África do Sul: Há verdade, falta reconciliação
Brancos com medo de negros. Negros com raiva de brancos. Raparigas que trocam sexo por dois euros e não têm coragem de exigir preservativo. Quase seis milhões de seropositivos, sobretudo jovens, sobretudo pobres. Milhões ainda em bairros de lata. Depois do apartheid, a África do Sul viu a verdade. Foi um milagre humano não ter explodido. Mas a reconciliação é urgente. Há homens e mulheres a trabalhar nisso. Desmond Tutu acredita que o país vai dar a volta e o Mundial será um orgulho. (...)

África do Sul: Há verdade, falta reconciliação
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 Migrantes Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 5 Africanos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-03 | Jornal Público
SUMÁRIO: Brancos com medo de negros. Negros com raiva de brancos. Raparigas que trocam sexo por dois euros e não têm coragem de exigir preservativo. Quase seis milhões de seropositivos, sobretudo jovens, sobretudo pobres. Milhões ainda em bairros de lata. Depois do apartheid, a África do Sul viu a verdade. Foi um milagre humano não ter explodido. Mas a reconciliação é urgente. Há homens e mulheres a trabalhar nisso. Desmond Tutu acredita que o país vai dar a volta e o Mundial será um orgulho.
TEXTO: 1. Na estrada com LaviniaUm arcebispo faz testes de HIV? Na África do Sul faz. Mais, dentro de uma clínica ambulante com o seu próprio nome. Aqui está ela, estacionada nos arredores da Cidade do Cabo, contrariando as nuvens de Maio. Quando os vizinhos vêem sair um arco-íris sobre rodas, já sabem: é o Tutu Tester. Dentro desta carrinha há testes de HIV, rastreio de doenças e objectos como pénis de madeira para ensinar a pôr preservativos. Aos 79 anos, o arcebispo anglicano Desmond Tutu, Prémio Nobel da Paz, encara tudo isto como parte do seu longo trabalho pela África do Sul. "Se derrotámos o apartheid, podemos derrotar o HIV", tem dito ele. A luta contra a sida é a grande causa pós-apartheid. Mas nos primeiros dez anos a seguir às eleições livres, o Governo não acreditou na pandemia. Muita gente morreu e continuou a morrer porque o Presidente Thabo Mbeki duvidava de que o HIV causasse sida e impediu a distribuição de retrovirais. Isto aconteceu até 2003. Ontem. Hoje, nenhum país do mundo reúne tanta gente infectada, 5, 7 milhões, sobretudo jovens, sobretudo pobres. A cada dia há duas mil novas infecções. Cerca de 350 mil sul-africanos já perderam a vida. Um deles era filho de Nelson Mandela. Não se espantem se virem fotos de Mandela com uma T-shirt a dizer "HIV Positivo". É uma guerra a sério, esta, e toda a gente faz falta em campanha. Estamos a falar de um país em que milhões continuam a viver nas townships (os bairros, grandes como cidades, onde o apartheid concentrou negros e mestiços). E as townships prolongam-se em bairros de lata, com graves problemas de saúde pública. É para uma dessas townships que a carrinha Tutu arranca agora. A Fundação Desmond Tutu HIV, que faz investigação, rastreio e prevenção, lançou esta clínica móvel há dois anos. Em Outubro passado, o próprio arcebispo se sentou lá dentro a fazer o teste. E como ele, antes e depois, mais 15 mil pessoas. Se os mais pobres não vêm à clínica, a clínica vai até eles. Hoje, a novidade é que também vão os Freshly Ground, banda pop sul-africana. O mundo vai vê-los em breve ao lado de Shakira, a abrir e a fechar o Mundial. E esta manhã, darão a cara pelo Tutu Tester, a partir das dez. Ainda são nove, mas a equipa clínica já vai a sair da fundação. Estamos nas instalações de um antigo orfanato, a meia hora da Cidade do Cabo, e daqui até à township são mais 45 minutos. Lavinia Browne - a mulher que durante 22 anos foi a assistente pessoal de Desmond Tutu - ofereceu-se para levar a Pública no seu carro, só de falarmos ao telefone. Cá está ela, cabelo curto todo branco. Uma daquelas avós inglesas de calças e impermeável, capazes de dar a volta ao mundo sempre com a mesma voz clara e doce. E ela deu mesmo. - Então vamos lá - sorri. Aos 65 anos guia um daqueles carritos de cidade que os estudantes compram em terceira mão. - A township que vão ver crescer de forma desordenada, com cada vez mais pessoas a chegar - explica, parada num cruzamento entre bairros de lata. O visitante que vem de Joanesburgo e aterra na Cidade do Cabo a achar que deixou a pobreza para trás encontra mais barracas aqui. Não é que esta província, Cabo Ocidental, seja mais pobre. É que não estava preparada para receber tantos pobres. - Aqui as townships são piores porque tradicionalmente os negros não viviam tão a sul - diz Lavinia. - Tínhamos muitos mestiços, mas não muitos negros. Enquanto em Joanesburgo sempre houve negros, e foram construídas estruturas. É por isso que o problema da habitação aqui é pior. E somos vizinhos do Cabo Oriental, onde vivem os xhosa, que vêm para cá à procura de melhor vida. Os xhosa (pronuncia-se "kóza") são a etnia de Nelson Mandela, ele mesmo um nativo do Cabo Oriental. O que divide as duas províncias, com Atlântico de um lado e Índico do outro, é o Cabo da Boa Esperança. E na verdade, o caminho que estamos a fazer é o caminho para chegar lá, a essa ponta de África que as naus do Gama dobraram. Hoje, os emigrantes que aqui chegam por terra vêm não só da costa oriental, como de toda a África subsariana. E nesta sobrepovoação precária, a tuberculose é um rastilho. - As defesas dos seropositivos quebram e é aí que a tuberculose ataca - resume Lavinia. - A maior parte das pessoas que morre de sida morre de tuberculose. Esta zona do Cabo Ocidentalé a pior do mundo em infecção de tuberculose, o que tem a ver com o facto de as pessoas viverem tão juntas, nas barracas. 2. Sinfonia de lataNa township vamos ver isso. Mas há pior. Deixemos então Lavinia no carro por um momento. Recuemos dois dias. A Pública acaba de chegar à Cidade do Cabo. Ao fundo, a bela Table Mountain, esse grande animal castanho contra um céu transparente. Sim, ainda parece Verão, embora seja já o Outono nesta parte do mundo. E mal baixamos o olhar, um mar de barracas, lata, zinco, madeira, plástico. Os nomes na estrada anunciam os subúrbios de Philipi, Nyanga, Samora Machel, Delft. Nomes com algumas das mais violentas taxas mundiais de homicídio, violação, roubo, droga. E atravessando tudo isto chegamos a Blikkiesdorp. Em afrikaans, a palavra quer dizer algo como Cidade Caixa de Lata. Não é o nome oficial, mas é rigoroso, porque Blikkiesdorp são mil caixas de lata todas perfeitamente alinhadas num descampado de areia que parece o fim do mundo, com o sol a bater. Não há árvores, não há verde. Tudo é cor de cinza e pó. O metal ferve, e cada casa tem um número toscamente pintado, como uma cela. Ferve no Verão e daqui a dias choverá. O Cabo não é Joanesburgo, chove mesmo. Chuva na lata, mil caixas. A placa à entrada anuncia o nome oficial. Lê-se duas vezes e mal se acredita: Symphony Way. A Câmara do Cabo criou-a como "área de realojamento temporário" há dois anos. E nos últimos meses tem concentrado aqui centenas de pessoas que viviam em semibarracas na estrada, e não queriam sair de lá. Foi por isso que essas pessoas criaram a Campanha Antidespejo, com a ajuda de activistas que têm acesso à Net. E uma das líderes locais é esta negra que agora recebe a Pública à porta da caixa de lata M49, Jane Roberts. - Estamos aqui há cinco meses e meio - conta ela, convidando a entrar. Cá dentro há um pequeno fogão encardido, um bidão com água, uma cortina de pano, atrás da qual está uma rapariga com um bebé. - Fomos forçados a vir para aqui, não tivemos opção. Isto é por causa do Mundial. Estávamos há dois anos na estrada e de repente deslocam-nos para aqui? Porquê? A prima, Padronisa Morris, entra na conversa:- Queriam-nos fora da vista. E Jane:- As pessoas vinham de avião e viam-nos na estrada, com as nossas barracas de plástico e madeira. E não era mau viverem assim?- Aqui é pior! - exclama Jane. - É um campo de concentração. Lá na estrada, a comunidade era próxima. Aqui, às oito da noite não podemos andar à volta, revistam-nos, espancam-nos. Quem?- A polícia. Quando nos estava a dar instruções ao telefone sobre como chegar, Jane dissera para irmos até à esquadra de Delft e aí pedir que nos indicassem Blikkiesdorp. A polícia indicou, sem fazer perguntas. A relação não parecia má. - Mas é má - diz Jane. - Insultam-nos. Não podemos fazer uma fogueira, fazem-nos apagá-la. - Eu preferia estar na estrada - insiste Padronisa. Jane acena. - Na estrada éramos felizes. - Cobríamo-nos com plásticos na chuva, mas aqui a chuva entra e o chão fica todo molhado - diz Padronisa, mostrando a folga na porta. Onde está a casa-de-banho?- Lá fora - responde Jane. - É uma casa-de-banho para quatro famílias, 20 pessoas. Saem as duas para mostrar: um lavatório, e, dentro de um compartimento de zinco, a sanita. Onde está o duche?- Duche! Não há duche! - ri-se Jane. - Este é o nosso duche. E agarra num alguidar de plástico. Estamos nas traseiras da barraca dela, onde fazem esquina mais três barracas. Chão de pedras, areia, lama. Um penico. Lixo ao canto. Jane, 54 anos, três filhos, nasceu na Cidade do Cabo, mas aqui há gente que veio de longe. - Refugiados da Somália, do Congo, da Nigéria, talvez 50 famílias. Nem de propósito aproxima-se uma belíssima adolescente negra-negra, túnica e lenço muçulmano. Encosta-se à placa de zinco e fica a escutar. Não há mesmo nada para fazer aqui. - Vê? Ela é somali - diz Padronisa. Encostam-se as duas à barraca do lado, que faz sombra. - Não sinto nada em relação ao Mundial - diz Jane. - Não é para nós, para os pobres. Os pobres vão ficar mais pobres. O desemprego é um dos problemas maiores da África do Sul. E aqui, em Blikkiesdorp, diz Jane, anda nos 70 por cento. Ela trabalhou numa fábrica de roupas e depois num sindicato. - Agora trabalho para a comunidade de graça. Mas como vivem?- Partilhamos o que temos. De dentro da barraca vizinha sai Kareema, cabelo atado e túnica. Também é muçulmana. - Vivemos todos misturados, muçulmanos e cristãos - diz. Há mesquita?- Sim, uma. E igreja?- As igrejas são na casa das pessoas - diz Jane. - A maioria é religiosa. Uma rapariga passa com um recém-nascido. Aos 37 anos, Kareema acaba de ser avó. Onde nasceu o bebé? - No hospital. Há algum posto de saúde aqui?- Não, vem uma clínica móvel para as crianças. - A tuberculose é um grande problema - acrescenta Jane. - Mais de metade das pessoas tem tuberculose, e as crianças também. Quando estávamos na estrada, as crianças estavam bem. Apanharam tuberculose aqui. - Vamos fazer uma marcha até à Cidade do Cabo! - anuncia um homem de calções e boné a dizer Win with us. Chama-se Jerome e também é militante da Campanha Antidespejo. Mas a esta hora da tarde caminha num vapor de álcool. E quando pára, fica a oscilar. - Vamos tentar que nos ouçam!Padronisa confirma. - No primeiro dia do Mundial, vamos fazer uma marcha legal. - E senão será ilegal! - brada Jerome. - Sabemos que nos vão tentar prender, mas não nos importamos - acrescenta Jane. - Estou há 19 anos à espera de casa! - anuncia Jerome, a oscilar, com os seus calções, e o boné. - Sinto que estou na prisão e a polícia está sempre a controlar - diz Kareema. - Não podemos fazer uma festa, uma fogueira. Na estrada, cada família tinha feito a sua casa-de-banho, o seu espaço. Aqui não podemos nem construir um quarto. Não precisamos de um estádio que custou milhões. Para que servirá? Deviam construir casas, e nós não devíamos viver como animais. À saída, homens sentados em caixas a olhar para nada, e novamente a placa com aquele nome, Symphony Way. 3. Desfazer o duche De volta ao carro de Lavinia, dois dias depois. Cá vamos, às curvas, entre árvores, a caminho da township, para os testes de HIV a bordo do Tutu Tester. - Temos quatro clínicas fixas, e outra móvel quase pronta. Um pequena equipa, pois: 10 médicos, 25 enfermeiros, ao todo 165 empregados para uma tarefa gigante. - Durante Mbeki foi muito difícil - lembra Lavinia. - Milhares de pessoas morreram, um desastre total. Crianças deixadas sem pais. E há townships onde um quarto da população ou mais está infectada. Ainda é muito difícil por causa de Mbeki. As pessoas cresceram a acreditar nas coisas que ele dizia. Aquele que as pessoas viam como o Presidente-intelectual levou a sua dúvida metódica ao ponto de escrever a Clinton a anunciar uma abordagem africana da sida. Achava que os retrovirais eram mais uma maquinação colonialista do Ocidente. Os extremos unem-se, e o cepticismo de Mbeki uniu-se a crenças africanas segundo as quais a sida era uma maldição dos brancos e se podia curar dormindo com uma virgem. Neste ponto, não ajudou o actual Presidente Jacob Zuma dizer que tomara um duche depois de ter tido sexo (consentido ou à força, não está provado) com uma seropositiva. - Ter três mulheres também não ajuda - acrescenta Lavinia. - E todos achámos que seria melhor ele não ter anunciado o resultado do teste de HIV. Mas o HIV negativo de Zuma foi manchete há dias. E muitos pensarão: se o Presidente se safou com um duche, eu também posso. Quando Barack Obama, ainda senador, visitou a África do Sul e a então ministra da Saúde questionou a ciência ocidental quanto à sida, Obama disse simplesmente: "Não é uma questão de ciência ocidental versus ciência africana. É só ciência. "Num país com tantos desequilíbrios sociais, e em que o vírus chegou tarde, o próprio Nelson Mandela se penitenciou por não ter actuado mais cedo. Ele tinha ideia da ameaça. O ex-correspondente do Financial Times Alec Russell recorda-se de um discurso de Mandela em 1994, ainda antes de ser Presidente, em que ele tentou dizer à juventude do ANC que a sida podia "destruir" o país. E avisou: "Temos um problema na nossa sociedade porque não falamos de sexo. Quando uma criança pequena pergunta: "Mãe, de onde venho?", o que vem a seguir é uma bofetada. " Começou um sururu na sala, recorda Russell, mas ainda assim Mandela prosseguiu, falando de sexo seguro e preservativos. No fim vieram ter com ele: "Como pode falar assim? Quer que as nossas raparigas vão dormir com os rapazes?"Russell foi testemunha disto, mas o ANC perdeu o registo do discurso e durante anos Mandela manteve-se calado. "Muito mais tarde admitiu que as pessoas o tinham avisado de que o ANC perderia votos se ele pressionasse as pessoas a mudar o seu estilo de vida e a usar preservativos", escreve Russell no livro After Mandela (Hutchinson, 2009). "É uma lembrança de que até um político tido pelos seus muitos admiradores como um santo vivo tem de fazer escolhas políticas. Mas o seu fracasso a lidar com a sida quando era Presidente não deve obscurecer o facto de que ele disse o que pensava perante a hostilidade profunda dos seus apoiantes, antes de a sua presidência começar. " E já na fase da presidência Mbeki, a situação chegou a tal ponto que Mandela o contrariou em público. Depois, empenhou-se activamente, e em 2005 anunciou que o seu filho Makgatho morrera de sida. Nas fotografias em que aparece com a tal T-shirt HIV, está ao lado de Zackie Achmat, um seropositivo que se recusou a tomar retrovirais até que toda a população pudesse ter acesso a eles, e combateu as multinacionais em favor de genéricos. Hoje, meio milhão de sul-africanos toma retrovirais. É o maior programa do mundo. A township aparece numa curva da montanha, do lado esquerdo. Barracas a descer pela encosta. Lavinia estaciona cá em baixo. O Tutu Tester está mais adiante, bem visível da estrada e da township, com as suas cores de arco-íris, a acabar de montar os materiais. Além da carrinha, há duas tendas para aconselhamento. As pessoas que fazem o teste de HIV recebem o resultado na hora. Aos negativos, dão-se conselhos de prevenção. Os positivos fazem rastreio de tuberculose e são reencaminhados para tratamento. - Para além disso, rastreamos as crianças em relação à prevalência de tuberculose - diz Lavinia, apertando o seu impermeável. O céu está cai-não-cai, com frio e vento. Não é o melhor dos dias para uma acorrência em massa. Mas também não é essa a ideia. - Não fazemos muita publicidade. Se vierem 150 pessoas ao mesmo tempo, não conseguimos trabalhar. Conseguimos fazer 60 testes num dia, porque não é só o teste, é o aconselhamento, que pode ser exaustivo. 4. Sexo por dois euros- Desmond Tutu. . . Conheço o nome, mas não sei quem é - diz o rapaz, a meio caminho entre as primeiras barracas e a carrinha Tutu. Chama-se Somdaka, tem 27 anos, é negro, polícia, solteiro. Não se lembra exactamente quem é Tutu, mas sabe exactamente o que é HIV. Desdobra a sigla num ápice. - É um problema, há muita gente infectada. Um dos vários problemas da township. - Aqui muitas crianças não vão à escola. Há dagga [haxixe] e tik [metanfetamina que se fuma misturada com haxixe]. Há roubos. Somdaka não vai fazer o teste de HIV, e portanto segue para a sua vida, cruzando-se agora com um par de jovem negros que vem a descer pela township. Ele chama-se Isaac e tem 23 anos, ela chama-se Nomsa e tem 20. Vieram ambos do Zimbabwe nos últimos dois anos. Vêm ambos fazer o teste. Ela é namorada do irmão dele. São bonitos e lacónicos. - Não uso preservativo - diz Isaac. - A maioria não usa preservativo. Porquê?- Compra-se sexo por 20 ou 30 rands [dois ou três euros], e as pessoas estão com pressa, não vão usar preservativo. É difícil arranjar?- Não é difícil. Dão-nos. Distribuições maciças, mesmo. Nomsa tenta explicar:- Se o homem te paga, pode dizer que não quer preservativo. Se não, é difícil para ele, vai perder dinheiro. A maioria das raparigas faz isso por 20 rands. Sorri, dentro do seu capuz subido contra o vento. - Eu tenho o meu marido, ele não vem fazer o teste porque está a trabalhar. Isaac já fez o teste duas vezes e continuou sem usar preservativo. Nomsa vai fazer pela primeira vez. - Alguns nem sabem como usar o preservativo - diz ele. Que pensam do duche do Presidente? - As pessoas acreditam - diz Isaac. Nomsa acena. E nos sangomas, os curandeiros tradicionais, acreditam?- O sangoma pode fazer coisas, mas não te pode curar da sida - responde Nomsa. Entretanto Isaac foi descendo para a carrinha. - As raparigas começam a ter sexo com 14 anos - conta ela, agora sozinha. Mas como é isso dos 20 rands? É uma prática comum?- Um rapaz vem ter contigo e quer sexo. E tu pedes-lhe que dê algo para ajudar. Nomsa não está a falar de prostituição, está a falar do meio que conhece na township. Como fazem as mulheres para não engravidar, se não usam preservativo?- Tomam injecções. Eu não tomo nada, quero ter cinco filhos, e tenho sexo com o meu marido. Mas não sei o que ele fez antes, e por isso quero fazer o teste. Conheci-o em 2007, quando ainda estava na escola. No Zimbabwe, pagam-te tão pouco que não consegues viver. Desde o colapso económico do país, nas mãos de Robert Mugabe, um êxodo de gente atravessou a fronteira, para tentar a vida na África do Sul. Nomsa veio como asilada e o marido trabalha como jardineiro. No Cabo há muito trabalho para jardineiros porque grande parte da classe média mora em casas com jardins. Por exemplo, o rapaz que agora se segue trabalha para uma companhia de jardinagem como condutor, e também é de fora, neste caso do Malawi. Chama-se Stanley, tem 25 anos, fala como um entusiasta. - Vim em 2008 como asilado. Trabalho cinco dias por semana e ganho 2400 rands por mês [240 euros]. Vive num quarto com a namorada, também do Malawi. -É a primeira vez na vida que venho fazer o teste. Vivo na escuridão e preciso de saber! Só faço sexo com ela, mas não usamos preservativo, ela usa a pílula. Estou preocupado porque tive outras mulheres antes e eu também não sou o primeiro homem dela. Estão juntos desde 2006. - Nos últimos dois anos fui fiel. Ouve-se alguém a chamar na estrada. Stanley vira-se. - Ah, já está ali o meu patrão! Tenho de o ir avisar que ainda não fiz o teste. E corre para uma camioneta com um emblema de jardinagem. O patrão ainda vai ter de esperar. Junto ao Tutu Tester já há fila. 5. As cores unidasE os Freshly Ground, os tais que vão acompanhar ao vivo Shakira em Waka Waka - Time for Africa, canção oficial com que abre e fecha o Mundial?- Ah, já chegaram - diz Lavinia, apresentando a jovem manager da banda. - Mas estão ali dentro daqueles dois carros enquanto não é o momento de fazerem o teste. Porque está um vento de cortar. A manager abre a porta de um dos carros, apresenta a repórter, que se senta no lugar livre atrás. A porta fecha-se e somos cinco pessoas num carro parado, com os vidros a ficarem embaciados. À esquerda, no banco de trás, Solani, a alegre vocalista de 28 anos, uma negra de Port Elizabeth, e ao lado dela o guitarrista Júlio, de 35 anos, moçambicano de Maputo, desde 2003 na África do Sul. À frente, o teclista Seredeal, 33 anos, um mestiço de Port Elizabet, e ao lado dele o baixista Josh, 40 anos, um branco da Cidade do Cabo. Faltam três que estão no carro do lado, mas só aqui já estão as cores que compõem grande parte da população da África do Sul: negros, mestiços e brancos. Esta banda podia chamar-se cores unidas, e ainda inclui um imigrante. - Quem começou a banda já não está cá - explica o louro Josh, um falador desafiante. - Esta é a formação que tem estado junta nos últimos sete anos. Quando as políticas anti-retrovirais ainda estavam em curso. - Há quem fale em 300 mil mortos por causa de Mbeki, mas eu não posso dizer porque não sei - atalha Josh. - O que sei é que o Governo agora está a fazer o maior projecto de saúde pública do mundo. Até ao próximo ano 15 milhões de pessoas vão fazer o teste, um em cada três sul-africanos. Prevê-se que dois milhões sejam positivos. Haverá mais trabalhadores na área da saúde que polícias! A suspeita entre brancos e negros era suposto ter acabado no apartheid. Mas há quem veja a sida como uma conspiração dos brancos. Faz parte de uma série de teorias. Por exemplo, a recessão ter acontecido quando Obama se tornou Presidente. As pessoas interrogam-se. Há quatro anos que os Freshly Ground se envolveram nas campanhas contra a sida. - Todos já fizemos testes antes - diz Solani, a mais jovem. -É uma forma de mostrar responsabilidade, na esperança de que outros assumam responsabilidade - diz Josh. - Também é uma forma de dizer que se uma pessoa faz o teste e é seropositiva não é uma sentença de morte, porque com o tratamento certo de retrovirais pode sobreviver - acrescenta Solani. - Todos sonhamos com uma geração livre da sida. E se todos dermos o passo de fazer o teste, é um passo nessa direcção. Aqui estão eles, unidos. Um carro que é um microcosmos do que a África do Sul sonhou ser. E ainda sonha?- Os brancos perderam o seu poder - diz Josh. - Os agricultores estão a ser mortos, as casas estão a ser assaltadas. Há pessoas que são mortas nas suas casas. E quando Julius Malema [polémico líder da Juventude do ANC, por vezes acusado de racismo negro] fala, os brancos ainda se sentem mais ameaçados. A percepção geral nos brancos é que há medo. Fala um branco do Cabo que pouco tem a ver com os bóeres do Norte, muito menos com a extrema-direita que era liderada pelo defunto Terre"Blanche. - Tudo isto tem a ver com encontrar o nosso lugar no mundo. Há a sensação de que os negros têm poder político mas que a economia e a ciência continuam na mão dos brancos. É por isso que o que Malema diz ecoa nas pessoas. Eu não acho que ele seja um idiota, como muitos dizem. Ele diz coisas astutas. Diz coisas que as pessoas realmente pensam e as pessoas ficam contentes por alguém as dizer. Então a suspeita entre brancos e negros continua no centro de tudo?Josh torce-se no banco da frente para olhar bem para trás. - A suspeita começou quando os portugueses chegaram. Os brancos sempre pensaram que os negros os iam matar na cama à noite. Qual é a história da família dele?- O meu pai descende de escoceses que vieram para o Cabo em 1850. E a minha mãe é radiografista e veio trabalhar no primeiro transplante de coração do mundo. Que aconteceu na Cidade do Cabo, em Dezembro de 1967. Tudo isto é a África do Sul. A manager vem abrir a porta. Chegou a hora. Meio engripada, Solani sorri tiritante, enquanto lhe medem a altura no Tutu Tester. As meninas da township aparecem com telemóveis, a tirar fotos. 6. E a reconciliação?Uma das tendas inclina-se ao vento, com o pénis de madeira estoicamente vertical em cima da mesa. As pessoas esperam à porta da carrinha com autocolantes na mão, depois de se terem inscrito. Os rapazes da banda fazem tudo como se não custasse nada, e não custa. E afinal não choveu. Lavinia vai voltar à Cidade do Cabo, dando-nos boleia. Falamos de reconciliação. Depois do apartheid, era a grande tarefa, disse Mandela. Verdade e Reconcliação. O arcebispo Desmond Tutu pôs às costas o impossível: a Comissão da Verdade e Reconciliação, ele que baptizara a África do Sul como Nação Arco-Íris. E de 1996 a 1998 os membros da comissão percorreram a África do Sul a ouvir relatos do horror. Gente amarrada em grelhas até denunciar gente. Mortos, torturados, desaparecidos. Carrascos diante de vítimas. Perdão em troca de verdade. Houve verdade. Cada um pôde ver-se ao espelho, no que sabia e no que não quis saber. Muito disso está no Museu do Apartheid, perto de Joanesburgo. É preciso ir lá ver. Aquilo é a chave do futuro. A maioria dos brancos avançou para o novo país, mas muitos nunca pediram desculpa, e só uma pequena parte dos negros enriqueceu. "O que me espanta é como as pessoas podem viver nestas condições", disse Desmond Tutu em entrevista a Alec Russell, em 2008. "Acordam de manhã e vão para os subúrbios brancos, ricos, saudáveis, e trabalham em casas que têm todas as conveniências modernas. E à noite voltam para a sordidez e a privação. E uma pessoa pergunta-se como mantêm a paciência que têm mostrado. " É um milagre, um contínuo milagre dos homens, a África do Sul não ter explodido. Houve verdade, mas falta reconciliação. Então a propósito de tudo isto Lavinia, a mulher que durante 22 anos trabalhou com Tutu, não pode fazer nada para nos meter dentro da agenda do arcebispo, mas acha que devíamos falar com o genro dela, um ex-reverendo da Igreja Reformada Holandesa, a principal entre os afrikaners. O trabalho dele é a reconciliação. E quando lhe telefona, e ele diz que está na Universidade da Cidade do Cabo, por onde justamente agora vamos passar, está visto que a conversa tem de acontecer. Então Deon Snyman surge ao cimo da rampa, Lavinia despede-se e ele leva-nos para o primeiro edifício disponível, por acaso um centro de estudos judaicos. 7. Este é o momentoTeólogo, Deon está agora, aos 44 anos, a fazer um mestrado em Justiça. Lembra Mia Couto sem olhos azuis e com cabelo à escovinha. Um Mia Couto austero. A Fundação da Restituição, na qual trabalha, defende que não pode haver uma igreja pobre e negra e uma igreja branca e rica. O lema é restituir, e isso passa por reconhecer o que não se deu, e passa por dar. - Queremos mobilizar as pessoas brancas para perceberem que foram beneficiadas, e que muita da riqueza que reuniram foi de forma injusta. Eu cresci numa cidade perto de Ventersdorp [zona da fazenda de Terre"Blanche] e estudei na Universidade de Pretória nos anos 80. Venho de uma família tradicional afrikaner. Acabei Teologia quando o ANC deixou de ser banido e Mandela foi libertado. E tive de responder a isto: "Quero ser padre de uma congregação branca? Este país vai mudar tanto. . . " Então tornei-me padre nas zonas rurais do KwaZulu Natal. E pela primeira vez na vida tive de construir relações com pessoas de cor e cultura diferentes. Isso mudou a minha vida. Depois de construir relações, gostamos uns dos outros. Na África do Sul, as pessoas não se gostam porque não se conhecem. O que aprendeu Deon no KwaZulu Natal?- Descobri como o apartheid afectou a vida deles. A sida estava a tornar-se num grande problema. Tive de enterrar muitos jovens. Muitos tinham sida por causa do apartheid, porque os pais não estavam em casa [no apartheid, os homens eram deslocados para as zonas de trabalho, deixando para trás as famílias], porque não tinham sonhos para o futuro, e então não tinham cuidado com o que faziam. As infra-estruturas nas zonas rurais são más, e a possibilidade de estas pessoas se erguerem é escassa. Por isso, têm comportamentos de risco. Não há cinema, não há lazer, nada. Há sexo. E não se importam com o futuro por o presente ser tão mau. Foi isto que levou Deon à restituição. - Se queremos ter uma reconciliação na África do Sul, temos de nos dirigir às injustiças do passado: "Os brancos beneficiaram, isso foi injusto, o que vão fazer quanto a isso?" Muitos brancos não entendem isto. Vêem os negros a beneficiar nesta nova África do Sul. Mas têm de perceber que o apartheid foi um crime contra a humanidade. O que é que nós, brancos, podemos fazer para inspirar os negros, para os fazer perceber que lamentamos realmente o que se passou? Não é preciso ter sido perpetrador. Por sermos brancos, todos fomos perpetradores. Os brancos têm de perceber que a vida deles é muito fácil na África do Sul, que a qualidade de vida que têm é muito alta, em comparação com a Europa. Olham para Malema, para a corrupção, para o crime, e sentem-se desencorajados. Mas olharam o suficiente para o mal do apartheid e para o que fizeram?Que devem então fazer, na prática?- Reparações. As vítimas têm de dizer o que precisam. Um exemplo: um negro de meia-idade começa a limpar jardins. Depois compra um carro velho, progride. Precisa de uma pick-up mas o banco não lhe dá empréstimo porque ele nem tem casa a sério. Então os brancos podem ir com ele ao banco, podem pagar o juro. Não é caridade. Ele vai pagar o empréstimo. Mas ajuda. A caridade não implica responsabilidade, mas a restituição sim. Deon vê a restituição como meio para a reconciliação. - Dar de volta pode realmente abrir as portas para um novo processo. A reconciliação na verdade ainda não começou, o que é normal. Agora é que é o tempo. Olhando para Malema, os brancos devem perguntar por que é que este homem está tão zangado, porque ele fala por muita gente que está zangada e não diz, e isso é perigoso. Há negros sul-africanos tão zangados que nos últimos anos houve agressões anti-imigrantes africanos. - Começaram a dizer que os estrangeiros eram o nosso problema. Não dizem que os brancos são o nosso problema, mas esse risco existe. Os brancos têm de ser espertos e sensatos. Falta boa liderança na comunidade branca. É muito difícil, às vezes sinto-me desencorajado, mas não posso fugir da oportunidade, quando os negros me convidaram para as suas vidas, e vi tantos dos meus amigos morrerem de sida. Há cinco anos que trabalha nisto, e acha que o momento actual é particularmente decisivo. - Desmond Tutu disse que chegaria um tempo em que os negros ficariam impacientes e começariam a perguntar em que beneficiavam nesta nova África do Sul. E julgo que é isso que está a acontecer. Há muito boa vontade na comunidade negra. Sei do que falo. Se eles sentirem que os brancos realmente lamentam, compreenderão. Talvez as pessoas precisem de um choque. Talvez Malema seja necessário. É um oportunista, mas talvez seja uma oportunidade. Os negros pobres também devem perguntar a Malema aquilo que o jornalista da BBC [insultado por Malema] perguntou: se está tão preocupado com os pobres, por que vive em Sandton [subúrbio mais rico de Joanesburgo]? Foi aí que Malema mostrou a sua vulnerabilidade. Vai ser interessante ver como o ANC lidará com ele. E os brancos têm de fazer com que Malema não se torne Mugabe. Parece uma tarefa gigantesca, quando cada pessoa antes de mais está precupada com a sua casa, a sua família, os seus. Mas em África há uma tradição, o ubuntu. Nelson Mandela definiu ubuntu como "o sentimento profundo de que só nos tornamos humanos através da humanidade dos outros". E talvez seja a necessidade de colectivo que levou Desmond Tutu a dizer isto sobre o Mundial, em entrevista recente ao diário britânico The Guardian: "Acredito que as pessoas vivem de algo mais do que apenas pão. Poderemos dizer que conseguimos fazer o Mundial. É a primeira vez que este torneio se realiza no continente africano, e por isso é importante para quem somos, para a nossa auto-estima como continente e como sul-africanos. As infra-estruturas que têm sido desenvolvidas vão beneficiar-nos bem depois de o Mundial ter começado e acabado. "Fala um sobrevivente de tuberculose, que não teve dúvidas em fazer o teste de HIV, depois de ter ajudado a derrubar o apartheid. (Terceira reportagem de várias até ao início do Mundial)
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Portugal, o país pobre, bonito e honrado da "National Geographic"
Quando o mundo descobriu África, a "National Geographic" andou por Angola e Moçambique. Quando quis conhecer Mao, foi espreitá-lo em Macau. Na guerra, visitou Lisboa, um ninho de tranquilidade e de espiões na Europa. As mulheres eram bonitas. O país, esse, era atrasado, analfabeto, sem infra-estruturas. Um retrato de Portugal de 1907 à encruzilhada - a guerra colonial, o fim do Império. (...)

Portugal, o país pobre, bonito e honrado da "National Geographic"
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Animais Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 2 Mulheres Pontuação: 5 | Sentimento 0.224
DATA: 2010-05-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quando o mundo descobriu África, a "National Geographic" andou por Angola e Moçambique. Quando quis conhecer Mao, foi espreitá-lo em Macau. Na guerra, visitou Lisboa, um ninho de tranquilidade e de espiões na Europa. As mulheres eram bonitas. O país, esse, era atrasado, analfabeto, sem infra-estruturas. Um retrato de Portugal de 1907 à encruzilhada - a guerra colonial, o fim do Império.
TEXTO: Foi apenas por ter havido uma revolução que a "National Geographic" se debruçou pela primeira vez sobre Portugal. Relevando uma capacidade notável de adaptação à rapidez da História, a revista norte-americana conseguiu incluir um artigo, na sua edição de Outubro de 1910, escrito originalmente para a publicação The Contemporary Review, de Edimburgo. Caída a monarquia, quis a publicação relatar que pequeno país era este, cheio de glórias passadas. A introdução ao texto ("The Greatness of Little Portugal") começa logo por explicar que os portugueses, cuja população cabia em Nova Iorque, tinham as maiores cabeças da Europa mas eram os mais baixos. A partir de Portugal, os navegadores tinham achado o Brasil e descoberto o caminho marítimo para a Índia. No entanto, no início do século XX, três quartos da população com mais de seis anos não sabiam ler nem escrever. Quando opta por incluir Portugal nas suas páginas, forçada pela actualidade, a publicação norte-americana de base científica tinha já 22 anos de idade. No entanto, o mundo parecia então maior e havia muitos outros assuntos por analisar. Além disso, só 11 anos antes é que a revista, presidida por Graham Bell (a quem se atribui a invenção do telefone) e cujo editor era Gilbert H. Grosvenor, decidira abandonar os "frios factos geográficos. " A partir daí, assumia-se como veículo de divulgação, verdadeira e de interesse humano, de todos os aspectos deste "nosso maravilhoso planeta". O Portugal relatado na edição de Outubro de 1910 é ainda o de um reino, já que o autor, Oswald Crawfurd, não teve tempo de fazer a devida actualização política. Crawfurd equilibra os dados básicos da História de Portugal com informações úteis ao viajante. Fica-se a saber que quem fale espanhol será facilmente entendido, mas não irá perceber nada do que lhe é dito, e que os nomes das estações de comboio não eram anunciados em voz alta, pelo que o mais certo era ir parar a um destino indevido em caso de desatenção. Passando por cima da História, o retrato de Crawfurd pode ser descrito da seguinte maneira, algo familiar: Portugal é um país pobre mas bonito, tolerante, honrado e hospitaleiro. E a verdade é que as descrições feitas pelos posteriores enviados da National Geographic nas décadas seguintes não irão mudar muito. Mal governadosO Portugal apresentado em 1910 é um país rural, onde as técnicas ainda são "as mesmas desde os tempos dos romanos", com regiões mais ricas, como o Douro. As pessoas "são deploravelmente mal governadas", com os partidos políticos infestados de subornos e corrupção, e o país, na corrida contemporânea das nações para o bem-estar, não atingiu nenhum marco significativo. Já o povo, diz o autor, é perspicaz, um "sofredor de longo curso", e dos menos "antipatrióticos do mundo". Maravilhado pela capacidade dos artesãos, sejam eles joalheiros ou carpinteiros, Crawfurd defende que Portugal não é, como alguns pensariam, "uma Espanha de segunda classe", com gente preguiçosa, má literatura e uma linguagem feia. Simplesmente, diz, o português dificulta a compreensão do país por parte dos estrangeiros, já que poucos o falam, e é menos alvo de atenção devido à sua reduzida dimensão e importância na Europa. E para que não restassem dúvidas de que Portugal era uma das apostas da edição de Outubro de 1910, a revista inclui ainda um artigo sobre as florestas e jardins de Portugal, escrito por Martim Hume em 1908. Destacando o exotismo e a beleza do Buçaco e de Sintra, Hume não se restringe apenas à flora, acabando por iniciar dois temas que serão retomados no futuro: o da beleza das mulheres portuguesas e a aversão aos sapatos. No primeiro caso, à entrada de Coimbra, Hume dedica todo um parágrafo aos grupos de bonitas mulheres que encontra, inevitavelmente, com "pesados fardos à cabeça". "Vão invariavelmente descalças, com os seus bonitos e longos ombros, peitos cheios, faces clássicas", de lenços garridos, fixando o olhar, bonito, com uma "modesta dignidade". A visita, indirecta, da "National Geographic" a Portugal continental não foi, no entanto, o primeiro contacto da revista com os territórios portugueses. Antes, já Moçambique e a Madeira tinham sido alvo das suas atenções. No caso deste pequeno arquipélago do Atlântico, a viagem feita por David Fairchild é descrita na edição de Dezembro de 1907, que apresenta a Madeira como "um dos locais mais calmos do mundo, para o qual as almas cansadas das nossas grandes cidades se estão a virar para descansar". O que Fairchild observa é uma ilha com clima temperado, onde as plantas estão perpetuamente em flor, mas onde as pessoas são extremamente pobres. Se aqui era o paraíso para alguns, como no caso dos ingleses de férias, o mesmo sentimento não era partilhado pelos "que são forçados a viver aqui e a ganhar a sua vida". Com cerca de 150 mil habitantes, não há uma escola agrícola ou industrial, e os acessos, em grande parte da ilha, são dignos das cabras. Os tempos áureos do vinho da Madeira tinham chegado ao fim (até porque os médicos começaram a dizer que o líquido era mau para a gota), e Lisboa, segundo Fairchild, não tinha uma lógica de desenvolvimento para a ilha. Com população a mais e sem grandes perspectivas de futuro, muitos madeirenses emigram para as plantações de açúcar do Havai. A ilha do turismo de massas com as largas dezenas de hotéis do Funchal ainda era uma realidade distante. Caberá a Clifford Albion Tinker o privilégio de ser o primeiro redactor a fazer um relato directo de Portugal Continental para a "National Geographic", em Novembro de 1922, mas dedica-se apenas a Lisboa. Apelidada de "Cidade da baía amigável", Tinker percorre as ruas da capital e os seus arredores, misturando dados históricos com as suas impressões, apresentando Almada como a Brooklyn de Lisboa. A capital, que almejava então ser um ponto de referência para os voos intercontinentais entre a Europa e os Estados Unidos, é vista como um "mosaico civilizacional". Seja pela mistura de sangue celta, mouro, judeu e africano, seja pela combinação de automóveis e carros de bois no meio da Baixa pombalina. Sobre as jovens mulheres, diz, estas são belas, carregando na cabeça, "com um certo ar de graça", cestos com fruta, peixe ou vegetais. No seu olhar, os portugueses são parecidos com os gregos, mas "mais urbanos, cordiais e com melhor temperamento". Ao nível das classes mais abastadas, retrata-as como sendo das "mais culturais e graciosas do mundo", tendo a hospitalidade como das principais características. Esta era a Lisboa de uma Alfama com vestígios medievais e dos pescadores de sardinha que lavavam as redes no Tejo, que contrastava com a modernidade da Avenida da Liberdade, com os seus cafés e esplanadas com música ao vivo. A urbe onde as fotografias, pintadas a cor, mostram as varinas sempre descalças. Seriam precisos 16 anos para a "National Geographic" voltar a Lisboa, mas, desta vez, o alvo é percorrer o país, já controlado pelo Estado Novo de Salazar. Robert Moore falava agora de "castelos e progresso em Portugal", uma mistura de passado e presente que terá certamente agradado ao ditador. Durante dois meses, Moore percorreu o país, que assistia de fora à Guerra Civil de Espanha, tirando proveito da nova rede de estradas, às quais tece vários elogios. Em Lisboa, nota que os cafés são dominados pela presença masculina, o que parece lamentar, uma vez que "muitas das mulheres são atractivas", com os seus já conhecidos lenços garridos e formosura "inigualável" quando carregam os cestos. Algumas delas, trabalhadoras, andam descalças, não obstante a existência de recente legislação que o proíbe. Para Moore, torna-se claro que "tanto os sapatos como a lei parecem ser considerados demasiados severos". As obras de SalazarO Portugal que vê é o das obras de Salazar, tal como é o de um país que vive da terra e do mar, com as suas exportações de cortiça, peixe e vinho. Moore visita o Douro e assiste às uvas serem pisadas com os pés, para depois ser transportado rio abaixo pelos barcos rabelos. Fica impressionado com a "alegria dos camponeses" ligados à vindima, apesar das suas condições de vida. Vê a apanha do sargaço para fertilizante no Norte e a pesca na Nazaré. Passa pelo Gerês, Buçaco, Montalegre, Tomar e Fátima, desce pelo Alentejo, onde vislumbra apenas um tractor, e vai até à Ponta de Sagres, onde presta a devida homenagem ao passado português, mais visível do que o seu progresso e modernidade. E desenha todo um roteiro que será seguido anos depois pelos seus sucessores. Lisboa da livre expressãoQuando a revista envia Harvey Klemmer nos primeiros meses de 1941 para perceber que país é este, funcionando Portugal como ponto de comunicação entre os Estados Unidos e a Europa em guerra, Lisboa torna-se de novo o centro exclusivo das atenções (o texto seria publicado em Agosto desse ano). Neutral, a capital portuguesa é ponto de encontro de espiões e porto de abrigo de refugiados de todas as classes. Visto do outro lado do Atlântico, é aqui que terminam, desde o início da II Guerra Mundial, os voos da Pan American Airways, que, com partida em Nova Iorque, ainda precisam de fazer escala na Bermuda e nos Açores (em Setembro de 1941, muito antes do interesse motivado pela erupção dos Capelinhos, a National Geographic dedicou especial atenção à importância estratégica deste arquipélago, onde os veículos motorizados eram a excepção, realçando que as ilhas estavam mais perto dos EUA do que o Havai). Com os hotéis repletos de quem conseguiu escapar ao conflito, do qual Klemmer não se mostra muito convicto de que Portugal possa escapar, os barcos e aviões, encarregues de decidir quem fica e definha ou parte e floresce, passam a estar imbuídos de poderes mágicos para os cerca de 40 mil refugiados. Transtornado pela guerra que vira na Europa e pela censura militar verificada em Hamilton, na Bermuda, Klemmer considera que há mais livre expressão em Lisboa do que noutro lugar da Europa. "Talvez o meu sentido de valores tenha sido distorcido por ter estado numa zona de guerra", diz, para exemplificar o poder de atracção que sente por Lisboa, com as praias sem minas e arame farpado, com luzes, música, boa comida e bebida. E, invariavelmente, as varinas que teimam em andar descalças. É certo que as principais fontes de receitas ainda são as sardinhas e o vinho, além da cortiça exportada em bruto, porque faltam indústrias. Que muitos são pobres, e que dois terços são analfabetos. O que não impede Klemmer de destacar que este pequeno país tem muito para oferecer aos turistas, para logo sublinhar o seu espanto por Portugal continuar não só independente como ter na sua posse vastos territórios além-mar. "Seria descuido negar que Portugal e o seu império está hoje numa posição precária. É quase demasiado esperar que os cães de guerra se quedem às portas da fronteira portuguesa", afirma. O certo é que ficaram, o que foi constatado por Clement Conger, sete anos depois de Klemmer e dois anos após o fim da II Guerra Mundial. Se a Europa ainda recupera dos escombros quando o novo enviado da "National Geographic" chega a Portugal, pouco ou nada tinha mudado no país, não obstante este defender, no título seu artigo de Novembro de 1948, que "Portugal é diferente". Até as varinas mantêm o seu jogo de toca-e-foge com as autoridades policiais, evitando a lei e os sapatos. A única diferença é que, tendo em conta o relato de 1941, já não havia massas de refugiados nem espiões em Lisboa. Conger, que parece ter os exemplares anteriores da "National Geographic" sobre Portugal na sua mala de viagem, vai aos cafés da avenida, ouve o fado, sobe ao Porto, assiste às comemorações do Estado Novo em Braga e vislumbra um Salazar aparentemente imutável e resistente aos ventos da democracia da Europa. Vê camponeses trabalharem "como nos tempos da Bíblia", conhece Aveiro, Viseu e Coimbra, com seu novo Portugal dos pequeninos, verdadeira metáfora em miniatura. Consegue estar presente em Fátima a 13 de Maio, com a aparição já transformada em milagre, passando de carro por milhares de peregrinos que seguiam a pé ou de burro. Ali, vê meio milhão de pessoas a entoarem "ave, ave", com igual número de velas, e que no dia seguinte serão cerca de 700 mil, com igual número de chapéus-de-chuva pretos que se abrem ou fecham em conjunto conforme os humores de S. Pedro, substituídos depois por lenços brancos. Com o roteiro desenhado, desce para ver a cortiça do Alentejo e espanta-se por os turistas ainda não terem descoberto o Algarve. Regressa então a Lisboa, onde os pescadores ainda lavam as redes no Tejo. Se Portugal era diferente, era apenas no olhar de que o visitava. As praias douradas Olha-se para o título, "As praias douradas de Portugal", e pensa-se em turismo, mas a missão de Alan Villiers era a de retratar a pesca. Apesar de mencionar a existência de turistas na Nazaré (alguns vindos de Paris), é o fascínio pelas pesca artesanal que o faz publicar um artigo em Novembro de 1954. De norte a sul visita praias e portos de pesca, destacando os que os métodos utilizados são "inspirados nos antigos fenícios". Cerca de 40 mil homens fazem-se ao mar por todo o território, sem barcos a motor, contando apenas com os animais e os homens. A sua preferência vai para a costa algarvia, soalheira e florida, onde os pescadores pintam olhos aos barcos para que estes se possam guiar melhor. Participa na pesca do atum, onde ouve os cânticos, que lhe soam a árabe, entoados pelos homens enquanto esperam a presa. Quando surgem os primeiros peixes voadores, sinal de que o atum vem a caminho, os homens começam a puxar as redes e a empurrá-los para os navios, iniciando a matança pintada de tons de vermelho. Ao todo, Villiers vê serem apanhados cerca de 150 atuns, prontamente encaminhados para as fábricas de conserva. Estes não irão ser vendidos pelas varinas, várias das quais, diz Villiers, colocam os sapatos junto ao cesto de peixe, equilibrado na cabeça, mal a polícia vira as costas. De todos os artigos da "National Geographic", o de Howard La Fay, publicado em Outubro de 1965, é o mais analítico. Acompanhado por Volkmar Wentzel, que viajara por Angola e Moçambique, e agora assume o papel de fotógrafo, La Fay mostra um país "numa encruzilhada". É o Portugal que tem um novo metropolitano, mas que esconde, debaixo das suas luzes e sorrisos, "uma nação em crise". Perdera os territórios na Índia e resiste à onda das independências em África, com demonstrações patrióticas carregadas de cartazes onde se diz que "lutaremos sempre". Há novos edifícios e alguma industrialização, mas isso quase parece desapontar la Fay. Feito o percurso típico do território nacional, parando nos principais localidades, queixa-se que o vinho no Douro já não é pisado com os pés, entre risos e música. Confirma, no entanto, que ainda há muitos pescadores com recorrem às técnicas dos fenícios, e que cerca de 60 por cento da população trabalha na agricultura. Fazer crescer o AlgarveEm Lisboa, onde se encanta com a luminosidade e com Alfama, para se entristecer com o som do fado, assiste à edificação dos primeiros alicerces da ponte sobre o Tejo, a maior do seu género na Europa. A ideia, explicam-lhe, é fazer crescer a capital, sobrelotada, para a outra margem, ganhando cidades satélite. Ao mesmo tempo, pretende-se abrir o sul ao turismo, passando o Algarve a ficar a quatro horas de viagem. A região, de tanto ser falada, já atraía cerca de 50 mil turistas por ano, para os quais tinham sido construídos meia dúzia de hotéis de luxo entre Monte Gordo e Sagres. Se la Fay tinha dúvidas no título que iria colocar no texto, estas devem ter ficado resolvidas quando entrevistou um historiador, que manteve o anonimato. Portugal, é-lhe dito, defronta-se com "um momento crucial na sua história". "Virámos as nossas costas à Europa", constata o historiador. "Seja lá o que vier a acontecer", acrescenta, "quer fiquemos ou não com as províncias ultramarinas, Portugal vai reunir-se à Europa". Quanto às varinas, essas, já usavam sapatos, mas contra a sua vontade.
REFERÊNCIAS:
Portugal é a nova fronteira dos trabalhadores tailandeses
As mãos que apanham a azeitona, a ameixa, as rosas ou a pêra rocha portuguesas são cada vez mais tailandesas. O número de imigrantes tailandeses residentes em Portugal aumentou exponencialmente nos últimos quatro anos e os empresários agrícolas querem contratar cada vez mais os disciplinados tailandeses. A Confederação dos Agricultores de Portugal afirma que a mão de obra imigrante é fundamental para o sector, e não apenas os tailandeses. A Pública foi conhecer homens e mulheres cujo silêncio enche os campos portugueses. Reportagem de Ana Rute Silva e Enric Vives-Rubio. (...)

Portugal é a nova fronteira dos trabalhadores tailandeses
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Migrantes Pontuação: 3 | Sentimento 0.136
DATA: 2011-08-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: As mãos que apanham a azeitona, a ameixa, as rosas ou a pêra rocha portuguesas são cada vez mais tailandesas. O número de imigrantes tailandeses residentes em Portugal aumentou exponencialmente nos últimos quatro anos e os empresários agrícolas querem contratar cada vez mais os disciplinados tailandeses. A Confederação dos Agricultores de Portugal afirma que a mão de obra imigrante é fundamental para o sector, e não apenas os tailandeses. A Pública foi conhecer homens e mulheres cujo silêncio enche os campos portugueses. Reportagem de Ana Rute Silva e Enric Vives-Rubio.
TEXTO: Outros destaques que podem ser lidos na revista Pública, nas bancas com o jornal PÚBLICO de domingo e na edição “online” para assinantes:– Entrevista: a psicoterapeuta e feminista Susie Orbach, mulher por trás da campanha da Dove dedicada à beleza real e cujo trabalho contribuiu para que este Verão duas campanhas de cosmética fossem banidas no Reino Unido, conversa com Joana Gorjão Henriques sobre esse “projecto pessoal” que são os nossos corpos. Orbach, que também tratou a Princesa Diana da sua bulimia, fala-nos da angústia pela perfeição que afecta hoje homens e mulheres de todo o mundo. – Mário Lopes foi à bola para conhecer por dentro a rivalidade histórica entre Belenenses e Atlético, dois clubes cuja história se mistura com a do próprio futebol português. No sábado passado, dia 20 de Agosto, os clubes que representam dois bairros, Belém e Alcântara, e de onde saíram glórias como Matateu ou Germano, defrontaram-se novamente no campeonato da segunda divisão – 34 anos depois, novas e velhas histórias de dois clubes lisboetas. – Afinal, este golfe não é para velhos. Nem só para meninos ricos. Rita Pimenta foi conhecer um campo, com professores e alunos dentro, em que se tenta combater o estigma do desporto de elites que tem o golfe. E onde se pode praticar no green até no Inverno.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens campo mulher mulheres princesa feminista
Antevisão da Pública: Lampedusa – A Grande Invasão
No início de uma nova semana, que cenário haverá em Lampedusa, onde nos últimos dias dezenas de imigrantes clandestinos morreram nas águas do Mediterrâneo, em fuga dos seus países? A zona tampão da Líbia, agora esboroada pela guerra civil, abriu caminho para novas vagas de homens e mulheres que se juntam ao já intenso fluxo de migrantes tunisinos que procuram novo destino na Europa. Nunca chegaram tantos em tão pouco tempo. Desde o início dos tumultos no Norte de África, Lampedusa recebeu mais de 23 mil clandestinos. Numa parede da ilha italiana situada entre a Tunísia e a Sicília, alguém escreveu: “A guerra veio até nós.” Não traz bombas. Traz gente esperançada. Uma reportagem em Lampedusa por Ana Cristina Pereira (...)

Antevisão da Pública: Lampedusa – A Grande Invasão
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Migrantes Pontuação: 3 | Sentimento 0.4
DATA: 2011-04-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: No início de uma nova semana, que cenário haverá em Lampedusa, onde nos últimos dias dezenas de imigrantes clandestinos morreram nas águas do Mediterrâneo, em fuga dos seus países? A zona tampão da Líbia, agora esboroada pela guerra civil, abriu caminho para novas vagas de homens e mulheres que se juntam ao já intenso fluxo de migrantes tunisinos que procuram novo destino na Europa. Nunca chegaram tantos em tão pouco tempo. Desde o início dos tumultos no Norte de África, Lampedusa recebeu mais de 23 mil clandestinos. Numa parede da ilha italiana situada entre a Tunísia e a Sicília, alguém escreveu: “A guerra veio até nós.” Não traz bombas. Traz gente esperançada. Uma reportagem em Lampedusa por Ana Cristina Pereira
TEXTO: Outros destaques que podem ser lidos na revista Pública, nas bancas com o jornal PÚBLICO de domingo e na edição online para assinantes:- Grândola Vila Morena, FMI, Vampiros estão nas ruas e nas redes sociais, trocam-se vídeos e ficheiros, conspira-se à maneira moderna. Já não há ditadura nem guerra colonial, os tempos mudaram, as vontades também. Mas a música é a mesma. Porquê? Luís Francisco conversou com José Mário Branco, Fernando Tordo, José Barata Moura, José Jorge Letria, Manuel Freire, Luís Cília e Vitorino sobre a apropriação das suas canções de protesto pela geração do século XXI. - O mundo caiu em cima da Vogue americana quando, no auge das revoluções árabes, Asma al-Assad, da Síria, foi elogiada como “magnética primeira-dama”. Na Jordânia, a rainha Rania está sob ataque das tribos pelo seu luxo ostensivo. Em Marrocos e no Qatar, as princesas consortes contam com maior benevolência, mas todas começam a ser tratadas por “Marias Antonietas do Médio Oriente”. Ana Gomes Ferreira conta a história destas “rosas do deserto” tornadas símbolos de nepotismo. - Um ano depois da queda do avião que vitimou o Presidente polaco e parte da elite política do país, Anabela Mota Ribeiro entrevista Katarzyna Skórzynskia, embaixadora da Polónia em Portugal, e o marido, Jan Skórzynski, que foi jornalista e escreveu uma biografia de Lech Walesa. A Polónia, peça central da história da Europa, é um livro inesgotável. - Na era do pronto-a-vestir barato e dos ateliers de costura onerosos, Maria Antónia Ascensão foi à rua do Paraíso, em Lisboa, ver como várias gerações estão a aprender ou a reapreciar a arte da costura. Num atelier em Alfama, aprende-se a fazer roupa lá para casa, a costurar uma bainha ou simplesmente a relaxar.
REFERÊNCIAS:
Ministério Público investiga inspector das Finanças que terá explorado imigrantes
Funcionário do Estado contratava mulheres para limparem a casa ou cuidarem da mãe. Despedia-as, alegando que não serviam para a função. Mas não lhes pagava o tempo de trabalho. Oito mulheres denunciaram-no ao PÚBLICO há uma semana. (...)

Ministério Público investiga inspector das Finanças que terá explorado imigrantes
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Migrantes Pontuação: 18 | Sentimento -0.05
DATA: 2017-02-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Funcionário do Estado contratava mulheres para limparem a casa ou cuidarem da mãe. Despedia-as, alegando que não serviam para a função. Mas não lhes pagava o tempo de trabalho. Oito mulheres denunciaram-no ao PÚBLICO há uma semana.
TEXTO: O Ministério Público vai investigar o inspector das Finanças que terá explorado imigrantes que cuidavam da mãe, um caso denunciado pelo PÚBLICO há uma semana. A Procuradoria-Geral da República "procedeu à recolha de elementos e decidiu remetê-los ao Ministério Público competente, com vista à instauração de inquérito", confirmou o seu gabinete de imprensa. O inspector das finanças contratava mulheres para cuidarem da mãe. Um dia mandava mensagem a dizer: “Está dispensada. ” E não lhes pagava. Ao longo de vários meses de 2016, este inspector das Finanças em Lisboa terá explorado mais de uma dezena de mulheres. Pelo menos duas delas contabilizaram 13 trabalhadoras não pagas, todas imigrantes. O PÚBLICO falou com oito. Uma apresentou queixa à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT). Nessa queixa, referem-se as 13 mulheres e o inspector é acusado de abuso de poder. Na queixa lê-se que ele ameaçava que denunciaria as mulheres ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e que as acusaria de maltratarem a mãe, que terá 95 anos. “Que bom, que bom”, disse uma das mulheres, Etelvina Pereira, quando o PÚBLICO revelou a investigação do MP. “Sabia que isto não ia ficar indiferente. Porque é injusto. Somos pessoas que trabalham porque precisam e ele aproveita-se das situações”, acrescentou. Etelvina trabalhou em casa do inspector em Dezembro, durante cerca de duas semanas. Ao 17. º dia, recebeu uma SMS a dizer-lhe que não precisava de voltar. Mas a mensagem foi enviada por uma das empregadas dele, a pedido do próprio. A mesma que, diz Etelvina, tinha sido proibida de lhe abrir a porta. “É aquilo que faz a todas. E as coisas ficam lá, não deixa irem buscá-las”, contou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Etelvina estava determinada a ir fazer queixa à ACT, e Eni Marques também já tinha manifestado essa intenção. Eni começou como cuidadora e passou a fazer limpeza, seria dispensada ao fim de mais de um mês sem nunca lhe ter sido pago “um cêntimo” — apenas o passe. O próprio inspector, em entrevista, admitiu que não pagou a seis das mulheres que o PÚBLICO referiu na notícia. Alegou primeiro que “nenhuma dessas pessoas” lhe tinha apresentado “identificação”, que “não sabia o apelido delas”. “Estamos a falar supostamente de pessoas que existem”, disse. Depois de garantir não recusou pagar o que lhes devia, confessou: “Não paguei. Porque nenhuma delas me apresentou os documentos de identificação ou passaportes. E todas se recusaram a celebrar contrato escrito que é obrigatório. ” Além de “terem demonstrado que não tinham competência para assistência à minha mãe”. A história que as várias mulheres contaram ao PÚBLICO repete-se. São todas imigrantes, a maioria brasileiras, várias sem autorização de residência legal. Todas dizem ter ficado a prestar serviço de cuidadora ou de limpeza, em média por duas semanas, umas mais e outras menos, até receberem uma mensagem a despedi-las, frequentemente a dizer que a “mãe” não se adaptou a elas. Seguia-se o pedido de um número de identificação bancária para transferência do dinheiro pelo serviço prestado, e depois disso silêncio total — e nada de pagamento. Mensalmente, quatro pessoas trabalhavam para o inspector, conta quem lá esteve.
REFERÊNCIAS:
Entidades SEF
Susan Sarandon e mais de 570 pessoas detidas em protesto contra a política de imigração de Trump
Os protestos foram organizados por movimentos de mulheres. As detidas foram libertadas pouco depois. Sábado há mais manifestações. (...)

Susan Sarandon e mais de 570 pessoas detidas em protesto contra a política de imigração de Trump
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Migrantes Pontuação: 18 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os protestos foram organizados por movimentos de mulheres. As detidas foram libertadas pouco depois. Sábado há mais manifestações.
TEXTO: A actriz Susan Sarandon, de 71 anos, foi uma das mais de 570 manifestantes foram detidos durante um protesto na quinta-feira contra as políticas de tolerância zero de imigração do Presidente dos EUA, Donald Trump, em Washington. Estão previstas novas manifestações, de maior dimensão, para sábado, sob o slogan "as famílias devem manter-se juntas". A congressista democrata Pramila Jayapal foi igualmente detida. A senadora democrata Kirsten Gillibrand também esteve presente na manifestação, mas não se sabe se foi detida. As manifestantes vestiram-se de branco, algumas embrulharam-se em mantas térmicas aluminizadas, e sentaram-se no chão do edifício do Senado Hart Senate Office, perto do Capitólio. Entoaram cânticos ("O que queremos? Famílias livres!") e envergavam mensagens como “we care” (“nós preocupamo-nos”, em alusão ao casaco vestido pela primeira-dama Melania Trump antes de visitar centros de detenção de filhos de imigrantes ilegais, que tinha a frase “não quero saber. E tu?”). A polícia avisou os manifestantes que faria detenções (alegando que se tratava de um protesto ilegal) se não abandonassem o edifício. Pouco depois, a polícia começou a dividir os manifestantes em grupos, encostando-os em linha contra a parede, identificando-os e confiscando as mantas térmicas e os cartazes. Demorou cerca de 90 minutos até terminar o protesto. Grande parte foi libertada pouco depois, e a polícia disse que seriam passadas multas – mas não se sabe ao certo quantas pessoas foram multadas ou qual o valor da coima. Alguns membros do movimento Women’s March (Marcha das Mulheres), que tem mobilizado anualmente milhares de pessoas em protesto contra Donald Trump, estiveram presentes na manifestação de quinta-feira. “Estamos a erguer-nos para exigir o fim da criminalização dos imigrantes”, disse uma das responsáveis pelo movimento, Linda Sarsour. A Women’s March dizia no Twitter que participaram 630 mulheres no protesto. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Uma das manifestantes ouvidas pela Reuters, Loretta Fudoli, apanhou um autocarro de Conway, no Arkansas, para Washington – as cidades distam mais de 1500 km entre si – só para participar no protesto. “Os pais [das crianças separadas] não deveriam sequer estar detidos”, argumentou Fudoli. “[Atravessar a fronteira ilegalmente] não é um crime suficientemente grave para os deter e para lhes tirar as suas crianças”. Antes de chegar ao edifício, a marcha passou na Pennsylvania Avenue, parando em frente ao Trump International Hotel para gritar: “Vergonha! Vergonha! Vergonha!”. O Presidente norte-americano Donald Trump tem enfrentado duras críticas pela forma como tem aplicado medidas contra a imigração ilegal, que separou centenas de crianças dos seus pais na fronteira: os pais eram levados para serem julgados e as crianças ficavam retidas em centros de detenção. Ainda que Trump tenha recuado na decisão de separar famílias, permitindo que fiquem todos detidos no mesmo espaço, o futuro das mais de 2000 crianças que já foram separadas ainda é incerto.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
João adorava barcos, emigrou para trabalhar em jardins, acabou morto num beco de Crawley
Sofria de esquizofrenia mas estava medicado. Vivia na Cruz Quebrada. Aos amigos contou que ia para Southampton. Uma rapariga ia arranjar-lhe trabalho. No aeroporto de Gatwick passou uma noite e pediu para falar com o MI6. (...)

João adorava barcos, emigrou para trabalhar em jardins, acabou morto num beco de Crawley
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Migrantes Pontuação: 11 | Sentimento 0.249
DATA: 2014-07-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sofria de esquizofrenia mas estava medicado. Vivia na Cruz Quebrada. Aos amigos contou que ia para Southampton. Uma rapariga ia arranjar-lhe trabalho. No aeroporto de Gatwick passou uma noite e pediu para falar com o MI6.
TEXTO: Dizia que tinha uma grande conta de luz para pagar. E terá sido com este género de desculpas que foi pedindo dinheiro aos vizinhos, na Cruz Quebrada, Oeiras, onde vivia. Desta vez não seria para comprar tabaco — acontecia, frequentemente, pedir dinheiro para cigarros, ou para um café. . . Desta vez era para a luz. João Esteves, 45 anos, não tinha rendimentos havia anos. Chegou a “reparar barcos”, a “fazer pranchas de surf”, era “um bom profissional a trabalhar com fibras”, relatam amigos e familiares. Mas desde que lhe fora diagnosticada esquizofrenia, passava os dias por ali, perto de casa, ou no café da Sociedade de Instrução Musical Escolar Cruz Quebradense. Não arranjava trabalho, apesar dos “grandes planos” que tinha: “construir barcos”. O dinheiro que foi amealhando deu para comprar um bilhete de avião para Inglaterra. Só ida. E para juntar 200 euros, que foi o que levou na carteira. O plano de emigrar levou tempo a construir. Mas foi mantido em relativo segredo, nomeadamente da mãe, com quem vivia. A 15 de Janeiro, Esteves aterrou no aeroporto de Gatwick. Foi morto na cidade de Crawley, a um par de horas de distância, quatro dias depois. Fernando Afonso, 48 anos, foi dos poucos amigos a quem Esteves contou que pretendia partir. “Fui eu que o levei ao aeroporto”, conta ao balcão do café da Sociedade de Instrução Musical. “O plano dele era arranjar trabalho em Inglaterra, alugar uma casa e depois chamar a mãe para ir viver com ele. ”O julgamento do homem que terá espancado o português, num beco de Crawley, abandonando-o na rua, está a decorrer no tribunal de Lewes. O alegado homicida chama-se Daniel Palmer, um inglês de 24 anos que passou a noite de 18 para 19 de Janeiro de bar em bar, até se cruzar com o português. Filmou-o, já derrubado no chão, a gemer, apertou-lhe o pescoço com um cordel e tirou-lhe fotografias quando já estava inconsciente, segundo contou esta semana o procurador da coroa Paul Valder, responsável pela acusação pública, mostrando ao júri as imagens retiradas do telemóvel do arguido. Palmer diz que está inocente. O caso está a ser seguido pelo jornal Crawley News, que vai relatando na sua edição online as sessões do julgamento onde se espera que testemunhem 20 pessoas nas próximas três semanas. A acusação procura reconstruir os passos de Esteves até se cruzar com Palmer. E os passos de Palmer até se encontrar com Esteves. Havia uma rapariga. . . “Levei-o ao aeroporto um bocado contrariado, mas ele pediu-me. . . disse-me que ia para Southampton”, conta Fernando Afonso. “Disse-me que havia lá uma rapariga portuguesa, que ele tinha conhecido havia anos, quando trabalhava nos barcos, e que ela tinha lá uma firma, que lhe ia arranjar trabalhos de jardinagem. . . Se calhar ele combinou encontrar-se com ela no aeroporto e ela não apareceu, se calhar ela viu o aspecto dele e já não era o mesmo aspecto do homem que ela tinha conhecido havia anos e foi-se embora. . . não sei. . . ” Admite que não tem certezas, nem sabe o nome da rapariga. “Crescemos juntos. Divertimo-nos à brava. Safei-o muitas vezes, porque ele era daqueles que não oferecia resistência. . . atiravam-no ao chão e ele ficava lá. ”A irmã de João Esteves, Margarida Esteves, 39 anos, ela própria emigrada em Inglaterra, também tem a convicção de que o irmão não foi “à aventura”. Teria feito contactos. Haveria até, eventualmente, uma promessa de emprego. Diz que a polícia inglesa lhe contou que João esteves terá mesmo apanhado um autocarro para Southampton no dia em que chegou a Inglaterra. Em busca da tal “rapariga”. Na quinta-feira, em tribunal, os depoimentos de dois agentes das forças de segurança britânicas, citados pelo Crawley News, acrescentaram detalhes à história que tanto Fernando como Margarida gostariam de conhecer melhor: o que aconteceu a João depois de aterrar em Gatwick?Mísseis e MI6Will Hollingdale trabalha no aeroporto de Gatwick. A 17 de Janeiro, dois dias depois de Esteves ter aterrado, cruzou-se com ele. Estava um pouco “desgrenhado”, a barba por fazer. “O senhor Esteves disse-me que esperava poder apanhar o avião de regresso a Portugal no dia seguinte” e que contava que alguém lhe fosse lá levar dinheiro para pagar a passagem. Mas no dia seguinte, Esteves continuava no aeroporto. E Hollingdale explicou-lhe que não podia. Era proibido. O português disse-lhe então que queria falar com o MI6, os serviços secretos britânicos, porque se tinha cruzado com um vendedor de mísseis.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave tribunal homem género morto rapariga
Teresa e Helena já estão casadas
Quatro anos após a primeira tentativa frustrada, Helena Paixão e Teresa Pires transformaram-se hoje no primeiro casal homossexual a contrair casamento civil. Vestidas de maneira informal, as duas mulheres casaram na 7.ª conservatória de Lisboa, sob o olhar atento de alguns amigos e familiares e rodeadas de jornalistas que se apresentaram no local para transmitir o acontecimento em directo. (...)

Teresa e Helena já estão casadas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 9 | Sentimento 0.25
DATA: 2010-06-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quatro anos após a primeira tentativa frustrada, Helena Paixão e Teresa Pires transformaram-se hoje no primeiro casal homossexual a contrair casamento civil. Vestidas de maneira informal, as duas mulheres casaram na 7.ª conservatória de Lisboa, sob o olhar atento de alguns amigos e familiares e rodeadas de jornalistas que se apresentaram no local para transmitir o acontecimento em directo.
TEXTO: Com alguns convidados (um deles levou uma bandeira do movimento LGBT) e uma multidão de jornalistas, a cerimónia começou às 09h40 e ao fim de cerca de 20 minutos a conservadora Cecília Rocha declarou que “em nome da lei e da República portuguesa, Teresa Pires e Helena Paixão estão casadas”. As duas mulheres não esconderam a emoção e abraçaram-se, suscitando na assistência um forte aplauso. Teresa e Helena, que vestiam roupa informal (t-shirt, calças e ténis), cumpriram assim o “sonho”, como designou Teresa, de casar e viver como “ uma família”. “Neste momento somos uma família. Isso é fundamental”, disse Teresa aos jornalistas. “Era um sonho de família”, acrescentou. “Mas não é o final da luta”, alertou, apontando que, entre as muitas batalhas que ainda querem travar, está a questão da parentalidade. Refira-se que Helena e Teresa têm duas filhas, de casamentos anteriores. As duas meninas, Marisa e Beatriz estiveram presentes na cerimónia, sentadas na primeira fila, ao lado da mãe e do padrasto de Helena. Luís Grave Rodrigues, o advogado que acompanhou a luta destas mulheres ao longo de quatro anos, estava radiante. No final da cerimónia (ele e a mulher foram testemunhas, convidados por Teresa), Rodrigues frisou que este primeiro casamento representa “uma vitória de todos os portugueses” e do “Estado de direito”. Lembrou ainda que Helena e Teresa “foram as primeiras a dar a cara” e a “ter coragem” para lutar pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em Fevereiro de 2006, Helena e Teresa tentaram dar entrada a um processo de casamento na 7ª conservatória de Lisboa, precisamente aquela onde casaram esta manhã. O pedido foi-lhes negado e, desde então, as duas mulheres iniciaram uma batalha legal que passou pelo Tribunal Cível de Lisboa Tribunal da Relação, Supremo Tribunal de Justiça e Tribunal Constitucional. Em Julho do ano passado, o Tribunal Constitucional, para o qual tinham recorrido depois da Relação, rejeitou-lhes o pedido, embora a decisão não tenha sido unânime. Ao fim de quatro anos, promulgada a lei que permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, Helena e Teresa conseguiram finalmente contrair casamento. Foram as primeiras. Esta noite a comemoração continua num jantar com amigos. Notícia substituída às 11h48
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei tribunal mulher sexo mulheres casamento lgbt
É só menstruação, menstruação
Mulheres do Século XX é uma série de episódios inspirados à procura de um fio condutor que faça deles uma história, com um elenco em estado de graça. (...)

É só menstruação, menstruação
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mulheres do Século XX é uma série de episódios inspirados à procura de um fio condutor que faça deles uma história, com um elenco em estado de graça.
TEXTO: Cineasta bissexto oriundo da área mais hipster do indie americano, Mike Mills chega à terceira longa, depois de Chupa no Dedo (04) e Assim é o Amor (10), sem alterar significativamente o território em que se move: um olhar melancólico, afectuoso, sensível sobre a complexidade das relações familiares, escondido por trás de altas comédias aparentemente excêntricas mas resolutamente frágeis. Mulheres do Século XX rima com o anterior Assim é o Amor na dimensão autobiográfica da história: onde aquele se inspirava na história verdadeira do pai de Mills, que se assumiu como homossexual já na velhice, este inspira-se na mãe do realizador, e no seu modo libertado e libertário de o educar na passagem dos anos 1970 para os 1980. Realização:Mike Mills Actor(es):Annette Bening, Elle Fanning, Greta GerwigSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Tal como nos anteriores filmes, Mills prova ter olhar certeiro para os detalhes que emprestam verdade a uma personagem a uma história (como a linguagem profundamente feminista de mulheres que não têm problemas em usar “clitóris”, “menstruação” e outras palavras que deixam os homens desconfortáveis à mesa do jantar), e confirma ser um excelente director de actores com olho para o casting: aqui, a luminosa Annette Bening, Greta Gerwig em contra-corrente e Elle Fanning cada vez mais à vontade, e um estreante surpreendentemente sólido, Lucas Jade Zumann. Mas Mulheres do Século XX confirma também que a soma de episódios inspirados, intérpretes em estado de graça e referências da cultura pop como meio de situar instantaneamente a época não chegam para fazer um filme; tal como nos anteriores, é uma série de momentos à procura de um fio condutor que deles faça um todo, sem nunca o encontrar. É mais um filme simpático de um realizador simpático mas que, mesmo no seu mais inspirado, não consegue desfazer-se do lado indie-xoninhas que o tornou conhecido – é pena, havia aqui um filmão à espera de ser encontrado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens cultura mulheres homossexual feminista
Cinco detidos por suspeita de violação de turista japonesa na Índia
Rapariga de 22 anos foi fechada numa cave e violada repetidamente durante quase um mês. (...)

Cinco detidos por suspeita de violação de turista japonesa na Índia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 5 Homossexuais Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-03-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Rapariga de 22 anos foi fechada numa cave e violada repetidamente durante quase um mês.
TEXTO: A polícia indiana deteve três homens suspeitos de extorquir dinheiro e dois suspeitos de violar uma jovem turista japonesa, mantida como refém numa cave durante quase um mês, perto de um templo budista. O calvário da jovem de 22 anos começou pouco depois da sua chegada a Calcutá, capital de Bengala ocidental, a 20 de Novembro, quando conheceu três homens, disse fonte policial à AFP. Os homens, um dos quais falava japonês, convenceram a rapariga a levar 76 mil rupias (mil euros) para viajar para o templo de Bodh Gaya, no estado vizinho de Bihar, no carro deles. Segundo a polícia, quando chegaram ao destino, a jovem foi entregue a dois irmãos, que a fecharam na cave de uma casa, onde foi repetidamente violada durante quase um mês. A rapariga conseguiu depois escapar e chegar à cidade de Varanasi, onde encontrou outros turistas japoneses que a ajudaram a contactar o consulado do Japão em Calcutá. Foi o consulado que a ajudou a apresentar queixa na polícia. Os suspeitos de violação compareceram no sábado perante o juiz no tribunal de Calcutá, que decretou prisão preventiva até 9 de Janeiro. A polícia quer que a vítima identifique os suspeitos. Os três homens que levaram a jovem até Bodh Gaya são acusados de extorsão e de ter entregado a vítima aos supostos violadores. Este caso junta-se a dezenas de outras violações que têm manchado a imagem da Índia. Os esforços do país para erradicar a violência contra as mulheres estão debaixo de olho da comunidade internacional sobretudo desde Dezembro de 2012, quando uma estudante de 23 anos foi brutalmente agredida, violada e atirada para fora de um autocarro por cinco indivíduos em Nova Deli. A jovem acabou por morrer.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens violência tribunal prisão comunidade violação mulheres japonês rapariga