Dhlakama recusa convite para encontro com Presidente Guebuza
A Renamo reagiu à proposta da Presidência moçambicana dizendo tratar-se de "um doce envenenado". (...)

Dhlakama recusa convite para encontro com Presidente Guebuza
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-11-05 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Renamo reagiu à proposta da Presidência moçambicana dizendo tratar-se de "um doce envenenado".
TEXTO: Ao convite lançado pelo Presidente moçambicano, Armando Guebuza, para um encontro com o líder da Renamo, na sexta-feira, em Maputo, o antigo movimento guerrilheiro e principal partido da oposição respondeu com uma recusa liminar. Primeiro, deve haver cessação das acções militares e, só depois, uma reunião entre os líderes, defendeu, em conferência de imprensa, o porta-voz do movimento, Fernando Mazanga. “Se, na verdade, há interesse do Presidente da República para se encontrar com o presidente Afonso Dhlakama, deve ordenar imediatamente a cessação dos ataques e perseguição que o Exército está a mover à figura do presidente Dhlakama e dos seguranças da Renamo”, considerou Fernando Mazanga, citado pela Lusa. As negociações dos últimos meses juntaram apenas representantes dos dois líderes em delegações chefiadas por um ministro e um deputado da Renamo. Guebuza e Dhlakama, que já duas vezes disputaram eleições (2004 e 2009), encontraram-se pela última vez há mais de um ano. Foi em Nampula, antes de o líder da Renamo se retirar definitivamente para a sua base na Gorongosa, província de Sofala, recorda o bispo anglicano D. Dinis Sengulane, que é, juntamente com o académico Lourenço do Rosário, facilitador do diálogo entre Governo e Renamo, mas não mediador oficial. "É um convite muito encorajador", disse o bispo pelo telefone a partir de Maputo, ainda sem saber da reacção da Renamo, salientando tratar-se da "primeira vez" que uma proposta deste tipo é feita "com data e lugar exacto": sexta-feira, dia 8 de Novembro, na capital, onde a Renamo deixou os seus 50 deputados, apesar do clima de confronto. A questão da neutralidade do local não se coloca, explica D. Dinis Sengulane, quando questionado sobre o facto de o Sul do país ser predominantemente pró-Frelimo e o Norte ser pró-Renamo. "Não estamos perante dois Estados, mas um Estado. E a Renamo reconhece que temos um chefe de Estado. Então Maputo é a casa de todos", disse. E frisou: "É urgente realizar este encontro. "Ouvir as preocupações da RenamoNo comunicado distribuído à imprensa em Maputo pelo porta-voz do Presidente, Edson Macuácua, e divulgado pela Lusa e AFP, o encontro serviria para “auscultar as preocupações” da Renamo, no “âmbito dos esforços contínuos empreendidos pelo Governo para a preservação da paz”. No mesmo texto é dito que o Governo moçambicano “usará os canais apropriados” para tornar possível a reunião, mas não explica como seria garantida a segurança de Dhlakama, em parte incerta desde 21 de Outubro. Nesse dia, o Exército moçambicano ocupou a base para onde Afonso Dhlakama se tinha retirado no ano passado, em protesto contra o que dizia ser a falta de disponibilidade para o diálogo do Governo da Frelimo, partido liderado pelo Presidente Guebuza. Nessa tomada da base, houve disparos, e pelo menos uma pessoa acabou por morrer: Armindo Milaco, deputado e chefe nacional da mobilização da Renamo. Desde então, intensificaram-se as acções de grupos armados, também contra civis, nas províncias de Sofala e Nampula atribuídas pelo Governo aos homens da Renamo. O Presidente Guebuza tem alternado um discurso dialogante com ameaças de acções militares para repor a soberania, se necessário, e de retaliação de "ataques perpetrados" contra si. No terreno, o Exército ocupou não só bases da Renamo no Norte do país, mas também, na semana passada, sedes do partido no distrito de Marínguè, também na província de Sofala, e em Rapale, Nampula, e a residência de Dhlakama na Beira, em Sofala. Em situação de "guerra não declarada"Ao PÚBLICO, na semana passada, Lourenço do Rosário, que também faz a ponte entre as duas partes, frisou a necessidade desta reunião ao mais alto nível para dar uma oportunidade à paz. "Toda a sociedade moçambicana acha que este problema só se resolve com o encontro entre o chefe de Estado, Armando Guebuza, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama. Isto é fundamental", disse numa entrevista em Lisboa. "Não interessa a tese de que, desaparecendo ele [Dhlakama], ficam resolvidos todos os problemas. Há um discurso mais radical que defende que a solução final seja essa, o que permitiria ou não o processo da ilegalização da Renamo como partido político armado. Não é constitucional, num país que é um Estado de direito, ter um partido armado. E a Renamo está armada. Esta posição — desarmar a Renamo — é legítima. Mas é preciso saber como desarmá-la. Se através do diálogo, se militarmente", dizia, antes de lembrar a impossibilidade de o líder da Renamo dialogar. "Neste momento é refugiado militar, está a fugir de uma operação militar. Não é uma questão de polícia, é uma questão militar. Sendo uma questão militar, é uma situação de guerra, embora não seja declarada. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra refugiado perseguição
Os três dias em que uma ilha da Tunísia é o centro do judaísmo
Os judeus acreditam que Ghriba é o seu templo mais importante em África. Já passou por um atentado e recupera agora da revolução que trouxe o islamismo tunisino às ruas e à política. (...)

Os três dias em que uma ilha da Tunísia é o centro do judaísmo
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento -0.1
DATA: 2014-05-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os judeus acreditam que Ghriba é o seu templo mais importante em África. Já passou por um atentado e recupera agora da revolução que trouxe o islamismo tunisino às ruas e à política.
TEXTO: Vista de fora, não impressiona. Aliás, em Djerba são muito poucas as casas de dois andares e a sinagoga de Ghriba, a principal da maior ilha da Tunísia, não é excepção. No interior, é o azul dos azulejos e dos arcos e colunas de estilo andaluz que se impõe, mas Ghriba é simples, muito simples, vista de onde quer que seja. A sua importância não se mede pela imponência: é a sinagoga mais antiga de África e os judeus acreditam que ali se guarda a cópia mais antiga da Tora. Nesta sexta-feira, começa a peregrinação a Ghriba, realizada durante a festa judaica de Lag Ba’omer. Para além da Tora, a Ghriba guarda “uma pedra de Jerusalém, uma das pedras do templo de Salomão, que tem mais de 2600 anos”, diz Khoudir Haniah, o principal responsável pela peregrinação. A tradição diz que a pedra – e uma pequena porta de madeira atrás da qual esta foi colocada – foi trazida por um grupo de refugiados em fuga das tropas babilónicas, que em 586 a. C. destruíram o primeiro templo de Jerusalém. A Ghriba já foi destruída e reconstruída muitas vezes; as estruturas actuais são do século XIX. Em 2002, foi alvo de um atentado suicida que matou 14 turistas alemães, dois franceses e três tunisinos – um guia muçulmano e dois judeus. “Sofreram tunisinos muçulmanos e tunisinos judeus, sofreram europeus, foi um ataque contra a humanidade”, diz Haniah. “O autor era tunisino mas veio de França, surpreendeu-nos a todos. Os habitantes de Djerba uniram-se, não se viraram uns contra os outros”, garante. Haniah diz que o ataque não mudou nada. Na prática, mudou muito: a porta da sinagoga deixou de estar sempre aberta, foram instaladas barreiras que impedem os carros de se aproximarem e máquinas de raios X, a polícia está sempre por perto e as visitas diminuíram a pique. Depois, veio a revolução de 2011, que derrubou Ben Ali e acordou o islamismo político que a ditadura esmagara. A revolta e a vitória dos islamistas moderados do Ennahda nas primeiras eleições livres deixaram a Tunísia numa crise existencial: o país que os líderes (primeiro Bourguiba, depois Ben Ali) tinham laicizado à força afinal também tinha de encontrar lugar para os muçulmanos praticantes e com vontade de exibir o seu fervor. No início dos anos 2000, participavam na Ghriba dez mil judeus vindos de fora da Tunísia. Depois do atentado de 2002, os números foram recuperando aos poucos até chegarem aos 4000, em 2010. O ano passado, vieram menos de 2000 peregrinos a Djerba, uma ilha com 130 mil habitantes. Moções de censuraA transição na Tunísia tem tido muitos solavancos, mas ao contrário do que aconteceu nos outros países árabes abalados pela vaga de manifestações de 2011, as negociações e o consenso conseguiram impor-se e o país já tem uma nova Constituição, é agora governado por um executivo de coligação e prepara-se para realizar eleições legislativas e presidenciais em Novembro. Nada disto significa que as diferenças tenham ficado para trás: por causa da peregrinação a Ghriba, 80 deputados lançaram moções de desconfiança contra dois ministros, que acusavam de querer normalizar as relações com Israel. As moções, contra a ministra do Turismo, Amel Karboul, e o secretário de Estado da Segurança (Ministério do Interior), Ridha Sfar, acabaram por ser retiradas há uma semana. Entretanto, Sfar explicara que não há nenhuma normalização em curso e que o país não reconhece passaportes israelitas – apesar de conceder autorizações especiais de entrada a turistas e peregrinos vindos de Israel. Pelo meio, o primeiro-ministro, Mehdi Jomaa, descreveu a polémica como “um falso debate” e pediu que se evitasse a controvérsia, com o aproximar da peregrinação, que se realiza entre sexta-feira e domingo. Tâmaras e orações em ovosCom mais ou menos polémica, a peregrinação nunca deixou de acontecer. E se depender de Khoudir Haniah assim continuará. Numa visita à sinagoga a semana passada, o aumento da segurança e os preparativos já eram visíveis. Por estes dias, todo o complexo, que incluiu um grande pátio coberto que costumava abrigar os peregrinos em viagem, já estará decorado com flores artificiais e os pratos tradicionais (comida kosher tunisina, como o couscous, para além de boukha, uma bebida alcoólica feita a partir de tâmaras) já devem estar prontos a ir ao forno. “Durante a peregrinação vêm as senhoras que querem casar-se ou ter filhos. Abre-se aquela porta de madeira e elas deixam os ovos com as suas orações, junto ao pedra do templo de Salomão”, descreve Haniah, que como tantos tunisinos deixa escapar algumas palavras de francês por entre o dialecto tunisino do árabe. Os pedidos são inscritos nos ovos mas também podem ser deixados em papelinhos que são enfiados nas aberturas de um painel de madeira trabalhado – como se fossem os papelinhos deixados entre as pedras no Muro das Lamentações de Jerusalém.
REFERÊNCIAS:
Religiões Islamismo
Intrigas
Não conseguimos perceber o mundo em estes senhores se mexem. Nem devemos tentar. Não é o nosso. (...)

Intrigas
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-17 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20140517170209/http://www.publico.pt/politica/noticia/intrigas-1636237
SUMÁRIO: Não conseguimos perceber o mundo em estes senhores se mexem. Nem devemos tentar. Não é o nosso.
TEXTO: Pode faltar dinheiro, pode faltar investimento, pode faltar emprego. Mas não faltam políticos para se candidatar a tudo, desde a Presidência da República a chefes de partido. A semana passada António Guterres veio dizer que “há sempre uma possibilidade, mesmo que mínima”, de ele se decidir a concorrer a Belém em 2016. Bastou isto para pôr o PS numa enorme agitação. As coisas pareciam estar muito bem combinadas. Seguro continuava secretário-geral (qualquer que fosse o resultado de 25 de Maio), depois ganhava as legislativas e, no fim, ajudava a levar António Costa aos píncaros. Assim, com a possível excepção de Sócrates, ficava toda a família contente. Guterres, com uma frase, estragou este santo e suave arranjo. Agora, as “notabilidades” não sabem outra vez para que lado se hão-de virar. Os jornais, e mais modestamente a televisão, já começam à cautela a fazer o elogio histórico de Guterres. Para quem não se lembra das crises sucessivas do governo do homem e da sua crónica indecisão, ele (mesmo sem maioria) transformou Portugal num sólido paraíso e, naquela altura, andava toda a gente felicíssima. E não, não fugiu quando as coisas se complicaram. Pelo contrário, num gesto nunca visto de abnegação, salvou, quase sozinho, a Pátria do “pântano” e partiu para alto-comissário da ONU a verter a sua imensa caridade sobre os refugiados. Melhor ainda: acabou com o “cavaquismo” e o prof. Marcelo Rebelo de Sousa tem assiduamente profetizado que ele voltará em triunfo e glória. E António Costa? António Costa que se concentre em correr com Seguro, se quer sobreviver. À direita a intriga é mais complicada. Pedro Passos Coelho cairá em 2015, em paga dos grandes benefícios que trouxe ao país. Para o lugar que ele deixa vazio, não existe por enquanto um candidato óbvio. Mas Passos Coelho não se importará de suceder a si próprio, até como peão de brega de um governo socialista. Não se vive durante vinte anos na JSD sem aprender a dar estas cambalhotas. Por isso, tanto ele como Paulo Portas não gostam da ideia de “listas conjuntas” nas legislativas e são os dois muito mansos com Seguro, para o caso de ele não chegar à maioria em 2015 e precisar de uma muleta. O que é sem dúvida um espectáculo edificante para os portugueses que não acreditam no regime e na democracia. Quanto às presidenciais, a direita rebenta de candidatos: Marcelo Rebelo de Sousa, Rui Rio, Durão Barroso ou o “político desconhecido”, que o PSD tem sempre de reserva. Nós não conseguimos perceber o mundo em que estes senhores se mexem. Nem devemos tentar. Não é o nosso.
REFERÊNCIAS:
CIA nunca mais usará campanhas de vacinação como cobertura das suas operações
Promessa foi feita pela Casa Branca, após protesto de universidades. Disfarce foi usado para identificar casa de Bin Laden. (...)

CIA nunca mais usará campanhas de vacinação como cobertura das suas operações
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Promessa foi feita pela Casa Branca, após protesto de universidades. Disfarce foi usado para identificar casa de Bin Laden.
TEXTO: A Casa Branca prometeu que os agentes da CIA nunca mais se farão passar por profissionais envolvidos em campanhas de vacinação, como aconteceu no Paquistão, nas operações para chegar até ao esconderijo de Osama bin Laden. É a resposta a uma intensa chuva de críticas e responsabilização pelos ataques contra os trabalhadores de saúde pública naqueles países da Ásia Central e até mesmo pelo ressurgimento da poliomielite como uma ameaça global, quando estava praticamente erradicada. A promessa é uma resposta de Lisa Monaco, assistente do Presidente Barack Obama para a Segurança Interna e Contra-Terrorismo, a uma carta enviada em Janeiro pelos reitores de 12 das mais importantes faculdades de Saúde Pública norte-americanas, entre as quais os das universidades de Columbia, Harvard e Johns Hopkins. Nesta carta protestavam contra o precedente aberto pela agência de espionagem norte-americana ao ter feito com que um cirurgião paquistanês, Shakil Afridi, se introduzisse na residência de Bin Laden, em Abbottabad, sob o falso pretexto de estar a conduzir um inquérito sobre a cobertura da imunização contra a hepatite. Afridi acabou por ser condenado por traição pela justiça paquistanesa e foi condenado a 23 anos de prisão. “Usar os esforços humanitários e de saúde pública como cobertura para a espionagem teve consequências colaterais graves que afectam a comunidade de saúde pública”, escreveram os reitores na carta, citada pelo The Washington Post. “Esta falsa campanha de vacinação excedeu os limites de danos” que podem ser aceitáveis pelas necessidades de segurança da nossa sociedade, acrescentam. Pelo menos nove profissionais de saúde que participavam em campanhas de vacinação contra a poliomielite no Paquistão – onde resistiam ainda algumas bolsas do vírus que causa a paralisia infantil – foram mortos desde então e o esforço de imunização foi muito diminuído. Além disso, como muitos dos combatentes internacionais que estão na Síria recebem treino nas zonas de fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão, a doença alastrou à Síria. A falta de condições de saúde na Síria, um país destruído pela guerra, e a fuga dos refugiados fizeram alastrar a poliomielite para mais de uma dezena de países, até ao ponto de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter já este mês declarado um estado de emergência mundial, pedindo aos diferentes países uma "acção coordenada" no combate à disseminação do vírus. A Europa, que recebe muitos refugiados sírios, é uma zona onde o vírus se pode espalhar – no entanto, também é uma área do mundo onde há uma boa cobertura da vacinação, por isso não é de esperar que as pessoas fiquem doentes.
REFERÊNCIAS:
Entidades OMS
O realizador antes conhecido por O Artista foi à guerra da Tchetchénia
O mau cinema de Michel Hazanavicius nesta ida à guerra, a forma como se imobiliza na convenção, provocam um sentimento próximo do da indignação. (...)

O realizador antes conhecido por O Artista foi à guerra da Tchetchénia
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O mau cinema de Michel Hazanavicius nesta ida à guerra, a forma como se imobiliza na convenção, provocam um sentimento próximo do da indignação.
TEXTO: Michel Hazanavicius, o realizador antes conhecido por O Artista, exercício árido (e oscarizado) que utilizava o cinema mudo não como linguagem que foi interrompida pelo som mas como um compacto de trejeitos, foi à guerra da Tchetchénia. O Óscar e o dinheiro conseguido pelo Artista permitiram-no. O encontro com Raphaël Glucksmann, para quem escreveu o argumento do documentário Rwanda: History of a Genocide (2004), foi o momento decisivo, qualquer coisa próximo de um despertar: Raphaël é filho do filósofo André Glucksmann, um dos poucos no Ocidente, segundo Hazanavicius, que foi alertando publicamente para os massacres na Tchetchénia. O que durante algum tempo foi actualidade jornalística, logo a seguir foi esquecido. Eis The Search (competição) no Festival de Cannes, para ir contra o esquecimento, “estar mais próximo do humano, e estabelecer uma relação mais directa com as personagens…”, segundo o realizador. São quatro personagens, cruzam-se: uma criança que se destaca da maré dos refugiados, depois dos pais terem sido mortos na aldeia pelo exército russo – o elo mais visível com o The Search, de Fred Zinneman, filme de 1948 que inspirou Hazanavicius, mostrando o percurso em direcção à vida de um órfão do Holocausto; a irmã mais velha, que o procura no meio do êxodo; uma delegada da União Europeia encarregue de fazer profissionais relatórios sobre a situação dos Direitos Humanos (é uma versão feminina, numa personagem interpretada pela limitadíssima e também premiadíssima Bérénice Bejo, do soldado que Montgomery Clift interpretava no filme de 1948); e um jovem russo obrigado a alistar-se no exército, aí perdendo a sua virgindade moral. As pesquisas que fez permitem a Hazanavicius afirmar que o exército russo “é uma máquina formidável de criar soldados”. O realizador está em condições de resumir, se lhe pedissem, a história militar de um país, situando no pós-queda do muro de Berlim e desmantelamento do Exército Vermelho, e depois nos tempos de Putin como primeiro-ministro do Presidente Boris Ieltsin, a criação de uma força militar à custa de mercenários. Thomas Langmann, produtor: “É uma realidade histórica, o exército russo fez massacres”. À superfície, depois de uma brincadeira irónica, O Artista, eis uma coisa séria. É verdade, mas há pontos de contacto, e não tanto o facto de também neste filme existirem fundamentalmente duas personagens em percursos opostos, de ascensão e de queda (o miúdo e o jovem soldado aqui – Hazanavicius salienta a coincidência da parecença física entre os dois actores, como variações de uma mesma amplitude humana; a estrela do mudo em declínio de Jean Dujardin e a actriz em ascensão de Bérénice Bejo em O Artista). O que os aproxima, na verdade, é a dificuldade de, apesar de o título ser The Search, o filme ser incapaz de qualquer possibilidade de movimento que o faça evoluir, viver e complexificar a partir da convenção e do lugar estabelecido para cada personagem. Exactamente como O Artista não conseguia nunca sair do gadget. É um filme que parece construído não com tableaux vivants mas com quadros mortos, o que várias vezes ao longo da projecção, e depois no final, motivou alguns assobios e crispação: o mau cinema de Hazanavicius nesta ida à guerra, a forma como se imobiliza na convenção, provocam um sentimento próximo do da indignação.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos guerra humanos filho criança feminina
Francisco chega à Terra Santa sem bagagem histórica mas com uma agenda delicada
O 50.º aniversário do encontro de Paulo VI com o líder da Igreja Ortodoxa é o pretexto para a viagem, mas, na Jordânia, em Belém ou em Jerusalém, o Papa quer falar de paz, das perseguições aos cristãos e da violência que consome a região. (...)

Francisco chega à Terra Santa sem bagagem histórica mas com uma agenda delicada
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento -0.15
DATA: 2014-05-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O 50.º aniversário do encontro de Paulo VI com o líder da Igreja Ortodoxa é o pretexto para a viagem, mas, na Jordânia, em Belém ou em Jerusalém, o Papa quer falar de paz, das perseguições aos cristãos e da violência que consome a região.
TEXTO: Quando neste sábado o Papa aterrar em Amã, na Jordânia, na primeira escala da visita de três dias à Terra Santa, sabe que tem pela frente a missão mais delicada desde que foi eleito. Francisco assegura que se trata de uma “viagem estritamente religiosa”, que terá como principais preocupações a unidade dos cristãos e o apoio à cada vez mais pequena comunidade de fiéis do Médio Oriente. Mas cada etapa e cada discurso da peregrinação serão analisados ao pormenor – palavras e gestos que terão consequências na acção diplomática do Vaticano e nas delicadas relações da Igreja Católica com judeus e muçulmanos. Francisco será o quarto Papa a visitar a região desde que, em 1964, Paulo VI escolheu Jerusalém como destino da sua primeira viagem para fora da Europa (e a primeira a realizar-se de avião) – um inédito que se transformou em história quando ele se reuniu com o então patriarca de Constantinopla, considerado o primeiro entre os líderes das igrejas ortodoxas. O 50. º aniversário desse encontro, que inaugurou a reaproximação das duas igrejas desavindas desde o cisma de 1054, é o pretexto para a visita de Francisco, que, no domingo, estará ao lado do patriarca Bartolomeu numa celebração ecuménica na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém. A igreja, erguida sobre o local onde, segundo a tradição, terá estado sepultado Jesus Cristo, está sob jurisdição conjunta de gregos ortodoxos, católicos e arménios, mas as quezílias são constantes. A cerimónia pretende, por isso, ser um apelo à unidade dos cristãos, sobretudo num momento em que, por toda a região, são denunciadas perseguições e ataques. Na celebração, Francisco terá bem perto de si alguém que foi directamente visado por essas ameaças: Bechara Rai, patriarca dos maronitas (igreja de rito oriental, maioritária entre os cristãos libaneses), foi avisado pela milícia xiita do Hezbollah de que a sua deslocação a Israel – com que o Líbano continua oficialmente em guerra – constitui “um pecado histórico” com “repercussões perigosas e negativas”. Às ameaças dos radicais islâmicos, junta-se a discriminação em Israel, as limitações de culto em muitos países árabes, a violência confessional no Egipto ou as guerras que provocaram verdadeiros êxodos na Síria e no Iraque, ao ponto de, como alertou o patriarca latino de Jerusalém, Fouad Twal, a terra que foi o berço do cristianismo, estar à beira de se tornar uma “Disneyland espiritual”, à qual acorrem peregrinos de todo o mundo, mas onde já quase não vivem fiéis – no início do século XX eram 20% da população do Médio Oriente, hoje não serão mais de 2% a 4%. O tema deverá estar no centro da visita, neste sábado, à Jordânia, que incluiu, além de uma missa em Amã à qual deverão assistir peregrinos vindos do Líbano e do Iraque, uma deslocação às margens do rio Jordão, onde Cristo terá sido baptizado, e a ida a um campo que acolhe refugiados sírios e iraquianos – uma das ocasiões em que o Papa promete falar e “rezar pela paz desta terra que tanto sofre”. Diálogo inter-religiosoMas uma viagem à Terra Santa é sobretudo uma oportunidade de aproximação às outras duas religiões monoteístas, com quem os cristãos partilham valores mas também uma história de ódios e incompreensões. Francisco, ao contrário dos seus dois antecessores, não tem previsto um encontro a três com líderes judeus e muçulmanos, mas semanas antes da partida enviou um sinal de que foi bem acolhido pelas duas religiões. Viaja acompanhado pelo rabino Abraham Skorka e o professor de estudos islâmicos Omar Abboud, dois velhos amigos de Buenos Aires. Uma “novidade absoluta” nas palavras do porta-voz do Vaticano, com a qual Francisco quer mostrar, por actos e não apenas por palavras, que a convivência entre religiões é um ingrediente essencial para a paz. “Não espero que Francisco tenha uma varinha mágica e num passe consiga fazer a paz entre judeus e palestinianos, mas o seu carisma e a sua grande humildade podem enviar uma mensagem poderosa de paz a toda a região do Médio Oriente”, disse ao jornal católico Avvenire Skorka , que em 2010 co-assinou com o futuro Papa o livro Sobre o Céu e a Terra. Além da simplicidade e cordialidade que se tornaram já uma imagem de marca, o Papa argentino inicia também esta visita com “menos bagagem” do que os seus antecessores, lembra o vaticanista John Allen, no jornal Boston Globe. João Paulo II – que cumpriu na Terra Santa uma das mais emblemáticas viagens do seu pontificado e foi responsável por uma revolução nas relações entre judeus e católicos – era oriundo da Polónia, país com séculos de anti-semitismo. Bento XVI, alemão, foi recrutado pela juventude hitleriana e na visita a Jerusalém, em 2009, desapontou quando se referiu ao Holocausto como “uma tragédia”. Três anos antes, indignara os muçulmanos com o discurso na Universidade de Rastibona quando recordou palavras de um antigo imperador bizantino que se referia ao islão como uma religião da violência.
REFERÊNCIAS:
Religiões Cristianismo
Presidentes palestiniano e israelita aceitam convite do Papa para diálogo no Vaticano
Em Belém, Francisco foi directo ao processo de paz. Abbas vai ao Vaticano a 6 de Junho, Perez ainda não confirmou a data. (...)

Presidentes palestiniano e israelita aceitam convite do Papa para diálogo no Vaticano
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em Belém, Francisco foi directo ao processo de paz. Abbas vai ao Vaticano a 6 de Junho, Perez ainda não confirmou a data.
TEXTO: O convite é inédito e deu à visita do Papa à Terra Santa um tom político. No fim da missa na Praça da Manjedoura, em Belém, o Papa Francisco convidou os presidnetes israelita e palestiniano a visitarem o Vaticano e a rezarem, juntos, “pela paz”. “Neste lugar onde nasceu o príncipe da paz, desejo fazer um convite que lhe é dirigido a si, presidente Mahmoud Abbas, e ao senhor Presidente Shimon Perez, para juntos e comigo rezarem a Deus pelo dom da paz. Ofereço a minha casa, no Vaticano, para acolher essa oração. Todos nós desejamos a paz; muitas pessoas constroem-na todos os dias com pequenos gestos, muitos sofrem e suportam pacientemente o esforço de outros na tentativa de a construir. E todos, especialmente os que estão ao serviço do povo, temos o dever de ser instrumentos da paz, antes de mais através da oração”, disse o Papa que ofereceu o Vaticano como território da diplomacia israelo-palestiniano, ainda que sublinhando que é um espaço de oração. O convite foi rapidamente aceite pelas dua partes. "Damos as boas vindas ao convite para ir ao Vaticano. O Presidente Peres sempre apoiou e continuará a apoiar as iniciativas de paz", disse a presidência israelita em comunicado citado por The Washington Post. Nabil Abu Rudeina, o porta-voz de Mahmoud Abbas, disse que o presidente da Autoridade Palestiniana irá ao Vaticano no dia 6 de Junho. Do lado de Perez, porém, ainda não há confirmação desta data. Este convite histórico chega quando as negociações, que têm sido mediadas pelos Estados Unidos, voltam a estar paradas –– foram suspensas por Israel depois do entendimento entre as duas facções palestinianas, o Hamas e a Fatah (de Abbas); Washington considerou o acordo prejudicial à paz e a Casa Branca anunciou que era o momento de diminuir a sua intervenção e deixar que fossem israelitas e palestinianos a tomarem, agora, decisões. Depois do encontro com Abbas, na manhã deste domingo, o Papa Francisco reuniu, à tarde, com o Presidente e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em Telavive. Netanyahu tem sido um duro crítico dos políticos israelitas que defendem a continuação das conversações com Abbas devido à aproximação deste ao Hamas, que Israel (e os Estados Unidos) mantém com a classificação de grupo terrorista. A última iniciativa de paz, liderada pelo secretário de Estados dos EUA John Kerry, vinha a enfraquecer depois da continuação da construção por Israel de colonatos nos territórios ocupados, mas o final foi ditado precisamente por este entendimento entre Fatah e Hamas, que Israel recusa. O Governo israelita não gostou que, na preparação desta viagem, o Papa se tivesse referido ao “Estado palestiniano”. Tão pouco foi do seu agrado que Francisco tivesse optado por entrar na Cisjordânia (ido da Jordânia, onde no sábado agradeceu ao rei Abdullah o apoio que o seu país está a dar aos refugiados da guerra na Síria), sem passar primeiro por Israel. Apesar de o Vaticano ter insistido que esta peregrinação do Papa não deveria ter uma leitura política, a verdade é que o Papa argentino não se inibiu de passar mensagens, através de gestos e de palavras – sobre os colonatos israelitas disse que são "inaceitáveis". Em Belém, Francisco foi muito claro ao falar “no direito dos dois estados de existirem e conviverem em paz”. Depois, e noutro gesto surpreendente, percorreu o muro de betão d eoito metros de altura edificado pelos israelitas e que separa Israel da Cisjordânia – atravessando território palestiniano, viola o traçado da linha verde que separa os dois territórios acordada em 1967. Francisco saiu do carro e fez alguns metros a pé, antes de parar em recolhimento durante alguns minutos. "É um acto de grande significado esta paragem no muro", disse à AFP Farid Abu Mohor, que vive em Beit Jala, onde o muro ameaça o acesso a terras agrícolas palestinianas. Em Belém, o lugar onde nasceu Jesus (na Praça da Manjedoura), milhares de peregrinos cristãos, oriundos de muitas cidades palestinianas, manifestaram o seu apoio a Francisco. "Ele é diferente dos outros papas no campo humanitário e pode trazer mudanças visíveis", disse à AFP Ibrahim Handal. "Possa ele contribuir para o fim da ocupação [israelita] e trazer a paz. A fé move montanhas".
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Umas eleições para entronizar, de novo, um militar no Egipto
Parece que o círculo das revoltas árabes se fecha e que a desilusão substitui o sonho. Mas na montanha russa dos últimos três anos e meio nada é assim tão simples. (...)

Umas eleições para entronizar, de novo, um militar no Egipto
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento -0.1
DATA: 2014-05-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Parece que o círculo das revoltas árabes se fecha e que a desilusão substitui o sonho. Mas na montanha russa dos últimos três anos e meio nada é assim tão simples.
TEXTO: A medida da vitória do marechal Abdel Fatah al-Sissi depende em quase tudo da dimensão da abstenção das presidenciais desta segunda e terça-feira. Ao boicote apelaram os que hoje falam em nome da Irmandade Muçulmana e parte dos jovens responsáveis pelo desencadear da revolução de Janeiro de 2011. Sissi, que quando derrubou Mohamed Morsi prometeu que os militares voltariam aos quartéis num mês e jurou não querer ser Presidente, será em breve entronizado como senhor do Egipto. Os resultados dos eleitores que vivem no estrangeiro já são conhecidos: 94, 5% votaram em Sissi. Oficialmente, Sissi já não é marechal, teve de deixar a farda para se candidatar à presidência. Na campanha vestiu fato. Mas Sissi, que liderou o golpe que derrubou Mohamed Morsi a 3 de Julho do ano passado, é o candidato dos militares (como foram todos os líderes egípcios antes de Morsi). Desde então, tem sido o líder à frente de um Governo transitório de fachada. Desde então, tem feito tudo o que se esperaria que um chefe militar fizesse: destruiu adversários, proibiu manifestações e ajudou a organizar o crescimento do domínio dos militares na economia – áreas como a energia, o imobiliário ou a água engarrafada estão sob o seu controlo. Ao derrube do islamista Morsi, primeiro Presidente eleito democraticamente no Egipto, seguiram-se “dez meses de violações grosseiras dos direitos humanos”, diz a Amnistia Internacional num relatório onde se enumeram “níveis sem precedentes de abusos”, “tortura sob detenção”, “crescentes restrições às liberdades de expressão e associação, “justiça selectiva e julgamentos injustos”, “nova legislação que dá às autoridades poder para cometer abusos”, “discriminação e violência contra cristãos coptas”, “abusos contra refugiados e migrantes”, “desalojamentos forçados”… O Egipto, conclui a organização, “vai provavelmente continuar a enfrentar uma espiral de crescimento de abusos de direitos humanos depois das eleições”. Sissi não falou destes problemas durante a campanha. Quando falou, sempre pouco e na televisão, foi para repetir a promessa de “limpar” o país de terroristas e fazer desaparecer para sempre a Irmandade Muçulmana, entretanto ilegalizada e considerada uma “organização terrorista”. Têm rebentado bombas, muitas até, do Sinai, onde sempre houve grupo de jihadistas a operar, às ruas do Cairo. Mas o regime nunca apresentou provas da ligação entre estes crimes e a Irmandade. Sissi não apareceu num único comício da sua campanha milionária. “O marechal não vem por causa de razões de segurança”, repetiram os apoiantes às perguntas dos jornalistas. O marechal não aparece em público e isso reforça a sua narrativa: ele é o salvador, salvou os egípcios da Irmandade e vai salvá-los do terrorismo que estes praticam ou instigam. Logo nos primeiros dias pós-golpe, mandou atacar protestos onde morreram 1400 pessoas. E aos poucos, foi subindo ao pedestal onde os árabes se acostumaram a ver os seus líderes que só a morte derrubava. “Estas eleições são uma lição objectiva sobre como organizar uma eleição fraudulenta mantendo a fachada de que tudo é livre e justo. O principal candidato e os seus apoiantes agiram depressa – meses antes – para afastar os principais rivais da corrida e arrancar pela raiz quaisquer vozes dissidentes”, resume Neil Hicks, da ONG Human Rights First, num artigo publicado pelo Huffington Post. Nicks recorda que há menos de dois anos o Egipto foi cenários das eleições mais contestadas da sua História. Até segunda volta foi preciso. Morsi venceu com 51, 7% contra o ex-general e antigo ministro de Hosni Mubarak, Ahmed Shafiq. Democracia não são só eleições livres mas estas costumam ser um bom passo na direcção certa. Um rival?Sissi não concorre sozinho, estas eleições não são um referendo como os do tempo de Mubarak, mesmo se no fim, contados os boletins, o resultado possa fazer corar de vergonha o antigo ditador. Sissi tem um único adversário, o nacionalista de esquerda Hamdeen Sabahi, que arrancou um inesperado terceiro lugar nas presidenciais de 2012. Sabahi apoiou o golpe contra Morsi e a violenta repressão que se seguiu contra a Irmandade – mais tarde disse que a operação para varrer uma concentração anti-Mors, que deixou 800 mortos, “violou os critérios dos direitos humanos”. Sabahi acusa Sissi de ter na sua campanha “fiéis de Mubarak”, o que é verdade, e promete cumprir os sonhos de Janeiro de 2011: pão, liberdade e justiça social.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Snowden quer voltar a casa, mas não para acabar numa cela
Sugerindo que gostaria de beneficiar de uma amnistia, o ex-analista voltou às denúncias dos programas de espionagem da NSA. Kerry diz-lhe que regresse para enfrentar "o sistema de justiça americano". (...)

Snowden quer voltar a casa, mas não para acabar numa cela
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2014-05-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sugerindo que gostaria de beneficiar de uma amnistia, o ex-analista voltou às denúncias dos programas de espionagem da NSA. Kerry diz-lhe que regresse para enfrentar "o sistema de justiça americano".
TEXTO: Edward Snowden, o analista informático na origem das revelações sobre os programas de vigilância e espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana, quer voltar a casa, aos Estados Unidos, afirmou numa entrevista ao canal de televisão norte-americano NBC. “Se há um lugar no mundo para onde eu desejaria ir, é para casa”, disse Snowden, quase um ano depois do início da publicação de documentos que revelaram a dimensão das escutas ilegais realizadas por Washington em todo o mundo. O antigo consultor da NSA repetiu ter agido “desde o primeiro dia para servir o seu país”. “Resta às pessoas decidirem se eu posso beneficiar de uma medida de amnistia ou de clemência. ”Pouco antes da transmissão da entrevista de uma hora, a primeira dada por Snowden a uma televisão nos EUA, e na sequência da divulgação dos primeiros excertos, o secretário de Estado, John Kerry, descrevia o analista como “um fugitivo” que "provocou grandes danos ao seu país", sugerindo-lhe que “deve portar-se como um homem e regressar aos EUA”. “Um patriota não fugiria”, disse. “Se ele acredita na América, devia confiar no sistema de justiça americano”, acrescentou. O attorney general (equivalente a ministro da Justiça) Eric Holder já disse que perdoar Snowden “seria ir demasiado longe”, mas admitiu que os EUA “entrariam num diálogo” com o analista para encontrar uma solução se ele aceitasse a responsabilidade pelas fugas de informação. Snowden foi acusado de roubo e várias violações da Lei da Espionagem por divulgar pormenores dos programas de espionagem aos meios de comunicação social – incluindo ao norte-americano The Washington Post e ao britânico The Guardian, que este ano ganharam o Prémio Pulitzer pelo tratamento jornalístico dos documentos revelados. Snowden quer voltar a casa, mas não para “entrar na cela de uma prisão”. Isso, defende, “seria um mau exemplo para outras pessoas no Governo que vejam alguma coisa a passar-se, alguma violação da Constituição, e pensem que deveriam dizer qualquer coisa sobre isso”. Na entrevista, Snowden não negou ter cometido ilegalidades. “Há alturas em que o que está certo e o que é legal não são o mesmo”, justificou. “Às vezes, fazer o que está certo significa fazer algo ilegal. ”Proteger a ConstituiçãoExplicando que nunca planeou acabar na Rússia, país que em Agosto lhe deu o estatuto de refugiado, Snowden contou que tinha previsto viajar até à América Latina, mas quando a administração norte-americana lhe revogou o passaporte, teve de permanecer no aeroporto de Moscovo. Isto depois de ter abandonado o hotel de Hong Kong onde se encontrava quando os documentos que tinha obtido começaram a sair na imprensa. “Eu nunca me encontrei com o Presidente russo. Eu não sou apoiado pelo Governo russo. Não recebo dinheiro deles. Não sou um espião, que é o que está em causa”, afirmou. Na entrevista realizada na Rússia, Snowden repetiu 22 vezes a palavra Constituição (as contas são do The Washington Post). “Ser um patriota não significa dar prioridade a servir o Governo acima de tudo”, disse. “Ser um patriota significa saber quando é preciso proteger o país e quando é preciso proteger a Constituição contra o ataque de adversários. E os adversários não têm de ser países estrangeiros. Podem ser maus polícias. ”O debate nos EUAAs revelações feitas por Snowden embaraçaram a administração de Barack Obama (principalmente por provarem que Washington regista conversas privadas de dirigentes estrangeiros aliados), mas abriram um debate nos EUA sobre o papel da NSA e os limites que devem enquadrar o poder da agência para conduzir os seus programas de vigilância. Obama pediu ao Congresso para pôr ordem nestes programas, impedir a NSA de armazenar por si mesma os dados das comunicações e obrigar a agência a pedir aos tribunais para ter acesso aos registos das empresas de telecomunicações. A Casa Branca já aprovou esta legislação e, na semana passada, enviou-a ao Senado. Num registo bem mais descontraído do que em anteriores aparições públicas, Snowden contou ao entrevistador Brian Williams que tem pouco com que se entreter na Rússia, já que nem fala a língua. Disse que passa os dias em casa a ver a série norte-americana The Wire (que em 2008 Obama nomeou como o seu “programa de televisão favorito"), apesar de achar “que a segunda temporada não é assim tão boa”.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Um Mundial para quem anda à procura de um país
A partir de amanhã, 12 selecções que não estão representadas na FIFA vão disputar um título mundial. O irmão mais novo de Mario Balotelli vai estar lá. (...)

Um Mundial para quem anda à procura de um país
MINORIA(S): Refugiados Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-05-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A partir de amanhã, 12 selecções que não estão representadas na FIFA vão disputar um título mundial. O irmão mais novo de Mario Balotelli vai estar lá.
TEXTO: Mario Balotelli tem tudo para ser uma das estrelas do Mundial do próximo Verão. Todos sabemos o que ele pode fazer com a bola, mas a natureza imprevisível do avançado do Milan torna difícil qualquer previsão sobre o seu contributo para a squadra azzurra no Brasil. Super-Mário não será o único da sua família a disputar um Mundial neste Verão e nem sequer será o primeiro. Enoch Barwuah, o seu irmão mais novo, vai estar, a partir deste domingo (e até 8 de Junho), em Ostersund, na Suécia, a disputar um Mundial para selecções que não fazem parte da FIFA. Enoch vai representar a selecção da Padânia, uma região do norte de Itália. Mas também vão lá estar equipas do Darfur, Curdistão, Occitânia, Abecásia, Lapónia, Ilha de Man ou Nagorno-Karabakh. Tal como o seu irmão mais velho, também não se saberá muito o que vale Enoch, um avançado que alinha no modesto Vallecamonica, dos escalões secundários de Itália, e que passou pela formação do Manchester City quando o irmão andava por lá. Enoch não vai passar despercebido num torneio onde não há “estrelas” do futebol mundial com contratos milionários. Há histórias de vida, exemplos de superação e uma vontade comum de passar a pertencer ao mundo através do seu ritual mais global, o futebol. Representam minorias étnicas, estados não reconhecidos pela comunidade internacional, comunidades aprisionadas pela geografia em países que não sentem como seus. O jogo inaugural deste Mundial organizado pela ConIFA (Confederação de Associações Independentes) será entre a Padânia e o Darfur United, equipa formada nos campos de refugiados do Darfur por uma ONG norte-americana. Em 2012, Mark Hodson, treinador do Darfur United, contava ao PÚBLICO a história desta equipa formada por homens que fugiram do sangrento conflito no Oeste do Sudão para os campos do Chade. “Todos viram um membro da sua família assassinado à sua frente”, dizia este treinador britânico radicado nos EUA que assumiu a tarefa de reconstruir a identidade destes refugiados através do futebol. O projecto começou em 2011 e, quatro anos depois, conseguiram reunir os fundos para fazer a viagem. Será a segunda experiência internacional depois de terem participado, em 2012, no Viva World Cup, um torneio também para selecções não reconhecidas pela FIFA, realizado no Curdistão iraquiano. “Trabalhamos para apoiar etnias e regiões isoladas e mostrá-las ao mundo, para que saiba que elas existem”, diz Per Anders Blind, presidente da ConIFA, citado pela CNN, frisando que a sua confereração tem potencial para crescer e ter mais membros que a própria FIFA. “Existam 5500 etnias e regiões que não podem jogar. A FIFA tem 209 membros e nós podemos facilmente dobrar esse número”, calcula o sueco, que estima lotações esgotadas para os jogos deste Mundial alternativo, todos marcados para o relvado sintético do estádio do clube da cidade, da II Divisão sueca, com capacidade para seis mil espectadores. Não houve longas fases de qualificação para este Mundial, como acontece para o Mundial FIFA. Foram 12 os que aceitaram o convite da ConIFA, que não conseguiu convencer a Catalunha, que ainda tem esperanças de ser reconhecida pela FIFA e pela UEFA – também a Ilha da Páscoa foi convidada a participar, mas acabou por não fazer a viagem até à Suécia. Quem já está fora destes campeonatos é Gibraltar, que foi recentemente reconhecido como membro da UEFA e já vai participar nas qualificações para o Euro 2016, apesar da oposição da Espanha durante muito tempo. Para a selecção de Nagorno-Karabakh a participação neste Mundial não é um assunto pacífico. A representação futebolística do enclave arménio na Suécia teve forte oposição do Azerbaijão, mas a vontade de mostrar que podem sobreviver à guerra foi mais forte. * Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA