"Pode entrar-se para a maçonaria mandando um email"
Em entrevista, Fernando Lima, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, demarca-se da maçonaria brasileira que apoiou Bolsonaro. (...)

"Pode entrar-se para a maçonaria mandando um email"
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em entrevista, Fernando Lima, grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, demarca-se da maçonaria brasileira que apoiou Bolsonaro.
TEXTO: Há um ano e meio, Fernando Lima foi reeleito para um terceiro mandato na liderança do Grande Oriente Lusitano. O seu lema, durante a campanha, foi "Renovar a prosseguir" e uma das prioridades era aumentar o rigor e a exigência nos recrutamentos para a maçonaria. Defende que todos os maçons deviam dizer que são maçons. Consegue convencer os seus irmãos de que isso seria bom para a maçonaria? Acho que hoje já há uma tendência genérica de assumirem. Não estou a dizer que todos estejam convencidos ou que não pensem que haja constrangimentos na sociedade relativamente à assunção. Esta frase não é minha, inspirei-me sempre no António Arnaut e no António Reis: não há razão nenhuma para que os maçons hoje não se assumam. Houve uma proposta no Parlamento que defendia que os deputados deviam dizer se pertenciam à maçonaria, de que clubes de futebol eram sócios… Como viu isso? Mal. Um princípio fundamental das sociedades abertas é a liberdade de consciência, que é o respeito pelas convicções e crenças de cada um. Não temos de estar a criar anátemas sobre as pessoas para que revelem as suas convicções íntimas…É um mau princípio e falta de respeito pela consciência das pessoas. Mas não haveria assim mais transparência? Até vai ao encontro do que diz que os maçons deveriam assumir-se… Tão transparente como eu pedir a alguém que revele a sua orientação sexual. Eu tenho direito a violar a privacidade de alguém?Mas os maçons são acusados de trocarem favores entre si… Não existe… Eu não gosto de falar em maçonaria, há várias maçonarias. Estou a falar da maçonaria tal como eu a entendo aqui no Grande Oriente Lusitano. É uma instituição humana como outra qualquer. Naturalmente, aqui temos do melhor, temos pessoas que são menos boas e também temos algumas coisas que nem sempre nos abonam muito, como em qualquer outra instituição, seja na imprensa, seja nos tribunais… Eu não posso dizer que não haja dois ou três que façam coisas que face aos nossos princípios são reprováveis. Mas dizer que quem entra para a maçonaria é porque vai conspirar, vai trocar favores… Normalmente, essas pessoas resistem cá pouco tempo. Sabemos que algumas pessoas entram na maçonaria porque acham que aqui conseguem fazer uma carreira, conhecem pessoas… Aqui no Grande Oriente Lusitano dou-lhe quase a garantia de que quem pensa assim não está cá muito tempo. Foi reeleito há ano e meio com um programa que prometia mudanças. Tem conseguido fazer algumas mudanças, nomeadamente abrir mais a maçonaria ao exterior? Têm acontecido muitos debates, tivemos cá a Raquel Varela, o Pacheco Pereira…O Pacheco Pereira sempre defendeu que os deputados deviam ser obrigados a dizer se são maçons… Sim, mas ele quando cá vem lembra-se do avô dele que era maçon…Temos tido debates pelo país, discutimos aqui o Orçamento do Estado com membros da comissão parlamentar. Olhe, ainda há dias fiz um comunicado contra os valores e princípios que levaram à eleição de Jair Bolsonaro no Brasil. Mas Bolsonaro foi apoiado pela maçonaria brasileira. Já lhe disse que há maçonarias e maçonarias. Eu não me identifico com a maçonaria brasileira. Mas pode perguntar porque é que fizemos o comunicado a propósito do Bolsonaro e não fizemos a respeito de outras coisas. Mas temos feito muitos comunicados, às vezes em conjunto com a maçonaria europeia – as pessoas é que não notam – contra o facto de o parlamento da Sicília ter feito uma lei proibindo os maçons de ocuparem cargos públicos, o facto da Liga Norte do Salvini querer fazer uma lei a proibir as sociedades secretas, uma lei exactamente igual à nossa de 1935 (que ilegalizou a maçonaria) que, aliás, foi inspirada numa lei de Mussolini. Não sei se muita gente sabe isso. Em 1925, houve um debate entre o Gramsci e o Mussolini no parlamento italiano, porque o Mussolini propôs uma lei que nós viemos a copiar em 1935. Mas a aliança maçónica europeia tem protestado contra a situação na Hungria, onde a vida dos maçons não é fácil. Os maçons estão a ser perseguidos na Hungria? Não é perseguidos no sentido de serem presos, mas o ambiente é de tal modo claustrofóbico que têm alguma dificuldade em estar à vontade. Mas na Hungria também há perseguições anti-semitas. Na própria Polónia, a maçonaria tem tido algum retrocesso. Mas porque é que o Grande Oriente Lusitano fez um comunicado sobre o Brasil? Porque temos um património comum, que é a língua, temos uma ligação mais forte. E foi um maçon [D. Pedro] que fundou o Brasil… Foi um maçon que fundou o Brasil. E eu estar a ouvir coisas como uma mulher bonita é para ser violada… ou dizer “torturaram uns tantos, o melhor era ter morto aquela malta toda”. Isto para nós… e o voto não chega! O Hitler também foi eleito por voto. As democracias também são legitimadas pela forma como respeitam os direitos humanos. Estamos a assistir a um retrocesso? Olhamos para Donald Trump nos Estados Unidos, outro país fundado por maçons… É evidente que desde a Idade Média até agora o mundo tem progredido muito. Não é isso que está em causa. Há 70 anos o mundo era horrível… Há muitas coisas que têm evoluído. Mas a sensação que tenho é que nos últimos 20 anos – e estou a citar Pacheco Pereira, veja onde eu já cheguei – tivemos retrocessos civilizacionais graves relativamente àquilo que se conquistou nos últimos 200. Por exemplo? Esta coisa das democraturas [democracia ditadura], como eu gosto de chamar. . . estas ditaduras meio disfarçadas que existem por aí, dos Trump, dos Bolsonaro, a Hungria, já para não falar do Sudeste Asiático. Os direitos humanos são uma temática que aqui no Grande Oriente Lusitano nós discutimos muito que é o problema do pós-humanismo e o transumanismo. A inteligência artificial, as nanotecnologias, as biotecnologias. O que vai ser o mundo daqui a 50 anos? Somos robôs? Será que passaremos a poder programar os nossos filhos? Haverá um momento em que teremos de dizer aos cientistas: a partir daí, parou. Eu quero continuar a amar, a morrer, a gostar dos meus filhos, a ter afectividade, a ter lágrimas nos olhos. Isto é que é ser humano. Eu não quero viver até aos 200 anos. E as novas tecnologias acentuam ainda mais aquele que é o maior problema do mundo, a desigualdade social. Nós, maçons, somos humanistas. Queremos um progresso que não acabe com a Humanidade. Diga-me uma coisa, como é que se entra para a maçonaria. Imagine que eu queria entrar – eu não quero – como é que fazia? Temos uma maçonaria feminina muito interessante, atenção…Mas como é que se faz? Ia falar com um amigo maçon? Normalmente é por indicação de um amigo ou conhecido. Mas também pode mandar um e-mail. Pode-se escrever um e-mail? Pode escrever um e-mail a dizer que gostava muito de entrar para o Grande Oriente Lusitano. No seu caso, como isto é uma obediência masculina, era mais complicado (risos). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Pronto, se fosse homem. Nomeávamos aqui dois ou três maçons – a gente chama-lhe aqui sindicância –?, não é no sentido da investigação, é falar com a pessoa, o que faz na vida, repescar um bocadinho a antiga frase que os maçons diziam, que para a maçonaria só entram “homens bons e de bons costumes”. (Risos) É uma frase onde cabe tudo (risos). Eu tenho aqui alguns maçons que entraram assim. Mandaram um e-mail? Sim, sim. Ou por carta ou por e-mail. Mas não se faz uma investigação como aquelas para entrar no SIS? Não, é uma conversa. Como é que se chama, o que faz na vida, quais são os seus princípios morais, os seus valores. Não passa disto.
REFERÊNCIAS:
Étnia Asiático
The Gifted, a série de super-heróis que não fecha os olhos aos problemas sociais da América
É mais uma adaptação das histórias eternizadas nas bandas desenhadas de super-heróis da Marvel para os ecrãs de televisão: The Gifted regressa para a segunda temporada e tenta reflectir no seu enredo a perseguição a minorias nos EUA – mas desta vez são os mutantes que estão em fuga. (...)

The Gifted, a série de super-heróis que não fecha os olhos aos problemas sociais da América
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Homossexuais Pontuação: 6 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.011
DATA: 2018-10-06 | Jornal Público
SUMÁRIO: É mais uma adaptação das histórias eternizadas nas bandas desenhadas de super-heróis da Marvel para os ecrãs de televisão: The Gifted regressa para a segunda temporada e tenta reflectir no seu enredo a perseguição a minorias nos EUA – mas desta vez são os mutantes que estão em fuga.
TEXTO: Entre dezenas de séries em que os superpoderes são protagonistas, The Gifted faz da diversidade e da luta pelas minorias a sua bandeira. A série da Fox e da Marvel, criada por Matt Nix, surge num universo ficcional em que os X-Men desapareceram e em que os mutantes (humanos com superpoderes, concedidos pelo gene X) se vêem obrigados a lutar contra leis cada vez mais restritas que lhes vão retirando o acesso à saúde e à cidadania, atirando-os para a clandestinidade. A segunda temporada de The Gifted estreia-se esta segunda-feira, dia 8, na Fox, e os 13 episódios serão exibidos todas as segundas, às 23h05. “Uma das coisas que fazemos bem é reflectir a sociedade”, garante o actor britânico Stephen Moyer numa entrevista colectiva num hotel londrino, quando questionado sobre a influência de acontecimentos políticos em The Gifted. “Não há outra forma de se fazer isto numa série sem que seja uma espécie de reflexo do que se passa hoje em dia. Mas também não há maneira de reflectir aquilo que está a acontecer actualmente nos Estados Unidos, porque a realidade muda a cada dois minutos”, brinca o protagonista, sem receio de criticar a Administração norte-americana. Nesta série, Moyer interpreta Reed Strucker, um procurador que prende mutantes, mas passa a defendê-los depois de descobrir que os seus dois filhos têm poderes. “Acho que é essa a essência dos X-Men quando foram criados há anos; é uma representação daquilo que estava a acontecer no movimento dos direitos civis. Portanto, sejam questões de religião, de raça ou de orientação sexual, os X-Men são um reflexo daquilo que a sociedade é”, assevera Moyer. A diversidade do elenco de The Gifted tem sido, aliás, reconhecida pela crítica e pelos próprios actores: na série há personagens negras, latinas, asiáticas, nativo-americanas e personagens que sofrem bullying ou que lidam com doenças mentais. Nesta segunda temporada, as questões políticas ganharam força e o compromisso dos produtores é olhar para os dois extremos do espectro narrativo: os mutantes que lutam contra a humanidade e os que acreditam ser possível fazer-se uma aliança com os humanos. A juntar a isso há uma nação norte-americana cada vez mais polarizada, com o aumento de manifestantes de extrema-direita que criam grupos antimutantes e a favor dos direitos humanos (e aqui “humanos” exclui quem tem superpoderes). De um lado há organizações de apoio a mutantes e, do outro, comícios em que os políticos se mostram abertamente contra os mutantes — e dizem ser urgente prendê-los e despojá-los dos seus direitos. O próprio criador da série, Matt Nix, admite à revista Hollywood Reporter que “não é preciso um olho de lince” para se perceber as semelhanças entre os Serviços Sentinela (os que perseguem os mutantes) e os raides do ICE (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras norte-americano, que têm separado crianças das suas famílias que imigram ilegalmente na fronteira dos EUA com o México). Na série, tenta-se mostrar essas semelhanças sem ditar o que está certo ou errado. “Expõe-se o assunto, mas não dizemos o que se deve pensar. Mostramos as personagens que existem neste universo, mas não fazemos comentários”, sintetiza Stephen Moyer. “Explicamos porque é que as personagens são como são, em vez de simplesmente dizermos aos espectadores: ‘Isto é errado. ’ Deixamos que os espectadores decidam. ”A actriz norte-americana Natalie Alyn Lind (a filha mutante da personagem Reed Strucker ), que também fez parte do elenco da série Gotham, da DC Comics, acredita que houve uma transposição para a série daquilo que ela vê acontecer hoje nos EUA: “Há uma categorização das pessoas, uma atribuição de rótulos, sem que lhes seja verdadeiramente dada uma chance de se defenderem. ”Antes de protagonizar o “pai de família” em The Gifted, Stephen Moyer encarnou o vampiro Bill Compton, na série True Blood (HBO). Na entrevista que deu em Londres, o actor britânico refere que The Gifted é facilmente comparável a True Blood, uma série em que os vampiros ficam à margem da sociedade humana, lutando pelos seus direitos. A série produzida por Matt Nix surge numa onda de adaptações das histórias eternizadas nas vinhetas de banda desenhada da Marvel para os ecrãs de televisão: Inhumans, Jessica Jones, Luke Cage, Iron Fist, Legion, O Demolidor, O Justiceiro, Os Defensores, os Agentes S. H. I. E. L. D. — passando grande parte destas séries no Netflix. A produção destas narrativas sobre mutantes parte também da DC Comics, que produz séries como Arrow, Gotham (também da Fox), The Flash, Black Lightning, Krypton, e espera-se ainda a chegada de Titans (renovada para uma segunda temporada ainda antes de se estrear). Para os dois actores entrevistados, The Gifted difere de todas as outras séries que têm surgido no universo de super-heróis precisamente por se focar nas desigualdades sociais e na ambiguidade das personagens – que não são necessariamente boas ou más, o que é perceptível na origem das suas motivações –, integrando arqui-inimigos e superpoderes na narrativa, mas não se centrando apenas neles. Isso, de resto, não é incomum no universo Marvel — tome-se o exemplo da narrativa em torno de Magneto (que na série se pressupõe ser o pai de Lorna Dane). Entre tantas produções do género, pode tornar-se difícil para uma série com muitas personagens e com um enredo que já vai longe da premissa inicial manter a atenção dos espectadores. No arranque da segunda temporada nos Estados Unidos, The Gifted teve menos espectadores do que na estreia da primeira temporada: foram 4, 8 milhões de espectadores na primeira temporada (em 2017) e 2, 6 milhões na segunda, o que corresponde a uma perda de 45% de audiência entre as duas premières. A série é de super-heróis (ou de superpoderes, já que a fronteira entre quem é herói e quem é vilão é ténue), mas tem a sua dose de drama familiar. Na primeira temporada, a família é precisamente a força que faz avançar o enredo —o casal Reed e Kate (Amy Acker) descobre que os seus dois filhos têm superpoderes (uma espécie de telecinética e manipulação molecular) e vêem-se obrigados a fugir do Governo e a procurar auxílio numa rede de mutantes clandestina (chamada Mutant Underground). No final da temporada, essa rede de mutantes divide-se e as duas facções resultantes passam a estar em guerra entre si. Não temendo a sua herança genética, o filho Andy (Percy Hynes White) separa-se então da família e decide juntar-se ao Inner Circle, o exército de mutantes que quer destruir os humanos e que pertence à antiga organização terrorista Hellfire Club. Tal como na primeira temporada da série, no enredo continuam a existir referências ao ataque de 7/15 (15 de Julho) — em paralelo com o 9/11 (11 de Setembro) — no Texas, em que uma marcha de apoio a mutantes se transformou numa manifestação violenta em que morreram milhares de civis, agravando a repulsa e apreensão pela comunidade mutante. Ainda que nunca tenha sido tornado claro na série, Matt Nix já mencionou em entrevistas que este evento está associado ao desaparecimento dos X-Men do universo ficcional em que decorre The Gifted. As telepatas irmãs trigémeas Frost – nas bandas desenhadas da Marvel as irmãs são mais do que três clones – funcionam como elemento catalisador no final da primeira temporada e continuam a ser importantes nesta segunda temporada, cuja acção se muda de Atlanta para Washington D. C. As clones são comandadas por uma nova presença feminina, a poderosa Reeva Payge, interpretada por Grace Byers. A entrada de Reeva, uma mulher negra, dá um novo contexto a todas as discriminações retratadas na série: antes de ser odiada por ser mutante, Reeva diz num dos episódios que já era odiada pela cor da sua pele. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Afastando-se da narrativa base das bandas desenhadas da Marvel e dando um lado mais humano à herança dos superpoderes, continua a ser nestes pormenores que a série tenta transportar para os ecrãs televisivos o espírito de activismo político e de igualdade social que preenche as páginas de quadradinhos dos X-Men. O PÚBLICO viajou a convite da Fox
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Quem não tem mãe caça olhos
Se David Lynch e Takashi Miike rodassem a meias um gótico americano rural ao som de Amália, o resultado não andaria longe de Os Olhos de Minha Mãe. A primeira longa do americano Nicolas Pesce, com a portuguesa Kika Magalhães, criou sensação em Sundance e chega agora às salas portuguesas. (...)

Quem não tem mãe caça olhos
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-02-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se David Lynch e Takashi Miike rodassem a meias um gótico americano rural ao som de Amália, o resultado não andaria longe de Os Olhos de Minha Mãe. A primeira longa do americano Nicolas Pesce, com a portuguesa Kika Magalhães, criou sensação em Sundance e chega agora às salas portuguesas.
TEXTO: Portugal não é país do qual o cinema americano se lembre muito. Logo na primeira vez que um filme americano recente tem uma personagem de ascendência portuguesa no centro da acção, é uma órfã psicótica que mora isolada do mundo numa casinha escondida na província, que aprendeu com a mãe a dissecar olhos de vaca ao som de Amália Rodrigues. Por Skype de Nova Iorque, Nicolas Pesce, argumentista e realizador em estreia na longa-metragem com Os Olhos de Minha Mãe, ri-se e explica que a ideia era usar uma língua da Europa ocidental mediterrânica que tivesse algo ao mesmo tempo de ancestral e exótico para os ouvidos americanos. “Queria que o filme falasse de uma família que vinha de outro sítio, e que não encaixava no sítio onde vivia por uma série de motivos, ” explica Pesce, cujos pais são sicilianos. “Queria que o filme tivesse uma qualidade bilingue, e, pelo menos na América, o português de Portugal é muito menos conhecido que o português do Brasil, é completamente diferente, e tem uma sonoridade belíssima. ” E, claro, há o pormenor, nada dispiciendo, da actriz principal ser portuguesa – Kika Magalhães, que Pesce já conhecia de telediscos que tinha dirigido. “Ela existia antes do guião, eu sabia que ia escrever o guião a pensar nela e que ela era a actriz certa para o papel. Ser portuguesa era uma questão secundária, mas tornou-se muito interessante integrar essa herança portuguesa da Kika no filme. Foi ela quem me apresentou a música de Amália, que eu nunca tinha ouvido antes. . . ”Os Olhos da Minha Mãe é uma homenagem, cheia de pose, à aristocracia cinematográfica do gótico e do macabro - cheia de pose, e cheia de mais coisa nenhuma. Agora que já picámos o apetite, larguemos a bomba: Os Olhos de Minha Mãe, revelado em Sundance 2016 acompanhado por uma série de críticas embasbacadas e que chega às salas com lançamento quase simultâneo nos video-clubes, em DVD e nos serviços de streaming, é o mais singular filme de terror que vimos em muito tempo. É uma conjugação incatalogável de slasher movie, cinema de autor, surrealismo Lynchiano e extreme horror asiático, rodado em écrã panorâmico a preto e branco ao som de Amália e blip-hop, e produzido por António Campos (After School), Sean Durkin (Martha Marcy May Marlene) e Josh Mond (James White), o trio da Borderline Films nova-iorquina – Pesce (n. 1990) foi assistente de Mond na rodagem de James White e a amizade que daí nasceu levou o trio a apadrinhar Os Olhos de Minha Mãe, “tal como eles próprios foram apadrinhados por outros”. Ao longo desta conversa, Nicolas Pesce invoca os nomes de Takashi Miike, Park Chan-wook, William Castle ou David Lynch como influências, e explica que a atmosfera é a chave da concepção desta primeira longa-metragem. É o tipo de filme que nos velhos tempos apareceria com o proverbial aviso “este filme contém cenas que podem chocar os espectadores mais sensíveis” – e o mais perturbante é que o filme se inspira, em parte, na própria mãe de Pesce, que era cirurgiã oftalmologista. Ninguém diria, face ao entusiasmo muito juvenil com que o realizador fala com o Ipsilon. A personagem principal tem uma obsessão por olhos e dissecações. E o olho é uma presença regular no cinema e na arte surrealista. Como é que tudo isto se conjuga?A resposta é muito simples! A minha mãe era oftalmologista, e a dissecação do olho da vaca que se vê no princípio do filme vem da minha própria vida. Ela fê-lo comigo quando eu era miúdo, para me explicar coisas sobre a cirurgia, a anatomia… Talvez por isso eu tenha crescido com uma postura muito clínica perante o sangue e as vísceras no cinema de género. As pessoas não se dão conta que as operações são algo de muito sanguinolento. Quis jogar com a sobreposição de alguém que tem essa postura muito natural perante o sangue mas que é extremamente violenta enquanto pessoa, e com a tensão que isso cria. E o olho foi uma escoha natural. É uma parte muito sensível do nosso corpo, e, para um cineasta, perder os olhos é um dos maiores medos que existe. Tirar os olhos a alguém é um acto extremamente brutal. Quanto ao surrealismo, é engraçado que faça essa referência, porque tenho um cartaz na parede de Abraham Lincoln pintado por Dali, e tenho no braço uma tatuagem da Audrey Horne do Twin Peaks… David Lynch é um dos meus realizadores preferidos de sempre e tem a capacidade de tornar o banal e o vulgar absoutamente assustadores. A lição dele que quis pôr em prática em Os Olhos de Minha Mãe tem a ver com isso. Muitas histórias sobre assassinos em série mostram as cenas violentas, que podem ser assustadoras ou perturbantes. Mas se soubermos aquilo de que alguém é capaz, observar essa pessoa a ver televisão, a fazer o jantar ou lavar a louça torna-se ainda mais aterrorizante. Aprendi isso com Lynch. Os Olhos de Minha Mãe não é bem um filme de terror. Não. Mas ao mesmo tempo é de facto um filme de terror. Completamente, e foi sempre pensado assim. Os filmes de terror de que gosto são filmes de autor, como Audition (Anjo ou Demónio, 99) de Takashi Miike, que foi uma influência enorme, e muito do seu trabalho e de outros cineastas japoneses está precisamente nessa terra de ninguém entre géneros. Como os filmes do Park Chan-wook, que são thrillers, dramas, romances, filmes de terror, não sabemos nunca muito bem o que são… Mas também cresci a ver o cinema de terror gótico dos anos 1950 e 1960, William Castle, Alfred Hitchcock, aqueles filmes com a Bette Davis ou o Vincent Price. Claro que gosto do Massacre no Texas e afins, mas existe uma elegância no modo como Hitchcock fazia um filme de terror que tentei emular. Sou um cinéfilo antes de ser cineasta, e isso vê-se, não escondo as minhas influências. Como Jacques Tourneur e a maneira como ele usava o preto e branco?Exacto. Fiz a escola de cinema, sei os truques que eles usavam para filmar, adoro essas coisas, e parte do gozo de rodar Os Olhos de Minha Mãe a preto e branco vem daí. Pegue nas cenas de exteriores. As cenas que decorrem de dia foram rodadas à noite com muita iluminação para fingir que é dia, e as cenas de noite foram rodadas de dia com um filtro vermelho e iluminação muito específica. É algo que só podíamos fazer rodando a preto e branco, e dá aos exteriores uma qualidade surreal, alienígena, que joga bem com a estética do filme. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os filmes fazem-nos sentir coisas que nunca sentimos antes, e quero que seja o espectador a juntar as peças, a encontrar a atmosfera, o tom do filme, ao mergulhar neste mundoO filme tem um tom extremamente pacato, uma quietude que tanto está presente na performance da Kika Magalhães como no próprio desenrolar da acção. Isso tem tudo a ver com a atmosfera, porque é importante que não seja só a história a afectar o espectador mas também a atmosfera, e de um modo que não se consegue verdadeiramente explicar. É outra coisa que aprendi com o David Lynch. Há muitas cenas nas quais, se formos a olhar para elas com olhos de ver, não encontramos verdadeiramente uma razão para nos sentirmos inquietos, mas sentimo-nos assim na mesma e não há nenhuma razão especial para isso. Isso é uma das coisas mais fantásticas do cinema: poder criar estas experiências emocionais que as pessoas não compreendem bem. Os filmes fazem-nos sentir coisas que nunca sentimos antes, e quero que seja o espectador a juntar as peças, a encontrar a atmosfera, o tom do filme, ao mergulhar neste mundo. E como é um filme curto, só tem 1h15, posso ir devagarinho que as pessoas não se chateiam!Ou seja, a lógica onírica do filme, do pesadelo que não se percebe por inteiro onde nem tudo bate certo, é deliberada?Não tem piada nenhuma explicar tudo! Muitas vezes, saber para onde o filme vai deixa o espectador sossegado, e eu não quero nada disso. Gosto da ideia de um filme como um quebra-cabeças, e como cineasta quero deixar “buracos” para o espectador preencher. A cena que ele imaginar será provavelmente melhor do que a que eu escreveria!
REFERÊNCIAS:
Étnia Asiático
Em Sines o rock é made in Mongólia, Coreia do Sul e Colômbia
Meridian Brothers, Ajinai e Jambinai reinventaram o rock no Festival Músicas do Mundo. E fizeram companhia a Mulatu Astatke e Ibrahim Maalouf nos muitos pontos altos de dois dias que culminaram com um concerto de sitar saudado por uma multidão às quatro da manhã. (...)

Em Sines o rock é made in Mongólia, Coreia do Sul e Colômbia
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Meridian Brothers, Ajinai e Jambinai reinventaram o rock no Festival Músicas do Mundo. E fizeram companhia a Mulatu Astatke e Ibrahim Maalouf nos muitos pontos altos de dois dias que culminaram com um concerto de sitar saudado por uma multidão às quatro da manhã.
TEXTO: O mais certo é que Jimi Hendrix nunca tenha ouvido a palavra "champeta" ao longo dos 27 anos que precederam a sua morte pouco gloriosa, engasgado no próprio vómito. Enquanto fenómeno musical popular colombiano, com guitarras e teclados a preço de saldo a ordenarem aos frequentadores dos bailes que se rocem desavergonhadamente nos seus parceiros, a champeta só ganhou relevo nos anos 80, já Hendrix se tinha finado. Mas para que não permanecessem em mútua ignorância, os Meridian Brothers resolveram juntá-los numa delirante versão de Purple haze para lá das três da manhã no palco da Avenida da Praia, em Sines. O concerto dos colombianos foi a descarga certa após uma noite de quinta-feira ziguezagueante no Castelo, iniciada por um óptimo concerto da trupe etíope comandada por Mulatu Astatke. Mas lá iremos. Purple haze acabara de deixar o público esbugalhado perante a brilhante desfaçatez com que os Meridian Brothers exumam o espírito aventureiro de Hendrix, transformando esse acto num atordoado baile às portas da Amazónia ou dos Andes colombianos. Pouco depois, essa febre tropical que parece acompanhar cada canção saída do génio de Eblis Álvarez escancara-se, quando, no final do instrumental El gran pájaro de los Andes, os cinco músicos em palco desatam a macaquear animais (macacos inclusive) com as vozes a treparem por cima umas das outras. Por esta altura, tudo era já normal nesta soberba demonstração de alegre demência artística e de como as músicas locais e universais, depois de se cheirarem e reconhecerem, continuam a juntar-se em sínteses de completo deslumbramento. Aqui, ao longe, faz sentido e agradecemos que o rock (carregado de psicadelismo e sons do vallenato, da cumbia e da salsa) na Colômbia soe como nenhum outro. A sensação não era estranha. Já na véspera, Aijinai e Jambinai tinham apresentado teses magníficas dedicadas à temática “Como fazer do rock uma experiência intuitivamente asiática”. Do lado dos mongóis Ajinai, aquilo a que assistimos é uma notável investida dentro de alguma convencionalidade do rock, mas adulterada pela execução enérgica do morin khuur – imagine-se um pequeno violoncelo cujo topo ostenta uma cabeça de cavalo, tradução, de resto, para o nome do instrumento. Não larguemos esta imagem por mais uns segundos: a música dos Ajinai, grupo fundado por um dissidente dos Hanggai, soa a constantes cavalgadas pelas estepes do país. Neste rock, a guitarra eléctrica entrega a primazia ao morin khuur, a bateria fustiga ritmos tradicionais e as vozes assumem a técnica khoomei – uma forma gutural de produzir um som hipnótico que parece uma descoberta da necessidade de comunicar em extensas paisagens áridas e desabitadas. O caso dos Jambinai é um pouco mais extremo. Próximos de uma linguagem pós-rock associável aos Mogwai, atravessada por elementos noise e punk, vivem numa alternância entre momentos etéreos que nunca desligam a tensão até desabarem em pesadas descargas obsessivas. É seguir os movimentos de Lee Ilwoo, cujo penteado à Justin Bieber não faz adivinhar este jogo de sonho inquieto/pesadelo: quando utiliza o instrumento de sopro piri, pode recuperar-se o fôlego, mas quando se lança à guitarra é de esperar que as estruturas que seguram o céu lá em cima possam ceder de vez. No haegum, espécie de violino que parece só admitir as frequências agudas, Kim Bomi garante que ninguém relaxa durante a actuação dos Jambinai. Uma incrível vergastada sonora – sexta-feira, 25, repetem a dose no Milhões de Festa – a provar que nem só de gangnam style vive a Coreia do Sul. Aqui também há jazzPassava das quatro da manhã quando Niladri Kumar terminou o primeiro tema da sua actuação na Avenida da Praia. O virtuosismo estarrecedor do músico indiano no sitar rendeu uma generosa ovação. E o músico, sabendo que há horas mais fáceis para conquistar uma multidão com recurso a uma música tocada por gente sentada (sitar+tablas) e sem as confortáveis camas rítmicas electrónicas, valeu-se da História e parafraseou Ravi Shankar no Concerto para o Bangladesh de 1971: “Se gostaram assim tanto do soundcheck, espero que também gostem do concerto. ” (No original, Shankar falava em afinação. ) Inteligentemente, citaria Deep Purple ou Carlos Paredes, trazendo referências populares para uma mescla de ragas indianos que poderia revelar-se um problema, mas que apenas reforçou o constante questionamento do que pode ser e oferecer o FMM.
REFERÊNCIAS:
Taiwan em risco de exclusão da assembleia da Organização Mundial de Saúde
O convite para a assembleia da agência da ONU, que decorre no final de Maio, ainda não chegou a Taipé. Está condicionado ao aval da China. (...)

Taiwan em risco de exclusão da assembleia da Organização Mundial de Saúde
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: O convite para a assembleia da agência da ONU, que decorre no final de Maio, ainda não chegou a Taipé. Está condicionado ao aval da China.
TEXTO: Taiwan corre o mais sério risco dos últimos anos de não participar na assembleia da Organização Mundial de Saúde (OMS), devido à pressão da China. Há mais de um mês que o governo de Taipé espera resposta ao apelo público dirigido aos responsáveis desta agência das Nações Unidas para que lhe envie o convite sem o qual não poderá participar “nesta assembleia que procura o bem de toda a humanidade”. A iniciativa, que visou também o apoio da comunidade internacional, não teve até agora resultados. “A ausência de Taiwan da OMS abriria uma séria fissura no sistema global de saúde e criaria riscos significativos”, adverte o Governo de Taiwan, em comunicado, como os de propagação de epidemias e de segurança alimentar, áreas em que o país tem programas activos. “A OMS precisa de Taiwan para construir um sistema de saúde global robusto, e Taiwan precisa da OMS também”, defende o governo. O próximo encontro magno da agência das Nações Unidas para a saúde está marcado para 22 a 31 de Maio em Genebra. Com estatuto de observador desde há nove anos, Taiwan apenas pode participar através de convite, o qual está condicionado ao aval da China, que não reconhece a independência do território de 23 milhões de pessoas. Taiwan lembra que desde o início da sua participação como observador, há nove anos, “a participação activa em encontros técnicos da OMS e da Assembleia melhorou o controlo de doenças em Taiwan e no mundo, face ao seu compromisso em prestar assistência a outros países que enfrentam desafios de saúde, indo ao encontro da visão da OMS”. Sobre o risco de propagação de epidemias, o país considera ter uma “posição crítica na rede global de transportes”. A Região de Informação de Vôo de Taipé, pela qual é responsável, administra um trânsito anual de 60 milhões de passageiros. E cerca de 1, 25 milhões de aves sobrevoam anualmente o território nas suas rotas migratórias desde a China, Japão e Coreia do Sul em direcção ao sudoeste asiático e às nações insulares do Pacífico. No que se refere à segurança alimentar, sublinha o seu lugar de destaque no comércio mundial. Foi, em 2015, o 17. º maior exportador e o 18. º importador mundial de mercadorias. “Será difícil gerir a segurança alimentar global, se Taiwan for excluído”, frisa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Segundo a OMS, mais de dois milhões de pessoas morrem anualmente por contaminação de alimentos ou água para consumo. A ideia de que a OMS e Taiwan precisam uma da outra foi entretanto materializada numa exposição online de fotografia, promovida pelo governo do território: “Não deixar ninguém para trás: a segurança mundial de saúde precisa de Taiwan, Taiwan precisa da Organização Mundial de Saúde". Está disponível na Internet desde o final de Abril, e serve sobretudo como bandeira da campanha em favor da participação do país na próxima assembleia da OMS. Procura mostrar o que tem sido o contributo activo do país para a saúde mundial, e mais recentemente no apoio aos objectivos do desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, através do envolvimento em vários programas. Esses programas incluem vários países asiáticos e também de língua oficial portuguesa, como São Tomé e Príncipe (país que no último ano cortou relações diplomáticas com Taiwan e as encetou com a China, após a forte aproximação desta). As dificuldades de participar na assembleia da OMS já se tinham manifestado abertamente em 2016, depois de Tsai Ing-Wen, líder do partido pró-independentista, ter ganho as eleições em Março. O convite chegou em cima das últimas horas, após diligências diplomáticas dos EUA em seu favor, mas condicionado ao reconhecimento, por parte de Taiwan, de “uma só China”, tal como tinha sido imposto pela China. A representação de Taiwan participou então sem fazer qualquer referência à intenção chinesa.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA OMS
O Curtas produz, mas sem pressas
Em 2018, o festival de Vila do Conde mostra três novas produções próprias - as primeiras a “saírem fora” do “caderno de encargos” que o Curtas tinha estabelecido. (...)

O Curtas produz, mas sem pressas
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DATA: 2018-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em 2018, o festival de Vila do Conde mostra três novas produções próprias - as primeiras a “saírem fora” do “caderno de encargos” que o Curtas tinha estabelecido.
TEXTO: Ao longo dos seus 26 anos de existência, o Curtas Vila do Conde tem produzido regularmente, mas geralmente sempre no âmbito de efemérides (como as comemorações dos 20 anos do certame), respondendo a temáticas relacionadas com a região de Vila do Conde, ou ao abrigo de projectos de formação emparelhando jovens estudantes de cinema com realizadores de nome feito. Thom Andersen, Sergei Loznitsa, Graça Castanheira, Manuel Mozos, João Pedro Rodrigues, João Canijo ou Sandro Aguilar foram alguns dos nomes que responderam a esses convites. Mas as três produções do Curtas em estreia no programa 2018 – numa sessão especial este domingo, às 20h, com repetição no dia 21 às 17h – “saltam fora” dessas circunstâncias. Duas delas, A River Through the Mountains, de José Magro, e Circo do Amor, de Miguel Clara Vasconcelos, nem sequer respeitam literalmente o “caderno de encargos” que o trabalho de produção do festival tinha até agora seguido. Nuno Rodrigues, um dos directores do Curtas, reconhece que a situação é invulgar, mas explica que tem muito de puramente circunstancial. Até porque, para aquele que é um dos responsáveis do festival desde o início, a produção própria não é algo que o Curtas esteja interessado em assumir a tempo inteiro: “Ficámos de algum modo com o bichinho da produção, mas é algo que queremos desenvolver como actividade complementar, interligada com os nossos outros projectos. Temos a Agência da Curta-Metragem, a galeria Solar, o projecto Animar – actividades que não só são complementares umas às outras e ao Curtas, como ajudam e fortalecem todas as outras, e essa é também uma das formas de sobrevivermos e continuar a dar cartas fora de um grande centro urbano. ”O único filme que respeita a lógica de produção do certame é Náufragos, resultado de um workshop de formação com alunos “do final do ensino secundário e início do superior” no âmbito do serviço educativo do festival, Animar, que teve este ano como tema o documentário. Filme elegíaco e abstracto, espécie de mini-ensaio onde são as vozes dos entrevistados que transportam a narração, Náufragos nasce de um trabalho de pesquisa e criação orientado pelo cineasta Pedro Neves (Tarrafal, Hospedaria, Água Fria), documentarista que se tornou numa espécie de “historiador oficioso” do Porto e seus arredores, dando voz a sobreviventes e familiares da tripulação de um navio de pesca naufragado das Caxinas. “Convidar o Pedro para fazer uma espécie de residência artística surgiu a partir de uma ideia que tinha a ver com coisas que ele tem andado a fazer, ” explica Nuno Rodrigues. “Ele ficou desde logo muito interessado, deu uma base e muita liberdade aos alunos. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Circo do Amor, o segundo dos três filmes, é uma ficção concebida por um realizador “muito lá de casa” – Miguel Clara Vasconcelos (Encontro Silencioso, Documento Boxe), que, natural de Lisboa, cresceu em Vila do Conde e realizou para o festival a média experimental Vila do Conde Espraiada, prolongada para uma instalação/exposição chamada Onde o Coração se Esconde. “Circo do Amor é uma co-produção com França e é por isso um filme feito com outros meios, completamente diferente das [nossas] outras [produções]", explica Rodrigues. “O Miguel tinha imaginado uma história de ficção na urbanização do Mindelo onde acabou por rodar, e há uma situação precisa que está na base da inspiração do argumento e da preparação. Mas a ligação ao local é ao mesmo tempo uma coisa muito livre – a história podia decorrer aqui como noutro sítio. ”Para o fim ficou o objecto mais “fora” do baralho. A River Through the Mountains, encantadora evocação do amor adolescente com forte inspiração da nova vaga asiática dos anos 1990, foi rodado na cidade chinesa de Hancheng por José Magro, realizador que participou no programa de formação Campus (foi director de fotografia de Mahjong, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata). O projecto nasceu do desafio feito pelo festival chinês Hancheng Jinzheng a uma dúzia de certames irmãos por todo o mundo, entre os quais o Curtas: “cada festival escolheria uma equipa para fazer um filme em 72 horas na cidade, que seria uma ficção à volta do amor, ” explica Rodrigues. “Quisemos enviar uma equipa que tivesse a ver com o trabalho realizado aqui no Estaleiro e no Campus, daí termos convidado o José Magro, o Miguel da Santa e o Tiago Carvalho, que participaram enquanto estudantes em alguns dos trabalhos. ” O trabalho feito literalmente a três em Hancheng foi afinado a posteriori com mais tempo e é essa versão mais acabada que o Curtas vai estrear. Que não se pense, contudo, que o Curtas se vá tornar numa entidade produtora a tempo inteiro. “Claro que vão continuar a surgir histórias como estas, ” diz Nuno Rodrigues, que avança que há outros projectos em “estaleiro”. “Mas de uma forma calma, pausada, não como actividade que se sobreponha às outras de forma evidente. Não é esse o nosso objectivo. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
“Para combater os plásticos é preciso uma revolução política à escala mundial”
Nos anos 90, Charles Moore descobriu a grande acumulação de lixo no Pacífico Norte. Desde então, tem viajado pelo mundo para nos alertar sobre os seus possíveis impactos. Veio a Portugal para avisar que estamos longe de estar preparados para vencer a batalha contra os plásticos. (...)

“Para combater os plásticos é preciso uma revolução política à escala mundial”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nos anos 90, Charles Moore descobriu a grande acumulação de lixo no Pacífico Norte. Desde então, tem viajado pelo mundo para nos alertar sobre os seus possíveis impactos. Veio a Portugal para avisar que estamos longe de estar preparados para vencer a batalha contra os plásticos.
TEXTO: Charles Moore é o pai da investigação sobre a grande mancha de lixo (dominada por plástico) do Pacífico Norte e tem assumido bem esse papel. Depois de a ter descoberto nos anos 90, não tem parado de a estudar e de viajar pelo mundo para nos sensibilizar sobre o problema do plástico. Esteve esta semana na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e, na semana passada, deixou o seu testemunho na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova de Lisboa para assinalar o Dia Nacional do Mar. E veio vestido a rigor: calças pretas, camisa avermelhada e um laço preto de plástico a condizer. Na mão, segurava uma coroa colorida também feita de plástico. “É de plástico reciclado e reutilizado. Veio da Holanda”, diz de forma energética. Com a mesma energia, subiu ao palco do Grande Auditório da FCT. “Olá! Ei”, dirigiu-se para a plateia – quase preenchida –, que reagiu com um aplauso. O norte-americano de 71 anos anunciou que durante os próximos minutos iríamos estar no meio do oceano. Naveguemos então até ao Pacífico Norte e recuemos até 1997. Nesse ano, a bordo do seu catamarã Alguita, o capitão Charles Moore regressava de uma regata. “Apenas queria testar o meu catamarã”, conta. Em 1994, já tinha criado a Fundação de Investigação Marinha Algalita (um nome inventado a partir do espanhol porque, além de química, estudou literatura espanhola) – que tinha o objectivo recuperar as zonas com algas para que as águas costeiras voltassem a ser prístinas – e decidiu adquirir o tal catamarã. “A toda a hora estava a ver fragmentos. Não era nenhuma grande ilha de plástico: eram pequenas peças a flutuar”, lembra. “Comecei a detectar que este tranquilo ‘oceano pintado’ parecia ser – como é que o devo dizer da melhor forma? – manchado. Aqui e ali, partículas peculiares e lascas manchavam a superfície do oceano. Acredito que a maioria é feita de plástico”, escreve no seu livro Plastic Ocean, de 2011 (não editado em Portugal). Já em terra firme, conta que pegou no bloco de notas da viagem e fez alguns cálculos das partículas que tinha observado. “Vi detritos de plástico durante sete dias consecutivos e ao longo de mil milhas náuticas. Penso que esta sopa deverá cobrir uma área maior do que um círculo com mil milhas de diâmetro”, refere no livro. “Nesse ano, só tive a sensação de que algo estava errado”, acrescenta agora. “Dois anos mais tarde – já com equipamento científico –, analisei a área com redes de arrasto e vi que havia níveis muito elevados de plástico. Foi aqui que tive a percepção de que estávamos a transformar o oceano muito mais do que aquilo que eu imaginava. ”Desde então, Charles Moore mudou o foco da sua fundação e não parou de analisar a situação desta grande acumulação de lixo. Entre as descobertas mais “surpreendentes” está a verificação de que numa área havia seis vezes mais plástico do que zooplâncton. “Quando analisámos as amostras que recolhemos, vimos que havia seis quilos de plástico por cada quilo de zooplâncton”, salienta. “Temos visto que o problema está a aumentar e que estamos a mudar e a destruir coisas [na ecologia] que nem fazemos ideia do que são. Estamos fora de controlo: há como que um ataque de plástico. ”Actualmente, Charles Moore constata que esta mancha de lixo piorou. “Quando a descobri, não era uma coisa contínua. Agora há áreas que estão fortemente cobertas de plástico”, aponta. Segundo um estudo publicado este ano na revista científica Scientific Reports, estima-se que os plásticos flutuantes desta mancha cubram uma área de 1, 6 milhões de quilómetros quadrados, o que equivale a mais de 17 vezes o tamanho de Portugal continental, dos Açores e Madeira. E como a descreve Charles Moore? “Como um aterro no mar. ”Grande parte dos contributos para esta acumulação vem de países asiáticos que têm uma fraca gestão de resíduos, economias emergentes e um elevado número de habitantes. Mas Charles Moore sublinha: “Toda a gente no planeta está a contribuir. Há pequenas fontes que vêm todas desaguar nesta mancha de lixo. ”Esta não é a única mancha de lixo flutuante no oceano (embora ser a maior). Os oceanos têm acumulações na sua zona central, os giros: há duas no Pacífico, duas no Atlântico e uma no Índico. Além da mancha do Pacífico Norte, Charles Moore tem estudado a do Pacífico Sul. “Numa viagem que fizemos em 2016 e 2017, encontrámo-la igualmente contaminada. ” Em termos gerais, as amostras recolhidas no Pacífico Sul são mais recentes do que as do Pacífico Norte, que estão mais fragmentadas. “A sociedade no Pacífico Sul tornou-se consumista [e a utilizar plástico descartável] mais tarde. ”O norte-americano conta ainda que, ao longo dos anos, tem tentado transmitir que aquilo que encontrou não é uma verdadeira ilha ou uma mancha contínua de plástico. Contudo, há pouco tempo, na grande acumulação do Pacífico Norte encontrou aquilo que se aproxima mais de uma ilha: um conjunto de bóias, materiais de pesca e fragmentos de plástico com cerca de 24 metros de comprimento. Na apresentação na FCT , Charles Moore mostrou um vídeo onde conseguiu ficar de pé na chamada “Ilha Hi-Zex”, que terá vindo do grande tsunami do Japão em 2011. “[Finalmente] encontrei uma ilha artificial de plástico no meio do oceano”, ironiza. O que preocupa mais Charles Moore relativamente aos plásticos no oceano? “O maior problema são os animais embaraçados no plástico, como tartarugas, focas e baleias. Este é o maior problema visível. ” Quanto aos problemas invisíveis, refere, por exemplo, a ingestão de partículas de plástico. “Já há medusas que têm plásticos incorporados nos seus tecidos. Estamos a fazer medusas de plástico. ”Além disso, destaca que o plástico mais antigo está a degradar-se em nanoplásticos e que estes estão a penetrar na barreira hematoencefálica de peixes, o que pode causar distúrbios comportamentais. Charles Moore já questiona se o mesmo acontece nos humanos. “O plástico não é um condutor de electricidade e o cérebro precisa de circulação eléctrica. Colocar um não condutor no cérebro, poderá trazer desafios à nossa capacidade de pensar”, especula. “Nos peixes, quando o plástico entra no cérebro, eles deixam de procurar comida muito longe. ”O plástico foi inventado no final do século XIX. Mas a sua produção em massa só começou depois da Segunda Guerra Mundial. Na década de 50 produziam-se cerca de dois milhões de toneladas de plástico por ano, em 2015 já eram cerca de 400 milhões, segundo um artigo na Science Advances de 2017. Ao todo, até 2015, já se terão produzido 8300 milhões de toneladas de plástico. Charles Moore confessa que sente que está a perder a luta contra o plástico. “Esta batalha nunca esteve perto de ser vencida. E vamos precisar de muitos anos até chegarmos a um ponto em que poderá ser vencida. ”Como podemos lutar? “Para combater as alterações climáticas e os plásticos é preciso uma revolução política à escala mundial. E ainda não a temos. Estamos apenas na fase da consciencialização e das pequenas medidas. ” E acrescenta: “As soluções, até agora, foram tímidas. Não temos tido soluções à escala do problema. Temos de mudar a forma como produzimos e consumimos plástico. Temos de exigir mudanças no sistema económico. ”Charles Moore elogia tanto a Estratégia Europeia para os Plásticos numa Economia Circular (de 2017), que prevê proibir a venda de produtos de plástico de uso único, como os governos que estão a bani-los. Mas diz que é preciso mais: “Temos de mudar a nossa visão do sistema de produção e consumo para um modelo circular. ” E avisa que se deve ter uma economia circular de “coisas boas”. “É diferente que haja uma economia circular que continue a ter uma parte de materiais perigosos. Ora, os plásticos na distribuição alimentar são perigosos. ” Para cada um de nós, aconselha que reduzamos a pegada de plástico e influenciemos os outros a fazê-lo. Relativamente a iniciativas como a da Fundação The Ocean Cleanup, que lançou o sistema em forma de serpente para recolher plástico da grande mancha de lixo do Pacífico, classifica-a como uma “fraude”. “Há uma praga de plástico e querem limpá-la. Mas não há uma cura. ” Além disso, podem trazer organismos agarrados e continuará a depositar-se plástico no oceano, refere. Sobre se ainda tem esperança no futuro dos oceanos, Charles Moore responde que “a esperança é um aliado muito fraco”: “Quando Pandora trouxe os problemas ao mundo depois de a caixa ser aberta, a última coisa a sair foi a esperança. É uma forma de compensação dos deuses por todos os problemas trazidos pela abertura da caixa. Agora já não podemos meter o plástico dentro da caixa, ele já saiu. Já perdemos a batalha de um mundo livre de poluição de plástico. O nosso futuro será certamente poluído por ele. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ao mesmo tempo, frisa que a ideia não é vivermos num mundo sem plástico. Afinal, ele está nos carros, nos telemóveis ou até na indústria aeroespacial. “O plástico está omnipresente. Devemos temê-lo pela profunda poluição que provoca e respeitá-lo pelo quão importante é. ”Charles Moore garante que vai continuar a sensibilizar as pessoas e a estudar a grande acumulação de lixo no Pacífico Norte. Ainda em Julho esteve nesta área para recolher mictofídeos (peixes), que estão a alimentar-se de plástico, para perceber os níveis de stress a que estão sujeitos. Afinal, o oceano é a sua vida: cresceu perto dele, já navegava com cinco anos e considera-se “um mamífero marinho”. A luta contra os plásticos do oceano acaba por ser a sua batalha e quer que mais pessoas se juntem a ela.
REFERÊNCIAS:
Lisboa meets Ásia no novo Mercado Oriental
Da Taberna de Macau aos katsu sando, passando pelos baos, os sócios da Taberna da Rua das Flores abriram três novos espaços no novo Mercado Oriental, no Martim Moniz, e mostram uma comida de rua que nasceu com as viagens dos portugueses pelo mundo. (...)

Lisboa meets Ásia no novo Mercado Oriental
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Da Taberna de Macau aos katsu sando, passando pelos baos, os sócios da Taberna da Rua das Flores abriram três novos espaços no novo Mercado Oriental, no Martim Moniz, e mostram uma comida de rua que nasceu com as viagens dos portugueses pelo mundo.
TEXTO: Quando Joana, a gerente do Amanhecer Supermercado Oriental do Martim Moniz, em Lisboa, falou a André Magalhães sobre a vontade de criar um espaço de comidas por cima do supermercado, o fundador da Taberna da Rua das Flores e da Taberna Fina (ambas no Chiado) pensou logo que teria graça fazer não um food court mas um hawker center, um desses locais onde, nas grandes cidades asiáticas, se juntam os vendedores de comida de rua, cada um com a sua especialidade. André tinha, há já algum tempo, vontade de fazer alguma coisa em torno da comida de Macau e viu aqui uma oportunidade. Falou com os sócios da Taberna, Bárbara Matos e Tiago Alves, e decidiram avançar. Assim, no novo Mercado Oriental, que abriu mesmo antes do Natal, há três espaços que lhes pertencem – a Taberna Macau, o Bao Bar e o Kamakura – ao lado de outros restaurantes de especialidades de diferentes países da Ásia. “O que eu disse à Bárbara e ao Tiago foi ‘vamos fazer uma taberna com petiscos macaenses’”, conta André. “Sempre me interessou o rasto que a comida portuguesa deixa pelo mundo. Parte do meu trabalho de investigação, e das minhas viagens, passa por aí. ” E Macau é especial neste contexto porque “foi o primeiro sítio do mundo em que houve realmente uma fusão cosmopolita de comidas, motivada e instigada pelos portugueses”. André explica que “a instalação de uma administração portuguesa em Macau implicou a ida de funcionários públicos de outras possessões portuguesas, de Moçambique, Goa, Timor”. Por outro lado, “havia um vai e vem de jesuítas que iam ao Japão e voltavam, [por isso] Macau era um ponto de confluência de tudo o que os portugueses andavam a fazer naquela zona do mundo”. Os pratos da Taberna Macau (todos entre os 7€ e os 9€) são inspirados nessa cozinha de fusão. Há a Sopa de Lacassá, “um clássico, o caldo verde da cozinha macaense”; o Tchai de Bonzo, “um prato vegetariano bastante popular”; o Minchi, que é “o bitoque dos macaenses”, com ovo estrelado e batata frita e com a diferença de a carne ser picada e os temperos serem orientais; o Bao Zai Fan, “um arroz feito no pote de barro, muito parecido com os arrozes de enchidos e de forno portugueses”; o Chatchini de bacalhau, “muito representativo dessa fusão de sabores porque tem o bacalhau mas também curcuma e leite de coco”; e a Cabidela de pato, “um prato antiquíssimo da cozinha portuguesa, a que eles chamam ‘adem’, palavra do português antigo para pato. ”Para além disso, há as sobremesas: a Bebinca de leite, que é “completamente diferente da indiana, porque não tem camadas”. André explica que, embora este seja um doce que toda a gente associa a Goa, ele existe por todo o Sudeste asiático, das Filipinas à Malásia, sendo que “esta versão macaense leva leite de vaca e coco”. Outra hipótese é provar a Batatada, que aqui é feita com batata roxa. “É uma receita portuguesa, da qual agora existem também versões com batata-doce. ” E, por último, a Laranja dos Bonzos, “que é um pouco a ‘laranja dos fidalgos’ de cá, temperada com azeite e, neste caso, com especiarias orientais”. Com Macau a “crescer a olhos vistos” e com uma percentagem cada vez maior da população a vir de fora, “a tradição da cozinha macaense está a diminuir”. Por isso, André acha que “é uma responsabilidade tentar manter isso”, até porque “era uma vergonha que em Lisboa não houvesse nada relacionado com a comida macaense”. Agora já há. Olhando para o espaço onde iria nascer o Mercado Oriental, André e os sócios pensaram que seria interessante ocupar um dos cantos, o que tornaria mais fácil criar um ambiente de convívio nas mesas. Por isso, quando Joana, a gerente do supermercado, lhes perguntou como é que faziam os baos na Taberna da Rua das Flores porque estava interessada em ter um espaço de baos, tiveram uma ideia. “Pensámos que podíamos ser nós a fazer uma coisa com baos, já que a Taberna foi o primeiro sítio em Lisboa a servi-los e eu sou absolutamente fanático dos baos tradicionais de Taiwan, que não têm nada a ver com os que estão agora na moda”, diz André. Os de Taiwan “são grandes, servidos num saco de plástico, cheios de molho que escorre para dentro do saco”. Foi essa a inspiração para os que agora são apresentados no Bao Bar, mas com algumas adaptações. “Na última viagem que fiz, fui ter com o homem que é o Papa dos baos, estive a falar com ele e a aprender como é que se fazia e decidimos fazer mesmo a receita original. ”A lista do Bao Bar incluiu versões mais clássicas e algumas mais criativas (todas a 8€). Há o Pok! Bang! com barriga de porco; o Pángxiè Bao, com caranguejo de casca mole; o Bao à Pequim, com pato lacado; o Bao Mi, de inspiração vietnamita, mais fresco e leve; e até um Vegetarian Dog, com salsicha vegetariana. Nos baos doces (a 4€), a opção é entre um mais asiático, com doce de feijão e sésamo (o Dou Sha Bao) e o Bao de Priscos, com, sim, é isso mesmo, com Pudim Abade de Priscos e fios de carne de porco seca – decididamente poderoso. O Bao Bar funciona também como bar, com uma selecção de cervejas orientais e refrigerantes também orientais, e alguns cocktails feitos com bebidas asiáticas, como o Pirolito japonês ou a Shangria. André Magalhães acredita que, depois da explosão dos baos, a próxima moda vai ser o katsu sando, a sanduíche japonesa que, afinal, também tem a ver com os portugueses. “Fomos nós que introduzimos a fritura no Japão”, recorda. “E katsu é uma abreviatura de katsuretsu, ou seja, costeleta [sando é sanduíche]. É o nosso panado de costeleta, que deixámos no Japão e também em Macau, onde a bifana é uma costeleta panada, com osso e tudo, servida no pão. O katsu sando é uma sandes de panado, uma coisa que tem uma raiz nossa. Porque é que não havemos de puxar por esse fio?”. Foi assim que nasceu o terceiro “irmão” deste trio no Mercado Oriental, o Kamakura, nome inspirado numa cidade nos arredores de Tóquio que André descreve como “uma espécie de Costa da Caparica de Tóquio, onde toda a gente vai para a praia e onde existe imensa comida de rua”. O que os restaurantes mais sofisticados começaram a fazer mais recentemente foram sandes deste tipo mas com wagyu, a carne de vaca de grande qualidade mas caríssima. “Nós pensámos que isso não fazia sentido e decidimos fazer a clássica, com carne de porco. ”Rua da Palma nº 41 Lisboa Horário: todos os dias das 12h às 23h (fecha dia 1 de Janeiro)Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quem quiser provar essa terá que pedir a Kurashiku, “que é como os japoneses dizem clássico”; depois há também a Tori Katsu, com peito de frango; a Gyu Katsu, com bife de vaca; e a Ebi Katsu, com camarão. Para os vegetarianos, foi criada a Kinoko Katsu, com um cogumelo Portobello panado. Todos os katsu sando custam entre 5€ e 9€. Como alternativa, pode-se pedir as mesmas proteínas mas servidas sobre arroz numa taça, o donburi, com uma sopa de miso (entre os 7 e os 10€). Para sobremesa, aqui as propostas são o monburan, ou bolo de creme de castanhas, ou um kohi zeri, gelatina de café. Para além dos três espaços dos proprietários da Taberna da Rua das Flores, o Mercado Oriental inclui ainda o japonês Sushi House, com variedades de sushi e sashimi, o vietnamita Mint House, que apostou na sopa pho, o coreano K-Bob, que apresenta alguns dos pratos mais típicos da cozinha da Coreia, como o bibimbap (arroz com carne, vegetais e ovo), e ainda, uma oferta de cozinha portuguesa no Cantinho do Chef.
REFERÊNCIAS:
Nova crise financeira e os “animal spirits”
A perspectiva dominante da actualidade é que estaremos na iminência de uma nova crise financeira internacional. Mas talvez não seja para tão breve. (...)

Nova crise financeira e os “animal spirits”
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.068
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A perspectiva dominante da actualidade é que estaremos na iminência de uma nova crise financeira internacional. Mas talvez não seja para tão breve.
TEXTO: Parecia que a perspectiva de crise financeira tinha sido ultrapassada. Após uma “correcção” de um dos principais índices bolsistas em mais de 10%, no início do ano, a bolsa dos EUA voltou a subir atingindo um novo recorde em Agosto. Contudo, desde então, as quedas regressaram e avolumam-se os sinais de uma nova crise financeira. O “preço” da bitcoin [uma “criptomoeda” que se pretendia desenvolver como nova moeda digital em substituição e em concorrência com as moedas públicas como o euro e o dólar], sinónimo recente da maior bolha especulativa de sempre, caiu de um máximo de quase 20 mil dólares, no final de 2017, para 3, 8 mil dólares na última sexta-feira. Contudo, a actividade económica dos EUA apresenta alguns indicadores muito positivos que há muito não se registavam. O emprego total aumentou em 600 mil postos de trabalho em Outubro, com a taxa de desemprego a situar-se em mínimos dos últimos 49 anos, 3, 7%. A taxa de crescimento real do PIB tem estado a acelerar desde 2016, tendo o PIB crescido 3% em termos homólogos no 3T2018. No mesmo período, a taxa de crescimento do salário médio, +3, 1% em termos homólogos, atingiu o nível mais elevado desde 2009. Nestas condições, a queda do índice bolsista dos EUA em pouco mais de 10% desde o pico absoluto atingido em Agosto, após longos anos de subida contínua sem qualquer variação negativa significativa, não deveria ser factor de preocupação, sobretudo quando o desempenho da economia real dos EUA parece melhorar. Mas é. Embora os resultados da literatura académica não sejam conclusivos sobre a relação de causalidade entre os mercados financeiros e a actividade económica, parece dominante a perspectiva que as crises financeiras tendem a causar crises da actividade económica real, embora nem todas as crises financeiras causem crises económicas, i. e. , resultem em recessões económicas com quedas do PIB e do emprego. No entanto, crises financeiras profundas parecem resultar quase sempre em recessões ou mesmo depressões económicas. Foi isso que se observou na Grande Depressão dos anos 30, com a actividade económica (nomeadamente, PIB, nível de emprego e taxa de desemprego) a demorar muitos anos a voltar a atingir o pico antes da crise. Algo similar também se verifica na crise financeira internacional de 2007-2009. E, em particular, nas frequentes crises dos mercados emergentes documentadas no livro de Reinhart e Rogoff, “Desta vez é diferente”. Nesse livro, com um título muito pertinente e irónico, Reinhart e Rogoff notam que em todas as expansões (“booms”) que precedem as crises financeiras, decisores e agentes económicos argumentam que a expansão é diferente das anteriores e que “desta vez” não irá resultar numa nova crise financeira mas, posteriormente, são surpreendidos por nova crise financeira. Keynes em 1936 enfatizou o papel dos espíritos animais, “animal spirits”, (i. e. , emoções humanas) nos mercados financeiros (Keynes era também um especulador) e nas decisões dos agentes económicos do sector privado. Contudo, afigura-se que, a próxima crise financeira será diferente, ao contrário do que defendem Reinhart e Rogoff, porque desta vez já quase não há humanos nos mercados financeiros. A maior parte das transacções são, actualmente, realizadas por algoritmos automatizados e algoritmos inteligentes. Com efeito, será difícil pensar em “animal spirits” e emoção humana quando, de acordo com algumas estimativas, mais de dois terços das transacções em bolsa são realizadas por máquinas e somente 10% das transacções serão baseadas em escolhas discricionárias por investidores humanos. Claro que Keynes, ao falar de “animal spirits” se referia ao efeito dos lucros e das perdas sofridas em bolsa no resto da actividade económica, nomeadamente, em consequência dos seus efeitos sobre as expectativas dos empresários. Mas parece provável que o drama e a emoção dos mercados financeiros tenha sido atenuado pela presença crescente das máquinas. Será que, tal como num electrocardiograma, as oscilações diárias, semanais e anuais dos mercados tenderão a ser substituídas por uma linha contínua de uns e zeros, com transições digitais abruptas, à medida que definha e se extingue a “humanidade” dos mercados financeiros?É importante notar o papel da Reserva Federal (FED) nas crises financeiras. Embora macroeconomistas, como Ricardo Reis, destaquem o papel da política monetária moderna como factor fundamental para evitar uma nova Grande Depressão na sequência da crise financeira internacional de 2007-2009, outros há que argumentam que a política monetária inspirou ou, pelo menos, não contrariou bolhas especulativas nos mercados financeiros que resultaram na crise bolsista das dot. com (empresas da era da internet) em 2001 e na crise bancária e do mercado imobiliário em 2007-2009, crises essas que se transformaram em recessões globais. Já antes, entre 1979 e 1983, a política monetária do FED sob a liderança de Paul Vocker, tornou-se muito restritiva, para combater a elevada taxa de inflação observada nos EUA (9%) resultando numa queda acumulada da actividade económica nos EUA estimada em 20% do PIB, à data, “o maior declínio cumulativo do ciclo económico do emprego e produto desde a Segunda Guerra Mundial”, bem como numa crise de balança de pagamentos em economias emergentes, nomeadamente na crise da América Latina. Mas essa política monetária é hoje considerada como um sucesso. A taxa de inflação nos EUA caiu para 4% em 1983. E, em 1987, o índice bolsista Dow Jones caiu 22% numa segunda feira “negra” de Outubro. O FED tinha vindo a adoptar uma política monetária mais restritiva em 1987, aumentando a taxa de juro de referência. Mas, no dia a seguir ao crash, o FED anuncia que está disposto a ceder liquidez para suportar os mercados financeiros e reduz a taxa de juro de referência. Esse crash bolsista não causa crise económica: a economia americana cresce mais de 4% em 1988. E poderíamos ainda considerar o papel da política monetária dos EUA no despoletar de outras crises como a crise do sudeste asiático de 1997. O dólar é moeda de reserva internacional e, por isso, a política monetária dos EUA tem impacto na estabilidade financeira e em crises económicas noutros países, particularmente, quando os desequilíbrios económicos e externos desses países são acentuados. Não será por acaso que ocorrem, em 2018, estas oscilações no mercado bolsista dos EUA e crises de balança de pagamentos na Argentina, Brasil e Turquia. Note-se que, sobretudo desde o final de 2017, o FED tem vindo a aumentar a taxa de juro de referência bem como a retirar liquidez do sistema financeiro. Existe, por isso, o receio de que esta “normalização” da política monetária dos EUA possa causar uma nova crise financeira. A perspectiva dominante da actualidade é que estaremos na iminência de uma nova crise financeira internacional. Mas talvez não seja para tão breve. É certo que vivemos, nos últimos anos, uma bolha especulativa que, segundo alguns parâmetros – o rácio e a rapidez da subida do preço de alguns activos financeiros como a bitcoin, o preço dos activos sobre lucros observados, ou ainda o rácio de endividamento face a resultados antes de impostos – atingirá níveis historicamente elevados. Por outro lado, a inovação nos mercados financeiros significa que existem tecnologias e novos instrumentos financeiros que não foram testados em tempos adversos. Por conseguinte, uma eventual crise financeira poderá ter contornos distintos das anteriores. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Contudo, a economia real só agora verdadeiramente começa a sair da crise financeira internacional de 2007-2009, particularmente nos países do sul da Zona Euro, e a política monetária a nível global continua a ser muito acomodatícia. A política orçamental dos EUA também continua a ser expansionista. Acresce ainda que os mercados financeiros estão sob um colete-de-forças muito mais forte do que no passado, com a presença directa e indirecta de Bancos Centrais, de Fundos de Riqueza Soberana, de plutocratas à escala global e de grande bancos e intermediários financeiros que na realidade manipulam e controlam o preço de todos os activos financeiros. Portanto, arrisco “prognosticar” que desta vez será (algo) diferente…
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Nova edição de Akira, a icónica BD de Katsuhiro Otomo, sai em Portugal
Banda desenhada de Katsuhiro Otomo é reeditada esta semana pela mão da JBC Portugal. (...)

Nova edição de Akira, a icónica BD de Katsuhiro Otomo, sai em Portugal
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.295
DATA: 2018-12-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Banda desenhada de Katsuhiro Otomo é reeditada esta semana pela mão da JBC Portugal.
TEXTO: A banda desenhada japonesa futurista Akira, de Katsuhiro Otomo, é reeditada esta semana em Portugal, numa edição restaurada e revista pelo autor, 36 anos depois da primeira publicação, revelou a editora JBC Portugal. Akira, publicado pela primeira vez em 1982 e editado em Portugal nos anos 1990, é uma das mais conhecidas obras de BD de ficção científica do Japão, com a acção centrada numa cidade — Neo Tokyo — devastada pelos efeitos de uma terceira guerra mundial. Segundo a JBC Portugal, a nova edição de Akira foi também desenvolvida por Katsuhiro Otomo, com os materiais originais a serem restaurados e digitalizados. Cada um dos seis volumes desta reedição terá em média 350 páginas a preto e branco, com a leitura a proceder-se da direita para a esquerda, de forma a aproximar a edição portuguesa do original japonês. "Tudo isso foi feito para aproximar ao máximo a experiência de leitura japonesa: o manga português, com excepção da língua, é exactamente igual ao publicado no Japão", referiu o editor Júlio Moreno. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Katsuhiro Otomo, 64 anos, é considerado uma das referências da manga, e Akira ajudou a popularizar a BD japonesa no Ocidente. Otomo, que também fez o filme Akira, é autor de outras obras como Gun Report (1973), Fireball (1979), Domu (1980) e Mother Sarah (1990-2004), ilustrado por Takumi Nagayasu. Em 2015, foi o primeiro autor asiático a vencer o Grande Prémio do Festival de BD de Angoulême, em França. A editora JBC Portugal começou a publicar manga em Portugal no Verão passado, iniciando o catálogo com The Ghost in the Shell, de Shirow Masamune. Editou também Ataque dos Titãs, de Hajyme Isayama, e O Cão que Guarda as Estrelas, de Takashi Murakami. O primeiro volume de Akira será apresentado no sábado, 15 de Dezembro, pelo editor Júlio Moreno, na livraria Kingpin, em Lisboa.
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