iPhones com ecrãs maiores são aposta da Apple para um mercado a encolher
Os três novos modelos surgem quando a empresa disputa o segundo lugar com a rival Huawei. (...)

iPhones com ecrãs maiores são aposta da Apple para um mercado a encolher
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os três novos modelos surgem quando a empresa disputa o segundo lugar com a rival Huawei.
TEXTO: A Apple deu a conhecer nesta quarta-feira a nova geração de iPhones: Xs, Xs Max e Xr. A surpresa não foi muita porque, num anfiteatro Steve Jobs lotado, Tim Cook e a sua equipa apresentaram aquilo que já há algum tempo se conhecia nos sites de rumores um pouco por toda a Internet. A versão Xs conta com duas versões. A mais pequena tem um ecrã de 5, 8 polegadas (é conhecida simplesmente por Xs) e a outra está equipada com um ecrã 6, 5 polegadas (o maior de sempre num iPhone), que ocupa praticamente toda a parte frontal do telemóvel. Chama-se Xs Max. "De longe o mais avançado iPhone de sempre", garantiu o presidente executivo da Apple, Tim Cook. Meet Apple's newest smartphone: The iPhone XS https://t. co/7uNYwgzmXb #AppleEvent pic. twitter. com/DalA5kE8v3O tamanho dos ecrãs tem o objectivo melhorar a experiência de vídeo ou de jogo, mas também de navegação na Internet ou de utilização dos mapas. Mas a maior mudança é interna: o processador A12 Bionic vai permitir aumentar a capacidade de processamento do telemóvel e melhorar a experiência de realidade aumentada. Os novos iPhones podem ter até 512 GB (com capacidade para largos milhares de fotografias) e estão disponíveis em Portugal a partir de dia 21 de Setembro. A câmara dupla traseira é de 12 megapíxeis e a frontal tem sete megapíxeis. Os telemóveis são também compatíveis com dois cartões SIM (sendo um deles virtual, algo que ainda não existe em Portugal) e contam com melhorias ao nível de bateria: a versão Xs Max aguenta mais uma hora e meia do que o iPhone X, de acordo com a empresa. Há também uma versão com um preço mais baixo, a Xr. Tem um ecrã de 6, 1 polegadas e também não tem um botão físico, que foi imagem de marca das primeiras versões do iPhone. A câmara é única, mas mantêm os 12 megapíxeis dos "irmãos" Xs e Xs Max. É com estas novidades – com preços que começam nos 879 euros (na versão Xr) e nos 1279 euros (na versão Xs Max) – que a Apple tenta captar consumidores num mercado de smartphones que encolheu 1, 8% no segundo trimestre do ano. A apresentação dos novos dispositivos da Apple aconteceu numa altura em que, segundo dados da analista IDC, a empresa foi ultrapassada pela chinesa Huawei na segunda posição no que toca às vendas de smartphones. Ao crescer 40, 9% num ano, a maior produtora de dispositivos móveis da China abafou o crescimento de 0, 7% dos smartphones da Apple. Nesta lista, a sul-coreana Samsung mantém-se na primeira posição com 20, 9% do mercado. A Huawei tem 15, 8% e a Apple, 12, 1%. Os vários modelos de iPhone foram responsáveis por 61, 6% da facturação da empresa no ano passado, altura em que se venderam 41, 3 milhões de iPhones. Depois de Steve Jobs ter lançado a primeira geração do iPhone em 2007 - garantindo então que a Apple tinha reinventado o telefone - o futuro dos smartphones acabou por ser moldado pelas inovações introduzidas por estes dispositivos. Ainda hoje o produto de mais sucesso da Apple continua a viver na base da sua premissa inicial: um dispositivo multimédia com controlos tácteis, um telefone e um dispositivo de navegação na Internet. Nem só de iPhone se faz a AppleSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Tim Cook salientou que era da empresa o "relógio número um do mundo". O novo Apple Watch foi apresentado como um "guardião inteligente da saúde" dos utilizadores. Coube ao director de operações da empresa, Jeff Williams, apresentar a "nova vida" do smartwatch. Entre as novidades da nova versão – conhecida como Series 4 – está um ecrã maior (35% maior do que a versão anterior), uma maior capacidade de personalização, um eletrocardiógrafo incorporado e um detector de quedas dos utilizadores, que liga automaticamente para o número de emergência. E houve lugar a uma promessa: "Os dados [pessoais] estão protegidos". Os novos smartwatches da empresa estão disponíveis com preços que começam nos 439 euros, a partir de dia 21 de Setembro.
REFERÊNCIAS:
Tempo Setembro
Huawei ultrapassa Apple e conquista o lugar de segunda maior marca
Pela primeira vez a fabricante dos iPhones desce para a terceira posição. Mas a analista IDC antecipa novas mexidas ao longo do ano. (...)

Huawei ultrapassa Apple e conquista o lugar de segunda maior marca
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pela primeira vez a fabricante dos iPhones desce para a terceira posição. Mas a analista IDC antecipa novas mexidas ao longo do ano.
TEXTO: É uma mudança inédita nos lugares do pódio: a Huawei vendeu mais telemóveis no último trimestre do que a Apple, conquistando o segundo lugar na lista dos maiores fabricantes, atrás da Samsung, de acordo com números da consultora IDC. É a primeira vez em oito anos que a Apple não está num dos dois primeiros lugares. Entre Abril e Junho, a chinesa Huawei enviou para o retalho 54, 2 milhões de aparelhos, o que corresponde a 16% do mercado global e significa um crescimento de 41% em relação aos mesmos meses do ano passado. A mudança de posição reflecte o crescimento da Huawei, tanto no mercado chinês, onde a marca foi responsável por um pouco mais de um quarto dos smartphones vendidos, como noutros mercados onde tradicionalmente tinha menos peso. “O crescimento continuado da Huawei é, no mínimo, impressionante, tal como também o é a sua capacidade para entrar em mercados onde, até recentemente, a marca era essencialmente desconhecida”, observou o analista da IDC Ryan Reith. A Samsung mantém uma liderança confortável, com 71, 5 milhões de unidades e 23% do mercado. As vendas da marca sul-coreana, no entanto, caíram 10%. Já a Apple colocou no mercado 41, 3 milhões de iPhones (mais 1% do que no ano passado), o que lhe valeu uma quota de 12% do mercado. Os números também traduzem os diferentes calendários de lançamentos das marcas. A Huawei apresentou no final de Março os modelos topo de gama P20 e P20 Pro. A Samsung prepara-se para apresentar este mês novos modelos. Já no caso da Apple, o segundo trimestre é tradicionalmente aquele onde são registadas menos vendas – a multinacional americana costuma revelar novos iPhones em Setembro, o que leva os consumidores a fazerem um compasso de espera nos meses anteriores. “Vale a pena notar que a Apple subiu para a primeira posição em cada um dos últimos trimestres natalícios, a seguir à renovação dos seus produtos, por isso, é provável que continuemos a ver mexidas nas empresas de topo em 2018 e para lá disso”, frisou Reith. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Apesar do crescimento modesto nao número de iPhones vendidos, as receitas da Apple com estes aparelhos subiram 20%, revelou a empresa na apresentação de resultados desta terça-feira. A facturação total subiu 17%. No global, o mercado de smartphones continua a encolher. No segundo trimestre, foram vendidos 342 milhões de unidades, menos 2% do que há um ano. “A combinação de um mercado saturado, de um aumento das taxas de penetração dos smartphones, e de um crescente preço médio de venda continua a enfraquecer o crescimento do mercado em geral”, disse o analista da IDC Anthony Scarsella. “Os consumidores continuam disponíveis para pagar mais por opções premium em vários mercados e agora esperam que os seus aparelhos durem mais e tenham melhor desempenho do que as gerações anteriores desses dispositivos, que custavam consideravelmente menos há uns anos. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave chinês
Novos Huawei servem de carregador para outros aparelhos
Marca trouxe uma novidade para apelar aos consumidores que têm um dia-a-dia recheado de equipamentos electrónicos. (...)

Novos Huawei servem de carregador para outros aparelhos
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.005
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Marca trouxe uma novidade para apelar aos consumidores que têm um dia-a-dia recheado de equipamentos electrónicos.
TEXTO: Os novos smartphones topo de gama da Huawei – o Mate 20 X, o Mate 20 Pro , o Mate 20 – foram apresentados esta terça-feira, em Londres. O Mate 20 Pro, o único que vai estar disponível em Portugal ainda este mês, funciona como carregador sem fios, capaz de carregar a bateria de aparelhos como auriculares ou outros telemóveis. Num mercado já maduro, onde praticamente toda a gente tem um smartphone, e quando as vendas estão a encolher, as marcas têm-se esforçado por criar novas funcionalidades que apelem aos consumidores e diferenciam os seus produtos dos muitos outros que estão nas prateleiras das lojas. Com esta novidade, a fabricante chinesa procura aliciar os utilizadores que vivem hoje rodeados de equipamentos electrónicos. “Esquecer o carregador já não tem de ser um problema”, afirmou o director executivo para a área de consumo, Richard Yu. Com a função de carregamento de dois lados activada, o telemóvel pode carregar outros aparelhos, ou ser carregado por eles. Basta que funcionem com o padrão Qi (permite transferir energia através de carregamentos sem fios em distâncias de até cerca de quatro centimetros). Todos os telemóveis Mate 20 têm esta capacidade. Como já é habitual com a fabricante chinesa, porém, o foco foi para as várias câmaras. Além da frontal – para as selfies –, os novos Mate trazem outras três câmaras dispostas em forma de um “L” espelhado na parte traseira, um formato foi inspirado nos faróis da frente dos caros de luxo. Além da câmara principal, com 40 megapixeis, o modelo Mate 20 Pro (6, 39 polegadas) tem uma lente ultra grande-angular com 20 megapixeis, e uma teleobjectiva com oito megapixeis. A câmara frontal tem 24 megapixeis e pode ser usada como um identificador biométrico para autorizar pagamentos ou desbloquear aplicações no telemóvel. Foram todas desenvolvidas pela alemã Leica, com quem a Huawei tem uma parceria há dois anos. O Mate 20 X tem um ecrã de 7, 2 polegadas, uma bateria de 5000 mAH e uma caneta para escrever no ecrã. Já o Mate 20 (um modelo de 6, 53 polegadas e que é menos avançado que os outros dois) tem o mesmo número de câmaras, mas com 18, 12 e 8 megapixeis respectivamente. Todos os aparelhos vêm com o Android 9. 0. As câmaras podem ser usadas para fazer scans de pequenos objectos (por exemplo, peluches) e “dar-lhes vida” ao mapear o seu “esqueleto”. Isto permite tirar fotografias e filmagens em realidade aumentada, em que o objecto animado é capaz de movimentos básicos como saltar, correr, ou acenar. A tecnologia também permite identificar alguns alimentos (por exemplo, peças de fruta) e informar o utilizador do número de calorias que têm. A marca também aproveitou para lançar um relógio inteligente, o Huawei Watch GT, e uma pulseira inteligente, a Band 3 Pro. Vêm com um treinador pessoal integrado, para motivar as pessoas a fazer mais exercício físico, e um monitor de sono com um sensor de infravermelhos, para ajudar os utilizadores a perceber os seus padrões de sono e a forma como se mexem durante a noite. Os relógios trazem ainda um monitor de batimentos cardíaco, que é capaz de alertar os utilizadores quando têm o ritmo muito acelerado. Alguns cardiologistas preocupam-se que este tipo de funcionalidades aumente os níveis de ansiedade de alguns utilizadores, que podem ter dificuldades em interpretar os resultados. A bateria do relógio, que custará 299 euros, deve durar pelo menos 14 dias entre carregamentos. A pulseira vai rondar os 99 euros. Em Agosto, dados divulgados pela consultora IDC indicaram que a Huawei estava a vender ligeiramente mais telemóveis do que Apple, conquistando o segundo lugar no pódio das maiores fabricantes, atrás da Samsung. As rivais foram abordadas várias vezes na apresentação do novo modelo. “A bateria é 30% superior que o iPhone X e que o Galaxy Note 9”, disse Richard Yu. “O nosso telemóvel consegue abrir aplicações um segundo mais depressa que o iPhone X”, acrescentou noutra. Entre Abril e Junho, a Huawei enviou para o retalho 54, 2 milhões de aparelhos. O valor representa 16% do mercado global e significa um crescimento de 41% em relação aos mesmos meses do ano passado. Apesar do crescimento da Huawei e do número de telemóveis topo de gama lançados anualmente por várias marcas, o mercado de smartphones continua a encolher a nível global. “A combinação da saturação do mercado, o aumento de penetração de telemóveis, e o crescimento do preço médio de venda continuam a amortecer o crescimento do mercado”, disse o responsável de investigação da secção móvel da IDC, Anthony Scarsella, na última análise da consultora sobre o mercado de smartphones. Para já, ainda não se sabem quais os modelos é que vão estar disponíveis em Portugal. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O Mate 20 custa entre 799 euros (para o modelo de 4GB do Mate 20) e 1049 euros para o Mate 20 Pro. Artigo corrigido: o preço do Huawei Watch GT é de 299 euros, e não 249 euros, como estava escrito. O preço do Mate 20 pro é de 1049 euros, e não 1029 euros. Foi acrescentada informação sobre a capacidade de carregamento sem fios dos aparelhos. O Público viajou a convite da Huawei
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave consumo alimentos ansiedade
Férias rimam com pincéis, agulhas, leituras e tigelas
Lembrei-me daquela mãe, recostada na cadeira da praia, concentrada num jogo colorido no telefone, enquanto os miúdos saltitam nas ondas e eu os vou puxando para mim, para que não sejam levados por uma mais forte. (...)

Férias rimam com pincéis, agulhas, leituras e tigelas
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: Lembrei-me daquela mãe, recostada na cadeira da praia, concentrada num jogo colorido no telefone, enquanto os miúdos saltitam nas ondas e eu os vou puxando para mim, para que não sejam levados por uma mais forte.
TEXTO: Em vez do napperon, há um enorme plástico a tapar a mesa da sala de jantar. Em cima estão tintas, pincéis, gesso, água, moldes. Não é só a mesa da sala que está protegida, nós também temos aventais e umas mangas plásticas, os cabelos apanhados e, mesmo assim, estamos sujos das tintas e do gesso branco. Quando éramos pequenos, as tardes de domingo podiam ser assim, dedicadas à expressão plástica, mas também podiam ser passadas na cozinha a tentar, por exemplo, esvaziar os ovos do seu conteúdo – o meu pai com um alfinete na mão direita e um ovo na mão esquerda, debruçado no lava-louças, e nós a acotovelarmo-nos na tentativa de espreitar, uns a torcer para que tivesse sucesso, outros nem por isso, para que todo o processo recomeçasse. Com o alfinete e a sua paciência de chinês, o meu pai tentava fazer os furos, depois soprava com força, a gema e a clara caíam numa tigela. Nós perdíamo-nos a rir. Depois, lá voltávamos para a mesa da sala de jantar para pintar as cascas com todo o cuidado, sem as partir. A cozinha também era um local de eleição para se bater um bolo, para não desperdiçar as gemas e as claras, ou esticar a massa que o meu pai passava por uma máquina e transformava em tagliatelle fresco, que comeríamos naquela noite. Depois das artes plásticas surgiram as têxteis. Um dia, o meu pai esticou uma espécie de uma rede plástica e prendeu-a com ripas de madeira, fazendo um quadrado. Quatro quadrados, o mesmo número de filhos. A cada um de nós foi dada uma folha quadriculada para desenharmos um padrão e a minha mãe orientou-nos para fazermos barras de duas cores. De agulha e lã grossa na mão, lá passamos o desenho para a rede emoldurada. Foi um Verão inteiro a fazer a almofada, ao final da tarde, com linha laranja e azul. Concentradíssimos, a passar a linha pelos buracos, para cima e para baixo, e os meus pais sossegados porque não se ouviam gritos nem implicações. Os mesmos novelos de lã serviram para aprender a fazer croché – depois da almofada, as pegas de cozinha, exactamente com o mesmo padrão. Era o princípio do enxoval!Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O gesso, a plasticina, as tintas e as experiências científicas também ocuparam a mesa da sala da minha casa e as tardes de fim-de-semana dos meus filhos. Às expressões artísticas acrescentámos os jogos sociais, de tabuleiro e as cartas – estes essenciais para aprender a saber perder. A farinha, o açúcar, os frutos secos e as claras em castelo continuam a fazer parte das nossas rotinas. Embora, na tigela, a farinha de trigo tenha sido substituída pela de aveia e o açúcar branco pelo amarelo ou pela stevia. Só não ensinámos a bordar, a fazer croché ou malha. O pai não sabe, eu nunca fui boa a matemática e esta é essencial. Em pequena, quando me enganava – “Seria uma meia, uma liga ou uma meia e três ligas? Ai!. . . ” – era sempre a minha mãe que resolvia o imbróglio enquanto eu fugia, deitava-me à sombra a ler e a malha ficava esquecida por umas semanas. Lembrei-me de tudo isto por causa das férias de Verão. Lembrei-me também porque recentemente, numa escola, os professores se queixavam da falta de comunicação entre pais e filhos e como esta se reflecte na sala de aula. “Quando estão com eles, estão todos agarrados aos telemóveis. Pais e filhos, que relação existe? Quando os educam?”, inquiria uma professora. Lembrei-me daquela mãe, recostada na cadeira da praia, concentrada num jogo colorido no telefone, enquanto os miúdos saltitam nas ondas e eu os vou puxando para mim, para que não sejam levados por uma mais forte e porque tenho saudades dos meus assim pequeninos. Lembrei-me porque as férias são para construirmos memórias boas com cheiro a maresia, com sabor a gelados, bolos e peixe grelhado, com leituras para pôr em dia e para partilhar, com pores do Sol de casaco pelas costas e com muitas gargalhadas.
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Palavras-chave escola espécie chinês
Google sob críticas por planear motor de busca censurado para a China
A empresa desisitu de oferecer o serviço em 2010, dizendo não querer acatar as regras de Pequim. Mas nunca deixou inteiramente o país, que é um mercado cobiçado pelas multinacionais tecnológicas. (...)

Google sob críticas por planear motor de busca censurado para a China
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-07 | Jornal Público
SUMÁRIO: A empresa desisitu de oferecer o serviço em 2010, dizendo não querer acatar as regras de Pequim. Mas nunca deixou inteiramente o país, que é um mercado cobiçado pelas multinacionais tecnológicas.
TEXTO: Oito anos depois de ter deixado de disponibilizar o seu motor de busca na China, as notícias de que o Google tem planos para regressar àquele país com um serviço de pesquisas auto-censurado estão a motivar críticas por parte de associações e activistas de direitos humanos. Mas também mostram como o mercado chinês é hoje mais importante para as multinacionais de tecnologia do que era no início da década. De acordo com as notícias, o Google estará a criar, em articulação com as autoridades chinesas, uma aplicação para Android com um motor de busca que vai filtrar os resultados que não agradam ao regime de Pequim. Isto inclui referências a opositores políticos, e a temas como direitos humanos e religião. O funcionamento não é muito diferente do que acontecia com o motor de busca que o Google tinha na China e que acabou por ser fechado em 2010, quando a empresa disse não estar disposta a continuar a pactuar com as regras de censura. A nova aplicação será disponibilizada aos utilizadores apenas depois de obter o consentimento chinês. A possibilidade de um motor de busca censurado já suscitou críticas. “Vai ser um dia negro para a liberdade na Internet se o Google acatar as regras de censura extrema da China para ganhar acesso àquele mercado”, disse a investigadora da Amnistia Internacional Patrick Poon. “Ao pôr o lucro à frente dos direitos humanos, o Google vai abrir um precedente arrepiante e dar uma vitória ao governo chinês. ”A notícia foi avançada pelo site noticioso The Intercept, e confirmada depois por outros órgãos da imprensa internacional. Todos citam fontes anónimas que, em alguns casos, ressalvam que os planos podem não se concretizar. Outras notam que a hipótese de aceitar a censura chinesa está a causar incómodo dentro da multinacional americana. Numa resposta ao PÚBLICO, o Google lembrou que nunca deixou inteiramente o mercado chinês e escusou-se comentar o caso: “Disponibilizamos várias aplicações móveis na China, como o Google Translate e Files Go [uma aplicação para libertar espaço de armazenamento em telemóveis], ajudamos programadores chineses e fizemos investimentos significativos em companhias chinesas, como a JD. com [um empresa de comércio online]. Mas não comentamos especulações sobre planos futuros. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Com vários serviços online bloqueados na China, incluindo também o Facebook e o Twitter, os utilizadores recorrem a alternativas locais, que têm o aval das autoridades. O Baidu é o motor de busca mais usado e a Weibo é uma rede social muito popular. Ambos têm centenas de milhões de utilizadores e são negócios lucrativos. Quando o Google retirou o seu motor de busca da China há oito anos este era um mercado menos relevante para as grandes multinacionais de tecnologia. Com o aumento da penetração da Internet e a adopção em massa dos smartphones, o cenário mudou. Durante alguns anos, a China foi um motor importante de crescimento para as vendas da Apple, e empresas como a Amazon e a Microsoft também têm operações no país, o que significa pactuar com pelo menos algumas das imposições do governo. O próprio Google tem três escritórios e mais de 700 funcionários na China. No ano passado, abriu um centro de investigação em Pequim.
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Palavras-chave direitos humanos negro social chinês
Um cinema de todos e para todos ali numa esquina de Lisboa: o Ideal
Foi apresentado esta quarta-feira o projecto daquele que será o Cinema Ideal, antigo Cine Paraíso. Vão arrancar as obras de reconstrução do espaço, que abrirá portas na Primavera de 2014. (...)

Um cinema de todos e para todos ali numa esquina de Lisboa: o Ideal
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.9
DATA: 2018-12-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Foi apresentado esta quarta-feira o projecto daquele que será o Cinema Ideal, antigo Cine Paraíso. Vão arrancar as obras de reconstrução do espaço, que abrirá portas na Primavera de 2014.
TEXTO: Quem hoje passa pela Rua do Loreto, entre o Largo de Camões e a Calçada do Combro, já mal se recordará que ali entre os números 15 e 17 existe uma sala de cinema, o antigo Cine Paraíso, hoje já só com uma cadeira e as paredes despidas. Diz a história que é a mais antiga de Lisboa, mas entre trocas de nome, de utilidade (nos últimos anos era um cinema de filmes pornográficos) e períodos de portas fechadas, foi essa mesma história que se foi esquecendo e perdendo. Mas a situação está prestes a mudar. A sala vai ser recuperada, por iniciativa da Midas em cooperação com a Casa da Imprensa, e naquele espaço vai renascer o Cinema Ideal. É Ideal em todos os sentidos, garante Pedro Borges, produtor e distribuidor da Midas Filmes, que quer devolver a esta zona de Lisboa, o Chiado, o cinema que há anos desapareceu dali. Ficou escondido entre portas e foi-se degradando. O projecto foi anunciado ontem na Casa da Imprensa e incluiu uma visita ao espaço com o arquitecto José Neves, o responsável pela requalificação e renovação de uma sala, plateia e balcão, que deverá abrir portas na Primavera de 2014. “Andávamos atrás disto há já muitos anos”, diz ao PÚBLICO Pedro Borges, que vê nesta iniciativa “uma obrigação”. Num momento em que as receitas de bilheteira estão em queda e algumas salas históricas de Lisboa, como o King, fecham, a reabertura do Cinema Ideal, nome que a sala já teve em tempos, “é absolutamente necessária para a cidade de Lisboa e para todos os que gostam de cinema”. “É preciso que existam outros tipos de cinemas”, disse na conferência de imprensa, salientando que hoje já só existem salas em centros comerciais. “E é sobretudo cinema americano e com cheiro a pipoca. ”“Cinema de bairro infelizmente só sobra este, foram todos desaparecendo”, destaca. Diz não entender como é que “Lisboa é a única cidade de onde desapareceram todos os cinemas do centro”. Parte do problema explica-o pelo despovoamento do centro da cidade, uma vez que eram esses “habitantes os espectadores das salas. Mas depois há outras coisas que têm a ver com o facto de não existir uma política em relação ao cinema nem a nível global nem a nível municipal”. Margarida Acciaiuoli, autora de Os Cinemas de Lisboa – Um fenómeno urbano do século XX (Bizâncio), aponta ainda o dedo à proliferação dos centros comerciais. “Em finais do século XX houve a grande ilusão do consumo que se materializou no centro comercial”, diz a investigadora ao PÚBLICO, defendendo que ir a uma loja ou ir ao cinema não é a mesma coisa e por isso estes devem existir em espaços distintos. “Aquela profusão de acontecimentos e produtos faz com que o cinema seja apenas mais um produto, até a entrada dos cinemas é igual à entrada de um supermercado e as bilheteiras são balcões onde se vendem bilhetes mas também pipocas e refrigerantes”, destaca Acciaiuoli. Aplaude a iniciativa da Midas. “Esta vontade de tentar mudar é muito positiva, é quase uma obrigação dar isto aos mais novos que não sabem hoje o que é ir ao cinema. ”E é isso mesmo que Pedro Borges espera conseguir com o Cinema Ideal: recuperar o gosto de ir ao cinema. Para isso, concretiza, o espaço vai estar aberto todos os dias de manhã à noite, entre 12 e 14 horas por dia. O objectivo é chegar a vários públicos e transformar-se no cinema do bairro. “Em termos de vida urbana, o cinema é uma âncora extremamente importante”, diz Pedro Borges, que quer “um cinema virado para a cidade e para a comunidade”, que funcione em articulação com a junta de freguesia, as escolas e as instituições e organizações culturais e recreativas da zona”. Interessa tanto os cinéfilos, como os jovens que procuram esta parte da cidade, entre a Bica e o Bairro Alto, para se divertirem, e ainda todos os que ali vivem. “Queremos ser um cinema aberto, temos também o objectivo de chegar a um tipo de pessoas mais velhas ou com menos meios económicos que deixaram de ir ao cinema e que têm o direito a isso”, diz Borges. A programação ficará a cargo da Associação Cultural Cinema Ideal, da qual farão parte produtores, realizadores e actores, como a actriz Rita Blanco, que esteve presente na conferência de imprensa. Paulo Rocha a inaugurar“Vamos querer ter sempre dois filmes em exibição que possam abranger pessoas diferentes”, continua. Garante que o Cinema Ideal “vai ser um local com as melhores condições para se verem bons filmes”. E se dúvidas possam existir em relação à programação, frisa que não será o cinema da Midas e estará aberto a todos os distribuidores independentes e a todos os realizadores. A sessão de inauguração deverá ser feita com a estreia da última obra de Paulo Rocha (1935-2012), Se Eu Fosse Ladrão, Roubava, e depois ali serão exibidos os filmes que habitualmente “não se vêem nos outros cinemas”. “É para ser exibido cinema português, cinema europeu, cinema chinês, cinema iraniano. ” “É para estrear o próximo filme do Pedro Costa ou do João Canijo, que são velhotes como eu, mas é para estrear também o filme do João Salaviza, que ainda não fez 30 anos. ” As diferentes gerações vão estar representadas neste espaço, assim como os diferentes géneros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Como cidadão e lisboeta, vejo este projecto como uma oportunidade maravilhosa para a cidade, em poder voltar a ter uma sala no centro, onde se poderão ver os melhores filmes feitos hoje, nas melhores condições possíveis, e funcionar simultaneamente como ponto de encontro à volta do cinema”, diz ao PÚBLICO o arquitecto responsável pela renovação, vencedor do último Prémio Secil de Arquitectura, o mais importante neste área em Portugal. “Um cinema é por si só um programa muitíssimo estimulante para qualquer arquitecto, e neste caso ainda mais, porque, dada a sua localização e a sua relação com a rua, não poderá deixar de ter a capacidade de interferir de um modo intenso com a vida da cidade. ”Pedro Borges acredita ainda que a sala fará com que as pessoas estejam mais dispostas a ver determinado tipo de filmes. “Se eu quiser estrear um filme mexicano ou um filme chinês ou um filme do Pedro Costa, a projecção no El Corte Inglés, por exemplo, é impecável, mas o cinema não tem nada a ver com os filmes”, explica. Adianta mais: o Cinema Ideal tornar-se-á uma das salas da próxima edição do IndieLisboa, do Panorama do Documentário e do Curtas Vila do Conde. Mas um dos pontos mais importantes de 2014 vai ser a reposição das versões digitais restauradas de Os Verdes Anos (1963) e Mudar de Vida (1966), os dois filmes de Paulo Rocha que iniciaram o Cinema Novo Português. O Cinema Ideal, além da sala de cinema, terá uma livraria dedicada à sétima arte e uma DVDteca (onde se poderão ver vários filmes), uma cafetaria e ainda um espaço de convívio e animação. “A nossa ambição é pegar nessa relação do cinema com a rua e levar o mais longe possível a sua vocação de ‘cinema da esquina’, tal como há a ‘loja da esquina’ por onde se passa todos os dias”, diz o arquitecto José Neves, explicando que a arquitectura nunca parte do zero. “E, neste caso, trata-se de uma situação muito concreta e repleta de memórias. Apesar de ter sofrido inúmeras alterações bastante desinteressantes ao longo do tempo, iremos tentar agora fazê-las esquecer com a nossa intervenção”, acrescenta o arquitecto que vai adaptar a sala de cinema existente — “um espaço muito simples e bonito” — às características actuais da projecção e do som. E conclui que “contar mais, neste momento, seria como contar o fim do filme. . . ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave comunidade consumo chinês
"Ter uma percentagem excessiva de bancos espanhóis é mau para a economia portuguesa"
O "movimento de concentração bancária promovido pela Europa" preocupa Pedro Rebelo de Sousa, que considera que a resolução do BES "prima pelo experimentalismo lusitano" (...)

"Ter uma percentagem excessiva de bancos espanhóis é mau para a economia portuguesa"
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.31
DATA: 2018-08-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: O "movimento de concentração bancária promovido pela Europa" preocupa Pedro Rebelo de Sousa, que considera que a resolução do BES "prima pelo experimentalismo lusitano"
TEXTO: Pedro Rebelo de Sousa critica a falta de empenho das autoridades com os interesses dos empresários portugueses em África, lamenta a crescente "espanholização" da banca portuguesa e defende “mais Europa, mas menos eurocrática e destrutiva de estruturas nacionais como o nosso sistema financeiro”. Nos últimos 10 anos, o mercado bancário em Portugal alterou-se completamente: mudaram os accionistas, mudou a origem dos investidores, mudaram as chefias dos bancos. Na CGD, onde foi administrador entre 2011 e 2013, mudou toda a gestão. A banca está melhor do que estava?Em termos de estabilidade o sector está melhor. Se os bancos têm capacidade para apoiar os empresários tenho dúvidas, não só pela falta de dimensão, mas pelas limitações em termos dos seus accionistas, cujos recursos são escassos, e pelas limitações altamente penalizadores do BCE. E por muito que a banca esteja mais saudável, tem limitações. A minha perplexidade é não perceber como é que a banca, toda ela, vai ajudar a economia, sobretudo quando os grandes bancos internacionais passaram a ter uma presença muito indirecta em Portugal. Acha que os bancos tradicionais estão preparados para a concorrência da banca tecnológica [Fintechs) não regulada?Os “hedge funds” também nunca foram. Falou-se muito nisso, mas ficaram numa penumbra regulatória, sempre com o argumento de que quem investe em HF sabe qual é o risco. Tipo lotaria. A verdade é que a banca digital é incontornável. Temos de nos posicionar para essa nova banca que vive de produtos em que o banco, como o concebemos, é desintermediado diariamente através das várias plataformas de algoritmo digital. E temos de aproveitar aquilo a que chamo a “vantagem via verde”: a vantagem de poder dar um pulo qualitativo, que não depende da dimensão do mercado, mas da tecnologia. Fala na via verde, mas os espanhóis não querem a SIBS [que criou a via verde], pois têm a sua rede própria, e a SIBS [detida pelos bancos] está à venda?Não sei se existe uma convergência entre interesses portugueses e espanhóis. Embora respeite o CaixaBank, a história do BPI [agora controlado na totalidade pelo banco espanhol] não deixa de ser penosa. E tudo começa quando o anterior Governo não apoia a tese do BPI em relação a Angola. E esta relação tem que ser defendida por Portugal porque muitos dos quadros da banca e dos seguros em Angola e em Moçambique são portugueses. António Costa é sensível ao tema da lusofonia?Pelo menos é mais do que o anterior [Governo, de Passos Coelho] e faz uma leitura que o outro não sei se tinha. Mas não sei se é suficiente, não tenho conhecimentos. O que digo é que, e falo do ângulo de um pequeno país, o movimento de concentração bancária promovido pela Europa me preocupa. Já temos cá um grande banco espanhol, o Santander, um de menor porte, o Caixa Bank (BPI). E acho que ter uma percentagem excessiva de bancos espanhóis é mau para a economia portuguesa, pois não considero Portugal uma região da Ibéria, mas um país. . . Convém, numa altura em que em Espanha a Catalunha quer ser independente. . . Quem defende essa via diz que o espaço é comum. Eu não concordo. Hoje não é politicamente correcto dizer que não faz sentido, para o tecido empresarial português, ter uma percentagem excessiva de banca espanhola. A presença da banca nacional nos PALOP era um factor diferenciador, pois não tendo nós o músculo financeiro dos investidores chineses, americanos, tínhamos o BFA, em Angola [onde o BPI tem presença, mas sem o domínio desde 2016]. Hoje não sabemos até quando teremos a joint-venture do BPI e da CGD em Moçambique. E não percebo o que levou a CGD a vender a operação na África do Sul, que não resolveu problema algum, e apenas se destinou a satisfazer os burocratas de Bruxelas. Acho surreal!O Governo devia ter batido o pé?Acho incrível que não haja uma frente de personalidades a lutar em Bruxelas pela estratégia internacional do país. Basta dizer que a parcela substancial do negócio e dos lucros do BPI vinha de Angola [em 2015 o BFA correspondeu a 57% dos lucros]. O BPI queixa-se que Passos Coelho não se empenhou em lutar contra as pressões do BCE que o obrigaram a desinvestir do BFA, o que acabou por facilitar o controlo efectivo do Caixa Bank. Não se podem tomar decisões sacrificando determinados imperativos estratégicos, quer sejam nacionais, quer empresariais. Para os nossos empresários é importante ter uma banca nacional forte nos PALOPS. Uma das razões porque deixei a CGD foi porque não concordava objectivamente com o facto de a empresa estar a ser objecto de uma reestruturação, desenhada por burocratas em Bruxelas, completamente ignorantes do papel de Portugal no mundo, dizendo que se não há dinheiro, acabem com isso. Como é que está a ver o que se passa na Europa?Quero mais Europa, mas que não seja eurocrática e destrutiva, de forma pouco equitativa e penalizante para os países de menor dimensão, de estruturas nacionais como a do nosso sistema financeiro. Com dois pesos e duas medidas estamos a assistir com a passividade governamental e do regulador à desnacionalização do nosso sistema financeiro com critérios em nada semelhantes ao aplicável a outros países - o caso do BPI é de tal ilustrativo. Tal, para além de inaceitável, tem consequências muito prejudiciais sobre a economia nacional acentuando o seu carácter periférico, num país com clara carência de capitais. Continua a defender a privatização da CGD?No quadro actual, não deve ser. Mas não veria com maus olhos que abrisse 30% do capital via divida convertível. Essa era a solução de Passos Coelho?O que ele queria era vender tudo. Depois aceitou vender uma pequena parte por via de dívida convertível. Eu não daria o segundo passo. Sempre deixei claro que o objectivo era ir ao mercado buscar fundos e não ao contribuinte, mas mantendo o controlo do banco. Hoje acho que a CGD deve continuar pública, mas com uma boa governance, que espero que exista. A principal vantagem da privatização era garantir a boa “governance”. Não foi só CGD que foi mal gerida, foram os bancos privados, só para falar do BPN, BPP, Banif e BES, os que colapsaram. E não foi só em Portugal, os que rebentaram nos EUA e em Inglaterra eram todos privados. Também é verdade. Mas os públicos tiveram um bolso sem fundo. As pessoas escolhidas para integrarem as administrações têm que ser sérias, capazes, ter disponibilidade, manter a independência. Não podemos ter nomeações com natureza política. . . Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O que se passou com António Domingues, na CGD, prova que um gestor público nunca está blindado contra a acção política?Não sei se é assim. Mas pelo menos há apetência para a exercer. E a questão é que um político tem que ter sentido de Estado, de serviço público. E muitos não têm. E há situações inconcebíveis que passam a mensagem de desalento e desconfiança. Os mais jovens não se revêem no espectro partidário. Como avalia a entrega do Novo Banco a um "private equity" como é o Lone Star?Há duas escolas: uns alegam que para um país sem capitais é a única solução; para outros a lógica subjacente a um "private equity" é de médio e curto prazo e o seu compromisso com o banco nunca é de longo prazo. Isto não é crítica, é a essência do negócio, valorizar, tentar maior eficiência de gestão, para vender. Mas a resolução do BES é outro evento que prima pelo experimentalismo lusitano. Não tinha sido usada em nenhum país e não foi repetida, o que demonstra que fomos uma "experiência" para a União Bancária. Foi tudo estranho: o regulador tentava criar uma imagem no mercado de que a situação estava controlada, com o aval do poder político e de repente estava tudo descontrolado. E depois usa-se uma medida dizendo que não ia ter impacto sistémico, mas para quem estava de fora era inevitável. Surreal!“Os acontecimentos como o de quadros do Bloco de Esquerda apenas evidenciam, mesmo que sem qualquer ilegalidade, uma total inconsistência ideológica e comportamental. E, pior, uma reacção corporativa da cúpula do partido que me deixou estupefacto”, defende Pedro Rebelo de Sousa, referindo-se ao recente caso do ex-vereador da Câmara Municipal de Lisboa, Ricardo Robles. “Como é que pessoas que se deveriam dar ao respeito e defendem uma certa coerência pretendem ‘branquear’ o que é inaceitável de modo tão primário?”, questiona. “Igualmente surpreende o silêncio das outras forças partidárias”, diz. Com honrosas excepções”, admite, “a nossa classe política está desprestigiada e desrespeitada. Para não falar no despreparo e falta de experiência em muitos casos”. Outro tema “é o do sistema de representatividade partidária, que claramente surge deficitário, sendo fundamental mudar ou reinventar o actual modelo”. Aí, “partilho da proposta do grupo organizado por Ribeiro e Castro”, afirma.
REFERÊNCIAS:
Nuno Amado: "Os banqueiros tinham uma ideia de si superior à realidade"
Nuno Amado, o agora presidente não executivo do BCP, alerta que se estão a repetir erros com a criação de grandes bancos mais complexos, e reconhece que a crise afectou a credibilidade do sector. (...)

Nuno Amado: "Os banqueiros tinham uma ideia de si superior à realidade"
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.224
DATA: 2018-12-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nuno Amado, o agora presidente não executivo do BCP, alerta que se estão a repetir erros com a criação de grandes bancos mais complexos, e reconhece que a crise afectou a credibilidade do sector.
TEXTO: Em entrevista ao PÚBLICO, no quadro dos dez anos da queda do Lehman Brothers (LB), o presidente não executivo do BCP, Nuno Amado, de 60 anos, diz que não consegue, neste momento, “perspectivar as características de um processo recessivo nos próximos anos”. Mas adianta que aos períodos de expansão se seguem as crises e defende que quer em termos macroeconómicos, quer em termos da banca, Portugal está hoje em melhores condições para enfrentar tempos de turbulência. A 15 de Setembro cumpriram-se 10 anos desde a queda do LB, que provocou um tsunami nos mercados mundiais e abriu a porta à maior crise financeira e económica desde 1929. Percebemos o que aconteceu, mas ainda perguntamos: Como foi possível?Em termos internacionais houve um conjunto de situações que levaram a uma enorme alavancagem das economias e de processos, designadamente a um nível de criação de riqueza e de investimento que possibilitou colocar, a nível internacional, muitos produtos tóxicos. Em simultâneo havia devedores, designadamente os soberanos, a apresentarem um nível de endividamento também muito elevado. A combinação destes aspectos com o momento de inversão do ciclo económico teve efeitos conjugados, sobretudo de confiança, entre mercados e soberanos, o que fez com que a crise fosse demasiado longa e com diversas fases num período de ajustamento longo. E só agora entrámos num quadro em que a generalidade das economias mais desenvolvidas está a crescer a um ritmo interessante. Nas últimas semanas têm sido vários observadores a antecipar uma nova crise de dimensões mais catastróficas do que a de 2008. Ao nível da situação da banca e de alavancagem de muitos dos intervenientes que em 2008 estavam em crise, a situação hoje é mais clara, mais explícita e está mais reforçada e equilibrada do que a que existia. Ainda assim, num artigo de opinião no Financial Times, o economista Nouriel Roubini [e Brunello Rosa] veio avisar que está a caminho uma nova crise financeira e uma recessão global. E até deu data: 2020. A minha opinião é relativamente cautelosa sobre o tema. Não é possível pensar em crescimento eterno ou em estabilidade eterna. É do conhecimento geral que a períodos de crescimento se seguem períodos de recessão e os períodos de recessão têm normalmente algum efeito de crise, de natureza distinta. Diria, portanto, que é certo que vai haver uma crise, como é certo que os períodos de recessão podem ser coincidentes com os efeitos daquilo que se designa de crise financeira. A correlação é clara. Mas não estou pessimista. Após anos contínuos de expansão global inédita, nomeadamente no sector imobiliário, em 2001 surgiram economistas e políticos a dar por terminado o tempo das crises. . . Dizia-se então que o crescimento ia ser contínuo e sustentável. Ora, isso não é possível: há períodos de crescimento e períodos de menor crescimento e de crise. E o que tem de haver são instrumentos adequados para se minimizar, contrabalançar e antecipar alguns dos efeitos das crises. Hoje, ao nível macro, do BCE, e ao nível micro, existem instrumentos que, se bem executados e implementados em tempo, permitem amortecer o impacto de uma crise. Resumindo: acho que estamos hoje melhor preparados mas sabendo que, algures no tempo, haverá recessão. E, eventualmente, uma crise que pode originar efeitos mais ou menos fortes, que não sei avaliar, mas que espero que seja menos profunda do que a de 2008. Quem também surpreendeu, foi a responsável pela supervisão bancária europeia, Danièle Nouy quando, há dias, surgiu a advertir para a possibilidade de uma crise com origem no imobiliário. . . Não possuo a visão mais ampla e global que a Sra. Nouy terá. Há que ver onde é que os preços estão realmente fora do que é razoável, em que condições os bancos estão a emprestar. Há mercados onde os preços do sector imobiliário tiveram uma subida significativa. E em alguns, como o britânico, o mercado do real estate [imobiliário] já está a ajustar. Não o preocupa o ritmo a que o preço do imobiliário está a subir em Portugal?Em Portugal existe uma subida dos preços, mas creio que a situação tenderá a normalizar-se com o aumento da oferta, com a chegada ao mercado de muitos projectos imobiliários, novos e de renovação urbana, que já começaram ou que só agora se estão a iniciar. É preciso não esquecer que durante muitos anos o investimento imobiliário esteve praticamente parado quer do lado da recuperação, quer da nova construção. E acabará por se chegar a um ponto de equilíbrio razoável. O que é importante é que Portugal mantenha um crescimento do PIB adequado e sustentável, isto é, com o défice orçamental muito baixo e com uma balança de pagamentos positiva. É o que temos que fazer. E o que diz sobre os alertas de que havendo uma bolha no mercado de dívida pública e privada de dimensões superiores às de 2008, há menos instrumentos para a contrariar?Não sou especialista em bolhas. Mas a situação de taxas de juro baixas como a que temos tido nos últimos anos, e que era necessária para estarmos hoje numa situação económica mais favorável, levou a que alguns activos tenham preços mais elevados do que no passado. É a confiança de banqueiro que está a falar?Não. Sei que podendo haver riscos, nomeadamente, ao nível do preço da dívida pública, também sei que ao nível das poupanças e dos investidores há capacidade, há liquidez, para absorver alguns dos desequilíbrios. Dito isto, é importante que se considere que processos de ajuste são naturais e que não se entre na zona de pânico. Mario Draghi, do Banco Central Europeu, acaba de rever em baixa as projecções para o crescimento da Zona Euro, mencionando como factores adversos o aumento do proteccionismo e a maior volatilidade dos mercados financeiros. É um mau sinal?É um sinal dos tempos. Se o proteccionismo vier para ficar é claramente um mau princípio. Se for algo mais temporário, mais táctico, para encontrar um novo ponto de equilíbrio nas relações económicas globais, pode ser menos negativo. Vamos ver. Mas que estamos num enquadramento de maior risco isso é claroHá algum tema em particular, em termos europeus, que o preocupe?Há um tema difícil, que é a política expansionista que o BCE adoptou nos últimos anos, e do meu ponto de vista de forma correcta, e que ainda está em vigor. Mas alguns dos instrumentos podem ser menos eficientes num novo ciclo negativoA crise de 2008 levou as autoridades a actuarem para blindar o sistema financeiro. . . . . . e para apoiar os temas de risco soberano. Em determinado momento, a partir de 2009 e 2010, o agravamento rápido do risco soberano espanhol, do italiano - e o francês começou a subir -, levou a Europa a ter uma actuação mais decisiva com resultados positivos. Diria que a UE actuou na vertente monetária, mas esqueceu-se de ser activa no plano orçamental. . . É verdade. A política monetária deu o seu contributo após a crise [de 2008], mas a política orçamental ainda não o deu, pelo menos, de modo suficiente. E países com enorme capacidade de poupança, de balanças comerciais de grande sucesso, que devem ter uma política orçamental mais expansionista, não a estão a ter. E estou de acordo quando se diz que a política orçamental, excepto em alguns países como é o caso de Portugal, não deu um contributo tão relevante como seria necessário para normalizar a situação. Não está preocupado com o que se passa nos EUA, onde há um forte crescimento do valor das acções, num contexto de taxas de juros baixas, e com uma economia real com muitos desequilíbrios. E um presidente imprevisível que já fala em desregulamentar o sistema financeiro. E o Brexit gera incerteza sobre o futuro da UE, que, por seu turno, enfrenta pressões de movimentos migratórios. E depois temos a China. . . . . . a situação da China parece muito estável e não é, na minha opinião, uma fonte de instabilidade financeira. Suponho que no BCP [controlado por capitais chineses] se estude bem o tema chinês?Do que conhecemos é assim. A imprevisibilidade na Europa e nos EUA não são positivas. Os investidores financeiros ou industriais de longo prazo, as empresas, precisam de estabilidade e de previsibilidade. Querem saber como é que o mercado vai evoluir. E a instabilidade ou falta de previsibilidade vai fazer com que o investimento financeiro se coloque no curto prazo, ou em zonas mais seguras, ou que o investimento real, o das empresas, não avance aos ritmos que deve. Estou de acordo que um dos temas críticos é a imprevisibilidade política dos efeitos de algumas situações: globalização versus defesa dos interesses dos cidadãos que, em parte, são de âmbito nacional, quer ao nível norte-americano, quer europeu. Do ângulo de um pequeno país, os cenários macroeconómicos e políticos que se estão a desenhar, designadamente, dentro da UE não são preocupantes? Sim. E por razões políticas e eleitorais estão a estabelecer-se diversas subalianças dentro do mercado comum. E é importante que essas sub-alianças dêem mais importância ao que é comum do que aos seus interesses. Quando falo em subalianças refiro-me às conhecidas: de um lado os países do norte, do outro, os do antigo leste, e do outro, os do mediterrâneo. E, por outro lado, os mais populistas. . . É um tema difícil. O futuro da UE após o "Brexit" é uma incógnita?O "Brexit" é o "Brexit" e sucede que na Europa pode não haver uma visão comum sobre o tema, o que é agravado pelas tais subalianças regionais ou de interesses e que estão a ter uma diversidade também ela maior. E isto cria dificuldades futuras. Como já aqui disse, os investidores, os mercados e as empresas querem estabilidade e clareza nas regras. Um dos ensinamentos da queda do LB é que bancos demasiado grandes são difíceis de serem fiscalizados com eficácia. Hoje operam no mercado bancos ainda maiores e o BCE até os promove. E quanto maior o banco é, maior a complexidade e maior a capacidade para instrumentalizar as regras. A história demonstra que mesmo com os supervisores a cumprirem os procedimentos, quanto maior for a instituição e maior a sua complexidade, mais difícil é a supervisão. O número de bancos grandes não diminuiu e não estou seguro que a sua complexidade tenha diminuído de forma significativa. O que os reguladores entretanto fizeram foi criar um conjunto muito alargado de legislação para compensar a complexidade e a dimensão. São milhares de páginas e inúmeras novas regras. Há que estabilizar o cenário regulatório e legislativo e fazer, com mais estabilidade, a implantação das novas regras. Não se produziu excesso de regulação, pois já há banqueiros a falar em fadiga regulatória?Há já fadiga regulatória por parte de quem tem de implantar todas as mudanças e, porventura, esse facto já está a ser reconhecido pelos supervisores. No Outono de 2008, todos os banqueiros portugueses, onde se incluía, garantiram ter a situação controlada, mas houve bancos que acabaram falidos [BPN, BPP, BES] ou a pedir ajuda ao Estado [BCP, BPI, Banif - que acabou por colapsar]. E a CGD requereu reforço de capitais. . . Não foi tanto a crise de 2008, mas a crise da dívida soberana [a UE passou a admitir o incumprimento por parte dos Estados membros, o que abriu a porta dos países mais frágeis, de maior risco, aos especuladores de dívida soberana] que teve o efeito maior na banca portuguesa. Os contribuintes e os investidores podem hoje dormir descansados?A situação não é comparável há que existia em 2008. Só para sintetizar: qualquer crise afecta todos e riscos há sempre e teremos sempre dificuldades em todas as fases do ciclo. Mas há aspectos que nos são favoráveis: a economia portuguesa hoje em dia tem um saldo da balança comercial e de pagamentos mais equilibrado. Temos um excesso à volta de 1% do PIB na balança de pagamentos, quando antes tínhamos um défice de 8% a 9% do PIB. Portanto, a economia está mais estável. Depois, temos um orçamento de Estado que antes chegou a ter um défice de 7% a 8 por cento e que estruturalmente era de 3% e 4% e 5% e hoje o défice do Orçamento do Estado andará nos 1%. Portanto, à partida o país está hoje melhor preparado, ou seja, o défice externo e o défice orçamental são razoáveis. Está, portanto, confiante que. . . . . . com toda a sinceridade, não consigo perspectivar as características de um processo recessivo nos próximos anos. Entendo o risco, mas não consigo qualificá-la. Qual é o principal drama do país? É termos uma dívida pública que em função do PIB é ainda muito elevada. E isso significa que temos algum risco relacionado com uma possível normalização dos juros. Mas também não é possível pensar numa normalização dos juros rápida num cenário com riscos recessivos globais. Portanto, acho que este cenário de subida rápida das taxas de juro do euro provavelmente não vai aparecer num futuro próximo. Podemos confiar que, perante uma crise grave, os bancos em Portugal terão um desempenho mais favorável ao que tiveram, sobretudo depois de ter rebentado a crise da dívida soberana? Os bancos portugueses entraram na crise num quadro macro diferente do que existe hoje. E a realidade de cada um também era diferente. Estavam muito expostos ao mercado internacional. Antes, os nossos bancos, em média, para cada 100 euros de depósitos, davam 160 euros de crédito e iam ao mercado internacional buscar os 60 euros que faltavam. Ou seja: um terço a 40% do nosso activo era dívida internacional. Hoje já não é. Hoje é capitais. A nossa exposição ao mercado internacional e à necessidade de obtenção de financiamento monetário básico para a nossa actividade comercial está muito minimizada. Agora a nossa necessidade está muito ligada aos instrumentos de cobertura de risco que os supervisores nos exigem. Para a actividade corrente normal não partimos com as mesmas debilidades de 2008. Está no BCP desde 2012, e acaba de deixar a liderança executiva. . . Esse é o exemplo que melhor conheço: em 2007 e 2008, o BCP tinha um rácio de capital talvez de cerca de 4% ou 5% e com menores exigências em termos de activos, um balanço menos provisionado e com menor identificação dos riscos. Dez anos depois, temos um balanço em termos de activos e passivo equilibrado, rácios de capital em torno dos 12%. Temos uma transparência em termos da qualidade dos activos que hoje em dia é muito diferente da que existia em 2008. Em dez anos o sistema bancário português alterou-se completamente: mudaram os gestores, os accionistas, o modelo de negócio…E havia mais bancos cotados [BES, BPI, Banif, BCP] do que há hoje [BCP]. E o consumidor está melhor servido?Está melhor protegido. Pedro Rebelo de Sousa, que pertence aos órgãos sociais do BCP, defende que na banca há um défice de concorrência. Discordo. Os spreads dos vários produtos, crédito à habitação e crédito às empresas — mesmo naquelas com um rating normal, que nem é rating bom — voltaram a ser concorrenciais. E na minha opinião o custo do dinheiro até é inferior ao que deveria ser. Hoje em dia qualquer cliente tem quatro ou cinco bancos onde pode procurar as melhores condições. O crédito novo em Portugal é feito em condições muito alinhadas com o resto da Europa. As taxas de juro do crédito no último ano demonstram que a concorrência foi normalizada em Portugal e é muito intensa, muito agressiva. Para os meus colegas espanhóis a trabalhar em Portugal a concorrência no sector não é inferior há que existe em Espanha. Por falar em Espanha, Pedro Rebelo de Sousa também se mostrou preocupado com o peso da banca espanhola em Portugal. . . Está no limite. Defendo que na banca, em Portugal, deve haver diversidade: banca de base nacional e estrangeira; banca privada e pública, e isto, pelo quadro de incerteza que existe em termos internacionais; capital estrangeiro com origens diferentes; dimensões diferentes. Sou defensor deste modelo há muitos anos. O tema da banca pública e privada está bem, a CGD tem um peso aceitável, o mesmo equilíbrio existe na relação entre banca nacional e estrangeira. Para mim, hoje a prioridade deve ser garantir no sector uma maior diversidade de origem do capital. A diversidade em todas as suas vertentes é uma das componentes da concorrência. Um dos efeitos benéficos da crise foi expor as fragilidades das instituições bancárias, mal geridas, com modelos de negócio desajustados e gestores com práticas ilegais e princípios errados. O tema do modelo de governo dos bancos é importante, pois nalguns casos não eram apropriados. Não existiam checks and balance. As decisões eram tomadas e não eram acompanhadas de forma detalhada por comissões e por áreas independentes. E nessa matéria houve uma enorme evolução desde 2008. O perfil distraído do BdP é conhecido e, à semelhança de outros supervisores, também negou a génese dos problemas do sector que rebentaram nos contribuintes. O que mudou?Está mais interventivo. E sinceramente, tal como os bancos, o supervisor evoluiu muito nos últimos anos. E o mecanismo de supervisão europeia, o Mecanismo Único de Supervisão (SSM, Single Supervisory Mechanism) veio ajudar. Há hoje um conjunto de comparações e de análises feitas pelo SSM que não tem apenas a perspectiva da supervisão vertical, banco a banco, mas faz também uma comparação horizontal entre bancos mais profunda. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Diria que, se por um lado os supervisores estão mais actuantes e intrusivos, ao mesmo tempo deixam sem regulação e supervisão a designada shadow banking (entidades financeiras sem supervisão bancária). Esse é um dos temas mais difíceis na actual situação. Os bancos concorrem em segmentos do negócio com entidades com uma regulação muito mais leve e quase sem supervisão financeira independente, o que tem dois efeitos complexos. Por um lado, um level playing field mais difícil e injusto que afecta negativamente as condições de exploração do sector e, por outro, uma maior debilidade sistémica, pois os riscos do shadow banking são muito menos conhecidos e, as surpresas, normalmente vêm do que não é tão acompanhado. Um dos efeitos da crise de 2008 foi a descredibilização do sector e dos banqueiros. Hoje, há desconfiança e, sem querer ser excessiva, a opinião de um banqueiro caminha para irrelevância. Surpreendeu-o?Existe uma percepção negativa sobre a profissão de banqueiro, reconheço-o. Talvez pelos nossos próprios erros e pela forma exagerada e incorrecta como muitos actuaram no passado e, por vezes, até com falta de princípios. E os banqueiros tinham uma ideia de si que era superior à realidade e falavam sobre temas que não deveriam ter abordado. Ou seja: nós, jornalistas, promovemos os banqueiros e demos excesso de visibilidade às suas opiniões?Talvez.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA UE
Maduro procura na China uma bóia de salvação para a crise financeira
Presidente chavista deslocou-se a Pequim para suplicar um novo empréstimo a Xi Jinping. Foram para já fechados 28 acordos de cooperação nos sectores petrolífero, mineiro e de telecomunicações. (...)

Maduro procura na China uma bóia de salvação para a crise financeira
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Presidente chavista deslocou-se a Pequim para suplicar um novo empréstimo a Xi Jinping. Foram para já fechados 28 acordos de cooperação nos sectores petrolífero, mineiro e de telecomunicações.
TEXTO: Com a Venezuela afogada numa das maiores crises económicas e sociais da sua História, Nicolás Maduro decidiu ir bater à porta de um dos poucos aliados que ainda tem, a China. O Presidente venezuelano aterrou na quinta-feira em Pequim para uma viagem de quatro dias, movida por um objectivo claro: obter um empréstimo de cinco mil milhões de dólares (cerca de 4, 3 mil milhões de euros), de forma a combater a hiperinflação gigantesca que assola o país. Xi Jinping está disposto a ajudar Caracas, mas não abre o jogo. O plano de expansão da influência chinesa pela América Latina levou-o a investir um total de 50 mil milhões de dólares na Venezuela nos últimos dez anos, maioritariamente através de acordos energéticos. Mas as dificuldades sentidas por Caracas para compensar esse investimento, em grande parte devido à fragilidade da sua economia e à queda do preço do petróleo, obrigaram Pequim a reduzir o financiamento, a partir de 2015, e a ponderar melhor as suas opções. Para já sabe-se apenas que os dois países assinaram 28 acordos comerciais, em sectores como o petrolífero, o mineiro ou o das telecomunicações. Entre os compromissos oficializados na sexta-feira destacam-se o investimento chinês de 184 milhões de dólares na empresa conjunta Petrozumano, a compra chinesa de 9, 9% das acções da petrolífera venezuelana Sinovensa e a perfuração chinesa de mais 300 poços de petróleo na região de Ayacucho. Para além disso, Pequim pretende que Caracas desenvolva políticas concretas que proporcionem uma maior protecção legal às empresas chinesas que operam na Venezuela. “A China vai ajudar a Venezuela dentro das suas capacidades. Vamos apoiar o empenho venezuelano para o desenvolvimento da sua economia e para melhorar o nível de vida da sua população”, afiançou o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, citado pelo South China Morning Post, sem relevar, no entanto, se a referida ajuda inclui o empréstimo desejado pelo regime chavista. Neste seu périplo pela China, que termina domingo, o líder chavista encontrou-se com o presidente Xi, com o primeiro-ministro Li e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, e participou ainda numa série de fóruns empresariais. Para além disso, fez questão de homenagear Mao-Tsetung. De visita ao mausoléu do ditador comunista, em Pequim, Maduro revelou-se “emocionado” por poder honrar “o gigante das ideias revolucionárias” e “fundador do mundo multipolar do século XXI”. O Presidente também não levantou o véu sobre a possibilidade de empréstimos, limitando-se a celebrar a assinatura dos 28 acordos e a dizer que “recebeu todo o apoio” da China para “impulsionar” o programa de recuperação económica da Venezuela. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Com o Fundo Monetário Internacional a projectar para o país latino-americano uma inflação de um milhão por cento em 2018, Maduro reagiu com a criação de uma nova divisa – que não foi mais do que uma desvalorização brutal do bolívar – indexada à criptomoeda petro. A medida não trouxe melhorias substanciais à precária situação económica e foi insuficiente para travar a fuga maciça de venezuelanos do país, pelo que há quem veja nesta visita de Maduro à China uma jogada de desespero. Em declarações à CBC News, o antigo embaixador da Venezuela nas Nações Unidas e crítico do regime, Diego Arria, diz que há sérios riscos de o Presidente vender outros sectores e infra-estruturas à China. “Nesta fase de colapso da economia e do próprio regime, acredito que Maduro esteja disposto a vender a agricultura a qualquer preço. A concessão dos portos também é um potencial brinde. Não há limites para aquilo de que ele pode abdicar a favor dos chineses”, lamenta o diplomata.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda chinês
Da democracia na Europa
A UE reencontrará o seu crédito apenas na medida em que se afirmar como uma Europa da cooperação mais do que de competição. (...)

Da democracia na Europa
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-10-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: A UE reencontrará o seu crédito apenas na medida em que se afirmar como uma Europa da cooperação mais do que de competição.
TEXTO: (Este artigo, publicado simultaneamente nalguns dos principais órgãos da imprensa europeia – Le Monde, Frankfurter Allgemeine Zeitung, El Pais, PÚBLICO, Le Soir, L'Espresso, La Repubblica Rzeczypospolita, Kathimerini e outros –, resultou do Colóquio “Revisiter les solidarités en Europe”, realizado no Collège de France em 18 e 19 de Junho no âmbito da “Chaire État social et mondialisation: analyse juridiaue des solidarités”, de que é titular o Professor Alain Supiot, bem como da reunião restrita realizada no dia seguinte na Fundação Hugot do Collège de France. A versão integral dos debates do Colóquio pode ser visionada em: https://www. college-de-france. fr/site/alain-supiot/_audiovideos. htm)A “construção” europeia está ainda a tempo de escapar à desintegração? Desde o malogro do projeto de Tratado Constitucional em 2005, abrem-se fissuras cada vez mais inquietantes, sem que nada pareça poder tirar os líderes europeus do seu sono dogmático. Nem os revezes eleitorais repetidos, nem a fractura económica entre países da zona euro, nem o refinanciamento de banqueiros irresponsáveis à custa dos contribuintes, nem a descida da Grécia aos infernos, nem a incapacidade encontrar uma resposta comum aos fluxos migratórios, nem o "Brexit", nem a impotência face aos diktats americanos impostos a despeito dos tratados assinados, nem o aumento da pobreza, das desigualdades, dos nacionalismos e da xenofobia, permitiram iniciar à escala da União Europeia um debate democrático sobre a crise profunda que esta atravessa e sobre os meios de a superar. É certo que, na ausência de espaço público europeu, a questão das políticas da União pode ser debatida apenas a nível dos Estados-Membros. Ora, não sendo este nível nacional aquele onde são definidas essas políticas, os debates nacionais resumem-se à questão de saber se devemos “suportar” a Europa da forma como ela disfunciona ou pura e simplesmente sair. Albert Hirschman mostrou num livro famoso que se abrem três possibilidades aos membros de uma instituição em crise ou em declínio: a tomada de palavra dos que a criticam para a reformar (voice), a defecção dos que a deixam (exit) ou a fidelidade, ainda que insatisfeita, dos que hesitam em abandoná-la ou criticá-la (loyalty) [1]. Encontrando-se os verdadeiros órgãos dirigentes da União Europeia (a Comissão, o Tribunal de Justiça, o Conselho e o Banco Central) fora de alcance dos eleitores, os cidadãos europeus têm o sentimento de serem privados de voice e de não terem, portanto, outra escolha que não seja entre a fidelidade e o apelo ao abandono (exit). Os “debates” nacionais sobre a União Europeia reduzem-se assim de maneira caricatural a um torneio entre “pro” e “anti” Europa. Sendo qualificados de antieuropeus todos os que criticam o funcionamento da UE, o número destes não cessa de engrossar e com eles o dos partidos ou governos que adoptam relativamente a ela um ponto de vista etnonacionalista. Consideramos esta lógica binária enganadora e suicida. É falso que não haja outra alternativa que não seja a de apoiar cegamente as instituições europeias ou de as rejeitar inteiramente. Ao excluir qualquer possibilidade de reformar democraticamente a União Europeia, este falso dilema entre “Eurólatras” e “Euroniilistas” apenas pode conduzir à sua lenta decomposição. Ora, sem mesmo termos de invocar o regresso das tensões e violências identitárias que acompanhariam inevitavelmente tal decomposição, a necessidade de solidariedades europeias impõe-se para fazer face às interdependências dos Estados em domínios como a ecologia, as migrações, as novas tecnologias ou os equilíbrios geopolíticos no mundo. O nosso propósito não é o “de peritos” que pretendem dar lições aos povos ou aos seus líderes. É o de pensadores com opiniões políticas diversas que, analisando o funcionamento da União Europeia a partir de diferentes Estados-Membros, partilham um mesmo diagnóstico alarmante. A principal razão para o afastamento crescente dos cidadãos relativamente à União Europeia é o divórcio entre os valores em que esta assenta e as políticas que conduz. Estes valores são os proclamados pela Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, segundo a qual “a União baseia-se nos valores indivisíveis e universais da dignidade do ser humano, da liberdade, da igualdade e da solidariedade; assenta nos princípios da democracia e do Estado de direito”. Esta traição diz respeito, antes de mais, ao princípio de democracia, mas é também evidente relativamente ao princípio de solidariedade. O perigo que a construção europeia poderia representar para a democracia fora já denunciado a partir de 1957 por Pierre Mendès-France, segundo o qual “a abdicação de uma democracia pode assumir duas formas: o recurso a uma ditadura interna pela entrega de todos os poderes a um homem providencial ou a delegação destes poderes a uma autoridade externa, a qual exercerá de facto o poder político em nome da técnica. Em nome de uma economia sã torna-se fácil ditar uma determinada política monetária, orçamental, social, enfim, “uma política “, no sentido mais amplo da palavra, nacional e internacional” [2]. Os factos deram-lhe infelizmente razão. Em 2009, na sua decisão relativa ao Tratado de Lisboa, o Tribunal Constitucional alemão denunciou por sua vez em termos límpidos o défice democrático da UE. A democracia, recordou, é um regime no qual “o povo pode designar o governo e o poder legislativo por sufrágio livre e igual. Este núcleo duro pode ser completado pela possibilidade de referendos sobre questões de fundo (…). Em democracia, a decisão do povo está no centro da formação e da afirmação do poder político: qualquer governo democrático conhece o temor de perder o poder no caso de não ser reeleito”. Não existe nada parecido na União, que não tem eleições que permitam a uma oposição estruturar-se e aceder ao poder com base num programa de governo. Num livro recente – intitulado A Europa, sim, mas que Europa? – um antigo membro deste Tribunal Constitucional, o eminente jurista Dieter Grimm, atribui este défice de democracia à inscrição nos Tratados de opções de política económica que deveriam normalmente depender da decisão (e da alternância) política [3]. Resulta desta “ hiperconstitucionalização” que, ao arrepio dos valores e princípios que proclama, a União se rege pelo que Jürgen Habermas designou como “um federalismo executivo pós-democrático” [4]. Este regime é, na verdade, o que defendia desde 1939 um dos teóricos do neoliberalismo, Friedrich Hayek, segundo o qual uma Federação de Estados fundada sobre “as forças impessoais do mercado” seria a instituição mais capaz de colocar estas forças ao abrigo “das interferências legislativas”, reduzindo (nomeadamente em matéria monetária, social e fiscal) o poder dos governos democraticamente eleitos nos seus Estados-Membros e dissolvendo qualquer espécie de sentimento de solidariedade, quer seja social, quer seja nacional [5]. De facto, a corrosão dos sistemas de solidariedade, quer se trate dos serviços públicos, do direito do trabalho ou da segurança social, é um dos efeitos mais visíveis “da integração europeia”, e o primeiro factor da sua desintegração. Neste domínio igualmente, a União Europeia traiu os valores que a alicerçam, dado que a proclamação do princípio da solidariedade, estendido à proteção do ambiente, foi o aspecto mais inovador da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia de 1999. Mas, já a partir do fim dos anos 90, diversos autores (J. Weiler, F. Scharpf) tinham posto em evidência a assimetria que estava a ser criada na construção europeia entre, por um lado, a sua capacidade para desmantelar as solidariedades nacionais em nome das liberdades económicas e, por outro lado, a sua incapacidade de edificar solidariedades europeias que assegurassem a esta construção legitimidade política e coesão social [6]. A primazia hoje atribuída na Europa “às forças impessoais do mercado” leva a que se encare a solidariedade como um obstáculo que deve ser eliminado ou restringido. Ainda mais submetida aos lobbies na medida em que escapa ao controlo democrático, a União Europeia promove desta forma a concorrência entre os Estados no sentido de reduzirem as protecções e os níveis sociais, fiscais e ecológicos. Tendo renunciado a construir uma Europa social” e traído a sua promessa “de igualização no progresso das condições de vida e de trabalho”, a UE rebaixou as suas ambições para uma “base social”, ou seja, uma rede de protecção mínima destinada a salvar do afogamento os náufragos da “flexibilização dos mercados de trabalho”, a qual, em contrapartida, promove infatigavelmente. A única solidariedade que parece funcionar eficazmente na Europa é a que permitiu salvar, sem o reformar, um sistema bancário falido, inundando-o de liquidez, transferindo as suas perdas para os contribuintes europeus e mergulhando países inteiros na miséria. Sem que a nenhum momento pareça ter-se pensado em pedir contas ao banco – o Goldman Sachs – que, no caso grego, contribuíra para a maquilhagem das contas públicas. É verdade que inúmeros líderes europeus de primeiro plano são originários deste banco, que granjeou mais recentemente, em contrapartida, os serviços de um antigo presidente da Comissão Europeia. Contrariamente às ilusões neoliberais, nenhuma sociedade humana pode durar sem solidariedade e sem outro projeto comum que não seja a competição entre os seus membros. Não podendo ser instituídas democraticamente, as solidariedades reaparecem sob bases identitárias, étnicas ou religiosas, abrindo a via aos demagogos e à violência. Por todo o mundo, nos Estados Unidos como na Índia, no Reino Unido ou nos outros países europeus, estes demagogos imputam com efeito aos estrangeiros as injustiças sociais sobre as quais medram, sem enfrentar as suas causas económicas, porque partilham o mesmo credo neoliberal dos partidários da “abertura”. Reciprocamente, estes últimos vêem a diversidade das heranças históricas e culturais como um arcaísmo e promovem um mundo uniforme e líquido do qual seriam os missionários inspirados. A experiência sangrenta das duas guerras mundiais tinha, contudo, conduzido a comunidade internacional a afirmar duas vezes, primeiro na Constituição da OIT em 1919, de seguida na Declaração de Filadélfia em 1944, que “uma paz duradoura só pode ser estabelecida com base na justiça social”. Esta paz duradoura era também o objectivo prosseguido pelos fundadores da Comunidade Económica Europeia. Mas tomaram, para a criar, o rodeio do estabelecimento de um mercado comum, que era suposto fazer surgir espontaneamente “um espaço de liberdade, de segurança e de justiça”. Este rodeio económico, que se pretendia ser um meio de reunificação política da Europa, tornou-se no seu fim primordial, sem que a consagração jurídica tardia de outros valores tenha conseguido até agora pôr a economia ao serviço da sociedade. Por conseguinte, coloca-se a questão de saber se os princípios de dignidade, de democracia e de solidariedade consagrados pela Carta e nos Tratados, são poeira para os olhos, uma maquilhagem jurídica destinada a dar um rosto humano “às forças impessoais do mercado”, ou se é ainda possível canalizar estas forças, “encastrar” o mercado na sociedade europeia, subordinando-o a estes princípios. É esta a questão essencial que deveria ser debatida nas próximas eleições europeias. No que nos diz respeito, queremos acreditar que é ainda possível reanimar a União Europeia assegurando a primazia dos ideais que proclama sobre a dogmática económica e monetária que está a conduzi-la ao abismo. A UE reencontrará o seu crédito e a sua legitimidade apenas na medida em que se afirmar como uma Europa da cooperação mais do que de competição. Uma Europa apoiada na rica diversidade das suas línguas e das suas culturas, em vez de tentar nivelá-las ou uniformizá-las. Uma Europa de projetos, trabalhando para reforçar a solidariedade do continente a fim de responder aos desafios que nenhum Estado pode enfrentar isoladamente – e apenas a estes. Esta solidariedade deve exercer-se quer no plano interno, entre os Estados-Membros, quer no plano externo, através de acordos de cooperação com outros países que partilham objetivos comuns, começando pelos vizinhos mais próximos. Com o poder do seu mercado, a UE parece ser a única entidade em condições de lutar contra o que Franklin Roosevelt designava “o dinheiro organizado”, de separar os bancos de depósitos e de investimento e de imitar o poder de criação monetária destes. A única capaz de impor aos operadores económicos de todas as nacionalidades que operam no continente europeu regras à altura da gravidade dos perigos ecológicos, da multiplicação das desigualdades, da concorrência fiscal mortífera que conduz à degradação dos equipamentos e dos serviços públicos, das infraestruturas rodoviárias e ferroviárias. A única capaz de criar um quadro jurídico comum que favoreça o desenvolvimento, entre os Estados e o mercado, da economia social e solidária, dos bens comuns e das múltiplas formas da solidariedade civil. No domínio tecnológico, só a UE está em condições de apoiar campeões europeus com poder para preservar as liberdades públicas lutando contra os monopólios hoje exercidos pelas GAFA e amanhã por empresas chinesas. Só ela poderá dotar-se de um Ministério Público europeu dispondo dos meios necessários para impedir a imposição extraterritorial do direito americano às empresas europeias. A única com meios para concluir com os países da África uma parceria estratégica que, em vez de os comprometer à força nos impasses ecológicos e sociais do neoliberalismo, lhes permita definirem eles mesmos as vias de um desenvolvimento duradouro, fundado sobre o melhor da herança cultural de cada um deles. A única capaz de responder, com base nestes princípios, de maneira equilibrada à questão das migrações, não cedendo um milímetro aos demagogos sobre o respeito intransigente da dignidade e dos direitos dos migrantes e dos requerentes de asilo e trabalhando ao mesmo tempo para garantir o direito, quer se seja senegalês, italiano, maliano, tunisino ou grego, a viver decentemente do seu trabalho sem ter de se exilar. Esta refundação da União com base nos princípios que proclama e nas tradições constitucionais comuns aos Estados-Membros pressupõe, como primeira condição, não somente a restauração mas, mais do que isso, o aprofundamento da democracia a todos os níveis da decisão política – local, nacional e europeu. Michel Aglietta e Nicolas Leron propuseram ideias muito estimulantes neste sentido, como as que, retornando às fontes primeiras da democracia representativa (“no taxation without representation”) propõem dotar a União de recursos orçamentais próprios (nomeadamente através da tributação das transações financeiras) atribuídos a objetivos de desenvolvimento duradouro definidos e controlados pelo Parlamento Europeu, devolvendo simetricamente aos Estados as suas capacidades orçamentais próprias, sem as quais a sua vida democrática fica privada de substância [7]. Esta perda de substância afecta hoje por ricochete todas as formas de democracia local e de democracia social, cujos recursos são drenados por governos que não têm outra bússola que não seja a governança pelos números, pela qual se rege a Zona Euro. Por conseguinte, como sublinhou Étienne Balibar, não é o regresso ou a restauração das formas tradicionais da democracia que devemos procurar, mas um verdadeiro renascimento desta a todos os níveis da vida política [8]. Sem tal renascimento democrático, “as elites dirigentes” continuarão isoladas da experiência infinitamente rica e diversa da vida dos povos e presas fáceis dos demagogos. Alain SUPIOT, Professor do Collège de France (Chaire “État social et mondialisation: analyse juridique des solidarités”)Andrea ALLAMPRESE, Professor da Universidade de Modena e Reggio EmiliaLaurence BURGORGUE-LARSEN, Professora de Direito Público da Universidade de Paris-SorbonneIrena BORUTA, Antiga professora da Universidade Cardeal Wyszynski (Varsóvia), antigo membro do Comité de Negociadores para a adesão da República da Polónia à União Europeia (1998-2001)Maria CASAS BAHAMONDE, Professora da Universidade Complutense de Madrid, antiga presidente do Tribunal Constitucional Espanhol, presidente da Associação Europeia de Direito do Trabalho e da Segurança SocialChristina DELIYANNI DIMITRAKOU, Professora da Universidade Aristóteles de Salónica, directora do Centro de Direito Económico Internacional e EuropeuFranciszek DRAUS, Investigador em Ciências Políticas (Berlim)Gaël GIRAUD, Director da Investigação do CNRSOta de LEONARDIS, Professora da Universidade de Milano Bicocca, directora do Centro de Estudos de Sociologia e Acção PúblicaPaul MAGNETTE, Professor da Universidade Livre de Bruxelas, antigo Ministro-Presidente da ValóniaAlexandre MAITROT DE LA MOTTE, Professor da Universidade Paris-Este CréteilAntónio MONTEIRO FERNANDES, Professor do Instituto Universitário de LisboaUlrich MU¨CKENBERGER, Professor Emérito da Universidade de Hamburgo, director da Investigação da Universidade de BremenBe´atrice PARANCE, Professora de Direito da Universidade UPL Paris 8 Vincennes Saint-DenisÉtienne PATAUT, Professor da Faculdade de Direito da Universidade Paris-Sorbonne, director da Escola Doutoral de DireitoClaude-Emmanuel TRIOMPHE, Conselheiro do Alto-Comissário para o Empenhamento Cívico (França)Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Fernando VASQUEZ, Consultor em Assuntos Europeus, antigo membro da Direção-Geral dos Assuntos Sociais da Comissão Europeia[1] Albert O. Hirschman, Exit, Voice and Loyalty. Response to Decline in Firms, Organizations and States, Harvard Univ. Press, 1970. [2] Pierre Mendès-France, Discurso de 18 de Janeiro de 1957 na Assembleia Nacional por ocasião do debate sobre a ratificação do Tratado de Roma (Journal officiel de la République française 19 janvier 1957, n° 4, p. 166). [3] Dieter Grimm, Europa ja - aber welches?: Zur Verfassung der europäischen Demokratie, Beck 2016, 288 p. [4] Jürgen Habermas, Zur Verfassung Europas, suhrkamp 2011, 48-82. [5] Friedrich A. Hayek, The Economic Conditions of Interstate Federalism, The New Commonwealth Quarterly, V, No. 2 (September, 1939), 131–49. [6] Cf. Fritz Scharpf, Governing In Europe: Effective and Democratic? Oxford University Press, 1999, 256 p. [7] M. Aglietta & N. Leron, La double démocratie. Une Europe politique pour la croissance, Paris, Seuil, 2017, 197 p. [8] E. Balibar, Union européenne, Europe, Démocratie, Ed. Du bord de l’eau, 2016, 326 p. Os autores escrevem segundo o novo Acordo Ortográfico
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE