Huawei desafia EUA e outros países a provarem que empresa é ameaça à segurança
Realização de uma conferência de imprensa pela Huawei sugere que a empresa está preocupada com as crescentes restrições no acesso ao mercado 5G. (...)

Huawei desafia EUA e outros países a provarem que empresa é ameaça à segurança
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Realização de uma conferência de imprensa pela Huawei sugere que a empresa está preocupada com as crescentes restrições no acesso ao mercado 5G.
TEXTO: O presidente da Huawei desafiou hoje Washington e outros governos a provarem que a empresa chinesa é uma ameaça à segurança, depois de vários países a terem banido de participar no desenvolvimento de telecomunicações. Numa rara conferência de imprensa, na sede da Huawei Technologies, Ken Hu afirmou que as acusações contra o maior fabricante global de equipamentos de rede derivam de "ideologia e geopolítica". O responsável avisou que excluir a Huawei do desenvolvimento de redes de quinta geração (5G) na Austrália e em outros mercados vai prejudicar os consumidores, ao aumentar os preços e travar a inovação. A Austrália e a Nova Zelândia baniram as redes 5G da Huawei por motivos de segurança nacional, após os Estados Unidos e Taiwan, que mantém restrições mais amplas à empresa, terem adoptado a mesma medida. Também o Japão, cuja agência para a segurança no ciberespaço classificou a firma chinesa como de "alto risco", baniu as compras à Huawei por departamentos governamentais. Em Portugal, durante a recente visita do Presidente chinês, Xi Jinping, foi assinado entre a Altice e a Huawei um acordo para o desenvolvimento da tecnologia 5G em Portugal, apesar de a UE ter assumido "estar preocupada" com a empresa e com outras tecnológicas chinesas, devido aos riscos que estas colocam em termos de segurança. A realização de uma conferência de imprensa pela Huawei sugere que a empresa está preocupada com as crescentes restrições no acesso ao mercado 5G, que analistas estimaram que pode valer mais de 20 mil milhões de dólares (cerca de 18 mil milhões de euros) por ano, em 2022. "Se há provas e evidências, estas devem ser transmitidas (. . . ) às operadoras de telecomunicações, porque são estas que compram à Huawei", afirmou Ken Hu. Fundada em 1987, por um ex-engenheiro das forças armadas chinesas, a Huawei rejeitou as acusações de que é controlada pelo Partido Comunista Chinês (PCC), ou que desenvolve equipamentos que facilitam a espionagem chinesa. Mas funcionários estrangeiros citaram uma lei da China que requer às empresas a cooperação com os serviços secretos. A emergência das redes 5G acrescentou receios, à medida que os governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como activos estratégicos para a segurança nacional. Esta tecnologia destina-se a expandir as redes de telecomunicações para conectarem carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais eléctricas. "Nunca houve qualquer evidência de que o nosso equipamento constitui uma ameaça à segurança", afirmou Hu. "Nunca aceitámos pedidos de qualquer governo para prejudicar as redes ou negócios de um cliente nosso", acrescentou. A Huawei é o primeiro actor global chinês no sector tecnológico, tornando a empresa politicamente importante, à medida que o PCC tenta transformar as firmas do país em importantes competidores em actividades de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos. A empresa emprega 180 mil pessoas e as vendas deverão superar os 100 mil milhões de dólares, este ano. As ambições chinesas para o sector tecnológico chinês resultaram já numa guerra comercial com os Estados Unidos, com os dois países a aumentarem as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Hu garantiu que a empresa "nunca recebeu qualquer pedido para fornecer informação imprópria". "No futuro, vamos agir em estrita conformidade com a lei, ao lidar com situações semelhantes", disse. O presidente da empresa citou ainda previsões que apontam que os custos de instalar estações para rede sem fio de 5G na Austrália sairá entre 15% e 40% mais caro sem a competição da Huawei. "Não podes tornar-te melhor ao bloquear o acesso de competidores ao campo de jogo", disse. Hu garantiu que, apesar das interferências "políticas", a Huawei assinou já contratos para fornecer equipamentos 5G a 25 operadoras de telecomunicações, e que exportou já 10. 000 estações para rede sem fios de última geração. "Estamos orgulhosos por ver que os nossos clientes continuam a confiar em nós", disse.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Costa nega incompatibilidades ou interferências de Siza Vieira na energia
Primeiro-ministro teve que defender o seu ministro-adjunto do PSD e do Bloco por causa da empresa familiar que manteve quando assumiu o cargo, da sua relação com a China Three Gorges e com as renováveis. (...)

Costa nega incompatibilidades ou interferências de Siza Vieira na energia
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Primeiro-ministro teve que defender o seu ministro-adjunto do PSD e do Bloco por causa da empresa familiar que manteve quando assumiu o cargo, da sua relação com a China Three Gorges e com as renováveis.
TEXTO: António Costa não encontra “incompatibilidades” nem conflitos de interesses na atitude de Pedro Siza Vieira, por ter criado uma empresa imobiliária familiar antes de entrar para o Governo e de se ter mantido como gerente já quando já estava em funções no executivo. Nem por ter assessorado a China Three Gorges antes de ser ministro e depois ter trabalhado sobre a regulação do sector energético. O primeiro-ministro também garantiu ontem ao Parlamento que o seu ministro Adjunto “não teve qualquer interferência” na mudança do sentido de voto do PS, que primeiro aprovou e depois acabou por chumbar a proposta do BE no Orçamento do Estado de 2018, para a criação de uma contribuição sobre os lucros das renováveis. Costa teve de vestir o papel de defensor de Siza Vieira no debate quinzenal perante o PSD e o Bloco de Esquerda. Catarina Martins questionou-o directamente sobre se Siza “teve interferência” no caso da taxa, que é um “assunto ainda pouco explicado”. Costa garantiu: “Não, não teve qualquer interferência. ” Porém, a verdade é que o gabinete do ministro admitiu ao Expresso, em Janeiro, que Siza Vieira recebeu, em Novembro, uma mensagem de preocupação do presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), António Sá da Costa, sobre o corte nas receitas das empresas do sector então proposto pelo BE. Um caso em que a EDP também seria prejudicada, tal como as sociedades Iberwind e Finerge, que foram vendidas a investidores estrangeiros nos últimos anos em processos assessorados pela sociedade de advogados Linklaters — da qual Pedro Siza Vieira foi sócio durante 16 anos. Na altura, o gabinete de Siza Vieira afirmava ao semanário que o ministro não teve envolvimento nos negócios da Iberwind e da Finerge e que a Linklaters “prestou pontualmente serviços à Iberwind após a venda desta”. Mas o gabinete do ministro fazia a revelação que agora ganha grande relevância sobre a preocupação da APREN. Já antes, a 1 de Dezembro de 2017, Siza Vieira, que tinha tomado posse como ministro em Outubro, deu uma entrevista à SIC Notícias em que defendeu a posição do Governo contra a taxa proposta pelo BE. O PÚBLICO questionou o gabinete de Siza Vieira sobre esta questão e obteve esta resposta: “O sr. primeiro-ministro falou hoje [ontem] sobre o assunto e disse o que tinha a dizer. Não há mais comentários da nossa parte. ”O caso Siza Vieira foi levantado pelo PSD no debate: Fernando Negrão levou uma longa lista de constatações e de perguntas sobre as atitudes e decisões do ministro Adjunto e levou a discussão para o plano ético. Sobre a acumulação do cargo de ministro e de gerente de empresa, que Siza Vieira — jurista de profissão — disse não saber que era ilegal, Costa alegou que “foi um lapso”, que acontece a todos — até a si aconteceu recentemente, com a actualização da declaração de património no Tribunal Constitucional (TC), por causa da venda de uma casa em Lisboa —, e vincou que, assim que o ministro “detectou que havia incompatibilidade, renunciou ao cargo de gerente”. “O ministro respondeu com a franqueza de que quem não deve não teme. ”Negrão criticou o “facilitismo” de Costa e desejou que o TC tire as “devidas consequências” do “lapso” do ministro. O social-democrata não desistiu de questionar a ética do governante e quis saber se o pedido de escusa de intervir em temas da energia no dia da OPA do consórcio chinês sobre a EDP não chegou com sete meses de atraso e se não devia ter sido outro governante a tratar de questões da energia nos últimos meses. Também lembrou que Siza integrou a estrutura de missão que sugeriu alterações ao Código de Valores Mobiliários que facilitaram esta OPA. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Costa chamou a si as duas responsabilidades: a da alteração a esse código para promover o investimento estrangeiro, e a da escolha de Siza para coordenar uma discussão interministerial do “quadro regulatório do sector energético. E elogiou o ministro por ter “amortizado” a quota na Linklaters ao entrar no Governo, algo a que a lei nem o obrigava. Para além de querer saber qual o papel de Siza Vieira na questão da taxa das renováveis, Catarina Martins insistiu no tema da energia pela vertente dos preços para os consumidores. Tendo em conta que a Procuradoria-Geral da República disse que o despacho de Manuel Pinho [sobre a forma de cálculo dos contratos das rendas da energia] é nulo, a bloquista quis saber se o Governo o vai anular e fazer repercutir isso no preço da electricidade, adiantando que permitiria baixá-lo em 7%. “O que é mais importante: é a palavra de Manuel Pinho ou a palavra deste Governo em baixar a conta da electricidade?", desafiou. A questão “não é quem assinou o despacho” mas sim a consequência legal, replicou Costa furtando-se a responsabilidades: “Se a PGR considerou que é nulo, tem bom remédio, que é promover a declaração de nulidade por parte do tribunal. ” Ao Governo, vincou, “compete obedecer à lei”.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PSD BE
A empresa que está a mudar o capitalismo
Depois da crise de 2008, uma empresa norte-americana quase desconhecida cresceu até dominar a economia mundial. Chama-se BlackRock e foi criada em 1988 por Larry Fink. É hoje um centro de poder global que controla os principais bancos e indústrias e aconselha os governos e os líderes mais poderosos. O seu enorme crescimento põe em risco uma das ideias básicas da economia moderna: a concorrência. (...)

A empresa que está a mudar o capitalismo
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois da crise de 2008, uma empresa norte-americana quase desconhecida cresceu até dominar a economia mundial. Chama-se BlackRock e foi criada em 1988 por Larry Fink. É hoje um centro de poder global que controla os principais bancos e indústrias e aconselha os governos e os líderes mais poderosos. O seu enorme crescimento põe em risco uma das ideias básicas da economia moderna: a concorrência.
TEXTO: Lawrence Daniel Fink tem 65 anos e pode ser um exemplo perfeito do “sonho americano”. É um dos homens mais poderosos do mundo. Com a sua gravata violeta, com finas riscas pretas, e o seu fato cinzento-escuro, foi o convidado de honra para a abertura do novo ano da bolsa de valores alemã, no dia 16 de Janeiro de 2017. O que disse nesse momento ajuda-nos a perceber o que aconteceu depois. Tinha uma mensagem clara que expôs num longo discurso aplaudido pela nata dos empresários alemães: “Os sistemas de pensões têm falhado em preparar os trabalhadores para o futuro. ” “Os trabalhadores tendem a ser demasiado dependentes das pensões estatais”, observou. Há uma razão para esta mensagem ter sido transmitida ali, em Frankfurt, o grande centro financeiro da Europa, depois do “Brexit”: Fink é o CEO da maior empresa financeira do mundo, a BlackRock. Ele é o principal estratego de um fundo que vale 5, 2 biliões de euros (6, 3 triliões de dólares), ou seja, Fink tem o poder de dispor de mais dinheiro do que o PIB da Alemanha e do Reino Unido somados. Por isso tão depressa está na bolsa alemã como no Palácio do Eliseu, em França, para um encontro com o Presidente, Emanuel Macron. Ou na Casa Branca, como conselheiro económico do Presidente dos EUA, Donald Trump. Ou ainda em Lisboa – apesar de a empresa não ter sequer uma sede em Portugal – como um dos maiores patrões da bolsa portuguesa, detendo quotas significativas da EDP, da Jerónimo Martins, da Galp, do Millennium BCP e da Nos. E participações em várias outras, como a Sonae (sociedade que é dona do PÚBLICO), Navigator, CTT e REN. A BlackRock é dona de partes importantes de 17 mil empresas no mundo – da Micrososft à Apple (tecnologia), da Bayer (farmacêutica e química) à Monsanto (agricultura e biotecnologia). Com isso, o sistema económico, tal como o conhecíamos, está em acelerada mudança. José Azar, professor de Economia na Universidade de Navarra, tem estudado o assunto nos últimos anos. “O problema é que se tantas empresas têm o mesmo dono, então essas empresas funcionam como uma só. E isso é um novo monopólio à escala mundial. ”Por seu lado, Daniela Gabor, professora de Economia na Universidade de Bristol, explica-nos que “a BlackRock é o exemplo de uma empresa que cresce em importância sistémica e isso traduz-se numa mudança estrutural”. Michael Theurer, eurodeputado alemão do partido liberal FDP alerta: “Só o tamanho da BlackRock cria um poder nos mercados que nenhum Estado pode controlar. ”“Larry”, como é conhecido desde que nasceu em Van Nuys, Los Angeles, Califórnia – o mesmo tratamento informal que recebe nos encontros com chefes de Estado, ou na conservadora bolsa nos arredores de Frankfurt –, acaba por ser o grande beneficiário de um mundo pós-bancocracia. Logo ele, que fez a sua carreira profissional como especialista nos produtos financeiros que a crise de 2008 veio a renegar. Filho de uma professora de Inglês e do dono de uma sapataria, Fink formou-se em Ciência Política e depois especializou-se no negócio do imobiliário. Hoje, Larry Fink é influente ao ponto de esbater a linha que separa o interesse público do privado. E é o rosto mais exacto daquela expressão que tanto usamos sem a humanizar, “os mercados”. Ao mesmo tempo, é o gestor a quem os governos recorrem para traçar e definir políticas, dar conselhos em momentos de crise, resolver problemas. A BlackRock cresceu muito desde que foi fundada por Fink há menos de 30 anos. “Em 1988 começámos com oito pessoas numa única sala", lembra a apresentação oficial. Neste momento, a empresa tem 13. 900 funcionários, a trabalhar em 70 escritórios de 30 países. O negócio das pensões nos EUA ajuda a explicar este crescimento pouco comum. Um bilião de dólares, dos seis que a BlackRock hoje gere, é dos fundos privados de reformas dos trabalhadores americanos. Do lado de cá do Atlântico, na União Europeia, esse negócio não existe. Ainda. As palavras de Fink não costumam ser ignoradas. Há um padrão, nos últimos anos, que mostra como as sugestões da BlackRock se tornam, rapidamente, em decisões políticas. Seis meses depois do CEO da BlackRock ter apelado a um novo sistema de pensões privado na Europa, o vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, anunciou, em Junho do ano passado, um novo Plano Pessoal Pan-Europeu de Pensões (PEPP), que deve entrar em vigor já em 2019. A medida pode afectar 240 milhões de europeus e é a criação à escala europeia de um sistema privado de pensões de reforma, que dá a possibilidade aos cidadãos europeus de descontar – com impostos reduzidos – para um fundo comum, gerido por empresas privadas. A BlackRock já gere uma espécie de projecto-piloto de pensões privadas europeias, o Reseaver, que foi criado para juntar os descontos de um sector profissional específico, o dos investigadores. Em Espanha, a BlackRock usou um método semelhante. No dia 26 de Fevereiro de 2012, Larry Fink deu uma entrevista ao El País, em Madrid. Apontou aquele que, na sua opinião, era o problema decisivo para a estagnação da economia espanhola: o valor excessivo do imobiliário nos bancos. Explicou que era preciso desvalorizar esse valor e, com isso, reactivar o mercado. Menos de dois meses depois, em Abril, a BlackRock já estava a trabalhar com o Governo e o Banco de Espanha numa forma de resolver o problema apontado por Fink. Com a consultora Oliver Wyman, a BlackRock criou as bases do que viria a ser o “banco mau” espanhol, o SAREB, que absorveria os activos imobiliários que pesavam nas contas da banca. Hoje, seis anos depois da visita de Larry Fink a Madrid, e da participação da sua empresa na criação do “banco mau”, a BlackRock é accionista dos cinco principais bancos espanhóis: Caixabank, Santander, BBVA, Bankinter e Sabadell. E começou também a investir fortemente no sector imobiliário (depois de uma significativa baixa do seu valor, pela acção do "banco mau"). Este poder da BlackRock é o resultado de uma “magia” moderna. A empresa criou o mais reconhecido programa informático de gestão do risco de investimento. Chamou-lhe Aladdin (supostamente um acrónimo para Asset, Liability, Debt and Derivative Investment Network), como o personagem das Mil e Uma Noites. Com a diferença de que nesta história não há um génio, nem uma lâmpada mágica. Mas a BlackRock tem pedidos a fazer. . . Não é só aos governos que a BlackRock molda o futuro. No dia 12 de Janeiro último, a caixa de correio electrónico de António Mexia, da EDP, como as de milhares de outros CEO de empresas em que a BlackRock é dona de capital, recebeu um mail de Larry Fink. De Park Avenue, em Nova York, Fink deixou um recado: “Desde a crise financeira, aqueles que detêm capital colheram enormes benefícios”, diz, logo no segundo parágrafo. Isso aconteceu, explica, enquanto muitos cidadãos vivem com um “baixo crescimento salarial e sistemas inadequados de reforma”. Essa, continua Fink, é uma das principais causas de turbulência e polarização em todo o mundo. Do populismo, também. Como os governos em muitos países não conseguem lidar com a pressão, explica, o sector privado deve arregaçar as mangas e ter um "propósito social”. Vários analistas apontaram a novidade: Larry Fink, a falar de cima, aos poderosos dirigentes empresariais. Tendo em conta o poder que detém, não deixa de ser impressionante que o nome do empresário, ou até o da empresa que criou, sejam tão pouco familiares para a maioria dos cidadãos. Fink e a BlackRock não são celebridades. E há apenas dez anos, na véspera da crise que fez tremer Wall Street, eram totalmente desconhecidos. O mundo financeiro estava assente em montanhas de títulos invendáveis que valiam várias centenas de biliões de dólares e quase ninguém sabia como lidar com eles. Esta foi uma oportunidade para Fink e a sua equipa. Nessa altura, eles estavam a desenvolver um programa de computador para a análise de risco de grandes carteiras, o Aladdin. Isso permitiu-lhes criar estratégias para lidar com as carteiras “tóxicas” das contas dos bancos. Os então gigantes, como a JP Morgan, a suíça UBS, a seguradora AIG – uma casa de dinheiro atrás da outra – contrataram a BlackRock. Em 18 de Março de 2008 chegou o mais proeminente de todos os clientes: a Reserva Federal Americana. Durante a noite, a Fed assumiu todos os títulos “tóxicos” do banco de investimentos insolvente Bear Stearns, e Timothy Geithner, então chefe da supervisão e depois ministro das Finanças de Obama, contratou a BlackRock para os negociar. Desde então, os especialistas de Fink elaboraram o plano para o fundo de resgate TARP (Troubled Asset Relief Program) em nome do Ministério das Finanças, administraram os títulos ameaçados do Citibank e da AIG e reviram a carteira de biliões de dólares das seguradoras estatais Fannie Mae e Freddie Mac. A BlackRock tornou-se, de facto, no departamento operacional do Governo americano para gerir a crise de 2008. Um ano depois, surgiu o maior negócio. O banco britânico Barclays estava em dificuldades e teve de vender a sua divisão de fundos de investimento. A BlackRock adquiriu o bem-sucedido Barclays Investment Group (BIG) em Junho de 2009 por quse 10 mil milhões de euros (o equivalente ao valor disponibilizado pela troika para ajudar os bancos portugueses) – um negócio com uma escala impressionante. Os activos sob gestão da BlackRock duplicaram. Ao mesmo tempo, a empresa tornou-se na principal fornecedora do produto financeiro mais importante do futuro: “iShares”, fundos de índices negociados em bolsa, ETF (de Exchange Trade Funds). A ideia é simples. Com uma compra, os investidores adquirem indirectamente todas as acções listadas num índice, como o português PSI 20, o alemão DAX 30, ou o americano S&P 500. O valor dessas unidades de fundo segue o valor do índice. Se o PSI 20 sobe, o mesmo acontece com o valor do fundo correspondente; se cair, os investidores também perdem. Este investimento é fácil de executar e, talvez mais importante, é barato. Não são necessários especialistas bem pagos, todos os processos são automatizados. Quem quiser vender as suas acções pode fazê-lo através de um qualquer dispositivo ligado à internet. Os compradores normalmente têm que pagar à BlackRock apenas 0, 2% do valor em taxas de gestão por esse investimento “passivo”, como lhe chama o jargão financeiro. O conceito tem décadas, mas só se tornou muito popular após o crash de Wall Street, em 2008, quando o mundo estava à procura de investimentos simples e pouco arriscados. Todas as principais instituições financeiras têm oferecido esses fundos há muito tempo, mas nenhuma é tão bem-sucedida quanto a BlackRock. Só no fundo iShare já foram investidos 1, 8 biliões de dólares. Milhões de cidadãos são clientes da Blackrock sem saberem que o são. Quase 40% de todas as acções em todo o mundo já estão registadas em fundos “passivos” – um desenvolvimento que, de acordo com especialistas do mercado e algumas autoridades supervisoras, está a colocar em perigo o sistema financeiro. Os analistas da Sanford C. Bernstein & Co chegaram a acusar os fundos “passivos” de serem "piores que o marxismo”, pelo risco que colocam à organização económica. A vice-presidente da BlackRock, Barbara Novick, parceira de negócios de Larry Fink desde o início, prefere descrever esse sucesso como uma “democratização” do investimento de capital, porque permite a qualquer pessoa investir pequenas quantias. Mas o problema pode ser outro. . . Além da BlackRock, as empresas financeiras americanas Vanguard e State Street já administram biliões de dólares. “Os três grandes”, como são chamados na indústria, gerem os seus activos em nome dos seus clientes. Mas isso é acompanhado pelo direito associado de votar como accionista – um poder potencial sem precedentes. De acordo com cálculos da equipa de pesquisa Corpnet da Universidade de Amesterdão, os “três grandes” já são o maior accionista em 88% das 500 maiores empresas americanas do índice S & P 500. O mesmo acontece na Europa. Segundo a base de dados Thomson-One, consultada pelo Investigate Europe, a BlackRock é dona de acções em 14 das maiores empresas portuguesas cotadas no PSI 20. O valor desse investimento é de 1, 8 mil milhões de euros. Quase metade concentra-se na EDP (ver infografia). Desta forma, a BlackRock não é apenas uma proprietária significativa de empresas individuais, mas de sectores inteiros da economia. Seja na indústria aeroespacial ou de computadores, na distribuição farmacêutica ou em eletrodomésticos. Os cinco principais bancos dos EUA também estão indirectamente sob o controle dos novos gigantes do dinheiro. Na indústria química, por exemplo, a BlackRock domina nos dois lados do Atlântico. Bayer e Monsanto, BASF e DuPont, a produtora de gás Linde e sua concorrente norte-americana, a Praxair – a empresa de Fink é a principal accionista em todas estas indústrias gigantes. No entanto, isto não foi encarado como um potencial problema. Até que um grupo de economistas, liderado por José Azar e pelo alemão Martin Schmalz, da Universidade de Michigan, publicou em 2016 um relatório sobre “propriedade comum”. A tese é muito clara: os co-proprietários de empresas do mesmo sector não têm nada a ganhar se as suas empresas se desvalorizam, pela concorrência. Ou seja, se a BlackRock tem acções de várias marcas de combustível, não é de esperar que deseje que uma delas vá à falência porque outras vendem gasolina mais barata. Na melhor das hipóteses, o valor de todo o seu portfólio permanece igual se uma empresa ganha à custa de outra. “Em teoria, o problema era conhecido há muito tempo", lembra Schmalz, “mas ninguém o investigou”. É por isso que ele e dois colegas examinaram de perto a indústria de aviação dos EUA. A BlackRock e a Vanguard eram duas das quatro maiores accionistas de todas as cinco grandes companhias aéreas americanas, e os economistas provaram que os clientes tinham que pagar até 10% mais no preço dos voos do que seria habitual, sob condições de competição normais. Um estudo de 2017, sobre o sector bancário, chegou à mesma conclusão. Quanto maior a concentração dos proprietários, maiores as taxas e menor o juro oferecido aos clientes. Os trabalhos de Azar e Schmalz estiveram no centro de um debate na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). O professor Einer Eilhauge, especialista em políticas de concorrência da Universidade de Harvard, afirmou nessa altura que a "propriedade comum” em sectores inteiros da economia é “a maior ameaça à livre concorrência do nosso tempo". A Autoridade da Concorrência portuguesa está preocupada. “Parece claro que, pelo menos em algumas circunstâncias, a propriedade comum pode enfraquecer os incentivos para a concorrência e levantar questões sobre conluio tácito”, explicou a entidade reguladora ao PÚBLICO. A Comissão Alemã Anti-Monopólio também fez soar o alarme. Num relatório para o Governo Federal escreveu que há “um potencial significativo para distorcer a concorrência por meio de participações horizontais indirectas entre empresas no mesmo sector económico através de investidores institucionais”. Mais recentemente, a Comissão Europeia veio expressar a sua preocupação: “É cada vez mais comum que os mesmos investidores possuam acções em diferentes empresas do mesmo sector”, disse a comissária dinamarquesa Margrethe Verstager. Por isso, continua a comissária, "a concorrência não é tão atraente para eles”. Uma fonte oficial da Comissão Europeia revelou ao Investigate Europe que Vestager encomendou um estudo detalhado sobre as consequências para a UE desta situação. A economista Fiona Scott Marton, professora em Yale, e ex-procuradora anticartéis do Departamento de Justiça dos EUA, defende que as acções e os direitos de voto dos grupos financeiros sejam limitados a um máximo de 1% por empresa se investirem em sectores inteiros. A BlackRock rejeita estas conclusões. Para a empresa de Larry Fink, Schmalz e os seus colegas usaram “métodos estatísticos questionáveis”, e os mecanismos descritos nos seus trabalhos eram “vagos” e “hipotéticos”, escreveu Barbara Novick, vice-presidente da BlackRock, num documento enviado à OCDE. A crítica a estes novos “accionistas universais” não é de forma alguma apenas um exercício académico, assegura John Weche, o especialista responsável da comissão alemã antimonopólio. “É absolutamente claro", garante Weche, “que hoje há uma influência considerável dos accionistas que têm entre 5 e 10% nas empresas cotadas”. “Isso prejudica as regras básicas de nossa economia de mercado, mas a minha experiência diz-me que a maioria dos políticos teme a influência do gigante e nem ousa fazer perguntas críticas”, adverte Michael Theurer, deputado do FDP alemão. Quando Larry Fink viaja pela Europa é recebido como convidado de honra. Seja em Roma, Paris, Haia ou Atenas – tem sempre um encontro privado com os líderes nacionais. “Nas últimas semanas, tive reuniões com quatro chefes de Estado”, revelou Fink, em Abril de 2017 na Bloomberg TV. O Presidente francês Emmanuel Macron recebeu-o duas vezes depois de assumir o cargo há um ano. Desde 2011, a BlackRock aumentou os seus gastos anuais com lobby na UE de 150 mil para 1, 5 milhões de euros. O êxito das suas campanhas de lobby enche uma longa lista. Apesar de ser a maior gestora de activos do nosso tempo, a BlackRock conseguiu evitar ser considerada uma “instituição financeira sistemicamente importante” pelo Conselho de Estabilidade Financeira, fugindo assim às regulamentações aplicadas aos gigantes que podem ser “demasiado grandes para falir”. Desde 2014, quando passou a haver registo dos encontros entre lobbyistas e comissários europeus, a BlackRock já se reuniu 33 vezes com responsáveis do Governo da UE. Mas a BlackRock não faz lobby apenas com os comissários ou chefes de estado relevantes. Influencia toda a cadeia de decisão, do comissário ao assistente de um eurodeputado. Segundo uma fonte do Parlamento Europeu, “por vezes a BlackRock organiza, através dos seus lobbyistas, os chamados 'dias de informação' apenas para assistentes dos deputados, para lhes explicar como funciona um produto ou como o potencial dos fundos passivos pode ser usado para aumentar crescimento económico”. "É claro que esses jovens assistentes aconselharão os seus membros a votarem de uma certa maneira”, nota a mesma fonte. Tudo isso faz parte de uma “campanha de lobby muito inteligente, sustentada e rica em recursos”, diz Daniela Gabor, professora de Economia e Macrofinanças da Universidade do Oeste da Inglaterra, em Bristol. Quando Gabor acompanhou os debates em Bruxelas sobre o novo conjunto de regras que se aplicariam a bancos e empresas financeiras, percebeu que havia uma mudança. “Comecei a olhar com atenção, a acompanhar os debates, a ir a Bruxelas para as audiências, e sempre que eu ia lá, as pessoas da BlackRock estavam ali. ”A BlackRock tem como objectivo “contribuir positivamente para a legislação e os regulamentos que afectam os investidores finais da Europa "mas a realidade pode ser medida pela observação de Daniela Gabor: “O meu instinto diz-me que neste momento não está a acontecer nada que realmente a BlackRock não queira. . . ”Desde a regulação dos “bancos-sombra” à criação de um imposto sobre transacções financeiras, várias são as medidas que a UE debate há anos sem conseguir chegar a um consenso. Sobre todas elas a BlackRock tem uma posição clara, detalhadamente exposta nos seus persuasivos "pontos de vista” – relatórios sobre políticas públicas. Nos seus quadros a empresa tem também alguns antigos responsáveis políticos europeus. O ex-ministro britânico das Finanças George Osborne é talvez o mais emblemático. Na Alemanha, Friedrich Merz, que chefia o conselho de supervisão da BlackRock desde Março de 2016, é um ex-líder parlamentar da CDU, partido da chanceler Angela Merkel. Jean François Cirelli, presidente da filial francesa da empresa, foi conselheiro do presidente Jacques Chirac, trabalhou com o ex-primeiro-ministro Jean Pierre Raffarin, e agora foi nomeado pelo actual presidente Emanuel Macron para a comissão que estuda a reforma do Estado francês. Um ponto importante na sua agenda: a alteração ao sistema de pensões de reforma. Philipp Hildebrand, responsável pelos grandes clientes na Europa e vice-presidente do grupo desde 2012, também é influente. Presidiu ao banco central suíço durante três anos. É ele o responsável pela ligação importante da BlackRock ao sistema de supervisão bancária. O que inicialmente foi apenas uma operação para Reserva Federal dos EUA, durante a crise, é agora uma parte substancial dos rendimentos da empresa. BlackRock Solutions é o nome do ramo de consultoria que abriu as portas na Europa para outro grande negócio: os livros de crédito dos bancos. Dezembro de 2010, Dublin. O banco central irlandês falhou na supervisão e a Irlanda teve que pedir um empréstimo de 50 mil milhões de euros para resgatar quatro grandes bancos e proteger os seus credores, principalmente da Alemanha e da França, das perdas. Mas o FMI, segundo o diretor do Banco da Irlanda, insistiu numa auditoria externa "independente” aos livros bancários e foi isso “que, naturalmente, levou à nomeação de BlackRock” como assessora. Nenhum concurso foi realizado. Mas isso foi apenas o começo. Ao mesmo tempo, na Grécia, a BlackRock também foi contratada para avaliar todos os 18 bancos gregos e fornecer recomendações para a sua liquidação ou fusão. Em 2013, o banco central grego concedeu a auditoria dos quatro grandes bancos recém-criados à BlackRock Solutions e, em 2015, voltou a contratar a mesma empresa para definir a estratégia para resolver o problema dos NPL, acrónimo para nonperforming loan, ou seja, crédito mal parado. Paschalis Bouchoris, que liderava o fundo estatal responsável pelas privatizações, foi nomeado chefe da subsidiária grega da BlackRock. O facto de um grupo que detinha a melhor informação privilegiada poder jogar em todos os tabuleros não foi visto como um problema pelos ministros das finanças do Eurogrupo, nem pelo BCE em Frankfurt. Pelo contrário: os bancos centrais da França, Espanha e Holanda também contrataram a BlackRock para examinar os bancos. No entanto, os custos e condições dos contratos com os consultores controversos são geralmente secretos. É “informação confidencial das autoridades de supervisão financeira”, explicou ao Investigate Europe um porta-voz do banco central holandês. Em meados de 2014, a BlackRock foi contratada pelo próprio BCE para aconselhar sobre um possível plano de compra de títulos. Segundo o Financial Times, “o braço consultivo da gestora de recursos dos EUA, BlackRock Solutions, ajudará o BCE a projectar um programa para comprar títulos baseados em activos como parte dos planos do regulador para facilitar as condições de crédito na zona euro”. Em 2016, a BlackRock foi novamente contratada pelo BCE para ajudar o banco nos seus testes de stress a 29 bancos da zona euro – o teste envolveu os bancos sob supervisão da Autoridade Bancária Europeia, num total de 53 bancos. Estes testes de stress revelam informações confidenciais sobre os bancos, como quais os empréstimos que provavelmente não serão pagos, mas o BCE garante que há uma separação estrita entre os investidores da BlackRock, que possui acções em todos os principais bancos europeus, e o braço de consultoria. “A confidencialidade da informação é garantida pelos termos do contrato”, garante ao Investigate Europe um porta-voz do BCE. Para justificar esta ubiquidade, tanto a BlackRock como o BCE alegam que há um “biombo chinês” a separar a actividade de consultoria da actividade financeira da empresa. A empresa é “obrigada a separar estritamente a equipa de consultoria de todas as outras equipas que aconselham outros investidores”. Há um “biombo chinês” denso entre os consultores contratados e as outras atividades da BlackRock. Cada consultor deve assinar um "acordo de confidencialidade" e o envio de dados é tecnicamente impossível. “Eles não podem nem trazer pen drives para aqui”, garante o BCE. “Eu não acredito em biombos chineses. Quando se torna relevante para a empresa, isso não existe. Ouvi pessoas que trabalham nos bancos que garantem que esse conceito definitivamente não funciona. Assim que uma informação é valiosa, ela será usada ou – do ponto de vista legal – também será abusada”, clarifica Hans-Peter Burghoff, professor de Economia Bancária e Serviços Financeiros na Universidade Hohenheim, Alemanha. O acesso exclusivo à mais alta autoridade de supervisão da Europa dá inevitavelmente origem a “uma enorme vantagem estratégica sobre todos os concorrentes”, continua Burghoff. O êxito da BlackRock em vender o sistema Aladdin, que os gestores de investimento podem usar para testar os seus portfólios para todo o tipo de cenários, também é surpreendente. Nos EUA, a empresa mantém um parque de servidores com mais de 6. 000 computadores, que processa dados de um número crescente de portfólios de investimento. Mais de 200 instituições financeiras já usam o sistema. Há até concorrentes diretos do grupo, como o Deutsche Bank e o francês BNP Paribas, que estão entre seus clientes mais importantes. Com cada novo cliente, a BlackRock recebe ainda mais informações e fornece ao grupo uma riqueza gigantesca de dados sobre o que está a acontecer nos mercados financeiros. Mais de 20 biliões de dólares de activos já são geridos por este sistema em todo o mundo, e esse valor cresce mais de 10% a cada ano. “A BlackRock terá em breve o monopólio do mercado financeiro”, prevê um banqueiro de Bruxelas. Só no último ano, os lucros da BlackRock cresceram 26, 9%. E essa parece ser a tendência do futuro. Mas há precisamente dez anos, entre Março e Setembro de 2008, ninguém previa que os gigantes de outrora – os bancos – pudessem vir a revelar-se tão frágeis. Larry Fink deve saber que há um risco. Logo no início da sua carreira, um mau negócio de 100 milhões fê-lo sair pela porta pequena do banco First Boston, e a quase ser proscrito na selecta Wall Street. O cérebro da BlackRock reconheceu o erro. Mas o erro faz parte da sua profissão. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Há uma história reveladora do risco, que está relacionada com a forma como são geridas as pensões. Em 2010, a BlackRock criou um rombo de 500 milhões de dólares no Sistema de Previdência e Aposentadoria da Califórnia (CALPERS) com um mau negócio imobiliário em Manhattan. Este é o mesmo fundo que paga a pensão de reforma da mãe de Larry Fink. “Quando administramos dinheiro cometemos erros. Nunca seremos 100% perfeitos. O nosso trabalho é minimizar esses problemas”, admitiu Fink à revista Vanity Fair. É uma frase de que nos devemos recordar.
REFERÊNCIAS:
Uma ilha irrepetível
O relato fulgurante de um lugar num momento em que tudo parecia possível. A guerra tinha acabado, Nova Iorque apresentava-se como exemplo para o mundo e Manhattan o seu grande vigor. (...)

Uma ilha irrepetível
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-09 | Jornal Público
SUMÁRIO: O relato fulgurante de um lugar num momento em que tudo parecia possível. A guerra tinha acabado, Nova Iorque apresentava-se como exemplo para o mundo e Manhattan o seu grande vigor.
TEXTO: “Em 1945, Nova Iorque via-se (. . . ) como a representante de um povo ‘para quem nada é impossível’. ” A afirmação da jornalista e escritora galesa Jan Morris surge logo no início de um livro com assumida carga elegíaca acerca de uma cidade no auge da sua confiança, com um bairro-símbolo da ousadia e do arrojo, da juventude e da determinação de quem não está disposto a ser menos do que um exemplo de civilização. Manhattan’45, o mais recente título de Morris em Portugal, é um misto de crónica, ensaio, relato de viagem que tenta captar o momento excepcional de um pequeno território geográfico cheio de simbolismo. “Esta pequena ilha, de 5600 hectares de área, 20 quilómetros de comprimento, quatro quilómetros de largura no seu ponto mais largo, 82 metros acima do nível do mar no seu ponto mais elevado, com 1, 9 milhões de habitantes — esta ilha apinhada era a cabeça, o cérebro, a essência da América, e a ideia da América era então todo-poderosa. ”Autoria: Jan Morris (Trad. Paulo Faria) Tinta da China Ler excertoA América ganhara a guerra sem sofrer a destruição física dos seus aliados. Nova Iorque não fora bombardeada; quando o Queen Mary atracou no cais 90, no West Side, os soldados a bordo, regressados da Europa devastada, repararam na sua arquitectura intocada. “Embora faltassem dois meses para a vitória sobre o Japão e para o fim da Segunda Guerra Mundial, Manhattan sabia já que estava prestes a entrar num esplêndido apogeu”, escreve Jan Morris neste livro centrado “na vida pública da cidade, mais do que na vida privada”. Publicado originalmente em 1987, é um retrato social, político, cultural e arquitectónico do núcleo de Nova Iorque no fim da II Guerra e contém a essência desse pedaço de terra: a sua eterna capacidade de transformação e permanente mutabilidade, “uma cidade que nunca é a mesma durante uma dúzia de anos seguidos”, como notou um artigo da Harper’s Bazar — aqui citado por Morris — ainda em meados do seculo XIX. “A autora deu-lhe o título Manhattan’45 ‘porque soava, em parte, como o nome de uma arma, e em parte com uma marca de champanhe’, poder e festa”, sublinha Carlos Vaz Marques no prefácio ao mais recente título da colecção de viagens que dirige na Tinta da China. Jan Morris olhou 1945 quase quarenta anos depois a partir da varanda do hotel Mayflower, em Central Park West. A sua atenção para aquele período da história em particular foi despertada por um gesto do quotidiano; num dia de celebração, a companhia de telefones ofereceu-lhe um narciso quando ela caminhava por Columbus Circle, hábito que vinha do fim da guerra. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É uma viagem geográfica. Podemos seguir os passos de Morris de Leste a Oeste e de Sul a Norte da ilha, notando-lhe o que permanece e os contrastes. A escrita clara, tocada pela ironia, o espanto e a curiosidade satisfeita por uma exaustiva pesquisa histórica que ao leitor nunca sugere exaustão, narram um território num momento “irrepetível” da sua existência, com as personagens que a habitam e os seus costumes, num vislumbre das multidões de que muitos anos antes já falara Walt Whitman. Os negros, os judeus, os italianos, irlandeses, polacos, os chineses, os de todo o mundo. “Será que estes contrastes assombrosos no estilo de vida e na fortuna geravam agitação social? Aparentemente, nem por isso, excepto entre os negros do Harlem com maior consciência política, porque estes bairros pobres fervilhavam também de esperança. ” Tudo era possível na Manhattan de 45. E acima de tudo, o sucesso era possível. Era nisso que acreditavam as multidões que entravam e saiam de comboio, de ferry, de carro, e enchiam os escritórios de Midtown, olhando como alcançável a elegância dos que frequentavam os restaurantes, as lojas, os teatros, os hotéis. Os clubes de jazz multiplicavam-se, as galerias de arte, abriam museus, os jornais alcançavam tiragens inéditas; Manhattan era um “viveiro de escritores”. Arthur Miller, John Steinbeck, Bertolt Brecht, John Cheever, Tennessee Williams, W. H. Auden, e. e. cummings cruzavam-se nas mesmas ruas, nos mesmos bares. “Haveria quaisquer outros 5600 hectares no mundo capazes de se orgulhar de um elenco assim?”, interroga-se rectoricamente Morris. É elegíaca, sim, mas apontando-lhe as fraquezas. O crime organizado, a corrupção, a droga, a pobreza, a ambição sem limites, a solidão, o álcool. Mas, acima de tudo, o símbolo que hoje reverbera com ecos mais profundos. Porque 1945 parece longe e não é tanto no tempo, mas mais uma vez no que simbolizava. “A Manhattan do pós-guerra pareceu-me sempre um símbolo tardio de uma América mais juvenil, ainda claramente inspirada pelos anseios dos seus Pais Fundadores — tolerância, confiança nas próprias capacidades, oportunidades e o direito constitucional a procurar a felicidade. Os seus cidadãos ainda veneravam deuses, como Cheever viria a dizer, ‘tão antigos como os vossos e os meus’, e parece-me que a maioria das pessoas, recordando a cidade-ilha naquela época, sem esquecer os seus defeitos e lacunas, declararia que, pesados todos os prós e contras, dentro daquilo que uma cidade tem para nos oferecer, se tratava de um lugar bom e alegre. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime guerra social pobreza
A Ciência em 2019
Efemérides notáveis, novos avanços científicos e duas preocupações à entrada para o novo ano. (...)

A Ciência em 2019
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Efemérides notáveis, novos avanços científicos e duas preocupações à entrada para o novo ano.
TEXTO: Einstein disse um dia: “Nunca penso no futuro. Ele não tarda a chegar. ” E aí está, pontualmente, o futuro, com 2019 a suceder a 2018. Na ciência haverá efemérides notáveis. A 29 de Maio fará cem anos que, na ilha do Príncipe, então uma colónia portuguesa, foi observado um eclipse solar por uma equipa britânica chefiada por Arthur Eddington que permitiu comprovar a teoria da relatividade geral, publicada por Einstein quatro anos antes. O Diário de Notícias titulou poeticamente: “A luz pesa. ” Com efeito, as fotos do eclipse mostravam que os raios de luz vindos de estrelas por detrás do Sol se curvavam ao passar perto deste. Passado um século, acumulámos muitas outras provas de que aquela teoria descreve bem a força da gravidade universal. Em 2017 o Nobel da Física foi para os físicos do observatório LIGO, que detectaram pela primeira vez as ondas gravitacionais provenientes de choques de buracos negros, que tinham sido previstas. Até agora foram registados dez eventos desse tipo e outros decerto se seguirão. O LIGO voltará a operar no início de 2019 e estão em construção vários observatórios similares, que ouvirão mais “sons” cósmicos. Outra efeméride espacial será celebrada a 20 de Julho: os 50 anos dos primeiros passos do homem na Lua, dados pelo norte-americano Neil Armstrong, comandante da Apollo 11. Como Eugene Cernan, astronauta da Apollo 17, foi, em 1972, o último homem na Lua, o nosso satélite permaneceu sem presença humana durante quase meio século. E não vai tê-la tão cedo. Talvez em 2030, uma vez que existem projectos da Rússia, do Japão e da China (aposto que ganha a China!). À Lua continuarão a chegar missões não tripuladas, como a chinesa Chang’e 4, que pousará pela primeira vez no lado escuro da Lua a 3 de Janeiro. Está em aberto uma competição para a chegada da primeira missão privada à Lua, que se deve concretizar em 2019, tal como o primeiro voo espacial privado em órbita terrestre. Marte, onde chegou recentemente a missão robótica Insight da NASA para recolher dados sísmicos, continua a ser um sonho adiado. A NASA tem planos para 2033, mas são vagos. 2019 será, por decisão da ONU, o Ano Internacional da Tabela Periódica, para comemorar os 150 anos da proposta de ordenação dos elementos que foi feita pelo russo Dmitri Mendeleev em S. Petersburgo. Uma conferência realizar-se-á nessa cidade a 26 de Julho, sob os auspícios da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC), que celebrará cem anos num congresso em Paris uns dias antes. Em 1869 havia 63 elementos conhecidos, hoje há 118, que compõem toda a matéria conhecida na Terra e no espaço. Há ainda a matéria escura, que ninguém sabe o que é, tal como ninguém sabe o que é a energia escura, uma força antigravitacional que se exerce a distâncias cósmicas. Em 2019 haverá novos avanços na genética (por um lado, está mais perto a meta dos 100 dólares para a sequenciação completa do genoma humano e, por outro, a técnica CRISP oferece possibilidades inauditas de edição genómica) e na inteligência artificial (os algoritmos que já governam a nossa vida continuarão a crescer e a multiplicar-se, provocando lentamente uma disrupção social). As preocupações éticas, que excedem largamente a ciência, são prementes nessas áreas, exigindo a nossa maior atenção. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em Portugal, espera-se que seja concluída a avaliação das unidades de investigação e desenvolvimento (I&D) que está em curso, emendando a vergonhosa avaliação anterior. E espera-se que haja financiamento decente. A seu favor o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, tem o bom encaminhamento da questão do emprego científico. Contra si tem o crescimento apenas incipiente do sistema científico nacional. Os dados de 2017 indicam que só 1, 3% do PIB foi aplicado em I&D (dos quais cerca de metade no sector privado), o que está abaixo do pico de 2009 (1, 6%) e da média da União Europeia (2, 1%). A convergência com a Europa é um imperativo. António Costa declarou em 2017 que a meta para 2020 era 2, 7% do PIB, mas, se não houver um esforço enorme nos próximos dois anos, tal meta não será atingida. A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), com um aumento de 11% em relação ao ano passado, vai ter o segundo maior orçamento de sempre, mas insuficiente para o objectivo pretendido. A FCT apoiará em 2019 a criação da Agência Espacial Portuguesa, que estimulará esforços privados para o lançamento de microssatélites na ilha de S. Maria, nos Açores. É uma boa ideia para levantar Portugal. Termino com duas preocupações. Em primeiro lugar, precisamos de mais e melhor cultura científica. José Mariano Gago percebeu que a ciência tinha de ter apoio social e por isso criou a Agência Ciência Viva. Mas esta instituição, florescente no início, tem estado sem a necessária dinâmica. Por exemplo, não está ainda definido nem o comissário nem o programa nacional do Ano Internacional da Tabela Periódica. E, para dar outro exemplo, são escassos os contributos que tem dado à discussão pública sobre novas questões éticas emergentes, como as que vêm da genética e da inteligência artificial. Já nem falo na falta de resposta aos inimigos da ciência, que incluem políticos ignorantes (e há-os no Parlamento português) e terapeutas alternativos (que pululam, com permissão legal). Desejo que a Ciência Viva se torne mais viva. A outra preocupação diz respeito à Universidade de Coimbra, onde trabalho, que vai escolher um novo reitor em Fevereiro. O mandato do actual frustrou as melhores expectativas, designadamente com a queda progressiva na produção científica em relação às outras universidades. Nos últimos cinco anos, a razão do número de publicações por investigador a tempo inteiro dá um modesto 6. º lugar a Coimbra, com 2, 7 (em primeiro está Aveiro, com 4, 4, seguindo-se o Porto, com 3, 6, e a Nova, com 3, 5). Coimbra também não tem nenhum highly cited researcher nos últimos dez anos. O próximo reitor tem, neste como noutros sectores (o Museu da Ciência é uma “pérola” abandonada), de fazer mais e melhor. Desejo que a Universidade de Coimbra acorde.
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU NASA
Palavras, expressões e algumas irritações: Rota da Seda
“Antiga rota que ligava o Norte da China, através da Ásia Central, com Bukhara e Samarcanda, e atingia a Europa.” Portugal quer recuperar esta rota, mas não com seda. (...)

Palavras, expressões e algumas irritações: Rota da Seda
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: “Antiga rota que ligava o Norte da China, através da Ásia Central, com Bukhara e Samarcanda, e atingia a Europa.” Portugal quer recuperar esta rota, mas não com seda.
TEXTO: Regista a Enciclopédia Geográfica para a tão invocada por estes dias “Rota da Seda”: “Antiga rota que ligava o Norte da China, através da Ásia Central, com Bukhara e Samarcanda, e atingia a Europa. A estrada, por onde a seda chinesa era transportada já no tempo dos romanos, deixa a cidade de Yumen (Porta de Jade), na província de Gansu, e circunda os desertos de Gobi e Taklimakan. Marco Polo, o explorador veneziano do século XIII, viajou até à China seguindo esta rota. Modernas estradas, em parte de macadame, seguem o traçado da Rota da Seda. ” Portugal quer recuperar esta rota, mas não com seda. A visita de Xi Jinping a Portugal começou com um encontro com Marcelo Rebelo de Sousa. “As relações entre os dois países ‘estão no melhor período da História’, afirmou o líder chinês. Marcelo admitiu diferenças entre os dois países, mas encontrou áreas de convergência. ”, escreveu-se. A passagem por Lisboa também ficou marcada por outra expressão/sigla: DDT, “dono disto tudo”, atribuída ao Presidente chinês pelo chefe de divisão no Ministério dos Negócios Estrangeiros, Paulo Chaves. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ao que parece, a China “descobriu” Portugal e o país pode também beneficiar disso, como anseia José Ribeiro e Castro, que sugere que criem dois pólos de desenvolvimento, em Portalegre e Braga: “Seria um grande pilar onde ancorar as novas relações luso-chinesas e estruturar em Portugal o abraço da Eurásia. ”A vinda da comitiva chinesa obrigou muitos cidadãos da zona de Lisboa a mudarem as suas “rotas”, com estradas temporariamente reservadas ao cortejo presidencial. Também a greve da CP de sexta-feira obrigou mais uma vez os portugueses a mudarem de “rumo”. Como os chineses são bons com os comboios, talvez consigam pôr os nossos na linha (e nas linhas). A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave chinês
Forte com os fracos…
A “almofada financeira” pública que não há maneira de descer e os resgates obscenos à banca constituem os principais desperdícios de dinheiros públicos do passado recente. (...)

Forte com os fracos…
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.029
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A “almofada financeira” pública que não há maneira de descer e os resgates obscenos à banca constituem os principais desperdícios de dinheiros públicos do passado recente.
TEXTO: O primeiro-ministro anunciou no Parlamento que Portugal irá pagar antecipadamente o remanescente da dívida ao FMI até ao final do ano, cerca de 4700 milhões de euros (M€), o que permitirá algumas, pequenas, poupanças na despesa com juros porque a taxa de juro dos empréstimos ao FMI é um pouco mais alta do que a taxa de juro em euros. O Governo deveria disponibilizar mais informação sobre as suas decisõesSeria bom que o Governo elucidasse sobre os cálculos subjacentes nesta como noutras decisões similares. Por exemplo, a decisão de emitir dívida a cinco anos em moeda chinesa (“panda bonds”) a uma taxa de juro que provavelmente será próxima de 5%. . . Refira-se que os 4700 M€ de dívida remanescente de Portugal ao FMI vencem entre 2021 e 2024, i. e. , têm maturidades entre três e seis anos, com a maior parte dessa dívida (cerca de 4000 M€) a vencer em 2021 e 2022. A taxa de juro actual dessa dívida ao FMI, denominada em SDR (Special Drawing Rights), é de cerca de 2, 08% (1, 079% mais uma margem de 100 pontos base). Contudo, a taxa de juro no mercado secundário para dívida com essa maturidade denominada em euros está entre -0, 55% (3 anos) e +0, 74% (seis anos). Por conseguinte, se fosse emitida dívida em euros com a mesma maturidade da dívida ao FMI que se vence, as poupanças seriam de 85 a 90 M€ por ano, mas somente até 2021. A partir de 2022, as poupanças passariam a ser de cerca de 40 M€ por ano. E desapareceriam a partir de 2024. Isto porque a dívida ao FMI teria de ser amortizada nessas datas. Essa poupança na despesa com juros da dívida ao FMI representa muito dinheiro, ainda que “migalhas” no contexto da enorme despesa anual com juros (8426 M€ previstos em 2018). Assim, a decisão de amortizar antecipadamente essa dívida, numa primeira análise, parece ser uma medida positiva para o país, sobretudo se fosse acompanhada por uma diminuição da almofada financeira e do saldo bruto da dívida. Mas será mesmo?Fundamentações inconsistentes nas opções políticas do GovernoClaro que a fundamentação desta operação de substituição da dívida ao FMI por dívida em euros a taxas de juro mais baixas deita por terra outras decisões do Governo. Como é que o Governo justifica esta operação, ao mesmo tempo que fundamenta uma operação para se endividar em moeda chinesa a uma taxa de juro que poderá ser de 5% ao ano?O blogue do Wall Street Journal refere que o mercado das “panda bonds” tem estado em contracção devido às altas taxas de juro chinesas. O próprio Estado chinês, com rating A+/A1 pela S&P, muito melhor do que o de Portugal, paga taxas de juro 3, 02% a cinco anos, ou seja taxas de juro muito superiores às taxas de juro a que Portugal se financia em euros, sem ter risco cambial. Essa emissão de dívida pública portuguesa em moeda chinesa é justificada com o interesse em “diversificar” fontes de financiamento, mas então porque se acaba antecipadamente com o “diversificado” financiamento do FMI? A “bota não dá com a perdigota”. A China quer desenvolver o mercado de dívida em moeda chinesa e Portugal faz-lhe a vontade, é isso? Não se pode dizer não ao DDT?Política de curto prazo, cega aos custos no longo prazo?No entanto, para se fazer um brilharete no curto prazo, quase parece que se está disposto a entregar a filha em casamento. Com efeito, os pagamentos antecipados da dívida ao FMI exigem a autorização do outro credor sénior do sector oficial, ou seja, as instituições da zona euro. Para obter esse consentimento, Portugal teve de prometer algo em troca ao Eurogrupo. Com efeito, parece que tudo (ou quase tudo) acaba por ser um jogo de dar para receber algo em troca (quid pro quo). Desta feita, o Governo português comprometeu-se a continuar a manter uma almofada financeira de, pelo menos, 40% das necessidades de financiamento previstas para o ano seguinte. Segundo se depreende de artigo de Sérgio Anibal no PÚBLICO de 1 de Dezembro, já tinha sido essa a condição exigida pelo Eurogrupo para autorizar Portugal a amortizar antecipadamente a dívida ao FMI em 2016 e 2017. Coloca-se, pois, a questão de saber se os benefícios acima identificados compensam os custos da almofada financeira, agora exigida, pelos credores europeus de Portugal. Para a actual direcção do IGCP, essa exigência dos credores europeus não se traduz em quaisquer custos, porque meramente cristaliza em “pedra” – num compromisso internacional do Governo de Portugal – as suas preferências. É como que uma validação, pelas autoridades europeias, de que a gestão do IGCP está a ser prudente e responsável. Esquece-se que as autoridades europeias estão, neste ponto, a reflectir os seus próprios interesses enquanto credores, e que, por conseguinte, são os credores que acham bem e aplaudem que o IGCP mantenha uma almofada financeira de, pelo menos, 40% das necessidades brutas de financiamento. Ou seja, ao exigir uma almofada de 40% das necessidades brutas de financiamento de médio e longo prazo do ano seguinte (presentemente, o IGCP mantém uma almofada de 51, 6% dessas necessidades brutas), as autoridades europeias estão sobretudo a defender os interesses dos credores, e não os interesses do devedor (Portugal). A tal almofada financeira de, pelo menos, 40% das necessidades brutas de financiamento (que corresponde a cerca de 6100 M€ na actualidade), tem custos. Segundo o IGCP, em 2018, a taxa de juro média da dívida de médio e longo prazo é de 3, 5%. Nessas condições, o benefício da operação de amortização antecipada de dívida ao FMI (85 a 90 M€ por ano) durante três anos, deveria ser medido em contraponto com o custo de manter a referida almofada financeira, que é de cerca de 213 M€ por ano (=6 100*3, 5%). Note-se que não se conhece o prazo durante o qual o Governo se compromete a manter a almofada financeira perante o Eurogrupo, mas poderá ser um prazo longo, uma vez que os empréstimos das instituições europeias a Portugal têm maturidade média final de cerca de 20 anos. Em resumo, a operação financeira anunciada pelo Governo não é assim tão positiva como parece. Uma poupança de menos de 90 M€ por ano até 2021 e que desaparece completamente após 2024, em contraponto com o compromisso do Governo de manter uma almofada financeira que poderá custar 200 M€ por ano, durante um prazo indefinido, mas que poderá ser longo, não se afigura de facto uma medida de política económica avisada e prudente. Estes pormenores deveriam ser conhecidos, para que, perante a decisão de avançar com a referida amortização antecipada de dívida ao FMI, a opinião pública portuguesa soubesse que “não há bela sem senão” e que os nossos parceiros europeus estão com frequência a “prejudicar-nos” por portas travessas…Quem defende, então, o interesse do devedor Portugal?O Governo de Portugal e o IGCP, em particular, não o parecem fazer neste caso. Parecem, pelo contrário, num caso típico de síndrome de Estocolmo, terem os interesses alinhados com os interesses dos credores de Portugal. 7900 milhões de euros é muito dinheiro parado a ganhar mofo…No artigo do PÚBLICO antes referido, até parece que o IGCP se queixa que 7900 M€ é muito pouco dinheiro e é um montante insuficiente (“relativamente reduzido”). Mas 7900 M€ corresponde a quase 4% da riqueza produzida anualmente em Portugal!Acresce que, na realidade, as Administrações Públicas têm muito mais dinheiro parado: 25 mil M€ (12, 5% do PIB) em Setembro de 2018, incluindo os referidos quase 8 mil M€ do IGCP. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em 2011, o défice orçamental foi de 13 mil M€ (7, 4% do PIB). Em 2018, o défice orçamental será próximo de 0% do PIB. Mas o volume de depósitos das Administrações Públicas parece imune e indiferente a essa realidade e à subida do rating da República entretanto ocorrida, independentemente do seu custo para o erário público. Esta “almofada financeira” pública que, faz anos, não há maneira de descer e os resgates obscenos à banca constituem os principais desperdícios de dinheiros públicos do passado recente. Custa reconhecer mas, nestas duas dimensões, o actual Governo tem desapontado!
REFERÊNCIAS:
Entidades FMI
Ano novo, novas aplicações
O PÚBLICO sugere algumas aplicações que podem tornar 2019 mais fácil e produtivo. (...)

Ano novo, novas aplicações
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O PÚBLICO sugere algumas aplicações que podem tornar 2019 mais fácil e produtivo.
TEXTO: Em todo o mundo, as pessoas gastaram cerca de 76 mil milhões de dólares este ano em aplicações para o telemóvel. É mais 20% do que no ano passado, de acordo com dados da consultora especializada App Annie. O Netflix, o Tinder e a Tencent (dona do serviço de mensagens chinês WeChat) são as aplicações – além dos videojogos – em que as pessoas mais gastaram dinheiro. O Facebook Messenger, o Instagram e o WhatsApp (todas da família Facebook) estão entre as mais descarregadas. Mas há aplicações para muito além das redes sociais e programas para ouvir música ou ver vídeos online. Muitas são grátis. Algumas podem salvar vidas, outras ajudam mesmo a passar menos tempo agarrado ao telemóvel. A ICE é uma aplicação disponível para Android que permite definir um perfil médico que fique sempre disponível no ecrã do telemóvel, mesmo quando este está bloqueado, de forma semelhante a uma nova notificação. O objectivo é ter informação como o tipo de sangue, alergias e contacto de emergência acessível a qualquer altura, desde que se tenha o telemóvel por perto. Há uma versão gratuita e outra paga que permite incluir mais detalhes. O iPhone tem este serviço disponível na aplicação pré-instalada do Apple Health. Apesar do nome parcialmente em inglês, esta é uma aplicação do Serviço Nacional de Saúde que junta de forma cómoda todas as receitas do utente, boletim de vacinas, e inclui um cartão de actividade física pessoal com o número de passos dados ao longo do tempo. O registo é feito com os dados do cartão do cidadão (ou com chave móvel digital, uma funcionalidade de autenticação nos serviços públicos) e o utilizador pode depois adicionar à carteira as receitas que lhe tenham sido prescritas, seja no Serviço Nacional de Saúde ou no sector privado. Uma actualização recente veio resolver alguns dos problemas da aplicação, que frequentemente parava de funcionar ou não permitia um novo registo – o que levou a muitas críticas negativas nas lojas de aplicações. Ainda assim, há muito por resolver e há funcionalidades que podem ser melhoradas: por exemplo, a secção no menu para mostrar os tempos de espera em unidades de saúde simplesmente remete para uma outra aplicação do SNS. Forest é uma aplicação para Android e iOS que ajuda as pessoas a passar menos tempo a desbloquear o telemóvel, ou a consultar actualizações sistematicamente em redes sociais. Funciona como um jogo: quando se quer fazer uma pausa, abre-se a aplicação para “plantar uma árvore” virtual que vai crescendo durante a pausa do utilizador. A árvore morre quando o utilizador decide voltar a usar o telemóvel (mesmo que seja só para o desbloquear). Ao acumular pausas, o utilizador vai construindo uma floresta digital e ganhando moedas virtuais. São usadas para plantar árvores no mundo real, graças a uma parceria com a organização Trees for the Future. Aplicação grátis para ajudar pessoas cegas ou com problemas de visão. Pode “emprestar os seus olhos”, através de uma conexão de vídeo, ou ser assistido pela rede de utilizadores voluntários. O conceito é simples: instala-se a aplicação, definem-se as línguas que se consegue falar, e quando alguém com problemas de visão pede ajuda, recebe-se uma notificação. Faz parte de uma tendência de microvoluntariado em que as pessoas podem aceder a sites ou instalar aplicações móveis, para dedicar alguns minutos a ajudar os outros. Despertador que monitoriza o padrão de sono dos utilizadores e decide quando é que é a melhor altura para acordar alguém de forma natural. Funciona com um período “janela” que é definido pelo utilizador e pode ir até 90 minutos antes da hora de alarme pré-definida. Por exemplo, se alguém precisa de acordar às 7h da manhã, o despertador escolhe o melhor momento a partir das 5h30. A aplicação funciona a partir do microfone do telemóvel, que serve para analisar os movimentos do utilizador quando está a dormir. A aplicação explica que, para isto, é preciso colocar o telemóvel no sítio certo: deitado na horizontal, na mesa-de-cabeceira do lado da cama onde alguém dorme. Também pode ser colocado por cima do colchão, na horizontal, ao lado da almofada. No site, pode-se ver um mapa com o número de horas de sono que os utilizadores da aplicação dormem em média. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para quem é fã de exercício mas nem sempre tem tempo para ir ao ginásio, o Tabata Timer (disponível para Android e iOS) permite organizar sessões de treino de alta intensidade em quatro minutos. Segue o método de Tabata, que foi desenvolvido no Japão por Izumi Tabata, que se baseia em 20 segundos de treino muito intenso (por exemplo, corridas, agachamentos, extensões de braços) seguidos de dez segundos de descanso, durante quatro minutos. A aplicação permite cronometrar os exercícios e inclui várias sugestões para diferentes partes do corpo. A aplicação transforma a aprendizagem de novas línguas num processo divertido através de vários jogos (por exemplo, jogos para descobrir o significado de palavras difíceis, tarefas de compreensão oral, e desafios de revisão). Permite definir objectivos diários para ultrapassar, aprender através de vídeos de pessoas nativas, e inclui um guia de pronúncia.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave ajuda corpo chinês
Uma falha global, problemas no Facebook e dados roubados: a ciberinsegurança de 2018
Informação de saúde, nomes e moradas, datas de nascimento, e dados de passaporte foram alguns dos dados expostos nos vários ataques informáticos que marcaram 2018. (...)

Uma falha global, problemas no Facebook e dados roubados: a ciberinsegurança de 2018
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento -0.15
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Informação de saúde, nomes e moradas, datas de nascimento, e dados de passaporte foram alguns dos dados expostos nos vários ataques informáticos que marcaram 2018.
TEXTO: A criminalidade informática continua a tendência para aumentar e 2018 foi disso exemplo: ao longo do ano, foram roubados milhões de credenciais de acesso a vários serviços e empresas, e ciberataques à escala global expuseram dados pessoais de utilizadores de todo o mundo. Em alguns casos foram também comprometidos dados financeiros, noutros, informação diplomática, e houve um, nos EUA, que conseguiu até parar uma cidade. Os problemas começaram logo na primeira semana de 2018 quando se descobriu que falhas escondidas há décadas nos processadores em todo o mundo podiam levar criminosos a ganhar acesso à memória de computadores e smartphones. Mas os problemas não pararam aqui, e as empresas afectadas por ciberataques incluem o Facebook (que este ano esteve no centro de vários escândalos de privacidade e segurança), as transportadoras aéreas AirCanada e British Airways, a cadeia de hotelaria Marriott e a rede social do Google. O PÚBLICO recorda alguns destes casos. JaneiroTornaram-se públicas falhas de segurança nos processadores da Intel, da AMD e da ARM. O problema foi descoberto ainda em 2018, altura em que várias empresas – como a Microsoft, Google e Apple – começaram a trabalhar em conjunto para impedir que a falha fosse explorada por criminosos. Como afectava as três grandes fabricantes destes componentes, podia levar ao roubo de informação da maioria dos computadores e telemóveis fabricados nas últimas duas décadas. A solução chegou sob a forma de “mitigações”: as actualizações não corrigiam os problemas, apenas preveniam que atacantes se aproveitassem deles. Como consequência, alguns aparelhos (especialmente mais antigos) tornaram-se mais lentos. Também em Janeiro uma outra falha de segurança comprometeu informação pessoal de milhões de cidadãos indianos. O problema afectou a maior base de dados biométricos da Índia, Aadhaar, que reúne impressões digitais, moradas e scans de retina. Parte da informação podia ser encontrada à venda na Internet a partir de sete euros. MarçoDados pessoais de cerca de 150 milhões de utilizadores da aplicação de dieta e exercício MyFitnessPal tinham sido comprometidos num ciberataque em Fevereiro, mas a empresa só descobriu um mês mais tarde. A informação afectada incluía nomes de utilizador, palavras-passe encriptadas e endereços de email. Embora a informação financeira não tenha sido exposta, todos os utilizadores foram aconselhados a mudar as suas credenciais de acesso. Ainda em Março, os computadores e servidores das autoridades municipais de Atlanta, nos EUA, foram vítimas de um ataque de ransomware (o nome surge pelos criminosos exigirem um resgate – ransom, em inglês). O caso levou a que várias aplicações usadas pela população, nomeadamente para o pagamento de impostos, estivessem bloqueadas durante dias. JunhoDescobriu-se que mais de 92 milhões de contas do site MyHeritage foram roubados. O serviço, criado em 2003, permite pesquisar milhões de registos históricos globais de árvores genealógicas e pedir testes de ADN. O problema afecta contas criadas até 26 de Outubro de 2017, data do ataque. A empresa disse que não havia indicações de que os dados tivessem sido usados por terceiros, e clarificou que dados financeiros dos utilizadores e informação sobre o ADN não são armazenados no site. JulhoA rede de instituições de saúde SingHealth, uma das maiores em Singapura, foi alvo de um ataque que comprometeu 1, 5 milhões de registos de pacientes. Os dados – que incluem informação do primeiro-ministro, Lee Hsien Loong – revelavam nomes de pacientes, documentos de identificação, moradas e datas de nascimento. A empresa esclareceu que informação sobre diagnósticos e resultados de exames não foram afectados. AgostoUma falha de segurança na aplicação móvel da companhia aérea Air Canada expôs informação privada de cerca de 20 mil clientes. Embora o número represente apenas 1% do total de clientes daquela empresa, os dados roubados incluíam informação do passaporte. Na altura, a companhia clarificou que o risco de alguém obter um passaporte falso em nome de outra pessoa era pequeno porque é preciso mais do que a informação que se encontra num passaporte de alguém para ter acesso a um novo documento. Os utilizadores afectados continuavam a ter o seu cartão de cidadão e passaporte original como prova de cidadania. SetembroO nome e a informação de contacto de 29 milhões de utilizadores do Facebook foram expostos num ataque informático que a empresa tornou público no final de Setembro. Para perto de 50% dos afectados, os dados revelados eram mais detalhados e incluíam o local de trabalho, data de nascimento e pesquisas feitas na rede social. Os atacantes foram capazes de explorar a ferramenta “ver como” (que dá a um utilizador a possibilidade de ver o seu próprio perfil como se fosse outra pessoa) e de roubar o equivalente de uma chave digital, que identifica cada utilizador e com a qual era possível aceder às contas. Desde o ataque que a ferramenta não voltou a estar disponível. O caso foi um dos muitos problemas de segurança e desinformação que afectaram o Facebook este ano. Foi em Abril, que o Facebook tornou público detalhes do caso da Cambridge Analytica, a empresa britânica de consultoria política que é acusada de ter acedido ilicitamente a informação de milhões de utilizadores em todo o mundo. Também a British Airways revelou uma falha de segurança em Setembro que afectou milhares dos seus clientes. A empresa explicou que as pessoas que utilizaram um cartão de crédito para fazer reservas entre 21 de Agosto e 5 de Setembro de 2018 podem ter sido afectadas. Mais tarde a empresa descobriu que já tinha sido alvo de outro ciberataque que durou entre 21 de Abril e 28 de Julho de 2018. A informação roubada não incluía dados das viagens (por exemplo, destino e origem) nem informação dos passaportes, mas dava acesso a nomes dos passageiros, emails, informação sobre a morada e dados de pagamento. OutubroUma falha de segurança no Google+, a rede social do Google, expôs dados privados de cerca de 500 mil utilizadores aos programadores de centenas de aplicações externas. A vulnerabilidade existia desde 2015 mas só foi detectada pelo Google em Março de 2018. Em comunicado, a equipa do Google diz que não há provas de que a falha tenha sido explorada por criminosos. O caso levou o Google a decidir encerrar o Google+ no Verão de 2019. A data foi antecipada para Abril de 2019 quando uma nova falha de segurança naquela rede social, descoberta em Dezembro, levou a que dados de 52, 5 milhões de utilizadores ficassem expostos a programadores de fora do Google. NovembroDados pessoais de 500 milhões de clientes da cadeia de hotelaria internacional Marriott podem ter sido expostos a criminosos durante um ciberataque ao sistema de reservas de quartos. Segundo a empresa, os atacantes poderão ter visto informação como o nome, morada, número de telefone e número de passaporte. O problema foi detectado a 8 de Setembro, mas a investigação revelou que os acessos não autorizados datam de 2014. Em Novembro, a empresa começou a contactar todos os clientes afectados e criou uma página com informações relacionadas com a falha de segurança, incluindo linhas de apoio telefónico em vários países. Ainda em Novembro, o site de perguntas e respostas Quora foi alvo de um ataque que permitiu que 100 milhões de palavras-passe fossem roubadas. Embora o site utilize palavras-passe encriptadas, a equipa do Quora recomendou que os utilizadores mudassem a palavras-passe. O site, que foi criado em 2009 por dois antigos trabalhadores do Facebook, tornou-se popular por permitir fazer perguntas (de forma anónima ou não) e votar nas respostas dadas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. DezembroMilhares de telegramas diplomáticos da União Europeia foram roubados por cibercriminosos com aparentes ligações ao Governo chinês nos últimos anos. A informação surgiu numa investigação do jornal The New York Times, que explica que o ataque foi detectado pela empresa Area 1, fundada por antigos funcionários da Agência de Segurança Nacional norte-americana. O ataque foi pouco sofisticado e resultou de técnicas de phishing, em que são enviados emails falsos para levar um utilizador (neste caso, diplomatas) a fornecer dados confidenciais por engano. Contactados pelo jornal norte-americano, os responsáveis da União Europeia disseram que as comunicações mais sensíveis estão guardadas numa rede mais segura, e que a protecção das comunicações está a ser reforçada.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
A ascensão dos “homens-fortes”
Negócios e assassínios são coisas completamente diferentes. Assim vai o mundo. (...)

A ascensão dos “homens-fortes”
MINORIA(S): Asiáticos Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Negócios e assassínios são coisas completamente diferentes. Assim vai o mundo.
TEXTO: 1. Na sexta-feira, o site da BBC publicava uma série de fotografias com a chegada dos principais líderes do G20 a Buenos Aires, cuja reunião decorreu nos últimos dois dias. Quase todas nas escadas dos respectivos aviões. A sequência não era agradável de ver, mas não deixava por isso de simbolizar o mundo em que vivemos e o que mudou, drasticamente, em meia dúzia de anos. Mostrava ao vivo e a cores de que forma caminhamos para um mundo de “homens fortes”, sejam eles em países que há bem pouco tempo podiam ser considerados democracias, mesmo que imperfeitas, ou os que gostariam de o ser mas não podem, graças à força das respectivas democracias. A agenda mundial que esteve em cima da mesa corresponde a uma crescente desordem internacional, plena de conflitos, de atropelos aos mais elementares direitos humanos, de violações da lei internacional, de intolerância, de destruição democrática e do regresso dos nacionalismos. Sinal dos tempos, faltava o rosto que ainda hoje simboliza melhor a resistência a esse mundo em que os valores ocidentais são sistematicamente postos em causa. O avião de Angela Merkel foi obrigado a uma aterragem de emergência, atrasando irremediavelmente a chegada da chanceler. 2. Vale a pena recuar até aos anos em que o G20 tomou forma. A ideia foi acarinhada inicialmente pela França de Sarkozy em 2008. O espoletar da crise financeira internacional nesse mesmo ano deu-lhe o ânimo que lhe poderia faltar. Os líderes do G7 (nessa altura transitoriamente G8, com a cooptação da Rússia) já tinham o hábito de convidar para os seus encontros anuais os seus congéneres dos grandes países emergentes, reconhecendo que o mundo mudara o suficiente para exigir uma cooperação mais alargada. Foi a época de ouro dos BRIC, de que hoje se fala cada vez menos, de tal modo cada um seguiu o seu caminho. As grandes economias emergentes (ou as potências que reemergiam, no caso da Rússia) não eram todas democracias. A China já tinha um lugar de destaque, com o seu crescimento económico vertiginoso. Ao contrário dos cálculos iniciais, a globalização foi uma bênção dos céus para a economia chinesa e não tanto para as economias ocidentais. Putin estava a dar início à viragem audaciosa da sua política externa, que resolveu testar nesse mesmo ano com a intervenção militar na Georgia. As duas grandes democracias emergentes, a Índia e o Brasil, contrabalançavam o pendor autocrático de Pequim e de Moscovo. O Brasil era ainda o mais perfeito e o mais admirado dos BRIC, com a sua democracia e a sua economia pujantes. A África do Sul democrática haveria de se juntar ao clube. Os grandes países emergentes reivindicavam, com justiça, uma ordem internacional mais equilibrada, em que o poder fosse mais equitativamente distribuído entre as potências ocidentais, lideradas pelos EUA, e o então chamado “resto”. O G20 acabou por fazer jus à sua constituição, permitindo uma gestão da crise financeira mundial e da Grande Recessão, que foi capaz de minorar danos ainda maiores na economia mundial. Foi possível evitar a tentação proteccionista que inevitavelmente surge nas grandes crises, coordenar os estímulos económicos nacionais para contrariar os seus efeitos mais negativos, criar um clima de cooperação sem o qual as suas consequências teriam sido muito mais devastadoras, incluindo do ponto de vista politico. A China desempenhou um papel relevante, continuando a puxar pela economia mundial enquanto as economias ocidentais mergulhavam na recessão. 3. Dez anos depois, vivemos num outro mundo. A única superpotência entrou numa deriva política que a transformou, graças ao seu poder ainda sem equivalente, num factor de desestabilização da ordem internacional que os Estados Unidos criaram depois da II Guerra e depois da Guerra Fria. Morreu na noite de sexta-feira em Houston o homem que pôs termo pacificamente ao grande confronto bipolar que dividiu o mundo durante quarenta anos e que anunciou uma “nova ordem” que se previa de paz e de maior prosperidade para o mundo. Chamava-se George H. W. Bush. No sábado, em Buenos Aires, o palco foi irmãmente repartido pelo líder da superpotência instalada e pelo que lidera a principal candidata a superpotência mundial. À noite, os dois tinham pendente uma trégua na “guerra comercial” declarada por Donald Trump à China (e a outras grandes economias como a europeia, ainda que em muito menor escala) logo que chegou à Casa Branca. Trump vê na máquina exportadora chinesa, que se traduz num saldo muito negativo na balança comercial entre os dos países, uma “violação” inadmissível dos interesses da América. As negociações entre Pequim e Washington continuam. No jantar entre ambos que decorreu na noite de sábado, os mais optimistas esperavam fumo branco. Os analistas lembravam que Trump precisa de uma vitória para fazer esquecer as atribulações crescentes dentro de portas. Faltava saber o que significaria para ele uma vitória. “Suspeito que Trump ficará a satisfeito em qualquer dos casos. Ele fica feliz quando faz acordos com a China, e fica igualmente feliz quando a ataca”, disse Danielle Pletka, do Enterprise Institue, ao Financial Times. Uma guerra comercial prolongada entre os dois gigantes terá efeitos no crescimento mundial. Xi Jinping aproveitou a política do America First para ocupar o terreno vazio e arvorar-se em líder da liberdade de comércio (e do multilateralismo), no respeito pelas regras da OMC, o que não quer dizer que as aplique internamente. A Europa que faz frente com a China contra o proteccionismo, junta-se à América para denunciar as dificuldades de entrada no mercado chinês de mercadorias e de investimento, as suas sistemática violações da propriedade intelectual, já para não falar no desrespeito por muitas normas de protecção social e ambiental. Junta-se agora às preocupações europeias o receio de que Trump possa fazer um acordo com Xi à custa da Europa. Para satisfazer a América, Xi pode ter de prejudicar alguém. Até agora pode dizer-se que Tump têm levado a melhor com outras partes do mundo. Não se acanha em ameaçar a Europa. 4. Mas a coreografia deste G20 vai muito além da “guerra comercial”. Vladimir Putin acaba de lançar a sua última provocação militar para testar a determinação e a unidade ocidental face à sua política expansionista de recuperação, a bem ou a mal, das velhas zonas de influência. A crise ucraniana regressou em força, com o ataque e o apresamento de barcos ucranianos no Mar de Azov pela marinha de guerra russa. Putin dá como adquirida a anexação da Crimeia (em 2014), que o mundo não reconhece como legal. Tem no Presidente americano um amigo “compreensivo”, mas com a margem de manobra muito limitada internamente pelos sucessivos escândalos do eventual conluio entre a sua campanha eleitoral e a interferência russa nas eleições. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O último rebentou na quinta-feira, “obrigando-o” a cancelar, alegadamente por causa da Crimeia, um encontro previsto com Putin. O que pode fazer a Europa? Pouca coisa. Mais uma vez, cabe a Merkel e aos europeus (enquanto os conseguir manter unidos) manter a pressão sobre Moscovo. No G20, a chanceler contou com o apoio de Theresa May e de Emmanuel Macron, com alguns líderes europeus com direito de presença (da Holanda e da Espanha) e com os presidentes das instituições europeias. O governo de Salvini e de Di Maio já não pode ser dado como aliado seguro: não esconde a sua preferência por Trump e Putin. Os líderes do Canadá e do Japão tentam adaptar-se o melhor que podem à viragem americana, o que não tem sido fácil. 5. De resto, o desfile dos “homens fortes” foi impressionante. Xi, Putin ou Erdogan mais os candidatos ao título como parece ser infelizmente o caso de Narendra Modi, da Índia. Jair Bolsonaro está prestes a entrar em cena, engrossando a fila. No México, López Obrador vai provavelmente tentar um novo regime hegemónico, desta vez à esquerda. Resta o lado mais “obsceno” da coreografia de Buenos Aires. O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, suspeito de ter dado a ordem para o macabro assassínio do jornalista saudita Jamal Khashoggi, teve alguns momentos de “solidão”, mas foram escassos. Putin reservou-lhe uma recepção mais do que calorosa. Sentou-se com May, embora a primeira-ministra britânica argumentasse que o encontro foi para protestar. Uma fotografia mostra-o em conversa com Macron numa pose bastante amistosa. Xi não tem o menor problema em falar com ele. Não há fotografias com Trump mas já se sabe o que pensa o Presidente: negócios e assassínios são coisas completamente diferentes. Assim vai o mundo.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA OMC