O cabaret familiar de Michael Imperioli e John Ventimiglia
Há 20 anos que os dois norte-americanos trabalham com Bruno de Almeida. Voltaram a juntar-se a ele para Cabaret Maxime, um filme entre Lisboa e Nova Iorque. (...)

O cabaret familiar de Michael Imperioli e John Ventimiglia
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há 20 anos que os dois norte-americanos trabalham com Bruno de Almeida. Voltaram a juntar-se a ele para Cabaret Maxime, um filme entre Lisboa e Nova Iorque.
TEXTO: Antes de chegar até Michael Imperioli e John Ventimiglia, protagonistas de Em Fuga (1999), o seu primeiro filme de ficção, Bruno de Almeida fez audições a 250 outros actores. Entre eles, o falecido James Gandolfini (que viria a contracenar com Michael e John em Os Sopranos) ou o recém-oscarizado Sam Rockwell. Ninguém funcionava. Bruno não sabia do que estava à procura, mas não estava a encontrar. Foi então que apareceu Ventimiglia. Depois da audição, Bruno e John foram almoçar juntos e o realizador falou-lhe da intenção de ter Michael Imperioli no outro papel. Não o conhecia pessoalmente, já o tinha visto em peças, além de terem amigos em comum (era um círculo pequeno, o do cinema independente nova-iorquino). E era o actor para quem o papel tinha sido concebido. Por coincidência, Ventimiglia era amigo de Imperioli desde que se conheceram a estudar representação, no início dos anos 1980. “Eu não disse logo que o conhecia", conta John. "Cheguei a casa, liguei ao Michael e ele disse que se eu fizesse o filme ele também faria. Fomos sair com o Bruno e bebemos umas 12 garrafas de vinho”, conta ao Ípsilon, mais de 20 anos depois, sentado numa mesa do Hotel Tivoli, em Lisboa, ao lado de Imperioli e de Bruno de Almeida. Vieram a Portugal para promover Cabaret Maxime, a nova colaboração entre eles, o realizador e outros membros de uma trupe que Almeida descreve como uma família (nomes como Nick Sandow, Sharon Angela ou Drena De Niro fazem parte). Os dois actores escreveram rascunhos do guião, desvenda Ventimiglia. E o próprio escreveu os monólogos da sua personagem. É um processo que envolve muitas experiências, improvisos e espaço para tentar e falhar. Hoje com 54 anos, o actor que foi Artie Bucco em Os Sopranos e tem participado em séries de televisão e filmes de Abel Ferrara, Mary Harron, Rebecca Miller, Steve Buscemi ou James Mangold, faz de Veebie em Cabaret Maxime. É um mestre-de-cerimónias que o Bennie Gazza de Imperioli, o protagonista, dono do clube que dá nome ao filme, descreve em dada altura como aquilo que aconteceria se os lendários cómicos Mae West e W. C. Fields tivessem um filho. “Eu e o Bruno reescrevemos muitas das minhas cenas”, afirma Imperioli, actor que tem bastante experiência de escrita. Além do seu próprio filme como realizador e argumentista – The Hungry Ghosts, de 2009 –, o actor de 52 anos que apareceu em Tudo Bons Rapazes, de Scorsese, e este ano teve um papel na cancelada sitcom Alex, Inc. , assinou episódios de Os Sopranos, ajudou na escrita do guião de Verão Escaldante de Spike Lee, vendeu pilotos para séries de televisão que nunca chegaram a ser feitos e acabou de lançar The Perfume Burned His Eyes, romance passado na Nova Iorque dos anos 1970. Pelos seus cálculos, é a sétima vez que vem a Lisboa. A primeira foi em 2006, para filmar A Vida Interior de Martin Frost, de Paul Auster. No final da rodagem, convidou o resto dos La Dolce Vita, banda que tinha começado há meses, para actuar no verdadeiro Cabaret Maxime, cuja história é ficcionada no filme (o colega Ventimiglia também cantou lá). “Foi a primeira vez que cantei em público desde os dez anos. ""Onde mais poderias ter feito isso?”, pergunta Ventimiglia, que veio a Lisboa pela primeira vez em 2001, num Verão a que Almeida chama "louco”, quando vários amigos nova-iorquinos vieram conhecer a cidade. Esse foi o Verão do 11 de Setembro. Nova Iorque nunca mais foi a mesma. O que é que encontraram aqui? Uma cidade antiga, com história. E o Viking, o bar com striptease no Cais do Sodré – que aparece no filme. “Foi como se estivesse num romance. Nunca pensei ver algo assim”, comenta Ventimiglia. O sítio ainda existe, o público mudou. Tal como a cidade, que mudava mais um bocado de cada vez que voltavam. “Em 2006 o Bairro Alto estava a acontecer, mas ainda era um fenómeno local. Voltei dois anos depois e havia mais turismo. O Bruno dizia que as coisas estavam a mudar”, partilha Imperioli. “O que vi foi uma cultura que estava enraizada na sua própria história e agora o que está a tomar conta é uma cultura enraizada na modernidade. Foi o que aconteceu em Nova Iorque: perdemos o que havia de tão único e que não se conseguia em nenhum outro sítio. As pessoas vêm de fora e vão às mesmas lojas e até aos mesmos restaurantes. Isso começou a acontecer aqui. " Em Fuga já mostrava uma cidade em mudança. Louie, a personagem de Ventimiglia, falava da Disneyficação de Times Square. “Ele dizia que queria sujidade. O sujo não é necessariamente nojento, o que é muitas vezes o caso, mas é real, é orgânico, é como é por várias razões”, assevera. A limpeza de Times Square trouxe “muitos danos colaterais”, segundo Imperioli. “Os preços sobem, os artistas não os podem pagar, os jovens não vêm. . . ” É uma Nova Iorque diferente daquela que conheceu, a ver Lou Reed – com quem conviveu mais tarde e é personagem no romance que acaba de publicar – ou Allen Ginsberg a passar na rua. “Agora são pessoas que já são estrelas e mudam-se para lá, como a Taylor Swift”, prossegue o actor que há oito anos, cansado da gentrificação, mudou-se para Santa Bárbara, Califórnia. Nos anos 2000, teve um teatro chamado Studio Dante. Era lá que muitos membros desta trupe desenvolviam a sua arte. Há menos sítios desses agora. Imperioli menciona o caso de Zetna Fuentes, que trabalhava no Ear Inn, o bar que todos frequentavam, foi estagiária de Bruno de Almeida e assistente de Nick Sandow, começou a encenar peças no teatro, primeiro a ajudar, depois a meias e a seguir sozinha. Agora é uma prolífica realizadora de televisão (dirigiu episódios de Jessica Jones, série em que Ventimiglia participou). “Passou pela nossa escola”, conclui. Hoje, provavelmente, não teria onde ir. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em 1998, Imperioli apareceu em Too Tired to Die, filme de Wonsuk Chin com Mira Sorvino e Jeffrey Wright que "ninguém viu". Foi aí que trabalhou com Ben Gazzara, que fez três filmes com John Cassavetes. "Era um grande herói para nós". Desde essa altura que debita tiradas de Gazzara. Profere, a imitar o actor, algumas delas (como "eu não uso sandálias, lembram-me turistas alemães, eles usam-nas com meias brancas"; "eu não uso maquilhagem, tenho um bronzeado", etc. ). "Decidimos fazer deste filme quase uma homenagem. É orgânico, brinco muito com essa voz", explicita. (Bruno de Almeida revela que Imperioli lhe pediu várias vezes para não o deixar imitar demasiado Gazzara). "Não o quero imitar, mas estou definitivamente a pedir o tom e a inflexão dele emprestados", relata o actor, que gaba a amplitude de Gazzara, alguém que não precisava de artifícios para fazer personagens completamente diferentes. Fala-se de Saint Jack (Noites de Singapura), o filme de Peter Bogdanovich em que Gazzara é proxeneta em Singapura. "É isso", responde, adicionando também referências a Cassavetes: "é o A Morte de um Apostador Chinês, é também um bocado o encenador do Noite de Estreia. "Almeida declara que Cassevetes é o seu realizador favorito, nem fazia sentido esconder isso. Não é à toa que trabalha constantemente com os mesmos actores, a mesma família. Cresceram todos, aliás, com esse período. Ventimiglia sublinha que eram tempos em que se valorizava "a ideia de conjuntos e colaborações". "Víamos que os actores tinham ligação a este e aquele actor, percebíamos por que estavam juntos", atesta. E é o mesmo que se passa no trabalho que faz com Imperioli e Almeida.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte escola cultura filho chinês
“Quando os sítios acabam, fica a alma — continuamos a existir, mas isolados”
O Cais do Sodré, em Lisboa, é uma tela onde se projecta Nova Iorque. Uma cidade, mundo antigo, acaba tal como há anos morreu a outra. Esta é a história de um patrão de cabaret, da amada e de um mestre-de-cerimónias. É a história de um olhar que constrói com a ficção a sua realidade. É a história de Bruno de Almeida, realizador de Cabaret Maxime. (...)

“Quando os sítios acabam, fica a alma — continuamos a existir, mas isolados”
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Cais do Sodré, em Lisboa, é uma tela onde se projecta Nova Iorque. Uma cidade, mundo antigo, acaba tal como há anos morreu a outra. Esta é a história de um patrão de cabaret, da amada e de um mestre-de-cerimónias. É a história de um olhar que constrói com a ficção a sua realidade. É a história de Bruno de Almeida, realizador de Cabaret Maxime.
TEXTO: É em Fado Camané (2014), documentário sobre a gravação de um disco, que há aquele momento em que o cantor, citando o seu director artístico, José Mário Branco, filia a introspecção do seu canto, de um verso, no “grito abafado” de Al Pacino quando lhe mataram a filha no Padrinho III. Pode ser eufórica (para o espectador) essa descoberta de uma “personagem” ou esse momento em que Camané se torna “personagem” — decorrendo tudo no sotto voce do estúdio. Tudo aí se ilumina, nada é apenas pura coincidência. Uma “personagem” descobre que é seu o mundo dos anti-heróis que, com a sua violência, se viam aflitos para nomear o que sentiam. É o próprio filme que dirige Camané nessa caminhada de solidão e nessa educação das suas emoções — filiando-o na família do cinema americano dos anos 1970 (pode-se pensar ainda, para tudo rimar e ser perfeito como nos filmes, nas imagens de Sei de Um Rio, naquela tristeza masculina e nos movimentos de câmara que a ela e a ele regressam. . . ). Bruno de Almeida, realizador, encontrara Camané no início dos anos 2000, quando voltou de Nova Iorque, onde viveu 20 anos. O punk, a new wave e o jazz experimental projectaram-se então sobre o fado. Mas antes de Fado Camané, em 2009, houve Bobby Cassidy: Counterpuncher. Um ex-pugilista americano (parecido com Gene Hackman), activo entre os anos 1960 e 1980, contava a sua história. Era um documentário, mas o documento abria-se às construções da nossa memória do cinema americano dos anos 1970. Levávamos os “nossos” filmes, projectávamo-los sobre o ringue de Bobby Cassidy. Cabaret Maxime é a última das projecções sobre a realidade que faz Bruno de Almeida — e é o mais melancólico dos seus retratos de gente solitária que faz da ficção a sua realidade. Se calhar, esta história de um patrão de cabaret (Michael Imperioli), da sua amada bipolar (Ana Padrão), de um mestre-de-cerimónias alcoólico (John Ventimiglia) e dos outros artistas de circo, da canção e do burlesco que se expressam como um mundo a acabar (e há ainda os que chegaram para terminar com ele) é tão-só a história de um olhar que, condenado, insiste em sobreviver — o de Bennie Gazza (Imperioli), que, como alguém diz no filme, vê aquilo que (já) não existe; ou o de Bruno, que vive a realidade com o que viveu nos filmes. Não se trata de coleccionar citações (mesmo que encontremos vários títulos por aqui, de Cassavetes, Coppola ou Ferrara), trata-se de viver — morrer — com o que os filmes ensinaram (Bruno, por exemplo, não consegue impedir-se de dizer a uma mulher: “You know you have beautiful eyes?”, e sabe que isso lhe vem do Taxi Driver). Um patrão de cabaret (Michael Imperiolli), a sua amada bipolar (Ana Padrão), um mestre-de-cerimónias alcoólico (John Ventimiglia) e todos os outros, artistas de circo, da canção e do burlesque que são expressões de um mundo a acabar: Cabaret MaximeO Cais do Sodré em Lisboa torna-se então tela em branco onde se projecta Nova Iorque (exteriores ali rodados, interiores fabricados no Ritz Club, onde o realizador replicou o desaparecido Cabaret Maxime). Uma cidade, mundo antigo, está a acabar, tal como há anos morreu a outra. Bruno perdera Nova Iorque, começa a perder Lisboa. O olhar de Bennie/Imperioli começa e acaba as cenas de Cabaret Maxime. Permaneceriam inanimadas se não fosse ele a activá-las. Cabaret Maxime regista esses momentos de suspensão e de activação, exibindo a fragilidade das coisas: por exemplo, a proximidade tão cerrada entre o que está morto e o que ainda pode ser insuflado de vida, entre o real e o imaginado. É por isso eufórica, de novo, a experiência da sequência final (isto não é spoiler, é uma possibilidade de narrativa, entre outras, de um filme). Quando a “família” reunida se despe dos adereços (Ventimiglia põe óculos e tira a peruca, por exemplo), e a sua solidariedade se impõe aos tiros e aos mortos das cenas anteriores. Que afinal só parecem ter existido por artes da imaginação, trabalho e amor de um grupo, o de John, Michael, Ana, Bruno e dos outros. Essa sequência final, diz-nos o realizador, é o seu everything makes sense. Como o facto de ele ter vivido o 25 de Abril no Largo do Carmo vestido de cowboy. Como acontece esta projecção sobre o cenário do Cais do Sodré de personagens da Nova Iorque do cinema americano? Quando é que isto começou a fazer sentido?O projecto começou há dez anos. Quando era sócio do Manuel João [Vieira] e estava no Maxime todos os dias. Tinha acabado de chegar a Lisboa, 2007, 2008, quando fiz The Lovebirds. O Manuel convidou-me para seu sócio criativo. Na altura fiz uma coisa chamada Cine Maxime, uma espécie de cineclube onde passava cinema alternativo, filmes do Tinto Brass, cinema erótico italiano, do Cassavetes. . . A noite acabava com um concerto do Manuel João, podia-se fumar, era um universo que já não existe. Realização: Bruno de Almeida Actor(es): Michael Imperioli, Ana Padrão, David Proval, John Ventimiglia, Drena De NiroPensei logo fazer um filme ali, era um ambiente incrível, e isso coincidiu com o Lovebirds, que já era uma descoberta da cidade. Ao mesmo tempo continuava a falar com o Michael [Imperioli] e o John [Ventimiglia]. Eles vieram a Lisboa, foram lá tocar. O Michael com Dolce Vita, banda de punk rock, e o John num concerto com uma banda que montei. Era uma ligação de mundos, eu tentava descobrir o que é que eu ia ser em Lisboa, como é que mantinha o grupo de actores com quem trabalhava. Andava perdido, The Lovebirds foi uma tentativa de segurar um grupo e descobrir outro. Inicialmente pensei: estou em Portugal, vou fazer filmes em português, não faz sentido manter este grupo. Depois decidi que não, que as histórias vinham como vinham, em que língua fosse, e escrevi para eles. Ou seja, misturar um universo específico, o do Maxime, e aquele grupo de actores. Passámos exactamente a mesma coisa em Nova Iorque. No final dos anos 80 e 90, íamos a bares que hoje já não existem. É como se eu tentasse transpor uma Nova Iorque que acabou, que morreu com o Giuliani [Rudolph Giuliani, mayor entre 1994 e 2002]. Lembro-me de que quando fizemos On the Run [1999] filmámos um plano em Times Square, voltámos um mês depois e o prédio onde filmáramos já tinha desaparecido. Foi um choque, essa transformação de um ambiente em que vivemos 20 anos. Quando vim para Lisboa descobri uma espécie de Nova Iorque que ainda existia. Os meus amigos americanos diziam que Lisboa parecia Nova Iorque nos anos 70: um espaço de liberdade. Isso aconteceu com o Maxime, foi uma explosão de liberdade na união dos bares da má fama com o rock, o pop, a arte. Comecei então a escrever um guião. Não tinha a história. Mas tinha esta emoção, tinha o Cais do Sodré, tinha os números musicais, que tinha que ver com aquilo que o Manuel João criara no Maxime, mistura entre burlesque, circo, cómico, rock’n’ roll, música italiana, romantismo. Tive vários argumentistas, tive o Scott Pardo, que escreveu Go Go Tales [2007] para o [Abel] Ferrara, tive o John Frey, tive o próprio John Ventimiglia. Qual era a dificuldade?Não conseguir transmitir a minha sensação, o amor, a sobrevivência, isso de ter vindo de uma cidade que foi destruída, que perdi, isso de ter descoberto outra coisa que também estava a perder. É uma perda espiritual. A âncora do filme é a personagem da Ana Padrão. Se tirasse a Stella, com os seus problemas existenciais e bipolares, a história não existia. É claro que existe o lado de se querer mudar o Cais do Sodré, mas isso funciona porque existe ela e o amor, e o amor pelo trabalho. Como aliás no [documentário sobre] Camané [Fado Camané, 2014]. Os números musicais não são perfeitos, a importância deles é o amor, “nós somos assim”. É isso o nosso cinema — “nosso”, Michael, John e eu. A primeira versão da história era a de um músico de rock, decadente, que tinha tido sucesso no passado, e que vinha dar um concerto a Lisboa. Começava no Rock in Rio, a seguir ia para uma festa e vinha parar ao Cais do Sodré e “desligava”, desaparecia num ambiente lynchiano onde descobria o amor. No Cabaret Maxime já não é a descoberta do amor, é a sobrevivência do amor. Na maioria dos casos, aceita-se dinheiro e vamo-nos embora. Quem é que quer estar num sítio onde não se consegue pagar a renda? Foi o que aconteceu em Nova Iorque, os artistas que tinham os seus lofts em Tribecca para onde é que foram? Essa realidade como centro nas cidades deixou de existir. Foi assim no Maxime, começou a ter problemas por causa de um hotel. O que se passa com o cabaret do filme — a questão do barulho — de facto aconteceu por causa da explosão do turismo. Uns tipos ao lado, de um hotel, começaram a fazer queixa. Tivemos de meter uma máquina de medir decibéis, acabávamos sempre na esquadra às tantas da manhã. . . A realidade, então. Neste filme, tal como em Bobby Cassidy [2009], documentário sobre um boxeur, e tal como no documentário sobre Camané, a realidade é um ecrã em branco que recebe a vivência dos filmes. Bobby Cassidy era um documentário sobre um boxeur, mas era preenchido com a nossa memória do cinema americano dos anos 1970. Em Cabaret Maxime, sobre o Cais do Sodré projecta-se Nova Iorque, o Cassavetes de A Morte do Apostador Chinês ou o Coppola de Cotton Club ou Do Fundo do Coração. Não se trata de citar; o cinema começou antes, quando se viveu. Imagino que quando viveu a sua experiência do Maxime já estava a viver um filme. Percebo. Se pensarmos que crescemos nos anos 70 a ver filmes, se pensarmos no tempo que passámos dentro de uma sala escura, é difícil isso não mexer com a vida real. É desses filmes que vem a sensação de um mundo que acabou, a solidão masculina. . . A Man Alone, o Taxi Driver [Martin Scorsese, 1977], esses filmes todos. Michael Imperiolli, Camané. . . há pontos de contacto. No Camané é também a procura da verdade, é a honestidade existencial. . . A geração dos que têm 50 anos agora é a geração dos que viveram o existencialismo dos anos 70, anos sem Internet, com personagens perdidas. Onde é que hoje há uma personagem como o Travis Bickle [Robert De Niro em Taxi Driver]? A minha geração apanhou isso, e o fim de Nova Iorque — como de Lisboa agora. Para mim, isso é mau. Leiam o artigo recente do New York Times sobre Lisboa. O filme é isso. Onde é que as pessoas sem dinheiro vão viver em Lisboa? Quando os sítios acabam, pode ficar a alma — continuamos a existir, mas isolados. Perdi um loft em Nova Iorque onde vivi 15 anos, não tinha dinheiro para o pagar. Vamos explorar essa relação entre Imperioli e Camané. . . É emoção, é interior, é verdadeiro. É a verdade da personagem e a relação com o amor. No Camané tem que ver com a maneira como ele canta, até onde vai, ao fundo. O cinema é isso, ir até ao fundo. No caso de Imperioli, é o olhar. É o olhar dele que dá existência às cenas, elas começam e acabam com o olhar. Há alguém no filme que diz que o que ele vê está na cabeça dele, se calhar não existe fora dele. Ponho-me sempre à mercê da personagem ou do actor. É a minha escolha. Não faço um cinema objectivo. Sirvo quem estou a filmar. O Michael fez um trabalho incrível sobre a personagem, fez pesquisa — arranjou até um perfume próprio para a sua personagem. O que é que lhe interessa naquele trio, Imperioli, Ventimiglia, Padrão?Eu estou na personagem da Ana Padrão, ela representa-me mais do que tudo: a insegurança, os medos. Na minha vida sou a personagem do Michael, o gajo que realiza e que faz as coisas — há muitas coisas que ele baseou em mim —, interiormente sou a Ana Padrão. Estou espalhado pelos dois. O John é o mestre-de-cerimónias, é o espectáculo com as suas piadas desfasadas, é um alcoólico, à margem. Estas personagens são comentários à nossa existência. Somos todos um bocado o Veebie [mestre-de-cerimónias]. Mas não quero forçar, não quero indicar nada ao espectador. É sempre bom quando se tira um diálogo e se põe outra coisa. É como os planos do Michael e da Ana a olharem um para o outro. Se o filme for todo fechado com ganchos, não se imagina nada. O efeito ecrã em branco é o grande cinema, seja Cassavetes, Fassbinder, Michael Powell, Oliveira ou Fernando Lopes: ter espaço para entrar num filme e sentirmo-nos nós. A ideia de grupo, de família, é essencial. A sequência final é belíssima, ilumina o que vimos, confirma o que vínhamos sentindo: que tudo é a dinâmica de um grupo de pessoas que no final surgem despidas dos seus adereços, que se impõem a tudo o que aconteceu antes, aos tiros, por exemplo; por isso, se calhar, nada do que vimos antes aconteceu, foi imaginado. A cena do jantar é o everything makes sense. É o amor, no sentido mais amplo e filosófico: amar o que se faz. O Cassavetes falava disso: o importante é a paixão com que fazemos as coisas. Tudo o que ali está é nosso. O Ventimiglia tirar a cabeleira no final foi ideia dele. Eu não percebia, lutei contra isso, mas depois percebi que ele tinha razão. Sobre a imaginação: diria que quando o filme começa e o Michael olha para a rua, aí é real. E tudo acaba no realismo também. Mas entre uma coisa e outra. . . . . . o filme cria a sua realidade. . . estabelece um pacto com o espectador, um espaço ficcional e mental em que o inglês, por exemplo, não é apenas a língua em que os actores falam para todos falarem a mesma língua, é parte da ficção, é a sua realidade. Escrevi-o assim, saiu assim. Se fosse um filme em português, seria outra coisa, seria realismo, isso não me interessava. O cinema para mim é uma linguagem pura, autónoma. Não me preocupa muito a língua dos diálogos. Houve uma altura em que estava ligado ao [nova-iorquino] Wooster Group, e havia exercícios que a Elizabeth LeCompte [directora] fazia com os actores: projectava filmes japoneses e obrigava os actores a, sem lerem o guião, falarem do filme. A personagem chama-se Bennie Gazza. Não receou esse jogo — com o nome do actor Ben Gazzara — demasiado óbvio?Não. Foi uma homenagem. O filme tem algumas semelhanças [com a Morte do Apostador Chinês, John Cassavetes, 1976], mas é algo diferente. No filme do Cassavetes, a personagem do Gazzara morre porque gosta do clube, gosta da independência. Daí a homenagem. O Gazzara é o nosso actor favorito. A relação com o Gazzara: fi-la sobretudo com o olhar e os silêncios transbordantes de Michael Imperioli, como o Gazzara perante Audrey Hepburn em They All Laughed [Peter Bogdanovich, 1982]. Ele estava apaixonado por ela. Isso não se fabrica. Eu estava inseguro: será que passa para as pessoas o sentimento? Até porque havia quem me dissesse: “Mas o Michael não faz nada, está sempre a olhar. ” Todas as cenas de diálogo entre o Michael e a Ana tinham três páginas. Tirei tudo. Sente-se que há uma história com este casal, que é um peso, que sobrevivem a isso. Eu tenho a história de cada um deles, desde o nascimento até à morte. Por exemplo, o Bennie cresceu numa família ligada à máfia, perto de Nova Iorque. Fez merda quando era puto, foi obrigado a fugir para uma cidade europeia. Conhece o Veebie num barco, é um cantor de cruzeiros, não sabe para onde ir, e o Michael faz um bocado de pai dele. Conhece a Stella em Amesterdão, é uma holandesa portuguesa. No historial deste casal está um grande problema: queriam ter um filho e não conseguiram. O que é que aquele cabaret quer? Continuação. Os seus pais pertenciam à Comissão de Classificação de Espectáculos. . . De 1975 a 1977 íamos todos os dias ao cinema e apanhei coisas que não devia ter visto. Às vezes diziam-me para eu sair da sala, quando eram coisas como o Emmanuelle, mas eu ia para a cabine do projeccionista espreitar. Gostava de fazer um filme mais erótico, mas ainda não sei como. O sexo no cinema é complicado. Sou pudico. A minha mãe era obcecada por cinema, e a RTP também tinha coisas maravilhosas. Os amigos dela eram cineastas. Lembro-me de ter visto Taxi Driver, Hardcore [Paul Schrader, 1979], Serpico [Sidney Lumet, 1973]. . . não conheço outra realidade. Depois fui para Nova Iorque. . . Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. . . . onde experimentou que a realidade já era cinema. Sim, nada era estranho, conhecia tudo — do cinema. Andava por aquelas ruas, prédios devolutos, a poética do flâneur, e sentia a solidão do Travis Bickle. Como senti em Lisboa por alturas do Lovebirds. Aconteceu o mesmo em Itália, por causa do cinema italiano. A realidade eram aquelas imagens. Lembro-me de quando vi no Condes O Homem Que Matou Liberty Valence [John Ford, 1962]. Não percebi nada, mas apaixonei-me pelo John Wayne. Quando aconteceu o 25 de Abril, os meus pais eram de esquerda, fomos para a rua. A minha mãe tinha trazido dos EUA um fato de cowboy, com o colete e o chapéu e a pistola de plástico, e assim me vesti e fui para o [Largo do] Carmo. Às tantas, um soldado no seu Chaimite diz-me: “Seu imperialista!” “Eu, eu sou o John Wayne!”A sua experiência da realidade vem do cinema?Eu e as pessoas com quem me dou fomos moldados por códigos dados pela arte, pela música, pelo cinema. Quando comecei a fazer filmes, via filmes a mais. Fiz um esforço para me libertar dos exercícios de estilo — por exemplo, A Dívida [1993]. Nunca tive muitos amigos, sempre fui introvertido, sempre existi muito pelo cinema. Ultrapassei isso, mas mesmo hoje, quando conheço uma mulher, e por mais que o evite, dou por mim a dizer-lhe: “You know you have beautiful eyes. ” Sei de onde é que isso vem. Vem do Taxi Driver.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Portugal e China vão construir pequenos satélites em conjunto
Laboratório criado pelos dois países terá um investimento de 50 milhões de euros nos primeiros cinco anos, metade deste dinheiro será assumido por Portugal com fundos públicos e privados. (...)

Portugal e China vão construir pequenos satélites em conjunto
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.25
DATA: 2018-12-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Laboratório criado pelos dois países terá um investimento de 50 milhões de euros nos primeiros cinco anos, metade deste dinheiro será assumido por Portugal com fundos públicos e privados.
TEXTO: A visita oficial a Portugal do Presidente da China, Xi Jinping, em Dezembro, será marcada pela criação entre os dois países de um laboratório conjunto de investigação e desenvolvimento tecnológico para o espaço e para os oceanos. Irá chamar-se STARLab e a sua criação foi anunciada esta terça-feira pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor. Neste laboratório pretende-se desenvolver tecnologias e sistemas de engenharia para melhorar o conhecimento, a gestão e a exploração sustentável dos oceanos e do espaço, esperando-se que promova ainda a abertura de centros de investigação em Portugal e Xangai (China). “Será um centro que tem como objectivo a concepção e construção de micro e nanossatélites, que terá um investimento a cinco anos de 50 milhões de euros”, disse ao PÚBLICO Manuel Heitor. Desses 50 milhões de euros, metade será assegurada pela China e a outra metade por Portugal. “A metade portuguesa do investimento será pública e privada”, acrescentou o ministro, explicando que a parte pública do financiamento será assumida pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT, tutelada pelo Ministério da Ciência) e a parte privada por um consórcio entre a empresa Tekever, que trabalha na área do espaço, e o CEiiA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto, em Matosinhos), que trabalha na área dos oceanos. “É um investimento chinês em Portugal. A China está neste momento a construir um outro laboratório semelhante no Luxemburgo”, nota Manuel Heitor. “O centro é importante porque teremos acesso às tecnologias desenvolvidas na China. ”Para já, do lado chinês, o STARLab contará assim com a participação do Instituto de Microssatélites da Academia de Ciências Chinesa (que nos últimos 15 anos foi responsável pelo lançamento de quase 40 satélites para missões científicas) e do Instituto de Oceanografia da Academia de Ciências Chinesa. Do lado português, além da FCT, da Tekever e do CEiiA, a actividade do laboratório deverá envolver também universidades e centros de investigação, frisa um comunicado de imprensa do Ministério da Ciência. Este projecto, especificou Manuel Heitor, resultou de um protocolo de cooperação assinado há cerca de um ano e meio entre a Tekever (que trabalha na área dos drones e da robótica de baixa altitude) e a Academia de Ciências Chinesa. Agora a Tekever quer expandir-se para a construção de pequenos satélites. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O laboratório deverá começar a funcionar em Março do próximo ano e terá dois pólos em Portugal – um em Matosinhos e outro em Peniche, onde os pequenos satélites serão fabricados. Os objectivos do STARLab “estão alinhados”, segundo o comunicado de imprensa, com a criação do Centro Internacional de Investigação do Atlântico (AIR Centre), que irá olhar para espaço, atmosfera, oceanos, clima, energia e ciência de dados de forma integrada. “O STARLab possui metas a nível científico que passam pelo estudo de fenómenos naturais e os seus potenciais impactos sistémicos e ambientais. Para tal, prevê o desenvolvimento de soluções tecnológicas baseadas, nomeadamente, em microssatélites e na sua integração com plataformas de exploração do mar profundo”, refere ainda Manuel Heitor, citado no comunicado. “Ao mesmo tempo, irá fortalecer uma parceria de longo prazo entre a China e Portugal nas áreas da ciência e tecnologia, passando a ser uma entidade de referência na Europa de colaboração com a Academia de Ciências Chinesa. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave estudo chinês
Kim Jong-un não é louco nem irracional e é isso que o torna mais perigoso
A Coreia do Norte precisa de convencer americanos, japoneses e sul-coreanos de que é louca. (...)

Kim Jong-un não é louco nem irracional e é isso que o torna mais perigoso
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.23
DATA: 2017-04-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Coreia do Norte precisa de convencer americanos, japoneses e sul-coreanos de que é louca.
TEXTO: Numa entrevista à Reuters, disse o presidente Donald Trump: “Há a possibilidade de acabarmos por ter um conflito maior, maior, com a Coreia do Norte. ” Não surpreendeu ninguém. Apenas se percebeu que não tem nenhuma “boa opção”. Observou há dias o New York Times que se forja na Coreia do Norte “uma crise dos mísseis cubanos em câmara lenta”. O mundo enfrenta, de facto, a maior crise nuclear desde 1962. Trata-se de duas crises distintas e de que temos percepções contraditórias. É sobre isto que hoje escrevo. Em 1962 houve uma prova de força entre as superpotências que terminou num compromisso entre Kennedy e Khrustchov. Na crise norte-coreana é o “fraco” que desafia o “forte”. Não se vê nenhuma perspectiva de negociação. Para os americanos, a negociação depende de Pyongyang suspender e depois renunciar ao seu programa nuclear. A Coreia do Norte aceita negociar tudo menos o nuclear. O regime dos Kim fez do nuclear uma questão existencial. Por mais prémios que lhe prometam, está determinado a concluir o seu arsenal. Explica que o nuclear não é moeda de troca. Tem o desígnio de dispor de mísseis e bombas miniaturizadas com que possam atingir os EUA: para então negociar a paz, entre potências nucleares. À exibição de megalomania Kim Jong-un acrescenta um quadro de apocalipse. Ao risco de um ataque preventivo responde com a ameaça de transformar a Coreia do Sul num “mar de fogo”. Não escaparão os militares americanos no Sul, nem o Japão e o Hawai. Caminhamos para a fase em que um erro de cálculo sobre o inimigo pode levar a uma catástrofe nuclear. A História dá-nos exemplos destes equívocos. A opinião pública ocidental — e também a japonesa e a de outros países da região — tem por vezes uma percepção falsa de Kim e da elite norte-coreana: o mito da irracionalidade. Choca-nos a imagem do “menino gordo”, que, em vez de legos, brinca com bombas atómicas. Num plano mais sério, muitos políticos e diplomatas decretaram a irracionalidade do regime para justificar a dificuldade de lidar com ele. “Não estamos a lidar com uma pessoa racional”, desespera-se Nikki Haley, embaixadora americana na ONU. O mesmo repete o senador John McCain. É uma ideia fixa em muitos diplomatas: só gente irracional trocaria substanciais incentivos económicos pelo prestígio da bomba nuclear, para mais num país muito pobre. Paradoxal parece o facto de serem os Kim quem deliberadamente alimenta esta imagem, o que deveria suscitar mais interrogações. Há anos que analistas avisam que a Coreia do Norte é um “Estado-vilão”, que não recua perante nenhum crime, ao qual podem aplicar todos os adjectivos menos o de “irracional”. Para a Coreia do Norte é útil “parecer irracional”, anota o analista americano George Friedman. Precisa de convencer americanos, sul-coreanos, japoneses, russos e chineses de que é altamente perigosa. “Mas a aparente irracionalidade do regime tem ser calibrada de modo a que a periculosidade da Coreia do Norte não seja credível ou iminente, excepto no caso de um ataque preventivo. ”Os norte-coreanos sabem tirar partido do seu “ilimitado potencial de caos”, a começar pelas catastróficas consequências de um colapso do regime. É a capacidade de desestabilizar em cadeia toda a região do Pacífico Norte, a que agora acrescenta a ameaça do terror atómico. A aposta no nuclear remonta ao tempo de Kim Il-sung, avô do actual líder e fundador do regime. Foi travado na altura pela União Soviética, de que dependia. O projecto foi relançado no início dos anos 1990 por Kim Jong-il, quando o país sofria uma vaga de fome que matou dois milhões de pessoas. O desígnio do nuclear é garantir a sobrevivência do regime da família Kim. Defesa perante a ameaça externa, tema de mobilização e forma de legitimação política no interior. O regime não teme apenas os americanos, mas também conspirações militares ou uma revolta popular: a fome desencadeou um vasto motim de soldados. Para consolidar o poder, Kim Jong-un procedeu a uma sangrenta depuração dos comandos militares. E, por paranóia, mandou matar o meio-irmão na Malásia. Por ser um Kim, poderia ser usado por inimigos, coreanos ou até chineses. Em 1994, os norte-coreanos assinaram um acordo (Agreed Framework) com a Administração Clinton, aceitando o congelamento do nuclear e as inspecções internacionais, em troca de “incentivos económicos”. Receberam os fundos e as ajudas, prosseguindo em segredo o nuclear. Foi uma tábua de salvação para os Kim. A utilidade desta discussão é saber quem são Kim Jong-un, a família e a elite dirigente de Pyongyang. Serão paranóicos como a generalidade dos tiranos. Mas não são loucos. Fazem um teatro de loucura: “Dêem-me o que eu quero senão morremos todos. ” Por trás da máscara sabem calcular racionalmente, ainda que a sua racionalidade possa não ser a nossa. A racionalidade dos Estados consiste em defender friamente os seus interesses e a sua sobrevivência. É uma velha questão na política e nas relações internacionais. Maquiavel, falando dos romanos, observou que às vezes “é sapientíssimo passar por louco”. Não era um conselho mas uma mera constatação. Ao contrário, Richard Nixon elaborou uma “teoria do louco”. Se passasse por louco, isto é por impulsivo e imprevisível, poderia assustar o adversário. Pediu a Kissinger que dissesse aos norte-vietnamitas: “O meu chefe é louco. ” Os norte-vietnamitas ter-se-ão rido do estratagema. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Conclusão: a Coreia do Norte é hoje, de facto, uma potência nuclear. Mas isso muda as regras do jogo. O problema norte-coreano deixa de ser uma questão de não proliferação, passando para a esfera da dissuasão. É uma nova paisagem estratégica em que a China ocupa um papel central — será tema de outro texto. Foi um racional caminho de astúcias e de violação das leis internacionais que elevou a Coreia do Norte ao novo patamar. Mas passou uma “linha vermelha”. A partir do momento em que se torna credível a capacidade de atingir o território continental americano, cria uma situação que Washington não pode tolerar. Não há nenhuma boa opção para americanos e chineses. Mas o statu quo tornou-se dificilmente sustentável. Muitas tragédias da História não tiveram origem em loucos mas em cálculos errados de políticos tidos como racionais e em estratégias cheias de lógica. Hoje, os Kim estão amarrados ao seu nuclear. Perdê-lo poderá ser o fim do regime, com ou sem cataclismo. A racionalidade dos Kim tornou o mundo mais perigoso.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU EUA
Marcelo convidado de honra em jantar de aniversário privado de João Lourenço
Em poucos meses, as relações entre Portugal e Angola descongelaram. E tornam-se, aliás, muito calorosas (...)

Marcelo convidado de honra em jantar de aniversário privado de João Lourenço
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-08 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em poucos meses, as relações entre Portugal e Angola descongelaram. E tornam-se, aliás, muito calorosas
TEXTO: O Presidente de Angola, João Lourenço, vai ter um convidado especial no seu jantar de aniversário, no dia 5 de Março de 2019: o chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República chega nesse dia a Luanda para uma visita oficial de três dias a começar no dia 6. E a escolha de datas não foi um acaso. Lourenço dirigiu o convite a Marcelo Rebelo de Sousa, na visita que fez a Portugal em Novembro, de modo a que o Presidente português participasse, a título pessoal, no jantar de aniversário, que não constará da agenda oficial, a qual arranca só no dia seguinte. O anúncio das datas foi feito pelo próprio Presidente angolano, no final de um almoço no Palácio de Belém, no dia 24 de Novembro. "Convidei o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a visitar Angola no período de 6 a 8 de Março de 2019, com chegada a 5 do mesmo mês", disse João Lourenço, referindo-se sem o nomear explicitamente ao dia em que completa 65 anos. Dias antes, Marcelo Rebelo de Sousa havia confessado que "adoraria" ser convidado para ir a Luanda pelo seu homólogo e que iria "na primeira ocasião" em que surgisse o convite. "Marquem a data que eu vou já!", tinha dito, em entrevista à Rádio Nacional de Angola, Marcelo Rebelo de Sousa, que é conhecido em Angola por "Ti Celito". "Noutro dia o senhor Presidente João Lourenço disse-me baixinho (estávamos na cimeira do Sal da CPLP): sabe como é que é chamado cá? Não, não sei! Ti Celito! Ai é? É! Quando lá foi, criou-se uma expressão carinhosa, no sentido de as pessoas gostarem de si. . . ", contou ainda o Presidente português. A 9 de Março, já após o regresso de Luanda, Marcelo comemora o terceiro aniversário do seu mandato presidencial. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Esta semana, durante a visita de 24 horas do Presidente chinês, Xi Jiping, a Lisboa ficou também acertado que Marcelo Rebelo de Sousa fará uma visita de Estado à China, em Abril do próximo ano, para participar na segunda edição do fórum "Uma faixa, Uma rota" e para retribuir a visita do seu homólogo. Entretanto, o PÚBLICO apurou que o Presidente da República tenciona organizar um Conselho de Estado em torno das questões da interioridade. A data desta reunião ainda não está marcada, mas deverá realizar-se também durante o ano de 2019. com L. B.
REFERÊNCIAS:
Entidades CPLP
Fórum do futuro regressa ao passado para questionar o presente
Ágora club é o título da 5.ª edição do programa, que vai decorrer de 4 a 10 de Novembro. “Por que razão não nos conseguimos libertar do cânone da Antiguidade?” – é a pergunta a que vão responder mais de meia centena de convidados de todo o mundo. (...)

Fórum do futuro regressa ao passado para questionar o presente
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.08
DATA: 2018-10-13 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181013140819/http://publico.pt/1847041
SUMÁRIO: Ágora club é o título da 5.ª edição do programa, que vai decorrer de 4 a 10 de Novembro. “Por que razão não nos conseguimos libertar do cânone da Antiguidade?” – é a pergunta a que vão responder mais de meia centena de convidados de todo o mundo.
TEXTO: Houve um tempo em que a ágora, em Atenas, ou o fórum, em Roma, eram os lugares próprios para a manifestação da cidadania, o espaço público por excelência, em que se discutiam as questões sociais e políticas, mas também se faziam os julgamentos populares. Essa tradição, e toda a cultura que lhe está associada e que genericamente designamos como Antiguidade Clássica, tornou-se o cânone do Ocidente. “Por que razão não nos conseguimos libertar do mito e desse cânone?”. A pergunta é de Guilherme Blanc, comissário do Fórum do Futuro, e foi sobre ela que elaborou o programa da 5. ª edição desta iniciativa da Câmara Municipal do Porto que vai decorrer em diferentes palcos da cidade entre os dias 4 e 10 de Novembro. O tema do fórum é, este ano, Ágora club, precisamente a recuperar o espírito desse lugar e desse tempo antigo, criando a oportunidade para o Porto “se confrontar com nomes fundamentais do pensamento contemporâneo e descobrir alguns discursos que marcam a produção de conhecimento actual, na arte, nas ciências sociais e humanas, e não só”, disse o presidente da autarquia, Rui Moreira, na apresentação do programa, na manhã desta quarta-feira, no Teatro Rivoli. Com um calendário que vem crescendo anualmente em número de convidados estrangeiros – este ano serão 52, de 17 países – e em orçamento (225 mil euros), a iniciativa lançada em 2014 pelo antigo vereador da cultura Paulo Cunha e Silva (1962-2015) vai nesta edição contar com a participação de artistas, performers, músicos, compositores, dramaturgos, filósofos, cientistas, economistas, arquitectos, documentaristas… E, mais do que conferências – “O fórum nunca foi pensado como uma conferência; o país sofre de conferencite aguda, e nós quisemos ir numa direcção diferente”, justificou Rui Moreira –, vai ter encontros, “art talks”, concertos, teatro, cinema, almoços-palestras, performances. . . Guilherme Blanc apresentou detalhadamente o programa de Ágora club, realçando que ele vai abrir e fechar, à imagem do teatro grego, em vários actos. No dia 4, no Rivoli, depois de uma intervenção do artista libanês Ali Cherri, Water blues, a reflectir sobre “o poder que a lama exerce sobre nós”, e de um vídeo do chinês Guan Xiao, Hidden Track, uma das integrantes da banda russa Pussy Riot, Nadya Tolokonnikova, irá falar sobre o activismo artístico na Grécia Antiga e de como “a essência da sabedoria reside na acção”. A fechar, no dia 10, no mesmo teatro municipal, além de um novo vídeo de Xiao, sobre a famosa estátua de Miguel Ângelo, David, pretexto para falar da reciclagem da iconografia clássica no nosso tempo, a arquitecta e curadora catalã Eva Franch irá falar de ruínas, e o escritor e jornalista indiano Pankaj Mishra irá reflectir sobre "a Ásia na era pós-ocidental". Durante a semana, e à razão de três a cinco sessões diárias, poder-se-á acompanhar as visões e reflexões de vários convidados de renome. Por exemplo, do astrofísico suíço Michel Mayor (dia 5), o primeiro a detectar a existência de um planeta fora do sistema solar, a teorizar sobre como a evolução tecnológica nos poderá fazer aceder (ou ainda não) à existência de vida noutros planetas. Na terça-feira, dia 6, o colectivo britânico Art & Language, em diálogo com Carles Guerra, director da Fundação Antoni Tapies, abordará a possibilidade de diálogo entre a arte contemporânea e a retórica da Antiguidade. No dia seguinte, o Porto receberá a primeira visita portuguesa do arquitecto japonês Toyo Ito, Prémio Pritzker em 2013, a analisar como intervir e reconstruir ruínas resultantes de desastres naturais na perspectiva de um novo modelo para o espaço público. Ainda na terça-feira, o Teatro Carlos Alberto acolhe o dramaturgo britânico Martin Crimp, em resultado da habitual parceria do Fórum do Futuro com o Teatro Nacional São João (TNSJ). No Rivoli, Nuno Carinhas, que em Março de 2019 irá encenar a peça The Rest Will Be Familique To You From Cinema, que Crimp escreveu a partir de As Fenícias, de Eurípedes, explicou que esse encontro será uma oportunidade para avaliar a relação que o teatro contemporâneo ainda mantém com a dramaturgia clássica. Também Serralves é parceira habitual do fórum, e este ano propôs a vinda de Christian Boltanski (dia 8). Apresentado por Denise Polini, coordenadora do Serviço Educativo da fundação, o artista francês (representado na colecção do MACS) irá falar no museu sobre “a transmissão”, ou seja, de como as obras de arte se constituem como “memória e conhecimento de um dado momento histórico”. No mesmo dia, a escritora canadiana Margaret Atwood, autora de A História de Uma Serva ( The Handmaid’s Tale no original), revisitará o papel da mulher no mito clássico à luz da sua própria obra. Já o filósofo e curador espanhol Paul B. Preciado (dia 9) irá “esboçar uma genealogia das mudanças do regime patriarcal arcaico” até à actual configuração dominada por aquilo que designa como “tecnologias de poder farmacopornográficas”. E, de regresso ao Porto – onde, no ano passado, foi o compositor em residência no Ano Britânico na Casa da Música –, Sir Harrison Birtwistle abordará com a jornalista-editora de Cultura do jornal The Guardian Charlotte Higgins as relações do mito com a música. António Jorge Pacheco, director artístico da Casa da Música, antecipou que o compositor britânico aproveitará a ocasião para dirigir também um workshop com voluntários sobre como trabalhar um coro grego na representação de uma tragédia. A atravessar o programa da semana, a artista romena Alexandra Pirici irá apresentar, nos dias 7, 8 e 9, no Pátio das Nações do Palácio da Bolsa, a “performance contínua” Parthenon Marbles, a inquirir o tema da pilhagem patrimonial no decorrer da História. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Já a Mala Voadora repete também a ligação ao fórum, primeiro (dia 6), com um almoço-palestra do arqueólogo alemão Vinzenz Brinkmann a explicar como a perda das cores originais das esculturas da antiguidade mudou a nossa percepção da sua originalidade. O colectivo portuense aproveita também a ocasião para assinalar (dia 9) os seus 15 anos (e cinco anos de instalação na actual sede na Rua do Almada) com uma performance-instalação intitulada As Metamorfoses de Ovídeo, com que se propõe “recriar a história do mundo através de um conjunto de corpos pintados”, num elogio da “instabilidade das formas”, como referiu o seu co-fundador Jorge Andrade. O programa completo do Fórum do Futuro 2018 pode ser consultado aqui.
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
A loja que transformou os telemóveis e o software
Há uma década, a Apple lançou uma loja de aplicações para o iPhone. Começava uma nova era para programadores e consumidores. (...)

A loja que transformou os telemóveis e o software
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181229195908/https://www.publico.pt/n1837420
SUMÁRIO: Há uma década, a Apple lançou uma loja de aplicações para o iPhone. Começava uma nova era para programadores e consumidores.
TEXTO: Em Janeiro de 2007, momentos antes de mostrar o primeiro iPhone, Steve Jobs repetiu e voltou a repetir em palco: a Apple ia lançar um iPod, um “telemóvel revolucionário” e um “inovador dispositivo de comunicação na Internet”. A surpresa ensaiada para uma plateia que já começava a rir e a aplaudir as frases repetidas de Jobs era que, afinal, tudo aquilo era um só aparelho. O iPhone era aquelas três coisas e até um pouco mais: dos SMS à bolsa, passando pelos mapas, pela meteorologia e pelo YouTube, tinha 16 aplicações. E nem mais uma. Em retrospectiva, o iPhone foi revolucionário. Com o seu grande ecrã sensível ao toque, conseguiu ser bem-sucedido onde muitos falharam: trouxe uma interface fácil de usar, capaz de aliciar consumidores e de transformar o telemóvel num computador de bolso. Empresas como a Nokia, a BlackBerry e a Microsoft tinham tentado o mesmo, mas o sucesso dos seus produtos foi mais limitado. Naquela altura, o impacto do iPhone não era óbvio: as críticas foram cautelosas e tornou-se famoso o desprezo do então presidente da Microsoft, Steve Ballmer, por um telemóvel sem teclas. Poucos anos depois, os telemóveis com teclados físicos eram objectos do passado. O primeiro iPhone foi, porém, apenas uma das peças da engrenagem que transformou o telemóvel no mais pessoal e versátil dos dispositivos electrónicos. Uma segunda peça surgiu no ano seguinte. Foi em Março de 2008 que Steve Jobs subiu novamente ao palco, numa apresentação seguida pela imprensa com uma atenção devota. Anunciou uma nova loja virtual, que permitia aos clientes “descarregar aplicações móveis, sem fios, directamente para o telemóvel e usá-las imediatamente”. Alguns anos antes, a Apple começara a transformar o sector discográfico ao criar a loja de música no iTunes, que permitia comprar canções individuais. Agora, preparava-se para fazer algo semelhante ao sector do software. A ideia de Jobs era quebrar as barreiras entre programador e consumidor. “O vosso sonho”, disse Jobs aos criadores de software naquela apresentação há dez anos, “é mostrarem-se a cada utilizador de iPhone, e com sorte eles vão gostar e comprar, certo?” Certo. O conceito não era novo, mas foi a Apple que o executou com melhores resultados. A App Store foi lançada a 10 de Julho de 2008. Simplificou e popularizou o conceito de procurar, instalar e experimentar um pequeno programa quase instantaneamente. A loja, com as aplicações divididas por categorias e com listas das mais populares, era uma montra eficaz para programadores irem ao encontro de potenciais consumidores. O processo de compra era simples: bastavam uns toques no ecrã e a aplicação começava a ser descarregada. O custo era debitado no cartão de crédito. As aplicações eram inspeccionadas antes de serem postas à venda, garantindo assim que não havia conteúdos impróprios (de acordo com os padrões da Apple) ou software malicioso. No geral, era mais simples, mais seguro e mais barato do que a experiência de comprar software algures na Internet. O que hoje parece banal era uma novidade que levava muitos consumidores a percorrerem a loja em busca do que queriam descarregar: uma lanterna, um jogo, um livro de um autor clássico, um nível de bolha de ar. Por essa altura, uma aplicação que era um copo de cerveja que se podia esvaziar inclinando o telemóvel – a brincadeira terminava com o copo vazio e um arroto – custava 79 cêntimos. Não faltou quem a comprasse. 2008-2010 Facebook, Twitter e Skype lideram o pódio de aplicações mais descarregadas. 2011 O Instagram entra no top 10. O Bump – uma aplicação que permitia trocar fotografias e contactos entre dois telemóveis – também liderou este ano. Foi comprado pelo Google em 2013, mas entretanto foi descontinuado. 2012 Aplicações de namoro como o Badoo e o Tinder tornam-se populares. O YouTube deixa de ser uma aplicação pré-instalada. 2013 Dois anos depois do lançamento, o Snapchat, uma aplicação que nasceu para trocar mensagens privadas que desaparecem ao fim de 24 horas, entra pela primeira vez no top 10. 2014 O Facebook lança o Messenger, uma aplicação exclusiva da rede social para mensagens, e ascende ao topo do pódio. A Apple lança o Apple Pay, o seu sistema de pagamento através telemóvel. 2015 Aplicações de subscrição como o Spotify e o Hulu tornam-se aquelas em que os consumidores mais dinheiro gastam. O Messenger, do Facebook, mantém o primeiro lugar nas aplicações mais descarregadas. 2016 O Netflix torna-se a segunda aplicação em que as pessoas mais gastam dinheiro na App Store. O serviço de streaming chinês iQIYI junta-se ao top 10 de aplicações com maior facturação. 2017 A Apple remodela o visual da App Store, tornando a experiência mais pessoal para cada utilizador, com recomendações de produtos e a possibilidade de encomendar acessórios para o iPhone. 2018 O Netflix torna-se a aplicação que mais factura. A aplicação chinesa Tik Tok – uma plataforma para partilhar pequenos vídeos – ascende ao topo das aplicações mais descarregadas do mundo. Impulsionadas pelas orientações da Apple, as aplicações eram criadas com uma estética própria, que marcou aqueles tempos e se espalhou pelo resto da Internet, adoptada por inúmeros sites: efeitos tridimensionais, sombras, costuras e texturas a simular couro, madeira ou tecido. Um botão numa aplicação de lanterna tinha um aspecto metálico. Um bloco de notas simulava folhas de papel. O sucesso levou empresas como o Google e a Amazon a criarem as suas próprias lojas de aplicações. Logo em 2008, surge o Android Market, a loja do Google para aparelhos Android e que deu origem ao actual Google Play. Os telemóveis com Android, no entanto, eram então muito menos sofisticados e menos populares que o iPhone. Durante os primeiros anos, o Android Market era caótico comparado com a loja rival. Muitas das aplicações mais populares eram desenvolvidas primeiro – ou exclusivamente – para o iOS, da Apple. Com os anos, e com o aumento de popularidade dos aparelhos Android, a realidade mudou. Em 2018, quando se fala em quantidade de aplicações, a loja do Google é a vencedora. Há 3, 8 milhões de aplicações disponíveis para estes aparelhos, quase o dobro da loja da Apple. No total, 30% das aplicações descarregadas em 2018 vêm da App Store (os telemóveis com o sistema operativo do Google dominam o mercado dos smartphones, com uma fatia de 85%, segundo dados da analista IDC). Mesmo com menos utilizadores e menos aplicações, é a loja de aplicações da Apple que mais receitas consegue: 66% do total de dinheiro que é gasto em aplicações em todo o mundo é gasto na App Store. Os números são da analista especializada App Annie, que nota que a fatia da Apple na facturação com aplicações tem diminuído nos últimos anos (em 2012, era 84%), mas nunca caiu abaixo dos 60%. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Parte do sucesso, vem do modelo de subscrição que a App Store introduziu em 2011 e que permite fazer pagamentos recorrentes para usar um serviço. Há mais de 28 mil aplicações com este modelo, incluindo o Tinder, o Linkedin e o Netflix. A última é a que gera mais dinheiro para a App Store. A variedade no pódio é pouca: as dez aplicações mais descarregadas de todos os tempos são quase todas serviços de mensagens ou redes sociais (a excepção é a aplicação de mapas do Google). Destas, quatro pertencem ao Facebook: a aplicação oficial da rede social, o Instagram, o Messenger e o WhatsApp. Nos últimos dez anos, os utilizadores deixaram mais de 130 mil milhões de dólares (perto de 110 mil milhões de euros) em aplicações pagas. Só em 2017, foram gastos 42 mil milhões de dólares, e isto não inclui aplicações pagas por subscrição. Durante esta década, a loja cresceu de 500 aplicações, para um enorme mercado virtual com dois milhões de aplicações e mais de 500 milhões de visitantes a cada semana.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave social chinês
Samsung põe cinco câmaras num telemóvel de média gama
As configurações são ajustadas automaticamente, sem exigir conhecimentos técnicos por parte do utilizador. (...)

Samsung põe cinco câmaras num telemóvel de média gama
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: As configurações são ajustadas automaticamente, sem exigir conhecimentos técnicos por parte do utilizador.
TEXTO: A Samsung criou um telemóvel com cinco câmaras – uma na frente, para as selfies, e quatro na vertical na parte de trás – para tentar conquistar o mercado da média gama. Foi apresentado, esta quinta-feira, na Malásia. Para a empresa sul-coreana, o objectivo do novo Galaxy A9 é ajudar as pessoas que dependem dos aparelhos móveis para tirar e partilhar dezenas de fotografias na Internet todos os dias. Com o Galaxy A9, a marca é a primeira a colocar cinco câmaras num telemóvel. De acordo com a Samsung, porém, cada uma serve uma missão diferente: além da principal, com 24 megapixeis, há uma lente ultra grande-angular, uma teleobjectiva, e uma câmara de cinco megapixeis com um sensor de profundidade para criar fundos desfocados. Não é preciso ser-se um profissional para as manusear. O telemóvel usa inteligência artificial para analisar o cenário e ajustar as definições automaticamente. Por 599 euros, o Galaxy A9 também se dirige a todos os consumidores que não podem gastar valores que rondam os mil euros nos em topo de gama lançados anualmente. O mais recente da Samsung, o Note 9, que foi lançado em Agosto, custa 1099, 99 euros. O telemóvel estará disponível em Portugal a partir de Novembro. “Estamos a introduzir tecnologia de próxima geração em todo o nosso portfólio Galaxy, com o objectivo de oferecer a mais clientes a oportunidade de experienciarem tecnologia inovadora”, disse o presidente da divisão de comunicação móvel da Samsung, DJ Koh, na apresentação do aparelho. Além de inteligência artificial na câmara, o novo Galaxy A9 também vem equipado com um sensor de impressões digitais, e pode ser usado para fazer alguns pagamentos em lojas – funções comuns em telemóveis topo de gama. O ecrã de alta definição tem 6, 3 polegadas, e o telemóvel vem com 128 gigabytes de memória interna e um cartão microSD que pode suportar até 512 gigabytes de memória adicional (o suficiente para 16 mil fotografias ou mais de oito mil horas de música). Tal como a concorrente Apple, a empresa sul-coreana está a ver a concorrência a apertar na China, um mercado gigante onde estão a emergir várias marcas a preços mais acessíveis. Fabricantes como a Xiaomi, a OnePlus e a Huawei são exemplos. A Huawei arrancou a Apple do segundo lugar do pódio global entre Abril e Junho de 2018, de acordo com valores da consultora IDC, embora a diferença seja muito pequena. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A mudança de posição reflecte o crescimento da Huawei no mercado chinês e global. Embora a Samsung mantenha uma liderança confortável, com 71, 5 milhões de unidades e 23% do mercado, as vendas da marca sul-coreana, no entanto, caíram 10% no último ano. Em Portugal, os consumidores estão a gastar mais dinheiro em telemóveis, mas o número de aparelhos que compram é cada vez menor. Nos primeiros três meses de 2018, foram gastos, em média, 305 euros por telemóvel, mais 27% do que nos mesmos meses de 2017, mas foram vendidos menos 3% de unidades. De acordo com a IDC, a tendência é global, num mercado saturado. "Compreendemos a actual procura por inovações significativas num mundo sempre em movimento e impulsionado pela comunicação visual”, frisou DJ Koh durante o lançamento do Galaxy A9.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave chinês
“Se os dados são o petróleo, a inteligência artificial é o motor”
O presidente da Samsung ilustrou o potencial de transformação e de negócio dos sistemas inteligentes. Mas alertou para os riscos da tecnologia e para as muitas perguntas sem resposta óbvia. O PÚBLICO acompanha as principais ideias em debate na Web Summit. (...)

“Se os dados são o petróleo, a inteligência artificial é o motor”
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: O presidente da Samsung ilustrou o potencial de transformação e de negócio dos sistemas inteligentes. Mas alertou para os riscos da tecnologia e para as muitas perguntas sem resposta óbvia. O PÚBLICO acompanha as principais ideias em debate na Web Summit.
TEXTO: Que número poderá ser maior do que o de estrelas na nossa galáxia ou o número de neurónios no cérebro humano? O número de dispositivos que em breve poderão vir a estar ligados através da Internet em todo mundo – a resposta foi dada na Web Summit pelo presidente da Samsung, Young Sohn, para ilustrar o potencial de inovação e negócio num mundo cada vez mais conectado. A esta abundância de aparelhos ligados uns aos outros (aquilo a que o jargão do sector tem vindo a chamar de Internet das Coisas) junta-se uma quantidade de dados que cresce a cada dia e que podem ser dissecados por algoritmos, e ainda uma capacidade de computação que é cada vez maior e mais barata. Formou-se, disse Sohn, “a tempestade perfeita” para uma proliferação de inteligência artificial, uma tecnologia que “já anda por aí há 30 anos”, mas que promete agora transformar praticamente todos os sectores da sociedade e ser um novo motor económico. “Esta é mesmo uma oportunidade global para todos nesta sala. Não é só para os chineses, não é só para os EUA. Os dados são intangíveis e podem estar em qualquer ponto do mercado”, sublinhou Sohn, numa altura em que EUA, Europa e China estão numa corrida pelo desenvolvimento deste tipo de tecnologias e pela exploração das oportunidades de negócio associadas. O executivo lembrou que as maiores empresas deixaram de ser as petrolíferas e que esse lugar é agora ocupado por multinacionais tecnológicas. “Se os dados são o petróleo, a inteligência artificial é o motor”, disse. Sohn – que preside a um dos maiores grupos empresariais do mundo, cujos produtos vão de telemóveis a frigoríficos – afirmou que a inteligência artificial está a transformar a indústrias gigantes, como o fabrico de automóveis e a criação de novos fármacos. Mas fez questão de apontar riscos e incógnitas. Referindo-se aos muitos desafios éticos da tecnologia, perguntou: “Vamos criar mais ou menos empregos? Vamos ser mais diversificados ou vamos ter uma inteligência artificial mais estreita?”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As interrogações estão em linha com algumas das questões que já nesta segunda-feira, no mesmo palco, foram levantadas pelo secretário-geral das Nações Unidas. "Nas próximas décadas vamos assistir a uma grande quantidade de novos empregos criados, e uma grande quantidade de empregos destruídos. É impossível saber qual destes números será maior. É óbvio que a relação entre lazer, trabalho e outras ocupações vai mudar drasticamente", disse António Guterres, na sessão de abertura da Web Summit. Num tom que tem sido ouvido em muitas intervenções este ano, Young Sohn reconheceu que os desafios não serão simples: “A viagem vai ser muito drástica, muito dura e não haverá respostas óbvias. ”
REFERÊNCIAS:
Reconhecimento facial tem de ser regulado, alertam especialistas
Relatório escrito por investigadores do Google e da Microsoft temem que a tecnologia se torne numa ferramenta para controlo da população. (...)

Reconhecimento facial tem de ser regulado, alertam especialistas
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Relatório escrito por investigadores do Google e da Microsoft temem que a tecnologia se torne numa ferramenta para controlo da população.
TEXTO: Usar a cara para desbloquear o telemóvel e o portátil, ou até para pagar o almoço, é muito conveniente. A opção elimina a necessidade de memorizar palavras-passe ou de ter sempre a carteira atrás, mas pode transformar-se um risco de segurança global. O alerta vem no relatório anual do AI Now Institute, um centro de investigação em Nova Iorque, nos EUA, que se dedica a estudar os impactos da inteligência artificial na sociedade. Há cada vez mais fabricantes a incluir a tecnologia de identificação facial nos seus produtos, sobretudo desde que em 2017 a Apple mostrou que era possível usá-la para pôr telemóveis a reconhecer o utilizador. A tecnológica chinesa Alibaba, por exemplo, começou a testar tecnologia para “pagar com o sorriso” em alguns quiosques de venda automáticos da cadeia de restauração KFC. “As comunidades deviam ter o direito de recusar o uso destas tecnologias em contextos públicos e privados”, lê-se no relatório publicado esta semana. Os autores, que incluem membros das equipas de investigação do Google e da Microsoft, temem que a tecnologia se torne numa ferramentas para os poderosos – sejam governos ou gigantes tecnológicos – controlarem as populações. Uma das sugestões dos investigadores é a criação de limites para o uso do reconhecimento facial em áreas como a saúde, educação e justiça, enquanto não há mais dados sobre o impacto da tecnologia. “A tecnologia tem perigos ao reforçar práticas de discriminação nas áreas da justiça criminal, educação e emprego”, afirmam. A identificação facial baseia-se em sistemas biométricos de inteligência artificial que identificam uma pessoa ao analisar a sua expressão facial e compará-la à informação de enormes bases de dados. Pode ser usada para fins de autenticação, em que o sistema compara duas imagens para autorizar alguém a usar um serviço, ou identificação, em que a imagem de alguém é usada para associar uma identidade (por exemplo, nome, morada, e idade) a uma cara. Na Internet, a tecnologia já é comum. O Facebook, por exemplo, permite aos utilizadores usar a tecnologia para que a rede social os identifique automaticamente em fotografias que são publicadas com a sua cara no site. No limite, porém, pode ser usada para videovigilância: alguns polícias chineses já andam equipados com óculos de realidade aumentada, que lhes permitem identificar as pessoas com quem se cruzam e fazer várias detenções. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Não é só na China que acontece. Desde 2016 que a Amazon disponibiliza, nos EUA, serviços de reconhecimento facial para gerir a entrada em grandes eventos. Em Maio deste ano, a empresa foi criticada por vender a tecnologia à polícia norte-americana nos estados da Florida e do Oregon. A Amazon defendeu-se argumentando que o sistema permitia encontrar pessoas desaparecidas. Segundo o relatório do AI Now Institute, o problema é que “a implementação destes sistemas de inteligência artificial está a expandir-se rapidamente sem regras, monitorização ou sistemas de responsabilização adequados. ” Parte do problema são as áreas do reconhecimento facial – ainda em fase de investigação – que alegam ser possível detectar elementos como personalidade, sentimentos e saúde mental a partir das expressões faciais de alguém. “Não há estudos científicos robustos a comprovar”, escrevem os autores. “Usar [a tecnologia] para sistemas de contratação, seguros de saúde, educação, e justiça traz enormes preocupações a nível individual e mesmo social. ”Kate Crawford, uma das fundadoras do instituto, insiste que está na altura de regular. "A questão já não é se há problemas e casos de viés nos sistemas de inteligência artificial. Esse debate já acabou: os dados sobre isso atingiram um pico ao longo do último ano", lê-se nas conclusões do relatório.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA