Bilhetes para concerto solidário em Manchester esgotados em 20 minutos
A iniciativa prevê arrecadar 2,3 milhões de euros para o fundo de emergência da Cruz Vermelha local. (...)

Bilhetes para concerto solidário em Manchester esgotados em 20 minutos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170602192621/https://www.publico.pt/n1774213
SUMÁRIO: A iniciativa prevê arrecadar 2,3 milhões de euros para o fundo de emergência da Cruz Vermelha local.
TEXTO: Os bilhetes para o concerto de Manchester, em memória das vítimas do atentado do passado dia 22 de Maio, que se realiza no próximo domingo, postos hoje à venda, esgotaram-se em 20 minutos, informou a organização da iniciativa. A receita do espectáculo Ariana Grande & Friends: One Love Manchester destina-se ao fundo da Cruz Vermelha da cidade britânica, para apoiar vítimas do atentado terrorista, ocorrido no final de um concerto da cantora norte-americana, que provocou 22 mortos e 116 feridos. A empresa encarregada da venda de bilhetes disse ter verificado uma "procura extraordinária", assim que foram disponibilizados no seu site, às 10h00 de hoje, encontrando-se esgotados 20 minutos mais tarde. A organização informou ainda que os espectadores do concerto do passado dia 22 podem aceder a este espectáculo gratuitamente. O concerto, que se vai realizar no Emirates Old Trafford, com capacidade para 50. 000 pessoas, reunirá Justin Bieber, Katy Perry, Usher, Pharrell Williams, Miley Cyrus, Take That, Coldplay e The Black Eyed Peas, além de Ariana Grande. O espectáculo, com início marcado para as 16h00 (a mesma hora em Lisboa), será transmitido em directo pela BBC1. A iniciativa prevê arrecadar dois milhões de libras (cerca de 2, 3 milhões de euros) para o fundo de emergência da Cruz Vermelha de Manchester.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cantora
A longa viagem do rei poeta Al Mut’amid
Músicos portugueses, espanhóis e marroquinos reuniram-se para seguir os passos de Al'Mutamid, o rei poeta nascido em Beja, rei em Sevilha, agrilhoado em Marrocos. Um álbum que é um encontro, um testemunho, um ideal (...)

A longa viagem do rei poeta Al Mut’amid
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.05
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170602192733/https://www.publico.pt/n1691647
SUMÁRIO: Músicos portugueses, espanhóis e marroquinos reuniram-se para seguir os passos de Al'Mutamid, o rei poeta nascido em Beja, rei em Sevilha, agrilhoado em Marrocos. Um álbum que é um encontro, um testemunho, um ideal
TEXTO: O início é solene, com o canto sufi a erguer-se entre as notas sofridas do violino. O início coloca-nos num lugar e num tempo. Canta o marroquino El Arabí Serghini, toca o também marroquino Jamal Ben Allal. Estamos muito longe e muito perto, no terreno fértil da memória. Estamos muito longe, imersos na cultura árabe marroquina. Estamos muito perto: há algo de indefinível, qualquer coisa na cadência da voz e nos voltejar do violino, que sentimos estranhamente próximo. Al Mu’tamid, rei e poeta, corporiza a glória do Al Andalus, o território árabe peninsular que foi durante sete séculos centro de cultura, artes e ciência, ponto de encontro e convivência entre povos e credos. O ideal deste disco é a representação desse espírito em música, seguindo as palavras e a biografia de Al Mutamid. Portugal, Espanha e Marrocos encontrando-se num património comum que a religião e a política foram esbatendo ao longo dos séculos. “O espírito do Al Andalus existe actualmente como ideia”, diz o tunisino Abdeljelil Larbi, professor de Literatura Árabe Contemporânea no ISCTE, em Lisboa, e que colabora no projecto enquanto tradutor e consultor. “Depois do 11 de Setembro voltou a ser estudado como modelo de convivência cultural e de progresso. Foi um modelo que ficou congelado durante séculos, mas temos que voltar a chamar a atenção para ele. O mais importante é não ficarmos pelas universidades e pelos colóquios. Por isso é que gostei logo deste projecto. Hoje em dia, a música e o cinema documental são das formas mais importantes para apresentar modelos para a sociedade”. Autoria: VáriosAmg music; distri. Sony MusicO modelo, aqui, é a vida de um homem e a sociedade de que se rodeava. Larbi conhece a história de Al Mu’tamid desde muito novo. Encontrou-o nos programas da escola –é um “elemento fundamental” na história da literatura do Magrebe. Chegado a Portugal há 12 anos, percebeu também que na história da literatura árabe em Portugal Al Mu’tamid “é o grande poeta”. Adalberto Alves, poeta e ensaísta, também colaborador em Al Mu’tamid Poeta Rei do Al-Andalus, distinguido pela UNESCO, em 2008, pelo seu trabalho na divulgação da cultura árabe, aponta que aquele rei viveu de forma “tão rica e diversificada que se transformou em mito”. Ao mesmo tempo, é-nos muito real: “ao contrário do costume do seu tempo, da poesia árabe clássica, era muito confessional”. Encontramos na poesia de Al Mu’tamid a glória da guerra e o ardor da juventude, encontramos a dor do exílio e os lamentos a Deus. Estão lá a paisagem urbana e natural de Silves ou Sevilha, bem como o deleite perante os amores ou o doce sabor do vinho – “pois que o fresco vinho e o alaúde te guardem na beira do caminho”, ouvimo-lo agora na voz de Janita Salomé. “É dono de versos mais curtos e mais leves, sem o lado ortodoxo da poesia e literatura da sua época”, descreve Abdeljelil Larbi, que refere a curiosidade de, nele, o tema da saudade, tão caro à cultura portuguesa, surgir como referência fundamental. Ouvimos o disco e, nele, a Evocação de Silves, poema de saudade pela cidade cantada em castelhano sob cantiga medieval espanhola. Ouvimos depois o piano de Filipe Raposo e a voz aveludada de Janita Salomé entoar o mesmo poema: “Quantas noites passei, deliciosamente, junto a um recôncavo do rio, / com uma donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente” – eis versos árabes em tradição alentejana que se transforma em canção contemporânea. Ouçamos mais. A Ibn Ammâr, elegia de Al-Mu’tamid ao amigo poeta que acabaria por morrer às suas mãos após um acto de traição. No início a austeridade imponente, o canto aos céus de Serghini. Depois, o ritmo luxuriante e envolvente da dança medieval trazida da Andaluzia, que desembocará no romantismo (moderno ou intemporal?) das notas arrancadas ao piano por Filipe Raposo. São quase nove minutos de música. Música inspirada e inspiradora que explica da melhor forma toda esta viagem. Nesta música, está representado “um território em continuidade que contém a vida e as tradições comuns de povos que compartilham um sentido para a vida: amor, luxo, sensibilidade, sensualidade, luz, energia e espiritualidade”. Assim o descreve em entrevista por mail Eduardo Paniagua, arquitecto e músico que conta 45 anos dedicados ao estudo e interpretação de música medieval. Foi fundador do grupo Música Antigua e da editora Pneuma que, desde os anos 1990, se dedica à transcrição e preservação fonográfica daquele legado musical. Eduardo juntou-se ao projecto trazido pelo arquitecto e realizador Carlos Gomes. O disco que pretende ser mais que um disco foi ideia dele. Foi a forma de dar vida ao fascínio pela cultura árabe que nasceu quando se deparou com O Meu Coração é Árabe, colectânea de poesia árabe compilada por Adalberto Alves. Das palavras dos poetas passou à procura do território e das gentes do Norte de África. E imaginou que poderia, recriando os passos de Al Mu’tamid, reconstruir essa experiência de partilha. Convocou o pianista Filipe Raposo, músico com percurso ecléctico que podemos encontrar ao lado de Janita Salomé ou Vitorino, acompanhando sessões de cinema mudo na Cinemateca ou explorando a sua voz musical em álbuns a solo como First Falls. Feito o convite, Filipe lembrou-se imediatamente de Janita, “por ter essa herança arábica no canto”, conta desde Estocolmo, onde frequenta actualmente um mestrado. Depois recrutou Quiné, “que acaba por ser o percussionista com maior identidade portuguesa”. Entretanto, Carlos Gomes sugeriu Eduardo Paniagua, este trouxe a voz e a fídula (viola de arco medieval) de Cesar Carazo e referiu os nomes de El Arabí Serghini, respeitado cantor marroquino, e de Jamal Ben Allal, violinista e, enquanto presidente do Conservatório de Tânger, alguém com um conhecimento profundíssimo das tradições musicais do seu país e da sua região. Enquanto os músicos se encontravam, trocavam ideias e começavam a preparar a música que apresentaram pela primeira vez em Lisboa e em Beja em Fevereiro de 2014, Carlos Gomes seguia a rota de Al Mutamid, filmando esse percurso que termina num discreto mausoléu em Aghmat, erguido pelo reino marroquino ao rei ali caído em desgraça. As imagens recolhidas, que pretende ver transformadas em filme (tenta ainda reunir apoios para o poder concretizar), servem de guia visual dos concertos. Carlos Gomes tem uma crença “quase ilimitada” no que pode resultar de todo o projecto. Tem agora nas mãos um disco que o entusiasma e do qual se orgulha. E tem a memória da reacção do público aos concertos. “Uma adesão imediata, como se a sonoridade fosse familiar, e isto independentemente do extracto social ou cultural. É uma ideia muito bonita deste projecto: ir para além do conhecimento musical que o público possa ter sobre aquilo que está a ser tocado”. Explica o director musical Filipe Raposo que se procurou criar no álbum uma viagem pelo tempo, mas sem ordem cronológica definida: “a parte marroquina é mais ancestral, a Idade Média e o renascimento chegam com os [músicos] espanhóis, a contemporaneidade com a parte portuguesa e os originais compostos por mim e pelo Janita”. Com os músicos a alimentarem-se uns dos outros, “com a premissa de não invadir terreno alheio, mas sem temer intromissão”, chega-se a este “colectivo que é um novo ser”. Um novo ser que nasce da surpresa do reencontro. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O ano passado, quando dos concertos de apresentação do projecto, Janita Salomé, cujo fascínio pela herança portuguesa surge reflectida em álbuns como A Cantar ao Sol (1983) ou Lavrar o Teu Peito (1985), contara que ao ouvir El Arabí Serghini interpretar uma canção tradicional marroquina se surpreendera com as semelhanças com uma moda alentejana. Cantou-a e, por sua vez, surpreendeu Serghini. “Ficou primeiro estupefacto, depois admiradíssimo, depois satisfeitíssimo”. Como nos diz Filipe Raposo, o encontro entre os sete músicos que gravaram o álbum agora editado tornou óbvio que “a questão territorial é apenas uma questão política”: “Na voz do Serghini está a voz do Janita e na voz do Cesar está a voz do Serghini”. Como acrescenta Eduardo Panigua, “encontram-se em cena neste projecto muçulmanos, crentes cristãos, agnósticos e talvez ateus. Com a admiração e respeito mútuo entre nós talvez possamos oferecer um testemunho de amizade, que é melhor que um de tolerância”. Três territórios separados por fronteiras mas unidos por uma cultura comum encontram-se para dar música a um poeta. Dez séculos depois, Al Mu’tamid volta a ser mecenas. Um mecenas espiritual que é também um guia iluminado.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
O álbum maior de Old Jerusalem
Em A Rose is a Rose is a Rose a essência é a mesma, o tom igualmente. Mas é um álbum maior, literalmente. O álbum de alguém que vemos atravessar o tempo, cantando pequenas e pungentes vinhetas da vida que passa. (...)

O álbum maior de Old Jerusalem
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.55
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em A Rose is a Rose is a Rose a essência é a mesma, o tom igualmente. Mas é um álbum maior, literalmente. O álbum de alguém que vemos atravessar o tempo, cantando pequenas e pungentes vinhetas da vida que passa.
TEXTO: Já nos conhecemos há muito. 15 anos bem contados. Foi em 2001 que um CDr preenchido de canções com a América dos “singer-songwriters” no pensamento, com as palavras bem medidas nos versos e com uma delicadeza poética que chamava a atenção, nos apresentou Francisco Silva, o músico que, porque nunca esteve aqui para nos enganar, escolheu como baptismo o título de uma canção dos Palace Music de Will Oldham. Autoria: Old Jerusalem Ed. autor; distri. Sony MusicDécada e meia depois, muito se passou. Aquele tímido CDr deu lugar a álbuns oficiais e títulos como April (2003) ou Twice the Humbling Sun (2005), os dois primeiros, mostraram a muitos mais aquela terna capacidade de pôr em canção curtas vinhetas da vida que passa, guitarra acústica tocada como em alpendre com vista para planície ao fim de tarde. De certa forma, fomos crescendo com ele, representados naquilo que as canções diziam e serenados pela voz firme e reconfortante que nunca se exalta. A discografia aumentou: The Temple Bell, em 2007, Two Birds Blessing, em 2009, Old Jerusalem, em 2011. Neste último manifestou-se um firme desejo de despojamento. Foi álbum despido de arranjos e instrumentação e, nesse sentido, mais íntimo. Depois, o silêncio. Quatro anos passaram, o dobro da espera habitual. Chega agora A Rose is a Rose is a Rose, editado precisamente hoje, 11 de Março, e julgamos ler naquilo que é novo na música de Old Jerusalem o porquê da espera. É um disco maior, literalmente: Filipe Melo tocou piano e assinou orquestrações, Nélson Cascais agarrou o contrabaixo e “velhos” parceiros de crime, como o produtor Paulo Miranda e o baterista Pedro Oliveira, e amigos de longa data, como a cantora Petra Pais e o guitarrista Luís Ferreira, dos Nobody’s Bizness, contribuem em algumas canções. Engano nosso. Old Jerusalem continua, em essência, o mesmo e A Rose is a Rose is a Rose é, indiscutivelmente, um álbum do seu autor. “As canções são evidentemente minhas. Nos primeiros discos seriam um pouco mais ingénuas que nas mais recentes, mas há um fio condutor. Old Jerusalem tem um carácter bem definido, por mais colaborações que surjam”. A Rose is a Rose is a Rose será apresentado em palco em Lisboa (2 de Abril, Galeria Zé dos Bois), no Porto (8 de Abril, Maus Hábitos), em Barcelos (16 de Abril, Teatro Gil Vicente) e na Régua (14 de Maio, Portugal Rebelde ao Vivo). 15 anos passaram e aqui o temos. O portuense Francisco Silva, economista de ofício e artesão de canções. Sentado à mesa de uma tasca no bairro da Bica, em Lisboa, cabelo curto e grisalho no lugar das compridas melenas que primeiro lhe vimos – os óculos mantêm-se -, explica as razões do parto demorado de A Rose is A Rose is a Rose. A história nada tem de extraordinário. Não lhe faltavam canções ou o que cantar. “Acho que ainda posso ter uma crise de ‘writer’s block’ porque tenho acumuladas umas 30 ou 40 canções com que nunca fiz nada”. Faltou aquele bem tão escasso nos dias que correm, tempo. Não o dele. Muda o que ele mudou connoscoEstava decidido que, ao contrário do que acontecera no álbum anterior, “haveria colaboradores e seriam mais interventivos”. Filipe Melo, que conheceu em Lisboa num concerto de homenagem a Bernardo Sassetti, tornou-se esse colaborador. Conhecia a música de Old Jerusalem e dissera a Francisco, quando se despediram no primeiro encontro, aquele habitual “temos que fazer qualquer coisa juntos”. Quando Francisco começou a agrupar as canções que lhe sugeriam um disco – “começo a pensar fazer um álbum quando identifico seis ou sete músicas que fazem sentido em conjunto, com uma certa coerência estética e lírica” -, lembrou-se de Filipe Melo. O músico de múltiplos talentos – além de pianista, é realizador com Mundo Catita no currículo ou autor da premiada BD As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e PizzaBoy -, revelar-se-ia fundamental para que A Rose is a Rose is a Rose” se transformasse no disco que é. Trouxe consigo o contrabaixista Nélson Cascais, que oferece às canções uma cadência jazzy, no sentido Van Morrison do termo, e o quarteto de cordas com que trabalha habitualmente. Nem um, nem o outro, surgiriam por iniciativa de Francisco. “Não pensaria em cordas porque vejo-as como mero tapete sonoro”. Filipe Melo tinha outra ideia. “Conheces David Campbell?”, perguntou. Campbell, o pai de Beck, orquestrador do magnífico Sea Change, seria o modelo. O resultado, como se ouve logo a início, em A charm”, é tudo menos um dispensável tapete sonoro. “A interacção não é nada linear, traz aos temas uma outra dimensão que nunca na vida magicaria por mim”, confessa Francisco. Gravado em vários estúdios, centro como habitualmente nos Estúdios AMP de Paulo Miranda, em Viana do Castelo, mas desta vez com extensão a Lisboa, A Rose is a Rose is a Rose chegou quatro anos depois de Old Jerusalem pela vontade de Francisco Silva se manter fiel à ideia inicial. “Tendo decidido fazer o disco desta forma, sentindo que podia resultar bem, preferi ajustar-me à agenda de todos, o que tornou o processo mais distendido no tempo”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No disco com título retirado ao poema de Gertrude Stein Sacred Emily, o tom contemplativo que Old Jerusalem lança sobre a paisagem (exterior e interior) e o seu canto quase sussurro continuam assentes na guitarra acústica, no pó de beira da estrada que o bandolim sugere, na ideia de um country-rock confessional, nocturno, que One for dusty light tão bem representa. As cordas e o contrabaixo, apoiados pela produção meticulosa, tornam, porém, este álbum especial na discografia de Old Jerusalem - textura orgânica imaculada e espaço aberto em todo o espectro sonoro: ouça-se Florentine course e os seus tricotados de guitarra, a secção rítmica que ecoa por toda a sala, o órgão em fundo, esperando o ataque das cordas, e a voz que se ergue com suavidade, límpida: “Given time / it’ll all be clear / and letting go / who we hold dear / will not spell / catastrophe”. Em A Rose is a Rose is a Rose, Old Jerusalem olha o que ficou perdido na infância e que não mais pode ser recuperado – as Tribal joys que o futuro não trará. Neste disco, olha em volta e questiona o que pode trazer outra vida, um filho, à vida que avança. Olha para o que fica e para o que se perde, para o que se transforma irremediavelmente. Olha como sempre olhou, com os 38 anos que nunca teve. “Fala-se muito da passagem do tempo, mas como se fosse linear. Não é. Há momentos de corte abrupto que geram mudanças completas. Momentos de corte que geram outro patamar de existência, que deixam do passado memórias muito vívidas, mas que nunca seremos capazes de replicar”. Conhecemo-lo há 15 anos. Há uma década e meia que nos acompanha. Em essência, a sua música não mudou. Muda o que ele mudou connosco, ano após ano, disco após disco.
REFERÊNCIAS:
Partidos BE
Uma Granta para ler, comer e beber
Comer e beber é o tema do número nove da Granta portuguesa, que chega às livrarias no dia 26. Uma edição ilustrada por André Carrilho, novo capista permanente da revista dirigida por Carlos Vaz Marques. (...)

Uma Granta para ler, comer e beber
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Comer e beber é o tema do número nove da Granta portuguesa, que chega às livrarias no dia 26. Uma edição ilustrada por André Carrilho, novo capista permanente da revista dirigida por Carlos Vaz Marques.
TEXTO: O número 9 da Granta portuguesa, dedicado ao tema Comer e beber, chega no dia 26 às livrarias, mas a revista começou já a ser enviada aos assinantes. Com capa e ilustrações de André Carrilho, que passará a ser o capista permanente da publicação, sucedendo a Jorge Colombo, esta edição da Granta foi “cozinhada com os melhores ingredientes”, garante o seu director, Carlos Vaz Marques. Azeitona Verde, um conto de Tatiana Salem Levy, escritora brasileira que a Granta internacional seleccionou em 2012 como um dos 20 melhores jovens autores, abre este número da revista, que prossegue com umas saborosas memórias familiares da jornalista do PÚBLICO Alexandra Prado Coelho, divida entre uma avó gorda e outra magra e respectivas pedagogias alimentares, e com a “pior refeição” da vida do romancista Richard Zimler: transformar a descrição de algo aparentemente tão inócuo como um salmão assado num texto de literatura de terror a fugir para o hardcore não está ao alcance de qualquer um. Segue-se Última Ceia, um tríptico da escritora e jornalista Ana Margarida de Carvalho, cujo primeiro romance, Que Importa a Fúria do Mar, venceu o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 2014. Giles Folden, o jornalista britânico que se revelou na ficção com o romance que serviria de base ao filme O Último Rei da Escócia, de Kevin MacDonald, assina nas páginas seguintes O banquete do Idi, e a poeta, ficcionista e cantora japonesa Mieko Kawakami fala-nos Sobre ela e as memórias que lhe pertencem. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Com o cartoonista Luís Afonso, damos por nós Chez Hippolyte, de onde saímos para entrar na banda desenhada Sleepwalk, com guião de Filipe Melo, arte de Juan Cavia e legendas de Filipe Melo, história de uma cozinheira relutante e de um comensal paciente, que inclui, como brinde, uma receita de torta de maçã. O rodízio literário prossegue com Então a carne, do jornalista Ricardo J. Rodrigues, Açúcar no Sangue, do escritor angolano Sousa Jamba, Variações sobre um tema no Mister Donut, do britânico David Mitchell, cujo Atlas das Nuvens (Presença) foi finalista do Booker Prize em 2004 e veio a ser adaptado ao cinema em 2012, e O talhante de Bermondsey, do seu compatriota Graham Swift, também ele autor de vários romances que chegaram ao grande ecrã, como O País das Águas ou Últimas Vontades, ambos publicados em Portugal pela D. Quixote. O repasto termina com uma Aula de culinária de Djaimila Pereira de Almeida, a escritora portuguesa de origem angolana que se revelou, em 2015, com Esse Cabelo, umas Notas para a minha autobiografia alimentar, do poeta e ensaísta José Tolentino Mendonça, e Come chocolates, pequena, uma sobremesa a cargo da poetisa Adília Lopes, que também oferece uma receita de refrescante simplicidade neste mundo gourmet.
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Crítica: Twin Peaks é futuro, ou é passado?
O regresso da série de culto de David Lynch é tudo o que esperávamos e nada do que esperávamos. (...)

Crítica: Twin Peaks é futuro, ou é passado?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.12
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: O regresso da série de culto de David Lynch é tudo o que esperávamos e nada do que esperávamos.
TEXTO: Numa das cenas da primeira das 18 novas horas de Twin Peaks, uma rapariga está curiosa por ver o que se esconde por trás da porta blindada de um arranha-céus nova-iorquino, onde trabalha o rapaz a quem vem entregar café. (Presume-se que seja damn good coffee. ) Nós, espectadores, somos como essa rapariga. Queremos saber o que está por trás da porta, só porque não podemos ver lá para dentro. Se soubéssemos o que lá está, contudo, continuaríamos curiosos?A resposta, claro, dependerá de cada espectador. Mas que não se acuse David Lynch de não fazer o seu melhor para nos manter curiosos: a première do regresso de Twin Peaks, exibida no domingo no canal americano Showtime (e da qual a primeira hora será exibida em Portugal no canal TVSéries no próximo domingo, 28), são 112 minutos de portas fechadas que se vão abrindo para revelar… outras portas fechadas. Vamos reconhecendo situações, personagens, actores da série original (Kyle MacLachlan e Sheryl Lee à cabeça, mas também Kimmy Robertson e Harry Goaz, a secretária Lucy e o adjunto Andy; Richard Beymer e Russ Tamblyn, Ben Horne e o Dr. Jacoby; Catherine Coulson e Michael Horse, a Senhora do Tronco e o adjunto Hawk), mas vamos também encontrando novas pistas narrativas, como um catálogo de possibilidades para o que aí vem. Um mostruário de paletas ou de cores que, para já, fazem sentido apenas como sketches, cenas individuais, pontos de partida. Mesmo quando parecem existir conexões narrativas, e quando a história de Twin Peaks 2017 se cruza com a história de Twin Peaks 1990, as coisas não ficam mais lineares, mais resolvidas ou, sequer, mais compreensíveis. De David Lynch Com Sheryl Lee, Kyle MacLachlan, Mädchen Amick, Ray Wise, Grace Zabriskie e Peggy LiptonMatt Zoller Seitz tinha razão na sua peça para a Vulture ao dizer que só por milagre Lynch faria com Twin Peaks uma versão light do seu cinema progressivamente mais esotérico e opaco, ainda por cima quando foi a série original a cristalizar o adjectivo “lynchiano”. O que se percebe é que Lynch remodelou os interiores e redecorou a fachada, recorrendo a colaboradores regulares de longa data (o director de fotografia Peter Deming, o compositor Angelo Badalamenti, o montador Duwayne Dunham), mas sem tocar nos alicerces e na estrutura fundamental da casa. Dale Cooper continua preso no interior da Sala Vermelha e o seu duplo maléfico anda por aí, a Senhora do Tronco continua a transmitir mensagens crípticas ao adjunto Hawk, mas agora há um director de escola do Dakota que parece ter morto alguém num sonho que se tornou real, uma caixa de vidro que serve de portal para outra dimensão, planos de paisagem filmados com drones. E nada disto é um spoiler porque não fazemos ideia do que se está aqui a passar nem o que é que isto tem a ver com o resto. E de repente damos por nós outra vez hipnotizados pela sábia mistura de imagens e sons que Lynch gere de modo absolutamente extraordinário (o design de som é do próprio realizador, a música de Angelo Badalamenti é usada de modo esparso). A única coisa que diferencia Twin Peaks do Lynch no grande ecrã é o tempo, que o realizador tem aqui para dar e vender, ao contrário das limitações de um filme de duas horas. No resto, Twin Peaks é tão “cinema” e tão “arte” e tão “Lynch” como esperávamos que o fosse. Contraditório, sim: porque isto não é cinema e não é televisão e é as duas coisas ao mesmo tempo; porque de Lynch esperamos o inesperado, e porque ainda assim Twin Peaks não é o que esperávamos; reencontramos na nova série um élan de paixão, de vitalidade, que parecia faltar em Mulholland Drive e INLAND EMPIRE, um prazer reencontrado em filmar estes tableaux que remetem, sistematicamente, para tudo o que Lynch fez antes (uma panorâmica que evoca Duna, uma “fuga psicogénica” à Estrada Perdida, uma invocação visual de Veludo Azul). Uma súmula, se quiserem; um mistério, também, porque não sabemos o que aí vem. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Certeza, só uma. O regresso de Twin Peaks é tão estranho em 2017 como a série original o foi em 1990; continua a não ser igual a nada que esteja hoje na televisão, só que de outro modo, diferente contudo semelhante. Não faz sentido? Não faz mal: no mundo de Lynch tudo faz sentido. No céu tudo é perfeito, já se cantava em Eraserhead.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola morto rapariga
Roger Ailes, o homem que morreu dez meses antes de morrer
Obituário (1940-2017) Ajudou Nixon e Bush a chegarem à Casa Branca, moldou a forma como se tem feito jornalismo nas últimas décadas e acabou no fundo de um poço, quando se descobriu que passou a vida a abusar sexualmente de apresentadoras e jornalistas. (...)

Roger Ailes, o homem que morreu dez meses antes de morrer
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Obituário (1940-2017) Ajudou Nixon e Bush a chegarem à Casa Branca, moldou a forma como se tem feito jornalismo nas últimas décadas e acabou no fundo de um poço, quando se descobriu que passou a vida a abusar sexualmente de apresentadoras e jornalistas.
TEXTO: Se um autor de ficção quisesse encaixar uma morte no fim da vida de Roger Ailes tão bem como duas peças de Tetris se encaixam uma na outra, provavelmente adivinharia aquilo que aconteceu na realidade. Na quinta-feira passada, ao fim de décadas a influenciar a forma como os Estados Unidos se olham ao espelho na televisão e de ter passado o último ano de vida a tentar esconder-se de acusações de assédio sexual, o homem que deu à América um megafone conservador chamado Fox News morreu de complicações provocadas por uma queda – escorregou quando andava pela sua mansão em Palm Beach, bateu com a cabeça no chão e perdeu a luta contra um hematoma. Foi um fim abrupto para uma vida que parecia estar sempre a subir, mas que desceu tanto na recta final que a memória colectiva foi muito dura com ele na hora da morte. Houve elogios, sim, mas também houve muitas críticas contundentes e, acima de tudo, silêncios. Aqueles silêncios que, se falassem, seriam ainda mais duros do que as críticas contundentes. "Roger Ailes foi um dos piores americanos de sempre", escreveu na revista Rolling Stone o jornalista e escritor Matt Taibbi, antes de chamar ao fundador da Fox News um "Cristóvão Colombo do ódio" e o acusar de ser, ao mesmo tempo, o pai, a mãe, o avô e a avó da forma como muitas pessoas consomem notícias hoje em dia. "O que a maioria de nós compra quando vê este ou aquele canal, ou quando lê este ou aquele jornal, é um olhar reconfortante sobre as mudanças que mais nos assustam no mundo. Compramos a versão do mundo que nos agrada e vivemos em pequenas bolhas, onde podemos fazer crescer os nossos ressentimentos e nunca ninguém nos diz que estamos errados. Foi o Ailes quem inventou essas bolhas. "Roger Ailes tinha 56 anos quando o magnata dos media Rupert Murdoch o pôs no topo da então recém-nascida Fox News, em Outubro de 1996. Era o homem ideal para a tarefa: furar o monopólio noticioso da CNN e fazer frente à ofensiva liberal lançada pela MSNBC poucos meses antes, tudo com um jornalismo que se tornou imediatamente sinónimo de Partido Republicano. Nascido em 1940 numa pequena cidade do estado do Ohio, mesmo no coração da gigantesca cintura industrial americana que é hoje um cemitério de ferrugem, Roger Ailes saiu da universidade com uma especialização em rádio e televisão. Ao mesmo tempo, dava os primeiros passos na profissão que faria dele uma das figuras mais polémicas dos Estados Unidos, como produtor no programa The Mike Douglas Show. Foi nos bastidores desse talk show, em 1967, que conheceu Richard Nixon, um candidato à Presidência que estava no auge da sua segunda vida após a derrota histórica chamada John Kennedy e antes da morte política chamada Watergate. Nixon ficou encantado com o jovem Ailes e convidou-o para trabalhar na campanha contra o representante do Partido Democrata, Hubert Humphrey. Nixon ganhou e Ailes também – a partir daí, o seu nome ficaria para sempre associado ao sucesso de candidatos do Partido Republicano, de Ronald Reagan a George Bush. A sua influência como especialista em comunicação nos 20 anos seguintes, entre 1968 e 1988, foi tal que o (agora) respeitado George Bush furou o silêncio com que muitos amigos receberam a morte de Roger Ailes e fez-lhe o maior elogio que um político pode fazer: "Ele não era perfeito, mas era meu amigo e eu gostava muito dele. Não tenho a certeza de que tivesse sido Presidente sem o seu grande talento e a sua ajuda sempre leal. Descansa em paz. "He wasn't perfect, but Roger Ailes was my friend & I loved him. Not sure I would have been President w/o his great talent, loyal help. RIP. É compreensível que George Bush lembre Roger Ailes na hora da morte. Ainda antes de ter deixado uma marca na forma como se começou a fazer jornalismo televisivo nos Estados Unidos com a Fox News, a influência de Ailes na política do país foi carimbada com um anúncio negativo que ainda hoje é visto como importante para a vitória de Bush em 1988 – a poucas semanas das eleições, os eleitores começaram a ver imagens de prisioneiros a entrar e a sair de uma prisão por uma porta giratória, e o candidato do Partido Democrata, Michael Dukakis, ficou gravado em muitas cabeças como o homem que iria deixar a América à mercê do tráfico de drogas e dos homicídios. Mas se Roger Ailes conseguiu esculpir a sua imagem no Mount Rushmore da política americana, foi tudo graças ao gigantesco cinzel que é a Fox News. Nas duas décadas entre 1996 e 2016, Ailes foi o homem forte da estação mais conservadora das grandes estações norte-americanas, resistindo a tudo incluindo aos ataques lançados pelos dois filhos do magnata Rupert Murdoch, James e Lachlan, nas suas batalhas para chegarem ao topo do império. Durante essas duas décadas, Murdoch só teve uma resposta para quem ia pondo em causa qualquer coisa que o seu amigo Ailes dizia ou fazia: "Deixem-no em paz, ele sabe o que está a fazer. " Mas foi também durante essas duas décadas – e, veio a saber-se mais tarde, desde os tempos daquele primeiro encontro com Richard Nixon, em 1967 – que Roger Ailes foi esculpindo a imagem com que muitos ficaram dele na quinta-feira passada: segundo os testemunhos de dezenas de mulheres, incluindo a estrela Megyn Kelly, o patrão da Fox News passou a vida a fazer comentários de conteúdo sexual e a exigir sexo em troca de trabalho às inúmeras mulheres que foram passando pelo seu gabinete. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O fim de Roger Ailes aconteceu em Julho de 2016, dez meses antes da sua morte física. Nesse mês, no dia 6, a ex-apresentadora da Fox Gretchen Carlson acusou-o de a ter demitido porque ela se recusara a fazer sexo, e ajudou a soltar dezenas de vozes que se tinham calado desde a década de 1960 – dias depois, outras seis mulheres revelaram as suas histórias de horror com o todo-poderoso patrão da Fox News, e poucas semanas depois já eram 25 os dedos acusatórios. Por mais admiração que Rupert Murdoch tivesse por ele, o escândalo das escutas ilegais nos tablóides ingleses, em 2011, e a ambição dos seus dois filhos, foram mais do que suficientes para que o divórcio entre os velhos amigos fosse tão inevitável quanto rápido – logo na primeira reacção pública, em Julho do ano passado, os patrões de Roger Ailes anunciaram que iam lançar uma investigação interna na Fox News. Sem o escândalo das escutas ilegais no Reino Unido (a que os Murdoch responderam com desmentidos e desvalorizações), talvez Ailes tivesse contado com mais apoio de Rupert Murdoch no seu último ano de vida. Mas não foi isso que aconteceu, e o homem a quem muitos chamam "monstro" teve de se contentar com uma saída pela porta pequena e uma reforma de 40 milhões de dólares. No final, a marca de Roger Ailes é tão incontestável quanto polémica. Há muito por onde escolher, mas na sua morte mesmo os mais próximos viram-se obrigados a acrescentarem um "mas". Seja pelas décadas de abusos sexuais, seja pelo jornalismo que incentivou e apoiou na Fox News, Ailes recebeu alguns dos obituários mais impiedosos de sempre, como o que foi escrito pelo jornalista Matt Taibbi: "Somos um povo cheio de ódio, paranóico, desconfiado, que não lê livros, colérico e que tem como principal passatempo insultar e ameaçar na Internet, e somos assim, em grande parte, por causa do ambiente mediático hiperdivisivo que ele descobriu. Ele nunca teve uma alma para vender, por isso vendeu as nossas. Aproveita a próxima vida, seu monstro. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte prisão ajuda homem sexo sexual mulheres assédio divórcio
Coldplay, Katy Perry e Bieber juntam-se a Ariana Grande no regresso a Manchester
Concerto marcado para domingo visa angariar fundos para as vítimas do atentado e as respectivas famílias. (...)

Coldplay, Katy Perry e Bieber juntam-se a Ariana Grande no regresso a Manchester
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Concerto marcado para domingo visa angariar fundos para as vítimas do atentado e as respectivas famílias.
TEXTO: Coldplay, Katy Perry e Justin Bieber são alguns dos artistas já confirmados que se juntam no próximo domingo a Ariana Grande para o One Love Manchester, um concerto de homenagem às vítimas do atentado de Manchester, que matou 22 pessoas e fez mais de 60 feridos a 22 de Maio, no final de espetáculo da cantora norte-americana. Depois de ter cancelado parte da digressão mundial, mantendo contudo agendado o espectáculo marcado para Lisboa, Ariana Grande tinha prometido regressar à cidade inglesa para um tributo às vítimas do ataque reivindicado pelo Daesh. “Não há nada que eu, ou alguém, possa fazer para aliviar ou fazer desaparecer a dor que estão a sentir”, afirmou a cantora, num comunicado divulgado na sexta-feira. “Vou regressar à incrivelmente corajosa cidade de Manchester para dedicar o meu tempo aos meus fãs e para um concerto de beneficência em honra das vítimas e as suas famílias e para angariar dinheiro para elas”, acrescentou. Será o campo de críquete de Old Trafford, em Manchester, com capacidade para 50 mil pessoas, a acolher o espectáculo já no próximo domingo, 4 de Junho. Outra mão cheia de artistas como Take That, Miley Cyrus, Pharrell Williams, Niall Horan (ex-One Direction) e Usher vão pisar o palco ao lado de Ariana Grande. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. pic. twitter. com/5lOxvyaslSO objectivo desta iniciativa, para além de prestar homenagens às vítimas, será angariar fundos destinados às mesmas e às respetivas famílias, pelo que o lucro da venda dos bilhetes reverterá a favor do fundo We Love Manchester. Quem esteve no concerto da cantora norte-americana no dia do ataque terá entradas oferecidas pela artista. O espetáculo será transmitido em directo pela televisão e rádio da BBC.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave campo ataque cantora
Oeiras: fim da linha para o SATU?
É uma obra de regime. Do regime autárquico de Isaltino Morais, que, há mais de uma década, sonhou trazer para Paço de Arcos, Oeiras, um sistema de transporte que descobriu em Sydney. A obra acumulou prejuízos em vez de passageiros. Os prejuízos foram mais de 40 milhões de euros (o que custou o Museu dos Coches). Isaltino queria que o SATU chegasse até ao Cacém, mas não chegou a sair de Paço de Arcos. Hoje, está ao abandono. Mas há quem queira ressuscitá-lo, como o grupo que hoje sai à rua para defender o projecto. (...)

Oeiras: fim da linha para o SATU?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: É uma obra de regime. Do regime autárquico de Isaltino Morais, que, há mais de uma década, sonhou trazer para Paço de Arcos, Oeiras, um sistema de transporte que descobriu em Sydney. A obra acumulou prejuízos em vez de passageiros. Os prejuízos foram mais de 40 milhões de euros (o que custou o Museu dos Coches). Isaltino queria que o SATU chegasse até ao Cacém, mas não chegou a sair de Paço de Arcos. Hoje, está ao abandono. Mas há quem queira ressuscitá-lo, como o grupo que hoje sai à rua para defender o projecto.
TEXTO: “Eu não desisti de SATU nenhum”. A garantia é do presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, que numa entrevista recente ao PÚBLICO anunciou que o sistema de transporte que apadrinhou há mais de dez anos pode vir a ser reactivado. Certo é que o projecto de mobilidade “do futuro” em Oeiras está preso a um passado de prejuízos. O SATU – acrónimo de Sistema Automático de Transporte Urbano –, que era um dos seus eixos mais polémicos, acabou abruptamente pouco mais de um quilómetro depois de ter começado. Hoje, é um mono de betão e metal que serpenteia por entre casas e prédios. As marcas de vandalismo e de abandono são indisfarçáveis naquela que foi “a menina dos olhos” de Isaltino. Na mesma conversa com o PÚBLICO, o presidente da Câmara diz ter ficado “surpreendido porque não havia lá guarda”, apontando o dedo à anterior gestão da autarquia, liderada pelo seu antigo “delfim”, Paulo Vistas, “que não salvaguardou devidamente aquele património”. Agora, para que o SATU volte aos carris, é preciso um novo investimento que recupere o que foi sendo destruído ou deixado ao abandono: “Foi desligado o ar condicionado onde havia equipamentos informáticos importantes, e ao longo da via houve roubo de material eléctrico”. O veículo não circula desde 2015 e a empresa que o fabricava também faliu. Ainda assim, Isaltino Morais garante que está a “estudar a hipótese de repor o SATU”, depois das suas promessas eleitorais que prometiam a reposição “prioritária” do sistema. Mas o transporte pode não ser exactamente como era, isto porque o grupo de trabalho criado pela autarquia vai estudar “outras hipóteses”, que podem passar por “um eléctrico rápido”. A ideia do SATU surgiu depois de o actual presidente da Câmara Municipal de Oeiras ter viajado até Sydney, onde conheceu o Sydney Monorail, a inspiração que por cá prometia melhorar a mobilidade no interior do concelho para residentes e para quem trabalha nos parques tecnológicos aí localizados. A obra foi pensada por Isaltino Morais para ligar Paço de Arcos, na Linha de Cascais, ao Cacém, na Linha de Sintra. Com o sistema obsoleto e, segundo a autarquia, a não poder ser colocado novamente a funcionar sem obras de fundo, o autarca prometeu uma solução alternativa e temporária: uma espécie de “vaivém”, assegurado por autocarros, para estabelecer a ligação até aos parques empresariais, como o Lagoas Park e o Tagus Park. A ideia de Isaltino Morais de criar um novo sistema de transporte parte também da falta de alternativas para os trabalhadores daqueles parques empresariais, que não têm um sistema de transporte próprio para os seus funcionários se deslocarem, apesar dos milhares que diariamente viajam para esses pólos. Para o professor do Instituto Superior Técnico Fernando Nunes da Silva, a ligação entre as linhas de Sintra e Cascais é “justificada”, mas entende que “é fundamental o transporte chegar ao Cacém para ser viável”, e que, através de cabo como estava a ser construído, o SATU “não é exequível do ponto de vista técnico”. Ao P2, este especialista, que tem com um vasto trabalho na área dos transportes, diz que Isaltino só avançou para este projecto “porque no final da década de 90 a Câmara de Sintra saiu de uma eventual candidatura conjunta a fundos comunitários que estava a ser preparada”. Existiam planos comuns das autarquias de Cascais, Oeiras, Amadora e Sintra para criar novas redes de transportes que resolvessem os problemas de mobilidade nestes concelhos. Mas a então autarca de Sintra, Edite Estrela (PS), “não esteve de acordo e o plano ficou sem efeito”, um recuo que, para o especialista, é “ainda hoje difícil de perceber”. Em relação à obra que foi construída, Nunes da Silva garante que “demolir a infraestrutura do SATU custaria uns milhões de euros”. O engenheiro assegura ainda que “não é justificável gastar milhões de euros a demolir uma infraestrutura que pode ter outro aproveitamento”, e sugere que o próximo modelo de transporte escolhido siga em via exclusiva criada pelo viaduto já construído, “pelo menos até passar a auto-estrada (A5)”. Ainda assim, o especialista em transportes deseja que “Isaltino Morais não tome a decisão já amanhã”, porque são necessários estudos e “não se pode cair de novo no mesmo erro” do SATU. Diz ainda, em tom de brincadeira com a situação existente, que “quem demora hoje 45 minutos para ir do Taguspark ao nó da auto-estrada se fosse a pé chegava lá primeiro”. Os parques empresariais em Oeiras e aquelas zonas urbanas “foram planeadas sem se pensar em transportes, o que é igual a dizer ‘para virem para aqui têm de vir de carro’”. Quem o diz é Rosário Macário, especialista em transportes e também professora no Instituto Superior Técnico. Ao P2, a especialista em transportes é peremptória: o SATU é “claramente inviável: percurso curto, procura baixíssima e um preço muito elevado”. Os três factores combinados, diz, resultaram no fracasso do projecto. A propósito do sistema de mobilidade escolhido, Rosário Macário diz que “há muitas tecnologias disponíveis, mas a viabilidade não é uma coisa inerente à tecnologia mas, sim, ao contexto onde a tecnologia é aplicada”. Como o sistema do SATU nunca passou além dos 1150 metros, criou-se “a ideia entre a população de que era uma experiência piloto”. Ano após ano, o sistema foi perdendo a (já pouca) procura que tinha. “No início, houve um conjunto de curiosos que deixaram de ser curiosos quando perceberam que o SATU não se encaixava nas suas rotinas”, justifica a especialista em transportes. Para Macário, “partir para a construção sem estudos [como aconteceu quando Isaltino decidiu iniciar o processo na Câmara de Oeiras] não é normal”. Assim como “também não é normal não se fazer um concurso público para uma obra deste tipo”, como aconteceu. Em 2015, o bilhete de ida e volta para viajar de SATU da estação de Paço de Arcos ao centro comercial Oeiras Parque custava 1, 65 euros (mais 15 cêntimos do que na abertura, em 2004). O percurso fazia-se em menos de cinco minutos, uma opção cara para o percurso construído. A necessidade de comprar um cartão recarregável, que não era compatível com nenhum outro meio de transporte, e a inexistência de um passe mensal fizeram do SATU um “sistema ilha”, sem ligação com o resto dos transportes do concelho. Para quem faz o percurso entre o Oeiras Parque e a estação de Paço de Arcos (percurso até onde chegou a ser construída a estrutura), não passa despercebido o viaduto em betão, com longas torres, como se de uma barreira se tratasse. “Evidentemente que causa poluição visual”, explica ao P2 um arquitecto paisagista, que prefere não ser identificado e que chegou a ser passageiro do SATU. “Custa-me mais porque esse mal não é um mal menor, porque não é um bem maior, ou seja, não presta um serviço efectivo, não tem uma mais-valia técnica como transporte”. Para este profissional – que faz parte da Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas – a escolha de um comboio não tripulado “é uma opção muito mais política do que técnica”. Caso lhe fosse pedido um parecer sobre a obra, o arquitecto paisagista diria que à partida o SATU não seria um projecto viável, considerando “que não era a opção mais interessante”, embora fosse necessário “ver quais as alternativas em cima da mesa”. Questionado sobre o que fazer àquela estrutura, caso continue abandonada e desactivada, o arquitecto paisagista não vê outra alternativa que não seja a demolição, apesar de ser receptivo a outras ideias. ”Votei no Isaltino para ele acabar o SATU”A rua Joaquim Quirino, em Paço de Arcos, a menos de dez minutos a pé do centro comercial Oeiras Parque, é uma das várias artérias onde surgem as grandes torres que suportam a estrutura do SATU. Os moradores com quem o P2 falou não se sentem incomodados com elas. Não lhes importa que aquela estrutura permaneça ali, como se já fosse natural na paisagem. Inês e Carlota, duas jovens, descem a rua que vai do centro comercial em direcção à estação de Paço de Arcos. Chegaram a utilizar o SATU e afirmam que hoje só voltariam a fazê-lo caso “os preços fossem mais acessíveis”. “É um sistema muito giro e o Isaltino podia ser esperto e pôr isto mais barato que isto andava”, afirma Inês, enquanto empurra um carrinho de bebé rua abaixo. Uma redução do custo dos bilhetes face ao preço que era pago quando o SATU ainda estava activo é o factor mais apontado pelos moradores. Joaquim está sentado num banco de jardim e nunca chegou a andar no SATU. Hoje diz que “se estivesse a funcionar experimentava, mas só se fosse mais barato”. O morador da rua Joaquim Quirino revela que o transporte não fazia ruído quando ainda estava activo, e sublinha que “para as pessoas mais idosas até era bom!”. Mas também há opiniões em sentido contrário. “O SATU é um monstro autêntico, um caos, um disparate do ponto de vista paisagístico”, aponta outro morador, Manuel, que diz que aquele transporte “era útil”, mas reconhece que é “absurdo” pagar o preço que se pagava pelos bilhetes. “Fechou porque não se justificava para um percurso tão pequeno e tão caro”. Questionado sobre se a solução seria destruir toda a estrutura, Manuel responde categoricamente: “Deitar abaixo? Já pensou em quanto é que isso custava?”Hermínia e Roselhe caminham pela rua lado a lado, enquanto dizem que o SATU “era uma obra muito boa se continuasse”. Uma delas afirma: “Eu votei no Isaltino para ele acabar o SATU”. Sendo moradoras de uma rua ao lado, a estrutura não as incomoda, e dizem que não ouviam ruído quando o SATU ainda funcionava. “Não tinha muita adesão porque era caro. Mas é uma alternativa para desafogar o trânsito nas horas de ponta” que ali se acumula todos os dias, dizem. A construção do SATU também influenciou a venda de habitações na zona. De acordo com um consultor imobiliário contactado pelo P2, “o SATU prejudica um bocadinho, mas não é por isso que as pessoas deixaram de comprar casas” nas imediações. A mesma fonte fala num condomínio que vendeu na zona há poucos dias e revela que, por causa do SATU, houve dificuldades em vendê-lo. “Com as mesmas características, vender-se-ia por mais 30 ou 40 mil euros se não tivesse o SATU”, revela. Apesar de a construção da obra ter influenciado a venda de habitações, o consultor imobiliário diz que nesta altura “as casas valorizam em todo o lado”. As últimas eleições autárquicas tiveram no regresso do “dinossauro autárquico” Isaltino Morais um dos principais focos de atenção. Somando quase um quarto de século à frente da Câmara Municipal de Oeiras, o ex-presidente voltaria a ganhar as eleições no concelho em Outubro de 2017. Isaltino encontrava-se isolado na reposição do SATU como objectivo de mandato, tendo sido inclusive o único, dos vários candidatos autárquicos a Oeiras, a defender que a “sua” obra era para continuar. O anterior presidente, Paulo Vistas, que antes esteve ao lado de Isaltino, dizia então à agência Lusa que reactivar o SATU era criar um “buraco sem fundo”. O P2 falou com alguns elementos da oposição no Município de Oeiras, dois deles adversários de Isaltino nas eleições, e que ficaram como vereadores na autarquia: Joaquim Raposo, candidato pelo PS, e Heloísa Apolónia, candidata da CDU. Para Joaquim Raposo, “o SATU era a menina dos olhos de Isaltino, mas o certo é que a menina não cresceu”. O vereador defende que aquele é um “sistema falhado, que não faz sentido” e que “quando as coisas falham, não vale a pena insistir naquilo que falhou”. Apesar disso, Joaquim Raposo entende que é importante encontrar uma “forma alternativa” que ligue a linha de Cascais à linha de Sintra. Ainda na campanha autárquica, a proposta do candidato socialista consistia num metrobus, como o que foi proposto pelo Governo para Coimbra em substituição do Metro Mondego. Na prática, tratar-se-ia de um sistema de autocarros que circulam numa via dedicada com prioridade de passagem em cruzamentos. Sobre o SATU, Raposo defendia, e ainda defende, um referendo local, sendo que considera apenas duas soluções: “É preciso envolver a população, perguntar o que quer. Caso o SATU não funcione mais, é preciso perguntar se, por um lado, as pessoas estão dispostas a suportar os custos da demolição, ou então realizar um concurso de ideias para fazer um aproveitamento daquela estrutura”. Raposo sublinha que, como está, o SATU é um “verdadeiro atentado visual e uma desvalorização do património”. Heloísa Apolónia, também vereadora sem pelouros eleita pela CDU, diz ao P2 que o SATU não passa de uma “teimosia de Isaltino”. Para a deputada dos Verdes, “este projecto não serve os interesses de Oeiras” e “continuar com ele era continuar a insistir nos prejuízos”. À semelhança de Joaquim Raposo, Heloísa Apolónia entende que, ainda assim, “é essencial ligar a Linha de Cascais à de Sintra”, mas que o SATU “é um modelo de mobilidade que não serve”. Daniel Branco, membro da Assembleia Municipal de Oeiras, eleito também pela CDU, adianta que as respostas dadas aos deputados municipais eram no sentido de “não ser possível reiniciar o processo do SATU porque a estrutura estava vandalizada”. O engenheiro diz ainda que, caso o projecto tivesse conhecido uma fase mais avançada, “o percurso entre Paço de Arcos e o Cacém duraria entre 35 a 40 minutos, sendo que lugares os sentados no SATU eram oito”. Por isso questiona: “Já viram o que era fazer todo esse percurso de pé?” Para Daniel Branco, aquele transporte “era uma solução tecnicamente má”, e “não é por grande parte do dinheiro da obra poder vir de fundos comunitários que se tornaria boa. ”Em Abril de 2015, o Governo liderado por Pedro Passos Coelho deu ordens para extinguir todas as empresas públicas que acumulavam prejuízos há três anos consecutivos. Era o caso da SATUOeiras, que geria o sistema. Foi nessa altura que surgiu uma página de Facebook de defesa de um transporte que fizesse a ligação entre Paço de Arcos e o Cacém, como estava inicialmente projectado. A página “METRO Oeiras Paço de Arcos - Cacém/Sintra” já não defende directamente a reactivação do SATU, como contaram ao P2 as duas administradoras do site, Teresa Dávila Soares e Maria José Capela. “O que é inconcebível para nós é não haver em Oeiras uma rede viável de transportes públicos. O que existe é o monopólio da Vimeca, que pratica preços exorbitantes”. As antigas utilizadoras do SATU são assertivas na hora de apontar o que falha, falando numa “política intencional dos Governos de desfavorecimento” e que “todos os investimentos no país são em estradas, autoestradas e PPP. ”A “grande falta de informação” sobre o funcionamento do sistema é apontada pelas administradoras da página como o principal motivo pelo qual o SATU, nos anos em que esteve activo, registou pouca adesão por parte da população, recusando assim que o baixo número de utilizadores se devesse directamente ao modo de transporte em si ou ao preço dos bilhetes. “As pessoas nem sonhavam. Não foram informadas, nem sabiam dos preços”, dizem as duas representantes da página, questionando-se também: “É lógico que só houvesse uma média de 500 passageiros por dia. . . Se o SATU não chegava mais longe, como é que podia ir buscar as pessoas?”Sobre relatos de ruído e poluição visual de alguns moradores, Teresa Dávila Soares afirma que “isso é tudo fumaça para tapar”, alertando para os interesses que estão por detrás da decisão de pôr fim ao projecto do SATU. “O empresário político está perfeitamente estabelecido aqui, e existe um lobby muito forte das estradas e dos carros”. Além disso, “ninguém se dedicou ao SATU, foi ignorado e desprezado”. Para as duas antigas passageiras “uma estrutura leve, barata, rápida e ecológica não interessa a ninguém, porque quem ganharia com isso seriam os contribuintes”. Oeiras “não pagou um cêntimo”Quando o SATU foi inaugurado, em 2004, pela então presidente Teresa Zambujo (uma vez que Isaltino saiu da Câmara para integrar o Governo de Durão Barroso), havia promessas de que poucos meses depois se iniciaria a segunda fase da construção que levaria o transporte até ao Lagoas Park. Nos mapas das estações, era deixada a promessa de que a nova fase estaria pronta “a partir de 2005”. As obras nunca foram para o terreno e a construção do viaduto do SATU terminaria pouco depois da estação que servia o centro comercial Oeiras Parque. A empresa SATUOeiras, que geria o sistema, resulta de uma parceria entre a autarquia e a Teixeira Duarte (que detinha uma participação de 49%, sendo os restantes 51% da Câmara de Oeiras). O sistema pertence agora na totalidade ao município, que o comprou à construtora por um valor simbólico de dois euros (as infraestruturas, equipamentos fixos e circulantes custaram um euro e os inventários o mesmo valor). Inicialmente, a Teixeira Duarte tinha investido 23 milhões de euros para que a obra saísse do papel e, no fim, ficou com os prejuízos. O interesse inicial da construtora era levar o projecto até ao Lagoas Park, que detém, como forma de valorização imobiliária. Uma obra obsoletaIsaltino Morais garantiu ao PÚBLICO, como noutras ocasiões, que Oeiras “nunca pagou um euro”, tendo a Teixeira Duarte ficado com a fatia dos prejuízos, que rondam os 42 milhões de euros. “O que correu mal foi o Governo não ter tido visão”, disse o autarca. Para a câmara, defendeu Isaltino, era até um bom negócio: “Se houve parceria público-privada em Portugal que defendeu o interesse público, o SATU foi a única”. Contactada pelo P2, a Teixeira Duarte afirmou que a empresa “não tem qualquer comentário a fazer sobre este tema”. A candidatura a fundos europeus chegou a ser várias vezes ponderada, a última delas ao quadro europeu 2014-2020, no âmbito do “Plano Estratégico dos Transportes e Infraestruturas PETI 3+”, mas nunca chegou à fase de concretização. Ao Tribunal de Contas, a Câmara de Oeiras dizia que “o desenvolvimento do Sistema SATU encontra-se fortemente dependente da disponibilidade de financiamento comunitário para a sua execução”. Os custos de manutenção do SATU rondavam os 40 mil euros mensais, o sistema contava ainda com um seguro, necessário para o seu funcionamento, e que chegou a rondar os 25 mil euros anuais. O SATU esteve activo durante pouco mais de dez anos e os números mostram que se registavam pouco mais de 500 utentes por dia e que, com o passar dos anos, eram cada vez menos os que optavam por este meio de transporte. As três estações que foram construídas estão actualmente fechadas, com marcas de vandalismo como vidros rachados e grafitis, conservando ainda equipamentos no seu interior, como as máquinas de bilhetes. Nas portas, encontram-se ainda afixados editais, datados de 4 de Maio de 2015, assinados pelo ex-presidente da Câmara, Paulo Vistas, que marcava como data da morte do SATU o último dia desse mês. Este modelo de transporte é pouco comum na Europa. Curiosamente, o Sydney Monorail, transporte automático que Isaltino decidiu copiar numa viagem à Austrália, fechou em 2013 e foi desmantelado – o que não aconteceu com o fecho do SATU, a 31 de Maio de 2015. Num artigo de então, o The Daily Telegraph escrevia que o monorail de Sydney “era considerado feio e intrusivo”, e que era “um dos sistemas de transporte público mais dispendiosos do mundo”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para este domingo, 3 de Junho, está agendado um encontro organizado pela página de Facebook “METRO Oeiras Paço de Arcos - Cacém/Sintra”, no jardim de Paço de Arcos, para reivindicar um transporte que ligue as Linhas de Cascais e Sintra, e que não seja “sobre rodas”. Na convocatória do encontro partilhada na mesma rede social pode ler-se que a intenção é lutar “pelo SATU ou outro monotrilho (sic)”. “Em princípio, Isaltino estará presente”, adiantam ao P2 as administradoras Teresa Dávila Soares e Maria José Capela. Esta é também uma forma de pressão numa altura em que se desenvolvem estudos sobre o futuro do SATU, mas uma coisa parece certa: caso a solução apresentada não passe pela utilização do viaduto já construído, surge ainda um problema maior por resolver: o que fazer com a grande estrutura de betão que, sem utilização e manutenção, poderá vir a tornar-se perigosa. com João Pedro Pincha
REFERÊNCIAS:
Fernando Guedes (1930-2018): Os legados do grande senhor do vinho português
Visionário, empresário que criou as bases de uma das principais multinacionais portuguesas, guru de marcas icónicas como o Barca Velha, Fernando Guedes morreu nesta quarta-feira aos 87 anos. Ao lado da memória cheia de sucessos, o criador da Sogrape moderna deixa como legado a prova de que, nos negócios, os valores e a tradição resultam. (...)

Fernando Guedes (1930-2018): Os legados do grande senhor do vinho português
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.8
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Visionário, empresário que criou as bases de uma das principais multinacionais portuguesas, guru de marcas icónicas como o Barca Velha, Fernando Guedes morreu nesta quarta-feira aos 87 anos. Ao lado da memória cheia de sucessos, o criador da Sogrape moderna deixa como legado a prova de que, nos negócios, os valores e a tradição resultam.
TEXTO: Se havia um momento nas rotinas de Fernando Guedes que lhe davam especial prazer era quando passava pelas salas de provas, quando tinha de caminhar pela imensidão das vinhas da Sogrape, quando se sentava numa mesa com copos, garrafas, enólogos, amigos e familiares. O vinho sempre foi a sua paixão e por sorte e mérito, ele usou-a para criar um gigante empresarial. Adegas como a da Quinta do Cavarnelho, perto de Vila Real, onde durante décadas se fez o Mateus Rosé, eram os seus “primeiros amores” e cada grande vinho que a empresa produzia tornava-se como que um degrau que erguia o seu destino e dava sentido ao caminho iniciado pelo pai em 1942. Fernando Guedes morreu nesta quarta-feira no Porto (o seu funeral é quinta-feira, às 15h00, com partida da Igreja do Foco). Tinha 87 anos feitos em Dezembro. Não deixou à família e ao país apenas a sua maior e mais importante empresa de vinhos, que vende mais de duas garrafas por segundo em todo o mundo e factura mais de 215 milhões de euros com operações em três continentes: deixou também uma forma de estar. Que orgulhosamente revelava através de um vinho produzido em sua homenagem numa vinha velhíssima do Douro: o Legado. Filho mais velho de uma família ligada ao vinho e aos círculos da alta burguesia portuense, Fernando Guedes nasceu na Quinta da Aveleda, hoje propriedade de outro ramo da família, em 1930. Doze anos mais tarde, o seu pai, Fernando Van Zeller Guedes iniciaria um negócio que mudaria a história da família e do vinho português. Depois de 20 anos a trabalhar na Martinez Gassiot, uma empresa de vinho do Porto, Fernando reuniu 16 amigos em torno de uma mesa que juntaram 625 contos para criar a Sogrape. Na verdade, nunca gostara do negócio do vinho do Porto e, com a ajuda de um enólogo francês, Eugène Hellis, tinha na mente um projecto mirabolante para criar um rosé, frutado e leve, metido numa garrafa que fazia lembrar um cantil da tropa. O Mateus Rosé nasceria logo a seguir, no auge da II Guerra Mundial. Ainda hoje é a principal marca portuguesa no mundo. Fernando Guedes seguiria o percurso convencional dos rapazes da elite portuense (com uma passagem obrigatória pelo colégio jesuíta das Caldinhas, em Santo Tirso). Quando chega o momento de entrar na universidade, tenta a sorte na Faculdade de Economia de Lisboa. Não correu bem. Em 1952 pede ao pai para trabalhar na Sogrape e o pai faz-lhe a vontade: “Fui trabalhar como aprendiz de tanoeiro”, recordaria mais tarde. Mas por pouco tempo – três anos apenas. Com a Sogrape a crescer a grande velocidade, Fernando Van Zeller Guedes tinha outras ambições para o seu filho e enviou-o para Dijon, onde se diplomou em enologia – foi um dos três primeiros portugueses a licenciar-se nesta disciplina. Na rigidez e na austeridade dos valores do capitalismo portuense, Fernando tinha de fazer pela vida para singrar na empresa “As pessoas da família devem exercer funções pelos seus méritos e não por herança”, diria mais tarde, numa receita que aplicaria aos seus filhos. Para sua sorte, havia muito por onde mostrar competência. Em 1957, Fernando torna-se director-geral da produção. O Mateus Rosé crescia a um ritmo vertiginoso. Nos anos de 1960, tornara-se um ícone mundial, seja nas mochilas das tropas americanas na Guerra do Vietname, seja nas mesas de estrelas pop como Elton John ou em momentos associados à cultura hippie – como numa foto de Jimmy Hendrix bebendo Mateus Rosé pelo gargalo com uma rapariga loura ao seu colo. Nos anos de 1970, a Sogrape vendia por ano mais de 50 milhões de garrafas de Mateus Rosé em todo o mundo. Em 1969 Fernando Van Zeller Guedes tomara a decisão de se reformar. Fernando Guedes, que até então acompanhara a produção, dera uma espreitada nos mercados e seguira de perto os investimentos em novas adegas da Sogrape (as empreitadas sempre o atraíram), sobe à administração. Mais devotado ao vinho do que ao marketing ou ao departamento comercial, Fernando não muda, porém, o legado do pai. Artur Santos Silva conheceu-o por esta altura, quando trabalhava no BPA e a Sogrape se tinha tornado “numa das maiores exportadoras, um cliente desejado por toda a gente”. Recorda-se de ter “ficado muito impressionado com a sua energia”. Fernando Guedes mantinha a aposta no Mateus, “mas procurava também investir na produção de vinho de qualidade”. Na calha estava o nascimento da Vinícola do Vale do Dão, que produziria o famoso Dão Pipas. Não era apenas a dinâmica empresarial da Sogrape que causava admiração na banca ou nos pares dos negócios portuenses da época. “O ambiente que se vivia na empresa surpreendeu-me”, recorda Artur Santos Silva. “Toda a gente era bem tratada. Sentia-se um espírito de família. Havia até um espaço na Avenida da Boavista onde os reformados se encontravam”, invoca o fundador do BPI. Esse ambiente, acrescenta, foi fundamental para que a Sogrape passasse incólume a tempestade das nacionalizações que se seguiu ao 25 de Abril. Os trabalhadores permaneceram ao lado da administração contra as ingerências sindicais. Com o Mateus sempre de vento em popa, a Sogrape torna-se uma estrela mundial do sector dos vinhos, começa a ser cobiçada e o pacto entre os accionistas treme. No começo dos anos 80, havia quem quisesse vender a companhia à multinacional Whitbread. O Governo de Francisco Sá Carneiro intervém e declara a Sogrape um activo estratégico do país. O consenso reestabelece-se. Os três ramos familiares que controlavam a Sogrape (os Guedes, maioritários, os Carmo e os Gastão da Silva) permanecem unidos. A estabilização do país e a entrada na CEE inspiram novos voos. A histórica A. A. Ferreira estava à venda e Fernando Guedes decide ir a jogo. “Era uma oportunidade para entrar no negócio do vinho do Porto e ficar com marcas de qualidade superior, como o Barca Velha ou o Reserva Especial”, recorda Artur Santos Silva. Numa concorrência directa com a Sandeman e a Cockburn´s, duas multinacionais, a Sogrape ganhou. Francisco Olazabal, administrador e accionista da Ferreira, dirigiu a operação de venda dos herdeiros da Ferreirinha, foi convidado a permanecer na equipa e recorda com gratidão a forma como Fernando Guedes integrou a empresa familiar na já colossal Sogrape. “Fez-se tudo com muito respeito pelas pessoas e pela identidade da empresa”, nota Olazabal. O gestor ficaria na Sogrape durante 11 anos, assumindo cargos de administração, e a experiência deixou-lhe “óptimas recordações”. Fernando Guedes “era uma pessoa de grandes qualidades pessoais e humanas, tinha um excelente coração”. Nos últimos anos, sempre que visitava a Ferreira, Fernando Guedes ocupava um gabinete com uma magnífica vista para a Ribeira do Porto que outrora fora de Olazabal. “Mas sempre que eu o visitava ele levantava-se e dizia-me: ‘Sente-se que o lugar é seu’. Isto diz muito sobre a sua sensibilidade”, nota Francisco Olazabal, que em 1998 deixou a Sogrape para lançar o seu projecto pessoal de vinhos na Quinta do Vale Meão. A abertura a Europa foi um período de euforia para os empresários nortenhos e Fernando Guedes não lhe escapou. Em 1981 torna-se accionista da Sociedade Portuguesa de Investimentos, o embrião do futuro BPI. Esteve sempre ao lado de Artur Santos Silva nas duras batalhas pela posse do Banco Comércio e Indústria ou nas disputas que o banco emergente teve de travar. “Em todos os passos foi sempre um homem de carácter íntegro, de uma lealdade exemplar, de uma palavra de ouro. Nunca houve uma surpresa na palavra dele”, diz Artur Santos Silva. Mais tarde, a Sogrape integra o núcleo duro da Viacer (com a família Violas e a Arsopi) que vence a privatização da Unicer, em 1989 e 1990. E a diversificação, em moda na economia empresarial dos anos de 1990, chega ao imobiliário. Em breve, porém, a Sogrape treme com a dispersão e com o esforço financeiro feito na compra da Quinta dos Carvalhais, no Dão, em 1988, e da enorme Herdade do Peso, no Alentejo, no ano seguinte. Era necessário repensar tudo de novo e estabelecer prioridades. Fernando Guedes, porém, não tem dúvidas do caminho que deve seguir: vender tudo e dedicar-se ao negócio que conhece, que domina e no qual acredita: o vinho. Na segunda metade dos anos de 1990 a empresa volta a assumir a sua condição de liderança no sector português do vinho. Fernando Guedes tinha trunfos para acreditar no regresso à essência da Sogrape: reunia a visão ousada do pai, a sua experiência como gestor e um conhecimento íntimo do produto. “Ele evoluiu de enólogo para empresário”, diz José Maria Soares Franco, enólogo da casa Ferreira durante 18 anos, o que lhe permitia ter uma visão transversal do negócio. Mas nessa visão havia a sabedoria e sensatez próprias de quem “sabe que não pode fazer tudo sozinho”. No seu dia-a-dia, “ele reunia com as equipas, confiava nas pessoas e sabia dialogar, tudo sinais de inteligência e bom senso”, diz José Maria Soares Franco. Ainda hoje a Sogrape reúne uma equipa de enólogos e de gestores de classe internacional. Sob a sua égide, a retracção dos mercados mundiais do Mateus foi compensada pelo lançamento de marcas de sucesso como a Planalto ou a Esteva, ambas da Ferreirinha. Os Barca Velha reforçam o estatuto de vinho icónico do país. E, com o músculo financeiro da alienação da Unicer e da participação de 4% no BPI, havia liquidez para outros voos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A segunda metade dos anos 90 foi auspiciosa. Fernando Guedes tem já ao seu lado o filho Salvador para desenhar novas fronteiras para a empresa. Uma vaga de aquisições e de investimentos está em curso. Em 1995 a Sogrape compra a Offley Forrester. Tenta, sem sucesso, controlar a Aveleda, dos primos. Em 2001, o gigante do vinho do Porto Sandeman passa para mãos portuguesas. Motivado pela energia da nova geração, Fernando Guedes convence-se que Portugal é um país demasiado pequeno para as ambições da Sogrape. Sob a égide da terceira geração da família, a Sogrape aventura-se além-mar. Na Argentina adquire a Finca Flichman, em 1997; na Nova Zelândia compra a Framingham, em 2007; no Chile assume o controlo, no ano seguinte, de Los Bodos; na Espanha compra a LAN, em 2012 e, já este ano, a Bodegas Aura. O mercado nacional vale hoje um quarto dos negócios da Sogrape, talvez a maior empresa multinacional de capital português. Todos estes movimentos foram feitos numa altura em que Salvador Guedes comandava as operações e Fernando Guedes se remetia ao conforto de saber que as novas gerações da família podiam fazer o que ele fez: reforçar o legado. Podia por isso gozar a sua reforma, um gozo que contemplava idas diárias a adegas, a vinhas ou às salas da administração. Podia confessar: “Faço hoje um balanço positivo da minha vida. Desde logo sob o ponto de vista familiar, pelo respeito, pela amizade e pela educação que eu e minha mulher conseguimos transmitir aos nossos filhos”. Salvador era o exemplo dessa cultura e educação e, mesmo mantendo a cultura básica da empresa, mudou o perfil da Sogrape introduzindo-lhe cosmopolitismo e sofisticação até que uma Esclerose Lateral Amiotrófica lhe travou a carreira. Em 2015, é o irmão Fernando que, depois de uma carreira na banca, o substitui, com a promessa de manter o legado do avô, do pai e do irmão sem deixar de introduzir na gestão uma maior focagem em marcas líderes. A quarta geração está, entretanto, a crescer no seio da empresa. Mafalda, filha de Salvador, estudou gestão e enologia e a sua entrada na Sogrape foi uma nova felicidade para Fernando Guedes. “Tenho imenso gosto em ver a nova geração interessada na Sogrape. A Mafalda está cá a fazer o que faz porque quer”, dizia Fernando Guedes ao PÚBLICO, em 2012. Se “legado é continuação”, Mafalda dispõe-se a garanti-la. Eleito pela imprensa especializada como o grande Senhor do Vinho português, admirado pelos seus pares como uma “figura de grande relevância e um dos maiores empresários portugueses das últimas décadas”, como reconhece uma nota da Associação Empresarial de Portugal, Fernando Guedes encarava os negócios como um assunto de cavalheiros, impregnado de uma ambição que não dispensa a tradição, os valores, a lealdade ou a paixão. “Costumo dizer que os accionistas a quem só o dividendo interessa não se sentirão muito bem na Sogrape. Porque a nossa aposta na criação de valor visa, acima de tudo, fazer crescer o negócio e valorizar o património humano. Sempre fomos assim: é uma questão de educação e de cultura”, notava. Esta quarta-feira, Portugal perdeu uma das suas referências.
REFERÊNCIAS:
A Economia que foi “extraterrestre” e começa a Circular por aí
O que têm em comum o Repair Café e a Vintage for a Cause? São dois projectos de Economia Circular, uma ideia que está a entrar na agenda política. O futuro é reciclável? (...)

A Economia que foi “extraterrestre” e começa a Circular por aí
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: O que têm em comum o Repair Café e a Vintage for a Cause? São dois projectos de Economia Circular, uma ideia que está a entrar na agenda política. O futuro é reciclável?
TEXTO: Quando se mudou para o Porto, a designer de moda Marisa Escaleira sentiu falta da oficina lisboeta onde tinha posto em prática a sua visão circular da economia. Tinha participado em algumas iniciativas do Repair Café, um projecto de eventos públicos onde se dá nova vida a objectos encostados, e a ideia de o levar a outras geografias não lhe saía da cabeça. Assim nasceu o desafio feito a Lindsey Wuisan, a holandesa que trouxe o conceito para Portugal: e se o projecto viajasse 300 quilómetros para Norte?Podem ser móveis, aparelhos electrónicos, bicicletas, roupa. A reparação é feita por voluntários — a quem leva objectos pede-se um donativo —, mas o objectivo não é depositar a peça e ir buscá-la mais tarde. “São convidados a aprender, a conhecer as máquinas, até a produzir uma peça para ajudar a reparar se for caso disso”, explica Marisa Escaleira, que ao lado da economista Ana Coelho coordena o Repair Café no Porto. As sessões acontecem quase sempre no OPO’ Lab — um laboratório de arquitectura e design onde se trata a economia circular por "tu" — e o próximo evento já tem data marcada: 28 de Abril. No enorme armazém da Rua D. João IV fomenta-se um sentido de comunidade e partilha. E deixa-se sempre um aviso prévio: o conserto não está garantido uma vez que não há profissionais envolvidos. Num dos eventos do Repair Café uma senhora ficou tão satisfeita por ver a sua torradeira a funcionar de novo que foi buscar pão e manteiga e fez torradas para todos. Além disso, acrescenta Marisa, ao verem um objecto ser desconstruído as pessoas percebem melhor o seu valor. Talvez pensem duas vezes antes de deitarem o próximo para o lixo quando houver alguma avaria. O mantra está enraizado um pouco por todo o lado. Extrair, transformar, usar e deitar fora. Extrair, transformar, usar e deitar fora. Vezes e vezes sem conta. Mas com um fim anunciado. E o que faremos quando os recursos se esgotarem? A questão tem ocupado linhas infindas em publicações nacionais e internacionais e preocupa cidadãos e governos um pouco por toda a geografia mundial. O modelo económico linear tornou-se incompatível com o nosso planeta — e as consequências da sua vigência já são evidentes. A mudança é difícil e lenta. Mas o movimento existe. Em forma de círculo: produzir e consumir para depois reciclar, reparar ou reutilizar. Vezes e vezes sem conta, sem fim à vista. Será a economia circular a resposta para o futuro?Corria o ano de 2012 quando o Manifesto para uma Europa Eficiente em Recursos se dava a conhecer e punha o conceito de economia circular a correr dentro da Comissão Europeia com promessas de crescimento económico e nascimento de novos negócios. Mas só no final de 2015, o Pacote Europeu para a Economia Circular colocava o plano em velocidade cruzeiro. Em Portugal, resume o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, o “acumular de evidências” de que o modelo socioeconómico actual “não é compatível com as fronteiras físicas impostas pelo nosso sistema natural” deram origem a um Plano de Acção para a Economia Circular. Corria Novembro de 2017. Não é uma missão simples. Para que possa apresentar-se como uma “solução circular”, a resposta tem de ter em conta “todo o modelo de negócio”, com uma “articulação simultânea dos vários agentes”, sublinha o ministro numa entrevista por e-mail. Usando uma imagem gráfica, dir-se-ia que para erguer uma economia circular não basta “pegar nas pontas da economia linear e unir”, explica: “Isso é limitar o potencial que um verdadeiro sistema de valor, a funcionar em pleno, nos pode dar. ”Há trabalho a fazer em quase todos os sectores. Mas o Governo identificou algumas apostas prioritárias: a construção, o turismo, o têxtil, o calçado. E também o retalho e a distribuição. A ideia, em traços simples, é que, depois de utilizados, os recursos sejam devolvidos ao sistema, diminuindo o desperdício e criando um ciclo. Há cada vez mais pessoas e projectos a alinhar neste modelo antidesperdício. Mas uma mudança efectiva implica o nascimento de um novo paradigma. Um outro alinhamento de prioridades. E valerá o esforço?Um estudo apresentado recentemente põe a resposta em números. Em 2015, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas, foram eliminados 1, 1 milhões de toneladas de resíduos não urbanos em Portugal. Agora faça-se um exercício de imaginação, com base na pesquisa do BCSD Portugal — Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, uma plataforma que agrega e representa empresas comprometidas com a economia de baixo carbono: se em vez de serem eliminados estes resíduos fossem usados como matérias-primas, haveria, no espaço de um ano, uma redução de consumos intermédios de 165 milhões de euros e uma contribuição de 32 milhões de euros em valor acrescentado bruto. Isto traduzir-se-ia em 1300 novos postos de trabalho e menos cinco milhões de toneladas de extracção de materiais. Lindsey Wuisan deixou-se seduzir pelo estado ainda inicial de desenvolvimento do conceito em Portugal. Tinha ajudado a erguer o primeiro programa de políticas governamentais para a economia circular na Holanda e viu no seu conhecimento a chave para algo novo. Assim, há coisa de um ano, mudou-se para Lisboa e criou o Circular Economy Portugal. A estratégia do projecto passa pela divulgação do conceito e prestação de serviços de consultoria a empresas que queiram apostar nesta economia. Mas também, e sobretudo, pelo desenvolvimento de “iniciativas práticas” com “foco em inovação social e em contexto urbano”, explica Andreia Barbosa, também membro do projecto. No terreno está o Camboa (projecto de compostagem comunitária), o Plástico Circular (uma instalação pedagógica que é um instrumento de comunicação para falar da utilização de plástico descartável), o Recostura (onde se busca uma nova vida para roupa velha) e o Repair Café (o tal espaço de reparação que já chegou ao Porto). E há mais ideias a marinar. Ana Coelho, licenciada em Economia e coordenadora do Repair Café no Porto, já se acercava do tema da sustentabilidade quando ainda se falava pouco dele. Na Universidade do Porto, mesmo quando acabou o mestrado na área ambiental, há apenas dois anos, a economia circular era ainda “um extraterrestre”. No Repair Café Porto ajuda a passar a mensagem da reparação como solução: “A ideia central é de que todos os sistemas devem ser vivos e não gerar resíduos”. E – muito importante – “pôr as pessoas a repensar as suas práticas”. Na casa de Helena Antónia sempre houve uma política informal de reaproveitamento no que à roupa diz respeito. A mãe costureira dava nova vida a vestuário usado, havia trocas entre irmãos, um olhar interessado para lojas de segunda mão. O chip ficou. Por isso, quando numa pós-graduação em empreendedorismo e inovação social a desafiaram a apresentar uma ideia inovadora que usasse recursos existentes, fosse sustentável e replicável, o plano foi quase automático: o ponto de partida ia ser a roupa sem utilidade. A Vintage for a Cause, criada em 2013, teve preocupações ambientais desde o primeiro instante. Mas desenhou, no final do ano passado, um plano de melhorias para que o ciclo seja cada vez mais perfeito. A moda, lamenta Helena, formada em Direito e com emprego numa seguradora, é “uma indústria muito associada ao desperdício” – e os hábitos de compra estão de tal forma enraizados que as pessoas já nem se questionam quando o fazem. “O tempo médio de uso de uma roupa são quatro meses. É assustador. Queremos lançar o mote de que se é bem feito pode ser usado muito tempo”, nota. “E se não quiserem usar devolvam e nós reutilizamos. ”O projecto – com atelier no número 96 da Rua Damião de Góis, no Porto, e uma loja online – usa desperdícios têxteis de pequenas confecções e roupa usada (quase toda proveniente do banco de roupa da Santa Casa da Misericórdia) para criar novas peças. Com desenho e assinatura de autor. E produzidas por costureiras contratadas fora (“pagas de forma justa”) ou por Felicidade Ribeiro, a modista da casa. Sorriso aberto e olhos postos na máquina, Felicidade, 64 anos, vai relatando a sua história de amor com as linhas. Costuma dizer que já nasceu costureira: “Aprendi com a minha avó, com a minha madrinha. Aos 14 anos já trabalhava numa modista”, conta. Ao Vintage for a Cause chegou pelo lado social do projecto: é que desde o primeiro dia que ali se promoveu a integração e se combateu o isolamento de mulheres com mais de 50 anos com aulas de costura. E isso continua a acontecer. Todas as quintas-feiras, quem quiser aprender a costurar ou usar as máquinas da casa para criar ou arranjar roupa pode fazê-lo. E nada do que sai do atelier tem fins comerciais. Pode ser coisa recente este conceito de economia circular, mas a ideia conjuga-se no pretérito. “Já fazia isto há 30 anos, a minha avó fazia roupa para mim, eu fazia para os meus filhos. Tenho roupa com 20 anos. Não é preciso estar sempre a comprar”, diz Felicidade Ribeiro. O caminho para essa consciência, sugere Marisa Escaleira – cuja tese de mestrado explora a relação que mantemos com a roupa e os objectos e por que razão é ela importante para garantir a sustentabilidade – pode ser o conhecimento do processo: “Se explicarmos às pessoas como se faz uma roupa, as etapas pelas quais passa, os quilómetros que percorre para chegar às nossas mãos, talvez as coisas mudem. ”A lógica é válida para outros sectores. Aline Guerreiro anda a apregoá-lo há vários anos a arquitectos e outros trabalhadores da construção — um sector onde ainda se faz “muito pouco”, sobretudo se o paralelismo for feito com países como a Dinamarca e a Alemanha, onde já se constroem edifícios inteiros a partir de materiais reciclados. Aline criou um Portal da Construção Sustentável, para promover a educação nesta área, tem um gabinete de arquitectura sustentável em Braga. E desde o início do ano está a trabalhar num projecto inovador em Portugal, com o apoio governamental do Fundo Ambiental, que sugere a desconstrução de edifícios como alternativa à simples implosão. E tem no prédio Coutinho, em Viana do Castelo, um possível ponto de partida. No estudo do BCSD – Portugal é óbvio o caminho por fazer. As 32 empresas analisadas eliminam 57% dos resíduos produzidos e valorizam 43% — e estes são números de instituições que já apostam em políticas sustentáveis. “Muitas destas transacções de resíduos não acontecem devido à falta de informação, à ausência de capacidade técnica/tecnológica, aos custos associados, às burocracias e às barreiras legislativas, sejam comunitárias ou nacionais”, justifica o estudo, que sugere várias acções para derrubar estes obstáculos. Usar resíduos biodegradáveis na produção de fertilizantes para jardins e agricultura. Reutilizar cinzas nos sectores da construção, cimenteira, asfalto ou agricultura. Dar uma segunda vida à lama na indústria de papel ou fertilizantes de solos. Escoar solventes para a produção de tintas ou combustíveis alternativos. As possibilidades são imensas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A economia circular, defende Andreia Barbosa, “é um conceito-instrumento complementar” a outros já existentes, como a economia verde ou da partilha. Na Circula Economy Portugal olha-se para os problemas em busca de novas soluções que ajudem “na transição de um modelo económico insustentável para algo que funcione”. Utopia? Na sua “forma plena” talvez sim. Mas visto como um paradigma para o qual “tentamos tender” nem tanto. E desengane-se quem pensa que é apenas uma questão de ambiente, realça o estudo do BCSD – Portugal: “Já não falamos apenas em reduzir o impacto ambiental das empresas, mas também em reduzir custos com matérias-primas e mercadorias, em pensar os negócios de forma diferente, em criar novos empregos. Falamos em economia e em futuro. ”P3: O Governo delineou no final de 2017 um Plano de Acção para a Economia Circular. De que forma estão, na prática, a promover esta economia?João Pedro Matos Fernandes: O próprio exercício de elaborar o plano permitiu consolidar várias acções que já estavam em curso, por exemplo a Estratégia Nacional de Educação Ambiental ou a Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar. Isso permite-nos ter um painel de instrumentos políticos de base que, apesar de já estarem em curso, importa robustecer, e é aí que as acções do PAEC mais contribuem. Por exemplo, uma das acções é dedicada à questão da classificação de subprodutos que sabemos ser um processo moroso, pouco custo-eficiente e em alguns casos até desconhecido das empresas. Achamos que esse processo de classificação pode ser tornado mais flexível e próximo de quem faz se o trouxermos para os centros tecnológicos, ou ser abordado no âmbito dos Laboratórios Colaborativos para a Economia Circular (iniciativa do MCTES). Segundo, temos o nosso portal ECO. NOMIA, que é um portal agregador de exemplos nacionais do saber e do fazer economia circular, de notícias, de eventos e também de oportunidades (concursos, prémios, avisos H2020 e nacionais para apoio financeiro). Terceiro, temos feito um esforço particular na divulgação do conceito e da sua aplicação em diversos contextos — no sector financeiro, na agricultura e floresta, nas PME, na construção — e para isso fizemos ao longo de 2017 vários workshops onde trouxemos especialistas internacionais e nacionais e demos espaço à apresentação das empresas nacionais que trabalham estas matérias. Nesse contexto, temos feito também — sempre que possível — roadshows de economia circular em que vamos ao encontro das empresas no seu habitat. Quarto, e talvez o mais importante, é o apoio explícito que o Fundo Ambiental tem dado às iniciativas centradas na economia circular. Em 2017 o apoio foi de um milhão de euros e apoiamos 20 ideias de negócio. Em 2018 o apoio subiu para 5, 35 milhões de euros, mas desta feita distribuímos por mais "raios de acção": não só iremos apoiar algumas das 20 empresas de 2017 na continuidade do seu projecto, como vamos também apostar nas soluções locais, com as juntas de freguesia, com as empresas no repensar os plásticos na economia, mas queremos também olhar para a inovação das compras públicas e abordar os resíduos de construção e demolição e, finalmente, o apoio que demos às CCDR para cada região poder desenvolver a sua própria agenda para a economia circular. Comparativamente com o que se passa no resto da Europa, que avaliação faz da actual implementação da economia circular em Portugal? Apesar de a Economia Circular ser ainda um tema ou desconhecido ou colado a "reciclagem" e "gestão de resíduos", o facto é que a Comissão Europeia assumiu este como um dos pilares na sua Estratégia de Desenvolvimento para 2030, a par da economia de baixo carbono, digitalização e financiamento sustentável. Isto porque a Comissão entende que a solução para um stock finito de recursos não está apenas na reciclagem, mas sim em garantir que os materiais circulem no seu valor mais elevado por mais tempo — ou seja, enquanto produtos, componentes, materiais que possam ser usados e nunca cheguem a ser convertidos em resíduo. Daí a importância do digital, do design, da servitização, dos materiais regeneráveis e não tóxicos, para garantir precisamente que a fase de utilização possa ser prolongada e gere valor várias vezes, mas com menor impacto ambiental. Neste momento, Portugal é um dos (apenas) cinco países da União Europeia que possui um Plano de Acção já em curso, e que figura na Plataforma de Stakeholders para a Economia Circular, uma iniciativa da Comissão Europeia e do Comité Social e Económico Europeu. É dos poucos países que apresenta um plano baseado numa plataforma de interacção entre Governo, indústria, regiões e comunidade e é também dos poucos países que possui apoios estatais explícitos à economia circular. Quais as principais vantagens da implementação deste modelo? Existem as vantagens óbvias: ao fomentar uma economia mais circular estamos a contribuir para que seja necessário extrair menos matérias-primas, menos processamento, menos resíduos, com as demais poupanças daí decorrentes (menos poluição, menos emissões, menos gastos, maior rentabilidade). Podem existir outros impactos — por exemplo, para garantir manutenção e recolha de equipamentos o transporte pode aumentar, ou se utilizamos um material natural há que garantir que não se está a colocar pressão sobre o sistema natural que o gera (por exemplo, perda de biodiversidade). Por isso é que é importante a articulação dos vários agentes e ter uma visão de sistema, para de facto garantir todo o benefício económico com o menor impacto ambiental possível. Mas existem outras vantagens, não tão óbvias, no emprego, por exemplo. Há uma mnemónica interessante que nos diz que: "dez mil toneladas de resíduos indiferenciados hoje significam um posto de trabalho se o destino for a incineração, seis postos de trabalho se for aterro, 36 postos de trabalho se for a reciclagem e 296 postos de trabalho se for promovida a reutilização". É que, ao fomentar a circulação prolongada de produtos, componentes e materiais será necessário mão-de-obra especializada, desde o designer que tem de conceber o produto para ser reparado e o engenheiro que tem de conceber um material regenerável, até ao mecânico, electricista e técnico capaz de poder reparar, actualizar, recondicionar ou remanufacturar os aparelhos. Neste contexto, o trabalho é considerado também um recurso renovável, que importa proteger, regenerar e potenciar.
REFERÊNCIAS: