a pressionar todos os países, sobretudo a Líbia e os vizinhos, para que criem corredores de segurança para estas crianças em marcha, para que combatam o tráfico de seres humanos e para que promovam o registo de nascimentos nos seus países e a reunificação das famílias de migrantes e refugiados. Na agenda para a acção deste fundo das Nações Unidas está ainda a garantia de condições de acesso à educação e à saúde, o combate à xenofobia e à descriminação em países de trânsito ou de destino e, objectivo maior, a adopção de medidas capazes de minimizar as causas subjacentes aos movimentos de pessoas em larga escala. “Quer sejam migrantes ou refugiados, vamos tratá-los como crianças”, pediu Forsyth em declarações à BBC. Os números causam impacto. Em 2016, pelo menos 4579 pessoas perderam a vida entre a Líbia e Itália, na mais mortífera das rotas marítimas que ligam África à Europa. Mais de 700 eram crianças, lê-se no comunicado que a organização das Nações Unidas fez chegar às redacções. "O percurso do Norte de África para a Europa através do Mediterrâneo central é uma das mais perigosas rotas migratórias para as crianças e as mulheres", diz Afshan Khan, directora regional da Unicef e coordenadora especial para os refugiados e para a resposta à crise na Europa. "A rota é maioritariamente controlada por contrabandistas, traficantes e outros indivíduos que procuram aproveitar-se das crianças e mulheres desesperadas que apenas buscam refúgio ou uma vida melhor. "Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. De acordo com este que é o mais recente relatório da Unicef, três quartos dos entrevistados com menos de 18 anos (o que inclui até crianças com cinco anos, como Victor, que acabou por reencontrar a mãe que já julgava perdida) admitiram ter sido alvo de algum tipo de violência, assédio ou agressão por parte de adultos. O documento mostra ainda que os migrantes da África subsariana têm tendência a ser mais mal tratados do que aqueles que são do Egipto ou do Médio Oriente. Will é um desses migrantes. Depois de perder os pais num naufrágio, o rapaz de oito anos nascido no Níger está hoje detido na Líbia: "Nós queríamos ir para Itália. Estávamos num barco. Passado um bocado o barco começou a meter água e pouco depois afundou”, recorda. “Houve um rapaz que sobreviveu e eu agarrei-me a ele durante horas. Ele salvou-me. Mas o meu pai e a minha mãe morreram. Nunca mais os vi. ”O que acontecerá a Will, Victor e Issaa? O que acontecerá às suas famílias? Kamis, a menina de nove anos com que começa este artigo, quer ser médica. Antes de saírem de casa a mãe disse-lhe: "Não te preocupes, quando chegarmos a Itália serás médica. " Aza ainda não pôde cumprir a promessa de Europa que fez à filha. Estão as duas num centro de detenção na Líbia.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha humanos violência educação medo sexual mulheres abuso assédio escravatura xenofobia
Cem pessoas podem ter morrido em barco vindo da Líbia
Uma centena de emigrantes que viajavam numa embarcação vinda da Líbia e resgatada perto da ilha italiana de Lampedusa terá morrido de fome e asfixia durante a viagem, relata uma sobrevivente. (...)

Cem pessoas podem ter morrido em barco vindo da Líbia
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 3 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-08-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma centena de emigrantes que viajavam numa embarcação vinda da Líbia e resgatada perto da ilha italiana de Lampedusa terá morrido de fome e asfixia durante a viagem, relata uma sobrevivente.
TEXTO: “Nós éramos 300, mas uma centena, sobretudo mulheres, não sobreviveu, e os homens foram obrigados a deitar os seus corpos ao mar durante a travessia”, contou uma sobrevivente resgatada pela guarda civil italiana. O testemunho contradiz as informações oficiais das autoridades, que afirmam ter encontrado 300 pessoas vivas a bordo do barco de 20 metros de comprimento. Mas segundo o comandante da capitania de Lampedusa, Antonio Morana, “as lanchas de socorro viram roupas a flutuar na zona de operações, talvez de cadáveres”, mas deram prioridade a transportar o mais depressa possível os sobreviventes, que estavam “em condições de saúde precárias”. Cinco pessoas, incluindo uma mulher grávida, foram hospitalizadas com desidratação extrema. A sobrevivente que fez o relato faz parte deste grupo que foi transportado de helicóptero para ser hospitalizado de urgência. Milhares de pessoas têm fugido da guerra da Líbia desde Fevereiro, a maioria naturais de países africanos. Centenas afogaram-se antes de chegar a Lampedusa, a ilha italiana mais próxima da costa africana.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra mulher mulheres
Angola: Governo português quer investir no potencial de lobby político dos emigrantes
As políticas para emigração não são novas, mas o protocolo com Angola que agiliza a emissão de vistos e que foi assinado na quinta-feira pelo Governo fará parte de uma estratégia diferente para se aproximar de uma comunidade que enviou 2,4 mil milhões de euros em remessas no ano passado? Fará sentido existir uma política de emigração? (...)

Angola: Governo português quer investir no potencial de lobby político dos emigrantes
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 16 | Sentimento 0.066
DATA: 2011-09-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: As políticas para emigração não são novas, mas o protocolo com Angola que agiliza a emissão de vistos e que foi assinado na quinta-feira pelo Governo fará parte de uma estratégia diferente para se aproximar de uma comunidade que enviou 2,4 mil milhões de euros em remessas no ano passado? Fará sentido existir uma política de emigração?
TEXTO: Que a questão económica é determinante no discurso do Governo, não há dúvida. Aproveitar o potencial económico dos portugueses que vivem no estrangeiro é um dos objectivos, diz o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário. Querem passar a mensagem, que não é nova, de que "não somos apenas 10 milhões de portugueses, mas 15 milhões", diz. Querem também criar "uma rede de políticos no estrangeiro", lê-se no programa do Governo. Mas para aquilo que alguns vêem como um problema, a fuga de cérebros em Portugal, não há estratégia específica - em 2006, um relatório do Banco Mundial mostrava que 13% dos licenciados estavam a emigrar. Para Angola ou Venezuela, dois países com regimes autoritários, não estão pensadas medidas específicas, segundo Cesário. Dados do Observatório da Emigração referem que os emigrantes serão 2, 3 milhões, mas o secretário de Estado diz que as comunidades portuguesas no mundo terão entre 4 a 5 milhões - é, de resto, o número referido habitualmente sobre a chamada diáspora portuguesa. A "valorização das comunidades portuguesas" aparece no programa do Governo como um "valor estratégico". A ideia é apostar na desburocratização e maior eficácia dos serviços que apoiam os emigrantes, em Portugal e no estrangeiro, e desenhar estratégias de aproximação aos "luso-eleitos [políticos de ascendência portuguesa], particularmente os mais jovens, e às mulheres, sector menos activo na vida pública". "Estamos mais fortes no mundo se estivermos mais próximos dos que estão lá fora. Se tiver relações com um congressista americano de origem portuguesa, faço lobby. Há entre 2500 a 3000 autarcas de origem portuguesa em França. Isto tem um potencial enorme de influência política. "Mas a política de emigração é antiga e a aposta no seu potencial económico também. Desde 1974 que chamamos o Dia de Portugal ao Dia das Comunidades, lembra o especialista em migrações da Universidade Técnica de Lisboa João Peixoto. "Aliás, só o facto de votarem significa que têm uma voz. "A aposta na diáspora portuguesa, que tem um "sentimento altruísta" com Portugal faz, portanto, "todo o sentido", até porque os portugueses no estrangeiro são potenciais investidores que, por razões emocionais, mais facilmente "emprestam dinheiro". "Se pedirmos a um finlandês que nos empreste dinheiro, ele estabelece taxas de juro em termos de mercado. Se for um português, poderá ser mais generoso e correr mais riscos. "Por isso, esta ideia de que Portugal não acaba nas fronteiras territoriais é relevante, considera. "Não temos muito capital financeiro, mas temos muito capital social e cultural. Temos outro tipo de recursos e temos de aproveitá-los", contextualiza em relação às recentes vagas de emigração para países de língua portuguesa como Angola - estima-se que haja cerca de 100 mil portugueses neste país. Questionar "ideias dominantes" como a integração é o que quem desenha políticas sobre migrações deveria fazer, sugere Elsa Lechner, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. É preciso problematizar as formas de falar sobre migrações, não esquecendo os contextos históricos em que aparecem e os "preconceitos e discriminações que passam despercebidos apesar das boas intenções, como racismo velado, intolerância religiosa, preconceitos culturais, linguísticos ou de género". Mobilidade vs. emigraçãoApesar do aumento do fluxo para países como Angola, há quem sublinhe que a maior parte da emigração continua a circular na Europa. O que levanta a questão: será que numa Europa sem fronteiras em que somos cidadãos europeus se pode, de facto, falar de emigração?Do ponto de vista formal, não pode, diz Maria Margarida Marques, investigadora de migrações na Universidade Nova de Lisboa. Pode é falar-se de mobilidade, diz.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave racismo social género mulheres
Para que as mortes de Lampedusa mudem alguma coisa
Carta de Lampedusa, assinada na ilha italiana após um debate entre activistas, emigrantes e cidadãos, é discutida esta sexta-feira em Lisboa. (...)

Para que as mortes de Lampedusa mudem alguma coisa
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Carta de Lampedusa, assinada na ilha italiana após um debate entre activistas, emigrantes e cidadãos, é discutida esta sexta-feira em Lisboa.
TEXTO: O debate partiu de uma tragédia, como tantas vezes acontece. Em Outubro do ano passado, dois naufrágios provocaram a morte de mais de 600 homens, mulheres e crianças que tentavam chegar à Europa. “Estamos a ver mortes como numa guerra nas fronteiras da Europa”, disse, então, em lágrimas, a presidente da câmara de Lampedusa, Giusi Nicolini. Lampedusa não escolheu tornar-se no símbolo do cemitério em que o Mediterrâneo se transformou. Calhou-lhe em sorte e geografia este papel ingrato de fronteira. Depois de Outubro, muitos se perguntaram se tudo ficaria na mesma, o que faria a partir daqui a União Europeia. Activistas anti-racismo e dos direitos dos emigrantes de vários países, habitantes da ilha italiana e emigrantes, mais de 400 pessoas, decidiram fazer alguma coisa. Reuniram-se na ilha no fim de Janeiro, passaram três dias a debater e no final escreveram e assinaram um documento chamado Carta de Lampedusa, que esta tarde é apresentado e discutido na Casa da Achada, na Mouraria, em Lisboa. “Conseguimos construir um espaço público em que cada um pode sentir-se em casa. Neste espaço, em conjunto, elaborámos um pacto, e este é o valor da Carta”, explicou depois do encontro Nicola Grigion, membro do Progetto Meltingpot. “Não queremos construir a enésima rede mas contribuir para o alargamento de um movimento euro-mediterrânico propondo a todos os que se reconhecem neste texto que trabalhem para que estes princípios se alarguem, se difundam e encontrem um modo de realizar-se. ”A Carta é um documento extenso, mas com palavras que se repetem. “Liberdade” antes de todas: liberdade de movimento, liberdade de escolher partir, liberdade de ficar, liberdade de “resistir às políticas que querem dividir, discriminar, explorar e criar precariedade dos seres humanos e gerar desigualdades e disparidades”. Isto porque, escreve-se, “as actuais políticas de governo e de controlo das migrações são um dos principais instrumentos para criar tais condições”. O debate que começa às 17h30 em Lisboa vai contar com a presença do constitucionalista Pedro Bacelar de Vasconcelos, Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, e vários académicos, mas para os signatários da Carta de Lampedusa a conversa só faz sentido se for alargada a todos os que partilham as preocupações de quem a produziu. No mesmo local, a partir das 21h, será exibido Va’ Pensiero. Itinerant stories, um filme de Dagmawi Yimer, que parte de série de ataques racistas recentes em Itália.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte homens guerra humanos racismo mulheres
E-mail xenófobo ataca emigrantes no Luxemburgo
A comunidade portuguesa residente no Luxemburgo foi ontem confrontada com a divulgação de um email de teor xenófobo, que terá, alegadamente, origem na polícia luxemburguesa. O Governo luxemburguês já instaurou um inquérito. (...)

E-mail xenófobo ataca emigrantes no Luxemburgo
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: A comunidade portuguesa residente no Luxemburgo foi ontem confrontada com a divulgação de um email de teor xenófobo, que terá, alegadamente, origem na polícia luxemburguesa. O Governo luxemburguês já instaurou um inquérito.
TEXTO: No email, os autores desafiam os luxemburgueses a partir “ilegalmente para o Paquistão, Afeganistão, Iraque, Nigéria, Turquia ou Portugal”. “Quando entrarem no país exija às autoridades locais assistência médica gratuita para si e para toda a sua família”, “Insista para que todos os funcionários da Caixa de Saúde falem luxemburguês”, “Pendure uma bandeira do seu país ocidental na janela” e “Conduza sem carta de condução” são outros dos desafios propostos no e-mail. No texto, os portugueses são, entre outras coisas, acusados de terem múltiplas mulheres, de guiarem sem seguro e de abusarem da "hospitalidade" luxemburguesa. Para terminar, os autores do texto afirmam que “no Luxemburgo tudo isto é possível porque somos governados por idiotas politicamente correctos”. Segundo o jornal "i", a mensagem original terá partido da Alemanha e pode ter ligações a um grupo neonazi. Depois, terá chegado ao Luxemburgo e a elementos da Direcção-Geral da Polícia do Grão-Ducado. O documento mereceu já algumas declarações. Na quarta-feira, o deputado de Os Verdes luxemburgueses, Camille Gira, interpelou o Governo sobre este texto, que terá tido origem e sido distribuído por elementos da polícia luxemburguesa de trânsito Grand-Ducale, tendo o Executivo do Luxemburgo decidido abrir um inquérito. O eurodeputado do PS, Paulo Pisco, transmitiu a sua "indignação e repúdio pelas palavras ofensivas" e escreveu uma carta ao embaixador do Luxemburgo em Lisboa, a quem pede para “transmitir ao Governo do Grão-Ducado” a sua “indignação e repúdio pelas palavras ofensivas” do email. “Os portugueses no Luxemburgo são um elemento essencial da sociedade luxemburguesa. Estão bem integrados e são um contributo decisivo para a criação de riqueza” no país, disse à Lusa. Também o dirigente associativo no Luxemburgo Coimbra de Matos classificou a mensagem como uma "brincadeira de mau gosto". "Uma situação grave que não deveria acontecer num país de direito", frisou. Andrée Colas, conselheira do ministro do Interior luxemburguês, desvalorizou a situação, referindo que o e-mail "não era propriamente um texto xenófobo ou racista". Apesar disso, o ministro "já falou com o director da polícia luxemburguesa", pedindo uma "investigação interna do caso". “O texto desafia os luxemburgueses a irem viver em outros países [entre os quais Portugal] para perceber se também seriam tão bem tratados e acolhidos como o são as comunidades imigrantes no Luxemburgo nesta condições”, explicou a responsável. Andrée Colas adiantou que o ministro do Interior do Luxemburgo, Jean-Marie Halsdorf, “reagiu de imediato à interpelação e já falou com o director da polícia luxemburguesa”, tendo-lhe pedido uma “investigação interna do caso”, uma vez que há suspeitas de que o email poderá ter tido origem na própria polícia do Luxemburgo. O Ministério Público do Luxemburgo também já foi contactado e está a desenvolver as diligências necessárias, acrescentou a mesma fonte. Citado pelo jornal "i", o embaixador português, Manuel Pessanha Viegas, garantiu que na próxima semana vai enviar uma nota às autoridades oficiais do Ministério dos Negócios Estrangeiros luxemburgueses, para chamar a atenção para os "termos completamente inaceitáveis do email".
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Algum dinheiro, mas poucas soluções para uma crise de refugiados sem fim à vista
Mais de meio milhão de pessoas cruzaram o Mediterrâneo desde Janeiro. Na ONU discute-se "abordagem global" aos êxodos mas a Europa continua divida na resposta (...)

Algum dinheiro, mas poucas soluções para uma crise de refugiados sem fim à vista
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 11 Refugiados Pontuação: 18 | Sentimento -0.2
DATA: 2015-10-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20151001171629/http://www.publico.pt/1709639
SUMÁRIO: Mais de meio milhão de pessoas cruzaram o Mediterrâneo desde Janeiro. Na ONU discute-se "abordagem global" aos êxodos mas a Europa continua divida na resposta
TEXTO: O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, convocou a reunião na esperança de que nela fosse definida uma “abordagem global” aos êxodos sem precedentes a que o mundo assiste, até agora sem respostas. A situação dos refugiados sírios – os milhões que sobrevivem nos países vizinhos e os milhares que tentam a sua sorte na Europa – sobrepõe-se na agenda, mas a Nova Iorque chegaram sobretudo ecos da divisão europeia e promessas de acção que vão pouco além do envio de dinheiro. A reunião, realizada no vórtice diplomático da Assembleia-Geral, acontece logo depois de a Rússia ter desencadeado os primeiros ataques aéreos na Síria, uma operação que dificulta um entendimento internacional para pôr fim ao conflito e pode desencadear novas vagas de refugiados. A iniciativa de Ban Ki-moon surge também depois de, na terça-feira, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) ter revelado novos números sobre a situação no Mediterrâneo: desde Janeiro, mais de meio milhão de pessoas arriscaram a vida no mar para chegar à Europa e perto de três mil morreram durante a travessia. As últimas vítimas foram uma mulher e uma criança, de que não se sabe ainda o nome ou a idade, que viajavam num barco insuflável que naufragou junto à ilha grega de Lesbos. E o ritmo não abranda. Só na terça-feira, chegaram mais seis mil pessoas às costas da Grécia e Itália, o que eleva para 520. 957 os refugiados que entraram na Europa por mar, adianta o ACNUR. Antecipando-se aos planos da União Europeia – que pretende que todos os refugiados sejam registados à chegada – milhares continuam a fazer-se à estrada, seguindo para norte através dos Balcãs. Terça-feira 6600 pessoas entraram na Hungria vindas da Croácia e na manhã desta quarta-feira mais uma dezena de autocarros chegou à fronteira. O corrupio que pode estancar em breve se a Hungria fechar aquela passagem, à semelhança do que fez a 15 de Setembro com a fronteira sérvia. Restará aos refugiados a passagem para a Eslovénia e Ljubljana já avisou que está apenas preparada para deixar passar alguns milhares em direcção à Áustria e à Alemanha. Pressionados pelos milhares que continuam a chegar e desiludidos com a falta de uma acção europeia concertada, estes dois países dão sinais de que estão a chegar ao limite: o Governo alemão reduziu o montante da ajuda financeira atribuída aos refugiados, ao mesmo tempo que duplicou as verbas atribuídas aos estados para acolherem os recém-chegados; a ministra do Interior austríaca, Johanna Milk-Leitner, avisou que se não houver um acordo internacional o país “poderá adoptar uma atitude mais estrita nas fronteiras, incluindo o uso da força”. Mais a norte, a Finlândia suspendeu a concessão de asilo a refugiados do Iraque e da Somália até concluir “uma avaliação sobre a segurança” nos dois países. Ban Ki-moon, que não calou a indignação ao ver a polícia húngara carregar contra os refugiados que tentavam entrar no país, insiste que os países europeus “devem fazer mais” para ajudar quem foge da guerra. Um apelo a que o primeiro-ministro húngaro, o nacionalista Viktor Orban, respondeu indo a Nova Iorque pedir “quotas mundiais” para a distribuição dos refugiados. “O estado da nossa União Europeia não é bom, as fissuras na solidariedade multiplicam-se”, lamentou o presidente da Comissão, Jean Claude Juncker. Divisões que o director-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), William Lacy Swing, vê como uma prova do “longo caminho que há a percorrer” até que seja possível “definir uma política global de longo prazo” para responder aos êxodos em curso no Médio Oriente e em África. Algo se mexe, porém. Na véspera do encontro sobre refugiados, o G7 (grupo de nações mais industrializados) e os países do Golfo prometeram um total de 1800 milhões de dólares para o ACNUR e o Programa Alimentar Mundial. O Japão anunciou, em separado, mais 1600 milhões, metade dos quais canalizados para a ajuda aos refugiados sírios e iraquianos. Uma ajuda que o alto comissário António Guterres agradeceu, lembrando que a ONU não está a conseguir assegurar o “mínimo vital” às pessoas ao seu cuidado. “Essa é uma das razões por que vemos cada vez mais refugiados partir para longe, porque se tornou impossível subsistir nos primeiros países de acolhimento”. Mas poucos parecem disponíveis para levar mais longe a solidariedade. Ao mesmo tempo que prometeu mais dinheiro, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, recusou a possibilidade de o Japão, um dos países mais envelhecidos do mundo, aceitar refugiados sírios. “Antes de aceitarmos imigrantes ou refugiados temos de conseguir ter mais mulheres e pessoas de idade a trabalhar e de aumentar a taxa de natalidade”. E numa entrevista à Reuters, o chefe da diplomacia do Qatar rejeitou as acusações de falta de solidariedade dos países do Golfo, afirmando que a população síria no país passou de 20 para 54 mil desde o início da guerra. Uma “hipocrisia” que o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, denunciou na ONU. Muitos países aqui representados lidam com o problema de uma forma muito mais simples, não permitindo que migrantes e refugiados entrem de todo no seu território”
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU