Bruno Mars trouxe fogo-de-artifício. E o artifício pegou fogo no Rock in Rio
Bruno Mars encantou, Anitta provocou e Demi Lovato decepcionou, numa enchente de domingo no Rock in Rio com demasiadas filas para os 85 mil espectadores presentes. (...)

Bruno Mars trouxe fogo-de-artifício. E o artifício pegou fogo no Rock in Rio
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Bruno Mars encantou, Anitta provocou e Demi Lovato decepcionou, numa enchente de domingo no Rock in Rio com demasiadas filas para os 85 mil espectadores presentes.
TEXTO: A questão não é entre o fogo-de-artifício e a autenticidade, seja lá o que isso for para cada um de nós. É se o fogo-de-artifício corresponde a uma encenação (algo que todos os artistas praticam, nem que seja para representar autenticidade) que é capaz de transmitir qualquer coisa de estimulante. No caso de Bruno Mars, este domingo no Rock in Rio, houve mesmo fogo-de-artifício. Daquele que sobe aos céus. E também simbólico, para voltar à frase que ficou famosa o ano passado dita por Salvador Sobral. A questão é que mesmo entre quem projecta fogo-de-artifício há gradações. Da nulidade à demonstração de capacidade, há de tudo. No caso de Bruno Mars, o homem sabe de fogo-de-artifício. O artifício pega fogo. Não nos eleva aos céus, mas é suficientemente eficaz, com 85 mil espectadores, segundo a organização, a fazerem a festa com ele e o seu colectivo de músicos e performers. É isso. Peter Hernandez, ou seja, Bruno Mars, de 32 anos de idade, invariavelmente envergando roupa desportiva, não é banha-da-cobra. Corresponde a um modelo de celebridade bem definido: alguém com talento, que se esforça por tirar partido dele e é capaz de reproduzir modelos já ensaiados por muitos outros (de James Brown a Michael Jackson), resultando daí uma espécie de celebração à volta do funk, R&B e soul, sem nenhum rasgo criativo marciano, é verdade, mas com os pés bem assentes na terra. Há uma noção de espectáculo bem desenvolvido, na forma como canta e dança, e interage com os seus exímios músicos, e também na maneira como todo o desenho de palco – com destaque para extravagante jogo de luzes – acaba por criar o envolvimento possível junto de uma multidão a perder de vista. O resto é com as canções que toda a gente conhece, mistura de temas de balanço físico (de Locked out of heaven a Finesse, passando por That’s what I like a Marry me) e momentos de sentimentalismo oferecidos por baladas interpretadas com comoção, como em Versace on the floor ou em When I was your man, só voz, piano e alvoroço emocional à solta, com imensos telemóveis no ar. Em palco, há espaço para os músicos mostrarem virtuosismo, com solos de bateria, de guitarra ou em duelos de metais bem elaborados, e claro para a estrela do concerto brilhar. Seja para mostrar os dotes vocais. Os passos de dança inspirados em James Brown. Ou a forma como também é capaz de tocar piano ou guitarra. Por vezes é tudo muito demonstrativo. Falta algum rasgo. Mas é pragmático, rigoroso e eficiente. As formas soul-funk são aligeiradas. Não há desafio. Mas criam-se zonas de conforto. E o público agradece. Aliás, parte do espectáculo resulta dessa interacção que se estabelece com ele. Os gritos entusiastas à beira da veneração. As vozes entoadas que se reúnem à volta de todas as canções. Os telemóveis no ar. As trocas de devoção mútuas. Procura-se a festa e ela acontece. Por vezes, lembrámo-nos de um outro concerto naquele mesmo local em 2014, o de Justin Timberlake. Tal como naquele caso, assistiu-se a hora e meia de espectáculo que não tem mundos novos para dar ao mundo, mas nitidamente o havaiano é alguém que interage com os valores clássicos do entretenimento, fazendo-o com presteza, o que não é pouco. Não é o novo Michael Jackson, e muito menos um Prince actualizado, mas é alguém que pega nesse legado de forma lúdica, transmitindo-o com desenvoltura a uma multidão que, na sua esmagadora maioria, não teve oportunidade de interagir com os arquétipos que inspiraram o ídolo. Já depois de ter saído de cena e regressado perante a gritaria generalizada, apresentou Uptown funk, uma espécie de enciclopédia do que se tinha ouvido antes, com o baixo pulsante, os sopros aos saltos, as palmas a compasso, os confetti e os foguetes no ar, a mostrarem que, de vez em quando, muito de vez em quando, o fogo-de-artifício faz sentido. Antes, no palco principal, duas estreias em solo português, com a americana Demi Lovato e a brasileira Anitta. Como muitas outras cantoras americanas das últimas décadas (de Britney Spears a Miley Cyrus), a primeira foi revelada pelo universo Disney, antes de se tornar numa cantora pop de massas. E para já não existe nada nela que a identifique. É tudo demasiado genérico. A questão não é se sabe cantar, segundo as regras referenciais. Mas sim a forma indistinta como tudo é apresentado e a música é domesticada, incapaz de transmitir uma aragem de liberdade. Mas verdade seja dita, ninguém se queixou, vitoriando a cantora e cantando com ela temas como Daddy issues, Stone cold ou Concentrate, que apostam invariavelmente em lugares-comuns da pop mais indistinta, com maneirismos vocais que se podem por vezes confundir com intensidade emocional ou solos de guitarras esvaziados de conteúdo. Em Échame la culpa são os ritmos latinos, na ordem do dia, que entram em acção, enquanto em Neon lights é a electrónica de dança mais vulgarizada que é abordada, para tudo terminar com ela ao piano, comovida, a interpretar a autobiográfica canção Sober, numa prestação generosa, mas a que falta personalidade. Já a brasileira, fenómeno de popularidade naquele país, percebe-se que tenta agora apostar numa carreira noutros mercados. O que gera uma dupla sensação. A primeira metade do espectáculo é mais domada, com passagens pelos sons do reggaeton ou do dancehall, ou por piscadelas de olho a outras figuras (da americana Mariah Carey à portuguesa Blaya, passando por Tom Jobim), com a aura de transgressora a ficar-se por uma trupe de bailarinos onde tanto há figuras esbeltas como outras menos conformes aos padrões normalizadores. Ainda assim, o lado sexual de algumas canções resulta apenas em sensualidade padronizada. A segunda metade acaba por ser mais estimulante, com ela a dizer “que é um dia histórico”, porque está ali a representar “os funkeiros do Brasil”. A banda é substituída por um virtuoso DJ, um mural artístico é desenhado em tempo real, no palco dança-se e por momentos os bailes funk do Rio de Janeiro parecem aportar ao espaço. Mas, ainda assim, na sua versão amansada. Os ritmos gordurosos e digitalizados estão lá, existe um aroma de libertinagem no ar, mas é pouco crível que os mais desafiantes criadores de baile funk se sintam representados por Annita. Quando muito, ela mostra uma versão consensual do género, com alguns momentos de picante, a um público que não tem sido submetido a esses géneros na última década, parecendo mais interessada, nesta fase, em transformar canções de sexo em histórias de amor, forma de conquistar um público mais transversal. A transgressão não é, aliás, uma das senhas do Rock in Rio, que se assume como festival familiar. Ainda assim, à hora de jantar, havia rap com Mike Lyte, que cantava Cocó é tabu, com a imagem do dito nos ecrãs, enquanto, ao lado, uma fila de pessoas esperava por comida, naquele que deve ter sido um dos momentos de, digamos assim, maior rebeldia, proporcionado pela cultura da Internet que se celebrou no digital stage. Por falar em filas, houve-as para todas as funções: alimentação, diversão e necessidades fisiológicas. Nitidamente, 85 mil espectadores é um número complicado de gerir, tendo em atenção a oferta do lugar, e também as condições de visibilidade do palco principal, com muita gente a queixar-se aquando da enchente para ver Bruno Mars. De resto, o festival continua igual a outros anos, mistura de parque de diversões e centro comercial ao ar livre, com a música a figurar como chamariz. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No domingo, dançou-se em todos os palcos. Por exemplo, com o dancehall dos portugueses Supa Squad, no palco situado no vale, ou com o funaná e batuque dos cabo-verdianos Ferro Gaita, no cenário dedicado às sonoridades africanizadas. Os últimos nunca falham. Sete músicos em ebulição constante à volta de vozes e ritmos esfuziantes e serpenteantes. Andam por aí há muitos anos a pegar fogo a qualquer plateia que lhes aparece à frente. Também se encenam. Mas sem fogo-de-artifício. O Rock in Rio regressará no próximo fim-de-semana com Kate Perry, Jessie J, The Killers, Chemical Brothers ou Xutos & Pontapés. Nota de edição: As fotografias que chegaram a acompanhar este texto foram entretanto retiradas devido a imposição da organização quanto ao seu uso editorial.
REFERÊNCIAS:
Moradores do Bairro 6 de Maio na Amadora temem despejos
Câmara diz que apenas vai demolir casas devolutas. Colectivo Habita já apelou ao Provedor de Justiça. (...)

Moradores do Bairro 6 de Maio na Amadora temem despejos
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-07 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170507024554/https://www.publico.pt/n1685811
SUMÁRIO: Câmara diz que apenas vai demolir casas devolutas. Colectivo Habita já apelou ao Provedor de Justiça.
TEXTO: Cinco famílias que moram nos bairros 6 de Maio e Estrela de África, no concelho da Amadora, na zona das Portas de Benfica, temem ser obrigadas a abandonar as casas, cuja demolição pela câmara dizem estar iminente. A denúncia partiu de vários de movimentos cívicos que acusam a autarquia de “má-fé”. Esta garante que está a demolir apenas casas devolutas. Segundo Rita Silva, do colectivo Habita – Associação pelo Direito à Habitação e à Cidade, cinco famílias foram avisadas, “nas últimas duas semanas”, através de editais camarários colados na porta das respectivas casas ou verbalmente, de que teriam de sair. “Há pessoas que estão lá há 14 anos, com crianças, e que não têm para onde ir”, conta a activista, acrescentando que não lhes foi comunicada a data da demolição. Gonçalo Romeiro, do colectivo Socialismo Revolucionário, que também está a seguir este caso, afirma que os técnicos da Câmara da Amadora foram ao bairro nesta quarta-feira de manhã e que uma casa devoluta foi demolida. “Mas na casa ao lado moram cinco pessoas e foi-lhes dito que iriam demolir também aquela durante a tarde”, declara, sublinhando que esta família não tem para onde ir. Os bairros 6 de Maio e o vizinho Estrela de África, na freguesia da Venda Nova, são de génese ilegal e começaram a ser construídos na década de 1970, sobretudo pela comunidade cabo-verdiana que se ia instalando na zona de Lisboa – à semelhança do Bairro de Santa Filomena, entre outros. Em 1993, o Programa Especial de Realojamento (PER), cujo objectivo era erradicar as barracas existentes nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, levou ao recenseamento dos agregados que ali residiam, prevendo apoios financeiros para o seu realojamento. No entanto, muitos milhares de pessoas foram chegando depois desse recenseamento e não estão agora abrangidos por aqueles apoios. “A própria Câmara da Amadora assume que 35% das famílias que residem nestes bairros auto-construídos não estão incluídas no PER, o que corresponde a mais de 3000 famílias, que estão a ser expulsas”, afirma Rita Silva. A câmara liderada pela socialista Carla Tavares tem em curso desde 2012 um processo de desmantelamento do Bairro de Santa Filomena, na fronteira com Queluz. Desde então, multiplicam-se as notícias de demolições forçadas e de famílias que são obrigadas a sair. Em Maio do ano passado, a autarquia dizia que tentou ajudar os moradores excluídos do PER a arranjar casa fora do bairro, mas que este apoio foi recusado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "Não estão a ser dadas verdadeiras soluções às pessoas, estão a encaminhá-las para o abrigo de Xabregas, destinado aos sem-abrigo, ou a dar-lhes dois meses de renda para alugarem uma casa. Isso nao é solução", critica Rita Silva. Sobre estes casos, o Habita fez uma queixa em 2012 ao Provedor de Justiça, que ainda não se pronunciou. “Agora fizemos um novo apelo, por causa do 6 de Maio”, diz a activista, sublinhando que “o PER está obsoleto e tem que ser actualizado”. No entanto, segundo a assessora de imprensa da autarquia, "as demolições previstas ou a decorrer no Bairro 6 de Maio e no Estrela de África são de casas devolutas, fechadas, que já foram habitadas por famílias realojadas através do PER ou que encontraram alternativa habitacional”. A porta-voz do município garante que não foi afixado nas últimas semanas qualquer edital nestes locais. Rita Silva contrapõe, acusando a câmara de agir “de má-fé” e reforçando que há famílias de parcos rendimentos na iminência de ficarem sem tecto. Além dos colectivos Habita e Socialismo Revolucionário, esta situação está a ser acompanhada pelos movimentos SOS Racismo, Marcha Mundial das Mulheres e Centro Social Laranjinha.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave racismo comunidade social mulheres ilegal
O Rock in Rio começa agora, com Muse, Haim e Bonga – e sem Zé Pedro
A oitava edição do festival em Lisboa arranca este sábado. Bruno Mars, Demi Lovato, The Killers, The Chemical Brothers, Katy Perry e Jessie J também passarão pelo Parque da Belavista. (...)

O Rock in Rio começa agora, com Muse, Haim e Bonga – e sem Zé Pedro
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A oitava edição do festival em Lisboa arranca este sábado. Bruno Mars, Demi Lovato, The Killers, The Chemical Brothers, Katy Perry e Jessie J também passarão pelo Parque da Belavista.
TEXTO: O primeiro dia da oitava edição do Rock in Rio em Lisboa será, segundo o cartaz, dos Muse. Caberá aos britânicos a honra de serem os cabeças-de-cartaz deste sábado: a banda de rock épico não lança um disco desde 2015, mas é suposto editar o sucessor de Drones este ano, tendo saído um single cá para fora em Fevereiro. Mas o festival não se fica por aí, musicalmente falando. No mesmo palco principal, o Palco Mundo, há actuações dos também britânicos BΔSTILLE, que também têm disco novo para sair, das Haim, as irmãs de Los Angeles que lançaram Something to Tell You no ano passado e para quem Paul Thomas Anderson realiza telediscos e documentários, e do português Diogo Piçarra. O festival continuará no domingo e, depois, regressa na sexta e no sábado da próxima semana. Não que o Rock in Rio seja só o palco principal, claro. Há mais três palcos, mesmo que um deles não tenha assim tanta música quanto isso (e nem sequer se entrará aqui na questão de ter ou não o rock que dá o nome ao festival). No Music Valley, que funciona de tarde e tem uma piscina, o primeiro dia faz-se com os portugueses Carolina Deslandes, Moullinex, Da Chick e DJ Vibe. O EDP Rock Street, este ano dedicado às músicas africanas, tem os guineenses Kimi Djabaté e Tabanka Djaz, bem como o angolano Bonga. Por fim, o Super Bock Digital Stage contará com fenómenos não-musicais da Internet como Wuant ou Bumba na Fofinha, mas também com uma actuação do grupo de rap GROGNation. É no Pop District, uma nova zona dedicada à cultura pop que aproxima o festival de algo como a Comic Con, que se pode encontrar este último palco, cuja programação musical incluirá, ao longo do resto do festival, nomes como Átoa ou Eva RapDiva. Com especial enfoque no cinema e nos videojogos, o Pop District apresentará excertos de novos filmes e terá cosplay, dança e sósias de pessoas famosas. No domingo, a grande atracção é o enérgico Bruno Mars, que também não tem disco novo, mas está a queimar os últimos cartuchos de 24K Magic (2016), que continua a gerar singles, incluindo uma remistura de Finesse com a rapper Cardi B lançada este ano. Além do havaiano, o alinhamento do segundo dia passa também pela cantora, actriz e activista Demi Lovato, que subiu à fama nos filmes Camp Rock, do Disney Channel. Lançou um disco novo em 2017, Sorry not Sorry, mas ainda esta quinta-feira estreou uma canção, Sober, em que refere uma recaída no álcool após seis anos de abstinência. A brasileira Anitta, que há cinco anos editou Show das Poderosas e tem continuado a acumular êxitos entre a pop, o funk brasileiro, o reggaeton e o r&b desde então, completa, juntamente com o português Agir, o cartaz do Palco Mundo. Em alternativa, ainda este fim-de-semana, o Music Valley terá Língua Franca, o colectivo de rap que une a portuguesa Capicua aos brasileiros Emicida e Rael, desta feita com Sara Tavares como convidada, bem como HMB, Dillaz ou Bispo, enquanto na sexta e no sábado da próxima semana haverá Capitão Fausto, Manel Cruz, Carlão e Blaya. Quanto ao EDP Rock Street, Cabo Verde estará representado no domingo pela música do rapper português Karlon, que rima em crioulo e se vai apresentar em palco com Chullage e DJ X-Acto, e pelo funaná dos Ferro Gaita, havendo também uma actuação do ecléctico rapper congolês Baloji, que cresceu na Bélgica. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas o festival não se fica por estes dois dias. No fim-de-semana seguinte, os cabeças-de-cartaz de sexta-feira no Palco Mundo serão os norte-americanos The Killers, a banda de Brandon Flowers que lançou Wonderful Wonderful, o quinto álbum, em 2017. No mesm dia, os Xutos & Pontapés regressam pela oitava vez consecutiva ao festival; será a primeira vez sem Zé Pedro (1956-2018), ao qual prestarão homenagem, com a ajuda de Marcelo Rebelo de Sousa e de outros políticos em cima do palco. O cartaz completa-se com os britânicos The Chemical Brothers, nome maior daquilo a que nos anos 1990 se chamava big beat, com quase 30 anos de experiência e mais de 20 de êxitos reconhecíveis, e com os também britânicos James, que regressam ao nosso país pouco antes de lançarem em Agosto Living in Extraordinary Times. Já no sábado, dia 30, o último do festival, o Palco Mundo terá como maior atracção Katy Perry, a cantora pop norte-americana com ascendência açoriana, que volta a Lisboa sete anos depois de ter passado pelo Campo Pequeno, agora com Witness, de 2017, na bagagem. No encerramento, actuam também a britânica Jessie J, que lançou R. O. S. E. em Maio, a brasileira Ivete Sangalo, que, tal como os Xutos, esteve em todas as edições portuguesas do festival, e Hailee Steinfeld, nomeada para um Óscar em 2011 pelo papel em Indomável, e que tem colaborado musicalmente com nomes como Alesso, Machine Gun Kelly ou Joe Jonas. A programação africana do EDP Rock Street passa, no dia 29, pelo angolano Jack Nkanga, que agora assina como A’Mosi Just A Label, Moh! Kouyaté, e pelo angolano Nástio Mosquito com a sua DZZZ Band. A fechar o palco, no dia 30, actuam o angolano Paulo Flores, o trio Batuk, que junta os produtores sul-africanos Spoek Mathambo e Aero Manyelo à vocalista moçambicana Carla Fonseca, e Selma Uamusse, a cantora, também moçambicana, radicada em Portugal.
REFERÊNCIAS:
Issa Rae, a estrela de Insecure, e o seu eu real e ficcional
Comédia da HBO estreia segunda temporada este domingo no TVSéries, às 3h30, e depois às 22h30 de quinta-feira. Tem uma protagonista que vem do YouTube com o mesmo nome da sua personagem e um entrelaçar entre comédia e negritude. (...)

Issa Rae, a estrela de Insecure, e o seu eu real e ficcional
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.09
DATA: 2017-07-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Comédia da HBO estreia segunda temporada este domingo no TVSéries, às 3h30, e depois às 22h30 de quinta-feira. Tem uma protagonista que vem do YouTube com o mesmo nome da sua personagem e um entrelaçar entre comédia e negritude.
TEXTO: O momento parecia quase demasiado perfeito. Issa Rae, a muitíssimo talentosa estrela da sua própria série na HBO, subiu ao palco dos BET Awards sem parecer minimamente aquela “miúda negra desajeitada” que a tornou numa estrela do YouTube. Mas antes de chegar ao microfone, foi apresentada como… Yara Shahidi. A sério. Yara, claro, tem 17 anos e interpreta Zoey na série Black-ish. Rae, de 32 anos, protagoniza Insecure na HBO (em Portugal, no TVSéries), que estreia a sua segunda temporada este domingo nos EUA e em Portugal de madrugada, às 3h30, erepete na próxima quinta-feira às 22h30. "É a Issa!", gritou Yvonne Orji, a Molly de Insecure, tentando corrigir o momento a partir do seu assento no Microsoft Theatre. Rae, depois de uma pausa e de um gaguejo, lá fez um número desastrado com a anfitriã, Leslie Jones, destinado a apresentar uma actuação de SZA. Nos bastidores, antes de voltar ao seu lugar, mandou uma mensagem aos seus guionistas sobre o que aconteceu e retweetou uma análise na mouche de uma fã chamada Deon. “Não seria @IssaRae se não acontecesse alguma coisa constrangedora LOL", tweetou Deon. Deon tem razão. Rae, um dínamo criativo capaz de chamar a atenção na passadeira vermelha e na sala dos argumentistas, é alguém a quem estas coisas simplesmente acontecem, seja na vida real seja numa filmagem. E a sua capacidade de transformar tudo em comédia, seja um encontro amoroso desastroso ou um tropeço no trabalho, levou-a do estatuto de estrela do YouTube para o de uma protagonista diferente. Em Insecure interpreta Issa Dee, que mostra a sua vulnerabilidade aos espectadores sem se mostrar completamente, uma personagem tão segura quanto capaz de se odiar. É engraçada, ensandecedora, manipuladora e exigente. Para a sua legião de fãs, ela é simplesmente a Issa. O que, curiosamente, é algo que a Issa real admite que está a começar a cansá-la. À medida que Issa Rae envelhece, acha menos engraçado ser confundida com a Issa fictícia. Mas não chamou à sua personagem de Insecure Nia, nem Amani. "Nem pensei. Estava sob tanta pressão para contar uma boa história que nem pensei no facto de esta personagem, com o meu nome, ir para o ar”, disse Rae no ano passado enquanto se deslocava para os prémios BET. “E mesmo enquanto filmava, não me passou pela cabeça. Até ter ido para o ar. Esta não é, de todo, a minha vida, e é aí que a coisa se torna pantanosa porque as pessoas pressupõem que é. ”Ou, como diz a argumentista de Insecure, “as pessoas acham que conhecem a Issa de uma forma que não acontece com os protagonistas de grande parte das séries. Não acho que as pessoas abordem a Sarah Jessica Parker e digam ‘Ela é a Carrie Bradshaw. ' "Passaram mais de seis anos desde que Rae surgiu no YouTube, criadora e estrela de The Mis-Adventures of Awkward Black Girl. A série, vista por milhões de espectadores, levou a uma falsa partida (um episódio-piloto falhado para a ABC), um livro de memórias pouco polido e, finalmente, Insecure, que desenvolveu com Larry Wilmore, comediante experiente e argumentista. A primeira temporada, aclamada pela crítica, tinha muito do que alimenta as sitcoms clássicas – conflitos no trabalho, idiossincrasias dos encontros amorosos, amigos faladores e chamativos – e muita coisa que raramente se vê na TV – ou que talvez nunca se tenha visto na TV. A negritude da série é tao essencial quanto o seu sentido de comédia. E porque estão entrelaçados, Insecure consegue ter intrigas secundárias hilariantes e retorcidas, como o inesquecível caso da “r… partida” da primeira temporada, um rap bêbado que se transformou num conflito entre raparigas e depois num desastre nas redes sociais. Insecure também dá uma nova perspectiva sobre o papel da raça no local de trabalho e com uma especificidade nunca vista numa sitcom. O produtor de Insecure, Prentice Penny, descreve esta capacidade como o acto de registar “os cortes de papel do racismo”. “Em que os colegas brancos trocam emails entre si sobre se Issa conseguirá planear um dia na praia, ou o patrão a pedir a Molly para falar com o colega negro”, diz. “Coisas como estas, em que não parece tão evidente. ”A realizadora Ava DuVernay, cuja série Queen Sugar acabou de encetar a sua segunda temporada, fica feliz só por Insecure existir. Nunca achou justas as críticas à criadora de Girls, Lena Dunham, por não incluir personagens negras significativas na sua série. A forma de diversificar a cultura popular, acredita, não é tendo personagens-símbolo mas com séries como Master of None, de Aziz Ansari, ou Insecure. “Não precisamos de ser inseridos na história desta mulher se ela diz que não conheceria essa experiência e não quer forçá-la”, diz. “A série de Issa é uma resposta a tantos anos sem um Friends. Eles não tinham amigos negros. Na série Girls. Não há raparigas negras. O Sexo e a Cidade. Somos mulheres e adoramos estas histórias e tentamos inserir-nos nelas e ver-nos nelas, mas não estamos nelas. Mas agora estamos lá. E não estamos lá só como símbolos. E é muito cómica. Ela é muito cómica e tem a sua própria voz. ”Já chamaram “Liz Lemon negra” a Rae, uma referência à personagem de Tina Fey em 30 Rock. Ela adorava a série mas depende da “disposição e do contexto” o facto de aceitar ou não essa comparação. Apesar de tudo, ninguém anda por aí a chamar “o Denzel branco” a Christian Bale. No final de Junho, quando estava a terminar a segunda temporada de Insecure e se preparava para dar uma palestra durante o fim-de-semana dos prémios BET, pôs-se a pensar no seu lugar no mundo do entretenimento. Frente às câmaras, como Issa Dee, é eléctrica, dispara raps improvisados ao espelho, luta com os amigos e com as suas emoções contraditórias sobre o seu namorado de longa data, Lawrence. Na vida sem câmaras é mais discreta, menos directa e é amigável, mas sem ser tão aberta. Durante uma palestra durante esse fim-de-semana, o radialista Charlamagne Tha God pergunta-lhe sobre a sua vida amorosa em palco. Ela afasta o assunto. Mais tarde, longe do palco, perguntam-lhe sobre esse momento e se namora com alguém. Ela não quer dar mais informações. “Mesmo os meus amigos não sabem sobre a minha vida pessoal real”, diz Rae. “Estão sempre a meter-se comigo por eu ser tão sigilosa. ”Mal passou um ano desde que chegou à HBO e já é a imagem viva da estrela da web em transição, do progresso da celebridade. Está em cartazes, mas ainda vai ao supermercado. (“Miúda”, provoca-a Melina Matsoukas, uma das realizadoras de Insecure, “tens de arranjar alguém para te fazer as compras. ”) Se lhe perguntarmos sobre a fama, ela abanará a cabeça. “Acho que a fama morreu”, diz. “Tudo é um bocado temporário. Há fama temporária e eu acho que tenho fama temporária durante uma época em particular, mas acho que a era do estrelato do cinema só existe para os grupos mais velhos. Os George Clooneys e Brad Pitts e Angelina Jolies e para estrelas da música. Mas para a televisão, simplesmente não sinto o mesmo, porque é tão fugaz, e há tanta coisa a acontecer agora. ”O que não quer dizer que não perceba que a sua vida mudou. Em The Misadventures of Awkward Black Girl, o seu livro de memórias, Rae escreveu sobre a sua infância no estado de Maryland e de quão traumático foi mudar-se para a Califórnia — o ciclo preparatório foi um período infeliz —, bem como de como lutou com o peso, o divórcio dos seus pais e até a sua ascendência complicada. O pai nasceu no Senegal, a mãe na Louisiana. (O seu nome completo é Jo-Issa Rae Diop. ) Agora, admite arrepender-se de ser tão aberta em partes do livro que saiu em 2015, antes da estreia de Insecure. "Escrevi num tal vácuo que pareciam entradas de um diário, e estive muito isolada durante o processo" de escrita, diz Rae. “Parecia ‘Oh, estou a trocar histórias com amigas e nunca me ocorreu que o país vai ver e formar opiniões sobre mim’. ” Para já, Issa Rae está segura, mas diz que nunca mais vai dar o seu primeiro nome a uma personagem que interprete. Penny, produtor de Insecure, não fica surpreendido. “Na última temporada, quando a Issa Dee enganou Lawrence, as pessoas estavam mesmo a mandar-lhe tweets a perguntar como é que pudeste fazer uma coisa dessas", diz o produtor, “e ela: ‘Eu não ando a trair os meus homens. ’ É nesses momentos que ela gostaria de uma separação maior entre a personagem e o seu verdadeiro eu”. A verdadeira Issa Rae é muito leal e valoriza as suas amizades longas, seja com os seus colegas de liceu, com quem está a beber Prosecco e a dançar ao som de Aminé e de Future no seu quarto de hotel enquanto se arranja para os prémios BET, ou com os seus parceiros criativos que a ajudaram a progredir. Penny nota que quando ele e Rae estavam a procurar pessoas para trabalhar em Insecure, ela insistiu que os guionistas de Awkward Black Girl Amy Aniobi e Ben Cory Jones fossem contratados. Também nem foi preciso pensar no actor Tristen Winger, disse ela a Penny. Não interessava nada que ele nunca tivesse aparecido na televisão. Tinha dado provas em Awkward. Ficou com o papel de Yoda Bandido em Insecure sem sequer ir a uma audição. Rae veste-se à altura. Usa uma camisola que revela o decote e calções bem curtos nos BET Awards. Mas se há uma coisa que ela tem em comum com a sua personagem, diz, é uma queda para jeans e t-shirts. Também tem as suas prioridades. Não houve tempo para festas após os BET – tinha de estar pronta para ir trabalhar às 5h30 para filmar o último episódio da segunda temporada de Insecure. “Não é muito comum alguém estar tão envolvido nas engrenagens da série”, diz o guionista Ben Dougan. "Por isso é que, quando escrevemos os guiões, as cenas dela são claramente as mais bem escritas porque a série é contada na voz dela. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nos BET Awards, Rae sai de um SUV preto ao som de gritos por “Issa!”. Os fotógrafos gritam o seu nome, pedindo-lhe para se virar, para sorrir. O rapper Maxwell abraça-a e é solicitada pelas câmaras das televisões e de Snapchatters. E então é que Rae se lembra que nem tudo acontece conforme o planeado no palco. Não se queixa publicamente nem amua por causa da troca de nomes. Eventualmente a locutora, a rapper MC Lyte, corrige-se. Orji, do seu lugar, faz o seu papel e grita o nome de Rae. “Foi tão Issa”, diz mais tarde. “É tipo, ela não se vai chatear. Pausou, e depois eles corrigiram. ”Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Artistas portugueses apelam ao boicote de Portugal à Eurovisão em 2019 em Israel
"Pedimos à RTP que aja dentro da EBU-União Europeia de Radiodifusão para que o festival seja transferido para um país onde crimes de guerra – incluindo assassinatos de jornalistas – não são cometidos e, caso contrário, se retire completamente do Festival de 2019", lê-se na carta subscrita por figuras como José Mário Branco, Tiago Rodrigues, Maria do Céu Guerra e Susana Sousa Dias. (...)

Artistas portugueses apelam ao boicote de Portugal à Eurovisão em 2019 em Israel
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: "Pedimos à RTP que aja dentro da EBU-União Europeia de Radiodifusão para que o festival seja transferido para um país onde crimes de guerra – incluindo assassinatos de jornalistas – não são cometidos e, caso contrário, se retire completamente do Festival de 2019", lê-se na carta subscrita por figuras como José Mário Branco, Tiago Rodrigues, Maria do Céu Guerra e Susana Sousa Dias.
TEXTO: Vários artistas portugueses apelaram, numa carta aberta dirigida à RTP, responsável pela escolha do representante nacional no concurso, ao boicote de Portugal ao Festival Eurovisão da Canção, que em 2019 irá decorrer em Telavive, Israel. "Pedimos à RTP que aja dentro da EBU-União Europeia de Radiodifusão para que o festival seja transferido para um país onde crimes de guerra – incluindo assassinatos de jornalistas – não são cometidos e, caso contrário, se retire completamente do Festival de 2019", lê-se na carta, endereçada esta semana à RTP, responsável pela candidatura portuguesa ao concurso. A lista de signatários inclui, entre outros, a escritora Alexandra Lucas Coelho, a artista plástica Joana Villaverde, a cantora Francisca Cortesão, os actores João Grosso, Maria do Céu Guerra e Manuela de Freitas, a pintora Teresa Dias Coelho, a cineasta Susana Sousa Dias e o fotógrafo Nuno Lobito. Além deles, assinaram também a carta aberta artistas portugueses como o músico José Mário Branco e o director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, Tiago Rodrigues, que tinham já subscrito uma missiva de apoio a um apelo de organizações culturais palestinianas para o boicote ao Festival Eurovisão da Canção 2019, caso decorra em Israel, divulgada em Setembro no jornal britânico The Guardian. Na carta dirigida à RTP, os artistas portugueses, referindo que "Eurovisão não combina com Apartheid", defendem que a estação pública, ao anunciar a participação de Portugal no concurso em Israel em Maio, "confirma a sua disposição, em nome do entretenimento, de encobrir a ocupação israelita do território palestiniano e a contínua negação dos direitos humanos do povo palestiniano". Os signatários defendem que "Israel declarou-se efectivamente um Estado de apartheid ao adoptar este ano a 'Lei do Estado-Nação Judeu'". "Aos seus cidadãos palestinianos é agora negada constitucionalmente a igualdade de direitos. Este apartheid determina até mesmo que secções da população sob o controle de Israel poderão participar na Eurovisão. Ao ser anfitrião da Eurovisão 2019, Israel branqueia este apartheid e utiliza a Eurovisão de forma desavergonhada como parte da sua estratégia oficial Brand Israel, que pretende mostrar a 'face mais bonita de Israel' para desviar deles a atenção do mundo dos seus crimes", lê-se na carta. Os artistas que assinam a missiva, recordando que "inspirados pelos artistas que em consciência rejeitaram o Sun City no apartheid sul-africano nos anos 80, organizações culturais e artistas palestinianos apelaram a que se pressione Israel de forma não violenta através do boicote até que sejam cumpridas as suas obrigações segundo a lei internacional", tornam público o seu apoio "a este apelo, ao lado de milhares de artistas pelo mundo fora". "Porque não queremos tornar-nos cúmplices das violações dos direitos humanos do povo palestiniano. Queremos antes chamar a atenção do mundo para a colonização, que a cada ano se torna mais violenta", sustentam. A Lusa pediu uma reacção à RTP, mas tal não foi possível em tempo útil. A carta aberta divulgada em Setembro foi subscrita por artistas internacionais como Brian Eno, The Knife, Wolf Alice e finalistas da Eurovisão, incluindo os vencedores de 1994, os irlandeses Paul Harrington e Charlie McGettigan, os cineastas Alain Guiraudie, Ken Loach, Mike Leigh, Aki Kaurismäki e Eyal Sivan (israelita). Israel recebe o Festival Eurovisão da Canção em 2019 depois de ter vencido a edição deste ano, em Lisboa, com o tema Toy, interpretado por Netta Barzlilai. Esta será a terceira vez que Israel acolhe o concurso, depois de 1979 e 1999, em Jerusalém, por ter vencido nos anos anteriores. Em 1980, embora tenha vencido em 1979, o país declinou a oportunidade de organizar o concurso pela segunda vez consecutiva, acabando por passar para a Holanda. Em Maio passado, quando venceu o concurso em Lisboa, a cantora israelita Netta Barzlilai celebrou a vitória dizendo que em 2019 o festival seria em Jerusalém, algo que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, imediatamente reforçou, para mais tarde recuar. A referência a Jerusalém foi feita numa altura em que os israelitas comemoravam, em Maio, os 70 anos do nascimento do Estado de Israel, e o festival acabou por ser tornar num argumento de discussão política e diplomática sobre os estados judeu e palestiniano, quando as conversações de paz internacionais entre ambos continuam num impasse. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A situação política foi ainda acompanhada pela transferência da embaixada dos Estados Unidos em Israel de Telavive para Jerusalém. Em Junho, a União Europeia de Radiofusão, organizadora do festival, fez saber que pretendia um lugar "menos controverso" do que Jerusalém, cidade dividida entre israelitas e palestinianos desde 1967, e Benjamin Netanyahu concordou que o governo se afastaria da escolha da cidade. Ao mesmo tempo, diversas organizações culturais palestinianas apelaram ao boicote ao concurso.
REFERÊNCIAS:
Do amor por Pessoa à descoberta de Gonçalo M. Tavares (e outras paixões portuguesas em Guadalajara)
O poeta da Tabacaria inspirou uma argentina e uma mexicana a criarem uma editora. Mas esse não é o único "caso" que o país-tema da FIL terá despertado. (...)

Do amor por Pessoa à descoberta de Gonçalo M. Tavares (e outras paixões portuguesas em Guadalajara)
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.187
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O poeta da Tabacaria inspirou uma argentina e uma mexicana a criarem uma editora. Mas esse não é o único "caso" que o país-tema da FIL terá despertado.
TEXTO: Arrefece à noite em Guadalajara, mas quando as portas da Feira Internacional do Livro (FIL) se fecham anima-se o palco dos concertos, mesmo ali ao lado. Na noite de terça-feira, ouviu-se fado. E não terá sido por acaso que Camané iniciou o concerto a cantar versos de Fernando Pessoa, num concerto que acabou com "bravos" da plateia. Já sabíamos que o poeta português, que foi traduzido no México por Octavio Paz (1914-1998), Nobel da Literatura em 1990, suscita paixões em todo o mundo, mas é ainda assim uma surpresa encontrar num dos corredores da FIL um stand com retratos de Pessoa, sacos de pano e livrinhos com o seu rosto estampado ou mesmo a sua figura em versão boneco de pano. É assim no espaço da Tabaquería Libros, uma distribuidora e editora da Cidade do México lançada pela argentina Pat Sánchez e pela mexicana Mónica Johnes Linazasoro. Na verdade, não têm uma loja, só presença online, e distribuem livros para bibliotecas e para eventos especializados, como congressos sobre poesia contemporânea. Estão presentes em todas as feiras do livro importantes do país e também nas universitárias. Distribuem edições mexicanas, argentinas e espanholas, principalmente de chancelas independentes que apostam em literatura, arte, filosofia, cinema, ensaio, jornalismo literário e ciências sociais. O fascínio por Pessoa deve-se a Pat Sánchez, que leu o autor português pela primeira vez quando era adolescente. “Talvez fosse uma antologia, O Poeta É um Fingidor, já não me recordo”, conta. "Quando somos mais jovens, começamos a leitura pelo mais conhecido ou por aquilo com que nos podemos identificar mais facilmente", acrescenta. Mas o seu amor por Pessoa não se alterou com o tempo. “O que mudou foi a minha abordagem da sua obra e a maneira de o ler. Comecei a interessar-me pelas questões ensaísticas de Pessoa, o esoterismo, a política… Mas desde sempre tive amor por Pessoa, por Portugal, pela língua portuguesa. ”Há um outro autor português que também “encanta muito” Pat, e que tem uma enorme ligação com Pessoa: Mário de Sá-Carneiro, que a leitora argentina encontrou mais tarde. O que é surpreendente é que este é um amor à distância. “Nunca fui a Lisboa; tenho de ir lá um dia. Estive em Espanha, mas nunca em Portugal. ” Apesar disso, Pat Sánchez adora fado e a comida portuguesa – além de ter também uma paixão pelo Brasil –, e diz sentir que Portugal “é um país com uma idiossincrasia bastante melancólica”, tal como a Argentina. O stand da Tabaquería Libros tem edições mexicanas que mostram “um certo amor a tudo o que seja brasileiro ou português”, explica por sua vez Mónica Johnes, enquanto mostra um livro de ensaios do escritor e jornalista Francisco Cervantes (1938-2005), que foi um dos mais importantes tradutores de literatura portuguesa no México. Logo pega noutro de uma editora mexicana que publica autores africanos, como Mia Couto. Há dois anos, Pat e Mónica criaram uma editora própria (que ainda só publicou três livros) e iniciaram duas colecções: Saudades, de poesia, e Janelas, de ensaio. Querem publicar mais mulheres e por isso estão a negociar os direitos de uma contista portuguesa, cujo nome não podem dizer ainda. Entretanto, com a ajuda do Instituto Camões e da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, publicaram já Tabaquería – El Marinero, de Fernando Pessoa, com tradução e notas de Eduardo Langagne. Quando os visitantes passam pelo stand na feira, costumam achar graça ao nome, Tabaquería, e relacionar com Pessoa. Mas também há quem pergunte: “Tabaquería porquê? Vendem tabaco?”. Ou quem ache que o nome é Taquería, como um estaminé de tacos, essa omnipresente comida de rua mexicana. “Muita gente conhece Pessoa, outros não", conta Pat. Bem informadas estavam Sarita Romano DeWeik e Sharon Finkelstein, que vieram da Cidade do México para aquela que consideram uma das feiras mais importantes do mundo. Tentam estar na FIL todos os anos, e gostam de ver as novidades literárias dos outros países. Estão a almoçar num dos restaurantes espalhados pelo gigantesco recinto, e vão olhando para o programa de actividades do Pavilhão de Portugal. “Viemos aqui para comprar livros, mas, acima de tudo, para ver o entusiasmo do público, que é impressionante: a quantidade de gente que anda nos corredores e se entusiasma ao visitar quer a parte da edição nacional como a da internacional”, comentam. Sarita DeWeik é professora de uma oficina de reflexão e de criação literária onde todos os participantes são mulheres. Vieram as 12 à feira, por uns dias. “Lemos um autor por semestre. Quando soubemos que o país convidado era Portugal, fui pesquisar quais seriam os autores contemporâneos mais importantes, e este semestre lemos Gonçalo M. Tavares, que tem livros publicados no México”, conta Sarita Romano DeWeik, ela própria escritora, com um romance publicado: Desde Malika Nasli. “Tivemos a oportunidade de conhecê-lo, e isso foi fantástico, porque falámos sobre a sua obra, as suas inquietudes, os seus interesses. Foi muito enriquecedor para o grupo. Ele foi muito querido – Gonçalo M. Tavares é um amor”, ri-se. “O que nos pareceu é que o pavilhão português está um pouco pobre; esperávamos mais traduções de outros autores, sobretudo daqueles que não conhecemos. Na livraria, fiquei com vontade de ter mais do que aquilo que existe”, explica Sarita, que, como viveu no Brasil, fala português. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Sharon Finkelstein, a impressão maior desta vinda à FIL é que os livros não vão acabar. “Os aparelhos electrónicos são outra forma de ler, mas, pelo que me é dado a ver aqui, as editoras vão continuar a imprimir livros em papel. Ver estas montanhas de livros e stands tão grandes dá-me esperança. Tranquiliza-me perceber que não vai ser tudo digital, porque não quero isso”, diz esta aluna da oficina, onde já leu Canciones Mexicanas e Jerusalén, de Gonçalo M. Tavares. Entretanto, as duas levam da feira de Guadalajara todas as obras do escritor português que conseguiram encontrar. O PÚBLICO viajou a convite do comissariado para a participação portuguesa na FIL Guadalajara 2018
REFERÊNCIAS:
Que relevância assumirá o género atrás das grades?
Dois livros lançados neste ano abordam a relação entre género, crime e sistema de justiça. (...)

Que relevância assumirá o género atrás das grades?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.4
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Dois livros lançados neste ano abordam a relação entre género, crime e sistema de justiça.
TEXTO: As perguntas foram surgindo em conversas. Quanto pesarão as desigualdades de género na vida de raparigas e mulheres e na sua relação com o sistema judicial? Que associação existirá entre vitimização e prática de crime? Haverá uma narrativa única sobre género e crime ou a narrativa mudará conforme os crimes ou as situações? Que relevância assumirá o género atrás das grades?Partindo destas inquietações e da vontade de partilhar estudos feitos, as investigadoras Sílvia Gomes e Vera Duarte procuraram uma base comum. Em 2013, organizaram um painel numa conferência. Agora, coordenaram um livro. Female Crime and Delinquency in Portugal — In and out of the criminal justice system [Crime e Delinquência no Feminino em Portugal — Dentro e fora do sistema de justiça criminal] saiu neste Verão. E não é por acaso que foi editado em inglês. As investigadoras queriam abrir o diálogo ao público internacional. Feliz coincidência: pouco antes, saiu o livro Ala Feminina, da jornalista Vanessa Ribeiro Rodrigues. E esse resulta de conversas com 17 mulheres reclusas em duas prisões femininas, as portuguesas Santa Cruz do Bispo (Matosinhos) e Tires (Cascais), e numa mista, a brasileira Talavera Bruce (Rio de Janeiro). Em várias entrevistas, Vanessa Ribeiro Rodrigues foi dizendo que as reclusas “falam constantemente dos laços afectivos”. “Ao contrário da reclusão masculina, a reclusão feminina tinha uma característica, que era o facto de elas não perderem os laços afectivos com os filhos, a família e viverem uma dupla punição”, disse à Lusa. A minha experiência jornalística em prisões leva-me a concordar com Vanessa Ribeiro Rodrigues. E o livro coordenado por Sílvia Gomes e Vera Duarte — que junta dez estudiosas numa reflexão multidisciplinar sobre a relação entre género, crime, delinquência e sistema de justiça — aprofunda o porquê disso. Explica a antropóloga Manuela Ivone Cunha que na primeira metade do século XX “a principal preocupação” do sistema prisional era a “regeneração moral” das mulheres. A reabilitação baseava-se em “dois ingredientes fortemente ancorados nas ideologias de género dominantes: domesticidade e maternidade”. Na década de 80, quando esteve pela primeira vez a fazer trabalho de campo em Tires, viu como o sistema prisional continuava a exaltar os papéis tradicionais. “Se os serviços de lavandaria, limpeza e cozinha eram superdimensionados, era apenas porque deveriam responder não apenas às necessidades internas, mas também às da prisão masculina mais próxima”, escreve. Os trabalhos subsequentes permitiram-lhe verificar que a lógica não se alterou muito. Ainda agora, na mais moderna prisão do país, Santa Cruz do Bispo, as actividades continuam a ser muito centrados no suposto universo feminino. Durante o Estado Novo, a licença para manter crianças pequenas na prisão “era principalmente justificado pelo objectivo de educar as mães”. Enquanto expiavam pena, deviam passar tempo com os filhos e aprender a desempenhar o seu papel. Hoje, o que justifica a permanência até aos três anos (excepcionalmente até aos cinco) nas prisões é o superior interesse das crianças. Dentro do perímetro do estabelecimento prisional, há creches onde podem ficar, enquanto as mães estudam e/ou trabalham. No dos homens continua a não haver. “As prisões femininas, como Tires, promovem a exaltação da maternidade”, nota Manuela Ivone Cunha. “O vínculo mãe-filho é altamente idealizado, desligado das experiências reais, da dura realidade das reclusas. ”A antropóloga entende que é atrás das grades que aquelas mulheres “encontram o tempo, a estrutura ou os recursos necessários” para alcançar o ideal de maternidade. E não a surpreende que “esse ideal contribua para aprofundar sentimentos de culpa, inadequação e disfuncionalidade na realização do papel materno”. Por um lado, a maternidade é amiúde invocada como mote do crime (“Eu fiz isso pelas minhas crianças”; “Eu tinha de alimentar os meus filhos”). Por outro, as reclusas “culpam-se, e são culpadas pelo pessoal da prisão, não só por terem cometido o crime, mas também por não cumprirem as responsabilidades maternais”. Curiosamente, as prisões não estão preparadas para acomodar as crianças que, vivendo fora, visitam as mães ou os pais. Vale a pena perceber quem está atrás das grades. Há uma espécie de ligação directa entre os bairros de má fama e as prisões. Reflectindo a organização da venda de droga e as prioridades da vigilância policial, intramuros abundam laços de parentesco, amizade ou vizinhança. Para Manuela Ivone Cunha, a proeminência da identidade de género na prisão “deu lugar a um novo sentido de identidade colectiva, baseado na proveniência comum das mesmas áreas urbanas indigentes”. “Solidariedades colectivas baseadas em classes ganham força no cenário prisional e tornaram-se uma importante faceta da identidade social das pessoas presas. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As mulheres não são só mulheres. Num dos capítulos do livro que co-coordenou, a socióloga Sílvia Gomes sublinha a importância de cruzar o género com variáveis como a idade, a etnia, a nacionalidade e a classe social. As mulheres são uma minoria nas prisões portuguesas (como nas prisões do mundo inteiro). No início de Setembro, eram 810, o que significa cerca de 6% da população prisional. As estrangeiras, porém, estão sobrerrepresentadas. Os estudos de Sílvia Gomes mostram que os seus trajectos não estão desligados da exclusão, da desigualdade, do preconceito, do racismo. “Elas são especialmente vigiadas por agentes da justiça criminal porque são pobres, vivem em bairros urbanos particulares e apresentam um fenótipo diferente”, escreve. Isto é só um pouco do que se pode encontrar em Female Crime and Delinquency in Portugal — In and out of the criminal justice system (Palgrave Macmillan) e em Ala Feminina (Desassossego). São dois livros valiosos para quem se interessa por estes temas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime homens exclusão campo filho prisão racismo social género espécie minoria mulheres feminina
Os Museus do Vaticano vão comprar a fotografia de Beyoncé...?
As fotografias que a estrela pop publica no Instagram tecem uma complexa teia iconográfica. (...)

Os Museus do Vaticano vão comprar a fotografia de Beyoncé...?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-16 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170716230820/https://www.publico.pt/n1779308
SUMÁRIO: As fotografias que a estrela pop publica no Instagram tecem uma complexa teia iconográfica.
TEXTO: A fotografia publicada por Beyoncé há dois dias na rede Instagram já tem o destino marcado. Tornar-se aquela com mais likes na história da rede de partilha de imagens, à semelhança do que aconteceu com a de Fevereiro, também publicada no Instagram, em que a pop star anunciou a sua segunda gravidez. Já tem mais de 9, 5 milhões de “gostos”, que não páram de aumentar. Tal como na altura, foi imediatamente discutida e objecto das mais diferentes análises iconográficas. O que é que a cantora, uma das mulheres mais poderosas da indústria musical, casada com o rapper Jay-Z, quer comunicar, além de mostrar pela primeira vez os recém-nascidos Rumi e Sir, que acabam de fazer um mês?Sir Carter and Rumi 1 month today. ??????????????????????????Uma publicação partilhada por Beyoncé (@beyonce) a Jul 13, 2017 às 10:10 PDTBotticelli, numa mistura de O Nascimento de Vénus e Alegoria da Primavera, dizem uns, uma simples Madonna renascentista, dizem outros, numa leitura mais directa em que Beyoncé é a Virgem Maria, com um véu azul e o necessário fundo da mesma cor, e os dois gémeos o Menino em dose dupla. “Há uma óbvia relação, na pose e na indumentária, com alguma pintura renascentista e pós-renascentista”, diz o historiador de arte Joaquim Caetano, conservador do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, onde até ao início de Setembro está a exposição Madonna: Tesouros dos Museus do Vaticano. “A grinalda de flores, em que predominam as rosas, símbolo mariano, acentua essa relação com a Virgem e o Menino. ”O sucesso da representação da Virgem com o Menino que se torna, a partir do século XIV, numa das mais repetidas imagens do Ocidente, “deveu-se, para além do óbvio papel de Maria na história do Cristianismo, ao facto de a imagem receber todo o peso da relação arquetípica da mãe com o filho, emocionalmente fortíssima, social e individualmente”. É a partir das obras do pintor italiano Giotto (1266-1337), diz o historiador de arte, e por grande influência do franciscanismo nascente, que a imagem da Mãe de Deus — a Theotokos — ganha uma nova humanidade: “Os gestos de afeição entre a mulher e a criança são cada vez mais acentuados, até que, em muitos casos, a relação humana se torna o essencial da imagem. ”O melhor exemplo é, talvez, a Virgem dos Peregrinos, de Caravaggio (1571-1610), obra que influencia muito a pintura barroca. É disso exemplo, explica a conservador do MNAA, a pintura de Orazio Gentileschi (1563-1639) que está neste momento na exposição Madonna. Tal como a imagem que anunciou a gravidez em Fevereiro, a nova fotografia já tem um autor identificado pelos média, o artista Awol Erizku, um norte-americano de origem etíope, que recusa a "Insta-fama" que o associa a Beyoncé, escreveu em Abril a Vanity Fair, a propósito da sua mais recente exposição Make America Great Again (sim, também não quer elaborar muito sobre os ecos do slogan de Trump no título da mostra). We would like to share our love and happiness. We have been blessed two times over. We are incredibly grateful that our family will be growing by two, and we thank you for your well wishes. - The CartersUma publicação partilhada por Beyoncé (@beyonce) a Fev 1, 2017 às 10:39 PSTPintor, escultor e músico e realizador, além de fotógrafo, Awol Erizku chamou a atenção com a sua obra que desafia a estética branca dominante na arte ocidental, nomeadamente com as suas fotografias que recriam retratos da história da pintura, como a Rapariga com um Brinco de Bambu (2009), a partir da Rapariga com Brinco de Pérola feita por Vermeer em 1665, onde figura uma mulher negra com uma indumentária africana, ou a instalação vídeo Serendipity (2015), exibida no MoMA de Nova Iorque, em que destrói a escultura David, de Miguel Ângelo, e a substitui pelo busto de Nefertiti, a rainha do Egipto Antigo. Para Joaquim Caetano, talvez a citação das virgens com o menino do Renascimento e da iconografia mariana seja apenas formal. “Tenho dúvidas de que a imagem de Beyoncé com os seus filhos se sustenha nesta tradição. Desde logo, apresenta gémeos, mas sobretudo porque a imagem não deixa de se centrar na exposição da estrela pop e num decorativismo denso, que se coaduna mal com a tradição da Virgem com o Menino da pintura ocidental. ”Quando surgiram, continua Joaquim Caetano, as imagens que acentuavam a relação maternal eram conhecidas como Virgens da Humildade, por oposição às Virgens no Trono, ou em Majestade, mais hieráticas e menos humanizadas: “Humildade não é bem, como se sabe, um dos atributos das estrelas da música popular. A exuberância decorativa e o maneirismo do vestuário que deixa entrever o suficiente para garantir um certo erotismo inerente à imagem da cantora parecem filiar a fotografia mais no registo das imagens contemporâneas, de artistas como Jeff Koons, do que na arte de Boticelli ou Lippi. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O projecto iconográfico de Beyoncé, que controla ao milímetro as imagens publicadas de si e da sua família, vai da Beyoncé cantora à Beyoncé actriz, da Beyoncé mulher à Beyoncé ícone da feminilidade negra, como aqui escrevemos em Fevereiro, a que a estrela pop não pára de acrescentar camadas (e likes). Agora, propõe-se como um ícone da alta cultura e talvez esta imagem deva ser lida em conjunto com a reviravolta exibida no disco que o marido, Jay-Z, acabou de lançar. O rapper transfigura-se e revela-se um inesperado letrista, um artista mais maduro, defendeu um dos nossos críticos, Francisco Noronha, com canções introspectivas, poéticas, muitas vezes confessionais: em 4:44, que dá título ao álbum, aborda a relação tumultuosa com Beyoncé, as suas alegadas infidelidades, e ouvimos inúmeras vezes “I apologize”. Um Jay-Z humilde quanto baste para acompanhar a imagem que foi tirada no jardim da casa de Malibu do casal e dos seus três filhos. Será tempo de os Museus do Vaticano, que emprestaram quase todas as obras para a exposição Madonna actualmente no MNAA, comprarem a fotografia de Beyoncé para as suas colecções? É só fazer mais um like…
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
A música do Sudão tem que ser ouvida
Nas décadas de 1960 e 1970, o Sudão transbordava música elogiada na África inteira. Um golpe fundamentalista apagaria a chama. Quase vinte anos depois desse apagamento, duas editoras tentam corrigir a injustiça: é preciso conhecer esta música. (...)

A música do Sudão tem que ser ouvida
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nas décadas de 1960 e 1970, o Sudão transbordava música elogiada na África inteira. Um golpe fundamentalista apagaria a chama. Quase vinte anos depois desse apagamento, duas editoras tentam corrigir a injustiça: é preciso conhecer esta música.
TEXTO: Saif Abu Bakr impressionou de tal forma James Brown que o astro quis levá-lo com ele, fazer dele músico da sua banda. Saif recusou: “Tinha o meu emprego confortável no Kuwait, não queria entrar numa aventura. ” Aconteceu em 1981, com Saif encarregado de ajudar Brown na sua estadia no Kuwait – falava bem inglês porque tinha estudado em Inglaterra. Saif conta que sugeriu ao norte-americano que tocasse Super bad, mas o baixista de Brown não estava a dar conta do recado, aquela linha de baixo irresistível. Saif tocou-a na perfeição naquele palco. Saif, sudanês emigrado, não precisava de James Brown: era já uma estrela. “No Kuwait, toquei não sei com quantas bandas… acho que com umas 20. Vinham de sítios diferentes, tocavam no Sheraton, no Hilton”, conta aos 58 anos, pelo Skype, a partir do Kuwait, onde é professor de inglês. No Sudão, ele e os seus Scorpions actuaram onde havia um palco: na fervilhante vida nocturna da capital, Cartum, em casamentos, hotéis, casinos. “Começámos em Cartum. Nessa altura, em Cartum, a música era tão forte e popular. Havia muitos clubes nocturnos, muitas festas. É um hábito no Sudão os casamentos terem a nossa banda, os Scorpions, e outras. Havia muita vida, muito mais do que agora. Os Scorpions eram muito populares, Sharhabeel [Ahmed] também. ”Os Scorpions faziam aquilo a que localmente se chamava jazz, mas que, aos ouvidos ocidentais, surge como uma mistura de funk endiabrado (ouça-se Nile waves), batidas quebradas, entre a tradição sudanesa e a influência anglo-saxónica, soul, metais em fúria e, sim, algum requinte jazzístico. Em 1980, lançaram Jazz, Jazz, Jazz, disco que o alemão Jannis Stürtz veria, há três ou quatro anos, chegar aos mil dólares no site de leilões eBay. Foi a primeira vez que o dono da editora Habibi Funk tomou consciência das maravilhas da música sudanesa. Este ano, a Habibi Funk reeditou Jazz, Jazz, Jazz e editou Muslims and Christians, compilação de material gravado por Kamal Keila em sessões para a rádio sudanesa em 1992 (ouvimo-lo cantar sobre a necessidade de uma revolução agrícola enquanto a guitarra pica funk e os metais embalam as ancas; ouvimo-lo a pedir união entre muçulmanos e cristãos, entre Norte e Sul, por uma só nação). Ao mesmo tempo, Vik Sohonie, indiano fixado em Nova Iorque, responsável pela Ostinato Records, também mergulhava na música sudanesa. Graças a ele, podemos ouvir as compilações Two Niles to Sing a Melody: The Violins & Synths of Sudan, retrato da música popular de Cartum, sobretudo das décadas de 1960 e 1970, e The Shaigiya Sound of Sudan, com a música tradicional e rural de Abu Obaida Hassan. De repente, não há desculpas para desconhecer os tesouros do Sudão – um país que fez da música arma de emancipação nacional. Antes de criar a Ostinato, Vik Sohonie era jornalista. Gostava particularmente de escrever sobre países que acreditava “serem injustamente representados pelos media mundiais”. “Os media pintam o Sudão como um país peculiar, que não é capaz de produzir algo rico e maravilhoso, apenas como um país que produz miséria e violência”, diz ao Ípsilon, pelo Skype, antes de viajar para o Chade, para mais um projecto. Resultado: “Quando falamos do Sudão não falamos de música sudanesa. ”Quando começou a trabalhar com a música da Somália (daí resultou Sweet As Broken Dates: Lost Somali Tapes from the Horn of Africa, de 2017, compilação nomeada para um Grammy), Sohonie passou muito tempo em países da África Oriental, como o Djibouti, o Quénia e a Etiópia. “Reparei que a música sudanesa não era apenas popular no Sudão: era uma das músicas mais apreciadas e valorizadas em toda a África. Quanto mais falava com músicos na Somália, quando os entrevistávamos e lhes perguntávamos quais eram as suas inspirações e influências, nomeavam sempre músicos sudaneses. Quando falas com músicos de países tão longínquos como o Mali falam sempre de música sudanesa. No Sudão, quando falámos com produtores e pessoas que tinham editoras nos anos 70 e 80, disseram-nos que as cassetes vendiam-se frequentemente mais em sítios como os Camarões e a Nigéria do que em casa. ”Essa “reputação incrível” deve-se, sobretudo, à música produzida no Sudão nos anos 1960 e 1970. Na era pós-colonial, o país do Nordeste africano fez da arte factor para a construção de uma identidade colectiva. Nas ruas, entre bancas de comida de rua e bares, pequenos rádios brotavam canções. À rádio pública chegavam discos de todo o mundo. Na linha de outros líderes pós-coloniais, Gaafar Nimeiry, Presidente de 1969 a 1985, criou um ambiente fértil à criação. Organizou festivais e concursos de música que mostravam novos talentos. Como na Somália, onde as orquestras e os agrupamentos musicais norte-coreanos treinaram músicos, Pyongyang deu apoio técnico e ajudou a refinar a música sudanesa. Com a ajuda da Coreia do Norte e da China, fizeram-se teatros e salas de espectáculos. “Um dos músicos que entrevistei contou-me que, quando tinham um problema enquanto músicos, usavam o número de telefone do próprio Nimeiry, que dizia: ‘Sem problema, vou resolver’. E Nimeiry levou estes músicos em digressões: reuniu os melhores dos melhores, criou grupos de 40 músicos que viajavam pela Europa e pelo Médio Oriente. Foi um projecto enorme”, diz Vik Sohonie. Deste caldo, em Cartum, nasceu uma música de orquestras, com violinos, acordeões, guitarras eléctricas e ritmos ancestrais cruzados com a excitação do momento pop. Two Niles to Sing a Melody apresenta esse som: ouvimos Abdullah Abdulkader a levar-nos numa melodia irresistível; uma guitarra enrolada com metais (Emad Youssef); um mantra orquestral com guitarra eléctrica picadinha (Abdel El Aziz Al Mubarak); mais guitarras, mas encharcadas em wah-wah, e uma voz irrequieta (Khojali Osman); palmas e um coro feminino a guiar o transe (Saied Khalifa); inimaginável convívio de teclados (Abdelmoniem Ekhaldi); Mohammed Wardi a justificar o epíteto de Fela Kuti do Sudão; e um pequeno milagre de pop electrónica, com intérprete desconhecido. Ao mesmo tempo, a cena a que chamaram de jazz, na qual pontificaram os Scorpions e Kamal Keila (que Nimeiry levou a 25 países africanos), também respirava saúde. A Habibi Funk lançará, em 2019, música de Sharhabeel Ahmed, que começou a tocar guitarra com um instrumento acústico que electrificou (“Não tinha dinheiro para comprar uma guitarra eléctrica”, explica Jannis Stürtz), e de Ibrahim Al Hassan, que no início dos anos 1980 gravava música de teclados e ritmos electrónicos num gravador de quatro pistas. Mas tudo mudaria a partir de 1983, com Nimeiry a render-se às forças islâmicas conservadoras. Naquele ano a lei da Sharia foi aplicada no Sudão. A televisão expunha, em horário nobre, quem fosse apanhado em casas de apostas, bordéis e bares. A produção da famosa cerveja Camel acabou – diz-se que uma enorme quantidade de cerveja foi despejada no rio Nilo Azul. A vida nocturna acabou ou remeteu-se aos hotéis e clubes frequentados pelas elites estrangeiras. Queimaram-se discos. “Ficou muito mais difícil arranjar concertos. Toda a vibração, toda a vida nocturna e a cena de discotecas que existiram nos anos 70 desapareceram”, aponta Jannis Stürtz. Para completar o ciclo vicioso, nessa década, a economia também colapsou. “A corrente salafista, fundamentalista, do islão que a Arábia Saudita exportou chegou ao Sudão. Além disso, o Sudão era um país muito fracturado. Passou pelas dores de todos os países que saíram da colonização: divisões, guerras civis, golpes múltiplos, mesmo contra Nimeiry. Isso permite que elementos radicais consigam penetrar no mainstream”, reflecte Vik Sohonie. Aplicou-se a interpretação radical da Sharia, “o corte de mãos para quem rouba, chicoteamento para adultério, a proibição do álcool. A música não foi banida, mas as letras eram censuradas. As letras sudanesas eram frequentemente muito picantes, falavam de sexo, de mulheres, havia canções que diziam coisas como ‘o teu peito é tão bonito’. ”A música, até então apoiada pelo governo, tornou-se um alvo. O golpe de 1989, que pôs no poder Omar al-Bashir, ainda hoje Presidente, aprofundou a tendência repressiva. “Começaram a perseguir músicos, com os seus rufias, as suas máfias. Criaram uma atmosfera tóxica, controlando o que os imãs diziam nos sermões proferidos nas mesquitas. Os sermões eram muito antimúsica – ‘a música é errada’, ‘estas músicas são anti-islâmicas’. Bashir baniu todas as letras de canções que não glorificavam o islão e a guerra com o Sul. Foi a sentença de morte para a música sudanesa. Foi então que muitos músicos deixaram o país. Entre os que não deixaram, alguns foram assassinados, outros detidos, outros torturados. ”A música sudanesa apagava-se quando o mundo começava a descobrir e a destacar músicas de várias proveniências – a explosão da world music. Este ano, a Ostinato revelou também a mais ouvidos a música de Abu Obaida Hassan, um segredo local. Nos anos 1970 e 1980 percorria o Sudão com o seu tanbur de cinco cordas – ele, um coro que respondia aos versos do cantor e dois percussionistas lançavam-se em longas e hipnóticas peças, devedoras da tradição dos povos de Núbia, região do vale do Nilo, um dos berços da civilização. Aos 19 anos, desafiou as convenções musicais Shaigiya e adicionou uma quinta corda ao seu tanbur, instrumento que electrificou. Gravou 30 temas, mas desapareceu sem deixar rasto – nos anos 2000, um importante jornal sudanês deu-o como morto. Vik Sohonie descobriu gravações de Hassan em 2011. “Quanto mais ouvia, mais pensava: ‘uau, isto é música absolutamente fenomenal’”, recorda. Quis lançar aquela música, “muito diferente da música orquestral de Cartum”, para sublinhar a imensa diversidade do Sudão, que não se esgota na capital. “Há tantas culturas diferentes, povos e línguas. ”Em 2016, viajou para o Sudão e, após algum trabalho de detective, encontrou Abu Obaida Hassan em Omdurman, perto de Cartum. Vivia numa casa de tijolos de lama, sem água corrente nem electricidade. “Disse-me que quando era mais novo estava sempre a actuar e ganhava bem, mas não era muito bom com dinheiro”, conta. Ficou surpreendido com a visita de Sohonie, relata o editor: “Ele é algo religioso e dizia muitas vezes: ‘os deuses enviaram-vos”. A edição da Ostinato permitiu-lhe comprar um “pequeno frigorífico que funciona com pouca electricidade” e uma televisão. “Fico feliz por termo-lo encontrado, dar-lhe um último disco, com distribuição global, dar-lhe um nome. E ele conseguiu ganhar algum dinheiro com o álbum. ” Também Kamal Keila foi recompensado quando os Disclosure, duo house inglês, usaram um pedaço vocal de African unity em Where you come from (2018), com a ajuda da Habibi Funk. E Saif Abu Bakr viaja regularmente para o Sudão, onde os Scorpions voltaram à vida, entusiasmados com a reedição. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Perdemos colectivamente 30 ou 40 anos de música sudanesa, por várias razões políticas e económicas”, diz o homem da Ostinato. “É altura de viajar no tempo e apanhar o fio à meada, conhecer o que eles faziam. O que faziam ainda pode ser popular. ”Devido a uma lamentável falha técnica, a parte inicial deste artigo aparece truncada na edição impressa do Ípsilon desta sexta-feira, 28 de Dezembro. Aos leitores, as nossas mais sinceras desculpas.
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
Foi você que pediu uma passagem de ano?
Os preparativos estão feitos, as noites programadas, os elencos da festa definidos. Agora, é tempo de escolher a música e o ambiente desejados. Das festas nas praças municipais aos jantares de gala, dos ritmos quentes ao apego à nostalgia, oferta não falta. (...)

Foi você que pediu uma passagem de ano?
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os preparativos estão feitos, as noites programadas, os elencos da festa definidos. Agora, é tempo de escolher a música e o ambiente desejados. Das festas nas praças municipais aos jantares de gala, dos ritmos quentes ao apego à nostalgia, oferta não falta.
TEXTO: Ruas cheias de gente, é isso que se quer. O convívio a céu aberto, se possível sem chuva, mas, se ela chegar, algo se saberá improvisar para ultrapassar o desconforto – um dia não são dias e uma chuvinha não faz mal a ninguém. Venha daí 2019 nas praças, nas alamedas e nas avenidas, nas marginais ou nos terreiros deste país. Os municípios têm tudo preparado. E, em alguns casos, como Porto e Lisboa, a festa até já começou. Na Invicta, Diogo Piçarra abriu a festa, no sábado. Na capital, coube a Branko fazê-lo no mesmo dia. Para a noite mais aguardada, a da passagem de ano, estão convocados, na Avenida dos Aliados, Pedro Abrunhosa & Comité Caviar. Já no Terreiro do Paço a despedida a 2018 será feita por Daniel Pereira Cristo com os convidados Tatanka, João Só e Ana Bacalhau e o primeiro abraço a 2019 terá assinatura de Richie Campbell, ajudado por Dengaz, Mishlawi, Plutónio e DJ Dadda. De Norte a Sul, fogo-de-artificio atrás de fogo-de-artifício, concerto atrás de concerto: Anselmo Ralph em Cacilhas, junto à Fragata D. Fernando II e Glória; Expensive Soul em Beja, na Praça da República; Miguel Araújo em Santarém, no Jardim da República; Resistência e Blaya em Viseu, no Campo de Viriato; os UHF e Diogo Piçarra em Coimbra, no Largo da Portagem; Marta Ren & The Groovelvets em Viana do Castelo, no Centro Cultural; Galgo, Throes + The Shine e Xinobi em Guimarães, na Plataforma das Artes e da Criatividade. E mais, e mais, e mais, de Norte a Sul, fogo-de-artifício atrás de fogo-de-artifício, concerto atrás de concerto. O Inverno está aí, o que não é propriamente novidade. Chega a 21 de Dezembro, quando já caem as folhas das árvores, quando os casacos quentes já saltaram do armário, quando as televisões já começaram a fazer reportagens sobre a neve que cai nos sítios onde a neve cai todos os anos por esta altura. O Inverno está aí, como está todos os anos na passagem de ano, mas há formas de, na noite de 31 de Dezembro de 2018, trocar as voltas à latitude. Portanto, aqui, o frio faz-se calor tropical. Caliente? Certamente no Musicbox, em Lisboa, onde La Flama Blanca, distinto embaixador da cumbia e demais tropicalismos latino-americanos, se reúne a Consuelo (alter-ego do DJ A Boy Named Sue) e a Ferrary (Francisco Ferreira, teclista dos Capitão Fausto). Será a edição especial, edição réveillon, do Baile Tropicante que Pedro Azevedo, o homem que encarna La Flama Blanca, promove há seis anos na sala do Cais do Sodré. Sintonia total, neste caso, com o que acontecerá 300 quilómetros a norte, no Maus Hábitos. O célebre espaço portuense não esconde ao que vai: “Vamos transportar o Maus Hábitos para a América do Sul e fazer a festa”. Para cumprir a missão com distinção, terão, no Salão Nobre, a reunião de DJ Quesadilla e Xico da Ladra ao comando dos pratos, e, na Sala de Espectáculos, um set DJ de Cumbadélica e a electrónica colorida a latinidades bem ritmadas dos Ohxalá. Trocando a expressão “caliente!” por, por exemplo, “deixa ferver!”, poderemos saborear a mesma temperatura (escaldante) na Casa Independente, em Lisboa, que monta a festa Pró Ano Logo se Vê com Pedro Coquenão, o criador dessa máquina de invenção luso-angolana, pan-africana, chamada Batida, com o kuduro e afro-house de DJ Satélite e com as preciosidades resgatadas à música angolana e cabo-verdiana por Rita Só, portuguesa radicada em Berlim e metade dos Undo The Taboo. A ferver estará também o B. Leza, o afamado clube de música africana. A passagem de ano terá ali como prato forte a actuação de Zeca di nha Reinalda, rei do funaná. Vocalista dos Bulimundo e nome de destaque da música cabo-verdiana, assegurará que a entrada em 2019 se faz da melhor forma, ou seja, com Febri de Funaná. O fim de ano é tempo de olhar em frente, é o momento em que se fazem todas aquelas promessas que revolucionarão a nossa postura perante a vida (e de que nos esqueceremos aproximadamente duas semanas depois), é tempo de futuro porque o futuro está mesmo ali, no segundo em que Dezembro se torna Janeiro e um número é acrescentado à cronologia dos tempos. O fim de ano pode ser tudo isso, mas quem resiste a reviver, a recordar, a prestar tributo aos tempos que já lá vão e àqueles que fizeram parte deles?Quem estiver em Caminha na noite de passagem de ano, recordará a dobrar. Duas décadas numa noite só: Remember 80s and 90s é o título (esclarecedor) do espectáculo protagonizado no Terreiro por um homem da terra, o músico e produtor Paulo Baixinho. Já em Sesimbra, os céus sobre a marginal irão iluminar-se com um fogo-de-artifício com dedicatória bem marcada: serão alvo de homenagem Aretha Franklin e Montserrat Caballé, duas gigantes da música que nos deixaram este ano – fica a dúvida se DJ Johny e DJ Ricky, animadores de serviço no Largo da Marinha e no Largo de Bombaldes, antes e depois da homenagem pirotécnica, oferecerão aos foliões memórias sonoras da rainha da soul e da grande dama da ópera. Declaradamente em modo tributo, e neste caso a um passado que ainda não acabou, será a passagem de ano no Montijo e em Vila Nova de Milfontes. Na cidade do distrito de Setúbal, o som da festa estará a cargo da banda Xutos À Nossa Maneira. Na praia alentejana, a contagem decrescente será assinalada por um tributo aos autores de Remar remar, responsabilidade do grupo de baile 4Ever – depois do obrigatório fogo-de-artifício há ska-punk com os The Pilinha e, depois, mais nostalgia servida por DJ consumido pelo espírito dos anos 1980. Há que preparar os comes e os bebes, naturalmente, há quem reserve uma indumentária especial, enfim, há que dar conta dos pormenores essenciais para assegurar que a passagem de ano será memorável. E, entre esses pormenores, é indispensável cuidar que a banda sonora seja trabalhada com o máximo rigor para que tudo o resto faça sentido. Se a noite é para dançar, que se assegure o groove e que seja ele a ritmar as horas que antecedem a chegada do tal de 2019. Pois bem, groove não faltará. Não faltará nos Estúdios Time Out, em Lisboa, onde Da Chick, acompanhada dos convidados Bandido$, Bill Onair, Antoine Gilleron, Rádio Cacheu e Jeff Lennon, anuncia a ambição de fazer do Mercado da Ribeira um Soul Train dentro do mítico clube nova-iorquino Studio 54 – e a noite até foi baptizada It’s a groovy celebration para não deixar dúvidas a ninguém. Nas Damas, no bairro lisboeta da Graça, estará alguém que, não sendo certo que tenha estado no Studio 54 original, estava lá, em Detroit, quando os ritmos electrónicos se encaminhavam para essa força transformadora a que chamaram tecno. Jerry The Cat, americano radicado em Portugal, membro dos Gala Drop e dos Loosers, será um dos protagonistas da festa de passagem de ano, ao lado da dupla 2Jack4U e de João Moço. Groove também não faltará no Ferroviário, na zona de Santa Apolónia, que tem no combo soul Cais do Sodré Funk Connection o primeiro anfitrião da noite. A banda que recupera para os nossos dias o som clássico da Stax e Motown dá o tom. Depois, Progressivu, DJ Big e WhyViiDee, entre o kuduro, o hip-hop, a house e o R&B, manterão os ritmos no ritmo certo. Pode ter tudo a que se tem direito numa passagem de ano (a contagem decrescente a assinalar a chegada da meia-noite, o champanhe derramado nos copos, o ambiente de muito festiva felicidade, a amiga bêbada inconveniente, o amigo deprimido por causa das inconveniências da amiga) e, ainda assim, não parecer reprodução das imagens que passarão pelas televisões e pelas redes sociais ao longo da noite, ilustrando a festa mundo fora com imagens curiosamente semelhantes, de Sydney a Vigo, passando por Ulan Bator. Pode nem ser passagem de ano ou réveillon, mas sim um Reiveilhão – Baile de Máscaras, como o abrilhantado pelos Irmãos Catita no Titanic Sur Mer, em Lisboa, e que contará com convidados como, citamos, “os gigantes Ena Pá 2019, a clássica Miss Gretty Star, a divina Miss Suzy e a voluptuosa e sensual Senhorita Manu de La Roche numa banheira de leite de burra”. Pode não ser réveillon, nem Reiveilhão, continuemos, e simplificar-se em Revelhão. Aparentemente sem baile de máscaras, esse terá lugar na zona oriental de Lisboa, na Fábrica Musa. Aí, onde o champanhe será trocado pela cerveja e as passas por tremoços, teremos à disposição um cardápio musical em que conviverão sem conflito, tudo boa diversidade, um cantautor chamado Éme, um respigador de música popular portuguesa baptizado Hipster Pimba, uma voz de pop electrónica-popular, devidamente desalinhada, chamada Sreya, ou um set de DJ Firmeza (também passam pelos festejos Sar, DJ Problemas e Black). Caso o desejo seja viver a noite como se não houvesse amanhã, então não será mal pensado assentar arraiais no Barracuda – Clube de Roque, o espaço inaugurado este ano no Porto como casa de e para o rock’n’roll. Haverá concertos de Swamp Bones e dos infatigáveis Dirty Coal Train – que agem em palco como se não haver amanhã fosse realmente uma forte possibilidade e, assim sendo, não houvesse tempo a perder. Já na Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa, pedir-se-á tempo. Tempo para ter tempo, coisa rara no mundo contemporâneo. Há jantar, há festa, há ceia. Há muita música programada para as salas do edifício: Maria João, Os Compotas, Yami Aloelela, Bubacar Djabaté ouHavana Way são alguns dos que ali marcarão presença para, cite-se o mote da organização, “sair de vez da nossa zona de desconforto”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Bonita, bonita, é a passagem de ano em traje catita. Assim pensarão muitos e muitas enquanto se aproxima a noite de 31 de Dezembro. Pois bem, a pensar neles, não faltam dress codes “formais” e “elegantes” e jantares de gala a condizer. No extremo sul do país, no Tivoli Marina Vilamoura, haverá até passadeira vermelha. Será, anuncia o hotel, uma passagem de ano (algarvia) ao estilo de Hollywood. Com uma estrela em palco muito cá da casa: Rui Veloso é o homem convidado para dar brilho musical à noite. Sem vista para a marina, mas com vista para o rio, os janotas e as coquetes poderão contemplar o Tejo desde o Sud Lisboa, localizado ao lado do MAAT – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, apreciar o jantar de gala e dividir-se entre a festa SUD 54 (Studio 54 ainda como inspiração) no Terrazza e o Réveillon Bamboléo, no Sud Lisboa Hall, com os eternos Gipsy Kings como reis da festaJá na Figueira da Foz e no Estoril, o traje de gala poderá ser adequado à temática da passagem de ano. No Casino Estoril, os aparentemente eternos Boney M, os de Rivers of Babylon e Daddy cool, farão do século XXI um espaço muito anos 1970. No Casino da Figueira, 2019 chega em modo Loucos Anos 50. Assim é intitulado o espectáculo de cantoria e bailarico que animará os convivas antes de a Orquestra Santos Rosa dar o tom para a acção na pista de dança. Ou seja, será passagem de ano de gala e, ao mesmo tempo, passagem de ano nostálgica e passagem de ano tributo. Passagens de anos há muitas, como dizia o outro. Venha a nossa, qualquer que ela seja.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN