Com mais dois graus, que Terra nos espera em 2100?
Mais seca, chuva mais concentrada. Menos gelo, o nível médio do mar mais alto. Em 2100 haverá mais pessoas deslocadas e as espécies exóticas poderão colonizar novas regiões. Há muitas perguntas sobre o futuro das alterações climáticas, em discussão em Paris. Mas os seus efeitos já se sentem hoje. (...)

Com mais dois graus, que Terra nos espera em 2100?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181219190957/https://www.publico.pt/n1716166
SUMÁRIO: Mais seca, chuva mais concentrada. Menos gelo, o nível médio do mar mais alto. Em 2100 haverá mais pessoas deslocadas e as espécies exóticas poderão colonizar novas regiões. Há muitas perguntas sobre o futuro das alterações climáticas, em discussão em Paris. Mas os seus efeitos já se sentem hoje.
TEXTO: Se o fim do século vai ser mais quente por causa das alterações climáticas, então 2015 está a marcar o tom do futuro. A temperatura média à superfície da Terra arrisca-se a atingir um grau Celsius acima da média pré-industrial, divulgou a Organização Meteorológica Mundial em Novembro. Se isso acontecer, este ano bate-se o recorde de temperaturas, e de uma forma simbólica. Um grau é metade do limite de dois graus que a Terra pode aquecer até 2100, definido por cientistas do clima e por políticos. A partir deste valor, os cenários climáticos prevêem um futuro mais assustador. Isto não quer dizer que 2016 ou 2017 irão ser tão quentes como 2015. Há uma variabilidade natural de ano para ano. Mas o potencial recorde de temperaturas faz parte de uma tendência ligada às emissões humanas de gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono (CO2), o metano e o dióxido de azoto. Como é que estes gases influenciam o termómetro global? A resposta começa nos raios solares que aquecem a superfície da Terra. Parte deste calor volta para a atmosfera em raios infravermelhos. Os gases com efeito de estufa retêm este calor e aquecem o ar. Quanto maior for a sua concentração, mais calor é retido. O CO2, por ser injectado em grandes quantidades com a queima dos combustíveis fósseis, acaba por ser o gás mais importante nesta equação. Desde a revolução industrial, a sua concentração na atmosfera passou de 280 partes por milhão (ppm) para 400 ppm. E a temperatura tem subido. Um dos efeitos mais significativos é no ciclo da água. Com mais calor, a evaporação dos oceanos torna-se mais rápida, a acumulação na atmosfera é maior e a precipitação mais concentrada. No Norte da Europa, espera-se por isso mais chuva até ao final do século, mas o Mediterrâneo vai tornar-se mais quente e seco. As secas vividas na Península Ibérica em 2005 e 2012 já só podem ser explicados neste contexto. “Só conseguimos obter nos modelos climáticos esta frequência de grandes secas quando inserimos os gases com efeito de estufa”, diz ao PÚBLICO o investigador Ricardo Trigo, climatologista do Instituto Dom Luiz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). “Se só pusermos a variabilidade natural, não conseguimos reproduzir esta frequência. ”Por volta de 2100, se tivermos em conta apenas um aumento de dois graus Celsius, um ano típico em Portugal terá a chuva mais concentrada no Inverno e uma Primavera e um Outono mais secos. Este padrão é uma incubadora de ondas de calor mais fortes. “É uma situação atmosférica favorável para que ondas de calor que antes duravam uma semana, com uma temperatura de 37 graus, passem a durar duas semanas e atinjam os 40 graus”, avisa Ricardo Trigo. Se a chuva acabar mais cedo na Primavera, em Maio e Junho os solos já estão completamente secos. Quando chega uma onda de calor, “a energia solar não é usada para evaporar a humidade do solo, por isso o solo aquece e começa a aquecer a atmosfera”. Décadas decisivasO Mediterrâneo é uma pequena peça no complexo puzzle das alterações climáticas, que têm implicações no aquecimento e acidificação dos oceanos, no degelo dos pólos, na subida do nível médio do mar, no derretimento do permafrost, na alteração da vegetação, na migração e extinção de espécies e no agravamento das condições de vida de muitas populações humanas. Todos estes fenómenos serão mais ou menos graves dependendo da evolução das emissões de gases. Em 1996, com base na informação divulgada pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês), das Nações Unidas, o conselho de ministros do Ambiente da União Europeia pôs os dois graus na agenda política. “O conselho acredita que a temperatura média global não deve exceder os dois graus acima do nível pré-industrial”, lê-se nas conclusões daquela reunião. “As concentrações de todos os gases com efeito de estufa devem ser estabilizadas”, acrescenta-se. “Os dois graus Celsius talvez permitissem evitar os pontos de não retorno. Acima deste patamar, a irreversibilidade [de vários fenómenos] torna-se mais plausível”, explica Tiago Capela Lourenço, investigador da FCUL. Alguns exemplos de pontos de não retorno são a perturbação das monções, o derretimento dos glaciares e à morte da floresta amazónica. Mas pouco ou nada aconteceu para inverter a situação. Em 2000, o mundo tinha lançado 24. 720 milhões de toneladas de CO2 para o ar. Em 2013 o número passou para 35. 670 milhões. No quinto relatório do IPCC, de 2013 e 2014, estimou-se que, no máximo, só se podia lançar mais um bilião de toneladas de CO2, face às emissões acumuladas até 2011, antes de se ultrapassarem os dois graus em 2100. Esta quantidade é equivalente a emitir 33. 333 milhões de toneladas por ano em 30 anos, menos do que o valor de 2013. Por isso, as próximas décadas serão decisivas. Na conferência do clima de Paris, que decorre desde 30 de Novembro, os países vão apresentar os seus compromissos de redução das emissões de gases com efeito de estufa. A Climate Interactive, uma organização sem fins lucrativos de Washington (EUA), compilou os valores das reduções a que os países já se comprometeram. A partir dessa informação, estimou que o CO2 atingirá as 675 ppm na atmosfera em 2100 e a temperatura aumentará 3, 5 graus. Sem esses compromissos, o cenário é pior – o CO2 subirá até às 910 ppm e a temperatura 4, 5 graus. Ainda assim, o horizonte dos dois graus será ultrapassado se não for feito mais. Risco na AntárctidaAlém desta incerteza sobre o futuro, mesmo tendo em conta o limite de dois graus, há impactos que poderão não ter regresso. “Nas regiões polares, muito provavelmente já se passaram pontos de não retorno”, diz Ricardo Trigo. Uma dessas situações é na Antárctida. Alguns trabalhos recentes mostram que as águas marinhas junto à Antárctida Ocidental – com cerca de um décimo do gelo de todo o continente – estão a aquecer e a “comer” a parte de baixo dos glaciares da região. Segundo alguns modelos, a água irá acabar por penetrar debaixo daquela enorme massa de gelo, derretendo-a nos próximos séculos a milénios, e fazendo subir o mar em três metros. Mas há dados mais concretos para outros fenómenos. No melhor dos cenários do último relatório do IPCC, em que é provável que a temperatura não ultrapasse os dois graus em 2100, os glaciares dos continentes vão derreter entre 15 e 55%, e o nível médio do mar subirá entre 26 e 55 centímetros. Esta subida pode pôr em causa a existência de atóis dos oceanos Índico e Pacífico, como as ilhas de Tuvalu, um país no Pacífico. Tiago Capela Lourenço acrescenta que esta subida é especialmente perigosa durante as tempestades, quando “há uma diminuição da pressão atmosférica que faz uma sobreelevação do nível médio do mar”, aumentando ainda mais o alcance das cheias. Um relatório de 2012 do Banco Asiático de Desenvolvimento prevê que em 2050 haverá 37, 2 milhões de pessoas em risco na Índia por causa do aumento do nível médio do mar, 27 milhões no Bangladesh e 22, 3 milhões na China. Em Portugal, o litoral irá mudar. “A linha costeira portuguesa como a conhecemos não será igual em 2100. Talvez as arribas no Sudoeste alentejano se mantenham”, prevê Tiago Capelo Lourenço. As praias do Algarve, da Costa da Caparica ou de Aveiro estão, por isso, em perigo. Outra dúvida é o efeito do aquecimento no permafrost – o solo e subsolo gelados, que existem principalmente no Norte da Rússia e do Canadá. Esta região congelada pode atingir profundidades de centenas de metros. O IPCC estima que, no melhor dos cenários, 37% da área do “permafrost” irá derreter até uma profundidade de 3, 5 metros. Este derretimento torna o solo instável e terá efeitos nas alterações climáticas. Quando este solo descongelar, a matéria orgânica congelada há milénios irá degradar-se, libertando CO2 e metano, e acelerando as alterações climáticas. “O ‘permafrost’ é das coisas que assustam mais os climatologistas”, confessa Ricardo Trigo. “Há uma componente natural que pode disparar e está fora do nosso controlo. ”Resposta ao calorAo mesmo tempo, os ecossistemas do planeta vão estar sob um stress acrescido com o aumento de temperatura e as alterações do padrão de chuva nos continentes, e com o aquecimento e a acidificação nos oceanos – parte do CO2 a mais na atmosfera é absorvido pelos oceanos, tornando-os mais ácidos. “Projecta-se o decréscimo da produção primária em oceano aberto”, lê-se no relatório do IPCC, diminuindo os stocks de pesca em 2100. Em terra, a sobrevivência dos animais dependerá de vários factores. No caso de um aumento de temperatura, “se a espécie viver numa planície, isso exige uma migração de centenas de quilómetros”, explica Henrique Miguel Pereira, especialista em conservação da biodiversidade da Universidade de Halle-Wittenberg, na Alemanha. “Numa zona de serra, pode ser que tenha só de se deslocar um pouco para o lado”, considera o biólogo. Mas há situações sem solução. “As comunidades adaptadas aos topos de montanha não têm para onde ir. ”Os cientistas têm estudado a resposta fisiológica de grupos de animais, como os répteis. Um trabalho publicado em 2010 na revista Science analisou a sobrevivência de 28 espécies de lagartos mexicanos em 200 locais diferentes do México desde 1975. Segundo o trabalho, 12% das populações locais extinguiram-se até 2009. E 39% das populações dos répteis em todo o mundo deverão extinguir-se até 2080. “Os répteis estão especialmente activos no início e no final do dia. Durante metade do dia ficam no abrigo”, explica Henrique Miguel Pereira. Com as alterações climáticas e com o aquecimento global, os répteis têm menos tempo para estarem activos, segundo o artigo da Science. Um estudo mais recente, na revista Ecology Letters, indica, antes, que a mortalidade pode ser explicada por haver menos sombra natural, fornecido pelas plantas. No caso das árvores, o aumento da concentração de CO2 pode ser bom para a fotossíntese, mas a seca e o calor serão factores de stress. “No Alentejo, o aumento de CO2 é provavelmente compensado muito negativamente com a diminuição da água”, diz Henrique Miguel Pereira. Espécies emblemáticas como o sobreiro e a azinheira, e paisagens como o montado, estão em risco no Sul de Portugal e poderão migrar para norte. No entanto, “o processo de expansão é mais lento do que o da degradação”. Pobres com menos escolhasO homem terá também de responder às novas pressões e o mesmo fenómeno pode ter implicações diferentes consoante os países, como o desaparecimento dos glaciares. “A região dos Himalaias é muito susceptível. Há muitas regiões dependentes do abastecimento de água vindo dos glaciares”, diz Tiago Capela Lourenço. Mas nos Alpes, o problema é a “instabilidade das vertentes” que pode afectar as ferrovias. Os impactos também vão depender de factores económicos. “As populações mais desfavorecidas terão sempre mais problemas. Porque para a adaptação às alterações climáticas é necessário ter recursos. Sem recursos não há escolhas. Isso é verdade entre países e dentro de países”, sustenta o investigador. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Um exemplo desta situação é a fome de 2010 no Sudão, causada pela seca. Menos óbvia é a ligação entre as alterações climáticas e a guerra na Síria. Um artigo de 2010 do jornal New York Times – publicado meses antes da Primavera Árabe – dava conta da situação dos agricultores sírios, após quatro anos de seca profunda, com centenas de milhares de pessoas a fugir para as cidades. Um ano depois, um estudo de cientistas da Administração Nacional do Oceano e da Atmosfera (NOAA) dos EUA indicava que o aumento de calor e secas nas últimas décadas no Mediterrâneo já era explicado pelas alterações climáticas. Em 2015, outro artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences fez a triangulação dos factos, defendendo que a duração da seca na Síria era provocada pelas alterações climáticas no Mediterrâneo, e que ajudou a fomentar o descontentamento civil nas cidades contra o regime ditatorial de Bashar al-Assad, com repercussões que continuamos a viver hoje. Nas próximas décadas, as alterações climáticas serão um factor cada vez mais importante a ter em conta. E Ricardo Trigo lembra ainda que vamos continuar a sentir os seus efeitos nos próximos séculos: “Os dois graus é um valor artificial e 2100 é completamente artificial. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos PPM
O chef recolector à procura de si próprio
Leonardo Pereira gosta de andar pelos campos e levar esses passeios para o prato. A culpa não foi só do Noma, onde trabalhou vários anos. Sempre foi assim. Essa é a verdade da sua cozinha, integrando as imperfeições que surgirem pelo caminho. O mundo das estrelas Michelin não lhe interessa nada. (...)

O chef recolector à procura de si próprio
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20180621174349/https://www.publico.pt/1750552
SUMÁRIO: Leonardo Pereira gosta de andar pelos campos e levar esses passeios para o prato. A culpa não foi só do Noma, onde trabalhou vários anos. Sempre foi assim. Essa é a verdade da sua cozinha, integrando as imperfeições que surgirem pelo caminho. O mundo das estrelas Michelin não lhe interessa nada.
TEXTO: Não há como evitar falar do Noma quando se fala de Leonardo Pereira. Esteve no restaurante de René Redzepi de corpo e alma entre o início de 2010 e finais de 2014. Foi um período vibrante também para o Noma, que durante esses anos (e apenas com a excepção de 2013) foi considerado pela revista Restaurant o melhor restaurante do mundo, reconhecido pela sua reinterpretação ousada da cozinha nórdica (incluindo levar formigas para a mesa dos seus clientes). Leonardo Pereira começou a trabalhar num restaurante italiano numa aldeia piscatória onde viveu em criança. Depois seguiu para Aveiro e esteve na Irlanda. Foi aí que deu o salto para uma cozinha mais complexa. Estagiou com Redzepi, depois no El Poblet, de Quique Dacosta, e no Mugaritz, de Andoni Aduriz. Voltou ao Noma porque era lá que se sentia no seu ambiente natural. Chegou a sous-chef. Não admira que quando Leonardo Pereira regressou a Portugal, para trabalhar no restaurante do Hotel Areias do Seixo (em Santa Cruz, onde esteve um ano), tivesse mil olhos postos nele. Trazia de Copenhaga o mesmo impulso recolector, e era vê-lo andar pelas dunas à procura de plantas silvestres que pudesse colocar no prato. Agora, aos 31 anos, está sempre a pôr as facas na mala e a partir para algum lugar, para cozinhar em festivais, congressos, eventos espalhados pelo mundo. Durante o mês de Agosto parou: filmou 44 episódios do novo programa televisivo Chef de Raiz. Enquanto não abre o seu próprio restaurante — “provavelmente no Porto” —, é no canal por cabo 24 Kitchen que o poderemos ver todas as segundas-feiras, às 21h, ensinando-nos a cozinhar de forma saudável e sem grandes complicações. Entre uma coisa e outra, tem a quinta onde cresceu em Santa Maria da Feira e onde agora vive e cultiva mais de 40 tipos diferentes de tomate. Às vezes compra sementes pela Internet, de variedades antigas, capazes de surpreender o palato mais exigente. No seu mundo ideal, seria daqui que sairiam todos os produtos do seu futuro restaurante. Conversámos no Príncipe Real, em Lisboa. A relação com a terra vem da infância?Por acaso é engraçado: eu não tinha uma grande afinidade com a terra, porque era um trabalho duro e por vezes tinha de ajudar os meus pais no campo, e não era algo que gostasse de fazer. Isso em Santa Maria da Feira?Sim, nos arredores. Eu odiava ter terra nas mãos. Também não gostava de ter areia nas mãos. E até gostava mais de estar na cozinha. Com que idade começou a cozinhar?Acho que comecei a cozinhar para mim relativamente jovem, 11, 12 anos. O que fazia? Omeletes?Sim, ovos e arroz, esse tipo de coisas. Comecei desde muito cedo a fazer grelhados no carvão, peixe. Houve uma altura da minha infância que vivi numa vila piscatória perto de Ovar, no Furadouro. Fiz lá a minha terceira e quarta classe. Naquela altura ainda havia a grande tradição de ir ao mar, aqueles barcos antigos empurrados por bois. A minha infância foi entre o campo e o mar, o que também foi giro, porque, apesar de Portugal ser um país pequeno, normalmente estás muito circunscrito àquilo que se passa à tua volta e deixas que sejam essas coisas, essas pessoas, a realidade dos cinco quilómetros à tua volta, que te definam enquanto pessoa. Ter passado por estas experiências enquanto criança abriu-me os horizontes. Adorei porque ia para a escola com os filhos dos pescadores, ia jantar a casa deles, brincávamos nas dunas, comíamos camarinhas [uma baga branca], íamos à procura de cogumelos na mata. Quando os barcos vinham da pesc, a estávamos todos ali à espera de que desembarcassem, que trouxessem a rede cheia de peixe. Brincávamos com anémonas e alforrecas. Fazíamos muitos grelhados. Peixe grelhado no carvão ainda é das minhas coisas preferidas, pela simplicidade e porque é um verdadeiro luxo. Essas lembranças, de sentir os aromas quando se está a caminhar e estão pessoas a grelhar no meio da rua, ou a assar castanhas, ficaram muito vincadas. E no fundo são estimulantes. Quando é que a cozinha se tornou uma evidência?A comida sempre foi importante na minha vida. A cozinha nunca foi uma coisa linear como “Agora quero ser cozinheiro”. Foi uma obra do acaso. Primeiro escolhi a área errada no liceu: desporto. Na altura gostava muito de natação e andava obcecado com a ideia, queria ser nadador olímpico, o que não aconteceu. Acabei por desistir passado um ano. Não tinha muitas opções e acabei por encontrar um folheto sobre a Escola de Hotelaria de Santa Maria da Feira. Ia começar o curso em três semanas e estava na data-limite. Acabei por ser aceite. Era em cozinha que pensava?Sim e não só. A minha família tem ligação a hotéis, mas noutras áreas: dos quartos, conciérge, essas coisas. Na cozinha não havia ninguém, mas a comida sempre foi uma coisa transversal à minha infância e à minha adolescência. Quais são os pratos que lhe lembram a infância?O meu prato favorito desde sempre é o arroz de cabidela. Obviamente, tínhamos os nossos próprios animais em casa, matávamos os animais e fazíamos o arroz. Chanfana de cabrito, também típica daquela zona, era uma coisa de que eu gostava muito, ainda gosto. Naturalmente que era uma dieta muito focada na carne. No Norte do país encontra-se muito esse foco na carne. Havia a ideia de que o peixe não puxa carroça. Isto apesar de estarmos a 20 ou 30 quilómetros da costa. Também passei uma fase da minha vida em Paris, imediatamente antes de ir para o Furadouro, com uns cinco, seis anos. Regressei várias vezes porque tinha a família lá a trabalhar. Para um miúdo que primeiro estava numa vilazeca no meio do nada em Portugal, com aquela idade, ir para uma cidade enorme como Paris, dinâmica e vibrante. . . Adorei, claro. E a comida foi sempre o meu ponto de equilíbrio e a minha forma de ficar a conhecer a cidade. Andava pelas ruas e sentia cheiros e aromas. “O que é que eles estão a comer, o que estão a cozinhar?” Isso despertava-me interesse, mas não era uma coisa premeditada, de eu a tentar encontrar algo que me fascinasse. Não. Era puro fascínio que tomava conta de mim. Já agora, nesse tempo, o meu livro de rabiscos era o Cozinha Tradicional Portuguesa, da Maria de Lurdes Modesto. Desenhava, rabiscava, mas também gostava de o ler, de “molhar o apetite” e imaginar que estava a comer uma daquelas coisas. Como estava na quinta e talvez fosse um pouco monótono, pegar no livro era uma forma de me entreter. O que quer passar com a sua cozinha?Há várias vertentes. Não me cinjo particularmente a uma única forma de cozinhar. Acho que situações diferentes provocam formas diferentes de cozinhar e de sentir o que está à nossa volta. Tenho 16 anos de trabalho em cozinhas, mas só há dois anos é que comecei a explorar a minha própria identidade. Ainda estou a cavalgar essa onda, que primeiro me deixou curioso e quase em êxtase, para encontrar a minha própria forma de cozinhar. O que me leva a ser um pouco egoísta. Egoísta como?Porque cozinho aquilo que quero e que gosto de comer. Não é o que ambicionam todos os chefs?Sim, podes seguir esse caminho até ao resto da tua vida, mas não tens de te limitar apenas a isso. E o que quer e gosta de comer?Cada local ou cada situação provoca sentimentos diferentes e vontades diferentes. Se eu estiver em Portugal, a minha vontade maior é comer peixe grelhado ou arroz de cabidela, mas se estiver na minha quinta nem sequer é nada disso: é ir apanhar um tomate, cortá-lo e comer sobre o pão. Essa passa a ser a minha forma de comer favorita. Podes ser multifacetado na forma de te aproximar da comida. Eu tendo a transpor isso para a minha forma de cozinhar profissionalmente. Apesar de neste momento me focar essencialmente naquilo que gosto de fazer e explorar isso até ao máximo, sinto já uma certa vontade para sair desse registo egocêntrico. É óptimo porque estás a explorar várias vertentes da tua forma de cozinhar e podes até explorar o território português — e sinto que ainda posso fazer muito mais nesse aspecto —, mas também há outras vertentes: cultural, talvez tradicional, que certamente virá numa fase mais adiantada da minha vida. E não será para tirar completamente o tradicional do contexto, do rústico de onde ele veio, e metê-lo num sítio todo bonito e branquinho e moderno, porque acho que isso é completamente descabido. Terá de ser uma coisa ponderada e muito bem feita. E como se faz isso?Não sei. Quando chegar o tempo, logo veremos. Se pudesse, tinha um restaurante como. . . Num livro do José Quitério, ele descrevia restaurantes na zona de Colares [Sintra] que durante os anos 60 tinham aqueles balcões antigos, móveis lindísimos de madeira, enormes, mas o chão não existia, era palha, ou bocados de madeira. Se eu pudesse ter um restaurante assim, ficava contentíssimo da vida. Repare: não cresci a comer numa hamburgueria moderna, ou em restaurantes Michelin, ou em hotéis. Cresci a comer em restaurantes em que se via o piso de baixo através das frinchas de madeira do chão, e onde havia um sentimento de família e de pertencer a um determinado local muito forte — o que tem que ver com o facto de serem vilas pequenas, locais onde toda a gente se conhece. Essa é uma coisa que não se pode apagar da memória, e quer se queira quer não, acaba por nos moldar. Também já trabalhei vários anos em restaurantes hipermodernos onde se vai buscar a tradição clássica. O que significa para si esse restaurante de chão de palha?Primeiro, é extremamente reconfortante, apesar de eu saber que é muito difícil reproduzir um cenário desses, pelo menos de uma forma legal. É nostálgico. Se calhar seria [um artifício]: é giro, mas fica-se por aí. O que estou a tentar dizer é que independentemente do país onde vives é importante encontrar uma autenticidade que não depende só de modas ou daquilo que achas que é bonito. É importante encontrares algo que vá mais além, mesmo que seja incompreendido, mesmo que as pessoas não recebam de uma forma favorável. Depois de encontrares isso, se não tiveres sucesso, então tens de reconsiderar, mas pelo menos já deste um passo na direcção certa. Lá está: a profissão de cozinheiro, apesar de estar muito em voga, está sempre a ser escrutinada. Toda a gente tem uma opinião sobre aquilo que gosta de comer. No meio disto tudo tens de conseguir fascinar ou, no outro lado do espectro, de trazer a sensação de que as pessoas estão a comer em casa da avó. O que prefere: fascinar ou a sensação de que se está em casa da avó?Sem dúvida fascinar. E o que é mais difícil?A avó, porque a avó cozinha melhor do que eu. Cozinha a mesma coisa há 40 anos, como é que eu sou capaz de algum dia conseguir ultrapassar isso? É muito difícil. Há coisas que para mim são quase. . . sagradas (uso o termo de uma forma um bocado leviana), mas que são elementos a que toda a gente tem uma ligação muito forte, pelo menos em Portugal. Para mim, usar esses elementos, sobretudo no que tenho feito até agora, que é uma coisa mais disruptiva, mais fora da caixa. . . Fico sempre. . . Como é que posso fazer melhor do que um bacalhau à Gomes de Sá ou um bacalhau à Brás? Aquela tendência que há desde há uns anos, “vou pegar nisto e vou desconstruir”, esquece. Para mim, é o primeiro passo para falhar. O que se deve fazer com o bacalhau?Bacalhau à Gomes de Sá. Contentíssimo da vida. Isto para mim é ainda um obstáculo que não consegui ultrapassar. Já fiz esforços internos e usei muitas pessoas como cobaias, mas não consigo dizer “descodifiquei o bacalhau, consigo fazer melhor do que a tradição”. Não, ainda não consegui fazer isso e não sei se é possível. Cozinhar tem de ser uma coisa bastante orgânica. Não justifica fazer o melhor bacalhau do mundo se por detrás disso tiveres 40 pessoas a trabalhar exclusivamente para aquele prato, ou estiveres a trabalhar na cozinha durante 20 e tal horas por dia, ou usares processos e geringonças. Será que vale a pena? Vale para um determinado carácter, a mim não me fascina. Se não puder fazer isso com os elementos da cozinha, qual é o sentido? Estou a fazer comida que é impossível? Comida que gasta mais em termos de recursos, energia, disponibilidade humana, do que consegue trazer para a mesa em termos de felicidade, de satisfação, de número de pessoas que se consegue atingir? São coisas com que me debato. De certa forma, tenho vindo a afastar-me lentamente daquilo que é o fine dining, a alta-cozinha. Há facetas da alta-cozinha que para mim são intoleráveis. Há um excesso de recursos?Sem dúvida. Portugal é um país com boa qualidade de produtos?Sim. Mas se me dissesses: “Agora só vais cozinhar com aquilo que fores capaz de encontrar no mercado, só produzido em Portugal”, não, não consegues. Consegues, mas não me chega. Se pensarmos no clima: mais de 90% dos dias do ano com temperaturas superiores a 15 graus, para um agricultor, é uma maravilha. E eu tenho uma quinta e fazemos as nossas provas em relação a isso. A quantidade de coisas que consegues cultivar num clima como este é incrível. Temos pouca variedade?Temos. Fomos o povo que levou os piripíris da América do Sul para a Ásia e que de regresso trouxe não sei quantas plantas para África e América do Sul. Se somos responsáveis por esta dinâmica, por esta troca de alimentos entre continentes tão distantes uns dos outros, porque é que não fomos capazes de recriar isso no nosso próprio país? As condições existem. Não devemos ser puristas e pensar “isto não é autóctone”?Para mim, não. Não, não. Comes feijoada? Isso é uma coisa portuguesa, tradicional, não é? Mas o feijão não é português, foi trazido para Portugal da América do Sul e nem sequer foram os portugueses a trazê-lo. Os holandeses tiveram muita responsabilidade nisso, e os espanhóis. O bacalhau, voltamos a ele: se há algum sítio no mundo onde é considerado realmente tradicional em todo o seu direito é em Portugal. E veio da Islândia e da Noruega, foram os bascos e os franceses a irem primeiro buscá-lo para alimentar os pobres, porque era uma coisa de longa conservação. Os portugueses acabaram por seguir o caminho. Ser purista — vou só cozinhar com as coisas que tenho à minha volta e fechar-me ao resto do mundo — não. É o mesmo que negar a minha nacionalidade. Ainda vai à procura de bagas, cogumelos?Gosto de fazer isso como passatempo. Tanto isso como estar no campo a cultivar. Funciona quase como terapia. A vida de um cozinheiro é extremamente stressante, e a maior parte do tempo está-se confinado a um pequeno cubículo, como se fosse uma panela de pressão. Depois cada um encontra o seu próprio equilíbrio. Que coisas gosta de apanhar?Depende de onde estou. No ano passado estava na costa, em Santa Cruz [no Hotel Areias do Seixo], e gostava de apanhar ervas costeiras. Existem muitas ervas costeiras comestíveis e deliciosas. Isso foi uma descoberta. Se estiver em Santa Maria da Feira: nas imediações do castelo posso apanhar cogumelos, flor de sabugueiro, violetas, muitas outras coisas. Uma vez estava à procura de uma coisa e fui à serra de Montesinho. Quando olhei para o chão, encontrei uma espécie de tomilho: “Olha que giro!” Era um tomilho mais fino, a folha era mais delgada, mais linhosa, e tinha um cheiro pungente, balsâmico, canforado. Nunca tinha encontrado um tomilho com aquele aroma. Fartei-me de pesquisar, nada, nada. Encontrei finalmente um documento numa universidade do México que falava de tomilho-canforado. Como é que é possível? Aparentemente, é uma coisa extremamente rara no mundo, e estava lá. Há uma erva que cresce em todo o lado cá, que já encontrei em São Tomé e Príncipe, onde lhe chamam mastruço, e é das ervas mais importantes da culinária mexicana. Chama-se epazote. Aqui, às vezes, caminhamos por cima dela. Tem um cheiro intenso, quase químico, mas ao mesmo tempo interessante e versátil. É uma erva selvagem mesmo no México. Podemos aprender como outras culturas exploraram os alimentos à sua volta, e como podemos incorporar essas coisas à nossa forma. Uso essa diversidade do território como uma base para trabalhar. Ali em Monsanto encontramos uma coisa que se chama salsaparrilha, que veio das Caraíbas há centenas de anos. É uma trepadeira, não é tão infestante quanto isso porque não está muito disseminada, mas tem um sabor a espargos. Está ali, a envolver os pinheiros, e ninguém quer saber. Cozinha-se muito levemente, a vapor, e passa-se no azeite. Tens abrunhos selvagens, com um sabor a amêndoa amarga incrível. Usámos as folhas cruas, em vinagre; as bagas, que frescas são extremamente adstringentes, secam a boca, mas se as deixarmos no próprio ramo a secar, quando começarem a cair as primeiras geadas perdem a adstringência e ficam extremamente doces, parece que se está a comer uma compota. E nem sequer tens de procurar muito, aquilo está em todo o lado. Podemos lá ir ver?Podemos. Interrompemos aqui a conversa para dar um salto ao parque de Monsanto. Afinal, fica só a dez minutos do centro da cidade. Assim que damos os primeiros passos, encontramos salsa-de-cavalo. “É uma planta que era muito consumida até ao século XIX, e foi suplantada pelo aipo. Tem um sabor ligeiramente diferente. É parecido com a angélica (que há muito no Norte da Europa). Chama-se salsa-de-cavalo porque os cavalos adoram comê-la. Encontra-se em todo o lado em Portugal. ” Precisa de frio e humidade para perder o amargo, diz Leonardo Pereira. Também já calhou encontrar por aqui camomila, salsaparrilha, borragem na Primavera. Segue com passos firmes, de quem sabe exactamente por onde seguir. “Vou mapeando as coisas na cabeça. ”Encontramos funcho silvestre — “É muito anisado, usamos em conserva, em vinagres, óleos aromatizados. ”Encontramos abrunheiros sem folhas nem bagas. “Estamos naquela fase intermédia entre o que aconteceu e o que vai acontecer. ” Continuamos a contornar árvores, a descer ladeiras, com azedas no caminho — “Comecei logo a usá-las quando vim para Portugal. ” Nem todos na cozinha partilhavam a sua memória de infância de ir chupar o caule das azedas a caminho da escola. Encontramos Aloe vera. Leonardo Pereira parte uma ponta. “Gosto muito desta parte gelatinosa, aromatizada. Larga muita goma. No ano passado fiz uma sobremesa com Aloe vera, bergamota [um citrino asiático] e erva-príncipe. Uma coisa que também encontramos muito é o chorão, que é invasivo. Na Austrália usam-no para cozinhar; também usámos. Ao longo da época, a polpa da flor vai tendo uma variedade enorme de sabores. ”Os portugueses não têm o hábito de olhar para a natureza como uma possível despensa, porque, “em Portugal, há sempre alguma coisa que nos é oferecida. No Norte da Europa são mais obrigados a transformar para ter o que comer no Inverno”. Nos seus passeios recolectores já calhou comer coisas tóxicas. “Fica-se um bocadinho doente. ” Há sinais: o sabor amargo normalmente diz-nos para ficar longe. “O amargo é a defesa da planta. ”Perguntamos-lhe se já tinha o hábito de fazer estas deambulações antes de ir trabalhar para o Noma. “Escolhi ir para o Noma pelo que representava, sabia que podia aprender mais sobre o que gostava de fazer. Na altura, nem sequer era o melhor restaurante do mundo. ”Voltamos a entrar no carro. Irrita-o que lhe perguntem sempre pelo Noma?Não me irrita. O Noma é fenomenal, antes de mais. Sem dúvida foi uma etapa muito importante na minha carreira, não só pelo tempo que passei lá mas pela aprendizagem. O que aprendeu?Mais do que a cozinhar, foi a pensar. Entender o que me define. Porque essa era a pergunta que fazíamos a nós próprios: o que nos define enquanto restaurante? Do que estamos à procura? Onde queremos ir a seguir? Era tudo muito abstracto, nada linear. Depois estamos a falar num restaurante que tinha um staff de 80 e tal pessoas, todos os dias servíamos 120, 130 pessoas, havia ali uma grande operação na gestão de recursos humanos, de stocks, essas coisas inerentes ao trabalho de um cozinheiro. Aí também foi uma aprendizagem enorme. Quando falamos de identidade, falamos de quê?Tem que ver também com aquilo que te preocupa. Não gosto de usar a palavra filosofia, mas é por aí. Por exemplo, esta busca de diversidade do país, do clima, de que tenho andado a falar, fazem parte do que considero a minha identidade gastronómica. Aquele tomilho-canforado faz parte da minha identidade gastronómica. O gosto, naturalmente, que é importante; é uma peça fulcral, mas não é a única que define um cozinheiro. Podes limitar-te ao gosto e desenvolver pratos que se cingem a isso: sabe bem, as pessoas vão adorar e funciona. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas desde que saí do Noma fiz algo que considero importante: não olhei para trás. Não queria ser mais um a copiar. Para isso tinha ficado em Copenhaga a trabalhar e tinha-me socorrido da ajuda do Noma. Fazíamos isso muitas vezes: se alguém que conhecíamos abria um restaurante, ajudávamos. Não era o que eu queria fazer. Precisava de limões, precisava de azeite. E precisava de descobrir algo novo. Foi isso que me trouxe de volta a Portugal. Temos de conseguir perpetuar esse sentimento de êxtase, de descoberta, pelo menos numa fase inicial da carreira: queres velejar e explorar o mundo que tens dentro de ti ou o mundo que tens à tua volta. Só fazia sentido tentar ser cozinheiro em nome próprio se conseguisse distanciar-me na totalidade (ainda não consegui) daquilo que tinha feito. Era preciso cortar o cordão umbilical?Sim, tive de o cortar. Os dois primeiros meses no Hotel Areias do Seixo foram uma batalha. Eu fazia coisas e sentia que havia ali o René [Redzepi, chef do Noma] a sussurrar-me ao ouvido. Ficava zangado comigo próprio. Não sentia que aquilo era eu, que reflectisse aquilo que sou ou o sítio onde estava. Só dois ou três meses depois é que comecei a fazer pratos que não tinham ponto de referência, apesar de muita gente os identificar como nórdicos — para mim, não tinham nada de nórdico. Obviamente que há formas de cozinhar, elementos, técnicas que se emprestam daqui e de acolá. Muito raramente consegues fazer uma coisa completamente nova. Mesmo que penses que é nova, há outra pessoa noutro lado que já a faz. Isso aconteceu-me várias vezes. Eu pensava: “Fiz uma coisa que nunca ninguém fez”, e passados três meses via alguém a pôr uma coisa no Instagram que era quase o mesmo [@leodspereira] . Há um prato que fiz no ano passado: limão grelhado com gelado de trigo-sarraceno e mel queimado. Estava a tentar fazer uma limonada, ou uma base, com limão e esqueci-me do limão no grelhador e ele ficou completamente queimado por fora. Seco. Quando o abrimos, tinha uma polpa totalmente caramelizada, ligeiramente fumada, com toques doces, amargos. “Uau, isto é bom!” Passados seis meses vejo uma tangerina, e não era trigo-sarraceno, era outra coisa qualquer, exactamente como eu tinha feito, com um prato com carvão, etc. Mas não obstante isso, é importante sentires algum orgulho no que conseguiste fazer, e fazer algo que as pessoas consigam apreciar: isso também é importante. É um jogo entre o desafiarmo-nos e conseguirmos dar às pessoas algo que elas consigam identificar.
REFERÊNCIAS:
Maya Gabeira, ligada a Portugal pelo mar da Nazaré
Depois de quase perder a vida em águas portugueses e de ser a mulher que surfou a maior onda de sempre, na Praia do Norte, a brasileira faz de Portugal a sua casa e alerta para o perigo da Nazaré perder a sua alma. (...)

Maya Gabeira, ligada a Portugal pelo mar da Nazaré
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois de quase perder a vida em águas portugueses e de ser a mulher que surfou a maior onda de sempre, na Praia do Norte, a brasileira faz de Portugal a sua casa e alerta para o perigo da Nazaré perder a sua alma.
TEXTO: A maior parte dos surfistas de ondas gigantes esteve nos últimos dias no Havai, para a Triple Crown (um conjunto de três provas disputadas entre o fim de Novembro e o início de Dezembro), mas Maya Gabeira permanece na Nazaré durante o Inverno, quando pode aproveitar a companhia do mar, indiferente à água gelada. “Todo o surfista prefere surfar sem muitas pessoas ao lado. E eu sempre gostei de um estilo de vida mais pacato. A Nazaré se encaixa bem com o meu espírito”, revela. A brasileira prefere este cenário bucólico ao enxame de turistas e mostra preocupação com o destino da população residente da vila piscatória portuguesa, que pode ter o seu futuro ameaçado pelo aumento do preço das rendas no centro da localidade. Após uma volta de carro pela vila com a surfista, foi possível contar mais de uma dezena de anúncios de venda afixados nas janelas das habitações. “Eu espero que nunca percam [a sua vila], porque tem charme e muita cultura. A pesca é muito forte aqui e eu quero que os nazarenos sempre ocupem este espaço central na cidade e no seu estilo de vida”, confessa Maya. Aos 31 anos, a brasileira teve reconhecido pelo Guinness, em Outubro, o recorde de maior onda já surfada por uma mulher, de 20, 72 metros, em Janeiro, na Praia do Norte. Em 2013, ela sofreu um acidente grave quando tentava surfar uma onda gigante na Nazaré. Maya ficou inconsciente, fracturou o perónio, foi resgatada por uma equipa de apoio e transportada ao Hospital de Santo André, em Leiria. Os dois factos ligam para sempre a brasileira com a Nazaré. “Eu morei no Havai e em Los Angeles muitos anos, mas agora Portugal é a minha casa”, afirmou a surfista. Ela não gosta de confusão na “sua casa”. Depois de recolher um pedaço de papel do chão do Forte São Miguel Arcanjo e guardá-lo no bolso das calças de ganga até encontrar um recipiente de lixo, Maya caminha tranquilamente pelo monumento. Seria impossível para ela andar por ali na época alta sem ser abordada a todo o momento para selfies e autógrafos. A surfista conversa com todas as funcionárias do local, onde uma de suas pranchas está exposta na “Surfer Wall”, a galeria com os equipamentos, fotos e histórias de ícones do surf de ondas gigantes. O forte é o termómetro do aumento do turismo na Nazaré, que tem cerca de 15 mil habitantes. Este ano, o monumento bateu em Setembro o recorde de visitantes, com mais de 174 mil entradas. Apenas nos seis primeiros meses de 2018, foram 30 mil visitantes a mais do que no período homólogo. “Era uma cidade mais vazia e o turismo fica aquecido quase o ano todo por causa do surf. Mas não traz prejuízo à cidade. Não é algo, ainda, que atrapalhe meu estilo de vida no Inverno, ainda consigo estacionar meu carro em todo canto”, confessa a surfista. No Verão há mais turismo e Maya prefere passar a estação na Ericeira, onde comprou uma casa e vive com a cadela Naza. Quando está na Nazaré, arrenda um apartamento. Filha do jornalista e ex-deputado federal brasileiro Fernando Gabeira, Maya, a surfista confessa que o seu pai não partilha o mesmo amor pelo mar. “Ele visitou a Nazaré, deu uma olhada e disse: ‘Sim, muito bonito. E agora, vamos fazer o quê?’”, brincou Maya. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ao caminhar na Praia do Norte ainda vestida com um fato vermelho de surf, um grupo de turistas asiáticos aparece surpreendentemente na areia vazia. Maya é simpática, sorri e diz ao grupo umas palavras em inglês, o mesmo idioma utilizado para cumprimentar um surfista estrangeiro que saía da água. “This morning was fun”, disse, para comentar a manhã de surf clássico. Maya surfa na Nazaré desde 2013 e irá, enfim, viver o Inverno inteiro na cidade pela primeira vez. Após a homologação do recorde pelo Guinness, a sua rotina de compromissos na cidade tem sido intensa. Antes, de Janeiro a Setembro, enfrentou um desafio quase tão grande quanto a onda de mais de 22 metros, ao passar meses tentando convencer o Guinness. “Surfar a onda foi muito mais difícil, porque foram anos de treino e obstáculos. Mas garantir que ela fosse homologada foi uma grande burocracia”, contou Maya, pentacampeã do Big Wave Awards. Para os próximos anos, Maya, que começou a surfar com 14 anos, evita fazer um planeamento detalhado. Quer apenas seguir em cima da prancha tentando aumentar a fasquia do recorde. Mas já sabe o que irá fazer quando chegar a hora da reforma. “Eu nunca sei muito do futuro, espero surfar por alguns anos em alta performance, em ondas gigantes. Mas depois quero muito velejar, conhecer o mundo desta forma, trabalhar com isso”, resume.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha cultura mulher
Gelado, azeite e biscoitos de algas
Já estão em teste os primeiros produtos alimentares com a microalga Clorella. (...)

Gelado, azeite e biscoitos de algas
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: Já estão em teste os primeiros produtos alimentares com a microalga Clorella.
TEXTO: A geladaria Santini entusiasmou-se com a ideia de usar microalgas e criou um gelado de Chlorella, naquela que foi a primeira parceria para o desenvolvimento de produtos da Allmicroalgae a concretizar-se. No mercado, os produtos da empresa ligada à Secil aparecem com a marca Allma. E, para além do gelado, estão já a ser testados, “em fase de protótipo mas com grande potencial de comercialização”, azeite com Chlorella, com o Oliveira da Serra, da Sovena; bubble tea com a Frulact; e queijo fresco com a Queijaria Simões. “No caso do azeite, as algas dão um ténue aroma a mar que fica muito bem com saladas ou com peixe”, garante Sofia Hoffmann de Mendonça, responsável pelo desenvolvimento de negócio da empresa. Foram também testados uns crocantes de Chlorella que estão neste momento a ser “redesenhados”. Também o chef Vítor Sobral, da Tasca da Esquina, tem colaborado com a Allmicroalgae e começou a experimentar a Chlorella em vários pratos – alguns dos quais foram apresentados no final da cerimónia de inauguração da Unidade de Produção de Microalgas de Pataias, na terça-feira. Das duas espécies que a empresa utiliza, a mais indicada para consumo humano é a Chlorella vulgaris, que é, aliás, “o organismo vivo com maior concentração de clorofila”. É uma microalga com “mais de 50 % de proteína completa, o que significa que tem todos os aminoácidos essenciais e pode substituir a proteína de origem animal, o que a torna muito interessante para vegetarianos”, explica a responsável. Por enquanto, foi desenvolvida a Chlorella em pó (que já está a ser exportada), em comprimidos e em cápsulas (para ser tomada como suplemento alimentar) e ainda em extracto aquoso e oleoso. A outra espécie, a Nannochloropsis oceanica, “tem ómega-3, que o nosso organismo não sintetiza”. Mas, “por não ter ainda histórico de consumo humano significativo”, está a ser utilizada para rações para peixes de aquacultura, outra das áreas de negócio que a Allmicroalgae está a desenvolver. É um produto que já está a ser exportado para vários países europeus, sendo a Alemanha e a França os maiores mercados e também os mais exigentes. “Valorizam muito a qualidade e a frescura e preferem a produção europeia relativamente aos produtos asiáticos, que representam 90% do que encontramos na Europa nesta área”, refere Sofia Mendonça. A Allmicroalgae vê na alimentação de peixes um mercado com enorme potencial de crescimento porque, dizem os responsáveis da empresa, a tendência é para o aumento da utilização de ingredientes vegetais na aquacultura – e esta irá, inevitavelmente, crescer à medida que os stocks de peixe no mar se vão reduzindo. Quando as grandes indústrias poluidoras começaram a estudar alternativas para a fixação de CO2 e se interessaram pelas microalgas, a ideia era virem a produzir biocombustíveis a partir daquelas, explica Sofia Mendonça. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas há um obstáculo. “Para a produção de bio-óleos de microalgas, destinados a fazer biocombustíveis, é preciso ter volumes muito grandes, na ordem dos milhares de toneladas. ” Houve então, no caso da Secil, uma adaptação de estratégia. “Percebemos que, no início de uma actividade como esta, temos que trabalhar com volumes de produção mais pequenos e vamos ganhando escala até podermos chegar aos biocombustíveis. ”A investigação em laboratório tem também grande importância porque permitirá identificar as espécies de algas mais adequadas – para bio-óleos o ideal será usar microalgas mais ricas em lípidos. Para além dos biocombustíveis, há outras áreas interessantes como os bioplásticos e os bioquímicos. No final da apresentação que fez na inauguração da Unidade de Produção de Microalgas de Pataias, Sofia Mendonça usou um slide para mostrar o que, de acordo com a visão da empresa, pode ser o futuro. Na imagem vê-se uma casa, com um carro estacionado à porta, em que uma série de produtos – dos pneus do carro ao tapete, passando pelo champô, a manteiga e óleo de cozinha, a gasolina, a pintura das paredes ou o detergente – têm um componente comum: as microalgas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave concentração consumo espécie animal
Vincent essencial
Três anos depois de ter saído da Fortaleza do Guincho, e após uma passagem por Barbados, o chef francês Vincent Farges está de volta a Lisboa com um restaurante concentrado “no essencial” e onde promete uma “elevação sensorial” que passa por todos os sentidos. (...)

Vincent essencial
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Três anos depois de ter saído da Fortaleza do Guincho, e após uma passagem por Barbados, o chef francês Vincent Farges está de volta a Lisboa com um restaurante concentrado “no essencial” e onde promete uma “elevação sensorial” que passa por todos os sentidos.
TEXTO: Epur, o novo restaurante do chef Vincent Farges explicado em cinco palavras — um esforço de depuração que tem tudo a ver com a filosofia do espaço, no Chiado, em Lisboa. Quando, em 2015, Vincent Farges deixou a Fortaleza do Guincho para ir para Barbados, houve uma espécie de despedida no então showroom da marca de cozinhas Bulthaup, no Chiado, Lisboa. Aí, mesmo com as malas feitas para partir, o chef francês aproveitou todas as oportunidades para falar no seu regresso, dali a uns dois anos, para abrir um restaurante em Lisboa. Agora, no mesmo espaço — totalmente transformado para receber o seu restaurante, que abre por estes dias (ainda em soft opening) — revela que no momento em que saiu do Guincho, o seu actual sócio, Pedro Mendonça, representante da Bulthaup em Portugal, já o tinha desafiado. “Quando fiz aqui o lançamento do showroom disse-lhe que era um desperdício ter um espaço destes e não fazer um restaurante. ” Pedro ouviu o conselho e tomou a decisão — o local, no Largo da Academia Nacional de Belas Artes, seria um restaurante. “Fui para Barbados já sabendo que ia voltar”, confidencia Vincent. Foi, contudo, preciso algum tempo para transferir a Bulthaup para as Amoreiras e, sobretudo, para fazer as obras de adaptação do espaço, que começaram há cerca de um ano. Desde então, Vincent tem estado a formar a equipa, “a pensar, a estudar”. E a ambição para este projecto foi crescendo. “Inicialmente era mais simples, mas depois decidimos queimar etapas, investir um pouco mais. ”O objectivo, diz, é “abrir um restaurante diferente de todos os outros”. Não quer competir com ninguém, garante. Mas não esconde que o projecto é “ambicioso e arriscado”. Foi o espaço que alimentou a ambição. “Não estava a ver fazer aqui uma coisa simples, um bistro”, afirma. “A vista pedia um grande restaurante, de fine dining, o local é perfeito para passar um momento espectacular, e não apenas do ponto de vista da gastronomia. ”A vista é (juntamente com a do vizinho Tágide) extraordinária. A entrada do restaurante faz-se pelo piso térreo, no Largo das Belas Artes, mas quando, depois de passarmos a cozinha, que conseguimos entrever, chegamos à sala de refeições, estamos ao nível de um sexto andar, olhando o rio e toda a cidade numa sala inundada de luz. A parte inferior das paredes está coberta de painéis de azulejos, alguns dos quais dos finais do século XVII, o mobiliário é de madeiras claras e linhas simples, num estilo nórdico e, propositadamente, há pouco a distrair-nos da cidade que, seja de dia ou de noite, entra pela sala. Num edifício pós-terramoto, com o sistema de gaiola nas paredes, foi preciso ter alguns cuidados, por isso a zona de refeições está dividida em três salas, uma delas interior. Mas nessa vai haver um ecrã onde serão projectadas imagens da vista da cidade, captadas por uma câmara colocada no exterior da janela — e também, em alternativa, imagens do que se passa na cozinha. É um segredo bem guardado, que só agora se revela. Vincent conta que começaram com uma página em branco, escrevendo palavras que lhes iam ocorrendo. Foram riscando o que não servia, até que chegaram ao nome: Epur. Vem da famosa frase atribuída a Galileu Galilei – Eppur si muove, traduzida como “e, no entanto, ela move-se”, que o físico e astrónomo italiano do século XVII teria dito após a sua condenação pela Inquisição, reiterando a certeza de que a Terra girava em volta do Sol. Acontece que “épurer”, em francês, a língua mãe de Vincent, significa depurar — e é precisamente isso que o chef pretende fazer. “Acabou a hotelaria, as luvas brancas, os grandes serviços de prata”, diz. “Aqui tudo o que é superficial num serviço e numa cozinha desaparece. Vamos ao que é essencial. Não há nada que esteja no prato só para ser bonito. E o mesmo acontece no serviço. ”A linha de cozinha que aperfeiçoou ao longo dos dez anos que esteve na Fortaleza do Guincho não se alterou, mas apurou-se, centrou-se no que é realmente importante. E, por outro lado, conquistou uma maior liberdade. “Não sou um cozinheiro de moda, nunca fui. No prato só vai o essencial, não são precisos milhares de sabores e extravagâncias. Isso já não faz sentido. Os clientes voltam a querer cozinha e, em Portugal, em França e no mundo inteiro, a cozinha a sério está a voltar em grande. ”A Ivity, agência responsável por desenhar o conceito do Epur, chegou a uma fórmula para resumir o que aqui vai acontecer: a depuração multiplicada pela elevação resulta numa gravitação degustativa ao quadrado. Vincent explica: “Queremos elevar todos os sentidos do cliente, desde o momento da entrada. Temos a vista, temos um isolamento acústico espectacular, com 16 colunas de som para as três salas. O toque, com a madeira das mesas, que não vão ter toalhas (a toalha é para a hotelaria). As pessoas vão receber os guardanapos que foram feitos especialmente para nós pela Abyss Habidecor, com algodão do Egipto. São espectaculares. Depois, com a comida, vem o olfacto e o gosto. É uma elevação sensorial. ”O primeiro menu que os clientes recebem também vem reduzido ao essencial: uma folha com nove pratos divididos em conjuntos de três (destes, podem escolher-se quatro, seis ou oito pratos, por, respectivamente, 90, 125 e 160€, podendo juntar-se a harmonização com vinho por mais 40, 60 ou 80€). As primeiras três palavras “definem três domínios”: água, horta, terra. A água “pode ser do mar ou da ria, com peixes ou bivalves”, a horta são “legumes da época sublimados” e a terra traz “o melhor das nossas serras”. Seguem-se os pratos principais, divididos por mar, campo e recordações, que partem das memórias dos membros da equipa, “o que a avó fazia, coisas específicas de alturas festivas, outras que gostamos de comer do tacho e que vou reproduzir em pratos fine dining, que podem ser a chanfana ou a moreia, por exemplo”. Também as sobremesas seguem a mesma lógica: chocolate, pomar e vintage, sendo esta inspirada por “o que fez a lenda na pastelaria”. Na altura do Natal pode ser uma selecção de sobremesas natalícias portuguesas “servidas de maneira a não lhes quebrar a alma”. Ou seja: “Não quero decompor o mil-folhas, quero manter o espírito de quem criou essa sobremesa. Por outro lado, posso ter sopas de cavalo cansado, que são pão e vinho e açúcar, mas em que mudo o pão para um brioche, mas mantenho a ideia original que é pôr o pão no vinho. ”Grande parte do trabalho de Vincent no último ano foi de pesquisa, percorrendo o país para encontrar produtos únicos e de qualidade excepcional. Por isso, o menu não revela logo tudo. É só depois de o cliente escolher a combinação de pratos que vai receber outro menu impresso com o que vai comer e que, sublinha o chef, pode sempre ser adaptado aos gostos, às alergias, às intolerâncias. “Vamos depender dos produtores e não o contrário. Se o produtor de porco me diz que não consegue entregar mais, tenho capacidade para mudar a carta de um dia para o outro sem precisar de imprimir tudo outra vez. Por isso, quem vem cá não sabe o que vai comer. ”É Vincent em total liberdade, com inspirações que podem vir de todo o mundo e das memórias de toda a equipa e produtos que podem ser inesperados. “Se calhar no Guincho estava um pouco mais limitado nas escolhas, não podia servir sardinhas ou cavala, produtos mais baratos mas não menos bons, a meu ver, porque os clientes tinham outra expectativa. Aqui faço o que quero, já não posso ser catalogado de cozinha francesa, porque não é, não faço cozinha portuguesa, faço cozinha. Cozinho, simplesmente. ”MaronesaInspirado por um prato clássico de tártaro de carne com ostras, Vincent opta aqui por não incluir o caviar (“não quero justificar que um prato é bom pelo uso de caviar”) e apresenta finas fatias de carne maronesa que fica em vácuo uma semana numa marinada de forte influência asiática, recheadas com daikon ralado, gengibre, molho de soja, por cima alga confitada e, por fim, a ostra escalfada a vácuo. Ao lado, uma maionese só com clara de ovo, muito azeite e a água das ostras, e alcaparras de capuchinhas avinagradas. MolejasNa base, um refogado com toucinho caseiro de porco preto, cogumelos girolles picados, cebola, alho, aipo picado, vinho branco, chispe de porco, tomate. Depois, molejas cozinhadas em manteiga noisette com sálvia e glaceadas com um jus de vitela refrescado por sumo de laranja. É acompanhado por vários legumes da estação, pequenas alcachofras, espargos selvagens, favinhas novas com azeitona galega, cebolinho e um pesto de sálvia. ChocolateParte da ideia de whisky, chalés de madeira, resina, fogo e é uma sobremesa toda construída à volta do chocolate com várias texturas: um biscuit sem farinha, um cremoso de chocolate de leite, pinhões e fava de chocolate caramelizados com flor de sal. O contraste vem com um gel de Chartreuse, digestivo feito em França com ervas da montanha, e o gelado de zimbro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público.
REFERÊNCIAS:
Cobra de 1,70 metros encontrada numa caixa abandonada em Cascais
Imaginem o susto: abrir uma caixa de plástico abandonada numa zona urbana e encontrar lá dentro uma cobra de quase dois metros de extensão, dessas que se enrolam à sua presa e esmigalham-lhe os ossos. Foi o que aconteceu domingo a um grupo de desportistas que praticava paint ball em Alcabideche, concelho de Cascais. (...)

Cobra de 1,70 metros encontrada numa caixa abandonada em Cascais
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-08-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Imaginem o susto: abrir uma caixa de plástico abandonada numa zona urbana e encontrar lá dentro uma cobra de quase dois metros de extensão, dessas que se enrolam à sua presa e esmigalham-lhe os ossos. Foi o que aconteceu domingo a um grupo de desportistas que praticava paint ball em Alcabideche, concelho de Cascais.
TEXTO: Uma caixa de plástico junto às instalações abandonadas de uma antiga fábrica de meias chamou-lhes a atenção. Quando um dos elementos do grupo aproximou-se do recipiente, lá estava uma enorme pitão albina (Phyton molurus bivittatus). “A pessoa deu um valente salto para trás”, contou ao PÚBLICO o sargento Marco Robalo, do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR, que tomou conta da ocorrência, depois de alertado através da linha SOS Ambiente. Ninguém sabe como a cobra foi lá parar. A pitão albina é uma variante da pitão-de-Burma, originária do Sul e Sudoeste asiático. Criada também em cativeiro, não é bicho que não se veja por aí, confinada. Mas não é um animal fácil de criar e manter, sobretudo quando atinge a sua dimensão adulta. A pitão de Alcabideche tem 1, 70 metros de comprimento e cerca de 15 a 20 quilos de peso, segundo o sargento Robalo. Abandonada, poderia ter-se escapado, provavelmente semeando mais sustos por onde passasse – apesar de não ser venenosa. “Foi uma atitude incosciente a de quem pôs o animal naquela caixa”, lamenta o militar da GNR. A cobra foi recolhida e entregue ontem ao Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB). No mesmo dia, o ICNB contactou um Monte Selvagem, um parque zoológico em Lavre, no Alentejo, onde vivem 300 animais, de 70 espécies diferentes, para acolher a cobra. Colocada num espaço próximo de onde está outra cobra da mesma espécie, a pitão de Alcabideche está agora em fase de recuperação. “Não estava em boas condições, estava magra, debilitada”, afirma Ana Paula Santos, directora do Monte Selvagem. O parque zoológico costuma acolher animais abandonados ou confiscados em Portugal ou provenientes de uma organização holandesa – a AAP-Santuário Europeu de Espécies Exóticas – que trabalha sobretudo com primatas apreendidos. É daí que vem uma família de dez macacos-rabo-de-porco, uma espécie ameaçada de extinção e que agora vive no Monte Selvagem, em pleno montado alentejano. Centenas de animais comercializados ilegalmente são apreendidos todos os anos em Portugal – de 577 em 2003 a 318 em 2008. Muitos são identificados pelo SEPNA em lojas ou feiras. Serpentes não são invulgares, mas o que sobretudo aparece são espécies autóctones, que já cá vivem, como a cobra-rateira. Uma pitão como a de Alcabiche já é outra história. “É muito incomum”, diz o sargento Robalo.
REFERÊNCIAS:
A cobra pitão pode ensinar-nos a ter um coração grande e saudável
Os pitões são cobras constritoras que chegam a alimentar-se só uma vez por ano e podem comer veados. Ficam enormes, mas não é só por terem engolido outro bicho. Os órgãos também crescem. O coração aumenta 40% em três dias. Fazem isto de uma forma exímia, sem efeitos secundários, e os investigadores aprenderam o truque, testaram em ratinhos e acreditam que um dia poderá servir para tratar pessoas, mostra um estudo da Science. (...)

A cobra pitão pode ensinar-nos a ter um coração grande e saudável
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.25
DATA: 2011-10-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os pitões são cobras constritoras que chegam a alimentar-se só uma vez por ano e podem comer veados. Ficam enormes, mas não é só por terem engolido outro bicho. Os órgãos também crescem. O coração aumenta 40% em três dias. Fazem isto de uma forma exímia, sem efeitos secundários, e os investigadores aprenderam o truque, testaram em ratinhos e acreditam que um dia poderá servir para tratar pessoas, mostra um estudo da Science.
TEXTO: Há um bom crescimento do coração e um mau crescimento do coração e os pitões praticam o primeiro. Estas cobras que vivem na África e na Ásia, e podem alcançar os oito metros de comprimento, matam as presas enrolando-se e apertando-as com os seus anéis. Há vezes que ficam um ano sem se alimentar, numa espécie de torpor, mas quando engolem um animal o metabolismo dispara. “Os pitões desenvolveram uma forma de lidar com essa enorme refeição”, disse Leslie Leinwand, investigadora da Universidade do Colorado e coordenadora do estudo, durante uma entrevista publicada no podcast da Science. O metabolismo torna-se 40 vezes superior e os órgãos acompanham esta actividade. “O coração cresce enormemente num período de tempo muito curto e os tecidos são também depois digeridos num tempo muito curto”, acrescentou. Isto já era conhecido, mas a equipa descobriu mais. Descobriu que durante este pico de actividade fisiológica, o plasma sanguíneo enchia-se de várias substâncias, entre as quais ácidos gordos, numa quantidade que na maioria dos mamíferos seria altamente nocivo para o coração. Mas no Python molurus, uma espécie asiática que foi a estudada pela equipa, o órgão que bombeia o sangue estava bem. As células musculares tinham aumentado de tamanho e produziam uma enzima que as protegia dos efeitos nefastos daquele hiper-metabolismo. O passo seguinte foi tentar perceber quais eram os compostos no sangue que causavam esta mudança. Os cientistas acabaram por encontrar três moléculas específicas de ácidos gordos que quando injectadas em pitões que não tinham sido alimentadas, provocavam o crescimento saudável do coração. Mais, os cientistas testaram estas moléculas em ratos e obtiveram o mesmo resultado. “Injectámos ratos saudáveis com os ácidos gordos e obtivemos um crescimento de massa cardíaca significativo, e pudemos ver que esse tipo de crescimento é o que chamamos de benéfico”, explicou a cientista. Nos humanos também existe este tipo de crescimento saudável do coração, que acontece aos ciclistas ou aos nadadores. Mas exige uma actividade grande, é lento e o coração aumenta apenas em dez por cento. Muitas vezes o crescimento do coração pode estar associado a doenças, como a cardiomiopatia hipertrófica, que é uma das razões da morte súbita nos jovens. Nada disto acontece nos pitões e nos ratos tratados, por isso a equipa de Leslie Leinwand está agora a tentar compreender os mecanismos fisiológicos e genéticos de protecção do coração, para tentar encontrar uma terapia para as doenças humanas. Neste caso com a ajuda literal da banha da cobra.
REFERÊNCIAS:
Quer comprar um dinossauro de 17 metros?
Leiloeira britânica vai pôr à venda um esqueleto completo de um saurópode, que foi descoberto nos EUA por duas crianças, filhas de um caçador de fósseis. (...)

Quer comprar um dinossauro de 17 metros?
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2013-10-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Leiloeira britânica vai pôr à venda um esqueleto completo de um saurópode, que foi descoberto nos EUA por duas crianças, filhas de um caçador de fósseis.
TEXTO: Aquele oásis era um paraíso para os animais cheios de sede devido à intensa seca, mas acabou por se revelar uma armadilha para todos os que ficaram presos nas suas lamas finas. Misty, como agora lhe chamam, estava longe de imaginar que, 150 milhões de anos depois, a iriam colocar à venda num leilão britânico, a mais de sete mil quilómetros de distância do leito de sedimentos prensados de onde foi retirada. Esse lago jurássico aprisionou vários dinossauros, tanto herbívoros como carnívoros, que têm sido gradualmente descobertos pela empresa Dinosauria International, na Pedreira de Dana, no Wyoming, Estados Unidos. Num dia de escavação, em 2009, o caçador de fósseis Raimund Albersdörfer, presidente da empresa, fez-se acompanhar dos dois filhos, de 11 e 14 anos, mas ficaram numa área afastada para que não perturbassem a escavação. "Ele [Raimund Albersdörfer] indicou-lhes um local, suficientemente perto mas fora da zona da escavação, onde supôs que houvesse apenas alguns fragmentos de menor importância. Mas eles [os filhos] voltaram ao fim do dia dizendo que tinham encontrado um osso enorme”, conta à CNN Errol Fuller, curador na leiloeira Summer Place da colecção de história natural que vai a leilão, no próximo mês. Ao fim de nove semanas de escavação, os cientistas conseguiram retirar o esqueleto completo de um Diplodocus longus, um dos maiores animais que alguma vez caminharam no nosso planeta. O saurópode, um herbívoro quadrúpede, de cauda e pescoço longos, tem 17 metros de comprimento e seis metros de altura. Chamaram-lhe Misty, porque a zona da pedreira onde a encontraram foi considerada “misteriosa”. Ao contrário do que se supunha, é rica em fósseis. Meia dúzia de esqueletos completos Estima-se que existam apenas seis esqueletos completos desta espécie em todo o mundo. O famoso Dippy, o esqueleto de Diplodocus à entrada do Museu de História Natural de Londres é uma réplica do exemplar do Museu Carnegie de História Natural em Pittsburgh, na Pensilvânia (EUA), e mesmo este resulta da combinação dos esqueletos de dois indivíduos, conforme revela o comunicado da leiloeira Summer Place. A primeira viagem da Misty foi para chegar a um laboratório na Holanda, onde os seus ossos foram preparados por especialistas em fósseis, e agora viaja até Billingshurst, no Reino Unido, onde fará parte da colecção que será leiloada pela Summer Place a 27 de Novembro. Este exemplar é um gigantesco puzzle tridimensional, que ficará fixo por uma estrutura metálica. “Foi especialmente concebido para poder ser montado e desmontado”, diz Errol Fuller. “Nenhuma das peças é tão pesada que não possa ser transportada por duas pessoas. ”Este esqueleto, com um valor estimado entre 470 mil e 700 mil euros, faz parte da colecção Evolução, uma colecção de história natural, com peças antigas e modernas, que inclui ainda um fóssil de Ichthyosaurus (réptil marinho) com 150 milhões de anos, ossos de dodó (ave da ilha Maurícia extinta pelo homem no século XVII), outros fósseis, animais embalsamados, minerais e rochas. Este espécime de saurópode, escavado na América do Norte e à venda na Europa, poderá ser comprado por algum magnata ou um museu de qualquer parte do mundo. Isto levanta questões sobre as restrições impostas pelos Estados Unidos à venda de fósseis encontrados no país. Errol Fuller alega que, como este fóssil foi descoberto numa propriedade privada, não estará sujeito a essas normas. Já nos anos de 1990 um problema semelhante tinha surgido com o fóssil de um Tyrannosaurus rex encontrado na propriedade privada de um índio sioux. O Governo norte-americano ainda confiscou os ossos, mas acabou por perder a causa e o dinossauro foi vendido em leilão por mais de seis milhões de euros. Já este ano, as autoridades americanas tiveram de entregar à Mongólia um tiranossauro asiático (Tyrannosaurus bataar) que tinha sido roubado do país de origem e leiloado online por uma empresa com sede em Dallas, no Texas.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Troncos de árvores atirados para o fundo do mar ganham vida a 3200 metros de profundidade
Milhões de toneladas de madeira são arrastadas para o mar anualmente. O que acontece a esta matéria orgânica no fundo dos oceanos? É comida, mas nem sempre. Um estudo dá indicações de como se estabelece um ecossistema a partir de troncos de acácia. (...)

Troncos de árvores atirados para o fundo do mar ganham vida a 3200 metros de profundidade
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-04-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Milhões de toneladas de madeira são arrastadas para o mar anualmente. O que acontece a esta matéria orgânica no fundo dos oceanos? É comida, mas nem sempre. Um estudo dá indicações de como se estabelece um ecossistema a partir de troncos de acácia.
TEXTO: A 3200 metros de profundidade, no fundo do oceano, a escuridão é total. Não há luz do Sol para ocorrer fotossíntese, por isso não há fitoplâncton ou algas, a base das cadeias alimentares que existem à superfície. Ainda assim, nestes desertos inóspitos há oásis. As fontes hidrotermais são um desses oásis, que lançam do interior da Terra um sortido de minerais que alimenta microrganismos e atraem crustáceos e moluscos. Outro oásis são os peixes ou baleias que vão morrendo e se afundam e cuja carne e ossos permitem o aparecimento de ecossistemas transitórios. Mas há ainda um festim nutricional inesperado: a madeira. Todos os anos, os rios levam milhões de toneladas de madeira das florestas para os oceanos. Ao encher de água salgada, a madeira afunda-se. E o que acontece de seguida a esta matéria vegetal e que comunidade de animais alberga ainda não está completamente compreendido. Por isso, em 2006, dois investigadores norte-americanos atiraram 36 troncos de acácias para o oceano Pacífico, a 3200 metros de profundidade. Cinco anos depois, foram buscar metade dos troncos e analisaram os animais que tinham colonizado a madeira. O que aconteceu aos troncos variou muito. Houve alguns que se mantiveram intocados, mas os troncos maiores tinham, em média, comunidades mais complexas de seres vivos, revela um artigo publicado na revista Biology Letters. Na introdução do artigo, há uma referência ao tufão Morakot, que assolou o Leste asiático em Agosto de 2009. Na altura, um milhão de chineses foi obrigado a deslocar-se das suas casas. O tufão acabou por matar centenas de pessoas e fez estragos na ordem dos milhares de milhões de euros. Um efeito colateral foram as árvores arrancadas pelos ventos e que foram parar ao mar. “Um total de 8, 4 milhões de toneladas de detritos de madeira foram transportados para a costa oceânica asiática”, lê-se no artigo assinado por Craig McClain, do Centro Nacional de Síntese Evolutiva, em Durham, na Carolina do Norte, e James Barry, do Instituto de Investigação do Aquário da Baía de Monterey, na Califórnia. Uma quantidade de madeira equivalente ao peso de 23. 900 aviões Boeing 747. As espécies vegetais com porte arbóreo apareceram na Terra há quase 400 milhões de anos, por isso há uma longa história de madeira a afundar-se nos oceanos. Ao longo desse tempo, alguns moluscos acabaram por se adaptar e fizeram desta madeira a sua refeição. No fundo do Pacífico, quem coloniza primeiro a madeira é o molusco bivalve Xylophaga zierenbergi. Tem uma concha na zona da cabeça, o resto do corpo é tubular e sem carapaça. Na região da concha, tem dentes serrilhados capazes de roer a madeira, produzindo buracos onde depois se esconde. Tal como as térmitas, o Xylophaga zierenbergi tem uma relação simbiótica com bactérias que o ajudam a digerir a celulose da madeira. É esta actividade, no fundo do mar, que disponibiliza a matéria orgânica a uma comunidade de seres. Ao roer a madeira e ao alimentar-se dela, o Xylophaga zierenbergi lança lascas de madeira e dejectos para o chão marinho, que são utilizados por bactérias que degradam esta matéria e produzem enxofre. Em seguida, o enxofre é usado por microrganismos que produzem energia e matéria orgânica, tal como fazem as plantas com a luz solar. Esses microrganismos são quimiossintéticos. As bactérias servem ainda de alimento para os gastrópodes, que por sua vez atraem predadores e necrófagos. E depois de morrer, os buracos que o Xylophaga zierenbergi faz na madeira tornam-se um habitat protegido para outras espécies. O Xylophaga zierenbergi é um “criador de ecossistemas”, diz Craig McClain. “Como as ostras, os castores e as térmitas, estes [bivalves] alteram a paisagem e proporcionam um novo habitat para outras espécies”, compara o investigador, citado num comunicado do Instituto de Investigação do Aquário da Baía de Monterey. “Sem estes bivalves, a energia do carbono que existe na madeira não ficaria disponível para outras espécies. ”Segundo os autores do artigo, muitos estudos sobre estas comunidades centravam-se na descrição das espécies que as compunham, ou na forma como a matéria orgânica acabava por estar disponível para os microrganismos que fazem a quimiossíntese. Mas pouco se sabe como a comunidade é construída. Seis vacas ao largo de Portugal“Não se conhecem as diferentes proporções das espécies ou a forma como os indivíduos estão distribuídos”, explica por sua vez ao PÚBLICO Luciana Génio, que trabalha no grupo de Ecologia Marinha e Estuarina do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (Cesam) da Universidade de Aveiro. A investigadora esteve envolvida no projecto europeu Chemeco, que analisou o aparecimento de comunidades marinhas a diferentes profundidades a partir de madeira, da erva alfalfa (também conhecida por luzerna) e de um substrato inorgânico de carbonato. “Diferentes tipos de madeira vão influenciar a diversidade da comunidade”, resume a cientista portuguesa.
REFERÊNCIAS:
Étnia Asiático
Bruxelas aprova apoio de 851 mil euros para promover azeite e vinho português
Comissão Europeia dá luz verde a 20 programas para promover produtos agrícolas dentro e fora da União Europria. Dois são portugueses. (...)

Bruxelas aprova apoio de 851 mil euros para promover azeite e vinho português
MINORIA(S): Animais Pontuação: 2 Asiáticos Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2014-04-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Comissão Europeia dá luz verde a 20 programas para promover produtos agrícolas dentro e fora da União Europria. Dois são portugueses.
TEXTO: Dois programas portugueses para promover o vinho e o azeite receberam, nesta terça-feira, luz verde da União Europeia (UE) para receber um financiamento global de mais de 1, 6 milhões de euros, 851 mil euros dos quais oriundos de Bruxelas. A Comissão Europeia aprovou no total 20 iniciativas de promoção de produtos agrícolas dentro e fora da Europa, que terão um orçamento de 46, 5 milhões de euros, 50% financiados pela UE. A maioria destes programas (como é o caso dos portugueses) vai desenvolver-se ao longo de três anos e foram seleccionados entre 33 projectos apresentados até 30 de Novembro de 2013, no âmbito do regime de informação e promoção. Esta é, assim, a primeira vaga de apresentação de programas para 2014. Para promover os vinhos no mercado nacional, a Associação das Empresas de Vinho do Porto vai receber um total de 281, 780 euros (169, 074 vindos de Bruxelas). O outro programa é liderado, em conjunto, pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana e a Casa do Azeite que querem divulgar o vinho e o azeite português não só no mercado interno, mas também na Alemanha, Reino Unido, Suécia e Polónia. As duas entidades dispõem de um total de quase 1, 4 milhões de euros, a três anos, 681, 972 euros dos quais são fundos comunitários. De acordo com a informação divulgada por Bruxelas, os programas seleccionados abrangem produtos com classificações de qualidade (como os de Denominação de Origem Protegida ou Indicação Geográfica Protegida), biológicos, frutas e produtos hortícolas, vinho, leite, flores, frutas ou produtos transformados à base de cereais e arroz. A divulgação no espaço extra-comunitário será feita na América do Norte, Rússia, China, Médio Oriente, Sudeste Asiático, Índia ou Turquia. Entre os projectos que vão receber ajudas, há ovos de Espanha, presunto de Itália, produtos lácteos da Polónia ou cereais da Grécia. As acções financiadas podem ser desde campanhas de relações públicas a acções de promoção ou de publicidade que “evidenciem as vantagens específicas dos produtos da UE em termos de qualidade, higiene e segurança dos alimentos, nutrição, rotulagem, bem-estar dos animais ou de métodos de produção respeitadores do ambiente”. A Comissão Europeia pode contribuir directamente para financiar estas acções de informação e tem um orçamento total anual de 60 milhões de euros. Ao abrigo do acordo político alcançado a 5 de Abril, o orçamento deverá aumentar para 200 milhões de euros em 2020.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE