Reforma eleitoral de Hong Kong obedece à linha de Pequim
Proposta de lei motivou as manifestações de protesto que levaram milhares de pessoas a ocuparem zonas do território. (...)

Reforma eleitoral de Hong Kong obedece à linha de Pequim
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Proposta de lei motivou as manifestações de protesto que levaram milhares de pessoas a ocuparem zonas do território.
TEXTO: O Governo de Hong Kong revelou esta quarta-feira o projecto de reforma eleitoral para o território chinês, que deverá ser aplicado já nas próximas eleições de 2017. A proposta mantém as instruções de Pequim, que deram origem às grandes manifestações nos últimos meses do ano passado. Não houve margem para grandes surpresas na apresentação do projecto para a escolha do próximo líder de Hong Kong. De acordo com o esperado, o sufrágio universal vai ser implementado, mas com grandes limitações no que respeita às possíveis escolhas eleitorais. Apenas dois ou três candidatos poderão ir a eleições, depois de um longo processo de escolha por um comité próximo de Pequim. A confirmação do plano de reforma eleitoral despertou de imediato a oposição dos sectores pró-democráticos da Assembleia Legislativa local, que qualificou a iniciativa como um “falso sufrágio universal”. Na sessão parlamentar, os deputados oposicionistas ensaiaram um protesto simbólico, mostrando cartolinas com cruzes, e depois abandonaram a sala do hemiciclo, descreve o jornal South China Morning Post. “Vamos lançar uma campanha para nos opormos a esta proposta e vamos pedir às pessoas de Hong Kong que continuem a reclamar um verdadeiro sufrágio universal”, disse o líder do Partido Cívico, Alan Leong. Os deputados dos partidos pró-democracia avisaram que vão chumbar a proposta, o que pode inviabilizar a aprovação da reforma. A nova lei precisa de uma maioria de dois terços, o que obriga a que pelo menos três deputados dos 27 pró-democratas votem a favor da reforma. Mas no caso de chumbo, o chefe executivo local, Leung Chun-ying, já veio avisar que todo o processo de reforma eleitoral será revertido e o actual sistema – nomeação directa pelo comité eleitoral – manter-se-á. Desde 1997 que a antiga colónia britânica é administrada pela China através do princípio “um país, dois sistemas”, que confere ao território um nível de autonomia e liberdades democráticas superior ao do continente chinês. A lei básica, que serve de texto constitucional a Hong Kong, prevê que o chefe executivo seja eleito “por sufrágio universal, depois de uma nomeação por um comité nominativo largamente representativo”. A reforma apresentada surge depois de um período de consulta pública, durante o qual o governo local recebeu mais de 130 mil sugestões escritas e foram organizadas 88 reuniões. Porém, o diploma final segue o projecto apresentado em Agosto do ano passado proveniente de Pequim. Numa primeira fase, os pré-candidatos necessitam apenas de 120 votos do comité de nomeação, composto por 1200 membros, para passarem à ronda seguinte. Segue-se outro filtro, em que os membros do comité votam, por boletim secreto, em apenas dois dos pré-candidatos e somente os dois ou três que reunirem mais de 600 votos são os únicos que serão objecto do voto universal. Os opositores consideram que o crivo feito pelo comité de nomeação possibilita que apenas os candidatos do agrado do Governo chinês possam apresentar-se ao voto da totalidade do eleitorado. Foi a perspectiva de eleições altamente limitadas que levou milhares de pessoas a ocupar várias zonas da metrópole durante quase três meses no final do ano passado. Entre Setembro e Dezembro, a área nas proximidades da sede do Governo local e algumas das principais zonas comerciais de Hong Kong foram palco de grandes acampamentos promovidos pelo movimento Occupy Central – fundado por professores universitários e por pastores da Igreja Baptista. Inicialmente considerado marginal, o movimento pró-democrático ganhou uma nova força quando algumas das principais associações estudantis se lhe juntaram. Com a materialização da proposta de reforma eleitoral, os protestos podem regressar. O líder da associação estudantil Scholarism, Joshua Wong, uma das faces mais visíveis durante as manifestações, admitiu que “podem haver ocupações em larga escala, se alguns [deputados] pan-democratas mudarem de ideias e votarem a favor da reforma”, que classificou de “regressiva”. Centenas de pessoas protestaram nas imediações da sede do governo local, sob vigilância policial, segundo a descrição do correspondente da AFP. Adivinhando novos protestos, as autoridades já anunciaram o reforço das medidas de segurança na zona de Admiralty.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN
A nova família indie americana à sombra de Cassavetes
Robert Greene pertence a uma nova geração americana que faz filmes com meia-dúzia de tostões e nos seus próprios termos. Foi premiado no IndieLisboa com Kate Plays Christine e fala ao Ípsilon de uma “família” de cineastas que assume a sua dívida a John Cassavetes. (...)

A nova família indie americana à sombra de Cassavetes
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.045
DATA: 2016-05-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20160531194747/http://publico.pt/1731692
SUMÁRIO: Robert Greene pertence a uma nova geração americana que faz filmes com meia-dúzia de tostões e nos seus próprios termos. Foi premiado no IndieLisboa com Kate Plays Christine e fala ao Ípsilon de uma “família” de cineastas que assume a sua dívida a John Cassavetes.
TEXTO: “A ideia de diluir fronteiras entre realidade e ficção não passa de uma treta académica se não levar a algum lado, a uma compreensão mais profunda da história. Caso contrário tudo não passa de um jogo, e eu não gosto de jogos. ”Sejam bem-vindos ao mundo de Robert Greene (n. 1976), professor, crítico, cineasta, recém-aterrado do Missouri para visita-relâmpago ao IndieLisboa com a sua quinta longa-metragem. Kate Plays Christine, vencedor do Grande Prémio do Júri no festival português (garantindo desde já a sua exibição nos canais TVCine), depois de passagens badaladas em Sundance e no Forum de Berlim, é um exemplo dessa abordagem em profundidade das fronteiras entre real e inventado. A partir do caso verídico de Christine Chubbuck, jornalista de uma pequena estação televisiva da Florida que se suicidou no ar em 1974, Greene segue a actriz Kate Lyn Sheil enquanto pesquisa a personagem de Christine em preparação para a representar numa narrativa ficcionada – narrativa essa que nunca existirá fora das balizas de Kate Plays Christine. “O conceito era acompanhá-la à medida que ela se aproxima do papel, mas tudo o resto que vemos à sua volta – as pessoas que ela encontra e entrevista, o modo como interage com elas – é um documentário”, explica o realizador na Culturgest, um par de horas antes da primeira exibição de Kate Plays Christine. “E não sabíamos como ela iria reagir. Não sabíamos o que o filme iria ser até o terminarmos. ”É essa dimensão meta-referencial, quase abstracta, que faz de Greene simultaneamente participante e testemunha de todo um modo de fazer cinema verdadeiramente independente que floresceu nos EUA, entre Austin e Nova Iorque, ao longo da última década. Apesar de natural de Charlotte, na Carolina do Norte, Greene, actualmente professor na Universidade do Missouri (onde é “cineasta residente”), faz parte dessa cena que o Indie tem acompanhado ao longo dos anos. A concurso ou fora dele, os “austinitas” Andrew Bujalski (Mutual Appreciation, Beeswax, Computer Chess) ou Joe Swanberg (Drinking Buddies) e os “nova-iorquinos” Alex Ross Perry (The Color Wheel, Listen Up Philip, Queen of Earth), Charles Poekel (Christmas Again), Sean Baker (Prince of Broadway), e Benny e Josh Safdie (The Pleasure of Being Robbed, Vão-me Buscar Alecrim) passaram pelo festival. Greene trabalhou regularmente com muitos deles, mais recentemente montando Listen Up Philip e Queen of Earth para Ross Perry, Christmas Again para Poekel ou 7 Chinese Brothers para Bob Byington. “Não me vejo como montador, ” avisa, no entanto. “Faço-o porque me dá muito gozo, mas só o faço se me sentir livre, capaz de criar sem as limitações do meu próprio trabalho. Faço-o com o Alex porque ele me dá toda a liberdade para experimentar. Com o Charles, que foi meu estagiário, aconteceu porque era um cineasta estreante que precisava de ajuda para chegar onde queria ir. Mas tentei trabalhar com os Safdies e não resultou, porque eles precisam de outro tipo de colaborador, basicamente têm de se montar a si próprios. . . ”. Podemos falar verdadeiramente de família a propósito desta geração de cineastas que se ajudam permanentemente nos filmes uns dos outros? “Às vezes, sim, dá essa impressão, ” explica Greene, exemplificando com o filme que o trouxe a Lisboa. Kate Plays Christine andava a “amadurecer” na sua cabeça há uma dezena de anos e não seria possível sem a relação de amizade estabelecida ao longo desse período com Kate Lyn Sheil e com o director de fotografia Sean Price Williams. Amizade necessária para aceitar o risco de um projecto que “dilui fronteiras” de um modo que implica uma absoluta liberdade face a gavetas ou etiquetas. “Desde o início, desde Nanook o Esquimó de Robert Flaherty [1922], que o cinema de não-ficção sempre consistiu numa dialéctica muito tensa entre o real e o fabricado. O que é novo hoje em dia é que essas técnicas estão a ser usadas para fazer coisas que talvez só John Cassavetes ou Luis Buñuel fizessem. Cineastas que também operavam entre a ficção e a realidade. . . ”. O “ponto zero” desta geração é identificado por Greene como Frownland (2007) de Ronald Bronstein, projeccionista no circuito de arte e ensaio nova-iorquino – “uma obra-prima que nos mostrou o caminho”, um ponto de partida possível para uma nova maneira de pensar o cinema, genuinamente independente. Desafiadoramente outsider na sua abordagem, esta história “inclassificável” de um nova-iorquino inadaptado era, para Greene, “ambiciosa, pessoal, engraçada e louca”. “Todos pensámos, OK, o Ronnie conseguiu fazê-lo, mas ninguém o vai ver. Porém, Frownland começou a ser exibido aqui e ali, houve quem lhe começasse a chamar uma obra-prima… Já queríamos todos fazer cinema, mas o sucesso do Ronnie, nos seus próprios termos, a rodar em 16mm, com actores desconhecidos, foi algo de incrível. Ele lançou essa onda nova-iorquina. Permitiu-nos continuar. ”Parte da responsabilidade pertence igualmente às novas tecnologias: “Agora podemos propor uma experiência cinematográfica completa, a preços que vão dos mil dólares aos cem ou duzentos mil dólares, e isso tornou possível a muita gente ambiciosa forçar a entrada. Todos fazemos outras coisas para podermos correr os riscos que quisermos nos nossos filmes – o Alex apresenta-se como argumentista, o Sean Baker filma moda para pagar as contas. ” É uma espécie de actualização do modelo iniciado por John Cassavetes, que aceitou papéis em filmes comerciais dos grandes estúdios para poder fazer Maridos, Sombras ou Noite de Estreia. “Cassavetes fez aquilo que todos estamos a fazer, mas fê-lo mais cedo e melhor do que nós”, concorda Greene. “Tinha coisas para dizer, estava desesperado por dizê-las, por mostrar as suas emoções, por trabalhar com os seus amigos, e não conseguia parar de expressar o que sentia. E os seus filmes são maduros, não são juvenis, é cinema para adultos da melhor maneira possível. E está a lidar com estas coisas imensamente complexas com os seus melhores amigos, em sua própria casa, com uma câmara. . . ”. Reconhecendo-o como uma espécie de “patrono” desta geração – a par de Richard Linklater, que provou ser possível trabalhar dentro e fora de Hollywood sem trair a sua integridade –, Greene defende também que Cassavetes serve mais como exemplo do que se deve fazer do que como modelo a copiar fielmente: “É importante não fazer um filme à Cassavetes, ou não tentar fazer algo que o pareça. Na sua maioria, os filmes maus que se fazem hoje parecem querer ser filmes do Cassavetes, e isso é algo que o Alex nunca vai fazer, nem o Sean, nem o Josh Safdie. ”E Robert Greene no meio disto? “Sinto-me provavelmente mais confortável do lado da não-ficção, embora os meus amigos mais próximos estejam do lado da ficção”, afirma. Greene coloca todas as suas longas – antes de Kate Plays Christine houve Owning the Weather (2009), Kati with an I (2010), Fake It So Real (2011) e Actress (2014) – na “gaveta” da “não-ficção”, designação que prefere a “documentário”, por ser mais “expansiva” e abrangente. "A maioria do que ouvimos hoje em dia sobre o documentário está completamente errada”, diz o realizador. “O processo é totalmente mal-entendido. A ideia de que as pessoas não estão a representar para a câmara, é tudo treta. O Joshua Oppenheimer [realizador de O Acto de Matar e O Olhar do Silêncio] é provavelmente o meu cineasta vivo preferido – e isso é dizer muito, porque o Frederick Wiseman ainda está vivo! –porque parece que independentemente chegámos a uma mesma compreensão: tudo aquilo de que falo e tudo aquilo de que ele fala tem sempre a ver com o cinema de não-ficção como algo sempre em diálogo entre o real e o fabricado. ”Curiosamente, Kate Plays Christine foi terminado ao mesmo tempo que uma outra versão da história de Christine Chubbuck – esta abertamente ficcional, Christine, com Rebecca Hall no papel principal sob a direcção de Antonio Campos (autor de Depois das Aulas e Simon Killer), um contemporâneo desta geração que se move em círculos diferentes. “Há uma ironia profunda nisto”, diz Greene. “Ouvi a história pela primeira vez há uma dúzia de anos da boca de um amigo meu, quatro ou cinco anos antes de fazer o meu primeiro filme, e pensei sempre 'um dia vou fazer um filme dela, porque ainda ninguém fez'. E agora aparecem dois ao mesmo tempo!”
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
O Brasil regressou à realidade. Que não é muito simpática
O que Lula fez foi imenso. O que falta fazer também é. Para que não se perca o que já se fez. (...)

O Brasil regressou à realidade. Que não é muito simpática
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.14
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O que Lula fez foi imenso. O que falta fazer também é. Para que não se perca o que já se fez.
TEXTO: 1. Como acontece nas democracias, o dramatismo da campanha eleitoral vai desaparecendo, a vida volta ao normal, a política segue muitas vezes por linhas tortas nos bastidores. A vitória de Dilma foi curta. O tom que ela adoptou foi de conciliação e de diálogo, embora não sejam características que definam a sua natureza. A sua margem de manobra é estreita, não tanto pelos 51 milhões que votaram no seu principal rival, mas pela sua relativa fraqueza face a Lula da Silva e face ao próprio PT. Tem de contar também com um Congresso onde o PT perdeu 18 lugares, embora ainda seja o maior partido, mas sobretudo com um PMDB, o seu principal aliado, que não gostou de ver algumas faltas de solidariedade nas escolhas de governadores. A luta pela liderança da Câmara e do Senado já começou, com o PMDB a fazer valer a sua importância. Dilma terá ainda de contar com vários pequenos e médios partidos que constituem a sua base no Congresso e que, como de costume, querem cobrar em ministérios (são 39 para satisfazer toda a gente) o seu apoio à Presidente. Na quinta-feira, para demonstrar que as coisas não serão fáceis, a Câmara de Deputados rejeitou um decreto que a Presidente tinha enviado, no qual se defendia a ideia um tanto ou quanto peregrina da criação de “conselhos populares” para envolver mais os cidadãos na política. No seu discurso de vitória, a Presidente elegeu a reforma do sistema político como a prioridade do seu governo, afastando a atenção da economia que é o seu maior problema. Há anos que se arrastam no Congresso propostas para essa grande reforma que ninguém contesta ser necessária (28 partidos são manifestamente um mau sinal). Face ao bloqueio, outra das suas ideias para levar este objectivo adiante é a realização de um plebiscito que consulte o povo sobre o caminho a seguir, antes de o Congresso aprovar uma reforma, condicionando-a aos seus resultados. A lista de perguntas seria vasta e complexa. A ideia tem muito poucos adeptos. Os deputados dizem e com razão que primeiro é a vez deles e só depois as alterações constitucionais exigidas podem ser submetidas a referendo. A Presidente já veio dizer que não faz questão no plebiscito. 2. Mas a dificuldade maior de Dilma talvez seja o seu “padrinho político”, que ainda não lhe perdoou o facto de não o ter consultado para decidir candidatar-se ao segundo mandato. Lula toca na questão central: a economia que não cresce. Essa divergência incómoda concentra-se neste momento na escolha do ministro da Fazenda, lugar crucial para dar confiança aos agentes económicos e aos investidores, que de algum modo Dilma alienou – ao contrário de Lula que, quando chegou ao Planalto, em 2003, tratou de escolher um ministro da Fazenda altamente competente e moderado e um prestigiado para presidir ao Banco Central. Lula pôs a correr os seus nomes, de acordo com as notícias dos jornais, incluindo o do CEO do Bradesco, o maior banco privado do Brasil. Dilma sabe que a sua escolha será decisiva para restituir a confiança dos empresários e dos mercados para que invistam mais. Como diz Delfim Neto, um velho político prestigiado e sagaz, numa entrevista à Carta Capital (revista bastante pró-PT), se alguma coisa não for feita o Brasil corre o risco de perder o nível investimento das agências de rating e isso seria muito mau. Neto, que votou em Dilma, diz na mesma entrevista que a escolha é “crescer ou crescer”, para obviar a esse risco e para conseguir manter as políticas sociais que são o grande legado de Lula e da Presidente. O problema é que Dilma passou a campanha a dizer que as suas opções económicas estavam certas, apostando no consumo interno, na intervenção da banca pública para sustentar o crédito e em menor exigência em relação à inflação a favor de um desemprego muito baixo. Culpou a economia internacional pelas suas dificuldades e criticou Aécio Neves por apostar na subida dos juros de referência. Está agora confrontada com a necessidade de contrariar, em parte, aquilo que defendeu na campanha. Ninguém estava à espera da decisão do Banco Central do Brasil de subir a taxa de juro de 11% para 11, 25%, prometendo subir mais, dois dias depois das eleições, produzindo um efeito positivo nos mercados. A subida teve a aprovação de Dilma, porque ajuda a controlar a inflação que já está no tecto superior da margem de dois por cento acima ou abaixo dos 4, 5% fixados pelo Governo. Mas também controla o crédito às famílias, pesando no mesmo sentido. O secretário do Orçamento também já veio dizer que o Governo enviará para o Congresso um “rectificativo” para rever as metas do superavit primário (1, 9% do PIB) para um valor inferior e também para anunciar que são precisas mais medidas de controlo da despesa do Estado. São tudo surpresas pouco agradáveis mas que também indicam, dizem os analistas, que Dilma percebeu o que tem pela frente: pôr a economia a crescer. Em circunstâncias bem mais difíceis das que Lula usufruiu, com a entrada em cena da China e a sua sede insaciável de “commodities” que o Brasil produz em larguíssima escala. O abrandamento da própria economia chinesa mais o fraco crescimento mundial alteram drasticamente este factor de crescimento. Nos últimos anos, a indústria não se preparou para aumentar as exportações, contando com o mercado interno, que agora vai ter de esfriar um pouco. O preço do petróleo baixa e o investimento no pré-sal é colossal. A lista de dificuldades é numerosa. A margem de manobra política de Dilma mais estreita.
REFERÊNCIAS:
Fortunas de Amorim, Belmiro e Soares dos Santos encolheram 2,1 mil milhões
Lista de milionários da Forbes continua a ser liderada pelo fundador da Microsoft, Bill Gates. (...)

Fortunas de Amorim, Belmiro e Soares dos Santos encolheram 2,1 mil milhões
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Lista de milionários da Forbes continua a ser liderada pelo fundador da Microsoft, Bill Gates.
TEXTO: As fortunas dos três homens mais ricos de Portugal encolheram 2, 1 mil milhões de euros no espaço de um ano, segundo a Forbes, que divulgou nesta segunda-feira a edição de 2015 da lista de multimilionários à escala planetária. Bill Gates, fundador da Microsoft, continua a ser o homem mais rico do mundo, enquanto os portugueses Américo Amorim, Belmiro de Azevedo e Alexandre Soares dos Santos caíram de uma forma muito significativa na listagem da revista. A Forbes elabora todos os anos a lista dos magnatas que detêm uma fortuna superior a mil milhões de dólares, o equivalente a 893 milhões de euros. Este ano, 1826 pessoas entram no clube dos mais ricos, com fortunas que, somadas, atingem os 6, 3 biliões (milhão de milhões) de euros, bem acima dos 5, 7 biliões apurados no ano anterior. Nem a depreciação da cotação do petróleo nem a desvalorização do euro, afirma a revista, afectou a capacidade de os grandes investidores aumentarem o seu nível de riqueza. O clube dos mais ricos viu entrarem nos seus quadros mais 290 nomes, entre os quais se contam 71 chineses. Bil Gates, fundador da Microsoft, continua a ser o homem mais rico do mundo, com uma fortuna que a Forbes estima ser de 71 mil milhões de euros. Segue-se o mexicano Carlos Slim, dono de um império de telecomunicações que abrange toda a América Latina. Slim é cotado como sendo dono de uma fortuna que ultrapassa os 61 mil milhões de euros. No topo da tabela, a grande surpresa foi Warren Buffett, que tirou a terceira posição ao espanhol Amâncio Ortega, dono da Zara. Buffett, que gere um império vasto onde se encontram posições na energia, transporte ferroviário, seguros e agro-alimentar, aumentou a sua fortuna para cerca de 58 mil milhões de euros, num momento em que a sua sucessão está em cima da mesa. Diferente sorte tiveram os três portugueses que costumam aparecer na lista dos mais ricos do mundo. Américo Amorim, Belmiro de Azevedo e Alexandre Soares dos Santos caíram nas posições do ranking da Forbes à custa de reduções no valor das suas fortunas – cerca de 2, 1 mil milhões de euros no total. Para a Forbes, Américo Amorim viu a sua fortuna cair de 4, 7 mil milhões de euros, em 2014, para os 3, 9 mil milhões, este ano, reflectindo o impacto da desvalorização dos títulos da Galp Energia, que caíram cerca de 30% no ano passado. Mesmo assim, o homem que montou um império na cortiça, mas tem igualmente posições sensíveis noutras áreas como a energia, mantém-se entre os 500 mais ricos do mundo – caiu da posição 267 para o lugar 369. Para Belmiro de Azevedo, que tem no grupo Sonae o essencial da sua fortuna, a queda na lista da Forbes foi bem mais significativa. Recuou da posição 687 para o 949º lugar. Os activos contabilizados pela revista norte-americana ascendem este ano a 1, 8 mil milhões de euros, uma quebra face aos 2, 2 mil milhões apurados em 2014. A situação amplifica-se no que toca ao homem que todos identificam com o grupo Jerónimo Martins, dono do Pingo Doce e da Biedronka (Polónia). Alexandre Soares dos Santos viu a sua fortuna encolher dos 2, 5 mil milhões de euros em 2014 para 1, 6 mil milhões de euros este ano. O investidor caiu da 609ª posição, no ano passado, para o lugar 1054, na lista de 2015 da Forbes, também como resultado do recuo do valor das acções da companhia de distribuição – cerca de 40% no ano passado. No topo da lista da Forbes, para além da troca de lugares entre Ortega e Buffett, merece ainda destaque a posição 10 atribuida à família de Liliane Bettencourt, dona do império de cosmética L’Oreal, e o 13º lugar de Bernard Arnault, que controla o grupo LVMH, onde têm lugar tantos as malas da Louis Vuitton como os champanhes Moet & Chandon e Henessy. Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, tem agora uma fortuna estimada em 33, 4 mil milhões de dólares (16ª posição), mas não conseguiu ultrapassar Jeff Bezos, o homem que lidera a Amazon e, recentemente, comprou o grupo de media The Washington Post. Jorge Paulo Lemann, que detém interesses na cerveja e na restauração, entre outros, continua a ser o homem mais rico do Brasil, com uma fortuna de 25 mil milhões de dólares (26ª posição na lista da Forbes).
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens homem
A franqueza na política
O tempo dirá se António Costa tem capacidade de resistir ao facilitismo e à demagogia. (...)

A franqueza na política
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O tempo dirá se António Costa tem capacidade de resistir ao facilitismo e à demagogia.
TEXTO: António Costa não irá certamente ser primeiro-ministro por direito divino. Para ganhar eleições vai ter de fazer o seu caminho, apresentar objectivos, propostas para a governação. É bom frisar também que António Costa não é um D. Sebastião. Aliás, sejamos claros, não existem D. Sebastiões. Apesar da tendência que predomina em Portugal para acreditar em figuras salvíficas que libertem o país de jugos reais ou imaginários, a verdade é que estas figuras não passam de mitos. Daí que olhar para o novo líder do PS como alguém que num passe de mágica pode resolver os problemas nacionais e de inserção de Portugal na Europa e no mundo é esperar algo que não acontecerá, simplesmente porque não é realista: não há soluções milagrosas. António Costa teve uma semana cheia. Multiplicou-se em declarações. Algumas que desencadearam polémicas quentes, como as que proferiu sobre a situação do país depois da intervenção da troika, perante a comunidade chinesa em Portugal na festa do Ano Novo chinês. Isentou o Benfica de impostos municipais. Afastou o presidente da EMEL por sobre este penderem suspeitas de corrupção. Manteve os coordenadores das áreas do gabinete de estudos do PS que transitam assim da anterior direcção para a actual, garantindo uma continuidade interna que pode ajudar a pacificar o partido depois da campanha das eleições primárias. Deu uma entrevista ao Acção Socialista. Entre o turbilhão que foi a semana de António Costa destaca-se a sua intervenção na conferência organizada pela revista The Economist, em Cascais. Então falou nas opções e soluções que defende e sobre a forma como o PS vê a inserção europeia de Portugal, prosseguindo a concretização de posições sobre a Europa tinha que tinha feito na entrevista que deu ao PÚBLICO, nomeadamente ao rejeitar a possibilidade de restruturação ou de renegociação da dívida. (PÚBLICO 05/02/2012). Mas a passagem verdadeiramente importantes do discurso que fez em Cascais contribui de forma determinante para quebrar a imagem de salvador da pátria que alguns de fazem, tendo também o mérito de mostrar o lado do político que não recorre a demagogias e a populismos. Mais esta passagem destaca-se porque reflecte um conceito pouco usado nas últimas décadas na política portuguesa, o conceito de franqueza. Ou seja, a capacidade de os políticos falarem com aderência à realidade e não viverem de construções abstractas, de promessas muitas vezes irrealizáveis e que os próprios sabem que não podem concretizar, mas que prometem para conquistar votos. Referimo-nos à decisão de António Costa de assumir, preto no branco e com todas as letras, a razão por que tem optado pelo silêncio no que toca a promessas de soluções para os problemas do país que possa vir a por em prática se for primeiro-ministro. E numa alusão implícita às cedências que o Governo grego liderado por Alexis Tsipras teve de fazer nas negociações com o Eurogrupo: “Como se tem visto nas últimas duas semanas, é um erro definir uma estratégia nacional que ignore a incerteza negocial e se bloqueie numa e só numa solução. ” (PÚBLICO 25/02/2015)O líder do PS disse aquilo que é uma evidência, mas que é um acto raro até porque se expôs à acusação de ser hesitante. E se é importante a capacidade de assumir que não vale a pena fazer promessas num cenário incerto como é o europeu e quando as soluções para os problemas portugueses dependem da posição dos Estados parceiros, importante é igualmente a abertura ao diálogo que demonstrou ao dizer que “o que é essencial é identificar correctamente os problemas, assumir a determinação de os enfrentar e ter a capacidade necessária para construir as alianças que permitam as soluções viáveis, trabalhando as várias variáveis possíveis. ”Resta saber se António Costa vai conseguir resistir à pressão para que apresente propostas e faça promessas. Uma pressão que virá como é perceptível de vários níveis do que é a comunicação social, não só de jornalistas, como das direcções editoriais dos órgãos de comunicação social, como dos comentadores e dos publicistas. Mas também pelos seus adversários políticos, os outros partidos que concorrem com o PS, quer à direita, quer à esquerda. E – é bom não esquecer – a pressão sobre António Costa virá igualmente de dentro do próprio PS, cujos quadros e aparelho político estão sedentos de poder e de conquistar o Governo. O tempo dirá se António Costa tem capacidade de resistir ao facilitismo e à demagogia e de não deixar que a sua imagem passe de um mirifico D. Sebastião a um escorregadio vendedor de banha-da-cobra.
REFERÊNCIAS:
José de Mello vai encaixar 249 milhões com venda de 2% da EDP
Grupo sai do capital da eléctrica gerida por António Mexia. (...)

José de Mello vai encaixar 249 milhões com venda de 2% da EDP
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Grupo sai do capital da eléctrica gerida por António Mexia.
TEXTO: O Grupo José de Mello estima encaixar cerca de 249 milhões de euros com a venda de 2, 003% que ainda detém na EDP, de acordo com o comunicado enviado na noite desta quinta-feira ao regulador do mercado de capitais. Durante a tarde de hoje, o grupo já informara que tinha contratado o BES Investimento, a Caixa – Banco de Investimento, o Millennium Investment Banking e o Morgan Stanley para vender a sua posição na eléctrica nacional gerida por António Mexia, num processo de venda rápida. A liquidação da oferta deverá ocorrer a 3 de Fevereiro. Conforme sublinha a empresa, após a liquidação, o Grupo José de Mello deixará de deter acções da EDP, “dando assim continuidade ao processo de reforço da sua estrutura financeira, consolidando as condições para prosseguir o seu plano de desenvolvimento”. O valor arrecadado implica um desconto face aos 3, 532 euros por acção a que fechou a cotação da EDP esta quinta-feira, já que a venda é feita a 3, 4 euros por título. A venda da posição que o Grupo José de Mello detém na EDP (através da José de Mello Energia) era uma estratégia que já tinha sido equacionada quando o grupo lançou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a Espírito Santo Saúde, que acabou por ir para as mãos dos chineses da Fosun. O grupo, que detém a José de Mello Saúde em parceria com a Associação Nacional de Farmácias, a Efacec com a Têxtil Manuel Gonçalves e a Brisa com o fundo Arcus, já teve uma posição mais relevante na EDP, mas acabou por alienar parte do capital. Em Maio do ano passado, a empresa colocou no mercado, também através de uma venda rápida, 2, 59% do capital da eléctrica. A EDP tem como maior accionista a China Three Gorges (dona de 21, 35%). No último ano, perdeu vários accionistas de referência (com mais de 2%), como o BES (antes do colapso do banco) e a espanhola Iberdrola.
REFERÊNCIAS:
Tempo Maio Fevereiro
Artista destrói peça de um milhão de dólares de Ai Weiwei em pleno museu
No domingo, um dos vasos de uma instalação de Ai Weiwei em Miami foi despedaçado no que será um protesto pela inclusão de artistas locais nos maiores museus da cidade. (...)

Artista destrói peça de um milhão de dólares de Ai Weiwei em pleno museu
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: No domingo, um dos vasos de uma instalação de Ai Weiwei em Miami foi despedaçado no que será um protesto pela inclusão de artistas locais nos maiores museus da cidade.
TEXTO: O artista Maximo Caminero entrou no novo Perez Art Museum Miami, aproximou-se da instalação do artista Ai Weiwei composta por 16 vasos coloridos, pegou num deles e ergueu-o. Quando a segurança da sala o abordou, deixou-o cair e a peça, que valerá perto de um milhão de dólares, despedaçou-se no chão. Caminero diz que se tratou de um protesto contra a ausência de artistas locais no museu. Ai Weiwei responde que não apoia a destruição de obras de arte alheias em museus. A instalação Colored Vases, que faz parte da exposição Ai Weiwei: According to What?, está em frente ao tríptico de fotografias Dropping the Urn (1995) em que o próprio artista e dissidente chinês ergue, impassível, um vaso que remonta à dinastia Han e o deixa cair. "Vi-o como uma provocação de Weiwei para que me juntasse a ele num acto de performance de protesto", justificou Caminero, artista de origem dominicana e residente em Miami. Mas Ai Weiwei disse à BBC News que considera que, apesar de não ter dado "muita atenção" ao caso, o acto de Caminero é “um pouco diferente” daquele que ele próprio protagonizou em 1995 e que é ilustrado pelas fotografias. “Não apoio ninguém que faça algo como isto”, disse ainda sobre a destruição de obras em museus. “As peças sobre as quais trabalho não pertencem a um museu ou a outras pessoas. Aqueles vasos pertencem-me. ”Maximo Caminero, que agendou uma conferência de imprensa sobre o assunto para esta terça-feira em Miami, foi detido no local e enfrenta agora acusações que podem levar a uma pena de cinco anos de prisão. Segundo o Miami New Times, o artista nascido na República Dominicana justificou o seu acto, que descreveu como instintivo, como sendo em prol “de todos os artistas locais em Miami que nunca expuseram em museus” da cidade, queixando-se que as instituições museológicas da cidade “têm gasto tantos milhões em artistas internacionais”. Ai Weiwei, que foi detido 81 dias pelas autoridades chinesas em 2011 e que continua a ser uma voz crítica sobre o regime chinês, lembrou à BBC que a sua obra também não é exposta no seu país de origem. E, ao New York Times, questionou a justificação de Caminero. “O argumento não sustenta o acto” que ele perpetrou. Questionado sobre o facto de a instalação vandalizada ter como pano de fundo o tríptico a preto e branco de Ai Weiwei a destruir um outro vaso e sobre se não há um lado de homenagem no acto do artista dominicano, Ai lembrou que o seu “trabalho tem sido partido ou destruído em diferentes ocasiões”, mas por diferentes motivos, e que este caso “é um pouco diferente. As peças sobre as quais trabalho não pertencem a um museu ou a outras pessoas”. Agora, o museu, inaugurado em Dezembro passado e que custou 95, 4 milhões de euros, está a trabalhar com as autoridades policiais, lê-se num comunicado do Perez Art Museum Miami.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave prisão chinês
Ai Weiwei publica videoclip do seu primeiro single
Dumbass, single do seu primeiro álbum, é uma forma de o artista “ultrapassar o trauma” da detenção de 81 dias em 2011. Divina Comédia vai ser lançado no dia 22 de Junho, data que assinala o duplo aniversário da libertação de Weiwei em 2011. (...)

Ai Weiwei publica videoclip do seu primeiro single
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.089
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Dumbass, single do seu primeiro álbum, é uma forma de o artista “ultrapassar o trauma” da detenção de 81 dias em 2011. Divina Comédia vai ser lançado no dia 22 de Junho, data que assinala o duplo aniversário da libertação de Weiwei em 2011.
TEXTO: Ai Weiwei publicou na quarta-feira o videoclip de Dumbass. O artista dissidente chinês escreveu no seu site que esta primeira incursão na música iria ajudá-lo a lidar com a detenção de 81 dias em 2011. “Qualquer pessoa que tenha passado por um trauma parecido fica com marcas, a raiva e os sentimentos são difíceis de libertar e eu estou a usar as imagens e o som para ultrapassar esse medo. Enquanto artista, o meu dever é encontrar uma forma de o fazer”. Em 2011, Weiwei foi apenas um de muitos dissidentes presos na China, um país onde existe uma “ameaça louca e condições desumanas”, disse ao jornal inglês. Alguns activistas chineses sublinharam então que a detenção de Weiwei se inseria numa campanha de repressão contra a dissidência chinesa, iniciada em Outubro de 2011, quando se anunciou o Prémio Nobel da Paz de 2010 para Liu Xiaobo. O videoclip do single resultou de uma colaboração com o director de fotografia Christopher Doyle, conhecido pelo seu trabalho em Disponível para Amar (2000) e 2046 (2004), do realizador Wong Kar-Wai, e Ondine (2009), de Neil Jordan. Segundo o artista o chinês, o vídeo é uma recriação precisa e detalhada da prisão em que esteve. Todos os detalhes da cela foram reconstruídos e os próprios uniformes dos militares foram feitos à medida. “Enquanto estive detido, memorizei cada pormenor do quarto porque não tinha mais nada para fazer e acreditava plenamente que a história seria contada por ser tão incrível. A canção e este vídeo são as melhores formas de representar essa experiência”, escreveu Weiwei no comunicado de imprensa publicado no seu site na quarta-feira. "Dumbass é um reflexo da luta pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão na China”, lê-se no mesmo comunicado. Alternando entre imagens da cela e fantasias dos militares, o vídeo começa com o artista sentado numa cadeira com um barrete enfiado a cabeça, onde está escrita a palavra “suspeito”. Embora tenha admitido ao Guardian que recordar esses 81 dias tenha sido “muito difícil”, Weiwei considera que a música o ajudou a “ultrapassar o trauma”. Ai Weiwei foi detido em Abril em 2011 no aeroporto internacional de Pequim, quando se preparava para apanhar um avião para Hong Kong, e durante mais de um mês esteve em paradeiro desconhecido. Segundo contou ao Guardian, a polícia disse-lhe “queres liberdade mas nós vamos fazer-te pagar com a tua vida”. Em Março deste ano, o artista plástico chinês tinha anunciado a sua intenção de lançar um álbum de heavy metal. Na altura disse ao International Business Times que o álbum, inspirado na Divina Comédia de Dante Alighieri, tinha nove canções de influências variadas. “Algumas são estilo heavy metal, outras são punk e outras mais pop”. Segundo o Guardian, o single Dumbass “não é exactamente Metallica”. Depois de ter anunciado que Divina Comédia iria ser um álbum de heavy metal, Weiwei corrigiu-se. ”Ou seja, é heavy metal chinês, ou talvez heavy metal de Caochangdi [onde o seu estúdio está localizado] ”, reconheceu ao jornal inglês. Em Divina Comédia, Weiwei escreveu as letras e deu voz às músicas, da autoria do músico de rock Zuoxiao Zuzhou, que tem apoiado as intervenções artísticas e o activismo de Weiwei e que chegou a ser interrogado em 2011 aquando da detenção do amigo. O artista chinês já está a trabalhar no seu segundo álbum, desta vez com músicas românticas. “São canções de amor – para pessoas que precisam de amor ou que precisam que acreditem nelas, e para as crianças, para o Tibete, para esta terra. Muitas pessoas precisam de amor”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos humanos prisão medo chinês
Competição do Doc arranca com os notáveis Snakeskin e Letters to Max
Num fim-de-semana de abertura absolutamente fervilhante, duas das melhores entradas competitivas do festival – duas das razões que fazem deste DocLisboa 2014 uma edição de luxo. (...)

Competição do Doc arranca com os notáveis Snakeskin e Letters to Max
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num fim-de-semana de abertura absolutamente fervilhante, duas das melhores entradas competitivas do festival – duas das razões que fazem deste DocLisboa 2014 uma edição de luxo.
TEXTO: O DocLisboa não é um festival perfeito (e, aliás, isso não existe sequer) mas é um dos melhores festivais de cinema do mundo porque as escolhas dos filmes, a concurso ou fora dele, obedecem a uma vontade de não ser apenas observador passivo e de pensar, de questionar, o que significa, hoje, contar histórias. Nisso, o Doc é uma montra do que de mais formalmente entusiasmante e experimental se faz hoje nos chamados “cinemas do real”. E muitas das histórias patentes na sua programação diluem as fronteiras do que se convencionou definir como “documentário” e “ficção” para apenas serem narrativas que integram elementos de um e de outra. Num fim-de-semana de abertura absolutamente fervilhante, duas das melhores entradas competitivas do festival – duas das razões que fazem deste DocLisboa 2014 uma edição de luxo - exploram de modo inteligente esse território híbrido onde a própria definição de “real” perde contornos fixos: Letters to Max, de Éric Baudelaire (Culturgest, hoje às 15h00 e quinta 23 às 21h30), e Snakeskin, de Daniel Hui (Culturgest, amanhã às 19h30 e São Jorge, sexta 24 às 19h15). Em ambos os casos, trata-se de interrogar a História a partir de um presente que abrange contornos ambíguos, num processo de questionamento que ilumina o passado de diferentes modos. Snakeskin usa como ponto de partida a história da cidade-estado de Singapura para ir progressivamente desmontando os “mitos fundadores” da sua identidade. Faz colidir depoimentos de habitantes das múltiplas etnias que vivem em Singapura (malaia, chinesa, hindu. . . ) numa ambiciosa “estafeta” entre histórias e personagens à sombra de uma “madalena de Proust”: um fotograma de um dos velhos filmes musicais malaios produzidos na cidade. A partir dessa imagem, e da história de uma filha que pensa reconhecer numa das dançarinas a mãe que apenas conheceu como fundamentalista religiosa, o estreante Daniel Hui constrói com um espantoso requinte audiovisual uma viagem psicogeográfica pela cidade, através de um “colar” de histórias unidas tangencialmente por uma pesquisa sobre o passado. É um filme-ensaio mais do que um documentário tradicional, mas esconde essa dimensão atrás de uma estrutura de ficção científica distópica que só aos poucos revela o verdadeiro significado. Nesse desvendar progressivo de direcções e abordagens, Snakeskin é gémeo de Letters to Max, filme que parece começar como um documentário epistolar para aos poucos se tornar noutra coisa. Como o título indica, o filme constrói-se a partir da correspondência entre o franco-americano Éric Baudelaire e Maxim Gvinjia, ex-ministro dos negócios estrangeiros da república da Abecázia. Mas, aos poucos, vão-se revelando dissonâncias entre as cartas enviadas por Éric (figura completamente ausente do filme) e as “respostas” de Max (cuja voz é sobreposta a imagens do seu quotidiano filmadas pelo cineasta). Essas dissonâncias estendem-se ao próprio domínio da realidade: a Abecázia é um dos territórios separatistas da Geórgia, reconhecido como país independente pela Rússia (e por seis outros países) depois da guerra de 1992, mas que mais ninguém considera um estado soberano – tornando impossível ver Letters to Max sem pensar nas actuais convulsões da Ucrânia (de que o Doc falou na abertura com A Praça, de Sergei Loznitsa). Max foi, assim, diplomata de um país que para todos os efeitos não existe, e Baudelaire explora a fundo a dimensão surreal latente em fazer um documentário sobre uma realidade concreta ancorada numa soberania disputada, levando o espectador a questionar, em última instância, o próprio filme. Aí reside o porquê de Éric Baudelaire ser um dos mais fascinantes cineastas contemporâneos, e do DocLisboa - que tem acompanhado toda a sua obra - ser o local ideal para a descobrir.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra filha
O equilíbrio impossível
O PS só poderia aspirar a ganhar eleições com maioria absoluta se estivesse disponível para mobilizar a população portuguesa em torno de um projecto de negação consequente da austeridade. (...)

O equilíbrio impossível
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.66
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O PS só poderia aspirar a ganhar eleições com maioria absoluta se estivesse disponível para mobilizar a população portuguesa em torno de um projecto de negação consequente da austeridade.
TEXTO: António Costa venceu as primárias e foi eleito no congresso do PS em pleno estado de graça. A natureza baça do seu antecessor tinha colocado o partido no impasse e sem perspectivas de descolagem em relação à coligação que suporta o Governo. O novo líder renovava a esperança prometendo uma orientação mais afirmativa e mobilizadora e chegou a criar na opinião pública uma miragem de vitória indiscutível. Passados alguns meses tudo regressa à estaca zero e o PS volta a não ter capacidade para arrancar rumo a uma promessa de maioria absoluta que tanto deseja. Não é, certamente, um problema de falta de carisma ou de habilidade para a manobra política, como supostamente acontecia com António José Seguro. Costa provou largamente à frente da Câmara de Lisboa, ou mesmo em cargos governativos e parlamentares, ser um peso-pesado da política portuguesa. Trata-se de um mal muito mais profundo que afecta de forma letal o percurso de qualquer dirigente da área da social-democracia contemporânea — o grande envolvimento com a política neoliberal e a impossibilidade de encontrar um projecto alternativo. Os acontecimentos mais recentes provam-no com particular eloquência. Costa cavalgou a vitória do Syriza na noite eleitoral de 25 de Janeiro, provocando reacções azedas num determinado sector, e aproveitou o encontro com investidores chineses para destilar uma tirada direitista que deveria conter esses mesmos danos. Na realidade acabou por provocar a ira e mesmo o abandono de elementos conotados com a ala mais à esquerda do partido. Eis as verdadeiras dificuldades do PS. Em tempos normais o silêncio e o ziguezague ao sabor das manchetes que vão atraindo as atenções seriam suficientes para ganhar eleições, até com maioria absoluta. Que o digam Barroso, Guterres ou Sócrates (para não falar de Cavaco) que se limitaram a aproveitar o clima de insatisfação em relação aos seus antecessores com uma vaga promessa de mudança. Mas o período que vivemos não é certamente o da “normalidade” e o da pura gestão das expectativas com o objectivo de as manipular. A fractura e a ruptura predominam nas grandes opções da vida política nacional e internacional e o PS entende-se mal com isso. Veja-se o exemplo da Grécia. Entre os ditames da austeridade imposta pela União Europeia e a política de confronto do Syriza não resta espaço para aproveitar. Ou se está de um lado ou do outro. Não há terceira via e o desaparecimento do Pasok resulta da escolha óbvia pela austeridade. O acordo assinado por Tsipras e Varoufakis com o Eurogrupo, que a direita europeia se apressou a denunciar como uma derrota do Governo grego, tem de ser enquadrado no processo de esgotamento da capacidade negocial no quadro do euro com o objectivo de o desmontar. O Syriza foi eleito com uma grande maioria no pressuposto de que tentaria aplicar o seu programa no quadro do sistema da moeda única, decorrendo daqui que a ruptura só será uma hipótese a partir do momento que ela se revele inevitável e, portanto, aceite pela opinião pública grega. E é esse jogo dinâmico que está lançado no terreno: entre os desejos de capitulação (que muitos vaticinam à direita, mas também alguns anseiam à esquerda com objectivos diversos) e a hipótese de expulsão sumária do euro, resta a iniciativa para manter o apoio permanente dos eleitores e reforçar a política de distanciação face ao actual sistema, estimular mudanças eleitorais noutros países (Espanha, Irlanda, Portugal, …) e reclamar alterações que as circunstâncias podem ou não acomodar. A grande lição é clara. O PS só poderia aspirar a ganhar eleições com maioria absoluta se estivesse disponível para mobilizar a população portuguesa em torno de um projecto de negação consequente da austeridade, correndo todos os riscos que daí pudessem decorrer, incluindo o confronto com as instituições da União Europeia, reestruturação da dívida, saída do euro ou violação das regras do tratado orçamental. Mesmo que o resultado final não fosse necessariamente esse. Neste sentido António Costa é um player derrotado deste jogo: as estratégias que sugere não envolvem os compromissos que poderiam assegurar credibilidade na luta contra a capitulação e a aceitação da austeridade. Esses compromissos terão de fazer o seu caminho na esquerda, no pressuposto de que a maioria da população portuguesa começa a revelar grande impaciência com a falta de uma alternativa eficaz e mobilizadora que ultrapasse o equilíbrio impossível apontado pelas sugestões mais convencionais. Professor da Universidade de Coimbra
REFERÊNCIAS:
Partidos PS