Relação de Coimbra confirma que dar duas bofetadas na ex-mulher não é violência doméstica
O Tribunal da Relação de Coimbra indeferiu o recurso interposto pelo Ministério Público para condenar por violência doméstica um homem que deu duas bofetadas na mulher com quem vivera maritalmente durante 14 anos, em Buarcos, Figueira da Foz. (...)

Relação de Coimbra confirma que dar duas bofetadas na ex-mulher não é violência doméstica
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-12-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Tribunal da Relação de Coimbra indeferiu o recurso interposto pelo Ministério Público para condenar por violência doméstica um homem que deu duas bofetadas na mulher com quem vivera maritalmente durante 14 anos, em Buarcos, Figueira da Foz.
TEXTO: Na primeira instância, o homem, engenheiro electrónico, foi condenado pelo crime de ofensa à integridade simples, na pena de 140 dias de multa, à razão diária de 7 euros, e ainda no pagamento à ex-mulher, professora na Universidade de Aveiro, da quantia de 500 euros a título de danos não patrimoniais. O Ministério Público (MP) recorreu, pedindo a condenação pelo crime de violência doméstica, que é punível com uma pena entre um e cinco anos de prisão, subindo o limite mínimo para dois anos se os factos se registarem no domicílio da vítima. As penas podem ainda subir até aos oito anos se dos maus tratos resultar ofensa à integridade física grave ou até dez se deles resultar a morte. No entanto, a Relação, em acórdão a que agência Lusa teve hoje acesso, indeferiu o recurso, alegando que, pelos factos provados, não se evidenciou que o arguido tivesse procurado agredir a ex-mulher “perante terceiros, de forma a sujeitá-la a vexame e humilhação pública”. “A conduta do arguido não se afigura, só por si, suficiente para representar a afectação do bem jurídico protegido pela norma que incrimina a violência doméstica, não consubstanciando uma ofensa à dignidade da pessoa humana, que coloque a ofendida numa situação humanamente degradante”, segundo o acórdão. Os factos remontam a 22 de Julho de 2009, quando o arguido foi à casa da ex-mulher para levar a filha de ambos para passar férias com uma tia em Itália, como havia sido combinado pelos dois. Na altura, gerou-se uma discussão entre ambos e, quando a mulher subia as escadas do prédio onde mora, o arguido abeirou-se dela e desferiu-lhe duas bofetadas na cara, uma agressão presenciada por uma pessoa que ali passava. Segundo o tribunal, o arguido agiu sempre de forma livre e voluntária, com “plena consciência de que não lhe era permitido atingir a integridade física da mãe dos seus filhos, submetendo-a a violência física”. No entanto, o tribunal considerou tratar-se apenas de um crime de ofensa à integridade física simples, uma vez que o comportamento do arguido não foi reiterado e a agressão em causa “não revela uma intensidade, ao nível do desvalor, da acção e do resultado, que seja suficiente para lesar o bem jurídico protegido – mediante ofensa da saúde psíquica, emocional ou moral, de modo incompatível com a dignidade da pessoa humana”. Segundo o Código Penal, como lembra o MP no seu recurso, incorre num crime de violência doméstica “quem, de modo reiterado ou não, infligir maus tratos físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais, ao cônjuge ou ex-cônjuge, a pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem o agente mantenha ou tenha mantido uma relação análoga à dos cônjuges, ainda que sem coabitação”.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Devemos proibir as crianças de ver os filmes onde a princesa é beijada por um desconhecido?
No 90.º aniversário do rato Mickey, olhamos para a evolução das princesas da Disney, uma das marcas mais rentáveis e bem-sucedidas do mundo de Walt Disney. (...)

Devemos proibir as crianças de ver os filmes onde a princesa é beijada por um desconhecido?
MINORIA(S): Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: No 90.º aniversário do rato Mickey, olhamos para a evolução das princesas da Disney, uma das marcas mais rentáveis e bem-sucedidas do mundo de Walt Disney.
TEXTO: Quando uma princesa é beijada por um desconhecido no meio de um bosque e isso lhe salva a vida, que mensagem estamos a passar às crianças?A história remonta à primeira longa-metragem de animação da Disney: A Branca de Neve e os Sete Anões. Depois de provar uma maçã envenenada pela vilã da história, a invejosa Rainha Má, Branca de Neve desmaia e assim fica até que o beijo do “verdadeiro amor” a salve. O beijo acaba por chegar, quando Branca de Neve está deitada na floresta. Chega sem que Branca de Neve conheça sequer o Príncipe. Keira Knightley, a actriz norte-americana que interpreta Elizabeth Swann na saga da Disney Piratas das Caraíbas, afirmou recentemente numa entrevista ao talk-show Ellen que tinha uma lista de filmes na sua “lista negra” e que não iria mostrar à filha de três anos. Entre eles estão Branca de Neve e Cinderela que, diz “esperou que um homem rico a viesse salvar”. “Não, isso é completamente errado. Salva-te a ti própria, obviamente!”, vincou. Os dois filmes inserem-se numa das primeiras fases das princesas Disney, que a investigadora Juliana Garabedian, da universidade norte-americana James Madison, insere na fase de “pré-transição”. No estudo “Papéis de Género na animação: Como é que a Disney está a redefinir a Princesa Moderna”, a investigadora divide a evolução das princesas em três fases. A primeira arranca precisamente com o lançamento de Branca de Neve e os Sete Anões em 1937 e vai até à Bela Adormecida, em 1959. Nestes filmes, que a investigadora Charlote Krolokke do Centro de Estudos Culturais da Universidade da Dinamarca do Sul define como a “primeira onda de feminismo”, o papel da mulher nas sociedades estava confinado às tarefas domésticas — um retrato óbvio em Cinderela, responsável por todas as tarefas domésticas da família da madrasta e duas irmãs e de Branca de Neve, que limpa a casa aos Sete Anões. “Estes papéis de género são afirmados nas acções das princesas e mostram um período em que a Disney seguia o que era expectável de uma sociedade predominantemente machista”, lê-se no estudo. Voltemos à Branca de Neve. “O que poderia ser a história de uma jovem na sua descoberta pessoal acaba por ser um retrato da mulher enquanto doméstica, que limpa a casa a sete homens, aceita um presente ‘sem autorização’, e precisa do beijo do Príncipe Encantado para sobreviver”, escreve Juliana Garabedian. Mónica Canário, coordenadora do movimento HeForShe em Portugal, uma campanha lançada em 2014 pela UN Women na defesa dos direitos humanos, defende que “proibir os filmes da Disney não é solução”. Num workshop dirigido a pais e mães com dúvidas sobre o papel destes filmes de animação na educação das crianças, Mónica Canário lembra que “é preciso ver, para que depois se possa contextualizar e fazer a distinção entre o certo e errado”, usando os filmes como “uma ferramenta de explicação de conceitos que não ensinados nas escolas”. “A Branca de Neve fazia sentido em 1937. Não faz agora. Mas não é por isso que os nossos filhos não a devem ver. A Disney é óptima para perceber a progressão dos direitos das mulheres. ” Nos anos 50, nota a coordenadora do HeForShe, a imagem da mulher em tarefas domésticas é continuamente reproduzida em anúncios publicitários e associada a utensílios de cozinha e produtos de limpeza. Foi a partir dessa data que as mulheres começaram a conquistar os seus primeiros direitos, como o direito ao voto. “A Pequena Sereia também é outro exemplo problemático. Abdicou daquilo que lhe permitia expressar-se. A voz”, continua Mónica Canário, que é também investigadora do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE, no Instituto Universitário de Lisboa. No filme, a sereia Ariel troca a voz por pernas para poder conhecer o príncipe Eric. No momento em que consente o sacrifício, questiona como irá conseguir falar com ele. A resposta? Terá de usar a beleza. Ariel, que no filme tem apenas 16 anos, aceita e deixa a família. No entanto, este filme já se insere num ciclo mais moderno: o de transição. Nesta categoria estão também A Bela e o Monstro (1991), Aladdin (1992), Pocahontas (1995), Mulan (1998), A Princesa e o Sapo (2009) e Entrelaçados (2010). “Enquanto a Bela escapa como norma como uma mulher que gosta de ler, dizer o que pensa e é corajosa o suficiente para ir salvar o pai, é reduzida a um papel de personagem dependente quando poderia ter sido a heroína”, escreve Garabedian. Ainda assim, já se começa a destacar alguma evolução no feminismo das personagens. “Sempre vi os filmes e isso não quer dizer que vá ser mais machista. Importa sim explicar às crianças. Por exemplo, no caso da Branca de Neve ou Bela Adormecida, deve explicar-se que não devemos beijar ninguém sem consentimento. E a partir daí explicar a palavra consentimento. ”A viragem é a Mulan. Apesar de arrancar com uma visita à casamenteira e ter a música I’ll Make a Man Out of You, que em português encontra uma versão mais soft com Vais lutar, ela “é a primeira personagem feminina da Disney que mata o vilão” e torna-se a heroína independente da história, aponta Mónica Canário. Disfarçando-se de homem para poder entrar no Exército no lugar do pai, Mulan torna-se no melhor soldado. Salva o pai (e a China) e prova que uma mulher é tão capaz quanto um homem. “Há também a Tiana [A Princesa e o Sapo], a primeira personagem afro-americana, que é empreendedora nata, onde a figura do pai está muito presente na vida dela. Nesta fase, há uma evolução também das personagens masculinas, que ganham mais emoções. Depois há o pormenor do pote das gorjetas que ela vai somando, mostrando que tu podes ser o que quiseres, desde que trabalhes para isso”, continua a investigadora. Também em Pocahontas vemos, tal como em Aladdin, um casamento arranjado. No entanto, a filha do chefe da tribo recusa o casamento e escolhe o seu próprio destino. E no final, opta por ficar com o seu povo e deixar partir John Smith. Mas a grande revolução chega com Brave (2012), uma história sobre uma princesa que recusa casar-se com alguém para se poder tornar rainha. Numa viagem guiada pela busca de independência, a protagonista torna-se na sua própria heroína e dispensa um amor-romântico, focando-se na sua relação com a família, especialmente com a mãe, adepta de tradições conservadoras. “A Merida, não tem o cabelo liso, não é loura, nem tem um físico de princesa-tipo, com uma cintura vespa, da largura de uma agulha. Tem o cabelo desgrenhado e reivindica que não vai casar com ninguém”, continua Mónica. Também em Frozen, um dos maiores recentes sucessos da Disney (foi o filme de animação mais lucrativo de sempre, superando os 1, 2 mil milhões de dólares só em bilheteiras em todo o mundo), a história do amor entre duas irmãs que se salvam uma à outra mostra o poder das novas princesas. Numa das cenas, Anna tem de escolher entre salvar-se com o beijo de Krostoff (sim, outra vez) e salvar a irmã. A jovem princesa escolhe salvar a irmã. Neste filme há ainda outra cena importante, onde a Disney faz uma espécie de mea culpa em relação aos seus anteriores casamentos entre príncipes e princesas, quando Elsa censura Anna por querer casar com alguém que acabou de conhecer. Apesar da evolução das personagens nas histórias ao longo dos anos, Mónica Canário não considera que a Disney seja progressista. “O que a Disney faz é acompanhar a sociedade, também o faz para não ficar para trás. Era o que iria acontecer se não houvesse representatividade. Mas não dá o passo à frente. ” Esse passo à frente seria, por exemplo, representar Elsa [Frozen] como uma personagem homossexual. “O facto de criares empatia, de dares uma casa ao problema, muitas vezes é a forma mais rápida de chegar as pessoas. As crianças precisam dessa representatividade. Precisam de saber que aquelas pessoas existem. Que não está errado e até aparece no filme. A representatividade é tudo. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas quando se devem começar a discutir estes assuntos? De acordo com a investigadora Christine Macintyre no livro Enhancing Learning through Play (Introduzir a aprendizagem através de brincadeiras), é aos cinco anos de idade que “as crianças transitam da fase de empatia com os personagens e começam eles próprios a personificar os protagonistas das histórias”. “Não vale a pena confundir a criança. Estas conversas têm sempre de ter em atenção a idade e a própria sensibilidade das crianças. Com isto podem introduzir-se conceitos chave que dificilmente vão ser falados nas escolas. Eu andei na escola pública e não me lembro destes temas serem falados. Não falamos de feminismo, machismo, abuso, assédio ou até de voto”, sustenta. “Isto não ser falado na escola é mau, é péssimo. Só a partir da faculdade é que se começa a falar. Os filmes podem e devem ser usados como ajuda aos pais. ”“A princesa moderna da Disney é independente, corajosa e heróica. As audiências contemporâneas precisam de ver personagens femininas fortes que conseguem estar ao lado dos personagens masculinos”, vinca Juliana Garabedian. “Ao fazê-lo, a Disney encoraja a ideia de igualdade entre géneros e ajuda a construir a aceitação universal de não deixar que sejamos definidos pela forma como nascemos, mas pelas nossas acções. ”
REFERÊNCIAS:
Amnistia alerta para mortes por violência doméstica em Portugal
A violência doméstica levou a "inúmeras mortes" em Portugal em 2010 e a investigação de casos de alegada tortura por parte de forças policiais procede "lentamente e com evidências de imparcialidade", denuncia o relatório da Amnistia Internacional (AI) que foi ontem divulgado. (...)

Amnistia alerta para mortes por violência doméstica em Portugal
MINORIA(S): Ciganos Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-05-13 | Jornal Público
SUMÁRIO: A violência doméstica levou a "inúmeras mortes" em Portugal em 2010 e a investigação de casos de alegada tortura por parte de forças policiais procede "lentamente e com evidências de imparcialidade", denuncia o relatório da Amnistia Internacional (AI) que foi ontem divulgado.
TEXTO: A organização lembra que Portugal se comprometeu "a aumentar os esforços para garantir investigações céleres, rigorosas e imparciais às suspeitas e/ou denúncias de maus tratos ou uso excessivo da força pelos corpos policiais", mas aponta "pelo menos" dois casos em que "houve muito pouco ou nenhum progresso". O primeiro caso referido é o de Leonor Cipriano, condenada pelo homicídio da filha. Em 2009 "o tribunal reconheceu que ela tinha sido torturada (. . . ) mas absolveu os três agentes policiais, argumentando que seria impossível identificar exactamente os responsáveis". O segundo caso é o de Virgolino Borges, que acusou três agentes policiais de o terem torturado num caso que se arrasta desde 2000. Relativamente à violência doméstica, a organização reconhece que houve uma ligeira diminuição das ocorrências, e refere a nova legislação para a protecção das vítimas de violência doméstica adoptada em Abril de 2010. Contudo, a AI destaca os 43 homicídios registados em 2010 pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) face a 29 em 2009. A AI denuncia ainda o caso do realojamento de 50 famílias ciganas na Quinta das Pedreiras, Lisboa, em casas que não "cumpriam os padrões mínimos de saúde, sanidade e segurança".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha homicídio violência tribunal mulheres doméstica
PAN quer reflexão sobre a violência doméstica
O Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN) defendeu hoje uma reflexão sobre a violência doméstica, considerando que a sociedade deveria preocupar-se com os “números invisíveis” do problema. (...)

PAN quer reflexão sobre a violência doméstica
MINORIA(S): Animais Pontuação: 3 Mulheres Pontuação: 16 | Sentimento 0.1
DATA: 2011-09-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN) defendeu hoje uma reflexão sobre a violência doméstica, considerando que a sociedade deveria preocupar-se com os “números invisíveis” do problema.
TEXTO: “Mais importante que falar dos números que são mais visíveis, é importante falar dos números invisíveis, do silêncio que há em cada lar, em cada casa, de uma violência camuflada que é, muitas vezes, difícil de comprovar e para a qual a sociedade deveria estar mais preocupada e não apenas com a fase final em que as vítimas são mortas”, declarou a candidata Laíz Vieira. Numa conferência de imprensa no Funchal, a candidata na lista liderada por Rui Almeida afirmou que os números da violência doméstica “são alarmantes”, referindo a este propósito as “dezenas de mulheres que morrem anualmente às mãos dos seus companheiros”. Para a responsável, as entidades públicas, mas também privadas, deveriam “fazer um trabalho interdisciplinar” para “travar este flagelo”. “É muito nobre que haja casas de abrigo para as vítimas, mas também não é aceitável que as vítimas tenham que sair de sua casa quando são elas as pessoas mais violentadas e desrespeitadas”, acrescentou Laiz Vieira. A candidata apelou às vítimas para que procurem “todo o tipo de ajuda possível para combater a situação” e aos seus familiares para que façam “tudo por tudo para não relativizar o problema”. “A violência doméstica é um fenómeno sobre o qual temos de continuar a reflectir e a sentirmo-nos escandalizados e indignados enquanto existir um só caso”, disse Laís Vieira, lembrando que o PAN é “um partido pela não-violência”. O PAN concorre pela primeira vez a um sufrágio regional, depois de se ter estreado, a 05 de junho, nas eleições legislativas nacionais. Nas últimas eleições regionais, em 2007, o PSD, com 64, 24 por cento de votação, elegeu 33 dos 47 deputados no Parlamento deputados, mantendo a maioria absoluta, obtida, pela primeira vez, em 1976.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN PSD
Amnistia Internacional descreve Twitter como "lugar tóxico para mulheres" jornalistas e políticas
Insultos e ameaças contra mulheres na política ou no jornalismo político ameaça a sua liberdade de expressão na Internet, afirma a Amnistia Internacional. (...)

Amnistia Internacional descreve Twitter como "lugar tóxico para mulheres" jornalistas e políticas
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Insultos e ameaças contra mulheres na política ou no jornalismo político ameaça a sua liberdade de expressão na Internet, afirma a Amnistia Internacional.
TEXTO: A cada 30 segundos, uma mulher na área da política ou do jornalismo a usar o Twitter recebe uma ameaça de morte, ou é alvo de insultos com base no género, orientação sexual, raça ou etnia. Os dados foram publicados esta terça-feira pela Amnistia Internacional, que este ano recrutou mais de 6500 voluntários para analisar milhares de comentários enviados durante 2017, naquela rede social, a mulheres activas na política ou a escrever sobre esta. E concluiu que o problema afecta todo o espectro político, da esquerda à direita. “Preferia bater-te na cara com um martelo gigante, sua racista que odeia brancos” ou “és burra, burra e burríssima, volta para Cuba!” são alguns dos exemplos de mensagens abusivas referidos no relatório. E entre as mulheres, as negras têm uma probabilidade 84% superior à média de ser alvo de comentários considerados “abusivos” (ofensas e ameaças de morte) ou “problemáticos” (por exemplo, com insultos assentes em estereótipos raciais ou de género). Para realizar esta análise, um conjunto de 1, 1 milhões de mensagens abusivas foi recolhido com a ajuda da Element AI, uma startup de inteligência artificial, que depois foram analisadas por uma larga equipa de voluntários. A conclusão é que 7% dos tweets enviados a um grupo de 778 mulheres que incluem deputadas britânicas, congressistas norte-americanas e jornalistas de várias publicações anglófonas (desde os jornais britânicos The Guardian e Daily Mail, ao site conservador norte-americano Breitbart) têm teor abusivo ou problemático. “Esta escala de abuso online não devia e não tem de existir em plataformas sociais”, lê-se nas conclusões do relatório da Amnistia Internacional, que defende que é importante que as pessoas não tenham medo de se “exprimir livremente na Internet” sem serem alvo de ameaças e ofensas. Para a organização, “estes dados são fundamentais para levar qualquer pessoa a procurar compreender e combater estes ataques e estes obstáculos aos direitos das mulheres na Internet”. Apesar de a Amnistia Original descrever o Twitter neste relatório como um "lugar tóxico para mulheres", a organização explica que o objectivo não é levar as pessoas a abandonar a plataforma, mas antes pressionar os responsáveis daquela rede social a investir mais em métodos de moderação de conteúdo. A existência deste problema no Twitter não é propriamente uma novidade. Tal como outras redes sociais, esta plataforma tem admitido nos últimos anos que tem tido um seu papel na difusão de teorias da conspiração, notícias falsas e mensagens ofensivas. Recentemente, a plataforma também actualizou as suas regras relativas a discursos de ódio, reconhecendo que há grupos que são alvo preferencial de ataques, incluindo “mulheres não brancas, lésbicas, bissexuais, pessoas trangénero, queer, intersexo, indivíduos assexuais, e comunidades historicamente marginalizadas”. Em reacção a este relatório, e numa resposta enviada ao PÚBLICO, o Twitter considera que a metodologia empregue pela Amnistia Internacional é pouco clara. “Sobre o relatório, quero sublinhar que o conceito de conteúdo ‘problemático’ requer mais discussão. É pouco claro. Não se percebe como definiram ou classificaram esse tipo de conteúdo”, declarou Vijayta Gadde, responsável do Twitter apra assuntos legais e políticos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Gadde, aumentar o nível de moderação do site é um assunto complexo, sendo fundamental assegurar a “liberdade de expressão. ” O Twitter nota ainda que as contas denunciadas ao site por enviarem mensagens abusivas correspondem a apenas 1% do total de contas do site e que a empresa está focada em utilizar tecnologia para as combater e remover. A inteligência artificial é vista como uma das soluções para a plataforma combater o abuso online. Em Março de 2018, por exemplo, o Twitter contratou vários investigadores para criar algoritmos que detectassem detectar casos de xenofobia, racismo ou, simplesmente, de linguagem imprópria. Para a Amnistia Internacional, a solução não pode ser meramente tecnológica e requer acção humana. “Testámos métodos de inteligência artificial para verificar o papel que pode ter na moderação de conteúdo – o nosso modelo tinha 50% de precisão, o que mostra como moderadores [humanos] treinados são essenciais para proteger o equilíbrio entre a luta contra o abuso online e a necessidade de evitar a censura”, explicou Milena Marin, uma das investigadoras da Amnistia Internacional, numa publicação no Twitter.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte humanos mulher ajuda racismo social medo género sexual mulheres racista abuso raça xenofobia
“O movimento #MeToo revelou como as mulheres foram educadas a acomodar o poder masculino em vez de o recusar”
Esta entrevista à Professora Emérita do Instituto de Estudos Avançados na Universidade de Princeton (EUA) contou com a colaboração de três investigadoras portuguesas, Ana Cristina Santos, Anne Cova e Filipa Lowndes Vicente, que têm trabalhado sobre questões de género (...)

“O movimento #MeToo revelou como as mulheres foram educadas a acomodar o poder masculino em vez de o recusar”
MINORIA(S): Africanos Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 16 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Esta entrevista à Professora Emérita do Instituto de Estudos Avançados na Universidade de Princeton (EUA) contou com a colaboração de três investigadoras portuguesas, Ana Cristina Santos, Anne Cova e Filipa Lowndes Vicente, que têm trabalhado sobre questões de género
TEXTO: Joan Wallach Scott (Brooklyn, 1941) é professora emérita do Instituto de Estudos Avançados na Universidade de Princeton, nos EUA. Historiadora de prestígio, nome incontornável na literatura sobre a história de França, tem uma carreira cheia de trabalhos fundamentais, desde Gender and the Politics of History (1988), que assinala agora 30 anos, até The Politics of the Veil (2007). Mais recentemente publicou Sex and Secularism (2017). Ana Cristina Santos — Recentemente, o feminismo beneficiou de uma atenção renovada em razão de iniciativas contra a violência sexual e denúncias no meio artístico e cultural. Como é que acha que os estudos de género e a política anti-sexista podem fortalecer o papel do feminismo, para lá das oscilações de atenção dos meios de comunicação social?Esta é uma questão importante, sobre o modo como a análise feminista pode contribuir para a compreensão da política do #MeToo. Já existe um conjunto de obras feministas que interrogam as culturas de dominação masculina — o que representam, como operam, que efeitos têm tido. Essa literatura tem sido usada em demasia de forma redutora pelos media. Por exemplo, apresentando as mulheres apenas como vítimas de sistemas patriarcais sem prestar atenção às maneiras complexas através das quais o poder opera na produção de sujeitos e na sua opressão. Uma das coisas que o movimento #MeToo revelou é como as mulheres foram educadas a colaborar nesses sistemas, acomodando o poder masculino em vez de o recusar. Também revelou as formas através das quais o poder funciona: o sexo e a oportunidade económica estão fortemente ligados. Na minha própria investigação, pensar a partir da psicanálise tem sido útil para compreender as confusas e desafiantes dinâmicas do sexo em todas as esferas da sociedade e ainda para explicar a resistência das sociedades democráticas a mudanças nas expectativas e regulações normativas associadas ao género. Enquanto especialistas nos estudos de género e enquanto militantes que promovem uma política anti-sexista, a questão que hoje nos desafia é como confrontar a crença, profundamente enraizada, de que as diferenças sexuais, tal como são tradicionalmente entendidas, são “naturais”. Que não podem ser interpretadas de modo distinto da forma como sempre o foram. Como é que a mudança psíquica é alcançada? Porque é que o movimento #MeToo apareceu agora? O que é que levou algumas mulheres finalmente a recusar compromissos com o poder masculino que no passado aceitaram (mesmo que relutantemente)? Qual é a relação entre mudança psíquica e transformação social e política? São estas as questões que nós temos de colocar enquanto pensadoras e activistas feministas. A. C. S — Um pouco por todo o mundo, a chamada “ideologia de género” tornou-se um foco privilegiado de animosidade para sectores conservadores. A academia e os movimentos sociais ainda não foram capazes de formular um contradiscurso para revelar o carácter alarmista, demagógico e cientificamente insustentável destes argumentos. O que pode ser feito?A campanha da “ideologia antigénero” liderada pelo Vaticano e pelos grupos evangélicos cristãos tem-se focado no “género” por uma boa razão: este implica uma crítica do sistema naturalizado que eles apoiam, que diz que as definições do que significa ser um homem ou uma mulher estão fixos ou na natureza ou por Deus. Também envolve uma crítica da assimetria ou desigualdade desse sistema e sugere que diferentes definições do sexo são possíveis, como os dados provenientes da História e da Antropologia demonstram claramente. Acho que nós já temos o contradiscurso: a insistência de que o género é uma grelha de inteligibilidade para diferenças de sexo e sexualidade dinâmica. O sociólogo francês Eric Fassin organizou uma “internacional do género” que visa defender a nossa posição e reforçá-la face a qualquer ataque. [Nota: trata-se de uma rede internacional de investigadores que visam enfrentar o problema da crescente perseguição aos estudos de género e da sexualidade um pouco por todo o mundo. Pense-se, por exemplo, no modo como um workshop sobre questões LGBT e asilo político foi “suspenso” na Universidade de Verona. ]Eu acho que os grupos antigénero estão a exprimir uma ansiedade profundamente sentida sobre o que significaria pensar de outro modo sobre as diferenças do sexo. Como argumento no meu novo livro, Sex and Secularism, esta ansiedade está associada a crenças de que a estabilidade política e as explicações da desigualdade no interior das sociedades são legitimadas por referências à imutabilidade do género. Estes grupos acreditam que se os sistemas de género existentes forem questionados a ordem social inteira colapsará. Como lidar com esse medo é um verdadeiro desafio que um argumento racional por si só não poderá resolver. Filipa Lowndes Vicente — Nos últimos 50 anos, sensivelmente, houve uma ampla produção de pensamento académico e filosófico crítico em torno dos temas do “género”. No entanto, a esfera pública parece alheada dos debates dentro da academia. Como ultrapassar o que parecem ser “linguagens diferentes”?Não creio que seja possível resolver o hiato entre a produção académica e a opinião pública e não apenas porque o nosso trabalho é demasiado complexo e subtil. Deve-se também ao facto de os actores políticos e os media operarem com binários simplistas enquanto nós os tentamos desconstruir. A forma de o nosso trabalho ser “traduzido” além da academia é através dos estudantes (sendo que nem todos se tornam académicos), que têm a capacidade de olhar para o mundo de formas diferentes, que nós lhes ensinamos, e explicar o que vêem em termos acessíveis a um público mais generalista. O nosso próprio trabalho não é sempre escrito em linguagem técnica e obscura. Podemos intervir em diálogos públicos, explicar o nosso trabalho em fóruns públicos e nas redes sociais. Penso que a ideia de “linguagens diferentes” é um bocado exagerada e assume um contraste nítido entre a academia e o público que não dá o devido valor à política. Dentro da academia, há visões políticas diferentes, tal como há no “espaço público”. Nós escrevemos para enriquecer e aprofundar visões políticas que promovam a igualdade e a justiça social e para auxiliar movimentos políticos que se dediquem a essas causas. F. L. V. — Por vezes, ignoramos que estamos a produzir discursos a partir de contextos muito diferentes. Nos EUA, o seu texto Gender: a useful category of historical analysis? é um dos mais descarregados artigos de sempre, e um dos que com mais frequência aparecem nas bibliografias recomendadas. Mas em Portugal o seu texto foi traduzido em 2008 por Ana Monteiro-Ferreira na antologia organizada por Ana I. Crespo, Ana. M. Ferreira, Anabela G. Couto, Isabel Cruz, Teresa Joaquim, Variações sobre sexo e género (Lisboa, Livros Horizonte) e aqueles professores, investigadores ou alunos que o usam são os mais diretamente associados aos estudos de género. Podemos ultrapassar estes desfasamentos?Eu abordei o problema da tradução (os diferentes contextos em que o nosso trabalho é produzido e aqueles a que este é dirigido) em Gender Studies and Translation Studies: ‘Entre Baguette — connecting the transdisciplines (com Luise von Flotow). Aí, argumento que não existe tal coisa como “tradução fiel”, que os conceitos como “género” são apropriados e adaptados para produzir diferentes usos em lugares diferentes. Não há nada a fazer quanto a isso — de facto. É uma coisa positiva e o conceito pode criar um sentido de participação internacional mesmo que lhe sejam dados diferentes usos. Anne Cova — Há dez anos, a American Historical Review publicou uma discussão dedicada ao seu famoso artigo jmencionado. Nesse fórum escreveu que “a ideia de género, em si própria, é uma questão cujas respostas são sempre dadas de forma parcelar através da investigação de académicos”. Qual a sua opinião sobre a importância de escrever uma história transnacional do género?Não tenho a certeza de compreender o que uma “história transnacional do género” seria. Significaria dizer que as situações são iguais por todo o mundo? Que mostram ser diferentes, quando comparadas? Qual a razão para este tipo de abordagem global? O meu ponto, no fórum e noutras peças que tenho escrito desde então, é que o género é uma questão sobre o enigma de como as diferenças de sexo estão a ser percepcionadas. É o modo através do qual sociedades e culturas providenciaram uma grelha de inteligibilidade para uma diferença que não tem um significado último, permanente. Por isso, a questão não deveria ser qual a experiência das mulheres nesta ou naquela cultura, neste ou naquele momento da história. Ao invés, a questão devia ser como estão a ser definidos os homens, as mulheres e as relações entre eles e elas e com que finalidades. Em que tipo de crises políticas as normas sobre género são questionadas, redefinidas, protegidas? Que perigos são antevistos na transgressão das identidades sexuais costumárias. Tudo isto pressupõe que o género não é sempre a mesma coisa, definitivamente não é sobre as identidades fixas que nós conhecemos (homem, mulher, masculinidade, feminilidade), antes é sobre algo que está permanentemente a ser construído, defendido, resistido, transgredido. As questões são como, porquê e de que formas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. AC: Uma década após a publicação do seu The Politics of the Veil nos EUA, este foi finalmente traduzido para francês em 2017. Porque acha que demorou tanto tempo a tradução, especialmente se tivermos em conta que a lei da proibição do véu é de 2004?Ainda que as editoras francesas me tenham dito, então, que já tinham demasiados livros sobre o véu, penso que a razão teve que ver com o facto de o livro ser muito crítico da lei. Eu escrevi sobre o racismo francês (um termo a que continuam a resistir os defensores da laicidade republicana contra o Islão) e ofereci uma leitura psicanalítica das razões para a proibição. Penso que isto foi simplesmente demasiado, mesmo para pessoas que concordavam com algumas coisas que escrevi. Concordo com um amigo francês que disse que, à época (2007-2008), o livro era demasiado radical para republicanos e conservadores mas não suficientemente radical para a extrema-esquerda. As coisas pioraram tanto em França (a islamofobia tão disseminada) que, em 2017, o livro não era nem tão radical nem tão “liberal” como então pareceu ser. Miguel Bandeira Jerónimo e José Pedro Monteiro — Juntamente com outros autores, demonstrou que a “questão do véu” tinha profundas imbricações coloniais, especialmente relacionadas com a Guerra da Argélia. De que modo o estudo das histórias imperiais e coloniais e respectivos legados nos pode ajudar a promover debates mais matizados, menos chauvinistas, acerca do lugar dos “outros” nas sociedades ocidentais?Como disse atrás, tenho sérias dúvidas acerca da nossa capacidade para influenciar debates públicos que transpiram um ódio visceral e racial em relação aos “outros”. Especialmente quando esses “outros” são antigos sujeitos coloniais, descritos durante séculos como menos civilizados que os seus congéneres brancos e europeus. Isto não quer dizer que se deva abandonar o estudo das histórias coloniais e imperiais, antes que a linha entre o nosso trabalho e a opinião pública não é directa. Tendo por base esse trabalho, podemos intervir em debates públicos, podemos apresentar as nossas conclusões à audiência mais vasta que conseguirmos, mas não podemos almejar produzir o tipo de mudança que me parece terem em mente. Aquilo em que o nosso trabalho nos pode ajudar é a identificar os pressupostos e fissuras dos argumentos políticos que queremos desafiar; pode aguçar o nosso pensamento político e daqueles que consideramos “aliados”. O trabalho académico pode facilitar o trabalho daqueles movimentos e actores que querem produzir uma mudança, mas não pode ele próprio produzir essa mudança. M. B. J. e J. P. M. — Por que achou que era importante escrever o seu mais recente livro Sex and Secularism, voltando a um tópico que tinha abordado antes? Deveu-se a uma indagação meramente intelectual ou também resultou das pressões do contexto histórico presente?Por que acham que é sobre um tópico que tinha abordado antes? Eu tinha um capítulo sobre a laicidade no Politics of the Veil mas era tudo, e era apenas sobre França e não sobre os Estados-nações ocidentais em geral. Este livro pretendeu abordar alguns temas hoje particularmente relevantes, especialmente a associação estabelecida entre secularismo e igualdade de género na polémica do “choque das civilizações”. Mas também tinha por objectivo explorar a história do emprego discursivo do secularismo na formação dos modernos Estados-nações ocidentais. Pretendeu ser uma síntese incisiva sobre os modos como a desigualdade de género marcaram presença na construção desses Estados-nações. É nesse sentido que pode ser visto como um exemplo do que Anne Cova chamou “história transnacional” — ainda que eu nunca usasse a expressão, na medida em que é um processo histórico geral que pretendo expor, não um estudo comparativo. Pretendia também criar uma teoria acerca das formas como (para me autocitar, do artigo de 1986) “o género constrói a política e a política constrói o género”.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Bill Cosby: A impunidade e as vítimas foram a tribunal e ganhou o MeToo?
O comediante, acusado por cerca de 60 mulheres de violação ao longo de décadas, é a primeira estrela condenada da era #MeToo. Mas ainda há muito por mudar, defendem os comentadores — e espaço para o regresso de Louis CK, Weinstein ou Charlie Rose. (...)

Bill Cosby: A impunidade e as vítimas foram a tribunal e ganhou o MeToo?
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O comediante, acusado por cerca de 60 mulheres de violação ao longo de décadas, é a primeira estrela condenada da era #MeToo. Mas ainda há muito por mudar, defendem os comentadores — e espaço para o regresso de Louis CK, Weinstein ou Charlie Rose.
TEXTO: Há um ano, o julgamento de Bill Cosby por crimes de agressão sexual foi anulado, porque o júri não conseguiu chegar a um veredicto. Quinta-feira, um novo júri condenou-o por drogar e violar Andrea Constand, uma de cerca de 60 mulheres que o acusam do mesmo comportamento. No meio destes dois julgamentos Harvey Weinstein caiu e centenas de vozes, mais ou menos célebres, ergueram-se contra o assédio e a violência sexual. Disse-se #MeToo e agora há quem veja uma (lenta) mudança a começar – mas também alguns acusados a regressar. A força do caso Harvey Weinstein e das investigações subsequentes veio em parte de Bill Cosby e tornou-se parte da desgraça de Bill Cosby. O clima em que o New York Times e a New Yorker contaram com os testemunhos de dezenas de actrizes e outras trabalhadoras para denunciar os alegados abusos e assédio cometidos pelo produtor foi forjado em anos de acusações cada vez mais audíveis contra homens poderosos dos media como Roger Ailes e Bill O’Reilly, da Fox, mas também contra o “pai da América” Bill Cosby, além da retórica e dos casos Trump com mulheres. A celebridade e os rostos reconhecíveis de Ashley Judd, Gwyneth Paltrow, Asia Argento, Uma Thurman ou Rose McGowan emprestaram o seu estatuto de membros de proa da sociedade de espectáculo à credibilidade das vítimas. Quem achava que este segundo julgamento de Cosby podia ser nova nulidade “obviamente avaliou mal o poder e a urgência do momento #MeToo”, escreve Lorraine Ali no Los Angeles Times. Com a condenação (ainda sem sentença e com direito a recurso) de Bill Cosby, assistimos à “morte lenta da impunidade das celebridades”, defende Megan Garber na revista Atlantic. É “um marco para a era #MeToo”, titula o Guardian. Mas “mesmo depois de Bill Cosby ter sido desmascarado, demorou quase meia década a levá-lo a prestar contas no tribunal”, escreve, prudente, Daniel d’Addario na revista Time. “É uma cronologia que sugere que as mudanças trazidas pelo movimento #MeToo estão só a começar. ” Nas mentalidades, na Justiça e na esfera pública — alguns dos acusados da vaga MeToo, como Charlie Rose, Louis CK, Mario Batali ou Matt Lauer estarão a planear um regresso mediático. Megan Garber lembra as declarações de um dos membros do júri do julgamento do ano passado, falando da vítima de Cosby Andrea Constand: “Vejamos bem: ela foi a casa dele com a barriga à mostra e incenso e sais de banho. Que raio?” Para a comentadora, “a cultura americana, que tanto fala de democratização, desenvolveu uma espantosa capacidade de arranjar desculpas para as suas celebridades”. Cita os nomes do costume – Woody Allen, Roman Polanski ou Donald Trump, entre outros. “Têm sido protegidos pela própria física da fama” e Cosby beneficiava não só dos prazos legais de prescrição de certos crimes, quando era acusado há décadas, mas também de “preconceitos sociais”, como “a desconfiança em relação às mulheres”. Agora, acredita a colunista, “o #MeToo tornou-se #WeToo” – de “eu também” a “nós também”. O júri de 2017 demorou 50 horas, ao longo de seis dias, a deliberar que nada conseguia deliberar. O júri deste mês reuniu-se durante 14 horas, ao longo de dois dias e os sete homens e cinco mulheres proferiram o seu veredicto – culpado de três crimes de agressão sexual agravada, incluindo penetração sem consentimento, penetração sem consentimento enquanto inconsciente e o uso de fármacos para evitar resistência. A pena pode ir até 30 anos de prisão. A condenação, cuja sentença pode demorar mais de um mês a chegar — fora o recurso que a equipa de Bill Cosby quer interpor —, é um resumo das principais linhas de acusação de tantas mulheres contra o “pai da América”, caído em desgraça ao longo das últimas décadas. Bill Cosby, hoje com 80 anos, era até há um punhado de anos uma das figuras tutelares de uma certa América, aquela que cresceu com ele na figura de Cliff Huxtable, o pai respeitável e bonacheirão do clã do Cosby Show, um integrador e normalizador televisivo dos negros na classe média norte-americana. É uma referência que Kanye West há tempos twittava em letras garrafais ser “inocente!” e cujo estatuto o comediante Hannibal Buress ajudou a abalar quando, num espectáculo em 2014, lembrou que Bill Cosby era há décadas acusado por várias mulheres de violação. O vídeo do espectáculo tornou-se viral e meses volvidos vários órgãos de informação voltavam a dar voz às queixosas – mulheres de diferentes idades e percursos que contavam que Cosby lhes sugeria algum tipo de conselho ou ajuda, lhes dava comprimidos supostamente para uma simples maleita mas que se revelavam ser barbitúricos e depois despertavam com a noção de que estavam a ser ou tinham sido violadas ou alvo de abuso sexual. Em 2015, 35 das suas acusadoras eram capa da revista New York e o número não parava de crescer. Estima-se que ronde as 60. Em Junho de 2017, uma dessas acusadoras, Andrea Constand, antiga funcionária do departamento de basquetebol da Universidade de Temple, que tinha Cosby como mentor, levou-o a tribunal. Não foi permitido a outras mulheres testemunhar contra Cosby. Desta vez, Heidi Thomas, Lise-Lotte Lublin, Chelan Lasha, Janice Baker-Kinney e a ex-modelo Janice Dickinson repetiram perante o júri uma história familiar: o mentor que ia ajudá-las, os sedativos que as deixaram sem capacidade de reacção, o abuso sexual. Da advogada da defesa de Cosby, Kathleen Bliss, ouviram críticas – para ela, o movimento MeToo, a partilha online de experiências de assédio por milhares de mulheres (e alguns homens) na esteira do caso Weinstein, é uma forma de “governo de multidão”, comparando-o à caça às bruxas do tempo de McCarthy. “Questionar quem acusa não é envergonhar as vítimas”, insistiu. Mas as provas passadas de que Cosby tinha admitido usar sedativos para ter sexo com mulheres, que lhes pagou pelo seu silêncio e os relatos sólidos de muitas delas, por um lado, e as tentativas frustradas do comediante de manter a sua agenda de espectáculos e o cancelamento de alguns contratos, por outro, indicavam que a sua defesa – que o sexo tinha sido consensual e que as mulheres que o acusavam queriam apenas ser famosas ou extorquir-lhe dinheiro – estava enfraquecida. “No veredicto de Cosby é a primeira vez que vemos um destes homens [poderosos] a ser responsabilizado criminalmente”, lembra Jessica Valenti, colunista do Guardian e autora de vários livros sobre feminismo e política. A léguas do estrelato de Cosby, já em Janeiro os EUA assistiram à condenação do responsável médico da equipa de ginástica feminina dos EUA, Lawrence G. Nassar, por abusos a mais de 150 raparigas – esse foi o primeiro julgamento a ter o enquadramento pós-MeToo. “[Agora, ] finalmente podemos dizer que se acredita nas mulheres, e não só no #MeToo, mas num tribunal onde estão sob juramento, onde testemunham com verdade, onde foram atacadas, onde foram caluniadas”, disse a advogada Gloria Allred à saída do tribunal de Montgomery County em Norristown, na Pennsylvania. Allred representa 33 alegadas vítimas de Bill Cosby, bem como várias mulheres que acusam Harvey Weinstein de assédio. De Hollywood vieram muitas reacções que clamam ter-se feito justiça. “Obrigada ao juiz e ao júri. Obrigada à sociedade por ter acordado”, escreveu a actriz Rose McGowan (que assinou nos últimos meses o primeiro programa de TV e o primeiro livro pós-MeToo). “Finalmente alguma justiça para as vítimas de Bill Cosby”, clamou a actriz Elizabeth Banks. “Mais importante do que tudo, não esqueci as muitas mulheres que agrediste e silenciaste com o teu poder. Já vais tarde!!!”, disse o comediante e apresentador Larry Wilmore. Também no Twitter, a editora Tina Brown resumiu: “Finalmente uma condenação. Finalmente justiça. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Foi a mesma Tina Brown, antiga editora da revista Talk de Harvey Weinstein, que há dias revelou que o entrevistador Charlie Rose ponderava fazer uma série sobre e com outros homens acusados de assédio sexual, em que os entrevistaria. Rose foi acusado de assédio por oito mulheres. O Los Angeles Times e a Hollywood Reporter indicam também que há relatos de que o comediante Louis CK, que admitiu ser um exibicionista sexual e ter assediado várias mulheres na esteira de uma investigação do New York Times, está, como o jornalista Matt Lauer e o chef Mario Batali, ambos alvo de acusações de assédio, a ponderar o seu regresso. Algumas publicações, como o site Vox, têm recordado que, apesar dos “marcos” como o da condenação de Cosby, o destino de muitos destes homens acusados de assédio e outros crimes de natureza sexual depois de perderem os seus empregos e as boas graças da opinião pública tende a ser um exílio dourado, dadas as suas posses, ou retiros de reabilitação como aquele em que Harvey Weinstein se tem refugiado. Quinta-feira, o New York Times perguntava se o momento MeToo influenciara ou não o veredicto de Bill Cosby. A conclusão parece ser que há, sim, uma conjugação de factores da qual o movimento Time’s Up e o poder das redes sociais que tornou possível o ímpeto #MeToo fazem parte. Mas também que o que é consentimento, por exemplo, apesar de muito discutido nos últimos meses, continua a ser um mar de águas turvas. Melissa M. Gomez, perita em júris e autora de Jury Trials Outside In, avisa que o momento endureceu as posições de quem opta pela credibilidade das vítimas e os cépticos que vêem no processo mais problemas do que benesses. “O #MeToo não apaga isso. As pessoas não vão mudar de ideias [quanto a esse tipo de polarização]”, alerta.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Panda Biggs cortou beijo homossexual na série infanto-juvenil Sailor Moon
Os cortes, que se alargaram às cenas em que se fala da identidade de género, motivaram queixa da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Entidade Reguladora da Comunicação Social decidiu arquivar o processo. (...)

Panda Biggs cortou beijo homossexual na série infanto-juvenil Sailor Moon
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 Homossexuais Pontuação: 13 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os cortes, que se alargaram às cenas em que se fala da identidade de género, motivaram queixa da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Entidade Reguladora da Comunicação Social decidiu arquivar o processo.
TEXTO: Há muito que a natureza da relação entre duas personagens numa série de animação infanto-juvenil alimentava discussões acesas nos fóruns da Internet: Haruka e Michiru, da série Sailor Moon Crystal, não são primas, como foram apresentadas nalgumas das versões internacionais da série japonesa, mas namoradas. E, apesar de se vestir como um rapaz, Haruka é, afinal, uma rapariga apaixonada por desporto e corridas de automóveis. Mas a sua aparência andrógina e a relação homossexual que mantém com Haruka são aparentemente de “apreensão complexa” para as crianças dos oito aos 14 anos a que a série se destina, pelo que o canal Panda Biggs decidiu cortar as cenas que abordavam as temáticas da homossexualidade e transgénero. A decisão motivou várias queixas à Entidade Reguladora Para a Comunicação Social (ERC), uma das quais apresentada pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), o organismo responsável pela promoção e defesa desses princípios. A ERC entendeu, porém, que não resulta do corte dessas cenas qualquer apelo à discriminação em razão da orientação sexual, pelo que determinou o arquivamento do processo. Na decisão publicada esta sexta-feira, a ERC refere-se a quatro participações contra o Panda Biggs relacionadas com a transmissão da série de animação japonesa Sailor Moon Crystal 3, além da queixa apresentada pela própria CIG. Todas aludiam aos cortes da cena em que as duas personagens femininas se beijavam, bem como de todas as demais cenas em que se aflorava a questão da identidade de género de uma das personagens, Haruka, uma rapariga com gostos, comportamento e aparência geralmente associados ao género masculino. No entender dos queixosos, tais cortes reforçam a “invisibilidade de expressões afectivas não-normativas”. E a alegação de que se tratou de um acto discriminatório com base na orientação sexual assentou na constatação de que as cenas de assédio sexual, em que uma personagem masculina força o beijo de uma rapariga, foram transmitidas “sem qualquer pudor sobre o público-alvo”. Decisões destas traduzem-se na “desvalorização social destas pessoas [não normativas], colocando-as numa situação de fragilidade e marginalidade social”, alegam os queixosos, um dos quais sustenta que o corte da cena em que uma personagem revela que é andrógina configura uma “discriminação de género” que vai contra o artigo 13. º da Constituição. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. À ERC, o Panda Biggs alegou que tais cenas eram desadequadas ao público-alvo e ao perfil do canal e que a sua retransmissão poderia “não ter o melhor acolhimento”. "Tratou-se tão-somente de uma apreciação de natureza editorial que nada tem a ver com censura”, alegou o canal, reivindicando o direito à liberdade editorial. A ERC reconhece que os artigos 37. º e 38. º da Constituição consagram tal liberdade e sustenta que não resulta de tais cortes qualquer incitamento ao ódio gerado pelo sexo e pela orientação sexual mas um silenciamento das temáticas homossexuais e transgénero de um programa infantil tidas como desadequadas ao público jovem. “Tal preocupação até é legítima, dado que se está perante um assunto fracturante na sociedade portuguesa”, concede a ERC. “É forçoso reconhecer que as temáticas da homossexualidade e do transgénero ainda não são, no contexto social actual, inteiramente aceites por toda a sociedade portuguesa, originando controvérsia. Pode admitir-se até que sejam de uma apreensão mais complexa para as crianças", reforçou a ERC, para concluir: "Não se põe, por isso, em causa a liberdade editorial do serviço de programas Panda Biggs, que tem a liberdade de escolher os programas que transmite. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social sexo igualdade género sexual homossexual rapariga assédio discriminação infantil
Com “o reforço do islamismo”, a libertação sexual em Marrocos faz-se às escondidas
Abdessamad Dialmy, sociólogo marroquino especialista em género e sexualidade, diz que, apesar de o islamismo proibir o sexo fora do casamento, as mulheres exploram a sua sexualidade num enorme secretismo e “sem romper o hímen”. (...)

Com “o reforço do islamismo”, a libertação sexual em Marrocos faz-se às escondidas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 Homossexuais Pontuação: 10 | Sentimento 0.5
DATA: 2019-06-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Abdessamad Dialmy, sociólogo marroquino especialista em género e sexualidade, diz que, apesar de o islamismo proibir o sexo fora do casamento, as mulheres exploram a sua sexualidade num enorme secretismo e “sem romper o hímen”.
TEXTO: Aos 23 anos, Abdessamad Dialmy leu um livro, apercebeu-se que a sua vida era um erro, e pediu o divórcio. “Foi o início da minha revolução”, garante. O desassossego foi ganhando espaço enquanto o marroquino procurava perceber por que razão a liberdade sexual não passava de um sonho, principalmente para as mulheres do seu país. Foi à procura de respostas que se tornou num dos pioneiros nos estudos da sociologia da sexualidade e na relação entre o islão, sexualidade e feminismo. Mais de 40 anos depois, Dialmy, professor na Universidade Mohammed V, sociólogo e feminista, investiga, agora, como a sexualidade em Marrocos se divide entre a liberalização das práticas e a rigidez das normas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave sexual mulheres sexualidade feminista divórcio feminismo
Mesmo com Globos pela igualdade, Hollywood continua a ser um substantivo masculino
Novo estudo mostra que dos 250 filmes mais rentáveis de 2014 só 7% tiveram uma realizadora. Atrás das câmaras nos EUA, entre guionistas ou produtores, menos de um quinto são mulheres. (...)

Mesmo com Globos pela igualdade, Hollywood continua a ser um substantivo masculino
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 14 | Sentimento 0.1
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20150501175228/http://www.publico.pt/1682028
SUMÁRIO: Novo estudo mostra que dos 250 filmes mais rentáveis de 2014 só 7% tiveram uma realizadora. Atrás das câmaras nos EUA, entre guionistas ou produtores, menos de um quinto são mulheres.
TEXTO: No ano passado foi preciso esperar por Março e pelos Óscares para sermos confrontados com os números da (des)igualdade de género em Hollywood. 2015 começa mais cedo a debater o tema, tanto com uma cerimónia dos Globos de Ouro com um pendor feminista como por mais um estudo que mostra que o tecto de celulóide continua rijo: só 7% dos filmes mais rentáveis nos EUA foram realizados por uma mulher. O estudo Celluloid Ceiling do Center for the Study of Women in Television and Film (CSWTF) – baptizado como trocadilho com a expressão “glass ceiling” que simboliza os limites à ascenção na carreira para as mulheres – foca-se nos trabalhadores por trás das câmaras. Ou seja, é menos sobre actrizes e protagonistas e mais sobre realizadoras, decisoras, produtoras, argumentistas, montadoras, directoras de fotografia e outras profissionais de bastidores, que estão e continuam a estar em minoria. No ano passado, só 17% das pessoas em tais lugares eram mulheres. Um sinal muito negativo em termos de oportunidades de trabalho e de empregabilidade no feminino no sector cinematográfico e no principal mercado de cinema do mundo. Este ano há apenas um filme realizado por uma mulher entre os favoritos para os Óscares – tem nome de mulher e chama-se Selma, realizado por Ava DuVernay e centrado na vida de Martin Luther King, e saiu com um único prémio dos Globos de domingo, a melhor canção, estando nomeado nas principais categorias. No ano passado apenas um filme realizado por uma mulher entrou na lista dos cem mais rentáveis nos EUA – Invencível, o filme de Angelina Jolie sobre a odisseia de Louis Zamperini. E em 86 anos só uma mulher recebeu o Óscar de Melhor Realização – Kathryn Bigelow por Estado de Guerra. Tal como só uma mulher tem uma Palma de Ouro de Cannes - Jane Campion. Domingo à noite, as mulheres do cinema e da TV contra-atacaram e não foi só com a piada de Amy Poehler sobre o humorista Bill Cosby, acusado de violação por mais de 15 mulheres e que se nega a comentar o assunto aos jornalistas mas brinca com ele nos espectáculos de stand-up. Nem com a sequela à brincadeira com um dos mais poderosos agentes da indústria na cerimónia de 2014 sobre Gravidade, “um filme sobre George Clooney preferir flutuar sozinho pelo espaço e morrer do que passar mais um minuto com uma mulher da sua idade”: “George Clooney casou-se este ano com Amal Almuddin. Amal é advogada de direitos humanos e trabalhou no caso Enron; foi conselheira de Kofi Annan sobre a Síria; e foi seleccionada para uma comissão da ONU de três pessoas para investigar as regras das violações de guerra na Faixa de Gaza. Por isso esta noite… o marido dela recebe um prémio carreira”, atirou Tina Fey para uma plateia e para o casal visado que se ria. Fey e Poehler serviram de anfitriãs numa noite em que os temas da igualdade estiveram presentes no discurso de vitória da série Transparent sobre um pai de família que revela ser transgénero e nas afirmações de Amy Adams ou Maggie Gyllenhaal. "O que é novo [hoje] é a nova riqueza de papéis para mulheres de verdade na televisão e no cinema. É o que acho revolucionário e evolucionário e é o que me excita”, disse esta última, protagonista de The Honourable Woman. Gina Rodriguez, vencedora de TV por Jane the Virgin, evocou a sua ascendência latina, Joanne Froggatt de Downton Abbey fez da sua a voz das sobreviventes de violação e Lily Tomlin inverteu a ordem dos factores e desfez-se finalmente “daquele estereótipo negativo de que os homens simplesmente não têm piada”. Ecoando assim várias chamadas de atenção feitas na temporada de prémios de 2014 por actrizes como Cate Blanchett ou Lena Dunham, mas também dados concretos. Como aqueles revelados pelos hackers da Sony e que mostrava várias disparidades nos ordenados ou ascensão nas carreiras de homens e mulheres da indústria – em Golpada Americana, Jennifer Lawrence e Amy Adams receberam menos do que os seus co-protagonistas Christian Bale, Bradley Cooper e Jeremy Renner. Ou que os dois actores que protagonizam o filme The Huntsman recebem salários desiguais – Chris Hemsworth, o Thor do cinema, recebeu mais dez milhões de dólares do que a oscarizada Charlize Theron. Ao saber disso há semanas, noticiou o New York Post, Theron exigiu e terá agora recebido mais dez milhões para equilibrar a balança de pagamento. Esta terça-feira há ainda mais argumentos a reforçar as reivindicações femininas. Os números agora revelados mostram que apesar de ter havido uma melhoria do cenário para as mulheres que trabalham atrás da câmara em Hollywood, essa mudança não é significativa. De acordo com um novo estudo anual do CSWTF da Universidade Estadual de San Diego, dos 250 filmes mais rentáveis nas bilheteiras norte-americanas em 2014 só 7% tiveram mulheres realizadoras – mais 1% do que em 2013. “Não é uma mexida nem numa nem noutra direcção”, comenta à Reuters Martha Lauzen, autora do estudo há vários anos. “O género do realizador é incrivelmente importante porque a investigação mostra que está relacionado com a percentagem de personagens femininas que vemos no ecrã. ”
REFERÊNCIAS: