Marcelo convida António Guterres e Lobo Xavier para o Conselho de Estado
Depois de Eduardo Lourenço, foram convidados também Luís Marques Mendes e Leonor Beleza. (...)

Marcelo convida António Guterres e Lobo Xavier para o Conselho de Estado
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-02-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois de Eduardo Lourenço, foram convidados também Luís Marques Mendes e Leonor Beleza.
TEXTO: O Presidente da República eleito, Marcelo Rebelo de Sousa, convidou o antigo primeiro-ministro socialista António Guterres e o antigo dirigente do CDS-PP António Lobo Xavier para integrarem o Conselho de Estado, refere um comunicado enviado à agência Lusa. O antigo presidente do PSD Luís Marques Mendes e a presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, foram também convidados para integrar o órgão consultivo do Presidente da República, assim como o ensaísta Eduardo Lourenço, conforme já noticiado. O gestor e ex-dirigente do CDS António Lobo Xaver e o actual comentador Luís Marques Mendes já confirmaram ao PÚBLICO terem aceite o convite de Marcelo Rebelo de Sousa para integrarem o órgão de consulta do Presidente da República. O ex-presidente do PSD, que foi convidado no final da semana passada, faz actualmente parte do Conselho de Estado, mas é a primeira vez que é designado pelo Presidente da República para ocupar aquele órgão consultivo. António Guterres deixou no final do ano passado as funções de Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e é candidato ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas, com o apoio do Governo português. A social-democrata e antiga ministra da Saúde Leonor Beleza já integra o Conselho de Estado, por escolha do actual Presidente da República. Os outros quatro actuais conselheiros de Estado indicados por Aníbal Cavaco Silva são João Lobo Antunes, Marcelo Rebelo de Sousa, António Bagão Félix e Vítor Bento. O Conselho de Estado é o órgão político de consulta do Presidente da República, presidido por este e composto pelo presidente da Assembleia da República, pelo primeiro-ministro, o presidente do Tribunal Constitucional, o provedor de Justiça, os presidentes dos governos regionais e os antigos Presidentes da República. Para além destes membros, integra cinco cidadãos designados pelo Presidente da República, pelo período correspondente à duração do seu mandato, e cinco eleitos pela Assembleia da República, de harmonia com o princípio da representação proporcional, pelo período correspondente à duração da legislatura. A 10 de Dezembro, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, se fosse eleito Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, faria as suas escolhas para o Conselho de Estado "tomando em consideração a composição pré-existente" deste órgão consultivo, ou seja, tendo em conta os membros que o parlamento iria entretanto eleger. A 18 de Dezembro, a Assembleia da República elegeu Carlos César (PS), Francisco Louçã (BE), Domingos Abrantes (PCP), Pinto Balsemão (PSD) e Adriano Moreira (CDS-PP) para o Conselho de Estado, em resultado da votação de duas listas separadas, uma das bancadas da esquerda e outra da direita.
REFERÊNCIAS:
Ahmad al-Mohamad, o homem cujo passaporte viveu oito vezes
Adensa-se o mistério da identidade do terrorista encontrado com um passaporte ao lado, junto ao Estádio de França. (...)

Ahmad al-Mohamad, o homem cujo passaporte viveu oito vezes
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-11-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Adensa-se o mistério da identidade do terrorista encontrado com um passaporte ao lado, junto ao Estádio de França.
TEXTO: A polícia sérvia suspeita que pelo menos oito pessoas entraram este ano na Europa com passaportes em nome de Ahmad al-Mohamad, como aquele que foi encontrado junto ao corpo de um dos bombistas que se fizeram explodir junto ao Estádio de França na sexta-feira à noite. Já poucas dúvidas restam de que se trata de um documento falso, mas persiste o mistério da verdadeira identidade do atacante, que terá usado as rotas dos refugiados para entrar no espaço europeu, talvez acompanhado de outra pessoa. A polícia francesa difundiu na terça-feira uma fotografia, solicitando informações, que diz ser de um dos terroristas do estádio. A foto é diferente da que foi divulgada pelo jornal sérvio Blic – mas isso talvez se explique por haver vários passaportes com o mesmo nome, e apenas algumas variações nos dados pessoais. O documento original pertencia a um soldado do exército do Presidente sírio Bashar Al-Assad, de 25 anos, natural da cidade de Idleb, morto há vários meses. Nos tempos que correm, não é difícil obter um passaporte sírio: há-os à venda a partir de 250 euros, sobretudo na Turquia. Também há os passaportes roubados, com selos verdadeiros e fotografias alteradas, que podem custar 5000 euros. Mas o pagamento depende se quem compra chega ao destino, explica o Guardian. A Frontex, a agência europeia de controlo das fronteiras, já tinha dado o alarme. “Há pessoas a comprar passaportes sírios falsos porque sabem que estes lhes garantem asilo na União Europeia”, disse à rádio Europe 1 Fabrice Leggeri, director da Frontex. “São pessoas que falam árabe, vêm do Norte de África ou do Médio Oriente, mas têm o perfil de migrantes económicos”, precisou. Mas, até então, nunca se tinha detectado que terroristas usassem este esquema para se introduzirem na Europa. Até porque há bastantes terroristas europeus – como se percebe por todos os envolvidos nos ataques de Paris identificados até agora, são cidadãos belgas e franceses, que se radicalizaram nos seus países e foram combater para a Síria. Regressaram a casa para cometer os atentados. A polícia francesa terá, no entanto, obtido impressões digitais no cadáver que condizem com as do detentor de um passaporte sírio que chegou à ilha de Leros a 3 de Outubro e que foram registadas numa base de dados europeia, denominada Eurodac. Obteve autorização para seis meses de permanência na Grécia, mas rapidamente saiu do país – e, de acordo com a Reuters, esse pretenso Ahmad al-Mohamad não teria viajado sozinho. Um agente de viagens da ilha recorda-se de lhe ter vendido bilhetes para o ferry que o levou para outra ilha e finalmente para Atenas, e que outro homem estava com ele. Pagaram em dinheiro. A 8 de Outubro estavam já no campo de refugiados de Opatovac, na Croácia, a partir de onde a Reuters lhes perde o rasto. Mas nessa altura a Croácia estava a encaminhar milhares de refugiados todos os dias para a Hungria – que os enviava em comboios com as portas trancadas para a fronteira com a Áustria, onde acabavam por entrar sem que os seus passaportes fossem verificados. A Hungria não estava a registar os migrantes naquela altura, e já tinha encerrado a sua fronteira com a Sérvia para travar a sua passagem a 15 de Setembro. Isto forçou os migrantes a desviarem a sua rota para a Croácia, continuando a entrar na Hungria – furioso, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán transportava-os rapidamente para a sua fronteira Norte, muitas vezes sem os registar. Budapeste hoje não tem registo deste Ahmad al-Mohamad, com as impressões digitais do bombista do Estádio de França, tanto quanto se sabe. E Karl-Heinz Grundboeck, porta-voz do Ministério do Interior de Viena, classifica como “conjecturas e especulações” a hipótese de que o terrorista tenha passado pela Áustria. Mas sabe-se que Salah Abdeslam – um dos atiradores que dispararam sobre três esplanadas em Paris e um dos homens que estão em fuga – visitou a Áustria em Setembro. Foi visado por mero acaso num controlo rodoviário, tendo entrado pela fronteira alemã, confirmou a ministra do Interior austríaca, Johanna Mikl-Leitner.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens campo homem corpo morto
Principais institutos revêem em baixa crescimento do PIB da Alemanha para 1,8%
Desemprego deverá terminar este ano em 6,4%, enquanto a população empregada, 43,2 milhões, continua a bater máximos históricos. (...)

Principais institutos revêem em baixa crescimento do PIB da Alemanha para 1,8%
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-10-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Desemprego deverá terminar este ano em 6,4%, enquanto a população empregada, 43,2 milhões, continua a bater máximos históricos.
TEXTO: Os principais institutos económicos da Alemanha estimam que a maior economia europeia cresça este ano 1, 8%, contra os 2, 1% que previam no relatório da primavera, devido ao arrefecimento da economia global. O "Diagnóstico conjunto" de Outono, que prevê a mesma taxa de crescimento para 2016, considera que o principal pilar da economia alemã nos dois exercícios vai ser o consumo interno, que beneficiará do bom comportamento do emprego, das subidas salariais e da conjuntura de baixa inflação e taxas de juro em níveis mínimos. "A economia alemã está com um crescimento moderado, sustentado principalmente pelo consumo privado. A debilidade da economia global atua como travão, especialmente os problemas numa série de países emergentes", resumiu num comunicado o responsável de previsões do instituto alemão Ifo, Timo Wollmershäuser. O relatório dedica um capítulo às implicações económicas da avalancha de refugiados que está a chegar à Alemanha, que classifica como "um grande desafio" ou "oportunidade". Os institutos coincidem em sublinhar que a forte chegada de pedidos de asilo terá um custo financeiro a curto prazo, de 4 mil milhões de euros este ano e de 11 mil milhões de euros em 2016, mas que, com uma boa planificação, pode ser muito positiva para a economia alemã. O documento pormenoriza ainda como a integração dos refugiados no mercado laboral pode reverter o notável envelhecimento da sociedade alemã e evitar potenciais desequilíbrios nas contas públicas provocado pelo aumento do custo total das pensões. Segundo esta previsão, a taxa de desemprego terminará este ano em 6, 4% e subirá ligeiramente em 2016 para 6, 5%, enquanto a população empregada continua a marcar máximos históricos em 2014 (42, 9 milhões) e 2015 (43, 2 milhões). Os principais institutos alemães também prevêem que a inflação atinja 0, 3 este ano e 1, 1% em 2016, ainda longe do objectivo de médio prazo do Banco Central europeu (BCE), cerca de 2%. O estudo conjunto também prevê que o Estado alemão obtenha neste exercício um excedente de 23. 000 milhões de euros (0, 8% do Produto Interno Bruto (PIB), um valor que em 2016 deverá cair para 13. 000 milhões de euros (0, 4% do PIB). A balança comercial deverá ter este ano registar um saldo positivo de 256 mil milhões de euros, um valor que deverá aumentar para 260 mil milhões de euros em 2016. Os principais institutos alemães que fizeram este relatório são o Instituto Alemão para a Investigação Económica (DIW) de Berlim, o instituto Ifo de Munique, o Instituto Leibniz para a Investigação Económica (IWH) de Halle e o Instituto de Renania-Westfalia para a Investigação Económica (RWI) de Essen.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave consumo estudo desemprego
Morreu Andrew S. Grove, "o pai de Silicon Valley"
Menos mediático que Bill Gates ou Steve Jobs, o ex-patrão da Intel teve um contributo de impacto equivalente no desenvolvimento e massificação da informática. O seu estilo de gestão fez escola no sector tecnológico. (...)

Morreu Andrew S. Grove, "o pai de Silicon Valley"
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Menos mediático que Bill Gates ou Steve Jobs, o ex-patrão da Intel teve um contributo de impacto equivalente no desenvolvimento e massificação da informática. O seu estilo de gestão fez escola no sector tecnológico.
TEXTO: O antigo presidente da Intel Andrew S. Grove, um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento da indústria dos microprocessadores e, consequentemente, da computação pessoal, morreu nesta segunda-feira. Tinha 79 anos. Segundo um representante da família Grove citado pelo New York Times, a causa da morte ainda não foi estabelecida. No entanto, era público que sofria da doença de Parkinson. Apesar de menos mediático que o fundador da Microsoft Bill Gates ou que o histórico líder da Apple, Steve Jobs, a Grove era atribuído um contributo fulcral para a massificação dos computadores pessoais. Na presidência da Intel de 1979 a 1998, o gestor liderou o esforço de desenvolvimento de microprocessadores e chips de memória entretanto tornados omnipresentes nos computadores, telemóveis, câmaras fotográficas e outros produtos electrónicos. Nascido András István Gróf em 1936, em Budapeste, na Hungria, o filho de uma família judia de classe média sobreviveu ao Holocausto e à ditadura pró-soviética e fugiu para os EUA no final dos anos 1950. Chegou a Nova Iorque como refugiado, sem meios financeiros e com sequelas de graves problemas de saúde sofridos durante a infância. No entanto, conseguiu prosseguir estudos na área da engenharia química até completar um doutoramento em Berkeley, na Califórnia. Um dos primeiros funcionários da Intel, fundada em 1968, Grove trabalhou enquanto engenheiro na pesquisa e desenvolvimento de semicondutores e microprocessadores. Com uma reconhecida aptidão para a gestão, o húngaro naturalizado norte-americano chegou à presidência da empresa em 1979, estabelecendo uma posição dominante para a Intel no mercado dos microprocessadores, conquistando por exemplo a exclusividade nos computadores da IBM. O modelo de gestão e de organização do trabalho de Grove na Intel, onde mantinha uma liderança musculada, fez escola no sector tecnológico. David B. Yoffie, professor da Harvard Business School, considerava o empresário “o pai de Silicon Valley”. Entre as características adoptadas por muitas empresas do sector contam-se as estruturas organizacionais não hierárquicas e a abolição do cubículo em favor de espaços de trabalho abertos – os chamados open spaces. Em 1997, a revista Time elegeu Grove como personalidade do ano pelo referido impacto no mundo da gestão e do sector tecnológico. No início do novo século, e já afectado pela doença de Parkinson, o antigo patrão da Intel abandonou as funções que mantinha na empresa e limitou as aparições em público. Após o anúncio da sua morte, continua a ser recordado como “um dos maiores empreendedores do século XX”, como escreveu Bill Gates no Twitter. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. I’m sad to hear that Andy Grove has died. I loved working with him. He was one of the great business leaders of the 20th century.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Catarina Martins: “Todos os dias me arrependo da geringonça”
A coordenadora do Bloco de Esquerda diz que tem medo de, no actual modelo de governação, não ir mais longe. Mas luta sempre contra essas limitações. (...)

Catarina Martins: “Todos os dias me arrependo da geringonça”
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A coordenadora do Bloco de Esquerda diz que tem medo de, no actual modelo de governação, não ir mais longe. Mas luta sempre contra essas limitações.
TEXTO: Aprendeu piano, mas toca mal. Gosta de música clássica, as big bands põem-na bem-disposta. Cresceu a ouvir música popular brasileira e de intervenção. Tem pouco tempo para hobbies, mas gosta de nadar e de ler policiais. É fã dos Monty Python, uma “devoradora” de comédia: “A capacidade de nos rirmos de nós próprios, de desmontarmos todas as situações é inerente à nossa saúde mental”. Em criança, viajava com os pais e o irmão, acampavam em Portugal, iam num Renault 5 pela Europa. Também gostava de passar o dia na praia em Miramar com a melhor amiga. Aos 42 anos, ainda quer fazer um périplo pelo Norte da Europa. Nasceu no Porto, mas não viveu sempre no Porto?Os meus pais eram professores, saltitavam. Quando nasci, o meu pai estava na tropa e a minha mãe a dar aulas no Porto. Vivi algum tempo em Santa Maria da Feira com os meus avós e a minha mãe, era muito bebé. Depois vivi em Vila Nova de Gaia, Santo Tirso, Santo André, perto de Vagos, Aveiro, São Tomé, São Vicente e Santiago, em Cabo Verde, e voltei a Aveiro, onde fiz a escola. A seguir, fui para Coimbra estudar. Estive dois anos em Direito, depois fundei uma companhia de teatro no Porto [Visões Úteis]. Qual é a sua primeira memória política?Lembro-me de estarmos a apanhar o avião para São Tomé, em Lisboa, e de haver muitas manifestações contra Sá Carneiro. ‘A luta continua, Sá Carneiro para a rua’. Estava em São Tomé quando Sá Carneiro morreu. Não me lembro da comoção que as pessoas se lembram, mas de a minha mãe dizer para não repetir aquela frase, porque o senhor tinha morrido. E lembro-me de, quando tinha três anos, viverem em nossa casa um galego e uma galega, fugidos do franquismo. Como chegou à política?Nunca tive actividade partidária até entrar no BE, mas tive sempre actividade política. De organização estudantil, no secundário, no superior. Já a trabalhar, actividade política relacionada com as questões da precariedade, da política cultural. Fui-me sempre organizando em associações, em movimentos. Na companhia de teatro, uma parte da nossa actividade tinha a ver com uma reflexão política sobre o nosso tempo. Fizemos trabalhos sobre a cidade, trabalho com populações que estão normalmente distantes da linguagem artística. Trabalhámos em aldeias do interior, em escolas em que só havia seis crianças, em estabelecimentos prisionais, com bairros sociais do Porto. Depois chega ao BE. Posso não ter tido vida partidária durante muito tempo, mas votava, o meu campo ideológico é este. Socialista, feminista, ecologista. Começou por ser eleita como independente. Comecei a militar no Bloco já era deputada. O que aconteceu foi que há um espaço ideológico que é o meu e houve uma série de lutas em que o partido presente era o BE. Nas questões da interrupção voluntária da gravidez, nas grandes manifestações contra a guerra, nas questões dos trabalhadores precários, de começar a usar a palavra precários. Depois houve uma proximidade clara com a organização do Bloco no Porto, no momento em que Teixeira Lopes foi eleito como deputado. Foi muito próximo de quem estava nos movimentos do distrito, da cidade. Na altura, com Rui Rio muito agressivo contra a cultura. Dirigi colectivos com pessoas de vários partidos e participei, a convite de vários partidos, em sessões públicas, na escrita de programas. Fiz isso com todos os partidos que pediram, mas havia um com que tinha uma afinidade clara e com quem trabalhei mais. Em 2009, fui convidada para ajudar a pensar uma candidatura autárquica para o Porto, que se posicionasse no oposto de Rui Rio, fiz isso com Teixeira Lopes. Depois fui convidada para escrever parte do programa de cultura do Bloco às legislativas e para fazer alguns debates. Só depois de ter feito esse percurso é que o BE me convidou para ser candidata. Fui eleita e, a partir de determinada altura, senti a necessidade de estar nos debates internos do partido. Achei que tinha sentido aderir ao Bloco. É preciso dizer que, há muitos anos, tentei aderir ao Bloco, perderam a minha ficha de inscrição, se não estou em erro. Ignoraram-me estoicamente. (risos)Como era a Catarina Martins adolescente? Contestatária?Cresci num meio em que todas as pessoas se organizavam. Os meus pais fizeram parte de partidos políticos, deixaram de fazer, de sindicatos, de associações culturais, de cooperativas de habitação…Fizeram parte do BE. Quando entrei, já eles tinham saído (risos). Cresci num ambiente familiar, não só os meus pais, mas a minha família, os amigos com quem me dava, em que o normal era as pessoas organizarem-se, em associações, cooperativas. Para mim, sempre foi natural organizar-me com as pessoas com quem estava. E sempre tive uma educação, um ambiente, que me permitiu crescer com uma sensibilidade grande para a injustiça. Os seus pais eram professores de quê?Matemática. Sempre tive uma educação, um ambiente, que me permitiu crescer com uma sensibilidade grande para a injustiça. Não seguiu o mesmo caminho…Não fazia a mínima ideia do que havia de seguir. Quis ser jornalista, repórter de guerra, professora. A determinada altura, quis fazer teatro. A primeira vez que fiz alguma coisa de teatro tinha 13 anos. Um grupo de Aveiro foi à escola anunciar que havia um workshop para fazermos teatro de fantoches. Até hoje acho que há uma divisão cedo de mais entre letras e ciências. Não sabia minimamente o que havia de fazer no fim do 9. º ano. Fiz o 9. º ano em quimicotecnia e acabei por ir para letras por reacção às turmas de Ciências. Eram turmas com uma ideia de um determinado elitismo, de pessoas que queriam ir para Medicina, com uma competição em que não me enquadrava. Sentia-me mais confortável com as pessoas que gostavam de Letras, mas era melhor aluna a ciências. Não fui para o mais fácil, mas onde me sentia mais enquadrada. Depois fui estudar Direito um pouco por falta de opções, não sabia muito bem o que havia de ser e tinha uma ideia romântica do Direito. O meu avô foi advogado. No tempo do fascismo era uma coisa especial. Chegou a vê-la entrar para Direito?Não. Morreu quando eu tinha 13 anos. O seu avô também se situava à esquerda?Era tudo à esquerda. O irmão do meu avô foi morto pela PIDE, era comunista na clandestinidade. Quando foi para Direito, já gostava de teatro?Sim, mas na altura não havia muitas opções. Hoje há. Não digo que esteja bem, tem muitos problemas, mas o ensino artístico avançou muito. As pessoas podem decidir estudar teatro, cinema e terem uma oferta escolar sólida…Não têm é saídas…Sim, mas na altura também não havia. Quando decidi estudar Direito, não era muito fácil estudar teatro. Havia o Conservatório em Lisboa. E eu tinha uma ideia, eventualmente adolescente, de que o Conservatório era muito conservador, também é injusto para o Conservatório. O teatro universitário era uma grande escola. Fui para Coimbra estudar Direito com essa ideia romântica de Direito e também para ir para o teatro universitário. Fui para o CITAC. Queria era teatro. Portanto, comecei a trabalhar muito cedo, fui para o Porto. Licenciei-me no Porto, em Línguas e Literaturas, na Universidade Aberta. Acabei o curso como conseguia, a trabalhar ao mesmo tempo. E fiz o mestrado em Linguística na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Deixou o teatro em 2009, quando foi eleita pela primeira vez deputada, mas já disse que é actriz ainda que se sente. Faz-lhe falta o teatro?A determinada altura, fui-me dedicando cada vez mais à escrita, à direcção de projectos artísticos e à encenação do que a ser actriz. E sinto falta, faz muito parte de mim, acho que tenderei a voltar a isso. Já disse que teria desgosto se as suas filhas vierem a ser de direita. Não é um pensamento pouco democrático?As minhas filhas, com 10 e 14 anos, serão o que quiserem. Os pais têm de ensinar os filhos para a liberdade com tudo o que isso significa. Capacidade de ter autonomia, responsabilidade. É certo que a maneira como olho para o mundo faz com que ache que as ideias de justiça, solidariedade, fraternidade, casam com ser de esquerda, com não nos conformarmos com a desigualdade, com a injustiça. A direita parte de uma certa conformação, como se fosse um estado natural a desigualdade. Gostava que elas não se resignassem nunca à desigualdade. Mas serão o que quiserem ser. Que papel no palco nunca vai esquecer?Não pelo papel, mas por aquilo que significou o processo. Fizemos um espectáculo em 2001 chamado Orla do Bosque. Tínhamos feito uma série de trabalho, com intelectuais da Europa, em que discutimos o que era a Europa, se era possível uma Europa comum ou não, qual era a noção de fronteira. Havia um certo optimismo numa construção europeia que estava a ser feita de uma forma não democrática, e esse optimismo da política era contrariado pelo discurso intelectual, que era muito minoritário na altura, mas que para nós era importante, no qual nos revíamos. Um discurso também sobre a forma como a Europa se fechava numa fortaleza aos outros povos. Havia essa Europa fantástica que estava a ser prometida para alguns, deixando outros para trás. Era quase um sacrilégio ter um discurso negativo sobre o que estava a acontecer. Havia uma passagem do texto que tinha a ver com o optimismo desenfreado acerca de um modo de vida feito sobre os escombros das pessoas que se estão a sentir excluídas. A construção em cima da exclusão dos outros. E havia um presidente de um conselho de administração de uma qualquer multinacional de Wall Street que olhava a cidade do seu escritório, no último andar de um arranha-céus, e que nunca imaginará as ruínas em que o seu edifício se tornará. Da mesma forma que o imperador romano não imaginava as ruínas do Coliseu. Estava a ensaiar esta parte do texto quando foi o 11 de Setembro. Estava a acontecer aquilo e nós dizíamos: nada será igual. Isto é uma outra guerra. Em boa parte, tínhamos infelizmente razão. Nas questões internacionais, o que a preocupa mais: as eleições norte-americanas, a Europa, a crise dos refugiados, o que se passa na Turquia…O problema é a política do ódio. Está a crescer. É o mais perigoso de tudo. A política do ódio acontece quando a NATO bombardeia, quando Donald Trump faz uma campanha a hostilizar uma parte do mundo, quando a União Europeia trata parte do seu povo como se estivesse sob suspeita permanente ou é incapaz de cumprir o mais básico do Direito Internacional, ao acolher quem foge da guerra. Povos que já acolheram europeus que fugiam da guerra. A política do ódio é o factor que une estes vários acontecimentos, é o mais preocupante neste momento na política internacional. É tímida?As pessoas consideram-me. Não me sinto muito confortável em situações de exposição e tendo a gostar de estar sossegada no meu canto. Mas é coordenadora do Bloco…Faz-se o que se tem a fazer. Quando Rui Rio estava a demolir o bairro São João de Deus, vivia-se lá em condições terríveis, havia uma parede a dizer: bem-vindo ao Tarrafal. Entrar no bairro era muito complicado. Trabalhei lá com famílias e crianças. Não houve um dia em que lá entrasse e não me parasse a digestão. Não deixei nenhum dia de lá entrar. Não temos de fazer as coisas que nos são confortáveis, mas as que têm sentido. Conseguiu levar o BE a um patamar onde nunca tinha estado. O trabalho do partido é agora mais intenso?Não sei se é mais intenso. Mas é diferente negociar orçamentos do Estado ou fazer propostas para o orçamento. Há uma dificuldade acrescida. Diria que o BE consegue ter o pior de dois mundos, caricaturando: nem estamos confortavelmente na oposição, nem temos a relação de forças para fazer o que gostaríamos. Todos os dias são uma luta para ver o que é que é possível conseguir com a relação de forças que temos. Agora, sendo isso altamente complicado, há dias em que é mesmo ingrato, estou segura de que é muito melhor do que estar confortavelmente na oposição sem ser capaz de alterar. Não temos de fazer as coisas que nos são confortáveis, mas as que têm sentido. Tendo em conta, por exemplo, as polémicas viagens pagas pela Galp, não houve nenhum momento – e o BE foi até onde conseguiu ir nas negociações do orçamento e em propostas que levou ao Parlamento –, em que se arrependesse da criação da geringonça?Todos os dias me arrependo. Faz parte. O que quer dizer com isso?Todos os dias somos confrontados com as limitações. Agora, naturalmente, enquanto os objectivos que estiverem a ser traçados forem cumpridos, cá estamos. Com as dificuldades de todos os dias. Quer explicar melhor? Quando a pergunta é, se, tendo em conta as limitações nas negociações orçamentais, escândalos como os da Galp, alguma vez se arrependeu da gerigonça e responde todos os dias…Todos os dias sou confrontada com os limites da geringonça. Isso custa. O que não é mau, é o que temos de fazer. Há dois objectivos essenciais no acordo que o BE fez, mas fizemo-lo e lutámos por ele: travar o empobrecimento do país e afastar a direita do governo. Tem medo de não conseguir ir mais além?Todos os dias tenho medo de não conseguir. Todos os dias tenho de lutar para que seja possível. Não é mau. Todos os dias se arrepende, tem medo e luta contra as limitações?Sim. Depois do Verão vamos ter dois temas: a decisão sobre se Portugal poderá ou não sofrer cortes nos fundos europeus e o Orçamento do Estado de 2017. O BE está preocupado?Estamos muito preocupados com a pressão europeia. Acredita que vai haver cortes?A nossa função não é adivinhar. É termos acções para que aconteça determinada coisa. A União Europeia não é uma lei da gravidade, as coisas não acontecem porque tem de ser assim. Temos de fazer com que aconteça. Há uns meses, dir-se-ia que processo das sanções nunca seria aberto. Nunca tinha sido. O que está em causa não é se achamos ou não que nos vão tirar os fundos. É se sabemos se há forças na União Europeia que querem sancionar. O que querem dizer é que só pode haver uma política única na União Europeia, a da austeridade. Querem fazer a Portugal e Espanha para, no futuro, chegarem a economias como França e Itália, e terem a certeza de que têm os mecanismos de pressão para que a austeridade seja política única. Essas forças existem, temos fazer a força contrária. Foi muito importante a reacção que existiu das forças políticas em Portugal e não só. Embora a direita, a partir de certa altura, fez uma leitura política errada. Passou a dizer-se ‘se as sanções vierem, a culpa é do actual Governo que não merece confiança e tal’. Ainda assim, houve uma coesão e o Governo, desse ponto de vista, esteve bem. É preciso ser bastante claro em não aceitar que haja cortes nos fundos estruturais. Se ficarmos a achar ‘agora já está, agora não vai haver cortes nos fundos estruturais’, pois eles virão. É uma irresponsabilidade. É preciso ser intransigentemente contra o corte em fundos estruturais. O BE, enquanto partido com o peso que tem, e também no actual equilíbrio de forças, fará clara a sua voz. Sabemos que isto é uma chantagem que tende a arrastar-se, para condicionar políticas e contornar orçamentos do Estado. Precisamos é de preparar o orçamento. O Governo tem de preparar o orçamento e o BE está disponível para negociar, para que não seja um orçamento que recua, porque há chantagem, mas queira recuperação da economia em Portugal, de rendimentos, que promova esse caminho diverso da austeridade. Teme um combate difícil por causa do próximo orçamento?Toda a chantagem está a ser feita para condicionar o orçamento. A política da União Europeia mantém-se, quer manter processos de privatizações, baixar custos de trabalho. A pressão é toda para voltarmos ao contrário. O combate europeu que aí vem é muito importante. Existe, numa determinada elite portuguesa, a ideia de que Portugal não é um país viável. Que é um país pequeno demais, face à globalização, que fizemos tudo mal até agora, que já não há nada a fazer, não há indústria, não há agricultura, não há nada, que somos uns dependentes do exterior, e tudo o que podemos fazer é tentar negociar umas condições menos más sobre a nossa dependência. Boa parte da forma como estamos na Europa e do confronto europeu tem a ver com esta ideia. Uma ideia que não corresponde à realidade. O país tem enormes problemas e foram feitas escolhas desastrosas, que levaram à desindustrialização em determinados sectores, abandono de capacidade produtiva. Mas é um país em que, ainda assim, a qualificação cresceu muito. Tem de crescer mais, tem de se fazer mais. A ideia de dependência do nosso Estado não tem a ver com a capacidade produtiva do país, nem com os salários das pessoas, nem o peso do Estado Social, mas só com o sistema financeiro. O facto de a integração europeia ter sido toda feita, nos últimos anos, em torno de retirar aos países capacidade de decisão sobre o seu próprio sistema financeiro é o maior risco para o nosso país. Aí, sim, podemos perder capacidade. Vai ser determinante, nos próximos tempos, a nossa capacidade de reagir à completa retirada da capacidade do Estado intervir no sistema financeiro. O nosso país não é inviável, é um país onde é preciso fazer muitas coisas, mas temos como fazer. O maior risco é perdermos todo o controlo sobre o sistema financeiro, porque aí a democracia passa a ser uma fantochada, deixamos de ter capacidade de decidir sobre o que quer que seja. Quais as expectativas em relação ao PS?Que faça o que fez até agora. Temos divergências. Achamos que o Governo, nesta altura, devia estar a preparar-se para reestruturar a dívida portuguesa. É essencial. Não há ninguém que não assuma que é preciso reestruturar a dívida. É um processo que devia ser aberto e Portugal não devia ficar sempre à espera. Ficamos à espera de quê? Que a Goldman Sachs mande um bocadinho mais? Não vamos nunca reestruturar a dívida? Neste momento, a dívida pública sangra os recursos do país. O sistema financeiro está a ficar com os recursos do país. Isso é intolerável. Precisamos de recursos para ter emprego, investimento, Estado Social. Precisamos dessa reestruturação da dívida. O Governo não concorda connosco. O Governo acha que deve continuar à espera da Europa. Achamos um erro. Mas, enquanto for possível negociar orçamentos de Estado, enquanto o PS mantiver a sua parte de continuarmos a recuperação de rendimentos do trabalho em Portugal, o BE também está aqui para dar esse apoio parlamentar que foi acordado. O BE estará sempre disponível para negociar medidas necessárias para recuperar rendimentos. Julgo que o PS está interessado no mesmo. Não acho que esteja interessado em fazer a política da troika. Tendo nós as diferenças que são conhecidas, óbvias, não sinto que o PS queira fazer uma coisa diferente daquela que está a fazer. Julgo que no PS pensarão todos os dias, como eu, todos os dias me arrependo (risos) e todos os dias luto para que isto seja possível, porque tem de ser. O sistema financeiro está a ficar com os recursos do país. Isso é intolerável. Precisamos de recursos para ter emprego, investimento, Estado Social. Precisamos dessa reestruturação da dívida. Na Convenção do BE, agitou a palavra referendo, que deu muito que falar. Ainda bem. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quer explicar melhor?Os portugueses nunca foram chamados a pronunciar-se sobre a construção da União Europeia, a chamada construção europeia. Tenho problemas com o termo construção europeia, parece que a única forma de os países na Europa se organizarem é através da União Europeia e do directório que existe hoje e que manda na Europa. A Europa é algo muito mais interessante do que a União Europeia. Há sempre possibilidades de os partidos se organizarem, se coordenarem, cooperarem. Uma forma diferente desta em que a Alemanha manda e os outros obedecem. Precisamos de a inventar. De uma outra construção europeia bem diferente desta, mais interessante do que a União Europeia que tem mostrado a sua falência a todo o nível. Não foi capaz de tratar o sistema financeiro. Transformou o problema financeiro num problema dos Estados, de dívida pública. Não é capaz de responder aos problemas da economia na zona euro, 50% dos jovens estão desempregados, aos problemas internacionais. Erguem-se muros quando os refugiados chegam à Europa. A União Europeia está em colapso. Não devemos achar que a construção europeia é a União Europeia, se não estamos a dizer que é impossível outra Europa. Mas até hoje, os portugueses nunca foram chamados a pronunciarem-se sobre nada. Zero. Noutros países houve referendos. Os portugueses não foram chamados a pronunciar-se. Foi sempre tudo imposto. Como se tivesse de ser assim. Neste momento o que pode ser referendado é o Tratado Orçamental, porque é um tratado intergovernamental, que durante o próximo ano terá de ser transformado em Tratado Europeu. Dizemos que, nesse momento, Portugal não deve aceitar esse passo. Se esse passo for dado pela Europa, deve perguntar às pessoas se o querem dar. Se querem que o tratado da austeridade seja europeu. Deve ser perguntado. Idealmente, o Tratado Orçamental devia ir para o caixote do lixo das más ideias, em vez de se tentar transformar em tratado europeu. Como é a relação do BE com o Syriza agora? O Syriza foi assobiado na Convenção do Bloco. Não acho muito bonito. Foi nosso convidado, não devia ser assobiado. A UGT também foi assobiada, também não acho de bom-tom. Não convidamos só pessoas com quem concordamos a 100%. O Syriza foi um partido muito próximo do BE. Sim. O que aconteceu foi que o Governo grego capitulou face à pressão europeia. Devemos ser claros sobre a nossa discordância com o que se está a passar na Grécia, e o plano de austeridade imposto. Mas não devemos ser arrogantes. Aprendemos muito com o que aconteceu na Grécia. Aprendemos que um Governo que quer proteger o seu povo tem de estar preparado para o confronto europeu, como o Syriza não se preparou. Acreditou nas regras europeias, que podia fazer um confronto dentro dessas regras. Depois percebeu que, na Europa, as regras só servem quando são desculpa para sancionar quem não quer austeridade. Mas, quando é para impor austeridade, não interessam as regras, a Europa faz de qualquer maneira. O que interessa é o directório alemão. Foi uma aprendizagem muito dura para toda a esquerda que achou que, confiando nas regras europeias, poderia ter ali algum espaço de disputa de alternativa. Hoje temos de saber que não podemos confiar nas regras europeias. Naturalmente, o BE e o Syriza hoje têm relações mais distantes, não subscrevemos as opções que estão a ser feitas, mas devemos continuar a conversar. Seria um erro não o fazermos. Seria mesmo arrogante. É por isso que o Syriza continua a ser convidado para a Convenção do BE, mesmo com as diferenças sobre o que se está a passar.
REFERÊNCIAS:
Mário Soares e a vergonha de Alepo
Deixaram um vazio na Síria. A Rússia, pura e simplesmente, ocupou-o. (...)

Mário Soares e a vergonha de Alepo
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2016-12-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20161229032031/https://www.publico.pt/n1755191
SUMÁRIO: Deixaram um vazio na Síria. A Rússia, pura e simplesmente, ocupou-o.
TEXTO: 1. Mário Soares está a travar mais um combate. Não o faz sozinho. O país inteiro está com ele. Torce por ele. Não está preparado para ficar sem ele. Foi ele que nos avisou para o mundo terrível que aí vinha, se as democracias não percebessem que tinham de encontrar outro caminho que não fosse o reino dos mercados e a morte da política. A crise que derrubou o sistema financeiro americano e que levou à Grande Recessão, foi o resultado da “economia de casino” que não se cansou de denunciar. A revolta dos cidadãos contra as elites para a qual alertou incansavelmente, está hoje diante dos nossos olhos, talvez tarde de mais para inverter o caminho. Mais uma vez, teve razão antes de tempo. A prova é hoje evidente no destino trágico de Alepo. É sobre isso que hoje escrevemos. Ainda precisamos de si dr. Soares. Da sua lucidez, mas também da sua coragem, nestes tempos em que baixar a cabeça é mais fácil. 2. Foi uma cimeira de apenas um dia, não incluiu o habitual menu da Grécia, do défice ou da dívida. Centrou-se em questões muito mais sérias e mais urgentes. É difícil de admitir que a maioria dos líderes europeus não sentissem um sentimento de vergonha e de impotência, enquanto o massacre de Alepo se desenrolava perante os seus olhos. A culpa não é apenas deles. Repartem-na com Obama, porque não tiveram a coragem de confrontar a tempo o Presidente russo, a única maneira de evitar este desfecho trágico. Esqueceram-se de que fez o mesmo Grozni, Thetchenia, em 2000. Deixaram um vazio na Síria. A Rússia, pura e simplesmente, ocupou-o. A eleição de Donald Trump acabou por funcionar como uma espécie de licença para matar, entregue a Moscovo. Alepo pode ser o lugar geométrico do mundo que nos espera. Intolerável mas cada vez mais tolerado pelas democracias ocidentais, minadas por dentro e sem uma estratégia comum para reverter o caos internacional que se está a impor. Trump pairou sobre a cimeira, a primeira depois da sua eleição. O que restou aos líderes europeus foi a tentativa de abertura de corredores humanitários, que permitam salvar ainda algumas vidas. O que lhes resta é reconhecer a vergonha de terem olhado para o lado. O mais terrível sintoma deste novo mundo que ainda não compreendemos é a crescente indiferença das opiniões públicas das democracias. O medo do outro, o medo do futuro, o medo do terrorismo, o medo de que se alimentam quotidianamente as correntes nacionalistas e populistas, está a ter sobre elas um efeito devastador, que os governos europeus ainda podem vir a pagar muito caro. O risco que a Rússia de Putin representava para a segurança europeia só se tornou evidente com a crise ucraniana. A guerra na Síria e a desistência ocidental, permitiu ao Presidente russo determinar o destino dos sírios e ocupar um lugar central nos jogos de poder regionais. Foi um dos vencedores das eleições americanas. Quer fazer o mesmo na Europa, dividindo-a e intimidando-a. A política externa de Trump é sobre acordos e não sobre valores. Roger Cohen escreve no New York Times que “os Estados Unidos de Trump serão agnósticos perante os direitos humanos, a liberdade e a democracia. ” Sabemos demasiado bem o que isso significa. “Quando os interesses triunfam sobre os valores podem acontecer coisas terríveis”, escreve a Economist3. E a Europa não sabe o que fazer. Desde a II Guerra, habituou-se a viver com a protecção americana, numa aliança que parecia indestrutível, assente na partilha dos mesmos valores e dos mesmos interesses. A ruptura é demasiado brusca. Qualquer ilusão sobre um outro Trump, mais “normalizado” pela Sala Oval e pelo establishment americano, está a desaparecer mais depressa do que se previa. O que ele diz, o que ele faz, quem ele escolhe, chegam e sobram para provar que a sua presidência se afasta significativamente do molde da política externa americana nos últimos 70 anos. O secretário de Estado que escolheu é o CEO do maior gigante do petróleo. Dizem que é competente a negociar contractos. Negociou muitos com a petrolífera estatal da Rússia e fez amizade com Putin. A sua escolha não deixa qualquer dúvida sobre as intenções do seu novo chefe: um entendimento com Moscovo à custa de Alepo e do que mais adiante se verá. A Economist dá-lhe o benefício da dúvida, é verdade. Mas o que ainda não sabemos é se um entendimento entre Washington e Moscovo passará por uma nova divisão da Europa, entre as democracias ocidentais e aquelas que já são membros da União e da NATO mas que Putin ainda vê como “roubadas” à sua esfera de influência. A sua estratégia é simples: devolver à Rússia o antigo estatuto da União Soviética. O teste foi feito com a Ucrânia. Seria um cenário de pesadelo no qual ninguém quer ainda acreditar. Mas nada, neste momento de viragem que atravessamos sem qualquer bússola, deve ser posto de lado. A Estónia tem uma significativa população russa. A Lituânia é atravessada pelo corredor que faz a ligação entre o enclave de Kaliningrado, onde Putin acumula armamento, e o território russo. Quem ainda pode garantir a integralidade da defesa da NATO? A revista britânica lembra que a conversa dele com o secretário-geral da NATO não correu mal. Que um entendimento de Trump com Putin será mais difícil do que parece. É útil tentar evitar a tentação da catástrofe, mas também não vale a pena manter grandes ilusões. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. 4. Na quinta-feira, os líderes europeus conseguiram tomar algumas decisões corajosas, mas que dificilmente se poderão manter, se os EUA não fizerem a parte deles. Anunciaram a renovação das sanções contra a Rússia por mais seis meses. Reafirmaram o seu apoio às medidas tomadas pela NATO para dissuadir Putin de qualquer aventura nos Bálticos e na Polónia. Querem acelerar o acordo de associação com Kiev, retido porque o Governo da Haia lembrou-se de realizar um referendo sobre o assunto, que acabou por perder. Por quanto tempo vão estas decisões durar, antes que a Europa se divida novamente? Infelizmente, do lado de cá do Atlântico também não faltam amigos de Putin. E não são apenas a Hungria ou os partidos de extrema-direita. François Fillon, o candidato da direita às presidenciais francesas, não diz coisas muito diferentes, incluindo o seu desejo de negociar com Putin o que for preciso para travar o Estados Islâmico. Neste mundo de pesadelo, é quase patético ver Theresa May a discutir com os seus pares europeus o caminho para o Brexit, como se nada se tivesse passado e o futuro fosse um jardim tranquilo. A querela dos refugiados permanece. A generosidade europeia poderia compensar a vergonha perante Alepo. Já vimos que não existe. A consciência dos líderes europeus não se lava com mais dinheiro para os países de África, onde a miséria e a guerra alimentam uma corrente contínua de gente à procura de uma vida melhor. Perceberam finalmente que vai ser preciso reforçar os mecanismos de defesa europeus e estão dispostos a fazê-lo. Mas, tal como disse Javier Solana, isso não chega para poder ser um “game changer”. A Europa percebeu que não há alternativa à NATO. Quer reforçar a cooperação entre as duas instituições. Interroga-se agora sobre as intenções de Trump. Mário Soares faz parte de uma geração de grandes líderes que se bateram pela democracia e pela liberdade. Desconfiava da actual fornada de dirigentes europeus, sem coragem nem convicções. Acreditava que as circunstâncias acabariam por forjar novas lideranças, que estariam à altura dos desafios deste tempo conturbado. Esperamos que, mais uma vez, tenha razão.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA NATO
Stefan Zweig, Lisboa e Japão, ou o cinema alemão a viajar até ao Kino
A 14ª Mostra de Cinema de Expressão Alemã decorre de 19 a 24 de Janeiro em Lisboa, entre o cinema São Jorge e as instalações do Goethe Institut. (...)

Stefan Zweig, Lisboa e Japão, ou o cinema alemão a viajar até ao Kino
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-01-05 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170105180514/http://publico.pt/1756792
SUMÁRIO: A 14ª Mostra de Cinema de Expressão Alemã decorre de 19 a 24 de Janeiro em Lisboa, entre o cinema São Jorge e as instalações do Goethe Institut.
TEXTO: É sob o signo de Fukushima que a Kino 2017 abre e com Stefan Zweig que encerra. A 14ª Mostra de Cinema de Expressão Alemã decorre de 19 a 24 de Janeiro em Lisboa, entre o cinema São Jorge e as instalações do Goethe Institut, igualmente responsável pela organização do evento, antes de subir ao Porto (26 a 29 de Janeiro, Rivoli e Passos Manuel) e a Coimbra (1 a 3 de Fevereiro, Teatro Gil Vicente). A abertura, a 19, faz-se com Grüsse aus Fukushima, ficção que a veterana Doris Dörrie foi rodar ao Japão em preto e branco; o encerramento, a 24, é com Stefan Zweig – Adeus à Europa de Maria Schneider, biopic dos últimos anos do escritor rodado em parte no nosso país, exibido em ante-estreia (chegará às salas em Fevereiro). Portugal está ainda presente no programa deste ano com Fado, primeira longa de Jonas Rothländer, rodada inteiramente em Lisboa e co-produzida com a Primeira Idade de Joana Gusmão e Pedro Duarte. Como habitualmente, a Kino não se limita à produção alemã e mostra igualmente títulos suíços e austríacos; o programa principal inclui ainda 24 Wochen, de Anne Zohra Berrached, sobre a maternidade, que esteve a concurso em Berlim 2016; e o muito aclamado Wild, da berlinense Nicolette Krebitz, sobre uma jovem que captura um lobo selvagem. Mas é na secção paralela Kino-Doc que estão as “pérolas”, com a exibição de Homo Sapiens do austríaco Nikolaus Geyrhalter, viagem por construções humanas abandonadas, e do experimental Havarie de Philip Scheffner, que usa um plano único e uma complexa construção sonora para falar da crise europeia dos refugiados. O programa completo pode ser consultado no site do Goethe Institut.
REFERÊNCIAS:
Ryley Walker, sob a influência dos mestres
Primrose Green é um disco primorosamente interpretado, delícia sónica para os nossos ouvidos. (...)

Ryley Walker, sob a influência dos mestres
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primrose Green é um disco primorosamente interpretado, delícia sónica para os nossos ouvidos.
TEXTO: Ryley Walker, nascido no Illinois e migrado para Chicago, onde se integrou na fértil e ecléctica cena musical local, caldo onde convivem e colaboram frutuosamente músicos do jazz e da folk, experimentalistas noise e agentes do hard-core, tem os olhos postos no outro lado do Atlântico. É a folk britânica que o inspira e que lhe deu uma linguagem. Ou melhor, aquilo que o mergulho na folk britânica fez florescer na década de 1960 e 1970 pelas mãos de John Martyn ou do Van Morrison deAstral Weeks. Guitarrista de talento, exímio no fingerpicking, tomou ao segundo álbum aqueles modelos como seus. O resultado é este estranho disco intituladoPrimrose Green. Estranho por suscitar um entusiasmo paredes-meias com a estupefacção. A dinâmica criada pela bateria e pelo contrabaixo criam uma turbulência que encontra contraponto na voz, forte e colocada, que parece seguir palavras debitadas em fluxo de consciência. A guitarra eléctrica pontua o voltejar da acústica, enquanto o vibrafone surge ocasionalmente para que se liberte um brilho onírico sobre as melodias. Ryley Walker é, digamos, um conservador progressista. É difícil não nos deixarmos conquistar pela fluidez e naturalidade com esta música brota dos músicos reunidos. É impossível não reconhecer que Ryley Walker se mostra capaz de fazer de memórias folk um palco de invenção. Mas é também difícil passar por Same minds ou Sweet satisfaction sem a sensação de que, a qualquer momento, Walker começará a cantar a letra de Solid Air, uma das canções mais emblemáticos de John Martyn. Por outro lado, a força telúrica de Griffiths Bucks blues, de uma primeva beleza folk criada com guitarra e violino, ou a mancha eléctrica que corrói o final de Love can be cruel, enquanto a guitarra e o vibrafone se entrelaçam em loop, são prova de vida e inspiração para além dos modelos a que Ryley Walker se atém tão convicta e fervorosamente. Primrose Green é um disco primorosamente interpretado, delícia sónica para os nossos ouvidos. É, também, o disco de alguém que ainda se esconde demasiado de si mesmo, refugiado que está no porto seguro que são os seus heróis. “Primrose Green” tem que ser um ponto de partida para algo especial. Só assim fará verdadeiramente sentido. Só assim o apreciaremos devidamente. Ansiamos (e tememos) pelo futuro de Ryley Walker.
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
Sinais contraditórios, de Tröglitz ao Vaticano
No Vaticano, avança a reforma da Igreja Católica. Em Tröglitz, avança a concretização de um pesadelo. (...)

Sinais contraditórios, de Tröglitz ao Vaticano
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-03-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: No Vaticano, avança a reforma da Igreja Católica. Em Tröglitz, avança a concretização de um pesadelo.
TEXTO: Seja por espírito de missão ou por uma crença absoluta nas virtudes da renovação da Igreja Católica, a verdade é que o Papa Francisco continua imparável nas mudanças que tem vindo a promover desde que tem nas mãos os destinos do Vaticano. E o que está agora em curso é algo que não lhe trará concórdia, bem pelo contrário: o mais recente “decreto” papal mexe no Instituto para as Obras de Religião (IOR), o todo-poderoso “banco” do Vaticano, e ao mudar-lhe as regras dita também o fim da longa tradição de secretismo financeiro a ele associada. Ora isto é, mais do que as palavras duras do Papa no sínodo de Outubro passado, uma autêntica revolução, que abala interesses instalados há décadas (ou mesmo séculos) e obrigará a uma atitude de transparência por parte dos que gerem os dinheiros do Vaticano, num acordo que há-de vir a ser selado, em breve, com o Governo de Roma. Se, como ontem lhe chamava aqui Paulo Rangel na sua crónica semanal, Francisco é “um profeta do exemplo”, começam agora a surgir com clareza oposições aos caminhos que vai escolhendo, e não vai ser fácil o caminho que escolheu. Na segunda parte do sínodo, em Outubro, saberemos se ele sairá vencedor ou vencido. Mas se no Vaticano é a luz que procura remover antigas trevas, na pequena localidade de Tröglitz, no Leste da Alemanha, é o inverso que sucede. Markus Nierth, presidente da câmara local, demitiu-se do cargo devido a ameaças de neonazis por ter autorizado a instalação de um centro de acolhimento para quatro dezenas de refugiados num edifício desocupado. Não se demitiu por medo, diz, mas por ausência de protecção e falta de apoio político, e por recear que as ameaças atinjam a sua família. Políticos da CDU e do SPD já se manifestaram solidários com ele, mas a demissão está consumada. Os neonazis ganharam esta batalha e tentarão ganhar outras. Até imporem, pelo medo, o seu domínio.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave medo
O mundo mudou e isso não merece reflexão?
Estou à vontade para dizer que até a frustrante realidade da UE é preferível àquilo que Trump ou Putin têm para propor ao mundo. (...)

O mundo mudou e isso não merece reflexão?
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-07-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estou à vontade para dizer que até a frustrante realidade da UE é preferível àquilo que Trump ou Putin têm para propor ao mundo.
TEXTO: O mundo que conhecemos desde a Guerra está a acabar. Não é impossível, aliás, que olhemos para trás e cheguemos à conclusão de que foi esta semana que ele acabou. O que significa quando Trump sugere que a União Europeia é o seu principal inimigo? Ele está a pensar na União Europeia que tem proteções comerciais, ambientais e laborais que aborrecem algumas indústrias americanas claramente predatórias — mas é mais do que isso. Para Trump, como para Putin, há uma grande diferença entre a União Europeia e a visão do mundo ideal que eles têm na cabeça. Para Trump, como para Putin, o mundo ideal é dividido em caixas — a que chamam “nações”, mas até isso é enganoso. Cada uma dessas caixas é uma esfera de influência, um mercado cativo, um ecossistema que se pode espremer até ao limite, uma vizinhança onde se pode interferir como se deseja — um império, no fundo. Dentro de cada uma dessas caixas há um homem forte. Em conjunto, cinco ou seis homens fortes mandam no mundo. A União Europeia é uma aberração nesta visão do mundo, porque a União é um conjunto de países que criam um espaço político, social e económico mais integrado do que qualquer organização internacional, sem chegar a ser uma nação. Além disso, a União Europeia é uma realidade recente: a sua forma constitucional mais recente, o Tratado de Lisboa, não tem dez anos; o euro não tem 20; o próprio nome União Europeia não tem trinta. Se for possível a União desenvolver-se e democratizar-se, a sua mera existência será uma ameaça à mundivisão de Trump e de Putin, e uma inspiração para outras organizações regionais e internacionais como o Mercosul, a ASEAN, a própria ONU. Por isso Trump considera a União, podemos estar certos, o seu pior inimigo. Por isso, e porque Putin acha o mesmo — e não há nenhum fascistóide na Europa ocidental e nos EUA que não adore Putin e não deseje fazer o que ele ordena, com pagamento (como Salvini ou Le Pen) ou sem ele. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. E isso deve levar-nos a uma reflexão importante, na Europa, em Portugal, e em particular à esquerda — à qual me dirijo porque me aflijo com a dificuldade que temos tido, na minha família política, em encarar de frente as consequências daquilo que se está a passar. Quem devem ser os nossos interlocutores? Em que modelo devemos concentrar o nosso esforço político? Numa Rússia que é o país do capitalismo mais desigual do mundo? Nos EUA, que se preparam para dar um grande salto para o passado logo que Trump domine por completo o seu Supremo Tribunal? Ou numa União Europeia que, mesmo com todos os seus defeitos e qualidades, ainda é vista por Trump e por Putin como um obstáculo ao mundo que eles querem, e por isso mesmo representa uma possibilidade de termos uma palavra a dizer nesta era de globalização? Faço este apelo à reflexão por todos os progressistas: devemos explorar a possibilidade de fazer da Europa um modelo alternativo a estes autoritários cleptocratas, mesmo sabendo que o caminho não é fácil, ou devemos desistir já, fechando a porta à UE, e fazendo o maior favor do mundo a Trump e Putin?Há muitas razões para criticar a UE e estar frustrado com ela. Da tragédia dos refugiados no Mediterrâneo à perigosa negligência com que se deixou instalar o fascismo contemporâneo na Hungria, estive sempre entre os primeiros a lançar o alerta quando a UE não agia, ou agia mal. Por isso mesmo estou à vontade para dizer que até a frustrante realidade da UE é preferível àquilo que Trump ou Putin têm para propor ao mundo, e que a escolha de uma esquerda que queira ser consequente nos tempos que correm e no mundo que temos hoje não pode ser o campo da desistência em relação à União Europeia, mas do campo da transformação da UE em qualquer coisa mais próxima dos nossos desejos. É possível uma União Europeia diferente da que temos hoje, sim, melhorada, mais democrática, mais coesa, mais ambientalmente responsável. É possível essa Europa, com apenas uma condição — se os cidadãos europeus a exigirem. E por isso o lugar da esquerda tem de ser a mobilizar os cidadãos para exigirem essa Europa melhor, e não a fechar as portas à Europa para criar o mundo dos sonhos de Trump e de Putin. Infelizmente, acho que esta reflexão não foi ainda levada a sério entre nós, porque há uma rigidez sectária que impede que ela se faça. Mas a rapidez com que o mundo está a mudar não se compadece com contemporizações e taticismos enquanto tudo já arde.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA UE MERCOSUL