NATO nega ter deixado morrer migrantes no Mediterrâneo
A NATO desmentiu “categoricamente” a acusação, feita pelo jornal britânico "The Guardian", de ter deixxado morrer de 61 migrantes africanos, que foram deixados à sua sorte num barco no Mediterrâneo, depois de alertarem a Guarda Costeira italiana e terem passado por um porta-aviões da Aliança Atlântica. (...)

NATO nega ter deixado morrer migrantes no Mediterrâneo
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 5 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-05-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: A NATO desmentiu “categoricamente” a acusação, feita pelo jornal britânico "The Guardian", de ter deixxado morrer de 61 migrantes africanos, que foram deixados à sua sorte num barco no Mediterrâneo, depois de alertarem a Guarda Costeira italiana e terem passado por um porta-aviões da Aliança Atlântica.
TEXTO: Segundo o diário britânico, a embarcação com 72 passageiros, incluindo mulheres, crianças e refugiados políticos, tinha saído de Trípoli, Líbia, para a ilha italiana de Lampedusa quando se viu em apuros. Fizeram soar alarmes, pediram ajuda da guarda costeira italiana e tentaram contactar um helicóptero militar e um navio da NATO. . . mas não houve qualquer tentativa para os socorrer. Depois de 16 dias, 68 dos ocupantes do navio estavam mortos. Onze chegaram a terra, mas dois morreram pouco depois. Nove sobreviveram para contar a história. “Todas as manhãs acordávamos e encontrávamos mais corpos. Deixávamo-los no barco durante 24 horas, e depois atirávamo-los ao mar”, contou Abu Kurke, um dos sobreviventes. “Nos últimos dias, já não nem sabíamos quem éramos. . Todos estavam a rezar, ou a morrer. ” Lei marítima obriga a ajuda“Houve uma renúncia da responsabilidade que levou àmorte de 60 pessoas”, acusou Moses Zerai, um padre eritreu em Roma que dirige uma organização de refugiados e que esteve em contacto com o navio pelo telefone satélite da embarcação, enquanto a bateria deste durou. “Isto é um crime, e um crime não pode ficar sem castigo só porque as vítimas eram migrantes africanos e não turistas num cruzeiro. ” A lei internacional marítima, sublinha o "Guardian", obriga a qualquer navio, incluindo unidades militares, a prestar auxílio a outras embarcações em dificuldades sempre que possível. Uma porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os refugiados pediu mais cooperação dos navios comerciais e militares. “O Mediterrâneo não se pode tornar no Wild West”, comentou Laura Boldrini. “Os que não ajudam as pessoas não podem continuar impunes. ”As revoltas e instabilidade em países do Norte de África levaram a um aumento do número de pessoas que tentam chegar à Europa de barco – nos últimos quatro meses, acredita-se que 30 mil migrantes tenham tentado atravessar o Mediterrâneo de barco. Muitos morreram. Ninguém admite contacto com barcoEste barco tinha saído de Trípoli a 25 de Março levando 47 etíopes, sete nigerianos, sete eritreus, seis ganeses e cinco sudaneses. Havia 20 mulheres e duas crianças pequenas – uma delas tinha apenas um ano. No caminho para Lampedusa, quando estava no mar há apenas 18 horas, a embarcação começou a ter problemas e a perder combustível. O “Guardian” reconstruiu a história com base em testemunhos dos sobreviventes e pessoas que estiveram em contacto com o barco. Os migrantes começaram por contactar o padre Zerai, que alertou a guarda costeira italiana – que lhe assegurou que tinha dado o alarme e que as autoridades estavam a par da situação. Um helicóptero militar apareceu pouco depois e forneceu pacotes de bolachas, água, e deu indicações de que o barco deveria manter-se na sua posição até chegar um navio de ajuda. Mas nenhum país admite ter mandado este helicóptero. Itália diz ter avisado Malta para o barco, Malta nega ter tido qualquer contacto com os migrantes. O capitão ganês, não vendo sinais do navio de auxílio prometido, decidiu que poderia chegar a Lampedusa com os 20 litros de combustível que ainda tinha. Mas dois dias depois de ter partido da Líbia tinha perdido o rumo, ficado sem combustível, e estava ao sabor da corrente. O porta-aviões da NATOA corrente levou-o para perto de um porta-aviões da NATO, tão perto que seria impossível não terem sido vistos. O “Guardian” tentou descobrir que navio da NATO seria este, e descobrindo que o Charles de Gaulle operava no Mediterrâneo nestas datas, tentou obter comentários. Recebeu uma resposta dizendo que o porta-avião francês não estava no local. Confrontado com notícias que falavam da presença do Charles de Gaulle na região na altura, um porta-voz da NATO recusou-se a fazer comentários.
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Entidades ONU NATO
Bomba do Boko Haram mata 32 pessoas num mercado na Nigéria
Num segundo atentado, perpetrado por duas bombista suicida, mais 15 pessoas morreram, em Kano. (...)

Bomba do Boko Haram mata 32 pessoas num mercado na Nigéria
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num segundo atentado, perpetrado por duas bombista suicida, mais 15 pessoas morreram, em Kano.
TEXTO: O número de mortos vai ser elevado, dizem as autoridades. Para já, diz a Reuters, estão confirmados 32 mortos e 80 feridos. O atentado foi planeado para fazer o máximo de danos e provocar o máximo de medo — a bomba rebentou numa rua cheia de gente em Yola, no Nordeste da Nigéria, dias depois de o Presidente, Muhammadu Buhari, ter visitado a zona e declarado que a derrota do grupo de extremistas islâmicos está próxima. "A explosão ocorreu numa área onde estava uma multidão, pois ali existe um mercado de gado, uma zona de restauração ao ar livre e uma mesquita", disse um funcionário da Cruz Vermelha, Aliyu Maikano, citado pelo jornal The Guardian. "Acredito que o número de mortos vai ser muito alto", acrescentou. Uma testemunha disse que a explosão aconteceu pouco depois das orações da noite, na terça-feira, e quando a multidão que saía da mesquita se dirigia para a zona de comidas. O atentado não foi reivindicado, mas as autoridades dizem que tem a assinatura do grupo islamista radical Boko Haram (oa designação significa "não à educação ocidental"), que em Março jurou fidelidade ao Estado Islâmico. Nos últimos meses, a região foi alvo de uma sucessão de atentados do grupo, mas há três semanas que não havia nenhum. O Presidente da Nigéria esteve em Yola na sexta-feira passada para condecorar soldados e para visitar um campo onde vivem pessoas deslocadas pelos seis anos de violência (17 mil mortos). Muhammadu Buhari disse que o grupo islamista "está à beira da derrota" e pediu aos soldados para se manterem "vigilantes, alertas e centrados para impedir que o Boko Haram entre nas comunidades e atinja alvos desprotegidos". Os observadores dizem que a nova estratégia do Governo de Muhammadu Buhari — que chegou ao poder este ano, sucedendo a Goodluck Jonathan, muito criticado pela pouca eficácia da sua luta contra os islamistas — está a dar frutos, sendo a prova disso o facto de este ter sido o primeiro atentado este mês. Os últimos ataques tinham ocorrido em Outubro, quando 27 pessoas morreram e 96 ficaram feridas numa mesquita em Jambutu; e em Setembro, quando sete pessoas morreram devido à explosão de uma bomba colocada num campo de refugiados que o Presidente também visitara. Buhari estabeleceu um prazo, o final de Dezembro, para as chefias militares derrotarem o Boko Haram, que nos últimos anos avançou no terreno, sobretudo no Nordeste da Nigéria, e se estabeleceu junto às fronteiras com o Chade, o Níger e os Camarões. A explosão de terça-feira em Yola mostra, porém, que os comandos militares não têm uma tarefa fácil e que neutralizar os terroristas pode demorar mais tempo do que o previsto. O Exército tem vindo a divulgar os seus progressos. Na segunda-feira, anunciou ter impedido um atentado em Maiduguri, a capital do estado de Borno, e destruído uma fábrica de bombas do grupo. Num segundo atentado, já esta quarta-feira, em Kano, uma das principais cidades da Nigéria, duas bombistas suicidas mataram 15 pessoas. Segundo a Reuters, duas mulheres fizeram-se explodir junto ao mercado de telemóveis da cidade. Uma testemunha disse ao jornal nigeriano Vanguard que uma explosão ocorreu perto do gerador que abastecia o mercado, ao passo que a segunda bomba foi detonada no centro do mercado.
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Partidos LIVRE
Na República Centro-Africana, a limpeza étnica está a ser feita às claras
Perseguições e assassínio de muçulmanos sucedem-se desde o início do ano. Milícias cristãs vingam-se de meses de abusos. Amnistia Internacional critica falta de "vigor" das forças internacionais. (...)

Na República Centro-Africana, a limpeza étnica está a ser feita às claras
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 Africanos Pontuação: 14 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Perseguições e assassínio de muçulmanos sucedem-se desde o início do ano. Milícias cristãs vingam-se de meses de abusos. Amnistia Internacional critica falta de "vigor" das forças internacionais.
TEXTO: Soba Tibati mal podia andar por causa do reumatismo e não conseguiu fugir quando milícias anti-balaka atacaram em Boyali, aldeia a cerca de 130 quilómetros a noroeste de Bangui. “Decapitaram-no à minha frente, sentado numa esteira de palha, debaixo de uma árvore, fora da nossa cabana”, contou o filho, Dairu, que perdeu também outros 12 familiares, entre eles sete primos, incluindo uma bebé de seis meses. No ataque foram mortos 30 muçulmanos. Foi a 8 de Janeiro, logo depois de as forças Séléka, coligação de antigos rebeldes muçulmanos, que governou e impôs o terror no país entre Março e Dezembro de 2013, ter abandonado Boyali. O caso da família de Dairu, que ferido numa coxa conseguiu fugir, é um dos muitos documentados num relatório divulgado esta quarta-feira pela Amnistia Internacional sobre “limpeza étnica” de muçulmanos na parte ocidental da República Centro-Africana. Centenas de civis muçulmanos foram mortos e largos milhares têm sido forçados a fugir das perseguições das milícias anti-balaka, predominantemente formadas por cristãos que serão movidas por sentimentos de vingança pelos anteriores massacres da coligação Séléka. Organizações como a Human Rights Watch também já alertaram para o cenário de toda a população muçulmana, calculada em 15% do total, ter de deixar o país. A Amnistia documentou repetidos ataques e actos de terror contra muçulmanos civis ocorridos em Janeiro em Bouali, Boyali, Bossembélé, Bossemptélé, Baoro e Bawi, e também na capital, Bangui. E recolheu informações que considera credíveis sobre ataques em Yaloke, Boda e Bocaranga. “Para além de causarem morte e destruição, os ataques contra muçulmanos foram cometidos com a intenção declarada de forçar uma saída do país”, indica a Amnistia. Muitos anti-balaka consideram que os muçulmanos são “estrangeiros” que deveriam ser mortos ou abandonar o país. Os seus actos de violência levaram já à partida forçada de um elevado número – dezenas de milhares, segundo os investigadores no terreno. “Muitas localidades estão agora esvaziadas dos antigos habitantes muçulmanos”, denuncia a organização de direitos humanos, que classifica a situação como uma “tragédia de proporções históricas” que causa “danos tremendos” ao país e é um “precedente terrível” para a região. “Chacinadas à nossa frente”Exemplos da fúria sectária em nome de religião, em que à violência se responde com violência, não faltam. Em Baoro, cidade do noroeste, Oure, uma mulher muçulmana viu os quatro filhos e três sobrinhos, todos rapazes com idades entre oito e 17 anos, serem mortos pelos anti-balaka. “Mataram os meus filhos sem piedade”, contou. Oure, as duas irmãs, a mãe de 75 anos e sete dos mais novos da família tinham saído de casa para irem à mesquita, quando foram interceptados por uma milícia. “As crianças foram chacinadas à nossa frente”, disse, a soluçar. Foi a 26 de Janeiro. Um dos ataques mais mortíferos aconteceu em Bossemptélé, onde, a 18 de Janeiro, um dia após os Séléka terem partido, depois de vencida a resistência dos poucos homens armados que ficaram, pelo menos cem muçulmanos, quase todos civis, foram mortos, entre eles mulheres e idosos. “Em muitos casos os ferimentos mostram que as vítimas foram alvejadas a curta distância”, disse um médico que assistiu feridos e observou cadáveres. Um líder religioso local, imã Mahajir, 76 anos, contou à Amnistia que um filho se escondera debaixo da cama porque os anti-balaka estavam a matar todos os homens, mas foi encontrado e levado para um mercado onde o assassinaram a tiro. Ao genro mataram-no com uma catanada na cabeça. Mahajir agachou-se contra a parede “para lhes mostrar que não era ameaça para ninguém” mas um dos membros da milícia alvejou-o três vezes, duas no abdómen e uma num braço. Outro dos filhos levou-o para a mata e depois para junto da estrada, de onde, disse, “cristãos de bom coração o levaram para o hospital”. Dois dias depois, em Bossemptélé, foram mortas quatro muçulmanas que tinham sido escondidas em casa de uma família cristã. “Invariavelmente, são civis que têm suportado o peso da espiral de violência intercomunitária”, destaca a Amnistia. Nos ataques documentados pela organização pelo menos 200 muçulmanos foram mortos, centenas feridos. Numerosos cristãos perderam também a vida em represálias. O caso de Bayali confirma o carácter revanchista da violência. No mesmo dia em que Soba Tibati e os familiares foram mortos, os Séléka e civis muçulmanos armados voltaram, mataram cristãos e incendiaram casas. Seis dias depois, os anti-balaka regressaram e assassinaram seis membros de uma família muçulmana, todos mulheres e crianças. “Não se escondem”Donatella Rovera, conselheira sobre situações de crise da Amnistia Internacional, duas décadas de experiência no acompanhamento de conflitos, encontrou na República Centro-Africana uma situação diferente, que a impressionou. Ali, os defensores da limpeza étnica “não se escondem, dizem abertamente: nós queremos expulsá-los do país”, afirmou, numa entrevista telefónica ao PÚBLICO, a partir de Bangui. Os muçulmanos deste país encravado entre o Chade, o Sudão, o Sudão do Sul, a República Democrática do Congo, o Congo e os Camarões, são a minoria de uma população que as Nações Unidas estimavam em 2012 em 4, 6 milhões de pessoas. Os cristãos serão 50% e os seguidores de credos indígenas rondam os 35%. As preocupações com a violência sectária levaram o Conselho de Segurança das Nações Unidas a autorizar o envio de forças de paz. Estão no país, em Bangui e noutras cidades, 5400 efectivos de uma missão da União Africana e 1600 soldados franceses chegados em Dezembro. Para o início de Março está previsto o envio pela União Europeia de 500 militares. A sucessão impune de assassínios, violações e pilhagens levou inúmeros muçulmanos a partirem para os Camarões e o Chade, o que agravou os problemas de abastecimento alimentar porque – explicou um correspondente da BBC – eram eles a base da economia local, com expressão relevante em sectores como a pecuária. As organizações Oxfam e Action Against Hunger indicam que em Bangui permanecem menos de uma dezena de grossistas e que a maior parte admite partir, o que agravaria a escassez de alimentos básicos, tornando ainda mais penosa a situação de uma população que, segundo as Nações Unidas, come uma única vez por dia. O Programa Alimentar Mundial iniciou esta quarta-feira uma ponte aérea entre Doula, Camarões, e Bangui para transportar 1800 toneladas de víveres, o necessário para alimentar 150 mil pessoas durante um mês. Trata-se, explicou à AFP o porta-voz Alexis Masciarelli, de uma das mais importantes operações aéreas de emergência dos últimos tempos. Não é, apesar disso, mais do que um “balão de oxigénio”, admitiu. Dados das Nações Unidas indicam que 1, 3 milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar imediata, principalmente as mais de 800 mil que estão em campos de deslocados, para cima de metade em Bangui. Quando Michel Djotodia, que presidiu à República Centro-Africana na fase Séléka, deixou o poder, a 10 de Janeiro passado, o número de deslocados e refugiados era já quantificado em mais de 900 mil. "Bandidos por toda a parte"A limpeza étnica é o capítulo mais recente da tragédia em que está mergulhada a tradicionalmente instável ex-colónia francesa, um dos países menos desenvolvidos do mundo. À tomada de poder pela coligação Séléka sucederam-se perseguições que custaram a vida a milhares de cristãos. “A falta de lei e natureza abusiva do seu governo deu origem a violência sectária e a ódio sem precedentes, com muitos cristãos a atribuírem a responsabilidade dos abusos da Séléka à minoria muçulmana no seu todo”, considera a Amnistia. O medo, a raiva e o desejo de vingança estimularam o aparecimento das milícias anti-balaka, que surgiram como grupos de auto-defesa contra os Séléka e das quais farão parte membros das Forças Armadas fiéis a François Bozizé, o Presidente afastado em Março de 2013. Quando os Séléka foram acantonados pelas forças francesas, encontraram campo livre para perseguirem muçulmanos. Os anti-balaka são reconhecíveis, segundo a AFP, por colares “anti-balas AK”, que os protegeriam das espingardas de assalto AK47. A expressão anti-balaka significa também em língua sango “anti-catanas” ou “anti-machados”. Estas milícias “não são algo de estruturado, são grupos de bandidos que actuam a nível local, espalhados um pouco por toda a parte, que fazem lei”, explica Donatella Rovera. O comandante da força francesa no terreno, general Francisco Soriano, referiu-se na segunda-feira aos anti-balaka como “os principais inimigos da paz” e disse que serão tratados como “bandidos”. Uma atitude mais activa para com as milícias é o que reclama a Amnistia Internacional, que acusa os militares estrangeiros de terem sido lentos a ocupar o vazio criado pela retirada dos Séléka. “Cidade após cidade, à medida que os Séléka partiram, os anti-balaka avançaram e lançaram violentos ataques à minoria muçulmana”, denuncia o relatório. A investigadora da Amnistia considera que a chave para travar a limpeza étnica está nas mãos das forças internacionais. “Mais forças são sempre necessárias”, disse, mas, importante mesmo, é que as que já estão no terreno sejam usadas “de maneira mais eficaz”. “Houve uma falha na avaliação da gravidade da situação. A avaliação que fizeram não acompanhou a evolução da situação no terreno. Não estavam onde eram necessárias e não agiram com o vigor necessário”, critica, pedindo vigilância, quer para evitar novos massacres e perseguições nas zonas onde já ocorreram, quer para impedir que comecem, designadamente na zona oriental, onde até agora os muçulmanos foram poupados a actos de vingança.
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Partidos LIVRE
Malala não recebeu o Nobel mas foi recebida por Obama
Na Casa Branca, a adolescente criticou os ataques com aviões não-tripulados contra as zonas tribais do Paquistão (...)

Malala não recebeu o Nobel mas foi recebida por Obama
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na Casa Branca, a adolescente criticou os ataques com aviões não-tripulados contra as zonas tribais do Paquistão
TEXTO: Pouco mais de um de ano depois de ter sido baleada na cabeça por ordem dos taliban, Malala Yousafzai foi recebida sexta-feira na Casa Branca pela família Obama. No encontro com o Presidente norte-americano, a adolescente paquistanesa que faz da tenacidade a sua arma criticou os ataques com drones contra a sua região natal. “Agradeci ao Presidente Obama pelo trabalho dos Estados Unidos no apoio à educação no Paquistão e Afeganistão e aos refugiados sírios”, revelou Malala, num comunicado divulgado depois do encontro privado, do qual apenas foi divulgada uma fotografia, mostrando a jovem activista paquistanesa sentada ao lado de Obama, da mulher Michelle e da filha Malia. Vítima do fundamentalismo dos taliban – que decretaram a sua morte quando as suas palavras a favor da educação das raparigas se tornaram demasiado incómodas –, Malala deixou críticas àquela que é a principal estratégia de Washington contra os radicais paquistaneses: “Manifestei também a minha preocupação por os ataques com drones estarem a fomentar o terrorismo. Vítimas inocentes são mortas nestes ataques que provocam também grande ressentimento entre o povo paquistanês. ” Para Malala, se os EUA concentrarem os seus “ esforços na educação isso terá um impacto muito maior” do que o recurso a intervenções armadas. Num comunicado distribuído também depois do encontro, Obama elogiou Malala pela “inspiração e o trabalho apaixonado a favor da educação das raparigas no Paquistão” e disse que os EUA se juntam ao povo paquistanês para “celebrar a sua coragem e determinação para promover o direito de todas as raparigas a irem à escola e concretizarem o seu futuro”. De visita aos Estados Unidos para promover a autobiografia I’m Malala (Eu sou Malala, a resposta que deu ao homem que a baleou na cabeça), a adolescente paquistanesa foi distinguida quinta-feira pelo Parlamento Europeu com o Prémio Sakharov para a liberdade de pensamento e foi apontada como uma das favoritas ao Nobel da Paz, atribuído ontem à Organização para a Proibição das Armas Químicas.
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Entidades EUA
Israel matou pelo menos 44 palestinianos em abrigos da ONU
Locais “invioláveis” foram atingidos, enquanto o estado-maior israelita era notificado da localização exacta dos deslocados. A guerra do Verão passado matou 2200 palestinianos em Gaza. (...)

Israel matou pelo menos 44 palestinianos em abrigos da ONU
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Locais “invioláveis” foram atingidos, enquanto o estado-maior israelita era notificado da localização exacta dos deslocados. A guerra do Verão passado matou 2200 palestinianos em Gaza.
TEXTO: Uma escola de meninas foi atingida por 88 projécteis. Outra por fogo directo com projécteis antitanque. Numa terceira, caiu um míssil; noutra, disparos de um tanque. A 30 de Julho, a escola primária de Jabalia, apinhada de refugiados de guerra que dormiam, foi acordada “com os disparos de projécteis explosivos de 115mm” sem “qualquer aviso prévio do Governo de Israel”, transformando “uma sala de aulas num cenário de escombros, roupas e lençóis ensanguentados”, escreve a Associated Press. Nesta escola, contaram-se 17 ou 18 mortos, incluindo um funcionário da ONU e dois dos seus filhos. Pelo menos 44 palestinianos foram mortos e 227 feridos em sete abrigos da ONU, locais que a organização descreve como “invioláveis”. Estamos na guerra do Verão passado, a mais devastadora de todas as que a Faixa de Gaza, enclave de 1, 8 milhões, já enfrentou. Durou 50 dias e morreram 2200 palestinianos, a maioria civis, incluindo centenas de crianças, de acordo com a ONU. Do lado israelita morreram 73 pessoas, incluindo 66 soldados. Os bombardeamentos de Israel destruíram 100 mil casas. “O inquérito concluiu que, apesar das inúmeras notificações dadas ao Exército com as coordenadas GPS sobre as escolas e os locais onde se encontravam deslocados, em todos os sete casos investigados com escolas a serem atingidas, directamente ou na vizinhança imediata, os ataques são imputáveis às Forças de Defesa Israelitas”, diz o porta-voz da Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos, Chris Gunness. “Em nenhuma das escolas atingidas foram encontradas armas, nem nenhuma foi usada por grupos armados”, acrescentou no sumário de um relatório de 207 páginas que vai permanecer privado. “É deplorável que pelo menos 44 palestinianos tenham sido mortos em resultado de acções israelitas contra instalações da ONU que estavam a ser usadas como abrigos de emergência”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas numa carta ao Conselho de Segurança. Ban Ki-moon considerou ainda “inaceitável” que grupos palestinianos tenham colocado a organização e os civis em risco ao usarem três escolas para “esconder armas”. As três estavam vazias. A guerra, a última, foi no Verão passado. Este relatório é apenas um; outro, do Conselho de Direitos Humanos da ONU, será divulgado em Junho. A guerra entre Israel e o Hamas começou depois de um grupo de israelitas ter assassinado um adolescente palestiniano em retaliação pelo assassínio por parte de palestinianos de três adolescentes israelitas, inicialmente raptados. A divulgação deste inquérito coincide com novo aumento da tensão: a violência tem sido intermitente desde o fim do mortífero conflito, negociado pelo Egipto. Sábado, militares israelitas mataram dois jovens palestinianos em dois incidentes. As autoridades acusam ambos de estarem armados com facas – um, de 20 anos, terá esfaqueado um polícia; outro, de 17, atacado a polícia de patrulha com uma faca num checkpoint em Jerusalém Oriental. A família deste adolescente, Ali Abu Ghannan, rejeita a versão israelita, garantindo que o rapaz não podia estar armado e que regressava da festa de um amigo quando foi morto. A família começou por recusar receber o corpo, porque as autoridades israelitas queriam impor um número de pessoas no funeral, algo que Israel faz com frequência em Jerusalém. O corpo acabou por ser entregue depois do prazo estipulado pelos próprios israelitas e o enterro juntou 200 pessoas e terminou sem incidentes. Mais tarde, manifestantes palestinianos lançaram pedras contra a polícia antimotim israelita no Leste de Jerusalém. Na véspera, tanques israelitas tinham disparado contra Gaza em resposta ao que dizem ter sido um rocket lançado a partir do território durante os festejos do Dia da Independência israelita.
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Entidades ONU
Mohsen Makhmalbaf: "Eu choro muitas vezes pelos sírios. Começaram a pedir liberdade e agora todos os matam e maltratam"
O novo filme do iraniano Mohsen Makhmalbaf é dedicado aos sírios mas começou a ser escrito há nove anos. É sobre a ilusão do poder, sobre o “agora” e o “futuro”, sobre o bem e o mal que somos. (...)

Mohsen Makhmalbaf: "Eu choro muitas vezes pelos sírios. Começaram a pedir liberdade e agora todos os matam e maltratam"
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.125
DATA: 2015-09-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: O novo filme do iraniano Mohsen Makhmalbaf é dedicado aos sírios mas começou a ser escrito há nove anos. É sobre a ilusão do poder, sobre o “agora” e o “futuro”, sobre o bem e o mal que somos.
TEXTO: O Presidente que já não o é percorre o país que julgava seu disfarçado de músico de rua, com o neto e herdeiro a fingir-se menina. O Presidente leva às costas um preso político e finge que também ele passou pelos calabouços. O preso que vai às suas costas não pode pousar os pés no chão, a tortura foi muita mas pior teria sido se o tivessem descoberto: ao contrário de todos os camaradas, escapou à execução por ter assassinado o filho e a nora do Presidente, os pais do neto que agora finge ser Maria, a das aulas de dança, de quem nunca deixará de ter saudades, e que já não pode chamar ao Presidente o que sempre foi ensinado a chamar-lhe. “O que é tortura?”, pergunta o menino. O Presidente quer largar o preso que carrega às costas e matar o homem que lhe matou o filho com as mãos, mas não pode fazê-lo. Pode, mas não o faz. Já não é o Presidente, já cantou, bebeu e fumou com todos aqueles homens que mandou para a prisão sem nunca hesitar, por mais novos que fossem, por mais inocentes, decentes ou honrados compatriotas que fossem. O Presidente já é um deles, mesmo que não o saiba. O Presidente é o último filme do realizador iraniano Mohsen Makhmalbaf, há muito tempo a viver no exílio. Aos 58 anos, já foi tudo e o seu contrário. Tinha 15 quando criou o seu próprio grupo de guerrilha para derrubar o Xá Reza Pahlavi. Preso aos 17 anos por tentar esfaquear um soldado, saiu da cadeia cinco anos depois, durante a Revolução Islâmica de 1979, quando o Xá fugiu do Irão. O novo regime dos ayatollahs tentou – e, até certo ponto, conseguiu – criar um cinema ideológico, islamista, e Makhmalbaf chegou a ser um símbolo desse cinema. Depois afastou-se, de novo na oposição, e tornou-se a prova do fracasso da tentativa dos islamistas para matar o cinema, o cinema que é mesmo cinema, aquele que reflecte o Irão e faz do Irão o que o Irão é. De “realizador do regime” passou a dissidente e foi porta-voz no exílio de Mir Hussein Mousavi, candidato da oposição derrotado nas eleições fraudulentas de 2009, que deram a reeleição a Mahmoud Ahmadinejad e provocaram o chamado Movimento Verde, um dos precursores das revoltas árabes. O Presidente é fruto destes últimos anos, turbulentos. “Começámos a trabalhar no guião há nove anos. Depois aconteceu o movimento em 2009 e reescrevemos tudo. A seguir vieram as Primaveras Árabes, e voltámos à escrita. Tentámos que funcione como uma metáfora do agora e do futuro, dos sistemas da ditadura e da revolução, que são sempre iguais. Presidente ou rei, xá ou ayatollah, revolução, golpe de Estado. O Presidente podia ser Saddam Hussein, [o ayatollah Ali] Khamenei [Guia Supremo iraniano], Muammar Khadaffi, Estaline… Este não é um filme iraniano, é universal. ” Medo do povoMakhmalbaf viaja muito e calhou ao Ípsilon entrevistá-lo por telefone quando já passava da 1h no hotel russo onde estava hospedado, perto da fronteira com a China, nove horas de diferença. Estava acordado mas ensonado, cansado mas disponível. Respondeu a tudo e demorou-se nas respostas. O recepcionista é que não ajudou, sem grande vontade de atender a chamada. “Nós”, os que começaram "a trabalhar no guião há nove anos”, são o realizador e a mulher, Marzieh, co-autora do argumento. Como sempre nos seus filmes, este é um negócio de família. A filha mais nova do casal, Hana, assina a edição. O Presidente foi filmado na Geórgia com actores georgianos e isso remete-nos para as revoluções coloridas da última década no Leste da Europa, para a Ucrânia, para tudo e para todos. A caminhada dos presos políticos, uns às costas dos outros, a partilharem o que não têm, remete-nos para as caminhadas dos refugiados que hoje nos entram todos os dias em casa. Uma revolta começa com uma faísca – terá sido aquele momento em que o neto ordenou que se apagassem todas as luzes? – e depressa se torna num fogo que arde no caos. Não é só o Presidente que foge. Todos fogem de todos. Todos, quase todos, querem vingança. Soldados violam noivas, roubam os mais pobres, matam quem se engana no lado da estrada. O Presidente assiste a tudo. “Eles querem matar-nos”, explica ao neto. “Quem são eles?” Eles são todos os que “antes gostavam de nós e nos admiravam”. O barbeiro e o seu filho, o ex-preso que regressa a casa para reencontrar o amor da sua vida, a mulher que o fez sobreviver a tudo, para não suportar continuar a viver quando a descobre com outro e com um filho bebé a chorar lá dentro. “Hoje, são todos meus convidados. Ela vai fazer uma festa e convidar a aldeia toda. ” Não vai. O tempo passa, a vida continua, quem não está fica para trás. Quem sobrevive chora, às vezes calado, às vezes aos gemidos, compulsivamente. “Num sistema de ditadura, cultiva-se o silêncio, a ignorância. O poder vive sempre do medo do povo. Quando uma revolução começa, acaba a ignorância”, diz Makhmalbaf. Mas o medo, o silêncio e a ignorância deixam cicatrizes, feridas abertas. E então acontece a Síria ou a Líbia ou o Sudão. “Quase cinco anos de guerra na Síria e um milhão de mortos. Foi por isso que eu fiz este filme. Os espectadores ficam com esta experiência. É para isso que serve a arte, para educar, não para entreter, mesmo se eu faço filmes para o grande público e quero que toda a gente vá ver este. ”Pelos síriosOs filmes de Makhmalbaf chegam ao Irão, como todos os filmes proibidos feitos por iranianos dentro e fora do país. Há o mercado das cópias-pirata e, com a chegada à presidência de Hassan Rohani, em 2013, até há um ministro da Cultura, Ali Janati, que disse no ano passado ao PÚBLICO que quer ver Isto Não é Um Filme, de Jafar Panahi, o primeiro dos filmes “proibidos” do cineasta desde que foi condenado a prisão domiciliária e impedido de filmar (Táxi, o último, esteve até há dias em exibição em Portugal). Nos últimos dois anos, Makhmalbaf até já teve um dos seus filmes exibido no canal farsi da BBC, com uma audiência de um milhão. Este é um filme que só um iraniano podia ter feito, assim, como os iranianos fazem filmes e, sem nos apercebermos, nos ensinam tudo sobre o mundo e as pessoas. Não sendo um grande filme iraniano, cumpre o propósito de nos poder ensinar mais qualquer coisa. Este “filme não é só para o Irão, é para todas as pessoas, é sobre a dignidade humana”, explica o realizador. Como são todos os bons filmes, como é todo o maravilhoso cinema iraniano. “Nós nascemos no Irão, mas na verdade nascemos neste planeta. A arte não tem nacionalidade. Nascemos para sermos felizes, saudáveis e para termos amigos, para além de encontrarmos um sentido próprio, uma forma de cumprirmos um objectivo qualquer”, diz Makhmalbaf. Perdemo-nos a meio do caminho. “Hoje, ninguém está feliz, toda a gente está sempre em competição, queremos outro trabalho, menos trabalho, mais férias, vemo-nos como um fracasso. ”Makhmalbaf pode parecer um pessimista, mas está longe de o ser. “Se olharmos para os últimos 30 anos, as condições de vida de muitos milhões de pessoas melhoraram imenso, a educação aumentou, a pobreza diminuiu. Mas, ao mesmo tempo, parece que temos mais violência. Eu choro muitas vezes pelos sírios. Começaram a pedir liberdade e agora todos os matam e maltratam. E todos nós somos, de alguma forma, culpados. Há fundamentalismo em todo o lado, em todas as religiões, até no budismo… Eu não penso é que isto seja o fim. ”O Presidente também não quer aceitar que o seu fim tenha chegado. Cego ao ponto de enviar a família para o exílio e permanecer depois do golpe; o neto e as saudades que já sente da Maria fazem com que fique para trás também e tenha o levar na fuga. “Não te chega o que fizeram ao nosso filho? Vá, ele que fique. Ao menos com ele, sei que virás ter connosco”, diz-lhe a mulher, ao embarcar para o jacto onde ele já não conseguirá chegar, no mesmo hangar de onde terá de fugir para não ser morto a tiro pelo mesmo oficial que minutos antes lhe beijara mãos e pés. O Presidente é um filme cheio de acção e algo simplista. “Eu quero afectar as audiências”, repete Makhmalbaf. Vai conseguir. “A arte pode provocar mudança desde que seja verdadeira. ”O Presidente é o Presidente e o seu neto, actores e personagens. “Quero voltar para o palácio. " Mas o palácio dourado onde cada membro da família é vestido e calçado por um empregado diferente “já não é nosso”. “Quero a Maria. ” Vais “esquecer a Maria em dois dias”. “Ainda não esqueci a Maria. ” Onde “é que vamos?”. Ter “com a mamã e o papá ou então com a avó”. Quero “ir ter com a mamã e o papá, porque é que eles nunca mais vieram? Tenho saudades deles”. O Presidente manda muitas vezes o neto tapar os olhos, ou tapar os ouvidos e olhar em frente. Mas em frente há gente a ser morta a tiro por um casaco ou só porque sim. O Presidente também tem a sua Maria, mas esta recusa ficar-lhe com o neto. E então o Presidente tem o levar consigo, de atravessar o país a pé, à boleia de uma carripana, num autocarro, com presos políticos às costas, numa carroça. Despedir-se dos presos, um a um, para os reencontrar. O velho mais inteligente e o homem mais sensato. Tanta inteligência e sensatez que o Presidente não merece. O velho mais inteligente vai tapar os ouvidos ao neto enquanto olha o mar. O homem mais sensato vai tentar salvar a cabeça do Presidente. “Todos somos responsáveis uns pelos outros, por nós e pelos outros. Se esquecermos a língua, o que é que nos separa? Temos todos frio, calor, fome, sede, sofrimento. Às vezes, estamos noutra casa e pensamos que estamos noutro mundo. Tornámo-nos prisioneiros desta falta de consciência, de memória, estamos ocupados nem sabemos com o quê. Há a guerra e há a paz. Há a humanidade. Toda a gente consegue perceber isso”, diz Makhmalbaf. Há um carro a andar entre a multidão, que primeiro aplaude e depois persegue e ataca. Há um velho a tentar alcançar o mar com o neto pela mão para escapar à morte certa. Há um miúdo sempre a dançar com saudades da Maria. Há um velho que toca viola e canta e acaba a beber da mesma garrafa e a fumar do mesmo cigarro daqueles que dias antes oprimia. Há o mar, que o velho e o miúdo conseguem alcançar. Há quem queira pegar fogo ao Presidente, que agora é só um velho, como todos os velhos. Há quem queira salvá-lo para nos salvar a todos. Há um velho que diz ao miúdo para olhar para o mar, e o miúdo já não é o herdeiro do Presidente, é só um miúdo, uma criança como todas as crianças. Há um homem sensato que tem uma ideia: “Vamos obrigá-lo a dançar. " Talvez resulte, talvez nos salvemos.
REFERÊNCIAS:
Religiões Budismo
Operação policial lançada para desmantelar célula que terá apoiado Abedi
Autoridades britânicas estão cada vez mais convencidas de que o autor do ataque de Manchester não actuou sozinho. Salman Abedi poderá ter viajado para a Síria recentemente. (...)

Operação policial lançada para desmantelar célula que terá apoiado Abedi
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-05-25 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170525173638/https://www.publico.pt/n1773355
SUMÁRIO: Autoridades britânicas estão cada vez mais convencidas de que o autor do ataque de Manchester não actuou sozinho. Salman Abedi poderá ter viajado para a Síria recentemente.
TEXTO: A polícia britânica suspeita que o autor do atentado terrorista de Manchester, Salman Abedi, teve apoio de uma rede jihadista activa no Reino Unido. Foram detidas cinco pessoas, incluindo um dos irmãos de Abedi. Ao fim da noite de terça-feira, a primeira-ministra, Theresa May, anunciou a subida do grau de alerta para o nível máximo – algo que não acontecia desde 2007 – indicando o “perigo iminente de um novo ataque”. Os receios das autoridades britânicas assentam na séria possibilidade de que haja cúmplices do autor do atentado em fuga. O ataque de Manchester “foi mais sofisticado do que alguns dos ataques que vimos anteriormente, e parece provável, e possível, que ele não o tivesse feito sozinho”, disse à BBC a ministra britânica do Interior, Amber Rudd. As forças de segurança reforçaram a presença nas principais cidades britânicas. Foram mobilizados mais de três mil soldados para patrulharem os principais pontos considerados sensíveis. Foi o que aconteceu, por exemplo, em Downing Street, onde o destacamento policial regular foi substituído por militares. No Palácio de Buckingham, o render da guarda foi cancelado, para evitar a mobilização de elementos da polícia necessários noutros locais. A principal linha de investigação que está agora a ser seguida pelas autoridades britânicas está relacionada com o tipo de apoio que Abedin terá tido da hipotética rede terrorista. Os investigadores têm a convicção de que não foi o homem de 22 anos quem fabricou o dispositivo explosivo utilizado no ataque na Manchester Arena na noite de segunda-feira, após um concerto da cantora americana Ariana Grande. Durante esta quarta-feira, a polícia fez mais detenções relacionadas com o ataque em várias operações na região de Manchester. São já cinco as pessoas detidas, sob suspeita de terem apoiado de alguma forma o autor do ataque. Também foi preso o irmão mais novo de Abedi, Hashem, de 20 anos, em Tripoli, capital da Líbia, suspeito de estar a preparar um ataque terrorista, de acordo com as autoridades locais. A BBC cita um membro da comunidade muçulmana de Manchester que disse saber de várias denúncias de pessoas que há pelo menos cinco anos receavam o comportamento de Abedi. Duas pessoas chegaram mesmo a contactar uma linha telefónica de anti-terrorismo para referir o caso do jovem de origem líbia, que manifestava sinais de “apoiar o terrorismo”. Salman Abedi nasceu em Manchester, em 1994, pouco tempo depois de os seus pais terem chegado ao Reino Unido com estatuto de refugiados, em fuga do regime líbio então liderado por Muammar Khadaffi. O pai terá combatido o regime líbio nos anos 1990 no Grupo Islâmico Líbio de Combate, com ligações à Al-Qaeda e catalogado como terrorista pelos EUA, antes de conseguir fugir com a família para o Reino Unido. Integrado na comunidade líbia de Manchester – uma das maiores na terceira cidade do país –, Abedi chegou a frequentar a Universidade de Salford, onde estudou gestão durante dois anos até desistir. Em declarações à BBC, um antigo colega de escola descreveu Abedi como uma pessoa “divertida”, mas “muito irritável” e que facilmente ficava furioso. Outras testemunhas dizem que o jovem tinha uma má relação com os pais – que entretanto regressaram à Líbia, onde vivem com o filho mais novo, detido esta quarta-feira. É incerto quando é que Abedi iniciou o processo de radicalização, embora haja muitos indícios de que terá coincidido com a sua saída da universidade, há cerca de um ano. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O ministro francês do Interior, Gerard Collomb, disse que Abedi terá estado “provavelmente na Síria” nos últimos tempos, onde poderá ter tido contacto com o Daesh. O ataque foi reivindicado pelo grupo, mas as autoridades britânicas não conseguiram determinar qual o grau de envolvimento entre Abedi – e os seus potenciais cúmplices – e o grupo jihadista. Em muitos dos recentes ataques na Europa, a ligação dos seus autores ao Daesh era mínima – em geral, apenas responderam a “apelos” por parte do grupo, mas não tiveram qualquer contacto directo com operacionais. A polícia está também a investigar as viagens frequentes de Abedi à Líbia nos últimos tempos. A confirmação de que o autor do atentado de Manchester terá viajado para a Síria irá levantar muitas dúvidas em relação à capacidade de monitorização das autoridades britânicas. Os serviços de informação calculam que mais de 800 britânicos – muitos dos quais provenientes da região metropolitana de Manchester – tenham viajado para a Síria para lutar pelo Daesh. O comissário europeu para a Segurança, Julian King, disse em Março que apenas “um quarto” destes combatentes permanecem na Síria, à medida que o Daesh vai perdendo grande parte do terreno que conquistou desde 2014.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Tony Abbott promete rever procedimentos de avaliação dos riscos depois de sequestro em Sydney
Australianos prestam homenagem às duas vítimas do sequestro do café Lindt, e recusam associar a tragédia a religião. (...)

Tony Abbott promete rever procedimentos de avaliação dos riscos depois de sequestro em Sydney
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Australianos prestam homenagem às duas vítimas do sequestro do café Lindt, e recusam associar a tragédia a religião.
TEXTO: O primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, prestou homenagem às vítimas do sequestro de um café no centro de Sydney e prometeu reparar o sistema de avaliação de riscos e vigilância de suspeitos, que permitiu que o responsável pelo incidente, um refugiado iraniano que se autoproclamava xeque e se encontrava em liberdade condicional, acusado de vários crimes, não tivesse sido classificado como uma ameaça à segurança. Numa conferência de imprensa, horas depois do fim do cerco de 17 horas ao café Lindt de Sydney, o primeiro-ministro questionou a razão pela qual as agências estaduais e federais deixaram sem vigilância Man Haron Monis, “um indivíduo com uma história tão longa e problemática [que] não estava em nenhuma lista de suspeitos [de terrorismo] e podia andar à solta”. No ano passado, Monis foi condenado a 300 horas de serviço comunitário por ter enviado cartas “grosseiramente ofensivas” a familiares de soldados australianos mortos no Afeganistão. Também foi condenado por cumplicidade no homicídio da sua ex-mulher, pela nova companheira. Já este ano, foi acusado de assédio e ofensas sexuais a mais de 40 mulheres – a Justiça australiana concedeu-lhe liberdade condicional até o processo chegar ao fim. A pergunta tem sido repetida pela imprensa e a opinião pública do país, que, segundo descreve esta terça-feira a Associated Press, passou do choque e horror à fúria e à confusão – “Todos nós nos sentimos afrontados e ofendidos por este indivíduo poder andar livremente pela rua”, resumiu o chefe do governo de Nova Gales do Sul, Mike Baird. “Seguramente, temos muito para aprender com o que se passou”, observou. A incompreensão era patente entre as centenas de pessoas que se deslocaram até Martin Place para depositar flores no passeio, que em poucas horas se transformou num denso tapete colorido em homenagem às duas vítimas mortais do sequestro: Katrina Dawson, uma advogada de 38 anos e mãe de três filhos, e Tori Johnson, o gerente do café Lindt, que tinha 34 anos. Todos se questionavam por que Monis, morto pela polícia, não fora considerado uma ameaça, ou como tinha conseguido comprar uma arma num país com uma das mais apertadas legislações do mundo. Milhares de pessoas acompanharam uma cerimónia memorial na catedral de Sydney. E se muitos se referiram a um temor de ataque que nunca tinham sentido antes, a esmagadora maioria dos australianos manifestaram a sua solidariedade com a comunidade muçulmana do país, recusando fazer uma associação entre a religião e o acontecimento. A distinção foi também sublinhada por Tony Abbott, que descreveu o sequestrador como um indivíduo “mentalmente instável” e não como um fanático religioso. Por isso, acrescentou, seria difícil evitar o incidente, mesmo se o nome de Monis estivesse numa lista de suspeitos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homicídio ataque mulher comunidade mulheres refugiado morto assédio
As mortes sírias que não deixaram “olhos secos” no Conselho de Segurança
“Sim, é verdade. A ONU derramou lágrimas ao ver imagens de crianças sírias sufocarem até à morte.” Falta agir e fazer algo para impedir os ataques contra civis, como os raides com bombas de cloro. (...)

As mortes sírias que não deixaram “olhos secos” no Conselho de Segurança
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.06
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: “Sim, é verdade. A ONU derramou lágrimas ao ver imagens de crianças sírias sufocarem até à morte.” Falta agir e fazer algo para impedir os ataques contra civis, como os raides com bombas de cloro.
TEXTO: 16 de Março, 20h30, Mohamed Tennari estava em casa a ver televisão. Primeiro, “ouviu os helicópteros, seguiu-se o ruído de algo a cair, depois um cheiro sufocante a lixívia”. Tennari, 35 anos, correu para o hospital que dirige, em Sarmin, província de Idlib, Noroeste da Síria. Recordou essa noite num encontro à porta fechada com os embaixadores dos países membros do Conselho de Segurança da ONU e mostrou-lhes um vídeo gravado no hospital: duas crianças em cima do corpo da avó, uma terceira, ainda bebé, na cama do lado. As bocas abertas, mãos com luvas que as tentam ajudar com oxigénio, injecções. As três, com idades entre 1 e 3 anos, morreram, os pais e a avó também. Esta família, como tantas outras, terá morrido vítima de ataques com bombas que são construídas por barris cheios de cloro, um químico útil em vários campos mas cuja utilização como arma de guerra está proibida – há até uma resolução aprovada pelo Conselho de Segurança a 10 Março, dez dias antes dos ataques descritos por Tennari, a banir o seu uso na Síria. Em Setembro do ano passado, já a Organização para a Proibição das Armas Químicas alertava para o uso “repetido e sistemático” de cloro em bombardeamentos em vilas no Norte da Síria. De acordo com a ONG Human Rights Watch, vários barris com cloro foram largados em áreas sob controlo da oposição na província de Idlib entre 16 e 31 de Março. Segundo o activista Kenan Rahmani, nascido em Damasco mas a viver em Washington e que acompanhou a delegação de médicos sírios durante as audiências desta semana em Nova Iorque, enquanto os diplomatas ouviam os testemunhos, o regime de Bashar al-Assad voltava a usar bombas com cloro. Na audiência participaram ainda Zaher Sahloul, presidente da Sociedade Médica Sírio-Americana, que viajou recentemente até Sarmin para entrevistar civis e médicos, examinar provas e trabalhar com os médicos para os ajudar a melhorar a resposta a futuro ataques (Tennari estudou para ser radiologista e nunca foi treinado para tratar vítimas de ataques com cloro), e Qusai Zakarya, um jovem que sobreviveu aos ataques com gás sarin de Agosto de 2013, quando pelo menos 1400 pessoas, incluindo 400 crianças, morreram em Ghutta, zona dos arredores de Damasco que resistia há ano e meio a Bashar. Encontro pouco comumO encontro com estes três sírios foi “muito pouco comum e muito emocional”, diz a embaixadora dos EUA na ONU, Samantha Power. “Se houve olhos secos na sala eu não vi nenhuns”, descreveu, repetindo o que contaram outros que estiveram presentes. “Sim, é verdade. A ONU derramou lágrimas ao ver imagens de sírios sufocarem até à morte. Alguns membros do Conselho de Segurança até se obrigaram a assistir apesar de tentarem desviar o olhar”, escreveu Kenan Rahmani na sua página de Facebook. “Mas isso não chega para salvar os sírios que vivem a realidade que aqueles vídeos transmitem. O mundo precisa de acção. ”Power sublinhou que quem tenha estado por trás daqueles ataques tem de ser “responsabilizado”, admitindo que as provas têm de ser suficientemente fortes para convencer todos os membros do Conselho de Segurança (leia-se Rússia) mas lembrando, ao mesmo tempo, que na Síria quem tem helicópteros é o regime. “Se não agirmos perante isto então outros vão acreditar que podem fazer este género de coisas com impunidade e isso será deplorável”, disse aos jornalistas em Nova Iorque o embaixador da Nova Zelândia, Jim McLay. Naquela noite de 16 de Março, contou Tennari, pelo menos 120 pessoas chegaram ao seu hospital depois do que ele descreve como dois ataques. “Foi o caos”, afirmou. O médico conhecia o pai das crianças que morreram, e que morreu também, tinha uma loja onde reparava aparelhos electrónicos em Sarmin. A família vivia numa cave que se transformou numa “câmara de gás” quando o gás tóxico se infiltrou através do sistema de ventilação. Tennari diz que temeu pelo seu próprio estado, sentindo-se nauseado e com os olhos a arder. Uma das enfermeiras desmaiou. A maioria dos feridos, garante, eram mulheres e crianças. Insuficiência renalCom o conflito sírio já no seu quinto ano e sem sinais de abrandar nas suas consequências, nos últimos dias ouviram-se nos EUA outros apelos. Como por exemplo, os repetidos pedidos do alto comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, para que os países industrializados, incluindo os EUA, dêem abrigo a muitos dos 4 milhões de sírios que já fugiram do seu país. Sem conseguir mais enfrentar o afluxo de refugiados, os países da região começam a fechar fronteiras e a impor restrições. Há meses que Jordânia e Líbano restringiram as entradas, a Turquia está agora a fazê-lo. “A escala desta crise é enorme e só vai piorar”, disse ao New York Times Alexander Betts, professor de estudos de refugiados em Oxford, enquanto o Congresso debatia o pedido de Guterres. “A crise síria coloca todo o sistema humanitário numa encruzilhada. Obriga-nos a repensar de forma radical como protegemos e ajudamos pessoas deslocadas em tão grande número. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA
Morreu Mike Nichols, o cineasta que leu os sinais da Nova Hollywood
Um dos títulos que abriu as portas à Nova Hollywood é dele: The Graduate/A Primeira Noite. Venceu Óscares, Tonys, Emmys e Grammys. Começou na stand up comedy, imparável. Os actores precipitavam-se para os seus filmes e encenações. "O melhor da América", disseram dele. Porquê tanto? (...)

Morreu Mike Nichols, o cineasta que leu os sinais da Nova Hollywood
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um dos títulos que abriu as portas à Nova Hollywood é dele: The Graduate/A Primeira Noite. Venceu Óscares, Tonys, Emmys e Grammys. Começou na stand up comedy, imparável. Os actores precipitavam-se para os seus filmes e encenações. "O melhor da América", disseram dele. Porquê tanto?
TEXTO: O realizador norte-americano Mike Nichols, autor do retrato da relação do finalista Dustin Hoffman com a madura Mrs. Robinson em A Primeira Noite/The Graduate, morreu quarta-feira à noite aos 83 anos. A notícia da sua morte foi dada na manhã desta quinta-feira pelo presidente do canal norte-americano ABC - uma das suas jornalistas e pivot, Diane Sawyer, era casada com Nichols. As causas da morte ainda não são conhecidas. Nascido em Berlim, na Alemanha, Mikhail Igor Peschowski naturalizou-se norte-americano em 1944. Chegara ao país, em 1939, com a sua família de refugiados judeus, aos sete anos. É um dos 12 nomes que recebeu na sua carreira os quatro mais cobiçados prémios das indústrias cinematográfica, discográfica, televisiva e teatral – o Óscar, o Grammy, o Emmy e o Tony. Para o dramaturgo Tom Stoppard, citado pela NBC, ele era "o melhor da América". Será tanto assim? Será o trabalho de Nichols um daqueles exemplos da distância que pode separar a avaliação da crítica americana da avaliação da crítica europeia? Bertrand Tavernier e Jean-Pierre Coursodon no seu dicionário (que é uma ode) 50 Anos do Cinema Americano comparam o seu "caso" com o de Jerry Lewis: este incompreendido no seu país e incensado pela crítica francesa e Nichols profeta no seu país e desprezado pela crítica europeia. O crítico e historiador britânico David Thomson (A Biographical Dictionary of Film) escreve que Nichols teve, ao longo da sua carreira, mais o perfil de "um produtor", "um embalador de coisas", do que de cineasta com identidade própria - "há ali alguma coisa de mais substancial do que uma enorme reputação e um instinto de produtor em relação aquilo que os espectadores sofisticados querem ver?"A "embalagem" e a "sofisticação" podem explicar. E Thomson estaria a pensar, obviamente, nos dois filmes (Quem Tem Medo de Virginia Wolf? e A Primeira Noite) com que se estreou no cinema um encenador da Broadway (o teatro foi o seu grande amor, depois de ter visto a encenação de Elia Kazan do Eléctrico Chamado Desejo) e um dos elementos da troupe The Compass, mais tarde chamados Second City, que no final dos anos 50 mostravam a sua stand up comedy pelos cabarets novaiorquinos. Nesse grupo estava Elaine May, com quem Nichols formaria uma dupla que improvisava comédia a alta velocidade, especialista em judaísmo e neurose (eram conhecidos como “the world’s fastest humans” e Woody Allen era um fã), e que, como cineasta, será um exemplo, em termos de recepção pública, contrário ao de Nichols: um low profile mantido pela própria, como se não acreditasse de forma determinante no que estava a fazer, no que foi acompanhada pelo desinteresse da crítica (e no entanto, o dela é um olhar bastante selvagem sobre a comédia americana que necessita de ser conhecido ou reavaliado). Mas voltando a Nichols, e a essa capacidade indesmentível de ler os sinais do tempo: percebeu a implosão de uma era e a entrada em cena de uma nova geração alimentada pela contracultura. Quem Tem Medo de Virginia Wolf?, a adaptação da peça de Edward Albee com Elizabeth Taylor e Richard Burton a fazerem um casal de meia idade que incha e rebenta com a sua malaise (e logo eles, Taylor e Burton, espectáculo terminal de um tempo), e a iniciação de Dustin Hoffman ao compromisso, em A Primeira Noite, são acontecimentos do cinema americano tal como ele se anunciava nos anos 70. Uns estavam a acabar, outros a começar. O primeiro filme valeu-lhe uma nomeação ao Óscar, o segundo o Óscar de melhor realizador. Neste filme, que hoje é iconografia pop (veja-se o que Tarantino fez com a sequência de abertura de Jackie Brown, colocando Pam Grier no aeroporto no lugar de Dustin Hoffman, trocando a melancolia de Simon & Garfunkel na banda sonora pela euforia soul de Bobby Womack), realce-se a fixação chic, a que hoje chamaríamos hipster, na Nouvelle Vague, que também está em Bonnie & Clyde, de Arthur Penn - não por acaso os dois títulos que se tornariam os mais influentes daquela era. E a possibilidade de afirmação de um novo tipo de actor a partir do momento em que Nichols escolheu Dustin Hoffman para protagonista em vez de Robert Redford, com quem trabalhara em Descalços no Parque, de Neil Simon, êxito nos palcos e primeiro Tony para o encenador, em 1964. Em 2000, numa entrevista ao New York Times, Hoffman, que tinha quase 30 anos quando interpretou a sua personagem de 21, diria: “Que eu conheça não há no século XX um gesto de casting mais corajoso do que aquele de me pôr naquele papel. "Nichols continuou a dividir a sua carreira entre o cinema e o teatro - entre 1970 e 2000, Tchékhov (houve uma Gaivota com Meryl Streep, Natalie Portman, Christopher Walken, John Goodman e Kevin Kline), Lillian Hellman, David Rabe, Ariel Dorfman, Tom Stoppard, Neil Simon, Beckett (À Espera de Godot com Steve Martin e Robin Williams). Continuou a montar os seus packages, a mostrar-se embalador de coisas, para utilizar a expressão de David Thomson: Melanie Griffith em Working Girl (1988), Meryl Streep e Shirley MacLaine em Postcards from the Edge (1990) ou Harrison Ford em Regarding Henry (1991) podem ser exemplos do high profile glow que um crítico americano considera ter-se mantido no trabalho de Nichols, pelo facto de as estrelas se precipitarem para trabalhar com ele. E mesmo que se possa traçar uma linha entre a encenação que fez de Descalços no Parque e filmes como Carnal Knowledge (1971), Heartburn (1986), The Birdcage (1996) ou Closer (2004) - regressos ou actualizações aos infernais rituais de acasalamento e ruptura comjugal por um homem que foi casado quatro vezes (“penso que talvez o meu tema sejam as relações entre homens e mulheres à volta de uma cama", disse ao Washington Post) -, segundo alguns (leia-se, por exemplo, o obituário do New York Times) foi demasiado prolífico, terá escolhido muitos dos seus projectos de forma fortuita ou apenas pelo dinheiro. Realizador sem estilo? Um texto publicado no New York Times em 2009, por altura de uma retrospectiva no MoMA, chamava-lhe "mestre da invisibilidade". É uma fórmula sedutora, daquelas que jogam tudo em momentos de reavaliação, mas que se esgota na sedução - e parecendo violentar a leitura autorística de um corpo de trabalho que a isso resiste. Sem, afinal, dizer "o que faz de um filme de Nichols um filme de Nichols".
REFERÊNCIAS: