Uma lança barroca na China
Orquestra Barroca Casa da Música faz dois concertos, esta quarta e quinta-feira, em Pequim com um programa centrado na música portuguesa da época. (...)

Uma lança barroca na China
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Orquestra Barroca Casa da Música faz dois concertos, esta quarta e quinta-feira, em Pequim com um programa centrado na música portuguesa da época.
TEXTO: É mais um passo – um passo grande – no caminho de afirmação internacional de uma das estruturas residentes da Casa da Música: a Orquestra Barroca (OBCM) apresenta-se esta quarta e quinta-feira em Pequim para dois concertos no Conservatório e na Universidade da capital chinesa. Dirigida pelo maestro e violinista italiano Federico Guglielmo, a orquestra vai apresentar junto de uma audiência que se prevê maioritariamente académica um programa centrado na música portuguesa da época, em que avulta a presença dos compositores Carlos Seixas (Concerto para cravo em Lá maior) e Francisco António de Almeida (cantata A quel leggiadro volto). “São dois grandes compositores da história da música portuguesa, aos quais acrescentamos dois italianos, David Perez e Giacomo Facco, que foram convidados para Lisboa pelo rei D. José I, que foi um grande melómano e cuja corte era sempre animada com música”, explica António Jorge Pacheco, lembrando que o primeiro destes compositores foi o autor da ópera – Alessandro nell’Indie – que inaugurou a Ópera do Tejo em Março de 1755, que poucos meses depois seria totalmente destruída pelo terramoto de 1 de Novembro. O britânico William Corbett, com um concerto Alla Portugesa, e um concerto para violino do italiano Giacomo Facco, escolha do maestro Federico Guglielmo – que aqui faz a sua estreia a trabalhar com uma formação da Casa da Música –, completam o programa com que a OBCM leva a Pequim um género histórico-musical que, segundo o director artístico da instituição portuense, é muito apreciado pelos melómanos chineses desde o tempo do imperador Kangxi (século XVII). Coube ao músico jesuíta português Tomás Pereira (1645-1708), também astrónomo e geógrafo, fazer chegar ao imperador os sons do barroco, e ajudar à sua difusão junto da sua corte. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A visita da Orquestra Barroca a Pequim realiza-se a convite da Embaixada Portuguesa, depois de o actual embaixador, José Augusto Duarte, ter assistido à prestação da formação nas comemorações do 10 de Junho, em 2017, no Luxemburgo. O Dia de Portugal volta a ser o pretexto para a nova viagem da OBCM, neste caso também num contexto de abertura da China à grande tradição da música erudita ocidental. António Jorge Pacheco refere, a propósito, que o país “está a investir em grande na música, construindo teatros e escolas, onde actualmente há milhões de alunos a estudar, com especial atenção ao piano”. Este ano, a OBCM actuou já, em Janeiro, em Dijon (França) e em Ludwigshafen am Rhein (Alemanha), e tem nova deslocação agendada para o mês de Novembro no mítico Konzerthaus de Viena, onde irá levar também obras de Carlos Seixas – será, nessa ocasião, dirigida pelo maestro e cravista alemão Andreas Staier, com quem a formação portuense gravou recentemente um disco para a etiqueta Harmonia Mundi com os Concertos para cravo daquele compositor português. “Este é o ano em que a Orquestra Barroca está a ter um grande impulso na sua carreira internacional”, nota o director artístico, salientando que, depois da experiência chinesa, a viagem a Viena, que continua a ser “a capital da música”, se revestirá de uma importância particular neste percurso.
REFERÊNCIAS:
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China: O longo braço da intimidação
Desde que Xi Jinping chegou ao poder que as perseguições a activistas dos direitos humanos não param de aumentar. As tácticas de pressão e silenciamento chegam às Nações Unidas. (...)

China: O longo braço da intimidação
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.05
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Desde que Xi Jinping chegou ao poder que as perseguições a activistas dos direitos humanos não param de aumentar. As tácticas de pressão e silenciamento chegam às Nações Unidas.
TEXTO: Na cafetaria do edifício das Nações Unidas em Genebra, um fugitivo tibetano espera a sua vez para contar a diplomatas como foi preso e torturado na China. Golog Jigme, um monge budista de 43 anos, fugiu de um centro de detenções chinês em 2012, acabando por ir parar à Suíça. Mas os seus perseguidores não desistem. Enquanto Golog Jigme se prepara para testemunhar perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU neste dia de Março, um alto diplomata, Zhang Yaojun, está na mesma cafetaria apinhada de gente, apenas a alguns metros da mesa onde o monge está sentado com as suas vestes cor de açafrão. “Tirou-me uma fotografia sem mais nem menos”, comenta Golog Jigme, apontando para Zhang, que está ali de smartphone na mão. O acto de Zhang viola a proibição de se tirarem fotografias dentro da ONU, com excepção dos fotógrafos acreditados. “Quando eu estava escondido nas montanhas, o Governo chinês anunciou que daria uma recompensa de 200 mil yuans [quase 29 mil euros] a quem me encontrasse”, diz o monge. “Talvez ele queira o dinheiro da recompensa. ” Zhang diria mais tarde que estava só a fotografar as vistas e que não sabia da proibição. A piada cáustica de Golog Jigme revela aquilo que o seu encontro com Zhang tem de perturbador. Diplomatas ocidentais e activistas dizem que a vigilância do monge por parte da China faz parte de uma campanha de intimidação, obstrução e perseguição que pretende silenciar os críticos das violações dos direitos humanos que vão testemunhar na ONU. A conduta de Pequim neste caso é um exemplo de como, mesmo nos palcos internacionais, a China tem conseguido abafar cada vez mais a oposição. O alcance global do Governo comunista tem crescido, numa altura em que está a aumentar a repressão dentro do país e se prepara uma nova lei, mais restritiva, sobre as organizações não-governamentais estrangeiras que operam no território chinês. Em Julho, as autoridades viraram-se para advogados e activistas dos direitos humanos, detendo ou interrogando 245 pessoas, segundo a Amnistia Internacional. Fotografar e filmar críticos do regime como Golog Jigme é uma das tácticas. Outras incluem pressionar a ONU para recusar acreditação a activistas importantes ou encher reuniões com responsáveis chineses e simpatizantes do Governo que esvaziam as acusações de abusos aos direitos humanos. “Estamos todos cientes destes problemas, que infelizmente acontecem repetidamente — e não se limitam apenas à China”, afirma o alto-comissário da ONU para os direitos humanos Zeid Ra’ad al Hussein. E adianta estar “extremamente preocupado com o aumento do número de casos de perseguição ou represálias contra aqueles que colaboram com o Conselho de Direitos Humanos”. Para além disso, a China também está a proibir a saída de activistas para Genebra, onde o conselho concluiu recentemente a sua terceira sessão de três semanas deste ano. Os activistas chineses que denunciam em Genebra a situação dos direitos humanos no seu país têm ainda de enfrentar mais uma das tácticas de Pequim: a interferência coordenada de diplomatas e delegados de ONG apoiadas pelo Governo de Pequim. Estes grupos são conhecidos como organizações não-governamentais organizadas pelo Governo ou GONGO’s (na sigla inglesa). O regime tem à sua disposição um exército de elementos das GONGO’s na cidade suíça, que é rapidamente accionado quando a situação do país está a ser analisada. De acordo com uma base de dados da ONU, dispõe de 47 ONG do território, Hong Kong e Macau que estão autorizadas a participar nos encontros do Conselho de Direitos Humanos. Pelos menos 34 destas organizações são GONGO’s, segundo os cálculos da Reuters. Estes grupos são controlados por ministérios ou órgãos do Partido Comunista ou têm à cabeça um oficial reformado do Governo ou do exército. “Estamos todos cientes e preocupados com a presença de ONG que não são verdadeiramente independentes — e, repito, de vários países”, afirmou Zeid. “Mas o Conselho de Direitos Humanos não pode fazer nada para os impedir de participar em sessões onde têm um estatuto oficial. ”A campanha de Pequim está a funcionar, dizem diplomatas e activistas. Nos últimos anos, o Partido Comunista conseguiu evitar a censura da sua actuação no campo dos direitos humanos. Organizações não-governamentais e alegadas vítimas de abusos no território afirmam que é cada vez mais difícil fazerem-se ouvir. “Enquanto sentirem que os custos políticos de intimidarem alguém são menores do que os benefícios de ouvirem as críticas, estas práticas continuarão”, diz Michael Ineichen, director do International Service for Human Rights, uma ONG que apoia os activistas de direitos humanos. A ONU e os Estados-membros, adianta, devem “aumentar os custos políticos de tal forma que deixe de ser vantajoso para a China silenciar pessoas na ONU”. Ren Yisheng, conselheiro da missão chinesa em Genebra, nega que o seu país esteja envolvido na intimidação de activistas e no silenciamento das vozes críticas. A China é actualmente um dos 47 membros rotativos do conselho. Para Ren, o país é vítima de critérios com dois pesos e duas medidas. “Raramente ouço [a União Europeia] criticar os Estados Unidos por. . . violência policial, Guantánamo, espionagem, discriminação contra as minorias”, lançou durante uma entrevista em Agosto na missão chinesa. “Raramente ouço os EUA criticar a UE ou qualquer outro país desenvolvido. Sempre que sobem ao palco, é para criticar os países em desenvolvimento, incluindo o meu. ”Na verdade, ultimamente, Pequim tem sido menos pressionado por parte dos governos ocidentais. Desde a criação do Conselho dos Direitos Humanos, em 2006, que nenhum país apresenta uma resolução contra a China. No órgão que o precedeu, a Comissão dos Direitos Humanos da ONU, entre 1990 e 2005, foram apresentadas 11 resoluções contra o país. Pequim bloqueou-as todas, excepto quando em 1995 uma resolução chegou a ir a votação, mas foi rejeitada, de acordo com o porta-voz do conselho, Rolando Gomez. Joachim Ruecker, embaixador da Alemanha junto da ONU em Genebra, preside actualmente ao conselho. Diz que ouviu falar em perseguições de activistas por parte da China antes de se tornar presidente, em Janeiro. Mas desde que assumiu funções que não foi confrontado com nenhuma alegação desse género. Questionado sobre a fotografia tirada a Golog Jigme, Ruecker afirma: “Esse caso não me foi apresentado. Se eu tivesse recebido alguma queixa, ou qualquer outra que pudesse ser vista como um acto de intimidação, eu daria o devido seguimento. ”Enquanto sentirem que os custos políticos de intimidarem alguém são menores do que os benefícios de ouvirem as críticas, estas práticas continuarãoOs activistas afirmam que desde que Xi Jinping é Presidente que as violações aos direitos humanos se agravaram como não se via há duas décadas. No ano passado foram detidos perto de mil activistas — quase tantos como nos dois anos anteriores juntos, de acordo com o Chinese Human Rights Defenders, um grupo de ONG chinesas e internacionais. Também o número de activistas que a China tem proibido de ir a Genebra está a subir. Em 2014, as autoridades impediram dez pessoas de viajar até à ONU, recusando-se a emitir-lhes passaportes, confiscando-lhe documentos de viagem ou ameaçando represálias, diz Thomas Shao, activista de direitos humanos independente que vive em Londres. Em 2013, foram bloqueados seis e em 2012 quatro, adianta. Um dos activistas impedidos de sair em 2013 foi a advogada veterana Cao Shunli. Foi detida em Setembro desse ano no aeroporto quando saía de Pequim para ir a uma sessão em Genebra. No mês seguinte, as autoridades disseram-lhe para assinar um documento de detenção formal onde era acusada de “provocar querelas e desacatos”, o que ela recusou, adiantou pouco depois o grupo Human Rights in China. Em Junho desse ano, Cao organizou uma vigília à porta do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Pequim, exigindo que os activistas fossem autorizados a participar na preparação do relatório de direitos humanos da ONU referente à China. Cao sofria de uma doença de fígado e contraiu tuberculose enquanto estava detida, diz o seu advogado, Wang Yu. A sua família e advogados dizem que não lhe foram prestados cuidados médicos. A 14 de Março do ano passado, a família chegou ao hospital militar em Pequim para ser informada de que a activista, de 52 anos, morrera. A sua morte abalou a frágil comunidade de activistas da China. Ren afirma que Cao se recusou a receber tratamento médico. E que foi impedida de viajar por ter organizado manifestações à porta do Ministério dos Negócios Estrangeiros. “Ao juntar tantas pessoas para provocar tantos desacatos e instabilidade social, ela já estava a infringir a lei”, diz Ren. Em Março do ano passado, a China bloqueou um pedido de uma ONG para um minuto de silêncio na ONU, em Genebra, para assinalar a morte de Cao. Um diplomata ocidental, que não quis ser identificado, adianta que o país utilizou a sua posição económica para convencer os restantes países a oporem-se à ideia. “Isto deu à China uma nova confiança sobre o que consegue fazer [no Conselho de Direitos Humanos] se os seus interesses estão em risco”, afirma o diplomata, que viu responsáveis chineses a tirar fotografias a membros das ONG. Para além disso, Pequim também exerce pressão na ONU para que sejam negadas acreditações a activistas importantes. Dois responsáveis das Nações Unidas, que não quiseram ser identificados, dizem que é frequente Pequim pedir à ONU que impeça pelo menos uma dezena de activistas de participar nas sessões do Conselho de Direitos Humanos. Pequim chama-lhes “separatistas, terroristas ou criminosos”, adianta um dos responsáveis. Na lista negra do Governo, acrescentam, está o líder espiritual tibetano, Dalai Lama, e dois líderes do Congresso Mundial Uigur, Dolku Isa e Rebiya Kadeer. A diligência mais recente foi antes da sessão de Setembro, afirmam. As mesmas fontes adiantam que a ONU defende junto de Pequim que estes activistas não são uma ameaça à segurança. Isa diz ter frequentado este ano sessões em Março, Junho e Setembro, mas Kadeer não o conseguiu fazer. Ren adianta por seu lado que a China envia uma “nota verbal” ou uma comunicação diplomática ao conselho quando sabe que Isa ou Kadeer participam. Afirma que o país tem provas de que o Congresso Mundial Uigur está ligado a actividades terroristas e que constitui “uma ameaça ao conselho”. O porta-voz do conselho, Rolando Gomez, garante que a ONU “nunca impediu” aquela organização uigur de participar nos encontros em Genebra. Os uigures são uma minoria étnica muçulmana que habita sobretudo na China ocidental. A ONU toma algumas medidas para proteger certos opositores chineses. Isa diz que foi protegido por um guarda durante uma visita ao conselho em Outubro de 2013, quando a China estava sob escrutínio, como parte de uma avaliação periódica à situação dos direitos humanos no país. Dois membros da segurança da ONU confirmaram que Isa é um dos activistas que regularmente recebem protecção especial. Para os activistas que conseguem chegar a Genebra, o Estado chinês nunca está muito distante. Para além de Golog Jigme, outros sete que denunciaram abusos aos direitos humanos na China dizem ter sido também fotografados no conselho sem autorização. Nem um passaporte estrangeiro garante protecção. Ti-Anna Wang, cidadã canadiana, tem 26 anos e é filha do dissidente chinês Wang Bingzhang, actualmente na prisão. Diz que ficou desmoralizada quando em Março de 2014 um responsável da China Association for Preservation and Development of Tibetan Culture, uma das GONGO’s de Pequim, a fotografou durante uma reunião no conselho. “Ele tinha um tablet escondido no casaco com a câmara a apontar”, conta Wang. Essa associação da cultura tibetana descreve-se como uma ONG. Mas, de acordo com o seu site, muitos dos seus principais executivos são também responsáveis do Partido Comunista. Em 2010, Jia Qinglin, que era então membro do comité permanente do Politburo, o principal órgão de poder da China, disse aos membros da associação que tinham de “expor e criticar a natureza reaccionária da clique do Dalai [Lama] que quer dividir a pátria”. Duas cartas a que a Reuters teve acesso mostram que no caso de Ti-Anna Wang o conselho actuou. De acordo com uma delas, de 24 de Março de 2014, um delegado chinês da associação tibetana, Yao Yuan, viu a sua acreditação suspensa por ter tirado fotografias nas Nações Unidas. A falta de resposta da China a essa carta levou a uma segunda, dois meses depois, onde se afirmava que a acreditação e o cartão de Yao continuariam “suspensos até novo aviso”. Nas cartas, escritas em papel timbrado da ONU, Wang não é citada. A associação não quis responder a perguntas sobre o caso. Os activistas dizem que às vezes a China utiliza a falta de presenças para calar as críticas. Ineichen, do International Service for Human Rights, diz ter assistido a um diplomata chinês “a dar instruções a indivíduos que se faziam passar por membros de uma ONG para que ocupassem o máximo de lugares possíveis” numa reunião no ano passado sobre o respeito pelos direitos sociais, culturais e económicos na China. Faltavam três horas para Golog Jigme fazer o seu discurso à margem da sessão do Conselho de Direitos Humanos, quando viu Zhang tirar-lhe fotografias no café Serpentine. O café fica dois andares abaixo da sala onde o conselho se reúne. Depois de tirar a fotografia, Zhang afasta-se, compra uma sanduíche e dirige-se para a esplanada. No dia seguinte, quando aparece na sessão do conselho, um jornalista da Reuters aproxima-se do diplomata chinês e pergunta-lhe sobre o incidente. Ele nega ter fotografado o tibetano. Diz que estava apenas a fazer uma fotografia panorâmica do espaço e que não sabia que isso era contra as regras da ONU. Zhang afirma que trabalha em Pequim mas recusa-se a dar informações sobre o seu cargo. Mas aparece como primeiro secretário do Departamento de Organizações e Conferências Internacionais do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, segundo a lista de delegados da sessão do Conselho de Direitos Humanos que Pequim apresentou à ONU. 142. tibetanos auto-imolaram-se, desde 2011, como forma de protesto contra a política chinesa no Tibete, são os números da International Campaign for Tibet“Não fiz por mal”, diz Zhang, pegando no telemóvel e percorrendo rapidamente as imagens guardadas. “Não lhe tirei uma fotografia, isso posso garantir. ” Recusa-se a mostrar as fotografias à Reuters. Ren avança com uma explicação diferente: “O café Serpentine tem uma enorme janela em vidro”, afirma. “Talvez ele estivesse a fotografar o Monte Branco. Quem sabe? Acontece que por acaso estava ali sentado um monge. ”Golog Jigme é o primeiro a falar na reunião. Dois diplomatas chineses e um representante de uma GONGO chinesa estão entre a assistência. O monge descreve a forma como foi detido e torturado. O Gabinete de Informação do Conselho do Estado em Pequim não quis responder a perguntas sobre a detenção de Golog Jigme ou às suas acusações de tortura. Depois de Golog falar, seguem-se discursos de activistas dos direitos humanos criticando a forma como a China trata os tibetanos, os uigures e os de etnia mongol. Depois, o moderador pergunta se há questões. Liu Huawen, representante de uma organização chamada China Society for Human Rights Studies, levanta a mão. “Não deveríamos estar apenas a falar da sua história, devíamos ter provas sólidas e recursos e informação”, lança Liu, desafiando a versão do monge. Outros países também retiram aos criminosos os seus direitos políticos, argumenta. Fundada em 1993, a China Society for Human Rights Studies descreve-se como “a maior ONG no campo dos direitos humanos na China”. É chefiada por Luo Haocai, antigo vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, o principal órgão consultivo legislativo do país. Liu diz à Reuters que não tem muito contacto com a missão chinesa em Genebra. “Não somos estúpidos ao ponto de fazer bullying às minorias”, afirma. A 16 de Março, numa sala do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Golog Jigme conta que os seus problemas começaram depois de ter feito um documentário com um realizador tibetano sobre o que os tibetanos achavam dos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008. As filmagens chegaram à Suíça, onde se tornaram um filme chamado Deixando o Medo para trás. Pouco depois dos Jogos Olímpicos, o monge tibetano é preso pelas autoridades chinesas que o acusam de divulgar segredos de Estado e incitar ao separatismo. Descreve detalhadamente como os responsáveis de segurança chineses o espancaram várias vezes, partindo-lhe as costelas e deslocando-lhe as rótulas dos joelhos. Fala de como, na primeira vez que foi detido, o acorrentaram a uma cadeira com os pulsos e tornozelos presos durante dez horas. Mostrou a um jornalista da Reuters as marcas que ainda tem nos pulsos, que diz terem sido provocadas pela forma como foi então tratado (e que a Reuters não pôde confirmar com fonte independente). Libertado ao fim de sete meses, voltou a ser detido em 2009 durante mais quatro meses, afirma. Em Setembro de 2012, voltou a ser preso e acusado de instigar uma onda de protestos de auto-imolação e de revelar segredos de Estado. Desde 2011, 142 tibetanos auto-imolaram-se como forma de protesto contra a política chinesa no Tibete, avança a International Campaign for Tibet. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Enquanto estava detido, Golog Jigme diz ter ouvido várias vezes a polícia ameaçar transferi-lo para um hospital militar para receber injecções, apesar de não estar doente. O monge achou que estavam a tentar matá-lo e por isso decidiu fugir. A 30 de Setembro de 2012, encontrou um pin no chão quando ia a caminho da casa de banho. Usou-o para abrir as algemas dos tornozelos. Fugiu do centro de detenções e escondeu-se nas montanhas da província de Gansu durante dois meses. Dali, foi para a província de Qinghai, no Oeste chinês, e depois para o exílio na Índia, antes de se instalar em Zurique, em Janeiro deste ano. O monge não quer revelar todos os detalhes da sua rota de evasão. E o Ministério dos Negócios Estrangeiros em Pequim e os governos de Gansu e Linxia — a cidade onde Golog Jigme estava detido — recusaram-se a responder às perguntas enviadas pela Reuters. Enquanto estava escondido nas montanhas, depois da fuga, Golog ouviu que tinha sido acusado de homicídio. Esta é a acusação que recai sobre muitos tibetanos acusados de incitar a auto-imolações, de acordo com um documento emitido em conjunto pela mais alta instância judicial da China, o Ministério Público e as autoridades de segurança pública. A acusação era infundada, diz o monge à sua plateia, em Genebra. Chegou a pensar incendiar-se à frente de uma esquadra da polícia “em forma de protesto e para provar a minha inocência”, conta. Mas acabou por decidir continuar a lutar pela causa tibetana e “fugir para a liberdade”. Reuters
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Entidades ONU EUA UE
Paquistão, o atalho para a China chegar ainda mais depressa ao mundo
Dos seis corredores económicos em que a China está a investir com a iniciativa Faixa e Rota (Belt and Road Initiative), também conhecida como “Nova Rota da Seda”, o do Paquistão é o maior e o mais importante. Abre todo o oeste da China para o mar e é uma oportunidade para o Paquistão se tornar um hub económico no sul da Ásia. O investimento ronda 50 mil milhões de euros, mas há muita controvérsia. (...)

Paquistão, o atalho para a China chegar ainda mais depressa ao mundo
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DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Dos seis corredores económicos em que a China está a investir com a iniciativa Faixa e Rota (Belt and Road Initiative), também conhecida como “Nova Rota da Seda”, o do Paquistão é o maior e o mais importante. Abre todo o oeste da China para o mar e é uma oportunidade para o Paquistão se tornar um hub económico no sul da Ásia. O investimento ronda 50 mil milhões de euros, mas há muita controvérsia.
TEXTO: O avião militar está quase a aterrar em Gwadar e já é possível sentir a força dos ventos. A mesma força que muito provavelmente os portugueses sentiram quando invadiram, saquearam e queimaram o então povoado pesqueiro em 1581. Na língua tribal do Baluchistão, a maior província do Paquistão, no Sudoeste do país, Gwadar significa “a porta do vento”. Apesar de pouco conhecida no mundo, sempre foi mais do que praias ventosas, 650 quilómetros de costa de um mar azul da cor do céu. Os navegadores portugueses já o sabiam, “Alexandre, o Grande” também, mas agora são os chineses que querem colocar Gwadar definitivamente no mapa.
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Países Paquistão
Bruxelas decide sobre compra da Monsanto pela Bayer até Agosto
Aquisição de 66 mil milhões de dólares (57,7 mil milhões de euros) já está nos serviços da Comissão Europeia (...)

Bruxelas decide sobre compra da Monsanto pela Bayer até Agosto
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DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Aquisição de 66 mil milhões de dólares (57,7 mil milhões de euros) já está nos serviços da Comissão Europeia
TEXTO: O pedido a solicitar a aprovação à compra da gigante norte-americana Monsanto, pelo grupo químico alemão Bayer, já foi entregue nos serviços da Comissão Europeia. O negócio está avaliado em 66 mil milhões de dólares (57, 7 mil milhões de euros ao câmbio actual) e é uma das operações que irá mudar o abastecimento mundial de sementes para agricultura e de agro-químicos - após a fusão entre as norte-americanas Dow Chemical com a DuPont (no valor de 77 mil milhões de dólares) e da compra da suíça Syngenta pela chinesa China National Chemical (43 mil milhões de dólares). O negócio entre a Bayer e a Monsanto ainda está por aprovar no mercado norte-americano, e deverá ser, na Europa, alvo de imposições concorrenciais de Bruxelas para vir a ser aceite. O grupo alemão, citado pelas agências Reuters e Bloomberg, espera contudo que a aprovação da Comissão Europeia permita que o negócio fique fechado até ao final de 2017. À Reuters, uma porta-voz da Comissão confirmou esta sexta-feira que o dossiê já está em Bruxelas. “Confirmamos que recebemos a notificação. O prazo limite provisional para a Comissão [Europeia] decidir é 7 de Agosto”, adiantou a mesma fonte à agência noticiosa inglesa.
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Tempo Agosto
Três instituições de ensino portuguesas entre as 50 melhores do mundo nas suas áreas científicas
Universidades de Lisboa e Porto e o Politécnico de Bragança no topo do ranking de Xangai por disciplinas. Engenharia Naval do Instituto Superior Técnico é a terceira melhor do mundo. (...)

Três instituições de ensino portuguesas entre as 50 melhores do mundo nas suas áreas científicas
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.625
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Universidades de Lisboa e Porto e o Politécnico de Bragança no topo do ranking de Xangai por disciplinas. Engenharia Naval do Instituto Superior Técnico é a terceira melhor do mundo.
TEXTO: A Engenharia Naval do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa é a terceira melhor do mundo e há outras cinco áreas científicas em que as instituições de ensino superior nacional estão no Top 50. O ranking de Xangai, o mais antigo e prestigiado do mundo, divulgou na madrugada desta quarta-feira a sua lista especializada por disciplinas que conta com uma forte representação nacional. São 138 cursos de 14 instituições de ensino superior entre os melhores classificados de cada especialidade. Portugal tem representantes em 37 das 52 disciplinas avaliadas pelo ranking de Xangai nestas listas especializadas. A Universidade de Lisboa é a que tem melhor prestação acumulando 21 lideranças a nível nacional. Seguem-se a Universidade do Porto, que é a melhor portuguesa em cinco áreas, e a de Aveiro, em destaque em quatro áreas científicas. A fusão entre a Clássica e a Técnica, que deu origem à Universidade de Lisboa, há três anos tornou a instituição “mais abrangente”, defende o reitor António Cruz Serra, o que ajuda a ter uma representação transversal nas várias disciplinas que são aliadas pelo ranking de Xangai, já que havia áreas nas quais as instituições de origem eram já as melhores nacionais nesta lista. Há outras áreas em que a união resultou num resultado mais positivo, como é o caso da disciplina de recursos hidrográficos, em que a Universidade de Lisboa é a 18. ª do mundo, para isso contribuindo especialidade de Hidrologia do Instituto Superior Técnico e Biologia Marinha da Faculdade de Ciências. É também da Universidade de Lisboa a disciplina em que Portugal consegue o melhor resultado neste ranking, é na área de Engenharia Marítima, na qual fica em 3. º lugar a nível mundial fruto do trabalho feito na Engenharia Naval do Instituto Superior Técnico. Esta universidade é também a melhor nacional nas áreas de detecção remota (8. º) e na engenharia civil (43. º), uma lista em que Portugal consegue ter seis representantes. Ao todo, há 14 instituições de ensino superior nacionais nas listas especializadas do ranking de Xangai. Destas, 12 são universidades públicas. De resto, entre as universidades, apenas a da Madeira não consegue entrar em pelo menos uma destas listas dos 500 melhores do mundo em cada área. O Instituto Politécnico de Bragança é a única instituição politécnica listada. No sector privado, só a Universidade Católica cumpre os critérios do ranking chinês. Ambas as instituições aparecem na lista de Ciência e Tecnologia Alimentar. “É uma das áreas mais fortes do instituto e não me surpreende que esteja entre as melhores do mundo”, comenta o presidente do Politécnico de Bragança, João Sobrinho Teixeira. “Temos feito um grande investimento no Centro de Investigação de Montanha, em ligação com o território da região e isso está a dar frutos”, valoriza o mesmo responsável. A instituição já tinha estado em destaque no ranking de Leiden, publicado no mês passado, e agora junta-se às universidades de Lisboa e Porto como uma das três instituições que consegue colocar-se entre os 50 melhores do mundo nas diferentes disciplinas. A área de Ciência e Tecnologia Alimentar é a área em que Portugal mais se destaca ao conseguir colocar nove instituições entre as 500 melhores do mundo. O Porto é o melhor classificado nacional nesta disciplina, com a 11. ª posição a nível global. Também o Politécnico de Bragança (50. º) está entre os 50 melhores. Seguem-se a Universidade de Lisboa, no intervalo entre os lugares 51 e 75, a Universidade do Minho (76-100) e as universidades Católica, Nova de Lisboa e de Aveiro (101-150). Entram também na lista desta área a Universidade de Coimbra e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que estão entre o 201. º e o 300. º lugar. A segunda área com mais representantes portugueses no ranking de Xangai está também relacionada com comida. É nas Ciências Agrárias, na qual Portugal tem sete representantes. Lidera, a nível nacional, a Universidade de Lisboa (no intervalo 51-75), seguindo-se a Universidade do Porto (151-200). As universidades Nova de Lisboa, do Algarve, de Aveiro e de Coimbra estão todas entre o 301º e o 400º lugar. No último intervalo (401-500) surge a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Portugal tem ainda um outro curso entre os 50 melhores na sua área: o de Engenharia Química da Universidade do Porto, que é 29. º a nível mundial. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em termos internacionais, as listas do ranking de Xangai são dominadas pelas instituições dos EUA, que lideram em 32 das 52 disciplinas avaliadas. A instituição com melhor desempenho é a Universidade de Harvard (EUA), que está à frente em 15 disciplinas, entre as quais sete nas Ciências Sociais e quatro na área de Saúde. No ranking de Xangai por disciplinas surgem mais de 1400 universidades de 80 países. A edição de 2017 deste ranking mantem a metodologia de anos anteriores, baseando-se em indicadores de produtividade científica e qualidade da investigação, como o número de publicações, as publicações editadas em revistas de grande impacto e o número de citações. Os dados bibliométricos são do banco de dados InCites. São também levadas em consideração a colaboração internacional mantida pela instituição e grandes prémios académicos atribuídos ao corpo docente e de investigação das universidades avaliadas. Este ranking só atribui uma posição específica às instituições (1. º, 2. º, 3. º…) até ao lugar 50. A partir desse patamar ordena as universidades por grandes intervalos (51-75; 76-100; 101-150, por exemplo). Dentro de cada grande intervalo as instituições são ordenadas por ordem alfabética.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Os Maias: a “vasta máquina” onde Eça despejou o saco todo
A exposição ‘Tudo o que tenho no saco’ – Eça e Os Maias, comissariada por Isabel Pires de Lima, abre esta sexta-feira na Gulbenkian. Organizada a pretexto dos 130 anos da publicação do romance, procura mostrá-lo como uma suma do heterodoxo realismo queirosiano. (...)

Os Maias: a “vasta máquina” onde Eça despejou o saco todo
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DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A exposição ‘Tudo o que tenho no saco’ – Eça e Os Maias, comissariada por Isabel Pires de Lima, abre esta sexta-feira na Gulbenkian. Organizada a pretexto dos 130 anos da publicação do romance, procura mostrá-lo como uma suma do heterodoxo realismo queirosiano.
TEXTO: Em 1881, sete longos anos antes de Os Maias verem finalmente a luz do dia, Eça de Queirós (1845-1900) escrevia de Bristol ao seu amigo Ramalho Ortigão, explicando-lhe que tinha o livro “praticamente pronto” e avisando: “Decidi logo fazer não só um romance, mas um romance em que pusesse tudo o que tenho no saco”. Enquanto título da exposição que esta sexta-feira abre ao público na Gulbenkian – Tudo o que tenho no saco’ – Eça e Os Maias, comissariada por Isabel Pires de Lima –, a expressão adquire um duplo sentido: se o escritor utilizou Os Maias para deitar cá para fora tudo o que pensava da sociedade portuguesa da época, o romance também lhe serviu para exprimir as diversas facetas que o seu realismo foi adquirindo. “É muito curto dizer que Eça foi um realista”, observa a ensaísta. “A ideia é que a exposição vá mostrando a diversidade de práticas realistas que ele vai concebendo, e como ultrapassa o impasse do realismo ortodoxo, e ao mesmo tempo dar a ver como a opção realista conviveu com uma dimensão de esteta, de artiste, que Eça sempre adoptou. "Organizada com a Fundação Eça de Queiroz, que emprestou um conjunto de móveis e outros objectos (como o famoso monóculo do romancista) conservados na quinta de Tormes, vários deles nunca antes mostrados fora da casa que serviu de cenário ao romance A Cidade e as Serras, esta é, assume Isabel Pires de Lima, “uma exposição para o grande público”, com uma forte componente visual – filme, vídeo, fotografia, ilustração, pintura (incluindo duas telas da série que Paula Rego criou a partir de O Crime do Padre Amaro) – e alguma dimensão didáctica, a pensar nas visitas escolares. Mas se a comissária, ex-ministra da Cultura e reconhecida especialista na obra de Eça de Queirós, prescindiu de uma componente documental mais pesada, a exposição permite dois níveis de leitura: o visitante pode ficar-se pelos objectos expostos e pelos materiais afixados nas paredes (ou pendurados do tecto, como as personagens de Eça caricaturadas por Abel Manta), mas ao longo de todo o percurso vai encontrando também pequenas mesas onde se oferecem textos do escritor relativos aos temas tratados em cada núcleo. E “oferecem” tem aqui um sentido literal: se algum desses excertos lhe agradar particularmente, ou lhe despertar a curiosidade, pode simplesmente tirar um exemplar e levá-lo para casa. Promovida a pretexto dos 130 anos decorridos sobre a primeira edição d’Os Maias, em 1888, e possivelmente aproveitando a recente polémica provocada pela notícia de que o romance poderia deixar de ser leitura obrigatória no secundário, a exposição abarca na verdade toda a obra literária de Eça, incluindo o conto, a crónica ou a epistolografia, mas está sempre a regressar a Os Maias, confirmando a ideia de que poucos tópicos relevantes haverá na criação queirosiana que não estejam de algum modo reflectidos na sua obra-prima. Quando entra na exposição, o visitante tem à sua frente um extenso corredor: do lado direito sucedem-se os sete núcleos em que a mostra se divide, ocupando como que uma fiada de aposentos que dão para um mesmo corredor, em cuja parede encontra uma detalhada biobibliografia queirosiana, acompanhada de imagens alusivas a cada ano, desde o nascimento do escritor, em 1845, até quase ao presente, com notícia de publicações queirosianas importantes, como a edição crítica d’Os Maias lançada na Imprensa Nacional em 2017, com edição de Carlos Reis e Maria do Rosário Cunha. A título de apêndice, Isabel Pires de Lima acrescentou a esta cronologia – enriquecida por uma banda sonora concebida por Rui Vieira Nery a partir de referências musicais de Eça – uma lista de obras de autores posteriores que reficcionalizaram a ficção do autor d’Os Maias e que constituem, sugere, “uma espécie de posteridade queirosiana”. Apresentadas não através das suas capas originais, mas como se todas elas integrassem uma colecção imaginária, com um desenho gráfico próprio, estas obras incluem o Soneto de José Matias que José Régio publicou no final dos anos 20 em Biografia, mas concentram-se sobretudo na literatura posterior ao 25 de Abril, com títulos como O Regresso do Conde Abranhos (1976), de Artur Portela Filho, As Batalhas do Caia (1995), de Mário Cláudio, Nação Crioula (1997), de José Eduardo Agualusa, Madame (1999), de Maria Velho da Costa, Do Conserto do Mundo, incluído nos Contos Vagabundos (2000) de Mário de Carvalho, ou A Visão de Túndalo por Eça de Queirós (2000), de Miguel Real, e terminam com as Treze Cartas e Três Bilhetes de Rachel Cohen, uma saborosa ficção de Mário Cláudio, inserta como separata numa recém-lançada edição de luxo de Os Maias (Modo de Ler, 2018), e que se apresenta como uma troca epistolográfica real entre várias personagens do romance, ele próprio assumido, a bem do argumento, como relato de um enredo verídico. Ao primeiro núcleo chamou Pires de Lima A vasta máquina, desta vez citando uma carta a Oliveira Martins, de 1884, na qual Eça descreve Os Maias como uma “vaste machine com proporções enfadonhamente monumentais de pintura a fresco”. A peça central é uma peculiar escrivaninha de banco alto em que o romancista escrevia, e em cujo tampo foi colocado o manuscrito original da já citada carta a Ramalho que deu titulo à exposição. Edições marcantes de Os Maias – Episódios da Vida Romântica, incluindo a primeira, publicada em 1888 no Porto, em dois volumes, pela Livraria Internacional de Ernesto Chardron, e a que a Livraria Lello, sucessora da Chardron, lançou em 1946 para comemorar o centenário do nascimento de Eça, que se celebrara no ano anterior, são algumas das peças desta primeira sala, onde se pode ainda ver uma escolha de algumas das muitas edições estrangeiras do romance ou ver projectado o trailer do filme que João Botelho realizou em 2014 a partir do livro. Nas paredes, várias referências à modesta recepção que Os Maias tiveram na época: os seus cinco mil exemplares não se venderam facilmente e o livro nunca foi reeditado em vida do autor, “ao contrário de O Primo Basílio?, que teve uma segunda edição logo no ano em que saiu [1878]”, . lembra Isabel Pires de Lima. E a obra foi bastante fustigada pelos críticos, a começar por Fialho de Almeida, a quem Eça responde numa longa carta privada, na qual lamenta que, segundo ele, Fialho não ataque o livro pelas suas debilidades literárias mas por apoucar Portugal e os portugueses. “Você distingue os homens de Lisboa uns dos outros? Você nos rapazes do Chiado, acha outras diferenças que não sejam o nome e o feitio do nariz? Em Portugal há só um homem – que é sempre o mesmo ou sob a forma de dandy, ou de padre, ou de amanuense, ou de capitão: é um homem indeciso, débil, sentimental, bondoso, palrador, deixa-te ir; sem mola de carácter ou de inteligência, que resista contra as circunstâncias (…)”. Eça espanta-se ainda que o seu interlocutor duvide “da exactidão de certos detalhes, traços de sociedade, como as senhoras falando de criadas ou apostando dez tostõezinhos nas corridas”, e interpela-o: “Oh homem de Deus, onde habita você? Em Lisboa ou Pequim? Tudo isso é visto, notado em flagrante, e por mim mesmo aturado sur place!”Com o título Aprendizagens, o núcleo seguinte explora os anos de formação: a vida universitária em Coimbra, as estadias em Lisboa, o encontro com Antero, a direcção do jornal Distrito de Évora, inaugurando uma ligação à imprensa que irá manter ao longo da vida, e ainda a visita ao Oriente. Pires de Lima considera que esta viagem, que Eça fez aos 20 e poucos anos com o seu futuro cunhado, Luís de Castro, conde de Resende, para assistir à inauguração do Canal do Suez, em 1869, não só se reflectirá em obras como A Relíquia ou O Mandarim como foi decisiva “para abrir os horizontes” do jovem escritor. Daí que lhe tenha reservado um lugar à parte na exposição, delimitado por véus com imagens alusivas ao Oriente, que escondem uma das mais valiosas peças agora expostas na Gulbenkian: a famosa cabaia chinesa oferecida a Eça pelo Conde Arnoso, Bernardo Pinheiro Correia de Melo. “Oh Bernardo, onde tenho eu as qualidades precisas para me poder encafuar com coerência dentro daquelas sedas literárias? (…) Onde tenho eu sobretudo a pança para encher aquelas pregas amplas e mandarinais?”, pergunta o escritor ao amigo. Guerra ao Romantismo, a etapa seguinte, mostra como a formação de Eça se processa a partir de uma concepção ainda ligada “a um certo romantismo social e fantástico”, diz Pires de Lima, e como “a afirmação do seu realismo se faz sempre em contraponto ao romantismo”. Um núcleo onde se dá o justo realce à personagem do Alencar, o vate romântico d’Os Maias, no qual Pinheiro Chagas viu retratado Bulhão Pato, para azar deste último, que levou por tabela com a mordaz réplica de Eça, que, em carta aberta, negou a identificação e, argumentando que “nada agora pode justificar a permanência do sr. Bulhão Pato no interior do sr. Tomás de Alencar, causando-lhe manifesto desconforto e empanturramento”, rogou ao poeta “o obséquio extremo de se retirar” de dentro do seu personagem. Uma das peças em destaque é a grande caricatura de Bordallo Pinheiro às Conferências do Casino, onde se vê Eça a moer o idealismo com o pilão do realismo, ou um retrato de grupo onde o romancista, Antero e outros organizadores aparecem com rolhas na boca, numa alusão à suspensão forçada das conferências. Mas é nos núcleos seguintes – Norma e Desejo e Olhares Cruzados – que se tornam mais claras algumas das questões centrais que Isabel Pires de Lima quis levantar com esta exposição. O primeiro mostra que se Eça – sem propriamente trair o que se espera de um romance realista, com propósitos de moralização social –, “escapa a um certo moralismo”, é em boa medida, defende a ensaísta, "porque os seus romances exibem o desejo como uma força que subverte a normatividade social, um instrumento de desregramento e desregulação do mundo”. Os Maias são um exemplo óbvio dessa operação, mas a exposição chama também à colação O Crime do Padre Amaro ou Alves & Companhia. A que se podia somar, por exemplo, O Primo Basílio, onde Eça, lembra Pires de Lima, descreve com ousadia “a fascinação da Dona Felicidade, senhora retirada no Convento da Encarnação, pelo conselheiro Acácio, e em particular pela sua careca”. Careca pela qual a dita senhora, diz Eça, chegava a sentir-se “penetrada”. Para a contemplação dos quadros de Paula Rego foi criado um pequeno reduto intimista neste núcleo, onde se podem ainda ver imagens do filme que o mexicano Carlos Carrera fez a partir de O Crime do Padre Amaro. A sala dos Olhares Cruzados distingue-se visualmente das restantes porque a exposição abandona as paredes e concentra-se num conjunto de estruturas colocadas numa disposição labiríntica e que funciona como uma espécie de sala de espelhos onde se reflectem as múltiplas estratégias – “ironia, caricatura, sonho, grotesco” – de que Eça se servia para, na expressão da comissária, “deturpar a lente objectiva” exigida pela norma realista e levar para os seus romances uma multiplicidade de perspectivas do real. A exposição destaca três aspectos dessa inovadora transgressão queirosiana da cartilha realista mais estrita: a ironia, o excesso e a prática do romance histórico, género que o credo realista repudiava. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A Arte É Tudo, sexto núcleo, remete para o já referido esteticismo queirosiano, mostrado através da obra, mas também de algumas dimensões biográficas do autor, como o seu dandismo: numa das peças expostas, José Rodrigues imagina um encontro parisiense entre Eça e Oscar Wilde. Um dispositivo que permite aos alunos das escolas fotografarem-se vestidos de dândi é uma das peças deste núcleo, a par de provas d’Os Maias que mostram como o autor emendava e voltava a emendar o que escrevia. Mas “este perfeccionismo articula-se em Eça com a procura constante de soluções técnicas inovadoras, num caminho que aponta claramente para a modernidade estética”, sugere a comissária, apontando como “testemunho óbvio” a Correspondência de Fradique Mendes. A dimensão mais patrimonial comparece em força na última sala, Lugares, onde estão expostos diversos móveis vindos de Tormes, alguns originalmente oriundos de Paris, como um belíssimo arquivador, mas outros que pertenceram à casa, como a chamada “cadeira do Jacinto” ou uma algo carcomida mesa que corresponderá mesmo àquela onde terá sido comido o arroz de favas imortalizado em A Cidade e as Serras. Mas este núcleo evoca também os muitos lugares por onde Eça andou, designadamente no âmbito da sua carreira diplomática: de Lisboa ao Egipto, de Havana a Nova Iorque. “Foi um homem do mundo, que viajou muito e pôs as suas personagens a viajar muito”, diz Pires de Lima. “O Fradique Mendes, então, é um verdadeiro globe trotter”. Aberta até 18 de Fevereiro de 2019, a semana inaugural da exposição conta ainda com uma programação paralela, que incluirá a exibição de vários filmes inspirados na obra de Eça de Queirós, mesas-redondas, leituras de textos, um espectáculo musical e um ciclo de jantares queirosianos confeccionados pelo chef Miguel Castro Silva.
REFERÊNCIAS:
Pequim conta com Lisboa no seu plano estratégico para se abrir ao mundo
O Presidente Xi Jinping visita Portugal a 4 e 5 de Dezembro. Uma das razões apontadas por analistas para o interesse da China por Portugal é a influência nos países de expressão portuguesa. (...)

Pequim conta com Lisboa no seu plano estratégico para se abrir ao mundo
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Presidente Xi Jinping visita Portugal a 4 e 5 de Dezembro. Uma das razões apontadas por analistas para o interesse da China por Portugal é a influência nos países de expressão portuguesa.
TEXTO: A China decidiu abrir-se para o mundo e Portugal está na linha da frente da nova Rota da Seda, pela influência que tem em África e por constituir uma porta de entrada privilegiada na Europa. Durante muitos anos, a supremacia da China no ténis de mesa era explicada pela forma secreta como os jogadores se preparavam, chegando aos torneios para arrebatarem a maioria das medalhas e títulos. Este ano, a Associação de Ténis de Mesa da China (uma importante organização, num país com 80 milhões de jogadores) anunciou que pretende criar um centro de treino aberto a jogadores internacionais que pretendam aperfeiçoar as suas técnicas e modos de jogo. "Queremos fazer como a Associação de Basquetebol dos EUA, que convida jogadores de todo o mundo e, com isso, melhorou muito a qualidade do desporto", anunciou recentemente o secretário-geral da Associação de Ténis de Mesa da China, Yang Shu'an. Esta mudança de atitude no ténis de mesa reflecte bem o novo espírito de abertura ao mundo, iniciada no mandato do Presidente da China, Xi Jinping, que na terça-feira começa uma visita de Estado a Portugal. O Presidente da China tem feito vários périplos por diferentes continentes anunciando os projectos de internacionalização da economia e da cultura chinesas e vem a Portugal dizer por que este país está na primeira linha dos planos chineses. Quando apresentou a ideia do Plano "Belt and Road", conhecido como a nova Rota da Seda, em 2013, Xi Jinping apresentou um mapa com um duplo corredor, para estabelecer novas rotas com o Ocidente (em particular com a Ásia Central, o Médio Oriente e a Europa) mas também passando por África. Com um orçamento inicial de cerca de 900 triliões de euros (um número astronómico, mesmo para as medidas chinesas), a Rota da Seda inaugura uma nova era de globalização para a China, com um arrojado plano de investimento em 68 países. O plano "Belt and Road" aposta muito na criação de infra-estruturas físicas – como estradas, caminhos de ferro, aeroportos – mas também infra-estruturas digitais – como operadoras de telecomunicações e formas de acesso à Internet. O objectivo da China é desenvolver rotas de comércio que sejam capazes de impulsionar a economia mundial, apostando no desenvolvimento de regiões mais pobres e estabelecendo laços de cooperação com os países mais ricos da Europa central. Portugal está na linha da frente deste projecto de expansão chinesa, com o investimento a começar desde 2006 e em crescimento constante na balança comercial dos dois países. O vice-ministro chinês dos Negócios Estrangeiros Wang Chao lembrou recentemente que as duas partes têm cooperado "activamente" na América Latina e África, através do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, estabelecido em Macau, em 2003. Wang Chao lembrou ainda que Portugal foi o primeiro país da UE com que a China estabeleceu uma "parceria azul", depois de terem assinado um plano de acção para colaborarem na investigação e em projectos comerciais, no âmbito da economia do mar, que está a ser replicado com outros países europeus. "Portugal é importante para a China por duas razões: pela sua influência em África e pela porta de entrada privilegiada na Europa comunitária", explica António Rosas, investigador de cultura chinesa na Universidade de Birmingham. O investimento chinês de grande montante em Portugal, sobretudo a aquisição de 21% da EDP pela empresa China Three Gorges, foi muito incentivada pela troika, no período de assistência financeira internacional a Portugal, e apoiada pelo governo alemão de Angela Merkel. Contudo, recentemente, a chanceler alemã revelou alguma preocupação com o aumento da presença económica chinesa na Europa, nomeadamente em países financeiramente mais vulneráveis, como o caso de Portugal. Em relação a Portugal, como em relação a Espanha (que o Presidente chinês visitou nos últimos dias), a China procura "encontrar parceiros suaves para o investimento na Europa e consolidar as suas posições", para contrapor às resistências da Europa central, explica Jean-François Di Meglio, presidente do think tank Asia Centre, baseado em Paris. A França, a Alemanha e a Itália reclamam, há muito, legislação que permita filtrar algumas operações de investimento, mostrando-se inquietas com a presença de grupos económicos estrangeiros, sobretudo vindos de oriente. Pelo contrário, diz Di Meglio, a Península Ibérica é mais acolhedora, o que explica a tendência de crescimento de investimento chinês nesta região. "A China é um parceiro económico essencial algumas áreas de negócio e a sua estratégia não pode ser descurada", diz Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto. A atribuição de vistos gold pelo governo português revela bem o interesse chinês em Portugal, com a entrada de mais de 195 milhões de euros, nos primeiros oito meses deste ano (e que significam uma queda de 24% em relação a igual período em 2017). Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal, olha para estes números como o resultado da maior procura de familiares de chineses que já vivem em Portugal: "Apesar de os salários não serem muito bons, é um lugar bom para viver, com pessoas simpáticas, que nos tratam bem". Com os sectores de transportes e da energia no topo da agenda do plano da Rota da Seda, Portugal é um lugar apetecível para o investimento chinês, o que ajuda a compreender a aquisição de posições chinesas em empresas como a EDP, a REN, ou a TAP. Outra das razões apontadas por analistas para o interesse da China por Portugal é a sua influência em África, nomeadamente nos países de expressão portuguesa, onde também a questão das infra-estruturas físicas e digitais é ponto de interesse prioritário. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Isso ajuda a explicar por que o governo chinês anunciou um elevado investimento num novo aeroporto no sul de Moçambique, cujas obras de construção, com financiamento chinês de cerca de 50 milhões de euros, estão agora a começar. Mas a China tem muitos outros planos de investimento para Angola e Moçambique, no sector de transportes, energia e telecomunicações, contando com a influência de Portugal para ajudar à sua implementação, com alguns desses projectos a terem sido discutidos quando da recente visita do Presidente de Angola, João Lourenço, a Portugal. "Há muitos séculos que os chineses aprenderam que o controlo das comunicações é o controlo da economia", explica António Rosas, para justificar por que as empresas de telecomunicações chinesas estão a formar autênticos monopólios em África, nomeadamente com a ajuda política de Portugal, país que consideram pelo prestígio que tem em várias regiões da sua nova rota de comércio.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA TROIKA UE
Há uma queda de água para ouvir no spa do Sheraton
No hotel de Lisboa há um spa com 1500 metros quadrados e nove salas de tratamento, dos banhos Vichy às massagens orientais. (...)

Há uma queda de água para ouvir no spa do Sheraton
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: No hotel de Lisboa há um spa com 1500 metros quadrados e nove salas de tratamento, dos banhos Vichy às massagens orientais.
TEXTO: A música não é oriental, não se ouvem sininhos nem cítaras mas um piano a tocar bem devagar para que entremos no ritmo adequado a uma ida ao spa. A ideia é desacelerar e usufruir de uma massagem relaxante no centro de Lisboa. O Spirito Spa fica no Sheraton Lisboa. É só preciso entrar no lobby do enorme edifício, virar à direita, chamar o elevador e carregar no botão que diz "spa". Nesse andar misterioso, que fica abaixo do lobby, a luz entra pelas grandes janelas viradas para o interior do edifício. Num espaço de 1500 metros quadrados há nove salas de tratamento, enormes e elegantemente decoradas – mais uma vez, não há floreados orientais, mas móveis negros pesados e paredes decoradas com silhuetas femininas pintadas em posições confortáveis. Uma das salas está preparada para o tratamento Vichy (170 euros, 110 minutos) e outra tem duas banheiras, a pensar nos tratamentos para casais, é a suite VIP. O zen lounge, assim se chama a sala de estar, tem um enorme sofá e uma televisão onde as imagens nos levam aos outros hotéis da cadeia, nos quatro cantos do mundo. O Sheraton Fitness é o espaço de ginásio, com máquinas, do Sheraton Hotel e que fica paredes meias com o Spirito Spa. É possível a clientes do exterior serem membros deste ginásio e treinar num espaço exclusivo. Para tal pode aderir por uma mensalidade de 150 euros (individual) ou 145 euros (família). Se quiser ir apenas três vezes por semana pode pagar 100 euros por mês e a opção por ser acompanhado por um personal trainer custa 50 euros (60 minutos). Os benefícios de adesão passam por ter um desconto de 15% nos tratamentos do spa, e nos restaurantes e bares do Sheraton, 20% de desconto sobre o valor do Day Spa e outros descontos, por exemplo, para reserva de alojamento. O estacionamento é gratuito durante a utilização das instalações do Spa. Spirito Spa Horário: Diariamente das 7h às 22h; o Sheraton Fitness está aberto 24h para os clientes do hotel. Morada: Rua Latino Coelho, 1, Lisboa Telefone: 213 120 213 E-mail: [email protected] Internet: www. sheratonlisboa. comRosa Teixeira é a terapeuta que nos recebe e nos convida a escolher o óleo de massagem – mais relaxante ou mais energizante –, da Espa, a marca de cosmética natural com a qual o Spirito trabalha. Optamos pelo primeiro e depois somos convidados a deitarmo-nos na mesa de massagem, de costas para baixo. Assim que a terapeuta nos toca nas palmas dos pés com os seus polegares percebemos que tem formação em várias áreas, a começar pela reflexologia, depois à medida que a massagem é feita percebemos as influências da terapia chinesa e aiurvédica. Rosa Teixeira sobe até às costas e com as suas mãos fortes estica e puxa, de maneira a que os nossos músculos se soltem da prisão em que o stress os prende. A seguir à costas é a vez das pernas e dos braços. Quando nos voltamos de barriga para cima, começamos a ouvir o barulho da água, como se de uma queda de água se tratasse. Esteve ali desde sempre, mas só nesse momento é que conseguimos relaxar, com a água a correr e as mãos de Rosa Teixeira de novo nos pés, pressionando os pontos certos, subindo até às coxas, e depois aos braços e daqui até às mãos onde cada dedo é manipulado e, mais uma vez, a terapeuta toca em pontos na palma das mãos que nos fazem sentir bem. A massagem é intensa e o aroma do óleo ajuda a descontrair – Rosa elege a aromoterapia como a sua preferida –, mas quando a terapeuta chega à zona do pescoço e ombros, voltamos a sentir toda a tensão acumulada e a profissional confirma que esta é uma zona que precisa de ser muito trabalhada ou que precisamos de mudar de vida, pelo menos de ter um ritmo menos acelerado. Segue-se o rosto – a diferença vê-se no final, ao espelho, pois parece que rejuvenescemos e Rosa recomenda um tratamento facial personalizado que, garante, mantém a pele jovem e firme (105 euros, 50 minutos) –, e por fim o couro cabeludo, com massagem e leves puxões de cabelo e toda a cabeça parece flutuar. Agora sim, chegou o momento de relaxar, mas também chegou ao fim o tratamento. Rosa toca uns sininhos e sai de mansinho. Ficamos a sós com a queda de água e o piano. As propostas no Spirito Spa são muitas desde esta massagem relaxante (95 euros, 50 minutos) à desportiva (105 euros, 50 minutos); mas também pode optar por fazer apenas costas, pescoço e ombros (55 euros, 25 minutos), um tratamento revigorante dos pés (65 euros, 25 minutos), além da drenante (105 euros, 50 minutos) ou a aiurvédica (145 euros, 80 minutos). Os tratamentos mais caros são os feitos a dois (240 euros, 80 minutos) com a opção de banho de hidromassagem com morangos e um flute de champanhe (30 euros por pessoa). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Estas são as massagens mais populares, mas há outras propostas, informa Rosa. Por exemplo, existe a opção de fazer um dia no spa, com acesso ao hammam, sauna, jacuzzi, piscina exterior aquecida, sala de relaxamento e ao ginásio (35 euros em época baixa e 50 na alta). O Spirito está aberto das 7h às 22h e muitos dos clientes não são do hotel. No final, já de roupão vestido, regressamos ao lounge onde bebericamos um chá quente e trincamos uma bolacha de aveia. Também há fruta – as maçãs estão postas em locais de passagem, entre o balneário e as escadas que dão para a piscina, por exemplo –, além de água aromatizada. Ali ficamos, à espera que a pele fique mais hidratada com o óleo de massagem e que a chuva suavize de maneira a que possamos regressar ao bulício da cidade. O Culto fez a massagem relaxante intensiva a convite do Spirito Spa.
REFERÊNCIAS:
Sublime alpino: Arte e Ciência
Uma caminhada pelos trilhos e glaciares dos Alpes suíços que inspiraram cientistas, físicos e naturalistas interessados em descobrir os mistérios da natureza. Shelley, De Broglie, Saussure, Tyndall e Stephen. Lugares que revelam a intensidade dramática do Sublime. (...)

Sublime alpino: Arte e Ciência
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma caminhada pelos trilhos e glaciares dos Alpes suíços que inspiraram cientistas, físicos e naturalistas interessados em descobrir os mistérios da natureza. Shelley, De Broglie, Saussure, Tyndall e Stephen. Lugares que revelam a intensidade dramática do Sublime.
TEXTO: Na segunda parte desta viagem vamos passar pelos Altos Alpes, lembrando os vários momentos em que esta cadeia montanhosa capturou o imaginário de cientistas e artistas. Partimos de Genebra, passamos pelos trilhos que rodeiam o Matterhorn e visitamos o glaciar de Aletsch, terminando a viagem na origem do rio Ródano. Este percurso permite-nos reflectir sobre a separação entre os campos da arte e da ciência que ocorreu desde o século XVIII até ao presente. Vamos encontrar os Alpes como objecto de interesse científico, como lugar de contemplação artística e finalmente como desafio para escaladas heróicas. Em todas estas instâncias, os Alpes materializam a ideia do Sublime, de reverência perante a escala destas montanhas. Em 1816, o Inverno foi particularmente frio, da Europa à China, o Verão tardou a chegar. A causa desse arrefecimento foi mais tarde atribuída à erupção do vulcão Tambora, em Abril de 1815, cujas cinzas ensombraram a Terra durante meses. O “ano sem Verão” também marca o final do Império Napoleónico — um Inverno cuja memória podemos revisitar através das canções de Winterreise (1827) de Franz Schubert. Nesse ano, quatro jovens ingleses passaram um Junho chuvoso fechados em casa nas margens do Lago Genebra — Mary Shelley, Percy Shelley, e os seus amigos Lord Byron e Claire Clairmont. Impedidos de sair da Villa Diodati por causa do mau tempo, inventaram um desafio: cada um devia escrever uma história. Ao anoitecer, atravessámos esse lago para Cologny, cirros carmim pontuavam o céu colorido por um gradiente desde o laranja ao azul da Prússia. Subimos o Chemin Byron, até chegar a um pequeno jardim onde se via a lua cheia e a luz acesa de uma das janelas da Villa Diodati. Imaginamos Mary Shelley debruçada sobre o manuscrito de Frankenstein, or the Modern Prometheus (1818) à luz dessa lâmpada. Shelley conta a história de Victor Frankenstein, um jovem estudante de Genebra que consegue animar uma criatura, que rejeita por causa da sua aparência. O tema que Shelley explora é o do mito de Prometeu na era moderna, questionando a ética do cientista, inconsciente das consequências inesperadas da sua descoberta, e a hubris que anima a procura do conhecimento: “O desejo dos sábios desde a criação do mundo estava agora ao meu alcance. ” Por outro lado, Shelley descreve a educação da “criatura” que ao descobrir “o Paraíso Perdido [de Milton], um volume das Vidas de Plutarco e A Paixão do Jovem Werther [de Goethe]” lê esses livros, que lhe apresentam “uma infinidade de novas imagens e emoções que por vezes [o] elevavam ao êxtase, mas mais frequentemente [o] afundavam na depressão mais profunda”. Shelley humaniza a “criatura” e problematiza o cientista, apresentando ecos das ideias de Rousseau. Enquanto Mary Shelley escrevia os primeiros esboços de Frankenstein, Byron passou o Verão a remar para o Château de Coppet, situado no lado norte do lago Genebra, para visitar — aquela que na altura era a autora mais célebre da Europa — Germaine Necker, ou Mme. de Stäel. Visitámos este château com uma fachada neoclássica, uma adição elegante a um edifício mais antigo. Na entrada, reina um retrato monumental de Louis XVI de François Callet, um presente do próprio monarca ao seu ministro das Finanças — Jacques Necker, o pai de Germaine. Apesar disso, Stäel apoiou a Revolução e escreveu o seu primeiro livro sobre Jean-Jac-ques Rousseau — no piso superior, de onde se tem uma larga vista sobre o lago Genebra, encontramos o retrato do citoyen de Genève em traje arménio. Em 1803, Stäel foi expulsa de França e impedida de se aproximar de Paris por Napoleão, com quem teve um conflito até ao final da vida. Viajou pela Europa em exílio, travando conhecimento com Wilhelm von Humboldt e J. W. Goethe em Weimar, Humphry Davy e Byron em Londres. Stäel regressava a Coppet regular e relutantemente, escrevendo ali as dezenas de livros que publicou e reunindo um círculo de intelectuais, o Groupe de Coppet. Ao deambular pela casa, encontramos um quarto coberto com o mais estupendo papel de parede chinês pintado à mão, representando aves, insectos e rios. A sala de refeições exibe um conjunto de gravuras retratando batalhas do imperador chinês Qianlong e raras representações da Cidade Proibida em Pequim. Num quarto mais pequeno, está o retrato de Louise de Broglie, Comtesse d’Haussonville — vestida de azul-celeste e pousando um dedo na bochecha — pintado por Jean-Auguste Dominique Ingres em 1845, cujo original reside na Frick Collection em Nova Iorque. Louise — neta de Mme. Stäel — publicou entre muitos outros livros a biografia de Byron. Em 1924, um jovem inspirado pelo trabalho de Einstein sobre a quantização da radiação electromagnética apresentou uma tese chamada Recherches sur la théorie des Quanta. O seu nome era Louis de Broglie, sobrinho-neto de Louise. De Broglie teve uma intuição, inverteu a enunciação de Einstein de que elementos da radiação electromagnética (fotões) se comportam por vezes como partículas e propôs que partículas de matéria (electrões) podiam ter um comportamento semelhante ao da radiação electromagnética, propagando-se como ondas. Em 1929, ganhou o Prémio Nobel da Física por esta formulação teórica. A teoria de De Broglie foi fundamental para a genealogia de teorias e experiências que revolucionaram a física no último século, expandindo o campo da mecânica quântica. Em 1949, De Broglie foi um dos impulsionadores da criação de um laboratório de física internacional, que eventualmente deu origem ao CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire), localizado em Meyrin, próximo de Genebra. Aí testam-se teorias através de experiências com aceleradores de partículas, o mais recente sendo o LHC (Large Hadron Collider), um túnel circular subterrâneo com um perímetro de 27 quilómetros. No CERN, os edifícios estão numerados por ordem cronológica de construção, e podemos identificar as várias épocas desde a década de 1950 até hoje. Conduzimos alguns quilómetros até chegar ao edifício 180 — Large Magnet Facility —, onde encontrámos Lucio Rossi, o director do projecto HL-LHC (High Luminosity-LHC). Este novo acelerador de partículas com “alta luminosidade” vai aumentar o foco e a energia dos feixes de protões e irá substituir o LHC a partir de 2025. Rossi mostrou-nos uma secção do tubo do LHC que estava a ser alterada. Tentamos imaginar que nestes tubos já circularam feixes de protões quase à velocidade da luz, algo que mesmo para Rossi é “inimaginável para os nossos sentidos”. Rossi explicou-nos o que acontece a um protão a circular no LHC: “Como Einstein previu, a velocidade tem um limite e, quando [o protão se] aproxima desse limite, o que é que acontece quando se dá mais energia?” É como se a energia, em vez de se transformar em velocidade, se transformasse em massa. “Sabem quantas vezes a massa do protão, uma pequena partícula, aumenta no final? 7000 vezes. ” Com mais massa, mais partículas são criadas em cada colisão. Depois visitámos o mais antigo acelerador de partículas do CERN, o Synchrocyclotron, que esteve em funcionamento entre 1957 e 1990 — uma máquina enorme com uma aparência industrial semelhante às de uma central eléctrica do século XIX. De acordo com os estatutos do CERN, a investigação ali desenvolvida não pode ter aplicações militares, o que demonstra preocupações éticas no processo de descoberta científica para evitar possíveis consequências inesperadas. Por oposição, lembramos outro tempo e outro lugar — o teste da primeira bomba atómica no deserto do Novo México em 1945. A reacção de Robert Oppenheimer — director do Manhattan Project e Victor Frankenstein da era moderna — foi um misto de remorso e hubris, ao citar a escritura hindu Bhagavad Gita: “Transformei-me na Morte, o destruidor de mundos. ”Os trabalhos de construção do HL-LHC foram iniciados em Junho deste ano e, para assinalar esse momento, foi criada uma cápsula temporal que contém, entre outras coisas, o artigo da Encyclopédie ou Dictionnaire Raisonné des Sciences, des Arts et des Métiers (1751-1772) — de Diderot e de d’Alembert sobre Genebra. A poucos quilómetros de Meyrin, visitámos o Château Voltaire, em Ferney, onde Voltaire viveu entre 1760 a 1778 e onde D’Alembert escreveu esse artigo, durante uma estada em 1756. A Encyclopédie — a obra simbólica do iluminismo — aumentou o interesse pela observação do mundo natural e inaugurou o momento das grandes viagens de exploração científica, de naturalistas como Louis-Antoine Bougainville em 1766-69, Joseph Banks em 1768-71 e Alexander von Humboldt em 1799-1804. Para Humboldt, o objectivo do “inquérito racional à natureza é demonstrar a unidade e harmonia dessa enorme massa de força e matéria”. É no jardim cultivado por Voltaire que nos lembramos que protões circulam à velocidade da luz sob os nossos pés — o percurso do LHC passa por ali. As estrelas começam a revelar-se no céu e o Mont Blanc aparece ao longe. Foi em 1786 que o seu cume foi alcançado pela primeira vez devido a um concurso promovido por Horace-Bénédict de Saussure. No ano seguinte, a expedição de Saussure ao Mont Blanc — memorializada nas gravuras de Christian von Mechel — marcou o início das viagens de exploração natural nos Alpes. Prosseguimos a nossa viagem seguindo o percurso de Saussure até ao Theodul Pass no sopé do Matterhorn. Esta área, onde se concentra a maioria dos picos com mais de 4000m, é o território “sagrado” dos Alpes Peninos. Ao subir o Mattertal até Zermatt, percebemos a afirmação de Leslie Stephen — crítico e historiador — quando apresenta “as montanhas como objectos de veneração”, atribuindo a origem dessa ideia a Rousseau e aos seus “cúmplices, nenhum dos quais mais conspícuo que Saussure”. Saussure passou quatro dias no Theodul Pass, de 11 a 14 de Agosto de 1792, a fazer observações científicas. O seu objectivo era medir a altura do Matterhorn e observar o glaciar de Gorner. Durante essa expedição, esteve “continuamente ocupado a observar as rochas e a estrutura das montanhas, ” descrevendo o Matterhorn como um “obelisco triangular que parece composto por três camadas bem distintas. ”Também nós explorámos esta área entre 11 e 14 de Agosto deste ano. Começámos por seguir o trilho que atravessa o curso — agora descoberto — dos glaciares de Theodul e de Furggen, passando pela base da encosta leste do Matterhorn até ao Schwarzsee. Esta paisagem, a uma altitude de 2900m, parece extraterrestre, um mar mineral salpicado com cardos — Cirsium spinosissimum. A neblina passava rapidamente por nós e concentrava-se numa grande nuvem que rodeava o topo do Matterhorn. As camadas de rocha que ao longe parecem cinzentas-escuras, ao perto vemos serem de um verde enigmático — “un schiste micacé verdâtre” nas palavras de Saussure. Este inventou o cyanomètre, um instrumento de observação utilizado para medir a intensidade do azul do céu. É composto por um círculo com 52 tons, desde o branco, passando por azul-claro até ao azul da Prússia mais profundo, quase negro. Este objecto, que ainda serve o seu propósito científico, é também poético, evocando uma época em que os campos da arte e o da ciência ainda estavam ligados. Ao final da tarde, apanhámos o comboio até ao topo do Gornergrat. A vista é majestosa, John Tyndall descreve-a em Hours of Exercise in the Alps (1871): “À minha esquerda, estava o monte Rosa e a sua corte real; à minha direita, o pico místico do Matterhorn, visto daqui num ponto acima do glaciar [de Gorner], atinge o seu aspecto mais agudo. ” O glaciar de Gorner é o segundo maior dos Alpes, a seguir ao Aletsch. O Monte Rosa é a mais alta montanha dos Alpes suíços, Tyndall ascendeu sozinho ao seu pico — o Dufourspitze — em 1858. Tyndall foi um físico cujo trabalho se centrou sobre as propriedades do ar e a sua capacidade de absorção da radiação infravermelha, o que conduziu à descoberta do efeito de estufa, que descreveu como o processo em que o “nosso planeta transmite menos calor para o espaço do que recebe dos corpos do espaço”. As expedições de Tyndall marcam a transição entre a época em que o alpinismo tinha um propósito científico e o período em que se transformou numa epopeia heróica para conseguir escalar os cumes mais altos dos Alpes. Na descrição de uma das suas tentativas de escalada do Matterhorn, Tyndall recorda um diálogo que teve com o guia Johann Bennen: “‘Podemos, de qualquer modo, chegar ao mais baixo dos cumes [do Matterhorn]’, disse [Tyndall]. ‘Até isso é difícil’, respondeu [Bennen]; ‘mas, quando o alcançar, o que acontece? Aquele pico não tem nome nem fama’. ” Hoje, este cume chama-se Pic Tyndall. Tyndall também deu o nome ao efeito óptico quando a luz atravessa partículas suspensas — efeito Tyndall —, o céu parece azul por causa da dispersão elevada da radiação electromagnética azul ao atravessar as moléculas de ar na alta atmosfera. Se Saussure inventou um instrumento para avaliar o azul do céu, Tyndall encontrou a razão de o céu parecer azul. No dia seguinte, partimos de Schwarzsee para uma caminhada de dez quilómetros pelo vale de Zmutt em direcção à Schönbielhutte — um abrigo do Clube Alpino Suíço inaugurado em 1875. Estes abrigos existem em toda a área dos Alpes, sendo possível atravessar a cordilheira pernoitando nestes lugares. Os clubes alpinos foram disseminados numa altura em que a exploração dos Alpes se tornara atlética. O presidente do Alpine Club em Londres, entre 1865 e 1868, foi Leslie Stephen — pai de Virginia Woolf —, tendo sido o primeiro a alcançar uma série de picos durante a fase épica do alpinismo. Nos últimos seis quilómetros de subida, passámos por quedas de água, cristas e glaciares, num percurso progressivamente dramático. Formava-se uma tempestade, as nuvens movimentavam-se rapidamente, ouvimos ao longe os trovões que se aproximavam. Esta paisagem materializava a ideia do Sublime — o terror perante a vastidão e o poder da natureza. Em The Playground of Europe (1871), Stephen escreveu que “a glória da paisagem de montanha, como nos disse Goethe, é que as nuvens não nos parecem planas como tapetes no céu, mas permitem-nos observá-las à medida que se formam e dispersam”. A classificação e denominação das nuvens que ainda usamos foi definida por Luke Howard em On the Modifications of Clouds (1803). Foi este texto científico que levou Goethe a escrever os seus poemas sobre as nuvens. Vimos as cadeias de nuvens a serpentear pelo vale, Stratus, que Howard assim descreveu: “Aparecendo ao pôr do Sol (…) em noites calmas, ascendem em camadas (como uma inundação) desde o fundo dos vales. ”Quando chegámos exaustos a Schönbielhutte, ficámos no terraço a olhar o Dent d’Hérens (4171m) mesmo em frente, e no topo do vale de Zmutt os glaciares de Tiefenmatten e de Stockji — este emitia uma luz azul, quase turquesa. Relutantemente, fomos para dentro para nos abrigarmos da tempestade. Ao jantar conversámos com dois alpinistas, um suíço e um japonês, que cultivam a sua amizade subindo montanhas — uma afinidade electiva, ao mesmo tempo improvável e poética. Partimos da Schönbielhutte (2694m) ao nascer do Sol, para Zermatt (1608m) — 12 quilómetros ao longo do vale de Zmutt. Gradualmente, abandonámos as paisagens rochosas salpicadas com flores violeta — Campanula rotundifolia —, ao passar o limite arborescente, encontrámos árvores-miniatura que foram ficando cada vez mais altas à medida que descíamos o vale, “por todo o lado ouvimos os sons incessantes de actividade, que revelam que as causas que têm agido sobre [o Matterhorn] desde o início do mundo ainda estão em operação; reduzindo esta enorme massa a átomos”. Estas palavras são de Edward Whymper, o primeiro alpinista a chegar ao cume do Matterhorn em 1865, um feito que acabou em tragédia, resultando na morte de muitos dos participantes da expedição. Este foi um episódio que marcou o final da era épica do alpinismo e que foi crucial para moldar o imaginário alpino. Quando chegámos a Zermatt, os sinos da igreja tocavam o meio-dia. Da ponte, olhámos uma última vez para o Matterhorn, à direita vimos o cemitério com as sepulturas de vários alpinistas. Deixámos o vale de Zermatt para trás e regressámos ao vale do Ródano, seguindo o rio em direcção à sua origem. Parámos em Morel e tomámos o teleférico até Moosfluh, para ver o glaciar de Aletsch — o maior e mais longo dos Alpes —, uma massa de gelo de 23 quilómetros com origem nos Alpes Berneses. Ao final da tarde, as nuvens desciam os picos, aproximando-se do glaciar para subir novamente, numa coreografia contínua. Foi neste lugar, de onde se vêem os “mais nobres e mais belos objectos da natureza (…) elevando os sentimentos ao nível da reverência”, que Tyndall reflectiu: “Os meus pensamentos vaguearam entre os mundos de lava e o nevoeiro nebuloso que os filósofos [naturalistas] tomam como a origem de toda a matéria. Tentei imaginar [esta nuvem universal] como o lugar das forças cuja acção deu origem a sistemas solares e constelações. ”O imaginário alpino foi criado pelo enorme sucesso de Julie, ou la Nouvelle Héloïse (1761) de Rousseau, pelos estudos científicos de Saussure, pela alegoria de Frankenstein, or the Modern Prometheus, pelas viagens de Tyndall e pelas conquistas épicas e trágicas de Whymper, transformando esta paisagem no que Leslie Stephen chamou “o recreio da Europa” — Playground of Europe — onde os turistas da Thomas Cook & Son procuravam encontrar a experiência estética do sublime. Encontrámos os artefactos desta época a caminho do glaciar do Ródano, quando visitámos o Grand Hotel Glacier du Rhône, com uma pequena igreja anglicana ao seu lado. No interior do hotel, pudemos visitar um quarto de época elegante e simples. Os corredores estão cobertos de gravuras e fotografias do final do século XIX que mostram a imponência do glaciar do Ródano que dominava o vale e o hotel com cinco pisos. Quem ficou aqui no século XIX conseguia ver o grande glaciar pela janela; entretanto, o glaciar recuou de tal modo que já não é visível e todo o vale está livre. A origem do Ródano é um lugar mítico, mas que só permanece na memória histórica. Caminhamos até uma ponte sobre o Ródano. Ali tão próximo da sua origem, a água é surpreendentemente opaca, colorida com partículas que criam um gradiente entre o branco azulado e o verde-celadon. Um fenómeno que Tyndall descreve assim: “De cada um [dos glaciares] brota um rio mais ou menos volumoso, carregado com a matéria que o gelo raspou das rochas. ”Há pouco mais de uma centena de anos, todos os glaciares que vimos eram muito maiores, o único que ainda nos recorda essa escala é o Aletsch. Stephen em 1871 reflectiu: “É verdade e é triste que as montanhas estejam a dissipar-se (…) e mesmo os glaciares estão a recuar melancolicamente para as alturas profundas dos vales. Mas, apesar de tudo, podemos dizer com certeza, como de pouco mais, que os Alpes irão sobreviver ao nosso tempo. ” Uma interrogação que podemos renovar hoje. *Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Subimos o Grimsel Pass e parámos perto de um lago, o Totensee. Aí encontrámos um marco que anuncia a divisão entre a zona em que a água dos rios corre na direcção do Mediterrâneo e a que corre para o Mar do Norte. Passamos do Ródano para o Reno. A partir daqui a viagem continua pelo universo nórdico e as suas mitologias. Eliana Sousa Santos é investigadora do CES, Universidade de CoimbraNo dia 14 de Outubro: Exílios e Memória
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
BE volta a levar as "barrigas de aluguer" e PMA ao Parlamento a 6 de Dezembro
Os bloquistas dizem que as questões por ultrapassar em termos de inconstitucionalidade se prendem com o anonimato dos dadores, no caso da PMA, e com os direitos da gestante e do ser gerado, relativamente às denominadas "barrigas de aluguer". (...)

BE volta a levar as "barrigas de aluguer" e PMA ao Parlamento a 6 de Dezembro
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os bloquistas dizem que as questões por ultrapassar em termos de inconstitucionalidade se prendem com o anonimato dos dadores, no caso da PMA, e com os direitos da gestante e do ser gerado, relativamente às denominadas "barrigas de aluguer".
TEXTO: O parlamento vai voltar a discutir as "barrigas de aluguer" e a Procriação Medicamente Assistida (PMA) em 6 de Dezembro, por iniciativa do BE, anunciaram nesta quinta-feira os bloquistas, após conferência de líderes da Assembleia da República. "São dois diplomas, um sobre a gestação de substituição, outro sobre PMA, através dos quais procuramos responder ao acórdão do Tribunal Constitucional que inviabilizou os anteriores projectos de lei", disse o presidente da bancada bloquista, Pedro Filipe Soares, acrescentando tratar-se do "contributo do BE para alargar o acesso ao planeamento familiar, colocando a ciência ao serviço de quem quer constituir família". O deputado especificou que as questões por ultrapassar em termos de inconstitucionalidade se prendem com o anonimato dos dadores, no caso da PMA, e com os direitos da gestante e do ser gerado, relativamente às denominadas "barrigas de aluguer". Segundo os secretários da Mesa da Assembleia da República, foram também arrastados para debate no mesmo dia iniciativas que incidem também sobre a PMA, do PSD, PS, CDS-PP e PCP. Entre os diversos agendamentos fixados até 21 de Dezembro, a conferência de líderes consensualizou a troca de datas entre PSD e CDS-PP relativamente a uma interpelação ao Governo e ao debate de iniciativas sobre arrendamento urbano, respectivamente, em 12 e 13 de Dezembro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O PS manifestou o desejo de ver agendada para discussão a sua proposta de Lei de Bases da Habitação, tendo a mesma ficado de ser marcada para Janeiro, numa das próximas reuniões da conferência de líderes, a 5 ou a 19 de Dezembro. O CDS-PP anunciou que vai realizar jornadas parlamentares, em local ainda por designar, nos dias 28 e 29 de Janeiro, segundo o deputado social-democrata e secretário da Mesa do parlamento Duarte Pacheco. Segundo a mesma fonte, o Presidente chinês vai merecer uma recepção na Assembleia da República por ocasião da sua visita de Estado a Portugal no dia 5 de Dezembro, pelas 10h40, com a presença do presidente da Assembleia da República e dos líderes parlamentares, entre outros.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD PCP BE