Nobel da Paz 2003 pede libertação dos presos políticos iranianos
A nova Prémio Nobel da Paz, a jurista iraniana Shirin Ebadi, pediu hoje a libertação dos prisioneiros políticos no Irão e manifestou-se contra qualquer intervenção estrangeira no seu país de origem. Falando na primeira conferência de imprensa desde que foi galardoada pelo Comité Nobel norueguês, realizada em Paris, Ebadi fez questão de sublinhar que o Islão "não é incompatível com os direitos do Homem". "Actualmente, inúmeras pessoas que lutam pela liberdade e pela democracia estão na prisão. Desejo a sua libertação o mais rapidamente possível", afirmou aos jornalistas. "O combate pelos direitos humanos está a se... (etc.)

Nobel da Paz 2003 pede libertação dos presos políticos iranianos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2003-10-10 | Jornal Público
TEXTO: A nova Prémio Nobel da Paz, a jurista iraniana Shirin Ebadi, pediu hoje a libertação dos prisioneiros políticos no Irão e manifestou-se contra qualquer intervenção estrangeira no seu país de origem. Falando na primeira conferência de imprensa desde que foi galardoada pelo Comité Nobel norueguês, realizada em Paris, Ebadi fez questão de sublinhar que o Islão "não é incompatível com os direitos do Homem". "Actualmente, inúmeras pessoas que lutam pela liberdade e pela democracia estão na prisão. Desejo a sua libertação o mais rapidamente possível", afirmou aos jornalistas. "O combate pelos direitos humanos está a ser travado no Irão pelo povo iraniano e estamos contra qualquer intervenção do estrangeiro no nosso país", acrescentou, numa referência às crescentes ameaças dos EUA contra o país. "O tempo das revoluções e das guerras acabou", insistiu. A jurista Ebadi foi a primeira mulher a ascender à magistratura iraniana ainda antes da Revolução Islâmica de 1979 disse que a distinção da Academia Nobel é "uma grande honra". "Este dia não me pertence a mim, mas a todos os militantes dos direitos humanos em todo o mundo", disse. Ebadi, a primeira mulher muçulmana a ser distinguida com o Nobel da Paz, sublinhou que esta distinção dará um novo alento à sua causa, dando-lhe novas forças "para continuar a lutar neste combate por um mundo melhor". Na sua primeira conferência de imprensa, Ebadi não esqueceu a actual situação dos direitos humanos nos territórios palestinianos, "porque vive-se aí uma situação diferente dos restantes países muçulmanos". "É uma guerra desigual de pedras contra um Exército tão poderoso" como o israelita, sublinhou. Afastada pela Revolução Islâmica da magistratura, a jurista destaca-se actualmente como activista dos direitos humanos, em particular na defesa das mulheres e crianças, e pelo ensino na Universidade de Teerão. Ebadi, que já tinha sido distinguida com o prémio Rafto em 2001, também relativo à defesa dos direitos humanos, dissera já este ano que no Irão "existe uma luta contínua pela democracia e pelos direitos humanos" e que "o povo iraniano quer reformar o seu sistema político e legal", por isso, vai continuar a lutar "contra as poucas pessoas que detêm o poder". O galardão atribuído a Ebadi será, por isso, de difícil digestão para a teocracia iraniana, numa altura em que o país enfrenta pressões crescentes da comunidade internacional devido à intenção de Teerão de desenvolver um programa nuclear. A facção mais conservadora do regime iraniano terá ficado especialmente incomodada com a distinção atribuída à Ebadi, já que o Comité Nobel a destacou como um exemplo de coexistência entre a religião islâmica e os direitos humanos. Shirin Ebadi é a décima primeira mulher a receber o galardão desde que este foi instituído, em 1901. O prémio consiste na distinção internacional, mas também na atribuição de dez milhões de coroas suecas (cerca de 1, 4 milhões de euros). Ebadi foi distinguida de entre um lote de 165 candidatos, entre os quais figuravam o Papa João Paulo II e o antigo Presidente checo Vaclav Havel. Analistas citados pela Reuters afirmam que a comissão terá escolhido a magistrada iraniana em função de uma aposta na mudança, ao invés do reconhecimento do trabalho de uma vida, como seria o caso da atribuição ao Papa, que era por muitos tido como o vencedor mais provável.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Portugal perdeu "uma grande mulher"
Maria de Lourdes Pintasilgo morreu esta madrugada, aos 74 anos, depois de uma vida dedicada à política e às questões sociais do país. Recordada por várias personalidades, a grandiosidade e generosidade são as qualidades mais destacadas naquela que foi a primeira e única mulher portuguesa a assumir a chefia do Governo. Numa nota emitida pela Presidência da República, Jorge Sampaio diz ter sido "com muito pesar e tristeza" que recebeu a notícia da morte de Maria de Lourdes Pintasilgo, "de quem era velho amigo e admirador", apresentando "sentidas condolências aos que lhe eram próximos". "Perdemos assim uma cidadã no... (etc.)

Portugal perdeu "uma grande mulher"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.8
DATA: 2004-07-10 | Jornal Público
TEXTO: Maria de Lourdes Pintasilgo morreu esta madrugada, aos 74 anos, depois de uma vida dedicada à política e às questões sociais do país. Recordada por várias personalidades, a grandiosidade e generosidade são as qualidades mais destacadas naquela que foi a primeira e única mulher portuguesa a assumir a chefia do Governo. Numa nota emitida pela Presidência da República, Jorge Sampaio diz ter sido "com muito pesar e tristeza" que recebeu a notícia da morte de Maria de Lourdes Pintasilgo, "de quem era velho amigo e admirador", apresentando "sentidas condolências aos que lhe eram próximos". "Perdemos assim uma cidadã notável, que serviu Portugal nos mais altos cargos e funções, sempre com grande talento, dedicação inexcedível e numa atitude permanentemente inovadora", afirma o Presidente da República, que na última semana tinha recebido a antiga primeira-ministra no âmbito das consultas efectuadas sobre a crise política criada com a demissão do primeiro-ministro. Jorge Sampaio destaca ainda que Pintasilgo, "como primeira- ministra, embaixadora, deputada ao Parlamento Europeu, marcou a sua acção por um sentido ímpar de serviço à comunidade, pela energia contagiante e mobilizadora, pela originalidade de propostas e métodos de trabalho, que sacudiam as rotinas do pensamento e os hábitos instalados, pela militância nas grandes causas emancipadoras e solidárias do nosso tempo". O primeiro-ministro cessante, Durão Barroso, manifestou também o seu pesar pela morte de Pintasilgo, sublinhando que "é-lhe devido o maior tributo por ter dado o seu melhor ao serviço do país, com a sua sensibilidade e com as suas convicções", numa mensagem enviada à família da primeira mulher que chefiou um governo em Portugal. Também o líder do PSD, Pedro Santana Lopes, recordou Pintasilgo e manifestou o "pesar pelo desaparecimento de uma grande senhora, uma senhora com causas, convicções, sempre preocupada com os mais desfavorecidos", que "esteve sempre com elegância" ao longo da sua vida pública, e que o "respeito pelos adversários" era a sua imagem de marca. "Serviu sempre o nosso país de modo distinto. Portugal fica a perder", concluiu o líder dos social-democratas. Já o secretário-geral do CDS-PP, Luís Pedro Mota Soares, afirmou que, "independentemente das diferenças ideológicas, o CDS-PP mostra o seu respeito pela convicção com que Maria de Lourdes Pintasilgo dirigiu toda a sua vida, dedicada às causas em que acreditava, e no serviço que colocou à causa pública". Ferro Rodrigues deixou igualmente o seu lamento pela morte de Pintasilgo, a quem se referiu como "uma grande portuguesa". "Maria de Lourdes Pintasilgo manteve, até ao fim da sua vida, uma intervenção cívica sempre guiada por um princípio básico: uma luta intransigente e incessante pelos desfavorecidos", sublinhou. Por sua vez, o secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, salientou que Portugal "perdeu uma mulher combativa, uma democrata e uma lutadora". "Foi com grande tristeza que soube da morte de Maria de Lourdes Pintasilgo, uma amiga com quem estive nos governos provisórios e lado a lado em muitos acontecimentos da nossa vida política e colectiva", disse Carvalhas. O Bloco de Esquerda lembrou a "generosidade" e o "mérito" de Pintasilgo, com Francisco Louçã a frisar que a ex-primeira-ministra foi uma pessoa que "marcou muito Portugal". "Foi a primeira mulher com grande destaque na democracia, e com grande mérito", afirmou o dirigente bloquista, concluindo que "a sua generosidade tem de ser uma marca na política portuguesa". A deputada e líder do Partido Ecologista "Os Verdes", Isabel de Castro, recordou Pintasilgo como "uma mulher singular e, seguramente, na sua marca diferenciada, um património da esquerda", "uma mulher de causas que se bateu apaixonadamente em defesa da igualdade entre mulheres e homens e por uma justiça social e ambiental no mundo". Maria de Lourdes Pintasilgo morreu esta madrugada na sua casa, em Lisboa, vítima de paragem cardíaca. O seu corpo encontra-se em câmara ardente a partir das 16h00 na Basílica da Estrela, em Lisboa. O funeral realiza-se amanhã, às 14h30, no Cemitério dos Prazeres. Hoje será celebrada uma primeira missa às 21h30.
REFERÊNCIAS:
Partidos PSD PCP
Pobreza ameaça um quinto da população portuguesa
Dois em cada dez portugueses encontram-se em "risco de pobreza", segundo o relatório da agência Habitat das Nações Unidas. A União Europeia (UE) tem registado um aumento "dramático" da pobreza nos últimos30 anos devido à imutabilidade do desemprego. Portugal ocupa o segundo lugar, atrás da Grécia, no que toca aos níveis de pobreza da antiga UE a 15. O relatório aponta que cerca de 22 por cento da população portuguesa "está em risco de pobreza ou vive com um salário que equivale a menos de 60 por cento da média nacional de rendimentos". Estes números não são surpresa para as instituições que trabalham com a popula... (etc.)

Pobreza ameaça um quinto da população portuguesa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2004-09-14 | Jornal Público
TEXTO: Dois em cada dez portugueses encontram-se em "risco de pobreza", segundo o relatório da agência Habitat das Nações Unidas. A União Europeia (UE) tem registado um aumento "dramático" da pobreza nos últimos30 anos devido à imutabilidade do desemprego. Portugal ocupa o segundo lugar, atrás da Grécia, no que toca aos níveis de pobreza da antiga UE a 15. O relatório aponta que cerca de 22 por cento da população portuguesa "está em risco de pobreza ou vive com um salário que equivale a menos de 60 por cento da média nacional de rendimentos". Estes números não são surpresa para as instituições que trabalham com a população carenciada, como a Cais. Segundo Vanda Ramalho, daquela associação, deve-se até quadruplicar as estatísticas sobre a pobreza e os sem-abrigo, pois existem sempre franjas da população que escapam aos estudos. "Estes dados devem funcionar como um alerta de que a pobreza também existe nas grandes potências mundiais e não se trata de um fenómeno exclusivo do terceiro mundo", acrescenta. No estudo que avalia o estado das cidades, a Suécia é o país que regista o valor mais baixo de pobreza populacional, com 8 por cento. Os países que têm um índice de pobreza acima da média dos 15 da UE (15 por cento) são o Reino Unido, a Itália, a Irlanda e a Espanha. O número de sem-abrigo na Europa Ocidental tem aumentado e atinge actualmente o valor mais elevado em 50 anos. Calcula-se que mais de três milhões de pessoas vivem nas ruas das principais cidades europeias (ver texto nestas páginas). Os sem-abrigo portugueses são referidos no relatório das Nações Unidas, que aponta para a existência de 1300 pessoas a viverem nas ruas de Lisboa, em 2000, e 1000 no Porto. No entanto, Vanda Ramalho defende que o número é mais elevado, reflectindo-se, por exemplo, no número de cartões dos refeitórios da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para os sem-abrigo, que são 1700. As causas apontadas pelas Nações Unidas para esta situação são os problemas económicos, a violência doméstica e o HIV/sida. A violência doméstica está também relacionada com o aumento dos sem abrigo, pois só no Reino Unido 63 por cento das mulheres que vivem na rua fugiram de situações de violência doméstica. A associação Cais concorda com estas conclusões, pois a maioria das pessoas que vivem na rua sofreram rupturas afectivas e sentem-se excluídas da sociedade. O relatório refere ainda que é impossível a comparação internacional nesta área, devido às diversas definições nacionais de sem abrigo. A solução para estes problemas passa por "repensar a política social e torná-la uma prioridade em todas as áreas" conclui Vanda Ramalho.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Três cosmonautas vindos da ISS regressaram à Terra
A cápsula espacial que transportava três cosmonautas - dois russos e um malaio - aterrou esta manhã nas estepes do Cazaquistão quando eram 11h43 (hora de Lisboa), anunciou o Centro russo de controlo dos voos espaciais. Sheikh Muszaphar Shukor descolou a 10 de Outubro do cosmódromo russo de Baikonur, no Cazaquistão, a bordo de um foguetão Soiuz, em direcção à Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês), com a americana Peggy Whitson, a primeira mulher a comandar a ISS, e o russo Iuri Malentchenko. Os seus dois colegas russos, de regresso à Terra, Fedor Iurtchikhin e Oleg Kotov, chegados em Abril à ISS, p... (etc.)

Três cosmonautas vindos da ISS regressaram à Terra
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2007-10-21 | Jornal Público
TEXTO: A cápsula espacial que transportava três cosmonautas - dois russos e um malaio - aterrou esta manhã nas estepes do Cazaquistão quando eram 11h43 (hora de Lisboa), anunciou o Centro russo de controlo dos voos espaciais. Sheikh Muszaphar Shukor descolou a 10 de Outubro do cosmódromo russo de Baikonur, no Cazaquistão, a bordo de um foguetão Soiuz, em direcção à Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês), com a americana Peggy Whitson, a primeira mulher a comandar a ISS, e o russo Iuri Malentchenko. Os seus dois colegas russos, de regresso à Terra, Fedor Iurtchikhin e Oleg Kotov, chegados em Abril à ISS, passaram seis meses no espaço.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher
Bloco de Esquerda discorda de considerações "conservadoras" de Cavaco Silva
O Bloco de Esquerda (BE) afirmou que a nova lei do divórcio, hoje promulgada pelo Presidente da República, é "um passo em frente na modernização do país" e considerou "conservadora" a posição de Cavaco Silva sobre o assunto. "Não acompanhamos de modo nenhum as considerações do Presidente da República, que são conservadoras", afirmou a deputada Helena Pinto. O Presidente da República promulgou hoje a nova Lei do Divórcio, deixando, contudo, um alerta para as situações de "profunda injustiça" a que este regime jurídico irá conduzir na prática, sobretudo para os mais vulneráveis. "O novo regime jurídico do divórcio ... (etc.)

Bloco de Esquerda discorda de considerações "conservadoras" de Cavaco Silva
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2008-10-21 | Jornal Público
TEXTO: O Bloco de Esquerda (BE) afirmou que a nova lei do divórcio, hoje promulgada pelo Presidente da República, é "um passo em frente na modernização do país" e considerou "conservadora" a posição de Cavaco Silva sobre o assunto. "Não acompanhamos de modo nenhum as considerações do Presidente da República, que são conservadoras", afirmou a deputada Helena Pinto. O Presidente da República promulgou hoje a nova Lei do Divórcio, deixando, contudo, um alerta para as situações de "profunda injustiça" a que este regime jurídico irá conduzir na prática, sobretudo para os mais vulneráveis. "O novo regime jurídico do divórcio irá conduzir na prática a situações de profunda injustiça, sobretudo para aqueles que se encontram em posição de maior vulnerabilidade, ou seja, como é mais frequente, as mulheres de mais fracos recursos e os filhos menores", lê-se numa mensagem de Cavaco Silva, publicada no site da Presidência da República. Para a deputada bloquista, os argumentos que o Presidente da República apresenta na sua mensagem são, "no essencial, os argumentos que utilizou no veto político da lei" e "baseiam-se na sua visão pessoal do casamento e do regime do divórcio". "A lei teve umas clarificações na Assembleia da República, que o BE votou favoravelmente, e que foram aprovadas por uma larga maioria de deputados, o que corresponde à realidade do país", acrescentou Helena Pinto. "A lei é um avanço, é uma lei progressista, vem eliminar o apuramento da culpa em situações de divórcio, que não deixa ninguém desprotegido e que alarga a protecção da parte possivelmente mais vulnerável numa situação de divórcio", disse. Sobre a violência doméstica, um dos argumentos utilizados por Cavaco Silva quando vetou a lei, Helena Pinto considerou que esta "é um crime público, que nos últimos meses tem assumido proporções verdadeiramente preocupantes, e deve ser tratado como tal", não tendo "nada a ver com o divórcio". "Estamos [BE] convencidos que a lei é um passo em frente na modernização do nosso país e que certamente terá um efeito positivo", concluiu a bloquista.
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
Cavaco promulga nova lei do divórcio mas alerta para "profunda injustiça" que irá desencadear
O Presidente da República promulgou hoje a nova Lei do Divórcio, deixando, contudo, um alerta para as situações de "profunda injustiça" a que este regime jurídico irá conduzir na prática, sobretudo para os mais vulneráveis. "O novo regime jurídico do divórcio irá conduzir na prática a situações de profunda injustiça, sobretudo para aqueles que se encontram em posição de maior vulnerabilidade, ou seja, como é mais frequente, as mulheres de mais fracos recursos e os filhos menores", lê-se numa mensagem de Cavaco Silva, publicada no 'site' da Presidência da República. Por outro lado, refere ainda o comunicado, o dip... (etc.)

Cavaco promulga nova lei do divórcio mas alerta para "profunda injustiça" que irá desencadear
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.109
DATA: 2008-10-21 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20081021130903/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1346904
TEXTO: O Presidente da República promulgou hoje a nova Lei do Divórcio, deixando, contudo, um alerta para as situações de "profunda injustiça" a que este regime jurídico irá conduzir na prática, sobretudo para os mais vulneráveis. "O novo regime jurídico do divórcio irá conduzir na prática a situações de profunda injustiça, sobretudo para aqueles que se encontram em posição de maior vulnerabilidade, ou seja, como é mais frequente, as mulheres de mais fracos recursos e os filhos menores", lê-se numa mensagem de Cavaco Silva, publicada no 'site' da Presidência da República. Por outro lado, refere ainda o comunicado, o diploma, incluindo as alterações introduzidas depois do veto presidencial de 20 de Agosto à primeira versão da lei, "padece de graves deficiências técnico-jurídicas". Além disso, "recorre a conceitos indeterminados que suscitam fundadas dúvidas interpretativas, dificultando a sua aplicação pelos tribunais e, pior ainda, aprofundando situações de tensão e conflito na sociedade portuguesa". Na nota que dá conta da promulgação do decreto da Assembleia da República aprovado "por uma expressiva maioria" dos deputados, Cavaco Silva diz ser "essencial" prestar alguns esclarecimentos aos portugueses. Assim, o chefe de Estado começa por destacar que a emissão deste comunicado não tem por base "qualquer concepção ideológica sobre o casamento", tal como não foi esse o fundamento do seu veto, a 20 de Agosto, à primeira versão do diploma, "ao contrário do que alguns sectores pretenderam fazer crer junto da opinião pública". "Situações de profunda injustiça" que irão afectar, sobretudo, os que se encontram em posição de maior vulnerabilidade, nomeadamente as mulheres de mais fracos recursos e os filhos menores. Esta convicção do chefe de Estado, é referido, decorre da análise a que procedeu junto da "realidade de vida e conjugal do nosso país". Além disso, trata-se de uma convicção "partilhada por diversos operadores judiciários, com realce para a Associação Sindical dos Juízes Portugueses, por juristas altamente qualificados no âmbito do Direito da Família e por entidades como a Associação Portuguesa das Mulheres Juristas". No comunicado, o chefe de Estado destaca ainda o facto de não ter sido dado "o relevo que merecia" ao parecer emitido a 15 de Setembro pela Associação das Mulheres Juristas, e que foi enviado a todos os grupos parlamentares, onde é manifestada "apreensão" pelo novo regime jurídico do divórcio e afirmado que "o mesmo "assenta numa realidade social ficcionada" de "uma sociedade com igualdade de facto entre homens e mulheres". O parecer, recorda o chefe de Estado, alerta ainda que o diploma não acautela "os direitos das mulheres vítimas de violência doméstica e das que realizaram, durante a constância do casamento, o trabalho doméstico e o cuidado das crianças". "Na verdade, num tempo em que se torna necessário promover a efectiva igualdade entre homens e mulheres e em que é premente intensificar o combate à violência doméstica, o novo regime jurídico do divórcio não só poderá afectar seriamente a consecução desses objectivos como poderá ter efeitos extremamente nefastos para a situação dos menores", sublinha o chefe de Estado. A "profunda injustiça da lei", continua Cavaco silva, "emerge igualmente no caso de o casamento ter sido celebrado no regime da comunhão geral de bens, podendo o cônjuge que não provocou o divórcio ser, na partilha, duramente prejudicado em termos patrimoniais". Além disso, tudo indicia que o novo diploma fará aumentar a litigiosidade, ao invés de a diminuir, transferindo-a para uma fase subsequente à dissolução do diploma "com consequências especialmente gravosas para as diversas partes envolvidas, designadamente para as que cumpriram os deveres conjugais e para as que se encontram numa posição mais fragilizada, incluindo os filhos menores". "Em face do exposto - e à semelhança do que sucedeu noutras situações, com realce para os efeitos do regime da responsabilidade extracontratual do Estado -, o Presidente da República considera ter o imperativo de assinalar aos agentes políticos e aos cidadãos os potenciais efeitos negativos do presente diploma, em particular as profundas injustiças para as mulheres a que pode dar lugar", refere o penúltimo ponto do comunicado de Cavaco Silva. Por isso, conclui o chefe de Estado, a aplicação prática do diploma deve "ser acompanhada de perto pelo legislador, com o maior sentido de responsabilidade e a devida atenção à realidade do País". O presidente da República tinha até hoje para decidir se voltava a vetar o novo regime jurídico do divórcio ou se o promulgava. A segunda versão do diploma foi aprovada a 17 de Setembro na Assembleia da República, com poucas alterações face à versão vetada por Cavaco Silva em Agosto.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens lei violência social igualdade mulheres doméstica casamento deveres divórcio
Juízes dizem que lei do divórcio não tem em conta realidade e vai criar problemas
A Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) reiterou que a lei do divórcio, hoje promulgada pelo Presidente da República, está desfasada da realidade social, salientando que vai criar mais problemas do que soluções para os conflitos matrimoniais. O presidente desta associação sindical, António Martins, tem por diversas vezes criticado esta nova lei porque na sua perspectiva vai fazer aumentar os processos nos tribunais e fazer crescer os casos de litígio, além de não prestar uma efectiva protecção à parte mais vulnerável, podendo originar casos de injustiça. "É lamentável que se façam leis que não têm em ... (etc.)

Juízes dizem que lei do divórcio não tem em conta realidade e vai criar problemas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2008-10-22 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20081022012652/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1346960
TEXTO: A Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) reiterou que a lei do divórcio, hoje promulgada pelo Presidente da República, está desfasada da realidade social, salientando que vai criar mais problemas do que soluções para os conflitos matrimoniais. O presidente desta associação sindical, António Martins, tem por diversas vezes criticado esta nova lei porque na sua perspectiva vai fazer aumentar os processos nos tribunais e fazer crescer os casos de litígio, além de não prestar uma efectiva protecção à parte mais vulnerável, podendo originar casos de injustiça. "É lamentável que se façam leis que não têm em conta a realidade social, económica e cultural das pessoas e dos cidadãos a quem elas são dirigidas", disse, acrescentando que "uma lei destina-se a resolver conflitos sociais, não serve para criar um homem novo". Para António Martins, esta lei "é fruto de outro divórcio", entre quem faz as leis e a sociedade. O dirigente garante ainda que quando a lei entrar em vigor "os juízes, de modo responsável nos tribunais, procurarão aplicá-la o melhor que souberem e puderem, sendo certo que uma má lei dificilmente dá boas soluções". "A mensagem do Presidente da República é muito importante para que os cidadãos tenham consciência de que esta legislação agora aprovada e que foi promulgada pode trazer greves problemas à sociedade portuguesa", reagiu, considerando que os aspectos referidos por Cavaco Silva "estão muito bem analisados". "O que é importante é que o legislador esteja atento, como diz o senhor Presidente da República, à sua aplicação prática na sociedade", concluiu. Mulheres juristas preocupadasA Associação Portuguesa de Mulheres Juristas (APMJ) está também preocupada com o diploma que diz vir prejudicar as mulheres e crianças mais desprotegidas socialmente. "A aplicação do novo regime vai ter custos sociais elevados sobretudo para mulheres e crianças e, dentro das mulheres, para aquelas que têm mais fracos recursos económicos e aquelas que são ou foram vítimas de violência doméstica", disse Teresa Féria, presidente da APMJ. A responsável destacou ainda que os tribunais "vão ter de tomar em consideração as condições em que as pessoas vivem", quando aplicarem, na prática, a nova lei. "Ainda que não valorando sobre o aspecto da culpa, [os tribunais] não podem deixar de ter em conta os factos concretos em que se materializa a situação de ruptura, nomeadamente os factos em que se materializa a violência doméstica, que é uma ofensa ao direito ao respeito", salientou. Teresa Féria destaca que as alterações da nova Lei do Divórcio vão ser debatidas a partir de quinta-feira no Porto, numa conferência sobre os mais variados temas relacionados com esta lei que contará com a presença de especialistas, na qual estarão presentes duas juristas, uma francesa e outra espanhola, que vão comparar a reforma portuguesa com as leis francesa e espanhola. O Presidente da República promulgou hoje a nova Lei do Divórcio, deixando, contudo, um alerta para as situações de "profunda injustiça" a que este regime jurídico irá conduzir na prática, sobretudo para os mais vulneráveis, "como é mais frequente, as mulheres de mais fracos recursos e os filhos menores". Cavaco Silva salienta que esta é uma convicção "partilhada por diversos operadores judiciários, com realce para a Associação Sindical dos Juízes Portugueses, por juristas altamente qualificados no âmbito do Direito da Família e por entidades como a Associação Portuguesa das Mulheres Juristas". O Chefe de Estado defende que a aplicação prática do diploma deve "ser acompanhada de perto pelo legislador, com o maior sentido de responsabilidade e a devida atenção à realidade do País".
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei violência homem social mulheres doméstica divórcio
Tribunal de Cabul reduz para 20 anos de prisão pena de jornalista condenado à morte por blasfémia
Sayed Perwiz Kambakhsh, jornalista afegão de 23 anos acusado de blasfémia contra o islão e condenado à morte em Janeiro último, teve hoje a sua pena reduzida para 20 anos de prisão por decisão de um tribunal de Cabul. Kambakhsh foi condenado à pena capital a 22 de Janeiro pelo tribunal de Mazar-i-Sharif, na província de Balkh, no Norte do país, sem que o seu advogado estivesse presente e sem direito a preparar a sua defesa. A condenação à morte do jovem jornalista suscitou protestos em quase todo o mundo e pedidos de anulação da sentença enviados ao Presidente afegão, Hamid Karzai. O tribunal anunciou hoje que re... (etc.)

Tribunal de Cabul reduz para 20 anos de prisão pena de jornalista condenado à morte por blasfémia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2008-10-22 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20081022012652/http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1346970
TEXTO: Sayed Perwiz Kambakhsh, jornalista afegão de 23 anos acusado de blasfémia contra o islão e condenado à morte em Janeiro último, teve hoje a sua pena reduzida para 20 anos de prisão por decisão de um tribunal de Cabul. Kambakhsh foi condenado à pena capital a 22 de Janeiro pelo tribunal de Mazar-i-Sharif, na província de Balkh, no Norte do país, sem que o seu advogado estivesse presente e sem direito a preparar a sua defesa. A condenação à morte do jovem jornalista suscitou protestos em quase todo o mundo e pedidos de anulação da sentença enviados ao Presidente afegão, Hamid Karzai. O tribunal anunciou hoje que reviu a condenação à morte pronunciada em primeira instância pelo tribunal de Balkh e que condena “por unanimidade Perwiz Kambakhsh a 20 anos de prisão por ter insultado o islão e o profeta Maomé”. O jornalista, que se encontra detido há quase um ano, já rejeitou a redução da pena. “A condenação é injusta e vamos continuar com o processo. Apelo ao Presidente Karzai que acabe com a corrupção do sistema judiciário, que viola os direitos dos cidadãos”, disse o advogado de Kambakhsh, Mohammad Afzal Shormach Nuristani. A defesa pode agora recorrer da condenação para o Supremo Tribunal afegão, que deverá analisar o processo que levou à sentença e o julgamento do caso. O jornalista, membro da minoria xiita, trabalhava para o “Jahan-e Naw” (“Novo Mundo”), uma publicação local, enquanto estava na universidade. Segundo o tribunal, Kambakhsh foi detido a 27 de Outubro passado por ter distribuído entre os seus colegas da Universidade de Mazar-i-Sharif um artigo “insultando o islão e interpretando de forma errónea versos do Corão”. Nesse artigo, o jovem terá feito uma interpretação do islão, nomeadamente quanto aos direitos das mulheres, que acabou por ser recuperada por um blogue iraniano. Em tribunal, cinco dos professores do jovem ouvidos no âmbito do processo afirmaram que Kambakhsh colocava frequentemente nas aulas “questões insultuosas para o islão”. “Ele perturbava o bom funcionamento das aulas com questões brutais e hostis sobre o islão”, indicou um dos professores. Kambakhsh declarou-se inocente desde a abertura do processo, a 18 de Maio, negando qualquer acto de blasfémia. “Sou muçulmano e nunca me permitiria a insultar a minha religião”, defendeu sempre. O jornalista alegou ter sido forçado a assinar os documentos de acusação e ter sido torturado. “Não tive outra escolha que a de aceitar as acusações”, acusou ainda. A Constituição afegã adoptada após a queda do regime taliban, no final de 2001, tem como base a lei islâmica (sharia), que determina a pena de morte para actos considerados contrários ao islão.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte lei tribunal prisão minoria mulheres
O clube dos poetas negros
Quase nenhum dos participantes tem livros publicados. Cruzaram-se no Djidiu, iniciativa do áudio blogue Afrolis, espécie de Clube dos Poetas Negros. É lá que dizem a sua poesia ou contam as suas histórias partilhando esta ideia do que é ser afrodescendente ou negro em Lisboa. (...)

O clube dos poetas negros
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 Africanos Pontuação: 6 | Sentimento -0.16
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quase nenhum dos participantes tem livros publicados. Cruzaram-se no Djidiu, iniciativa do áudio blogue Afrolis, espécie de Clube dos Poetas Negros. É lá que dizem a sua poesia ou contam as suas histórias partilhando esta ideia do que é ser afrodescendente ou negro em Lisboa.
TEXTO: Março, último domingo do mês. É um dos raros dias de Sol nesta Primavera tardia em Lisboa. Às mesas do bar Tabernáculo (R. de São Paulo) espalham-se jovens e uma ou outra criança. Começam, pouco a pouco, a tomar a palavra para dizer poesia, dirigem-se ao centro da sala, olham para uma “plateia” cheia. São homens e mulheres negros que se juntam para um momento de partilha. Trazem sobretudo material seu: poemas, histórias, apontamentos. Uma dupla de irmãos, Carlos Graça e Carla Lima, faz uma performance: ele diz a sua poesia, ela canta gospel. Encenam a intervenção. Os temas para este dia são macro e micro agressões. A maioria não fugirá da questão e relata experiências em nome próprio. Carla Fernandes, Alexandra Santos, Santiago d’Almeida, Michel Té (Te Abi Pequêrs Té), Luz Gomes, Apolo de Carvalho são alguns dos que trouxeram as suas palavras. O ambiente é descontraído, de festa mas também de intimidade. Junho, último domingo do mês. Estamos na Graça, em Lisboa, na Casa Mocambo, um espaço que serve cozinha africana e tem recebido algumas iniciativas culturais. As mesas são ocupadas por jovens, alguns estiveram na sessão de Março, mas há várias caras novas, e há também pessoas mais velhas. O tema é a família, e vão contar-se histórias de trabalhadoras domésticas ou falar de relações amorosas. Histórias, de novo, em nome próprio ou com personagens inventadas – que podiam muito bem ser reais. Quase nenhum dos participantes tem livros publicados. A maioria nem sequer tem um blogue ou site onde disponibiliza as suas criações porque geralmente aparecem e dizem poemas escritos de propósito para o evento, poemas que estavam na gaveta, poemas que estavam encravados. Entre Março e Junho aconteceram mais duas sessões de Djidiu “a herança do ouvido”, uma iniciativa da Afrolis – Associação Cultural onde participam poetas e contadores de histórias, ou quem esteja interessado na produção literária africana e negra. É sempre no último domingo do mês. As pessoas inscrevem-se e intervêm. Objectivo? “Produzir conhecimento sobre a própria realidade”. Porque a “experiência de vida como africanos / negros no mundo tem particularidades”, define-se. O Djidiu surgiu depois do Ciclo de Cinema Documental África Positiva, organizado na Casa do Brasil, em Fevereiro, também pela Rádio Afrolis. Criado em Abril de 2014, como aúdio blogue, o AfroLis – que agora é também uma associação – tem por missão divulgar a diversidade dos afrolisboetas. A passagem para o convívio surgiu porque queriam conhecer quem estava a aderir ao blogue, conta Carla Fernandes, a mentora. “Quisemos dar mais e receber mais”, explica, sentada numa das mesas do Tabernáculo, o local onde aconteceu o primeiro Djidiu público. A Afrolis reflecte sobre as experiências dos afrodescendentes negros em Lisboa através da rádio porque “é bom ter exemplos positivos, que é o que o audioblogue faz”. Mas “também é bom que as pessoas reflictam sobre a sua própria realidade”, e que o façam através da poesia, de contos ou de reflexões mais próximas da crónica explica. E é isso que se pretende também com o Djidiu. O tema do primeiro Djidiu, as micro e as macro agressões, surgiu para dar uma visão global da experiência dos afrodescendentes negros em Lisboa e reflectir de forma mais profunda sobre situações de racismo. Seguiu-se o tema da revolução e liberdade em Abril. Em Maio a temática foi África, Junho foi dedicado à família – segue-se o tema da beleza em Julho. O que são micro e macro-agressões? Um exemplo de micro agressão é pedirem para tocar e agarrar nos cabelos afro, diz Carla Fernandes, “porque o que está por detrás disso é a possibilidade de tocar no outro”, fazer dele “mais ou menos um objecto”, explica. “É uma coisa mínima. Mas quando se nega esse acesso, a micro-agressão pode-se tornar uma macro-agressão: ‘porque é que não me deixas tocar? Agora vou tocar mesmo, se não deixares vou-te bater…’”A apoiar esta actividade está o Grupo de Teatro do Oprimido, por isso todas as quartas-feiras o grupo reúne-se para trabalhar textos e discutir os temas. Levam autores como Noémia de Sousa ou Toni Morrison, autores de língua portuguesa e não só. Todas as sessões para o público são em locais diferentes porque a ideia é “mostrar que [nós, os negros] podemos ocupar os espaços em Lisboa”, diz. “Por isso é bom girar para nos habituarmos a entrar e a frequentar esses espaços”. “Basta/ Quero mudar de casta/ Quero sair desta vida que se arrasta/ posso? Posso agora dizer-te algo, patrão?” O poema Basta é da mentora da Afrolis. Falando agora como poeta, Carla Fernandes sente que a “a experiência de opressão”, “um historial manchado por humilhação, por exclusão” une este Clube dos Poetas Negros. “É uma experiência sofrida de formas diferentes, mas quando a trazemos à tona toda a gente tem um sentimento mais ou menos semelhante. Nem sequer são precisas muitas palavras. ”Jornalista e tradutora Carla Fernandes nota que a maioria do que é levado para “o palco” do Djidiu são “experiências transformadas em texto”, “não necessariamente poemas”. Há quem venha da spoken word, do hip-hop, da tradução, do contar histórias – tudo maneiras diferentes do que pode ser poesia. Basta/ Quero mudar de casta/ Quero sair desta vida que se arrasta/ Posso? Posso agora dizer-te algo, patrão?A pouco e pouco, o Djidiu começa então a formar-se como um Clube de Poetas Negros, que aliás era a ideia inicial do projecto. Apesar de haver pessoas brancas, o público é predominantemente formado por pessoas negras. “Há uma identificação com as temáticas e com os textos. Acho que faz sentido sublinhar o ‘poeta negro’ – se bem que sinto que há dificuldade em algumas pessoas em fazê-lo, sublinham mais a parte do africano. Mas o negro é a experiência comum a todos nós. ”Afrodescendente? Negro? Que palavra usar? Nenhuma é consensual, nota, mas afrodescendente “é um termo que tem potencial para ser uma categoria política, até porque é um termo que sai de um historial de luta”, acredita. O importante é “ir para a frente” com as questões comuns, acredita. A verdade é que é muito difícil separar a imigração da questão racial, pelo menos em Portugal. Há muita gente que nasceu em Portugal e é tratada como imigrante, há muita gente que se identifica mais com o país de origem dos pais, há muita gente que rejeita ser visto de outra forma que não como português. A nível institucional, a associação deparou-se com grandes dificuldades em concorrer a apoios, justamente por não se afirmar como uma entidade dedicada a imigrantes – não cabe, assim, nos apoios à imigração. Nascida em Angola, veio para Portugal com a família quando tinha dois anos. Criou o formato de áudio blogue com entrevistas semanais para dar voz aos entrevistados, fazê-los falar na primeira pessoa: “porque tantas vezes não falamos por nós”. Ela sente que se está a criar uma rede que não tem só a ver com a poesia, “o que é bom porque temos que criar espaços seguros para falar da experiência”. “Isso é muito importante, às vezes as pessoas não valorizam. No primeiro Djidiu uma pessoa verbalizou isso: ‘tenho este poema há anos, já fui a várias sessões de poesia, e nunca consegui ler porque pensava sempre que não era o lugar. Mas aqui sinto-me à vontade’, disse. E eu pensei: ‘é para isto que o Djidiu serve, para criar espaços seguros para nos podermos exprimir à vontade. ”De facto, não há assim tantos espaços como este. Carla Fernandes sentiu que era mesmo necessário criar algo assim. “Vai-se a muitos eventos, até sobre racismo, e quem fala mais são as pessoas brancas. E tu pensas: ‘então as pessoas que mais sofrem não estão a verbalizar porquê?’ Faltam espaços seguros. Não é para separar. É por uma questão de empatia, de olhar de reconhecimento. ”Entre 2008 e 2013, Carla Fernandes esteve ausente de Portugal, na Alemanha, e quando regressou notou uma grande diferença na “afirmação da identidade negra” em Lisboa, por isso acredita que este tipo de espaços e iniciativas estão e vão continuar a aumentar. “Ainda está numa fase inicial mas tem muito potencial”. As redes sociais ajudam muito: “Quanto mais acesso há ao que se passa noutros territórios, como Itália, Espanha, etc, onde há grupos que pensam nestas questões, mais se cria a noção de que não estamos sozinhos”. O Djidiu aproximou ainda mais os irmãos Carlos, 29 anos, e Carla, 27 anos. Nunca tinham trabalhado juntos. Carlos começou a escrever rap ainda novo com um MC da zona onde vivia, em Moscavide, Lisboa. As letras tinham sobretudo a ver com os problemas do bairro, com a realidade à sua volta. Por razões profissionais, parou. Os dois sempre ouviram música de Cabo Verde, de onde são os pais, e foram sendo influenciados pela mãe que escrevia. Carlos não podia ser rapper, mas podia dizer poesia falada. É um dos fundadores do Djidiu. Quando o Djidiu começou, convidou a irmã a juntar a sua voz de gospel. Tem muito a ver com criarmos o nosso espaço. Muitas vezes o pessoal pergunta: "por que é que os media não nos representam", ou X e Y não nos representam? Se temos capacidade, então vamos criar instrumentosCarla Lima: “Sempre fomos muito ligados à terra [Cabo Verde], era muito presente em casa. E sempre tivemos aquela coisa ‘de onde a gente vem’. Comecei a despertar para a questão de ser negra, africana, por causa do meu irmão. Via-o a estudar, interessei-me também e percebi que fazia sentido. Participei no primeiro Djidiu com a parte de música que adaptámos aos temas. Nunca tinha trabalhado com o meu irmão. Adorei, foi das melhores coisas que fiz até hoje”. Depois dessa estreia, Carla começou a escrever a sua poesia. “Escrevo sempre algo relacionado com África e com ser negra. O Carlos tem muito mais conhecimento da história. Eu uso sempre a minha experiência porque assim tenho a certeza do que estou a falar”. A ideia da Afrolis era dar voz a quem escreve e partilhar “o que é isto de ser negro, o que é ser africano”, lembra Carlos Graça. Vai vendo as pessoas que frequentam o Djidiu a consciencializarem-se de algumas situações de discriminação e a reagirem quando antes não o faziam. Nas sessões das quartas-feiras conversam muito sobre os temas, por vezes fazem os poemas em conjunto. Querem um ambiente familiar. No tema de Julho, os padrões de beleza, a ideia é questionar se “enquanto negros, realmente temos que seguir um padrão de beleza europeu”, por exemplo. “Sempre achei que era feia”, diz Carla Lima. “Tenho a pele clara, tenho os olhos claros, tenho o meu cabelo claro e mesmo assim nunca me senti integrada nos padrões de beleza”, confessa. O Djidiu surgiu da necessidade de criar “hábitos de pronunciação”, define. “Fala-se muito de África e dos negros mas não de nós para nós”. Carlos: “Tem muito a ver com criarmos o nosso espaço. Muitas vezes o pessoal pergunta: ‘por que é que os media não nos representam’, ou X e Y não nos representam? Se temos capacidade, então vamos criar instrumentos. Por isso o ciclo de África positiva: se os media nunca dão uma imagem positiva de África, então vamos mostrar nós para contrabalançar um bocado. ” Carla Lima completa: “Não é fantasiar, nem romantizar, mas mostrar o que há para as pessoas pensarem pela própria cabeça”. Está em pleno período de exames, e recebe-nos entre estudos e exercícios na Faculdade de Arquitectura, da Universidade de Lisboa. O edifício fica no alto da Ajuda, com vista para o rio Tejo. Lá dentro, imensos estiradores e desenhos, jovens conversam e mexem em cartolinas e papel. Porque a morte gosta de ausentar ânimas e de causar sofrimentos/ Porque Nelson Mandela gosta do sossego e da liberdadeEle anda sempre com a fotografia da mãe ao peito. Michel Té, ou Te Abi Pequers Té (na foto de capa), é um dos que está ligado à fundação do projecto Djidiu – natural da Guiné-Bissau, foi ele quem sugeriu o nome, por causa do enquadramento que estavam a querer dar à plataforma. “Djidiu é crioulo da Guiné-Bissau. O papel do Djidiu é muito vasto. Queríamos intervir e encontrei na palavra a identidade do grupo: Djidiu não é aquele que se limita a contar a história. É poeta, historiador, visionário político, contador de histórias, recita versos. Músico, filósofo. Escolhemos intervir pela oralidade, que é a função do Djidiu, uma biblioteca falante. Também queremos transmitir pela oralidade aquilo que sabemos”. Este poeta não data as coisas que faz, “porque posso pensar hoje e escrever daqui a um ano”, então nesse caso, de que data é o poema? Já participou em um par de antologias. Também não nos quer dizer a idade: “Quando é que eu nasci? Quando saí da barriga da minha mãe? Quando estava no útero? É necessário para a sociedade mas é uma banalidade. ” Para ele, “uma das coisas mais brilhantes no Djidiu é a partilha”. Se Nelson Mandela morresse era bem feito é um dos seus poemas. "Porque a morte gosta de ausentar ânimas e de causar sofrimentos Porque Nelson Mandela gosta do sossego e da liberdade Porque Deus é perfeito e conhece todo o nosso gosto Se Nelson Mandela morresse era bem feito Porque um BOM-GRANDE LIDER merece toda eternidade"Apolo de Carvalho tem 26 anos e trabalha em restauração. Está a tirar uma pós-graduação em Estudos Estratégicos e de Segurança e tem a ambição de fazer doutoramento em breve. Chegou à Afrolis através de Herberto Smith, o fotógrafo do aúdioblogue. Acordai, povos e nações/ Despertai e recordai as vossas grandes civilizações/ Mergulhai nús, livres e sem temorEscreve em português e em crioulo de Cabo Verde, onde nasceu. “Renascimento africano” é um dos seus poemas: “Acordai, povos e nações/ Despertai e recordai as vossas grandes civilizações/ Mergulhai nús, livres e sem temor (…) Parti em safari de introspecção tal iniciante destemido”. Viveu em França, e foi lá e em Portugal que descobriu a “África de Cabo Verde”. Escreve sobre a sua história e a necessidade de regressar às origens, e cada vez mais prefere dizer os seus poemas em crioulo cabo-verdiano. “Não existia um espaço como este, que convoca todos os afrodescendentes e africanos a contarem a sua história”, comenta sobre o Djidiu. “É importante porque acaba por ser um momento de vivência”, diz. É “como se fosse aquela grande árvore em África em que os anciões e os novos iam falando”, compara. “Acabamos por levar coisas e discutir temas polémicos – o mais interessante é que conseguimos desconstruir as nossas ideias de forma super harmoniosa. ”Os encontros têm ainda outra função: dar argumentos para a defesa de situações de racismo. “Arma-nos intelectualmente, dá-nos armas para saber como responder e defender-nos de situações dessas”, comenta. Depois há muita gente que não é africana que vai ao Djidiu, ouve e passa a palavra. “O mal de muitas associações africanas é que se fecham entre os membros, temos a mesma luta mas parece que estamos acantonados e esquartejados. A Afrolis procura trazer pessoas. ”“(…) Nesta linguagem de partes, que parte as pessoas em bocados, metades, pedaços, como se as pessoas não fossem por inteiro. Eu também sou negra porque há parte de mim que vem da negritude, sou parte de algo que me querem fazer acreditar não ter lugar em mim”. Escreveu poemas como este, Partes, que leu no Djidiu. E apesar de regularmente o fazer, é uma descrente na sua obra, nem se se considera poeta. Identifica-se mais com a palavra de intervenção, com a poesia falada, com slam. Alexandra Santos, Alexa, 29 anos, tem um blogue Queering Style, “espaço queer feminista que tem como missão a visibilidade de discursos e de identidades variadas” – começou como um blogue e é hoje um site e “sonho tornado realidade”. Tem várias colaborações e vertentes, da escrita à imagem. Nesta linguagem de partes, que parte as pessoas em bocados, metades, pedaços, como se as pessoas não fossem por inteiro. Eu também sou negra porque há parte de mim que vem da negritudeNo Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa, perto do local onde trabalha, Alexa diz-nos que o Djidiu é um espaço “muito importante” para fazer sentir às pessoas que podem ter voz, que há outras pessoas como elas, para sentirem “que não estão sozinhas no mundo”. Especialmente por ter um lado “genuíno” e despretensioso que faz quem lá vai sentir-se à vontade para levar algo que está menos acabado ou que não considera “bem poesia”, por exemplo. A afirmação de um Clube dos Poetas Negros importa, defende. Sobretudo porque “dentro da nossa negritude – a minha mais clara do que outras – temos dificuldade em encontrar pessoas com quem nos identificamos, pelo menos no meu espaço a maioria das pessoas não são negras”. Dá o exemplo do cabelo, e do facto de “ser assediada” muitas vezes por causa ele, uma experiência que é facilmente e rapidamente partilhável e compreendida por quem passa por ela. Falar sobre o tema, escrever, e intervir é dar voz a estas questões e aos próprios negros, diz. “Tudo isto é criação de espaço e movimento. Nesta construção de comunidade – as coisas acontecem-me a mim e não só a mim – o Djidiu é importante. E é importante nas suas especificidades. Nem todos os jovens negros se irão identificar com um espaço como aquele – mas é bom que exista, e há outros que se identificam, e por isso pode-se transformar numa espécie de família. ”Alexa tem mais poemas sobre a questão racial. É um tema que a faz reflectir através de vários pontos de vista. Por ser “mais clara” sente “discriminação dos dois lados”: sendo que “não se pode chamar discriminação quando um grupo minoritário (negros) não se sente à vontade com alguém que tem obviamente mais privilégio (brancos)”, defende. A negociação “que faço neste corpo” é “às vezes de muito esticar” e constantemente de “educar e ver onde me encaixo”, confessa. “Não sou branca efectivamente, mas depois também não sou negra efectivamente. Tenho constantemente que me explicar. Quando as pessoas dizem: ‘ah, olho para ti e não te vejo como mulher negra’. E em espaços de mulheres negras me dizerem: ‘não és branca? Já vi muitas mulheres brancas com o teu cabelo’. E a minha negritude não é o meu cabelo. ”São estas situações, quando a angustiam, que se tornam motor para escrever: “Entendo as tensões que a minha própria palavra trazA mãe, mais escura, cabo-verdiana, não se posiciona como mulher negra – ou pelo menos Alexa nunca fala desta questão nem com a mãe, nem com as irmãs (é trigémea). “Porque não tenho mais amigos negros? É uma busca. E busca também para quebrar estereótipos que tinha na minha cabeça. Mas é um movimento consciente. Sou de Loulé, e durante muito tempo éramos as únicas miúdas mais escuras da turma, tanto que o nosso nome na escola eram as pretas: a preta 1, a preta 2 e a preta 3. Houve todo um exercício da minha parte para desconstruir isto – coisa que as minhas irmãs nunca fizeram. ”Perguntam-lhe qual é o problema de se identificar como uma mulher branca. Ela responde: “A questão é que o meu corpo não é branco. Isto custa explicar. Há dias que estou com vontade, outros em que só quero que a outra pessoa compreenda!”Para o Djidiu sobre a revolução e liberdade Luz Gomes criou um poema que se chama lIbErdAdE RevOlUcIOnÁrIA dO CoRPo. Lê-se assim: “Não acredito em nenhuma liberdade revolucionária que não passe pelo meu corpo de menina-mulher da pele preta… Que não venha das minhas entranhas de vida sanguínea… (…) Não acredito em nenhuma liberdade revolucionária que não poetise a reinvenção fragmentada de cotidianos do meu corpo de menina-mulher da pele preta. . . ”Brasileira do Recôncavo baiano, a viver em Portugal há dois anos, Luz Gomes está a fazer um doutoramento em museologia sobre galerias de arte que trabalham com artistas angolanos em Lisboa. Em quase todos os espaços é confundida com uma africana. É uma questão “perversa”, considera: as pessoas não a associam ao estereótipo da brasileira e “olham para o meu fenótipo e atrelam a África”. Não acredito em nenhuma liberdade revolucionária que não passe pelo meu corpo de menina-mulher da pele preta…Leitora de escritores como Manoel de Barros, Anaïs Nin, Odete Semedo, Toni Morrison, Rainer Maria Rilke, Pablo Neruda, é autora de um blogue que se chama Etnografias poéticas de mim. Tem ido aos encontros do Djidiu desde o princípio, com alguns intervalos, e lá sempre leu os seus textos. “Acredito no Djidiu como espaço importante nessa discussão que não é simplesmente o texto, mas esse corpo que fala – eu sempre penso a partir do corpo. Porque todos os processos de opressão que a gente sofre vêm pelo corpo: é o corpo que sente física ou emocionalmente. É interessante pensar nos corpos negros nesses espaços do centro [de Lisboa], falando poesia e de questões que atingem a população negra”. Não há maneira de não comparar a questão racial em Portugal e no Brasil, nota. Algumas coisas são comuns. “Sempre nos vêem como bons bailarinos, bons músicos, mas a escrita nos é cara. A gente nunca está sendo colocada nesse patamar – e quando escreve, a qualidade do trabalho é sempre questionada. ”Por isso o Djidiu é importante para trazer estas questões, bem como a liberdade de, como negra, falar da questão do racismo mas também de amor ou de outra coisa qualquer – algo que Luz Gomes faz na sua poesia, que anda muito à volta de temas como o amor e a mulher. “Não consigo pensar nessas questões fora do meu corpo, porque quando sou discriminada é por causa do meu corpo. ”Se por um lado não há forma de pensar Lisboa senão como um lugar onde há música feita por africanos e seus descendentes, noutros espaços nota que é a única negra. “Tem uma população negra no centro que circula mas não está presente em alguns espaços. Ou tem essa população na música mas não na poesia. ”Djidiu pode ser espaço onde as pessoas se sintam à vontade e falem de forma aberta. “A gente tem que se ver em diferentes espaços: eu não tenho que abrir o jornal e ver a população negra atrelada à criminalidade. A gente quer se ver de outras formas e a partir dos nossos olhares”, continua. Em Portugal e Brasil os negros têm que procurar um espaço, e muitas vezes isso é “mal interpretado”, continua. As pessoas dizem “a arte é para todo mundo”, não se deve separar. “Mas se os indivíduos na sociedade não são tratados de forma igual, se a mulher não é tratada de forma igual, se negro não é tratado de forma igual, como me quer convencer que a produção dessas pessoas será vista de forma igual?”Naquela tarde de Março do primeiro Djidiu de que Carla Fernandes falava, foi Santiago d’Almeida Ferreira quem tomou a palavra no palco e desabafou que já tinha estado noutros encontros literários mas nunca tinha se tinha sentido à vontade para ler o seu Foge do Bandido. Ali leu: “Queres? Queres mesmo? Queres mesmo tirar me a pele? Escaldar-me a cor, e pelar me a voz? Queres mesmo que seja escuro, negro, preto e fusco? Queres que corra, tente fugir? Que me coce com palha-de-aço e beba água das poças de óleo que a terra derrama?”Até há pouco tempo não se considerava poeta. Mas no blogue Conjecturações Desmielinizantes podemos ler vários dos seus poemas. Nem todos falam das questões da negritude. Santiago d’Almeida Ferreira, 27 anos, nascido em Viseu diz ter sido o primeiro português a admitir que é intersexo – algo a que o senso comum chama “erradamente” de “hermafrodita”. “O intersexo é um espectro muito grande”, e não “é apenas a genitália”. “Queres? Queres mesmo? Queres mesmo tirar me a pele? Escaldar-me a cor, e pelar me a voz? Queres mesmo que seja escuro, negro, preto e fusco?A viver há dois anos em Lisboa, é artivista – um artista e activista pelo anti-racismo e feminismo. Foi bailarino, coreógrafo, trabalhou em restaurantes e está neste momento a estudar Antropologia. Co-fundou em 2015 a sua associação, Acção pela Identidade, que se dirige à defesa e estudo da diversidade de género e de características sexuais, incluindo a experiência das pessoas trans e intersexo, cruzadas com questões de raça e etnia, por exemplo. “Trabalhamos na primeira pessoa, e isso significa que somos especialistas das nossas próprias causas”, diz. “É muito importante haver alianças entre comunidades, e a própria comunidade LGBT perceber que há pessoas negras – estamos a trazer essa interseccionalidade e fomos pioneiros nisso”. Isto porque também se depara com “bastante racismo no activismo LGBT dominado por pessoas brancas”, queixa-se. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Desde sempre que sofre discriminação, desabafa. “O racismo sempre foi muito presente. Nasci em Portugal, o meu pai é de Angola e a minha mãe de Viseu e não fui criado com os meus pais biológicos. Na escola chamavam-me preto”. No Djidiu encontrou muita gente com quem se identificou. Grande parte do seu background veio de África, por isso não tem problemas em se identificar como afrodescendente. “Por ter consciência que a minha pele era negra, diferente, essa questão esteve sempre presente nos meus textos. Não podia dizer noutras plataformas que sofri racismo no trabalho. Mas na escrita podia, de forma quase escondida, transmitir essa dor e sofrimento – hoje escrevo menos na base da dor e mais na base da reflexão”. De qualquer maneira, “está marcado no meu corpo ser inter sexo e ser negro, é uma pele que não dispo”. No Djidiu identificou-se mais com os poemas que falavam sobre a actualidade. Nota que ainda “existe uma grande necessidade de falar sobre racismo”. “Estamos a querer falar, a querer gritar, a dizer: ‘Hey, temos andado aqui, porque não estamos a ter o mesmo tempo de antena?’ Senti isso. Estávamos todos a querer dizer a mesma coisa, porque foi isso que eu fui fazer. Há um espaço para eu falar. Enquanto afrodescendentes estamos nesse momento do ‘grito’ e de querer falar. ”
REFERÊNCIAS:
Étnia Africano
As minorias são "uma ficção terrível"
Conhecido pela forma como escreve sobre a margem e os excessos numa sociedade cosmopolita e multirracial, Hanif Kureishi assumiu a migração como tema literário e político. Numa conversa a partir de Londres, fala das suas opções de risco num percurso feito de cinema, teatro, sexo e droga. (...)

As minorias são "uma ficção terrível"
MINORIA(S): Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 6 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento -1.0
DATA: 2015-04-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Conhecido pela forma como escreve sobre a margem e os excessos numa sociedade cosmopolita e multirracial, Hanif Kureishi assumiu a migração como tema literário e político. Numa conversa a partir de Londres, fala das suas opções de risco num percurso feito de cinema, teatro, sexo e droga.
TEXTO: “Gosto da ideia de que as coisas sejam arriscadas, sujas; gosto de explorar o sentimento de vergonha associado à imaginação pornográfica, de questionar a virtude, do ver o quão selvagem é a nossa imaginação. ” As palavras chegam numa voz rouca e há um barulho que se assemelha ao de pedras de gelo, primeiro num balde e depois num vidro, o som de um gole de bebida na boca, uma breve pausa antes de dizer que talvez tenha mesmo dito que uma coisa para ser boa tem de ser um pouco pornográfica. Fala ao telefone desde Londres, onde vive na zona Oeste de uma cidade que tem levado para os seus romances, contos, ensaios, peças de teatro, argumentos de cinema. A Inglaterra na sua diversidade étnica e cultural, nos contrastes entre subúrbio e a metrópole, nos que vivem à margem, os rebeldes pelo que arriscam e não pelo “modo pop” em que a rebeldia se transformou. “Ser rebelde é saber que se tem muito a perder em defesa de uma ideia, de uma atitude. Hoje até nisso há vazio. "Hanif Kureishi, 60 anos, filho de pai paquistanês e mãe inglesa, o menino mal comportado das letras britânicas que há 30 anos criou um beijo homossexual entre um paquistanês e um skinhead branco no filme A Minha Bela Lavandaria (1985), de Stephen Frears, tímido, provocador, empenhado em fazer da literatura um acto político associado à sua “inevitável e inerente” – para ele é assim – dose de entretenimento, continua a beliscar convenções. Depois do sexo, das drogas, da irreverência urbana e da eterna busca do prazer como algo essencial à existência, foca-se nos preconceitos de raça, nas desigualdades sociais ditadas pela etnia e na imigração como os grandes temas da sua escrita, num momento em que é “preciso estar a tento a movimentos nacionalistas” na Europa. “Já assistimos a isso antes e não foi bonito. "“A literatura e a sociedade olham para o imigrante como um objecto, um boneco, e o discurso público refere-o quase sempre como um zombie num jogo de vídeo. Assistimos ao imigrante a partir do sofá”, sublinha Kureishi, reforçando o significado vazio da palavra, da ideia de migrante em todas as suas variações. Num artigo que assinou em véspera das últimas eleições europeias no jornal britânico The Guardian, intitulado The migrant has no face, status or story ("O migrante não tem cara, estatuto ou história”, numa tradução à letra), Kureishi escreve: “O imigrante tornou-se uma paixão contemporânea na Europa. Um ponto vago à volta do qual as ideias chocam. Facilmente disponível como símbolo, existindo em todo o lado e em lado nenhum, é falado constantemente. Mas, no discurso público corrente, esta figura migrou não apenas de um país para outro, migrou da realidade para a imaginação colectiva onde foi transformado numa ficção terrível. ”No trabalho de Kureishi, o migrante surge enquanto indivíduo com uma história pessoal, um contexto cultural e político, uma biografia com uma data de nascimento e um percurso que, como o de Hanif Kureishi, pode ter começado a 5 de Dezembro de 1954, na cidade de Bromley, a Sul de Londres, então um subúrbio branco, como eram brancos todos os subúrbios em Inglaterra, filho de pai paquistanês e de mãe inglesa, num altura em que o império britânico entrava em declínio, uma década surpreendente, como a classificou o jornalista e escritor Colin MacInnes (1914-1976) na sua colectânea de trabalhos jornalísticos England, Half English. "O que aprendemos, algures, sobre as mães de crianças da classe operária, velhas prostitutas semi-profissionais, os verdadeiros tormentos do amor homossexual e a nova raça dos rapazes de cor nascidos ingleses? Ou (…) que evidências reveladoras temos sobre milhões de adolescentes, sobre os Teds, ou sobre as inumeráveis minorias na Commonwealth – cipriotas, malteses e os muitos milhares de paquistaneses… e sobre a vasta cultura pop?” Sobre estas interrogações, Kureishi escreve na sua autobiografia My Ear at His Heart (2014) que eram uma boa pista para o que estava por vir. É no território destas afirmações, meio século depois, que o artista Hanif Kureishi se situa. Em Portugal acabam de ter edição simultânea os seus primeiro e último romances. O Buda dos Subúrbios (1990) e A Última Palavra (2013) revelam duas etapas diferentes da vida e da escrita do autor. Uma sátira sobre o crescimento e a vontade de sair dos subúrbios para uma vida com todos os excessos dos anos 70; a reflexão de um velho escritor do início do século XXI obrigado a reviver a sua existência para uma biografia, um retrato tão melancólico quanto amargo, sarcástico e doloroso. No início há o sexo enquanto elemento libertador, no fim o amor mais profundo a que se pode aspirar. Em todas as etapas, o humor enquanto modo de ver o mundo, e em Kureishi ele pode ser imensamente negro ou cínico. “Não podes errar se começares como cínico”, diz ao seu jovem biógrafo o velho Mamoon Azam, escritor, dramaturgo, mais de 70 anos, natural da Índia, a viver nos subúrbios ingleses, em tempos muito “respeitado pelo muito literário, bem como pelos jornais de direita”, um homem demasiado cerebral, inflexível e angustiante para ser lido por um público amplo”, financeiramente arruinado; nele convivem demasiadas características do Nobel V. S. Naipaul (Trindade e Tobago, 1932), nos seus defeitos e nas suas virtudes, na sua ambivalência, nos mexericos que gera, para que Kureishi negue a inspiração. “Sempre escrevi sobre velhos indianos”, refere, no entanto, nesta conversa que, como o seu livro mais recente, o leva até à condição de escritor e a um percurso de que se destaca a relação tão forte quanto conflituosa com o pai, um aspirante a escritor que falhou nas suas tentativas e que é a figura central da sua autobiografia. “Não faço da literatura uma catarse pessoal. Deixo isso no privado”, refere, numa alusão rápida à psicoterapia que faz há anos. Se há psicanálise na literatura, é para o leitor. “Com as suas emoções e o seu historial, talvez seja ele a fazer terapia nos livros”, continua agora, tendo a última frase do romance como tópico, a voz de Harry Johnson, o escritor contratado para biografar Mamoon: “Terminara o seu trabalho que era informar as pessoas de que Mamoon contara como artista, que fora um escritor, um criador de mundos, um narrador de verdades importantes e que essa era uma forma de mudar as coisas, de viver bem e de criar liberdade. ” Escuta a frase que escreveu e diz que lhe soa como se não tivesse sido ele a escrevê-la. “Mas fui, e não sei se quando a escrevi pensei em mim ou no que quero do meu trabalho. É difícil isso. Eu quero ter alguma substância no que digo, dar alguma profundidade a questões que são tratadas de forma barata pelos media. Vivemos num mundo de informação barata, de opinião barata. A literatura faz parte desse universo onde deve haver substância. Gosto de pensar nela como um meio de veicular ideias importantes. E se há alguma biografia no que escrevo é nisso, na escolha dos temas que me estão mais próximos, que marcaram a minha vida. ”Do subúrbio à cidade Saiu cedo de Bromley para trabalhar num teatro, o Royal Court. Tinha lido Genet, Plath, Hughes, Larkin. Não durou muito, mas percebeu o que era o trabalho de equipa e gostou e ficou-lhe a noção de que no palco ou na dramaturgia, no teatro, era impossível escapar ao argumento de que a cultura é inevitavelmente política. Acrescenta: a arte é inevitavelmente política. Fugiu do conforto do subúrbio como o adolescente Karim, de O Buda dos Subúrbios, livro que foi adaptado a série pela BBC em 1993. “O meu nome é Karim Amir, e sou inglês de nascimento e criação, ou quase. É frequente considerarem-me um tipo de inglês singular, estranho, uma espécie de raça nova, dado que sou fruto de duas velhas civilizações. Mas estou-me nas tintas para essas catalogações: o que eu sei é que sou inglês (embora não tenha muito orgulho nisso, um inglês dos subúrbios do Sul de Londres e há que dar que falar. Talvez seja a estranha mistura de continentes e de sangues, de coisas de dois mundos, de ser daqui e não ser daqui, que faz de mim uma pessoa inquieta, insatisfeita e que, facilmente, se aborrece. ” Escrito em 1990, é um olhar para trás através dessa personagem com quem tem muito em comum, pertencente a uma família que Kureishi retrata de forma bastante sexualizada, um traço que o acompanha a partir desta estreia no romance saudada pela crítica e por nomes como Salman Rushdie, outro inglês/indiano, e que valeu a Hanif Kureishi a zanga pública da sua irmã, que o acusou de usar a intimidade familiar para se promover pessoalmente. O mesmo tipo de acusação viria mais tarde da mãe dos seus dois filhos gémeos, depois de uma separação conturbada. “Escrevo histórias sobre o mundo em que cresci. Venho da história colonial da India”, diz referindo-se ao pai, herdeiro de uma família rica de Madras, actual Chennai, e de mãe inglesa, uma candidata a pintora que renunciou à arte com o casamento. Também vem de Londres, para onde foi por si mesmo. “Não me sinto particularmente exótico. É uma vida, mas é uma vida representativa, as sociedades passaram de monoculturais a multiculturais, multirraciais, e a literatura reflecte isso. Tive a sorte suficiente de ter nascido à volta desta nova realidade. É um misto de talento e de sorte. Sou um escritor inglês com uma herança da Índia. ” Nesse início, a parte oriental interessava-lhe menos; chegou mesmo a desprezá-la, como Karim, porque isso o colocava fora de uma norma qualquer, a ele que era até avesso ao normativo. “Passamos parte da vida a pensar nos nossos pais e no que fizemos com o que eles nos deram, no que isso significou na construção da nossa própria história. Eu queria ser só inglês porque me parecia que ser multirracial era ‘anormal’, era ser excluído. Depois percebi que o mundo me tinha dado essa vantagem e comecei a pensar politicamente na questão. ”É nesta fase que estamos. Ainda que com os temas de sempre. As mulheres, o sexo, a ironia, as minorias, a forma desassombrada como escreve acerca da intimidade como se não houvesse filtro entre pensamento e escrita estabelecem comparações entre os seus romances e os de Philip Roth. Um Philip Roth inglês pós-colonialista. “O Philip Roth também veio de uma comunidade minoritária. Era um judeu de Newark e falava e comportava-se como tal; as suas histórias têm que ver com essa comunidade. Temos isso em comum. E ele escreve muito sobre mulheres e sobre sexualidade, mas não me compete dizer que tipo de escritor sou. Gosto de pensar que sou um escritor à minha maneira muito pessoal”, salienta depois de falar do início, do princípio da escrita. Antes do teatro, do cinema, do romance, houve a pornografia. Romances pornográficos que assinava com o pseudónimo de Antonia French. “Foi nos anos 70, durante um breve período. Eram tempos selvagens. Eu e os meus amigos éramos pobres, alguns eram dealers, havia também prostitutas, e era duro viver em Londres nesses dias. Fazíamos o que podíamos para viver e essa foi a minha contribuição. Durante algum tempo escrevi pornografia, mas era um pouco estúpido. De ler e de escrever. Não é uma forma interessante”, admite a uma distância que lhe permite dizer que a experiência foi “demencial” e o nome de Antonia French lhe surgiu num sonho, porque lhe pareceu “sexy” escrever na perspectiva de uma mulher. Foi um período de excessos na vida de Hanif Kureishi. Os seus livros e filmes espelham essa passagem que não era incomum. Ele não a vê como tal. Era um leitor, queria ser escritor, pensava em filosofia. Não imaginava que passados mais de 30 anos estaria grato, “muito grato por ter conseguido viver da escrita, ser reconhecido”. Cuida da faceta pública como pode, dá entrevistas, promove os livros, mas diz que a imagem que sai disso lhe escapa, não a controla como muda o percurso de uma personagem num romance, como apimenta o enredo com ironia. “A melhor literatura é cómica”, refere sem hesitar. Tem dito isso em muitas entrevistas, em muitos ensaios. O escritor inglês P. G. Wodehouse (1888-1975), multitalentoso, prolífico e politicamente comprometido, é o autor no topo de uma lista de outros inspiradores. “Os melhores escritores são os escritores cómicos. Joyce é um grande cómico, Dickens, Shakespeare… A vida não é uma paródia, mas podemos divertir-nos com ela. ”Riu-se do pai, ou, como escreve na biografia, preferiu ter uma perspectiva cómica do pai e da florescente New Age da década de 60. Estava na contra-cultura. O pai era o tradicional que ele combatia. Na escrita, esse riso passou para as personagens; quis fazer esse movimento inspirado em Tchékhov, um escritor cómico que criava personagens infelizes. Mamoon é esse homem. Uma das personagens angustiadas de Kureishi que vê o trabalho artístico como fruto de uma espécie de conflito, que descreve A Última Palavra vindo de um editor calculista, outro cínico. Dizia ele que o escritor, como “qualquer verdadeiro artista, era o diabo, rivalizando com Deus na criatividade, tentando ultrapassá-lo": "Deus era, sem dúvida, a criação mais fatal do homem, a puta kitsch do diabo. Era Deus, com a sua insistência em ser adorado e admirado, que tornava necessário o debate sobre a arte, mantendo viva a chama da discórdia nos homens e nas mulheres. Este dissidente era o artista, que abarcava, com a sua imaginação, a razão e a sem-razão, o reverso e o anverso, o sonho e o mundo, homens e mulheres. "A experiência de ler o último e o primeiro romance de Hanif Kureishi permite perceber a evolução e o entusiasmo com que foi recebido na sua estreia. Era disruptivo na forma como escrevia sobre o indivíduo na sua luta por descobrir uma identidade, por afirmar-se na diferença. “De sexo, gostava; tal como as drogas, também o sexo era uma alegria, uma loucura, uma coisa estonteante. Tinha crescido com putos que me ensinaram que o sexo era uma coisa nojenta. Que o sexo era cheiros, obscenidades, embaraços e gargalhadas cavalares. Mas o amor era demasiado forte para mim. ” É o jovem Karim em O Buda dos Subúrbios. O velho Mamoon vê o amor como a única coisa que vale a pena perseguir e “a chave é a persistência”. Um e outro são livros políticos, no último a análise dos tempos actuais é feroz, mas não tem o fôlego do primeiro romance. É errático, com alguns momentos embaraçosos, como aqueles em que aparecem os fantasmas da mãe de Harry ou da primeira mulher de Mamoon, e outros muito estimulantes acerca da tarefa do escritor, de denúncia crítica, de reflexão. “Aqui”, refere Mamoon sobre a sua obra, "não se encontram respostas universais, só perguntas universais, aquelas que fazem a literatura”.
REFERÊNCIAS: