A cabeça a fugir do corpo
Por vezes, quer acender a luz das escadas e toca na campainha alheia. Envelheceu anos mal ouviu a médica pronunciar o nome da doença de Alzheimer. Um dia, perguntei-lhe se queria dar-me uma entrevista, deixar um registo do que é enquanto é, mostrar aos outros o que pode ser a cabeça a fugir do corpo. (...)

A cabeça a fugir do corpo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Por vezes, quer acender a luz das escadas e toca na campainha alheia. Envelheceu anos mal ouviu a médica pronunciar o nome da doença de Alzheimer. Um dia, perguntei-lhe se queria dar-me uma entrevista, deixar um registo do que é enquanto é, mostrar aos outros o que pode ser a cabeça a fugir do corpo.
TEXTO: Queres um chá? Eu faço-te um chá. Não tenho comido nada. Nem da cama queria sair. Obriguei-me: “Sai da cama! Se não sais da cama, morres aqui dentro. ” Caí… Tenho de mudar os óculos. Já não vejo bem com estas lentes. Esta armação também já não serve. Dói-me atrás das orelhas. Olha, sou uma chatinha. Sou uma chatinha, pronto. Queres saber a verdade? Não tinha dinheiro em casa. Fui ao banco. Eu e a dona… Isabel. É Isabel o nome da mulher que vem aqui, não é? Chateei a mulher que lá estava. Então, ela estava para me dar o dinheiro e perguntou-me:— Só vai levar este?— Olhe, eu levo o que eu quiser, que ele é meu! — disse-lhe eu. Falei alto. — Não pode levar o que quiser. Temos um regulamento. Por pessoa, damos 500 euros por dia — disse ela. — Então venho cá todos os dias, até arrastá-lo todo!— Para quê?Realmente… Ela tem razão. Sabes que eu não sei onde meti o dinheiro? Sei que o escondi, mas onde? Cheguei aí com a dona Isabel e escondi-o. Nem da saca eu sei. Mas a saca está para aqui, nunca a levo para a cama… A dona Isabel fez-me a cama de lavado. Já não estou para dar a ferro. Ainda sei dar a ferro, mas não estou para gastar tanta luz. Calha bem, sabes? É dobrar os lençóis e meter na cama! Ela é que me fez a sopa. Está boinha, mas não consigo… De manhã, fritei uns chicharros pequeninos que o senhor Fernando me trouxe. [Tosse]Eu queria dar um dinheirinho ao senhor Fernando, ele tem andado comigo de um lado para o outro, mas eu não sei onde escondi o dinheiro. Só tenho estes 50 euros que estão a dançar em cima da mesa. Isto não é nada. Ai! Sentei-me e nem te fiz o chá! Que chá é que tu queres? Tenho aqui um que limpa por dentro. Eu desligo as coisas, não te preocupes. Vês alguma coisa aqui ligada? Não vês, pois não? Olha, o que eu quero é não matar ninguém. Se eu morrer, morri. Eu tenho de ir. Não vou ficar para semente. Tenho 73 anos. Ninguém quer ir, mas ninguém fica! Eu vou morrer e vocês vão dar comigo aqui dentro!Tantos medicamentos! Já viste o que é tomar medicamentos de manhã, à tarde e à noite? Para muito tem de dar o dinheiro e o dinheiro é poucochinho… Vem aí uma enfermeira ver os medicamentos para eu tomar a semana toda. Ela põe tudo numa caixinha. Ela vai chegar aí e vai dizer: “Não tomou os medicamentos todos. ” Não, não tomei! Quero lá saber! O que é que eu ando aqui a fazer? Estou para aqui, sozinha… A minha irmã parece que tem medo que eu lhe apareça. O meu telefone está com pouco gasto. Não sei fazer chamadas. O que queres? Andei na escola, mas não aprendi! A minha irmã aprendeu alguma coisa em França. Ela telefonava-me, mas não me tem telefonado…Aos anos que ela está na França! Os filhos dela já se casaram, os netos dela já se casaram, o homem dela já morreu. Podia vir para aqui, não era? Ela não está para me aturar! Ela quer é que eu morra depressa! Nem que se foda! Hei-de andar aqui! E depois de estar enterrada venho cá vê-la! Onde é que eu meti o coador?Quero ser cremada. Os meus pais estão enterrados e eu nem posso lá ir. Caio nos pedregulhos do cemitério. Vieram da aldeia, coitadinhos. A minha mãe já veio acamadinha. Morreu passados três meses… O meu pai ainda durou. Ele tinha Alzheimer, como eu. Foi a doutora Cândida que me disse: “O seu pai tem Alzheimer. ” Isto estava dentro de casa. Foi a doutora Cândida ou outra? Olha, sei lá!Vais beber o chá nesta chávena grande. A chávena que está na cozinha é a chávena da casa. As outras estão na sala. Não vou para lá agora. Queres comer alguma coisa? Eu comi sopa ontem à noite. Tenho sopa para mais dois diinhas. Hoje, não quero. Hoje, botei três grelinhos num tachico e uma batatinha. Comi isso e os chicharros pequeninos que o senhor Fernando me trouxe. Chegou para mim. Eu disse: “À noite vou comer a sopa que comi ontem. ” Não quero. Não encaro muito sopa de coração, mas fui ao senhor António e, olha, o coração era tão bonito! Agora, tenho aí sopa para dois diinhas e não quero. Eu pedi à dona Isabel para me botar a mão a fazer uma sopa. Lá apanhou um bocado de frango que estava no frigorífico. Deve ter sido para não se estragar, não sei. Ah! Não gosto de carne na sopa! Queres levá-la? [Tosse]Já não sei dos 50 euros outra vez. Deixa encontrar os 50 euros enquanto estás aqui, se não digo que foste tu que os levaste. Fui ao banco com a dona Isabel. Levantei 500 euros. Queria dar algum ao senhor Fernando. Ele tem andado comigo de um lado para outro. O carro dele não anda a água! Onde é que eu escondi o dinheiro? [Tosse]Meu Deus, como eu estou! Acho que nunca estive tão abatida. Por isso eu obriguei-me: “Sai da cama, sai da cama rapariga; se não sais da cama, vais morrer aí. ” E estou aqui. Estou aqui sozinha…Nunca quis ter filhos. Engravidei uma vez e desfiz. Os filhos não dão nada a ninguém. Mas teria alguém, não era?Tive rapazinhos lá na aldeia. Nunca os deixei ir-me ao pito! A vida fez-me ficar experientola. Comecei a namorar com os meus 17 anos. Era de ir a uma festa e vir com um homem para casa. No domingo seguinte, ele vinha a minha porta e eu desaparecia pelo outro lado. Era muito esquisita, eu. Sempre fui muito esquisita. Se me casasse, era para pôr o homem a dormir noutro quarto. Aqui estava bem. Aqui tem outro quarto. Ele podia dormir noutro quarto, mas não podia ressonar muito. Não posso dormir com um mosquitinho! Os homens ressonam quase todos…O Alfredo ressonava… O Alfredo foi o homem que eu amei. Deus o tenha no céu! Mais nenhum me serve. Também agora estou velha…. O que ia fazer com um homem? Só se viesse para comer o que eu tenho! Ando tão baralhadinha… Às vezes, penso que o Alfredo mora ali em cima. Depois lembro-me que mora lá para baixo. Nem sei se já morreu… Ele disse: “Ó, estou tão cansado. ” E eu disse: “Ó Alfredo, não venhas mais, descansa. ” Eu pensava que ele voltava. Eu juro-te que eu pensava que ele voltava. Olha, ficou ofendido. Fui má com ele?! Então ele disse-me: “Sabes, vejo-me para tirar o dinheiro para o passe!” O quê que ele queria? Que eu lhe pagasse o passe?!Ele apareceu-me tarde na vida. Ai, eu já tinha mais de 30 anos. Começámos a falar. Sabia lá que ele era casado! A mulher dele chegou a ir à minha porta. Ao tempo que isso foi! Eu não morava nesta casa. Eu ainda andava a servir. Ela foi lá dizer que me matava se eu não o deixasse ficar. Ele disse-me: “Não pode ser! A minha mulher não é assim!” Ele era amigo da mulher dele. Não queria dar cabo do casamento. Tão doentinha que ela era e, olha, nunca morreu! Ficámos juntos mais de 30 anos. Perto de 40! Eu era tolinha por ele. Era uma paixão… abraçadora. Como é que se diz? Não é abraçadora, pois não? Ó, não interessa. Eu pus o homem a andar e arrependi-me. Aqui há atrasado eu vi-o à noite. Ele não me falou. Ele tinha chave. Entrou e sentou-se no outro quarto a olhar. Aquilo devia ser para me ver, mas se fosse para me ver vinha de dia. Ele não costumava vir aqui durante a noite. Ai! Será que era o espírito dele?! Não me digas que era o espírito dele que eu vendo já a puta da casa e vou já para um lar! [Tosse]Não o acarinhei como ele merecia. Agora para o fim ele dizia-me: “Ai, faz-me umas festinhas. ” Eu dizia-lhe: “Vai vender sabonetes, sei lá onde é que isso andou!” Eu já nem olhava para lá. Estava murcha! A gente ia ali para dentro, tirava a roupinha, deitava-se na cama, mas só dava beijinhos. Ele é oito anos mais velho. Olha, devia estar como eu estou agora! Ele vinha por aí acima, agarrado ao corrimão. Todos os domingos, depois do almoço, ele estava aí. Já não conduzia. Vinha de autocarro. Uma ocasião, ele disse-me: “Já me custa vir. ” Eu disse-lhe: “Queres que vá a tua casa? Põe a tua mulher de lá para fora!” Ele era muito boa pessoa. Era e é, se ainda não morreu, mas talvez ele tenha morrido… Eu não sei. . . Já fui procurá-lo ao cemitério. Eu nem o telefone dele tenho, já viste? Também não sei telefonar…Ó filha, queres alguma coisa para comer com isso? Nem te ofereci umas bolachinhas. Só tenho meio pacote de água e sal. Ontem, fui à Zira e só comprei chocolates. Ela não me disse nada. Que lhe importa que eu seja diabética? Tomara ela que eu comprasse muitos! Tenho-os aí. Quando me apetecer, como! [Tosse]Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Não me fales num lar! Eles matam-nos de repente! Trabalhei tanto na vida… Ó filha, trabalhava as duas horas de almoço. E à noite, quando saía do meu trabalho, ainda ia a outras senhoras. Trabalhava 15 horas por dia! Desgastei-me. Para quê? Diz-me? Para quê? Para a minha irmã ficar com tudo? Já nem me lembrava que lhe tinha deixado tudo. A dona Fernanda é que me disse. Abençoada dona Fernanda… Ela disse-me: “Ainda vai a tempo. ” Ainda vou a tempo…Já viste quanto custa esta casa? E elas estão pelo barato! Tinha tanta ganância para ter uma casa… Isto custou-me muito. Um tostãozinho de cada vez. Não tive quem me desse nada. Trabalhei muito e poupei muito. É por isso que Deus havia de me dar mais um tempo de saúde para eu poder gozar a minha vida. O que me havia de dar! O que havia de dar a uma pessoa…
REFERÊNCIAS:
Acudam à direita que a matam!*
Defenestrada a PàF do Palácio do Governo, sequestrado o PS pela, ai que horror Virgem Santíssima, esquerda comunista, só faltava a Paulo Vírgula Portas um novo submarino a explodir na cara dos portugueses: o Banif. (...)

Acudam à direita que a matam!*
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.357
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Defenestrada a PàF do Palácio do Governo, sequestrado o PS pela, ai que horror Virgem Santíssima, esquerda comunista, só faltava a Paulo Vírgula Portas um novo submarino a explodir na cara dos portugueses: o Banif.
TEXTO: O tempo corre contra o palacete do Largo do Caldas, faz lembrar os cercos revolucionários de 1975, quando da sede do CDS não podia sair ninguém com samarra de gola de raposa sem que a arraia-miúda gritasse:— Fascista!Tudo porque Paulo Portas, depois da fase agrícola do Paulinho das Feiras, do impressionante Paulinho Estadista e do recente e hilariante Paulinho Moca de Rio Maior, não parece decidir-se se fica, se sai, da presidência do CDS-PP. O partido aguarda mais uma grande decisão d’“O Suspenso”. O pior de tudo é que as dúvidas de Portas começaram ainda antes de rebentar o escândalo de lesa-pátria do banco Banif, a banana negra da Madeira. Agora, os graves crimes económicos e as manipulações financeiras e eleitorais cometidos por Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e pelo governador do Banco de Portugal Carlos Costa poderão resgatar das brumas da memória o grande bancário do PP: Paulinho Jacinto Leite Capelo Rego. A corte Portassacaduracabralense, reunida na Lapa, está já a preparar argumentos fortíssimos para segurar o Paulo, tido como Condestável e Mestre de Avis em simultâneo. Se tiver de ser, todos sairão com os sinos a dobrar aos gritos pelas ruas de Lisboa, “cidade de muitas e desvairadas gentes”. Berrarão como sapateiros e padeiras em 1383-85, mas agora com pullover amarelo pelas costas. E não havendo um Fernão Lopes para escrever uma inventada chronica do convencymento do pryncipe popular, o mester poderá calhar a Telmo Correia, saído do nunca antes visto grupo parlamentar absolutista-miguelista-neoliberal da PàF, que governou Portugal durante quatro anos e quatro meses. E, logo a seguir, já em minoria decadentista, no XXI Governo por mais 29 dias e quatro horas. É claro que Telmo Correia não poderá dizer, como Fernão Lopes, que “o autor da história não deve ser inimigo mas escrivão da verdade”, uma vez que a verdade não teve nada a ver com a PàF e está à vista de todo o reino de Portugal o embuste colossal que foi a “saída limpa” da troika. Mas Telmo é a pessoa certa para convencer Portas a continuar a zelar por queques e betos, por Braganças, Avizes, Távoras e Cadavais. O parlamentar prepara uma colecção de argumentos e frases históricas adequadas ao perfil épico, mas difícil, para não dizer “irrevogável” de Portas, quando ele está em “modo marquês”. Telmo não estará sozinho entalado nas Portas de Lisboa. Também o eurodeputado Nuno Melo colige frases fortes que ajudaram a fazer a história de Portugal. Melo, que curiosamente nasceu em Joane, terra com nome de personagem de pouco juízo em Gil Vicente, abandonou os bólides desportivos e já regressou da peregrinação a pé a Fátima, a Santiago de Compostela e à Terra Santa para pagar a asneira do seu momento humorístico, na noite eleitoral de 4 de Outubro, quando berrou na TV que só restava a António Costa demitir-se depois da grande vitória da PàF. Nuno Melo tem ainda de decidir se continuará a imitar Portas na maneira de falar, no dia em que tentar ser ele o líder. Mas essa questão do “transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar” é para resolver mais tarde. Por lembrar Camões, ó glória de mandar, ó vã cobiça: a Índia que nos esperava depois de passarmos além do Bojador, dobrarmos as Tormentas e a Taprobana, depois de irmos ainda mais longe do que a Troika, era mais um estúpido buraco de quatro mil milhões de euros na banca. O afundamento da ditosa frota chamada “Que Se Lixem as Eleições!” será o povo a pagar, mais uma vez. Mas não sejamos piegas. O partido de Paulo Portas não teve problema em suspender o feriado nacional do 1. º de Dezembro, Dia da Restauração de 1640, contra a opinião dos perigosos internacionalistas do PCP e da CGTP. O curioso é que Paulo Portas há muito tomara como seu o desejo expresso por D. Luísa de Gusmão ao seu marido, futuro D. João IV, quando o convenceu a juntar-se aos conjurados:— Antes ser rainha por uma hora do que duquesa toda a vida. No caso de Portas:— Antes ser vice-primeiro-ministro por um mês que irrevogável toda a vida. O grande problema foi a coligação de direita PàF ter também incorporado a lição oposta, a de Castela, quando Felipe II disse: “Portugal é meu porque o herdei, porque o paguei e porque o conquistei. ” Passos Coelho e Paulo Portas criaram uma frase da sua lavra, saída do saber de experiência feito na EDP, no Novo Banco, no Banif, na TAP:— Portugal é nosso porque o conquistámos e porque o vendemos ao desbarato ao primeiro figurão estrangeiro com dinheiro que nos apareceu. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os grandes comem os pequenos. Mas mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. E, sobre o que se passou na Tecnoforma, na falsa devolução da sobretaxa, no défice escondido, na falsa “saída limpa”, talvez nos sirva, para o futuro, uma carta de Henrique Galvão a Salazar: “Não te esqueças, meu manholas, que eu já te vi em ceroulas. ”Bom Ano a todos menos a uns. * Em homenagem ao sistema bancário português, nesta última crónica Personagens de Ficção, o pobre de mim recorreu a várias rapinas no excelente livro Frases Que Fizeram a História de Portugal, de Ferreira Fernandes e João Ferreira (ed. A Esfera dos Livros)
REFERÊNCIAS:
Sofia Pinto Coelho: O avô fartou-se de ser um estupendo
Luís Pinto Coelho, diplomata, professor catedrático, pai de família, renunciou a tudo por uma mulher 19 anos mais nova. A neta, a jornalista Sofia Pinto Coelho, escreveu um livro a contar a sua história. Entrevista de Anabela Mota Ribeiro. (...)

Sofia Pinto Coelho: O avô fartou-se de ser um estupendo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Luís Pinto Coelho, diplomata, professor catedrático, pai de família, renunciou a tudo por uma mulher 19 anos mais nova. A neta, a jornalista Sofia Pinto Coelho, escreveu um livro a contar a sua história. Entrevista de Anabela Mota Ribeiro.
TEXTO: O avô Luís morreu aos 83 anos, em 1995. Sofia Pinto Coelho tinha 30 anos e mal o conhecia. Havia muitos anos que o avô “deixara” a mulher e os seis filhos. A palavra usada no livro O Meu Avô Luís é esta e corresponde à narrativa contada (ou sentida) durante décadas. O abandono resultou do romance com uma americana chamada Kit, muito mais nova, por quem mudou de vida. Para a jornalista da SIC, tudo começou em 2008, depois da morte do pai, quando, entre o espólio herdado, encontrou cinco caixotes de filmes e cartas do avô. Demorou a decidir o que fazer, entre o cuidado amoroso e a distância de quem olha, profissionalmente, e procura ler naqueles papéis de família a história de um tempo político, um modo de estar, uma classe social. Interrogou-se sobre se esta era uma história que merecia ser contada. Era apenas mais uma história de amor? E poderia ela compreender (que é quase sempre uma forma de reconciliação) este avô salazarista?Politicamente a questão não é linear. Sofia é casada com o advogado Ricardo Sá Fernandes que se candidatou pelo Livre/Tempo de Avançar nas últimas eleições. É prima de José Pinto Coelho, a cara do Partido Nacional Renovador. Ela mesma diz ser de esquerda numas coisas e de direita noutras. Este é um livro eminentemente político? Longe disso. Pode ser que O Meu Avô Luís seja, mais do que tudo, um livro sobre um amor. Para ela, foi também uma maneira de conhecer as suas raízes. Sofia Pinto Coelho nasceu em 1963. Estudou Direito, está na SIC desde a sua fundação, trabalha questões relacionadas com a Justiça. É filha de Maria Filomena Mónica e enteada de António Barreto. Tem três filhos. A entrevista foi em casa e assim que o fotógrafo saiu perguntou se podia descalçar-se. “O que me impressionou desde logo foi o meu avô ter sido uma espécie de príncipe perfeito. ” Quando é que, aos seus olhos, o seu avô deixou de ser um príncipe?Deixou de ser um príncipe através daquilo que os meus tios sentiram. Os seus próprios filhos. Através do pressentir o sofrimento. Nem tanto o dele, mas o que pode ter causado aos outros. Os príncipes não fazem os outros sofrer. Os verdadeiros príncipes, mesmo os reais, que vivem naquelas gaiolas doiradas, nunca podem sair da gaiola. E o meu avô saiu. É essa saída da gaiola que me dá essa percepção. O pai também lhe deve ter imposto: “Nascemos para ser isto. ” Não há outros caminhos. Não há caminhos próprios, não há vontades próprias. Como é que apresentaria este príncipe, nos seus títulos e na sua natureza?Nos títulos, é fácil, está muito bem marcado. Era um professor catedrático de Direito, com todo o peso que isso implica. Ser de Direito já é difícil, é um curso penoso. Ser professor catedrático não está ao alcance de qualquer um. Luís Pinto Coelho nasce no começo do século. O que marca os primeiros anos da sua vida?Nasce em 1912, pouquíssimo tempo depois do fim da monarquia. Estuda e tem muito boas notas, torna-se um belíssimo aluno. No início do Estado Novo, há um patrono dele, e amigo da família, que o põe como governador civil de Castelo Branco aos 23 anos. Há aquelas partes gagas. . . Chega à estação e ninguém o reconhece por ser tão novo. Quando vai fazer a tropa, era tão novo, mas tinha tanto estatuto, que o sargento na parada não sabia como é que o havia de tratar. “Ó 28, ó 29, ó Sr. 30”. É este homem que vai fazer o doutoramento em Itália e que começa a leccionar como professor catedrático em 1940. Na altura haveria 12, 15 professores de Direito, as eminências. Mandavam no país. Foi, essencialmente, um professor. Sim. Foi também advogado. E administrador de empresas por via da advocacia. Foi advogado do António Champalimaud durante muito tempo e aí tinha uma fonte de rendimento importante. Agora, tinha uma outra pessoa dentro dele. Há pessoas que conhecemos e que são aquilo que fazem. Ele era mais do que isso. Antes de chegarmos a esse que ele tinha engaiolado, vamos situá-lo no seu tempo. Nasceu aquando da Primeira Guerra. Entrou na vida pública quando na Europa alastrava a Segunda Guerra. Em Portugal vivia-se em ditadura. As fotografias devolvem um certo país, uma certa Europa e um estatuto social muito específico. As fotografias dessa época, dos anos 40, situam o arranque da carreira profissional e o casamento. Casa-se em 1935, tem o primeiro filho em 1936. Vem de Itália em 1939. Parecem imagens dos filmes americanos passados no tempo da guerra. Os sapatos da minha avó, a saia abaixo do joelho, os tailleurs, sinais de um estatuto social. Perguntei aos meus tios: “Sentiam-se numa bolha?” Não havia televisão. Talvez saíssem da escola e vissem miúdos descalços, mas conviviam com os Mello e os Champalimaud. Esses, sim, eram ricos. Mas o que eles dizem, e isso é curioso, é que não sentiam que os outros eram mais ricos do que eles. Como é que isso era possível?À mesa comiam as mesmas coisas. A maneira de vestir era semelhante. O meu tio mais novo, que é o sexto, até aos 16 anos nunca teve uma roupa própria, era sempre dos irmãos mais velhos. Era assim que se vivia. A estratificação social, que era muito vincada, sentia-se de que maneira?Eles não sentiam, os pobres deviam sentir. O realizador do filme [que vai passar na SIC, João Nunes] perguntou: “Estamos a mostrar o retrato de uma família portuguesa rica, de uma família portuguesa burguesa ou o quê?” Não cheguei a nenhuma conclusão. Por aquilo que depois percebi, o meu avô sempre lutou com dificuldades de dinheiro. O seu pai, que era filho deste avô, contava conversas sobre o tema dinheiro?Não havia o tema dinheiro. Não se falava dessas coisas. Entre os pobres, o tema do dinheiro era omnipresente. Entre os ricos e os burgueses, era considerado de mau tom, ou mesmo falta de educação, falar de dinheiro?Não era tema, mas era tratado com muito respeito. Os meus tios contam que se lembram de todas as noites a minha avó fazer contas com a cozinheira, para se verificar tostão a tostão o que se tinha gasto na praça. Não havia frigoríficos. Os almoços, lá em casa, eram dez, 12 pessoas. Seis filhos, as criadas, as visitas. Era tudo contadinho. E essa foi uma marca que nos foi passada: um enorme respeito pelo dinheiro e pelo não esbanjamento. Essa distinção de classe tinha que ver sobretudo com o estatuto do saber? Se o seu avô não fosse professor universitário, seria a mesma coisa?No caso do meu avô, havia duas vias que o punham na chamada “classe alta”. A mãe dele era descendente dos Ribeira Grande, que estavam dentro da corte de D. Pedro. Era uma família aristocrática antiga. O pai estava na frente política e académica. Vale a pena dizer mais sobre os pais, para compreender a forma como o seu avô foi educado. São vincadamente antagónicos. O meu bisavô foi um jurista brilhante, o criador da primeira lei dos cheques e das livranças. Era um comercialista, um bom desenhador de leis. Tem um recorde extraordinário: esteve 35 anos seguidos na Câmara Cooperativa como homem de confiança de Salazar. Desde o primeiro dia, em 1935, até ao 25 de Abril. Homem espartano, sovina, ríspido. Podia inspirar medo. Com alguns galanteios para as senhoras, mas severo. Apesar dessa fidelidade, dessa constância na Câmara Corporativa, era antes de tudo um monárquico. Dizia: “Na família, primeiro somos monárquicos, depois católicos e só depois por Salazar. ” Ela, a avó Mariana, era a figura fixe de quem toda a gente gostava imenso. Era divertidíssima, dizia o que pensava. Dizia palavrões, fumava desalmadamente. Era perdida pelo jogo. Perdeu a casa da família ao jogo, num casino afamado, em França. O meu avô dizia que tinha herdado esse lado Câmara, não tinha a fronha Pinto Coelho. Como é que esses dois lados — opostos — passaram para a personalidade, para o comportamento do seu avô?Tinha um enorme sentido do dever, das responsabilidades. De ser um bom pai de família, um homem recto. Mas depois era um tipo com um charme. . . É o que perpassa nele e no meu pai. São pessoas que são lembradas por serem carinhosas, atenciosas. Ele tem uma frase de que gosto: 'Estou farto de ser considerado um estupendo. ' Todas as famílias têm este problemaVendo as fotografias do livro, percebe-se que o seu pai tem uma postura muito mais descontraída do que o seu avô. Era menos bonito, chamava menos à atenção. O seu avô tem uma postura física menos abandonada. Porque o meu pai virou meio hippie. O meu pai era um curtido. Aos 17 anos deu um grito do Ipiranga, agarrou numa Vespa e andou a passear pela Europa. E tinha uma vontade meio anarca. Teve um embate com o meu avô por isso. Fazia nudismo. Não sei se andou nos charrinhos. Era um galanteador. Mesmo no fim da vida, levava o barco para a Croácia — adorava vela —, para Itália e vivia seis meses por ano no barco. O seu pai fazia o quê?Era piloto. Começou como comissário de bordo. Tornou-se piloto, subiu a comandante. Não tinha ambições políticas, o seu avô?Não percebi. Há muitas bocas de que ele esteve numa shortlist para substituir Salazar. Mas numa entrevista que deu já nos anos 1980, dizia: “Isso é um mito. Eu nunca teria categoria para suceder ao dr. Salazar. ” Foi sondado para ministro ou para reitor e terá dito: “Longe de mim. ” Mas não sei se isso não terá sido um desabafo, e se depois gostaria [que tivesse acontecido]. O que é que norteou a vida dele? O que é que o fez avançar, prosseguir uma carreira, um caminho?Há dois tempos. O primeiro é um tempo de dedicação, de abnegação, de família e de trabalho. Sentia-se confortável nessa farpela. Na sua missão de educar e enquanto foi comissário da Mocidade Portuguesa [1946]. Era o cumprimento de um dever ser mais do que tudo?Não era só. Os meus tios dizem que chegava a casa com uma alegria imensa. Chegava rebentado, longas jornadas de trabalho e cheio de histórias para contar. Que adorava contar. De onde é que lhe vinha essa alegria?Do sentido de humor. Conseguia ter histórias com pilhas de graça sobre o que lhe acontecia. Sobre as suas desventuras. Isto é salvífico. Quantas vidas é que acha que ele teve? O primeiro grande bloco é até ao casamento?Não, ser embaixador ainda faz parte desse bloco. [O primeiro grande bloco vai] até ao apaixonar-se [pela Kit]. Tem uma vida metódica, arrumada, expectável. Pela leitura das cartas, percebo que esteve genuinamente apaixonado pela minha avó. No dia em que a conheceu, escreveu no seu diário: “Hoje conheci a Piinha Almeirim. Que amor!!” Dois pontos de exclamação. Ele amava-a, era a mulher da vida dele. E terão vivido 25 anos felizes. Foi outro depois de se apaixonar pela Kit. Tinha mais de 50 anos e era embaixador em Madrid. O modo como essa paixão foi vivida é uma insubordinação às convenções do meio social? Interroga-se menos sobre o que lhe era permitido?Ele tem uma frase de que gosto: “Estou farto de ser considerado um estupendo. ” Todas as famílias têm este problema. As famílias têm determinadas expectativas em relação aos filhos e quando eles saem dessas expectativas é uma chatice. Onde é que encontrou essa frase?Está numa carta. A carta que escreve a uma das noras, em que explica o horror que tem à hipocrisia. Dá esse passo de se ir embora deixando tudo para trás. O Salazar, a pátria, a família, os amigos, a profissão, o dinheiro. Porque tem horror à hipocrisia e porque quer tentar ser feliz com outra mulher, de outra maneira. Que terramoto foi esse chamado Kit?Foi uma enorme paixão que ele teve em 1964. Estava casadíssimo. Perguntei aos meus tios se achavam que o pai tinha tido amantes antes. (Era normal os homens terem amantes nessa época, de casa e pucarinho. ) Eles crêem que não. Nem devia ter tempo. Quando foi para Madrid, tinha um trabalho importante. Apanhou com o cadáver do Humberto Delgado no meio desta convulsão amorosa. Abramos um parêntesis para falar do caso. Como é que o assassinato de Delgado em Espanha e as questões diplomáticas e políticas daí decorrentes foram vividas pelo seu avô? Tem material desse tempo?Eu gostava que os descendentes do Humberto Delgado e os historiadores me dissessem se a carta original que eu tenho, que Salazar escreveu ao meu avô, é inédita ou não. E se pode acrescentar alguma coisa à história que já se sabe. Que é que diz essa carta?Diz que Humberto Delgado foi atraído para uma cilada pelos comunistas. E que, como não quis fazer aquilo que os comunistas queriam, foi assassinado por eles e não pelos “nossos”. Nenhuma menção a Rosa Casaco?Zero. Diz claramente: “Isto não é um assassinato nosso. ”O que levanta a questão de saber até que ponto Salazar estava ao corrente do que se passava. É a grande questão. O mundo divide-se entre os que acham que Salazar não sabia e os que acham que Salazar sabia. Ou essa carta é uma espécie de engodo para a posteridade. . . Ou é uma carta para sossegar o meu avô e para lhe dar força interior. Percebi pelos telegramas que aquilo em Madrid foi forte e feio. A família do Humberto Delgado contratou advogados lá, o Estado português teve de contratar advogados lá. A carta pode ter sido para sossegar o meu avô ou para ficar para a posteridade. É uma carta pessoal, não está no arquivo de Salazar na Torre do Tombo, está aqui, numa caixa em minha casa. A partir de determinada altura as pessoas sabem que ficam nos compêndios de História. Que a correspondência oficial e oficiosa vai ser escrutinada. Nem tanto. Se calhar hoje mais. Até por herança da minha mãe, historiadora, toda a vida ouvi falar da dor de alma que dá as famílias das elites não guardarem os seus papéis. As pessoas consideram os papéis das famílias lixo e assim não se consegue escrever a História. Voltando à paixão do seu avô: em que contexto conheceu a Kit?Uma parte do trabalho [enquanto embaixador] era feito em festas, onde estavam reis, rainhas, marquesas, políticos. Ela era enteada do adido militar da embaixada dos Estados Unidos e filha de uma senhora americana que se tornaram amigos dos meus avós. A relação dele é com os pais dela. A Kit era 19 anos mais nova [tinha 33 anos]. Era quatro anos mais velha que o filho mais velho dele. Tem uma paixão desvairada que descobri nas cartas de amor. São cartas lindas. A paixão está nas cartas. Outra coisa é o relato dela pelos seus tios e avó. Se não tivesse as cartas, não descobria paixão nenhuma. Via umas fotografias e pensava que ele é giro, ela é gira, ela é mais nova. Pensava que ele estava com uma crise de meia-idade?Ele era muito sedutor, ela era atiradiça. Eu entrevistei-a, ela conta que o seduziu. Viu que a embaixatriz da Pérsia lhe estava a fazer uns rapapés e pensou: “Se ela pode, porque não eu?” A coisa começa assim. Sabemos como é a sedução, é uma coisa agradabilíssima. Mesmo quando estamos casados. Isto de nos sentirmos vivos porque alguém olha para nós é uma coisa que até à morte deve existir. As cartas: é difícil descrever estados de paixão, e ele descreve. Sem vergonha. Eram cartas que o seu avô mandou para a Kit. Estavam no espólio…Dela. Ela ofereceu-me essas cartas agora. O espólio que chegou até si depois da morte do seu pai e que tinha material do seu avô…Não tinha nada disto do amor [feliz]. Tem uma espécie de diário que inclui um controlo das saídas dela. Os ciúmes. Em cinco páginas, escreve: “Sinto-me velho, choro, vejo cair as lágrimas. Tu és um velho, ela é jovem, ela pode ter qualquer homem no mundo. Ela é linda, é inteligente, afectuosa. E tu nunca a poderás ter, a única coisa que podes fazer é renunciar. Tu que estás aí ao espelho, ouve-me, tens é que re-nun-ci-ar. ” É esta coisa dilacerante, de agonia, de intenso sofrimento, que ele conseguiu pôr tão bem na escrita. Era um escritor. Nenhum professor de Direito conseguiria escrever aquilo [risos]. Sabemos como é a sedução, é uma coisa agradabilíssima. Mesmo quando estamos casados. Isto de nos sentirmos vivos porque alguém olha para nós é uma coisa que até à morte deve existirIsto é a Sofia apaixonada pelo seu avô, agora, depois desta pesquisa. Outra coisa é a aparência que dele ficou por causa deste desvario. Durante estes anos todos, como é que foi?Não foi. Isto aconteceu quando eu era um bebé. Nos 30 anos a seguir, tê-lo-ei visto uma dúzia de vezes. Sempre em coisas de família, jantares, natais, onde estavam sempre dez ou mais pessoas. Nunca estive a sós com ele. Não tenho uma única fotografia com ele. Isto é outra coisa que descobri: nós não conhecemos a nossa família. Nunca estamos a sós com uma pessoa. E para se conhecer, tem de se ter uma relação a dois. Ou seja, conheceu agora, e postumamente, o seu avô. Sim. Embora ele tivesse sido sempre (todas as famílias têm) a pessoa importante da família. Mesmo ao longe, mesmo ausente. Depois, a pessoa importante passou a ser o meu tio Luís, pintor. Era o retratista dos famosos, uma pessoa conhecida na sociedade. O seu pai viveu sempre bem nesse apagamento entre um pai catedrático e um irmão pintor?Sim. Estes seis irmãos mantiveram-se até ao fim unidos como um cacho. É uma expressão interessante, esta, do meu tio Luís. Outro aspecto de se lhes tirar o chapéu: quando os meus avós morreram, tiveram de fazer partilhas e não houve uma beliscadura, uma zanga. Isto diz muito sobre um traço educacional que é um misto de cerimónia, não ganância, respeito. Há o reverso da medalha: são pessoas que metem tudo para dentro. Eu não sou assim, eu saí ao lado Mónica!O lado da sua mãe, Maria Filomena Mónica. É impetuosa?Não meto nada para dentro. É óptimo. A família nuclear implodiu depois dessa paixão. Separou-se da sua avó em 1968. Escreve: “Não é claro (e não há testemunhos) se teria sido ele a anunciar a intenção de se demitir [do cargo de embaixador] ou se teria sido forçado a isso. Correu a versão de que teria sido o seu próprio pai a ligar a Salazar dizendo que o devia demitir. Mas também se comentou que este nunca tinha chegado a saber porque já não estava lúcido. . . ” Salazar caíra da cadeira. O meu avô sofreu as passas do Algarve no Brasil, que odiou, andou à rasca de dinheiro. Foi advogado em São Paulo, em 1969, e adido cultural da embaixada no Rio de Janeiro, em 1970. Casaram em 1971. Beberam esse cálice (de felicidade) de 71 a 74. Foram só três anos. Teve um pico de vida porreira em Buenos Aires, como embaixador [1972]. Os filhos eram os “abandonados”? Ou, pelo menos, sentiam-se como tal?Não sei. Cada um dos filhos casou várias vezes. A minha avó Piinha sofreu, mas tinha imensos netos, imensas amigas, as passeatas, os interesses. Ele ficou muito mais abandonado. Ele ficou sem nada. Ficou com saudade, exilado. A sua avó ficou com o estigma do abandono. Mas depois veio o 25 de Abril e ela tornou-se muito mais aberta, progressista. O meu avô: há aqui um factor importantíssimo de que não estamos a falar: sexo. O sexo é provavelmente a coisa mais poderosa que existe. Podia ser um sexo praticado com uma amante e não ser essa grande paixão. Em que é que está a pensar quando fala nisso?O factor de atracção, primeiro. Depois, há uma juventude e uma frescura na Kit que percebo que o tenham encantado. Ela ainda hoje, aos 80 anos, é uma adolescente. Viver com uma pessoa que não é uma chata é muito bom!O começo do fim da felicidade do seu avô foi a revolução de 74?A Kit diz que viu o meu avô chorar duas vezes na vida. Uma foi quando soube que um dos filhos tinha cancro. A outra foi no 25 de Abril. Achou aquilo tudo horrível. Uma canalha. Viu os vira-casacas, a desordem. A descolonização. O “fartar, vilanagem”. Como é que de ponto de vista político e social se manteve tão conservador?Eles não mudaram. O meu pai era um homem que convictamente acreditava num mundo melhor dentro das utopias da esquerda. E a determinada altura dizia à Kit: “Finalmente, vai mudar o meu pai. ” E ela, horrorizada: “Eu, mudá-lo? Mas eu gosto dele como ele é. ” Ela também pertence a esse mundo, do tempo d’ O Leopardo, em que de facto há les uns et les autres. Ao escrever o livro, limpei umas coisas. . . , porque estava cheia de preconceitos em relação a isto. . . . isto de o seu avô poder ser lido como um fascista?Sim. E estava assim a armar-me em livre-pensadora. Sinto-me de esquerda numas coisas e de direita noutras, mas não conseguia compreender. Estava acintosa. Contudo, já não tenho aquele chavão do “fascista, que horror!”. O seu avô não olhou para a censura, não olhou para a PIDE, não olhou para a Guerra Colonial, não olhou para a desigualdade social. Como é que ele conseguiu passar ao lado de todas estas coisas? Como é que um homem que é capaz de cortar com tanta coisa, fazer a sua revolução pessoal, depois não consegue cortar com outras?Como fez o Adriano Moreira. Era um homem do regime e passou para o outro. Se calhar era casmurro, não sei. Não conseguiu. Tentei procurar essa resposta. Verdadeiramente ele nunca admitiu — pelo menos, não escreveu — os vícios e os danos do Estado Novo. E não conseguiu viver bem na democracia. É irónico, ele pediu uma liberdade individual, mas foi como se não achasse que todos os outros também tinham direito a essa liberdade. É saneado em 75. Ainda tenta fazer vida no Rio de Janeiro, mas torna-se impossível aos quase 65 anos arranjar trabalhoComo é que Marcelo Caetano lidou com esta história?Não sei se Marcelo Caetano terá ajudado totalmente o meu avô na altura em que isto rebenta. . . Creio que não. Aparentemente, eram de alas diferentes. Respeitavam-se, mas não sei se politicamente seriam muito ligados. Mas há duas coisas que são simpáticas. Quando vai numa visita oficial ao Brasil em 1971, diz: “Já sou suficientemente velho para perceber esta fraqueza do Luís. ” E quando o meu avô consegue finalmente casar (sem ser casado não conseguia ter um emprego na função pública), há um cartão do Marcelo Caetano que diz: “Tomara eu poder aproveitá-lo melhor. ”Em 1974, está a viver onde?Estava [colocado] em Buenos Aires, mas no 25 de Abril estava em Lisboa. Ainda fica um ano, até que é saneado. Mário Soares, que é ministro dos Negócios Estrangeiros, diz: “No embaixador Pinto Coelho não tocam, porque sempre foi de uma extrema lealdade ao Estado. ” Sentiu que no aparelho de Estado estava um homem que era um servidor do Estado e não meramente do regime. É saneado em 75. Ainda tenta fazer vida no Rio de Janeiro, mas torna-se impossível aos quase 65 anos arranjar trabalho. No fim de 1976, 77 vão para Madrid. Mais uma vez sem casa, sem emprego, sem dinheiro. Instalam-se no apartamento que a Kit tinha em Madrid, onde fica sentado no sofá, a ler o jornal. Ainda arranja uma coisa como administrador da Império em Madrid, mas aquilo corre mal. Acha que os gestores revolucionários só estão lá para delapidar o património público. Incompatibiliza-se e sai. Fica a viver de quê nos últimos anos de vida?Da reforma de professor universitário. Era uma reforma pequena da qual tem de dar uma pensão de alimentos à minha avó. Depois, a Kit levou uma fotografia dele à agência de modelos e fez um sucesso. Acharam que era uma estampa, que tinha um jeitão. E ganhava umas coroas. Mas foi tudo uma coisa bastante amargurada. Muito ruminante. E ela sem grande paciência. Acha que se amaram até ao fim, a Kit e o seu avô?Not sure. Aparecem coisas como a diferença de idade. A Kit aos 50 anos estava como eu, que tenho energia para dar e vender. O meu avô já tinha 70. A Kit ia passar os Verões e os Natais aos Estados Unidos, onde vivia o filho [de uma relação anterior] e onde estava a mãe. O meu avô ficava sozinho em Madrid. Quando começou a ficar velhinho e com maleitas, a deixar de conseguir falar espanhol, os filhos raptaram-no e trouxeram-no para Lisboa. Ela continuou a viver em Madrid. Nesse período em Lisboa, quem é que mais do que tudo tomava conta dele?Uma empregada. Os filhos iam lá de vez em quando. E a sua avó, nesse período em Lisboa?A minha avó não ia. Há um afastamento. A Kit também não pôde vir porque havia uma cláusula no divórcio que o obrigava a nunca viver em Portugal com a nova mulher. Era uma cláusula moral e escrita. Imposta pela sua avó?Sim. Foi uma cláusula de uma crueldade incrível, imposta para ver se o demovia daquele devaneio. Ficou um homem amarfanhado. Há uma carta trocada com o Franco Nogueira, que se exilou em Londres: “Custa tanto envelhecer e esperar pela morte. Ela chega tão devagar. ” É este tipo de pensamentos que tem. Nessa fase, eu já estava na loucura da SIC, não lhe dei atenção. Para a maior parte de nós, no fundo, era um estranho. Só sei por testemunho indirecto, dos meus tios, que se ocupava a ler os jornais, coisa que nunca deixou de fazer. E a dizer: “Que disparate!”Porque é que lhe pegou agora? Fez o livro e um documentário que vai passar em breve na SIC. Comecei por lhe dar atenção quando descobri os filmes. O meu pai morreu em 2008 e, como era um fiel depositário de cinco caixas, essas caixas vieram aqui para casa. Abri as caixas, espreitei o diário, mas foquei-me nos filmes. Fiz um filmezinho de família, transformei sete horas em 20 minutos. Foi uma brincadeira familiar. Uns anos à frente, uma colega da SIC, a Marisa Vieira, aparece com um livro debaixo do braço, O Cinema no Estado Novo. “Sofia, a tua família! Descobri que tens um avô que era realizador de cinema. ” “Ó Marisa, o meu avô era embaixador, professor de Direito. Mas ia à falência, quase, porque era tão Estado Novo e salazarista que montou uma produtora para fazer um filme chamado Chaimite” [1953]. Que filme é esse?É uma espécie de Os Canhões de Navarone português, com milhões de figurantes. É uma luta patriótica pela manutenção de Moçambique. E os olhinhos dela começaram a brilhar. “Podíamos fazer um documentário. . . ” Andámos naquela brincadeira de corredor. Até que comecei por telefonar à Kit, muito a medo. Ela aceitou. E depois fui ler cartas, vasculhar. E escrever uma súmula de 40 páginas para aquilo se transformar em filme. O filme aproveita três cartas, eu tenho 1500. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O seu avô podia imaginar que ia ser objecto de uma pesquisa feita por si ou por outra pessoa? Ele tinha um sentido da posteridade?Tinha, mas depois não conseguiu cumprir. Com tantas mudanças de país e de casa, se calhar tenho 10% do que houve. Há um diário da Mocidade Portuguesa, em 1936 — ele está no arranque da Mocidade Portuguesa [como secretário-inspector] —, que começa: “Agora estou numa posição privilegiada para ver o que se passa à minha volta. Vou tomar nota daquilo que oiço, vejo e sinto, para que os meus vindouros possam saber como é que as coisas se passavam neste tempo e neste sítio onde estou. ”Uma palavra para ele. Un grand seigneur. Adoro os romances da Jane Eyre, a Madame Bovary [Flaubert]. Acho que ele se posiciona bem aí. Un grand seigneur com um cenário à altura [risos].
REFERÊNCIAS:
Cristiano Ronaldo: Enquanto estiver a ler este artigo, ele já ganhou 320 euros*
É o jogador de futebol mais bem pago do mundo e, a cada segundo, uma pessoa, algures no planeta, segue-o nas redes sociais. No dia 9 estreia o filme Ronaldo. (...)

Cristiano Ronaldo: Enquanto estiver a ler este artigo, ele já ganhou 320 euros*
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: É o jogador de futebol mais bem pago do mundo e, a cada segundo, uma pessoa, algures no planeta, segue-o nas redes sociais. No dia 9 estreia o filme Ronaldo.
TEXTO: É o arquétipo moderno do deus Apolo e personifica, como mais ninguém no futebol actual, o lema olímpico “mais rápido, mais alto, mais forte”. Para os fãs, é também o mais belo, um boneco Ken de carne e osso. Aos 30 anos, Cristiano Ronaldo, o jogador de futebol de origem humilde e a quem só falta um grande título com a selecção nacional, escreve um novo capítulo na sua vida, lançando-se no mundo dos negócios por conta própria. O avançado do Real Madrid não esperou, como vaticina o ditado, pela vida que começa aos 40 ou pela reforma que inevitavelmente condena, a essa idade, a carreira da maior parte dos desportistas. Ronaldo está um passo à frente de todos nós, comuns mortais: ele é mais rico, mais poderoso e mais famoso do que qualquer outro futebolista e do que muitas celebridades de Hollywood e este é, provavelmente, o momento na sua vida pessoal e profissional em que se sente mais confortável com o estatuto que alcançou em 20 anos a dar chutos na bola. Há muitas pistas que o comprovam. No último Verão, Ronaldo começou a partilhar fotos da sua vida privada no Instagram: as brincadeiras com o filho de cinco anos, Cristiano Jr. , a iguaria que comeu ao jantar, selfies na cama antes de dormir, fotos no jacto privado ou em frente a um dos seus bólides e o convívio com amigos. “Com o nascimento do primeiro filho e com a conquista da terceira Bola de Ouro, prémio que ambicionava e que lhe fugia há alguns anos, Ronaldo ficou mais tranquilo. A idade e a experiência trazem também outra maturidade, apesar de o Cristiano ser ainda uma pessoa muito expressiva e até polémica”, analisa Daniel Sá, director-executivo da escola de marketing IPAM, que, desde 2011, faz um estudo anual sobre o valor da marca Ronaldo. Na sua carreira de duas décadas (assinou aos dez, em 1995, pelo Nacional da Madeira), o funchalense sempre se associou a dezenas de marcas e patrocinadores, nos quais se destacam a Nike, que lhe paga anualmente nove milhões de euros pelos direitos de imagem e pelo uso do nome “CR7” numa colecção de chuteiras e vestuário desportivo. Até há dois anos, a marca “Ronaldo” ou CR7, em resultado do investimento a solo do jogador, não existia. Hoje em dia, está presente em mais de 160 países e em diferentes ramos de actividade. “É um passo muito arriscado e arrojado por parte do Cristiano lançar as suas próprias marcas. Eu acho que só é possível seguir sozinho porque o nome CR7 é muito forte”, afirma Daniel Sá. Na semana passada, a revista Forbes divulgou o ranking de desportistas com a marca pessoal mais valiosa. Ronaldo é o primeiro futebolista da lista e o oitavo entre todos os desportistas do mundo (atrás dos jogadores de golfe Tiger Woods e Phil Mickelson, do mago da NBA LeBron James, do tenista Roger Federer, do jogador de críquete Mahendra Singh Dhoni, do recordista mundial dos 100 e 200 metros Usain Bolt e do basquetebolista Kevin Durant). Em praticamente todos os estudos que analisam a performance dos “homens da bola” dentro e fora dos relvados, o internacional português bate recordes. Num trabalho divulgado em Junho, a Repucom, empresa de estudos de mercado, conclui que 92% das pessoas em todo o mundo sabem quem é Ronaldo e 68% gostam do melhor marcador da história “merengue”. Em sete países — Portugal, Espanha, Brasil, México, Turquia, Argentina e Itália — mais de 96% da população reconhece CR7. A Forbes coloca-o ainda no 10. º lugar no seu Top 100 Celebridades, logo abaixo de Robert Downey Jr e Taylor Swift. Sendo “Ronaldo o português mais conhecido no mundo e a marca portuguesa mais valiosa”, na perspectiva de Daniel Sá, não é surpreendente esta sua faceta empreendedora, que resultou no lançamento de cinco marcas próprias — CR7 Underwear, CR7 Footwear, CR7 Shirts (camisas e roupa formal), a linha de perfumes Legacy e os auscultadores criados em parceria com a Monster. Em simultâneo, o jogador reduz o número de patrocinadores, de 15, em 2014, para os seis actuais: Nike, TAG Heuer, Pokerstars, Herbalife, Sacoor e Clear Champô. “Sem ter ainda os cálculos para este ano, o valor da marca Ronaldo vai, com certeza, continuar a aumentar. Só em 2015, ele lançou várias marcas próprias, ganhou a Bota de Ouro, tornou-se o maior marcador de sempre do Real Madrid e vai ter um filme sobre a sua vida. O princípio é simples: quanto maior a visibilidade, maior o impacto e o valor da marca”, explica o director do IPAM. A equipa de designers, produtores e gestores que trabalha com o actual detentor do FIFA Ballon d’Or garante que a criação dos produtos CR7, nesta altura da carreira do atleta, não é uma jogada mirabolante mas apenas a concretização do desejo antigo do atleta em criar marcas que reflectem os seus gostos pessoais, sobretudo na moda. Michael Alstrup, o CEO da dinamarquesa JBS, que possui as licenças, fabrica e distribui todos os produtos da linha CR7 de roupa interior e de vestuário, recorda por email: “Ronaldo e a sua equipa contactaram-nos depois do lançamento da colecção e da campanha que criámos para [a tenista] Caroline Wozniacki. Achou os produtos muito bonitos e pouco tempo depois assinámos contrato. ” No primeiro ano com Ronaldo (2013), a JBS teve um aumento gigantesco nas vendas. “Éramos uma ‘grande’ [as aspas são do entrevistado] empresa escandinava que chegava a seis mercados e, de repente, tornámo-nos uma firma global com distribuidores em mais de 50 países”, adianta Alstrup. O volume de negócios cresceu de tal forma que a empresa desistiu de Wozniacki para “se focar na linha de Ronaldo”, que é também vendida pelo site oficial para 160 países. O antigo jogador do Sporting e do Manchester United aprova todas as colecções e participa na criação do design dos produtos. Entre treinos e jogos, Ronaldo está ainda “envolvido a 100 por cento” na concepção da sua linha de sapatos masculina, desenhada e distribuída pela Portugal Footwear e produzida em fábricas da região norte. “Cada modelo comercializado tem o seu ‘dedo’. Ele faz questão de escolher e opinar sobre todos os produtos. E como patriota que é quis que as colecções tivessem o selo exclusivo de Portugal”, diz Sandra Guimarães, directora de comunicação da CR7 Footwear. A iniciativa de lançar em 2015 uma marca de calçado não partiu do jogador, mas de uma proposta feita pela Portugal Footwear à Gestifute, empresa que gere a sua imagem e carreira. Com preços entre os 75 e os 600 euros, os sapatos CR7 são vendidos em quatro lojas exclusivas da marca no Irão, Egipto, Coreia do Sul e Finlândia, no site e em lojas multimarca em mais de 30 países, Portugal incluído. Vários media nacionais e internacionais noticiaram que a entrada de Ronaldo na indústria do calçado terá enfurecido a Nike, sobretudo porque o avançado português pretendia desenvolver uma colecção de sapatilhas, o que o colocaria em directa competição com um dos seus mais antigos patrocinadores. O gigante dos equipamentos desportivos, classificado pela Forbes como a marca mais valiosa do mundo neste ramo, numa curta declaração que enviou na terça-feira à Revista 2, diz somente que “Ronaldo é um atleta fenomenal”, que sente “orgulho” pela parceria de 12 anos com o galáctico do Real Madrid e que “aguarda com expectativa as futuras colaborações” com o jogador português. Só esta semana, na sua conta de Instagram, Ronaldo promoveu, em meia dúzia de fotos, a sua nova colecção Outono-Inverno de calçado, a sua marca de camisas e a de auscultadores, os produtos da Nike e o seu patrocinador mais recente, a Pokerstars. Desde que começou a partilhar imagens captadas com o seu telemóvel e a participar mais activamente na rede social das fotos (assumindo, por vontade própria, a tarefa que estava a cargo da Gestifute), o capitão da selecção nacional conquistou, num abrir e fechar de olhos, milhões de seguidores, ultrapassando Neymar, que era, até 17 de Outubro, o desportista mais popular. As fotos favoritas dos 34, 5 milhões de fãs são as de pai e filho, Cristiano sénior e júnior, com números sempre muito próximos de 1, 5 a dois milhões de “gostos”. No Facebook, ultrapassam os 4 milhões. Com mais esta proeza, o companheiro de equipa de Gareth Bale e James Rodríguez torna-se o rei absoluto das redes sociais. É a pessoa mais popular do mundo no Facebook com 107 milhões de fãs e, no Twitter, é o desportista com mais seguidores — 38, 5 milhões. Uma audiência planetária de 180 milhões de pessoas que lhe permite passar uma factura de 230 mil euros por cada tweet patrocinado e de 130 mil por cada post no Facebook em que menciona um dos seus sponsors. Valor total do jogador, incluindo todos os rendimentos, patrocínios e investimentosÉ quanto rende ao Real Madrid pela venda anual de 1, 5 milhões de camisolas oficiais n. º 7O que recebe por ano em salário e bónusO que recebe por ano em contratos publicitáriosValor da sua marca pessoal, a mais valiosa entre todos os futebolistasQuanto lhe rende anualmente o contrato publicitário com a NikeValor por cada tweet em que menciona patrocinadoresValor por cada post no Facebook em que menciona marcasÉ quanto ganha a cada minuto que passa“As marcas estão muito atentas à presença online e a muitos outros parâmetros. Cristiano Ronaldo gera 102 milhões de referências nas pesquisas do Google e tem mais seguidores no Facebook do que a Coca-Cola. As marcas usam os seus patrocínios nos desportos massificados para chegar facilmente a muita gente”, refere o especialista de marketing do IPAM. A London School of Marketing, também contactada pela Revista 2, adianta que as empresas gastam anualmente quase 500 milhões de euros para patrocinar os 100 atletas mais bem pagos do mundo. “Há quatro motivos que tornam apelativo o investimento nas estrelas do desporto: “A audiência massificada que segue os atletas; os valores que lhes são atribuídos — honestidade, dedicação, trabalho árduo; a validação da marca enquanto produto real e autêntico, sobretudo para as etiquetas desportivas; e a possibilidade de conquistar o público mais exigente — os homens na faixa etária entre os 16 e os 30 anos. ”É precisamente esta franja de mercado que a TAG Heuer quer atrair com o seu patrocínio ao dianteiro com mais hat-tricks na história da Liga espanhola. “Quando o novo presidente da TAG, Jean-Claude Biver, chegou à empresa em 2014 estabeleceu como nova estratégia a conquista de um público mais jovem. Para além de ser o melhor jogador da actualidade, o Cristiano Ronaldo é um líder muito poderoso entre os jovens e um ícone de moda. É uma pessoa muito simpática e acessível, que traz espontaneidade, frescura e alguma loucura, no bom sentido, à marca. A sua personalidade e o seu alcance nas redes sociais estão em sintonia com o que a TAG procura”, explicou, numa conversa pelo telefone, Valérie Servageon, directora de marketing da empresa e do grupo onde se integra, a LVMH — Louis Vuitton Möet Hennessy. Em homenagem ao craque madeirense, o relojoeiro suíço baptizou um relógio da linha “Fórmula 1” com o seu nome. É uma edição limitada com um custo de 1200 euros, preço muito acessível para os padrões de uma marca dita de luxo. “O relógio do Ronaldo é uma tentativa de reposicionamento da TAG. É uma porta de entrada no mundo do luxo para os jovens de 20 ou 25 anos que não podem comprar relógios de cinco mil euros mas que gostam de produtos que sejam vistos como luxuosos. ”Ronaldo gosta de relógios de outro nível: “Com diamantes, turbilhão e grandes complicações mecânicas. ” A marca já lhe ofereceu várias peças por obrigação contratual e presenteia-o com um relógio nas ocasiões especiais: aniversários, entregas de prémios (recebeu um Carrera Heuer 01 na recente cerimónia da Bota de Ouro). E, sempre que participa em eventos mediáticos, a TAG disponibiliza-se para emprestar relógios que combinem com a indumentária do jogador. Apesar das mordomias e da sua fortuna, Ronaldo não esquece as raízes humildes. No capítulo da solidariedade, o internacional português é também recordista, contrastando com a percepção negativa que muitas pessoas ainda têm do português. De acordo com a ONG norte-americana Do Something, é o desportista mais solidário do mundo, não só pelo seu potencial na angariação de fundos através das redes sociais, como também pelos seus donativos (entregou, por exemplo, 150 mil euros ao centro de investigação do cancro que tratou a mãe, Dolores Aveiro). A organização Save The Children, tendo conhecimento do interesse de CR7 pelas causas humanitárias, integrou o atleta na sua lista de embaixadores. “Ele é pai e um defensor entusiasta dos direitos das crianças. Sabe que precisam de crescer num ambiente saudável, forte e protector. Por isso, usa a sua voz e visibilidade para ajudar na luta contra a fome infantil e obesidade e para chamar a atenção para as crianças afectadas por desastres naturais e crises humanitárias. Ronaldo tem uma das maiores audiências do planeta e, quando fala, as pessoas correspondem”, assinala Ajla Grozdanic, directora de comunicação da organização nos EUA. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O jogador merengue — salienta a representante — “arranja tempo na sua apertada agenda desportiva para se encontrar com crianças inseridas nos programas da Save The Children. Ouve as suas histórias inspiradoras e torna realidade um dos sonhos destes meninos e meninas: conhecer o seu herói”.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Exumações no Vaticano reavivam mistério sobre desaparecimento de Emanuela Orlandi
Sepulturas do Cemitério Teutónico do Vaticano são exumadas esta quinta-feira, em busca dos restos mortais de Emanuela Orlandi, desaparecida em 1983, então com 15 anos, no centro de Roma. (...)

Exumações no Vaticano reavivam mistério sobre desaparecimento de Emanuela Orlandi
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Sepulturas do Cemitério Teutónico do Vaticano são exumadas esta quinta-feira, em busca dos restos mortais de Emanuela Orlandi, desaparecida em 1983, então com 15 anos, no centro de Roma.
TEXTO: A 22 de Junho de 1983, Emanuela Orlandi regressava a casa depois de uma aula de flauta. Foi vista, pela última vez, numa paragem de autocarro no centro de Roma, em Itália. Depois disso, desapareceu sem deixar rasto. Passados 36 anos do seu desaparecimento, a família recebeu, em Março deste ano, uma carta anónima que mostrava a fotografia de um anjo em cima de um túmulo, no Cemitério Teutónico do Vaticano. Esta quinta-feira, a polícia vai entrar no cemitério fechado ao público para exumar duas sepulturas em busca da rapariga desaparecida. Emanuela, com 15 anos à altura, era filha de um trabalhador do Banco do Vaticano — este detalhe sempre suscitou dúvidas sobre se alguém no Vaticano teria algo que ver com o seu desaparecimento. Seguiram-se décadas de especulação. Teria sido raptada ou assassinada? Se sim, onde estaria o corpo? As respostas nunca chegaram e a família seguiu, ao longo dos anos, inúmeras pistas e rumores. Até agora. “Muitas pessoas dizem-me: ‘esquece, desfruta a tua vida, não penses mais sobre isso’”, disse o seu irmão mais velho à BBC. “Mas não consigo. Não conseguirei estar em paz se isto não for resolvido”, acrescentou Pietro Orlandi. A fotografia era uma pista sobre onde estaria o corpo de Emanuela? A família sabia que tinha que pedir autorização ao Vaticano para entrar no cemitério onde costumam ser sepultados membros de instituições católicas de língua almã. Mas não foi bem-sucedida das primeiras vezes que entrou em contacto com a Igreja Católica. A família teve então de apresentar um pedido para que o Vaticano autorizasse a exumação. Um tribunal da cidade do Vaticano concedeu finalmente a autorização. “Pela primeira vez, o Vaticano demonstra que considera a possibilidade de haver responsabilidades internas no desaparecimento de Emanuela”, insistiu Pietro Orlandi à BBC. Contudo, o gabinete de comunicação do Vaticano afirmou que a polícia entrará no cemitério para investigar a possibilidade de a adolescente ter sido ali enterrada, e não o seu desaparecimento. Essa, disse, é uma jurisdição que compete às autoridades italianas. Quando a exumação tiver lugar, a família Orlandi poderá estar presente, assim como os familiares das pessoas enterradas nas sepulturas que serão retiradas. Depois disso, serão realizados testes de ADN — um processo que deverá durar semanas. “Seria angustiante para a minha mãe se os restos de Emanuela fossem encontrados. Ela ainda vive no Vaticano, a apenas 200 ou 300 metros do cemitério. Só de pensar que esteve tão perto da minha irmã tanto tempo sem saber, faz-me sentir mal”, afirmou o irmão. “Na verdade, espero que a Emanuela não esteja lá”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave trabalhador filha tribunal adolescente corpo rapariga desaparecimento
Massacre na Papuásia-Nova Guiné faz 18 mortos, incluindo crianças e grávidas
A “violência tribal” aumentou nos últimos anos. “Os ataques foram cometidos numa comunidade inocente em que as pessoas não estavam à espera, e todos nós estamos em estado de choque”, disse o governador da província onde aconteceu o massacre. (...)

Massacre na Papuásia-Nova Guiné faz 18 mortos, incluindo crianças e grávidas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.234
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: A “violência tribal” aumentou nos últimos anos. “Os ataques foram cometidos numa comunidade inocente em que as pessoas não estavam à espera, e todos nós estamos em estado de choque”, disse o governador da província onde aconteceu o massacre.
TEXTO: Na Papuásia-Nova Guiné 18 pessoas, entre elas crianças e duas mulheres grávidas, foram mortas num massacre numa pequena aldeia da província de Hela. O ataque aconteceu na manhã de segunda-feira e está a ser considerado um caso de “violência tribal”, um dos mais graves do país nos últimos anos. O primeiro-ministro James Marape prometeu nesta quarta-feira que os criminosos serão capturados, noticia a Reuters. A violência tem sido uma constante nos últimos anos na nação pobre (ainda que rica em recursos) do Pacífico, mas o número de mortos deste massacre chocou o país. “É uma história muito triste”, reagiu o governador da província de Hela, Philip Undialu. O ataque aconteceu na aldeia de Karida, que tem cerca de 800 habitantes e fica a 630 quilómetros da capital. Ainda que não se saiba qual o motivo do ataque, Undialu refere que é provável que se trate de uma “retaliação a um ataque anterior”. As vítimas deste massacre tinham oferecido abrigo a vítimas de um ataque anterior, há algumas semanas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Os dois ataques foram feitos numa comunidade inocente em que as pessoas não estavam à espera e todos nós estamos em estado de choque”, disse Undialu, citado pela Reuters. Ao todo, diz, terão morrido 24 pessoas nos dois ataques. Ao jornal britânico The Guardian o responsável de um centro de saúde em Karida, Philip Pimua, disse que morreram pelo menos oito crianças (entre 1 e 15 anos) e oito mulheres, duas delas grávidas. Pimua, que estava na aldeia na altura do ataque, acrescentou que algumas pessoas morreram depois de abrir a porta aos atacantes. “Acordei de manhã, fui fazer uma fogueira na minha cozinha, e ao mesmo tempo comecei a ouvir o barulho de tiros, reparei que algumas casas estavam a arder, portanto sabia que os inimigos já estavam dentro da aldeia”, contou Pimua. “Fugi, escondi-me nuns arbustos e quando voltei vi corpos esquartejados e casas ardidas. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência ataque comunidade mulheres
Alan Stern: “Nos próximos 300 anos, é provável que mais pessoas vivam no espaço do que na Terra”
O cientista norte-americano Alan Stern foi o responsável pela missão espacial que nos deu o primeiro vislumbre aproximado de Plutão, longe dos desfocados pixeis que conhecíamos até então. E com a possibilidade de vida mesmo na fronteira do sistema solar: “Parece existir um oceano de água por baixo do gelo em Plutão e a água está quente o suficiente para estar líquida. E onde quer que exista um oceano…” (...)

Alan Stern: “Nos próximos 300 anos, é provável que mais pessoas vivam no espaço do que na Terra”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.159
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O cientista norte-americano Alan Stern foi o responsável pela missão espacial que nos deu o primeiro vislumbre aproximado de Plutão, longe dos desfocados pixeis que conhecíamos até então. E com a possibilidade de vida mesmo na fronteira do sistema solar: “Parece existir um oceano de água por baixo do gelo em Plutão e a água está quente o suficiente para estar líquida. E onde quer que exista um oceano…”
TEXTO: O telemóvel de Alan Stern tem na capa uma imagem de Plutão, aproximada na superfície gelada em forma de coração, a Tombaugh Regio. “Foi a minha filha que me deu”, conta o cientista planetário, enquanto se senta para a entrevista. A vida do cientista da NASA faz-se nos Estados Unidos – nasceu em Nova Orleães e é investigador no Texas –, mas faz-se também a milhões de quilómetros da Terra. O norte-americano é há mais de uma década o responsável pela primeira missão espacial para explorar Plutão (tal como as suas cinco luas) e a cintura de Kuiper: chama-se New Horizons, e é o resultado de um financiamento da NASA de 880 milhões de dólares (cerca de 777 milhões de euros) que nos deu as primeiras imagens em alta resolução do longínquo planeta – que, para Stern, nunca deixou de o ser. Alan Stern esteve em Portugal para participar na conferência de exploradores Glex, que assinalou, em Lisboa, na semana passada os 50 anos da chegada do homem à Lua, onde falou dos desafios da exploração espacial e da sua missão New Horizons. “Tínhamos uma única chance de sucesso”, admite — e conseguiram torná-la realidade. De resto, a vida fora da Terra é uma garantia para o cientista: “Estamos no princípio dos princípios de deixar o berço da Terra” e viver espalhados pelo sistema solar, quiçá fora dele. “Parece ficção científica, mas não é: estamos mesmo a criar uma economia extraterrestre. ”A missão New Horizons foi lançada a 19 de Janeiro de 2006, quando saiu da Terra a uma velocidade superior a qualquer outra que já descolara, ultrapassando a barreira do som em apenas 30 segundos. Já pelo espaço, a sonda apanhou boleia da gravidade de Júpiter em 2007 e fez em 2015 a sua maior aproximação a Plutão, que está a 4800 milhões de quilómetros do nosso planeta. Depois, afastou-se ainda mais e tornou-se a primeira nave espacial a explorar um objecto tão distante quanto o Ultima Thule, um “fóssil” congelado do sistema Solar que poderá ajudar a perceber melhor a sua formação. E, por agora, a New Horizons anda pelos confins do sistema Solar, a explorar as suas fronteiras e à procura de novos mundos. A New Horizons foi histórica: passou de perto por Plutão, explorou o objecto Ultima Thule e anda agora pela cintura de Kuiper. Qual será o fim desta missão?A New Horizons é uma nave espacial muito saudável, mesmo estando há quase 14 anos a voar. E temos energia e combustível para continuar a voar durante mais 20 anos, até ao final da década de 2030. Queremos continuar a explorar, cada vez mais longe. Quando a sonda voou perto de Plutão, estava à espera de ver as dunas geladas de metano e os glaciares?A partir do conhecimento base que tínhamos do uso de telescópios — tanto no espaço como em terra — já sabíamos muito sobre Plutão. Sabíamos da sua composição à superfície, sabíamos que tinha uma atmosfera, cinco luas e tínhamos algumas pistas de que seria um sítio muito interessante do ponto de vista geológico. Mas aquilo que encontrámos estava muito além das nossas expectativas, mesmo das mais arrojadas. Gosto de dizer que o nosso sistema solar guardou o melhor para o fim. Encontrámos um mundo que é tão parecido com a Terra, com montanhas, glaciares, com indícios de líquidos à superfície e uma atmosfera feita de azoto (tal como aqui respiramos), com nuvens e nevoeiro. Só encontrar algumas destas coisas teria sido espectacular. Mas Plutão é o pacote inteiro. Qual foi a coisa mais próxima de vida que encontraram em Plutão?Não sabemos se pode existir vida lá, a superfície é extremamente fria. Está a apenas 40 graus acima do zero absoluto [a temperatura mais baixa que possivelmente existe, medida em Kelvin, equivalente a -273, 15 graus Celsius]. A sua superfície chega aos -230 graus Celsius. Mas no interior de Plutão parece existir um oceano de água por baixo do gelo e essa água está quente o suficiente para estar líquida. Portanto onde quer que exista um oceano… existe uma possível casa biológica. No futuro espero que enviemos missões para ir até esse oceano e ver o que mora ali. Plutão está a 4800 milhões de quilómetros da Terra e foi descoberto em 1930 por Clyde Tombaugh – a região em forma de coração do longínquo planeta-anão foi chamada de Thombaugh Regio em sua homenagem. É um planeta pequeno: tem cerca de 2380 quilómetros de diâmetro, o que corresponde a quase metade do comprimento dos Estados Unidos. Plutão demora 248 anos terrestres a dar uma volta ao Sol. Esta viagem de exploração de Plutão é uma porta aberta para explorar mundos cada vez mais distantes e mais parecidos com o nosso? Sim, sem dúvida. A cintura de Kuiper, onde Plutão orbita, alberga muitos planetas-anão, que são planetas do tamanho de continentes na Terra. São do tamanho da Austrália ou dos Estados Unidos e são muito diferentes uns dos outros. Quando os vemos nos telescópios, vemos que têm cores diferentes, composições e densidades diferentes, números diferentes de luas, e são muito heterogéneos, tal como os planetas rochosos do sistema solar — Marte é muito diferente do nosso, por exemplo. Agora que vimos o quão cientificamente abundantes são, muitos cientistas querem enviar missões para estes outros sítios como Éris, Haumea ou Makemake. Penso que estas explorações serão uma parte importante daquilo que faremos no espaço no século XXI. É possível que algum dia vivamos fora da Terra?Estou convencido que sim, que as pessoas sairão da Terra e viverão nestes outros planetas. Estamos realmente no princípio dos princípios de deixar o berço da Terra e de nos mudarmos para o espaço e para os planetas. Não só para os explorarmos, mas para termos novos lugares e novos recursos para os seres humanos, para melhorar a qualidade de vida para todos os seres humanos. A visão de grande plano é um bilião de humanos a viver em todo o sistema solar. E sabemos que a Terra não aguenta isto, mas o sistema solar é tão vasto que se torna fácil fazê-lo. Sei que será sempre especulativo, mas quanto tempo é que isto pode levar?É difícil fazer estimativas, mas ao longo dos próximos 200 ou 300 anos é bastante provável que mais pessoas vivam no espaço do que na Terra. E quando digo espaço não digo a flutuarem por aí, digo na superfície de outros mundos. O seu trabalho está muito relacionado com o espaço, mas nunca lá esteve. Gostaria de ter sido astronauta? Gostava muito. E, na verdade, no próximo ano ou em 2021, estarei a voar no espaço para fazer investigação na Virgin Galactic [empresa de voos espaciais] e, espero, também noutras naves espaciais. Estou muito contente com isso. Como é o seu dia-a-dia na missão New Horizons? Quais são as suas principais tarefas, quantas pessoas estão envolvidas?Quando construímos a New Horizons, trabalhávamos com 2500 pessoas em várias partes dos Estados Unidos, pertencentes a várias empresas, universidades e laboratórios. Já a equipa responsável pela tripulação é bem mais pequena: são cerca de 50 pessoas, excepto quando fazemos os voos de aproximação, em que trazemos mais pessoas porque temos de ter pessoas nos centros de controlo 24 horas por dia, sete dias por semana. Nessas alturas, são cerca de 200 pessoas. E aquilo que eu faço depende daquele que é o nosso objectivo para o dia. Às vezes estou num avião, outras vezes estou em reuniões; agora, quando foi o voo de aproximação ao Ultima Thule, passei muito tempo a trabalhar em dados científicos, num computador. O seu nome completo é Sol Alan Stern e nasceu no ano de 1957 em Nova Orleães, no estado norte-americano do Louisiana – e diz o seu pai que a sua primeira palavra foi “lua”. Com a corrida espacial da década de 1960, o seu interesse pelo espaço sideral foi atiçado. Em 2007 e 2016, Stern foi considerado uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time. Em relação à sua empresa Golden Spike: ainda tenciona enviar humanos para a Lua?Não posso falar sobre a Golden Spike porque houve grandes mudanças. Mas como vê esta intenção da NASA de voltar à Lua? Trará alguma coisa de novo?É fantástico. Acho que tem muitas vantagens: benefícios económicos, científicos e de inspiração. E estou muito entusiasmado com tudo isto. Acha que este poderá ser um dos sítios onde os humanos viverão?Sem dúvida. Mas a Lua tem um ambiente mais complicado do que Marte, por exemplo. Na minha perspectiva, e posso estar errado, será mais como na Antárctida, onde temos bases para as pessoas trabalharem, mas não teremos cidades. Mas parece-me que desenvolveremos cidades em Marte e noutros sítios. Agora que a New Horizons está na cintura de Kuiper, o que têm descoberto de novo?Descobrimos que os pequenos planetas podem ser tão complicados e activos quanto os planetas maiores, como a Terra e Marte. E isso é verdadeiramente revolucionário. Sobretudo em dois aspectos: não passava sequer pelas nossas cabeças enquanto cientistas que isto poderia acontecer. Mas a outra coisa que me parece igualmente importante, ainda que não seja científico, é o quão interessadas as pessoas estão neste tipo de exploração, sobretudo pessoas da vossa geração. Eu dou cerca de 50 palestras públicas por ano, em alguns anos chega às 100. É impressionante como, mesmo agora, anos depois, as pessoas continuam entusiasmadas e isto inspira-as para viver as suas vidas de forma diferente ou mudar aquilo que querem fazer a nível profissional. E talvez seja mesmo esse o maior benefício de todos. Quando fala deste interesse das pessoas, é curioso notar toda a discussão que houve em torno de Plutão ser ou não um planeta, quando foi considerado um planeta-anão. Como vê todo este interesse? E acha que Plutão é um planeta-anão ou não?Sabemos que o Sol é uma estrela-anã, mas isso não faz com que deixe de ser uma estrela. É só um termo técnico. E na minha área, em ciência planetária, os planetas-anão são simplesmente considerados um tipo de planeta — e é este o tipo de Plutão —, tal como temos Júpiter e Saturno classificados como planetas gigantes, muito maiores do que a Terra. Toda aquela questão de 2006 foi um erro no percurso dos astrónomos, que não são especialistas em ciência planetária. Na ciência planetária, ignoramos isso porque, simplesmente, não está tecnicamente correcto. A utilização da canção de Brian May [astrofísico e guitarrista dos Queen] sobre o Ultima Thule e também a sua empresa Uwingu [para dar nome às crateras de Marte] foram formas de aproximar as pessoas da ciência?Acredito nisso, sim. Penso que comunicar ciência e progressos tecnológicos é o nosso dever. Em parte porque, no meu caso, o trabalho é feito pela NASA, que é uma agência federal do governo dos Estados Unidos, portanto é pago com o dinheiro dos impostos. Temos o dever de informar (e inspirar) as pessoas da forma como fazemos história. Mas também me parece importante porque, por todo o mundo, toda a nossa sociedade é tecnológica e precisamos de mais homens e mulheres a ingressar em carreiras de engenharia e ciência. Queremos inspirar os miúdos a seguirem carreiras STEM [ciência, tecnologia, engenharia e matemática], e física, e informática, e química — e mudar o mundo neste século XXI. De todas as espécies na Terra, só os seres humanos parecem ser afectados pela inspiração. E é muito importante para nós, quer sintamos esta inspiração nas nossas carreiras ou nas nossas vidas pessoais. A inspiração é quase tudo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Qual diria que é o maior desafio da exploração espacial por agora?O maior é difícil de dizer; mas há muitos grandes desafios: um deles é passar de uma era em que o voo espacial é raro para uma era em que o voo espacial é rotineiro. Isso traz desafios técnicos (para tornar esta rotina segura), desafios financeiros (para tornar estas viagens mais baratas para que se torne mais como voos comerciais), e desafios de conseguir o capital (para investir e fazermos todas as coisas que queremos fazer no espaço): desde turismo espacial à parte científica da exploração, até recursos para gerar energia, e tantas outras coisas. Parece ficção científica, mas não é: estamos mesmo a criar uma economia extraterrestre.
REFERÊNCIAS:
Entidades NASA
Comissão Eleitoral do Bangladesh rejeita repetir eleições
A ida a votos de domingo deixou 17 mortos em confontos entre apoiantes de partidos rivais. Oposição denunciou “uma farsa”. (...)

Comissão Eleitoral do Bangladesh rejeita repetir eleições
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A ida a votos de domingo deixou 17 mortos em confontos entre apoiantes de partidos rivais. Oposição denunciou “uma farsa”.
TEXTO: Já se sabia que a oposição ao partido da primeira-ministra Sheikh Hasina Wazed se preparava para exigir esta segunda-feira a repetição das eleições de domingo, marcadas por inúmeros episódios de violência e queixas de fraude eleitoral. Não se esperava era a resposta: “Não é possível organizar uma nova eleição uma vez que esta decorreu de forma pacífica”, afirmou o chefe da Comissão Eleitoral, K M Nurul Huda, numa conferência de imprensa em Daca. A mesma Comissão Eleitoral confirmara no domingo, antes do encerramento das urnas, que tinha recebido queixas de manipulação de votos “em todo o país”, anunciando a abertura de uma investigação. “Pedimos à Comissão Eleitoral que invalide esta farsa de resultados”, dizia, pela mesma altura, Kamal Hossain, do Partido Nacionalista, que lidera uma coligação de formações opositoras. Hossain, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, foi escolhido como candidato à chefia do Governo depois de a líder do partido e da oposição, Khaleda Zia, ter sido presa por corrupção no início do ano, e impedida assim de se apresentar a votos. Nas anteriores eleições, em 2014, toda a oposição apelou ao boicote por considerar que o órgão que as organizava não era independente. Independentemente da existência de fraude é difícil defender que as eleições foram “pacíficas”. A polícia confirma a morte de sete apoiantes do partido no poder, a Liga Awami, e de cinco da oposição. Há 17 vítimas mortais declaradas, mas admite-se que possam ter morrido mais pessoas nos confrontos em diferentes zonas do país com 160 milhões de habitantes e 100 milhões de eleitores. As autoridades mobilizaram 600 mil forças policiais para tentar garantir a segurança. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Depois de uma contagem de votos especialmente rápida, soube-se ainda no domingo que Sheikh Hasina Wazed venceu um terceiro mandato consecutivo, elegendo quase todos os deputados cujos lugares iam a votos: o seu partido e aliados conseguiram 288 dos 300 em disputa, dilatando assim a sua maioria. O Parlamento do Bangladesh tem 350 lugares, incluindo 50 reservados para mulheres e distribuídos de forma proporcional depois de terminada a contagem. Neste cenário, a oposição ficou apenas com sete deputados, denunciando intimidações generalizadas aos seus eleitores. Jornalistas da BBC visitaram urnas um pouco por todo o país e identificaram um padrão – os apoiantes da primeira-ministra falavam em frente às câmaras; “os outros estavam quase sempre com medo”. Desde 1991, quando foi restaurada a república parlamentar no Bangladesh, a Liga Awami e o Partido Nacionalista têm alternado no poder com excepção de um período de regresso à tutela militar, de 2006 a 2008.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte violência medo mulheres
Pais suspeitos de raptarem filha e de construírem divisão sem luz para esconderem menor
Menor tinha sido adoptada, mas foi dada como desaparecida pelos pais adoptivos. Foi encontrada com os pais biológicos, que a escondiam num espaço sem luz e quase sem circulação de ar. Menor está, “aparentemente, de boa saúde”. (...)

Pais suspeitos de raptarem filha e de construírem divisão sem luz para esconderem menor
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.175
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Menor tinha sido adoptada, mas foi dada como desaparecida pelos pais adoptivos. Foi encontrada com os pais biológicos, que a escondiam num espaço sem luz e quase sem circulação de ar. Menor está, “aparentemente, de boa saúde”.
TEXTO: Um casal foi detido na manhã desta terça-feira, no Porto, por ser suspeito de manter a filha menor em situação de sequestro. A menina tinha sido adoptada, mas foi dada como desaparecida pelos pais adoptivos, tendo sido encontrada em casa dos pais biológicos, que a escondiam das autoridades num pequeno espaço sem luz e quase sem circulação de ar. A menina não tinha qualquer liberdade de movimentos, não podendo sair para o exterior da residência, informa a PSP em comunicado. No último ano lectivo, a menor não frequentou a escola. O cativeiro terá durado, pelo menos, um ano, avança ao PÚBLICO fonte oficial do Comando Metropolitano de Lisboa. “A menor encontrava-se num esconderijo do quarto disfarçado por parede falsa, preparado propositadamente, ao que tudo indica, para ali ser ocultada, sempre que alguma autoridade policial ou outra instituição se aproximavam do imóvel, sendo o espaço exíguo, sem qualquer tipo de luz e quase sem circulação de ar”, pode ler-se no comunicado. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Fonte da PSP explica ao PÚBLICO que, no dia-a-dia, a criança podia circular dentro da casa, sendo colocada no esconderijo sempre que alguma autoridade se aproximava ou visitava a habitação. Desde o desaparecimento da menor, as autoridades suspeitaram dos pais biológicos. O casal, de 43 e 44 anos, foi detido na União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, no Porto. A força policial adianta, também, que a menor se encontrava “bem nutrida e, aparentemente, de boa saúde”. O casal irá ser presente no Tribunal da Comarca de Lisboa Oeste — Cascais, para interrogatório judicial e aplicação das medidas de coacção.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
A senhora que fala(va) sozinha
Quando estou a trabalhar, mergulho de tal maneira nos meus pensamentos sobre a maldade que os seres humanos são capazes de fazer uns aos outros que nem me apercebo de que estou a fazer um comício. (...)

A senhora que fala(va) sozinha
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quando estou a trabalhar, mergulho de tal maneira nos meus pensamentos sobre a maldade que os seres humanos são capazes de fazer uns aos outros que nem me apercebo de que estou a fazer um comício.
TEXTO: De todas as vezes que contemplo a senhora responsável pela limpeza diária da redacção do Porto durante os seus afazeres, vem-me sempre à memória a força com que os Stomp nos beliscam, acordando-nos para a importância das pequenas coisas que tantas vezes descartamos das nossas vidas: o singelo acto de pararmos para pensar ou de perdermos alguns, muito poucos, instantes a ouvirmos ou simplesmente a observarmos os gestos dos outros. Às vezes, inconscientemente, dou comigo a ensaiar um sapateado no limpo chão de linóleo, ao ritmo a que a dona Maria Manuela se vai movimentando. Adoro os Stomp, e, claro, a dona Maria, que muito bem nos trata das instalações. Tenho uma caneca desta orquestra originária de Brighton, no Reino Unido, comprada num dos últimos concertos, no Coliseu do Porto, há uns anos. Por ela bebo a água de todos os dias, como se de uma poção se tratasse. Carinhosamente, conservo também em mim um enorme abraço que um dia me foi dado pela senhora da limpeza. Maria Manuela, grisalha, elegante e muito delicada, recolhe-se em si, como uma tartaruga na sua timidez. No interior da sua azulada bata, caminha, a passos estudados e arrastadamente lentos, com o corpo quase colado à parede oposta à das mesas da redacção, ordenando ao seu sobrelotado carrinho de instrumentos que nunca incomode as senhoras e os senhores jornalistas. Não usa as ferramentas de trabalho à semelhança dos Stomp; no entanto, leva a crer que é com os seus adereços que comunica. Sem alarido, percorre o longo corredor da redacção, numa espécie de performance artística. De vez em quando, como se nada fosse com ela, anuncia-se pelas reflexões que vai tendo consigo mesma. O seu trabalho torna-se transparente, à medida que, em alta voz, vai soltando um monólogo, algumas vezes musicado, enquanto executa as suas tarefas. Tenho também as minhas rotinas, às quais sonambulamente me entrego e que vão tomando conta de mim, sem sequer me dar por isso – tais como tomar um simples café –, depois de ligar – algo banalíssimo, claro – o meu arcaico computador e todas as aplicações necessárias para fazer chegar aos leitores as melhores fotografias que me for possível. Aguardo que o meu PC e eu nos estabilizemos, durante uma meia hora, e nos dêmos o sinal de prontidão para mais um dia de sã convivência, dirigindo-me, como sempre, à copa para tirar um café e passar por água a minha caneca timbrada com a imagem dos Stomp. Foi na busca de uma dose de cafeína que me recordo de despertar com uma voz hesitante e meio trémula a sussurrar-me algo que um coração nunca me diria: “Detesto as pessoas que não respeitam e desestabilizam o trabalho dos outros. ” Era a voz de Maria Manuela, que prefere que a trate por Maria e que dá graças aos pais pelo tão imaculado nome. Antes desse dia em que nos cruzámos na copa, havia trocado com Maria apenas algumas normais saudações de gente comum. Debatia-se com alguma louça amontoada na banca. Houve sucessivos e envergonhados pedidos de desculpas mútuos, e simultaneamente (como que num recuo de vídeo) retirei-me, conforme tinha entrado, agora de costas, em direcção à porta da sala de refeições. Não reflecti de imediato no alcance das palavras da senhora, pois o meu cérebro encontrava-se literalmente focado na rotina do café para ultrapassar a lenta compreensão. Mas o som do esfregão e da água a cair sobre a grelha da base da máquina de café despertou-me para o sentido daquela observação. Após uns dias a pensar nas palavras de Maria, com as quais naturalmente me identifico, ganhei finalmente coragem de a interpelar para uma conversa. No fundo, o que pretendia, para além de a conhecer melhor, era compreender a sua perspectiva sobre o que significava de facto essa “desestabilização” do seu trabalho pelos “outros”. É algo que também me atormenta como fotógrafo e editor de fotografia, numa organização em que existe uma estrutura muito bem oleada e que funciona geralmente bem na sua transversalidade, à semelhança dos Stomp. Recuso-me a compreender qualquer conflito de instrumentos musicais que quebrem toda a harmonia de uma orquestra. Nessa conversa que decorreu entre abraços, consegui um clima propício e coragem para uma primeira pergunta que também me perseguia:“Desculpe-me, dona Maria. Por favor, não me leve a mal, sou muito curioso como as crianças e tenho mesmo que lhe fazer esta pergunta: porque é que a senhora fala sozinha e em voz alta?”O inesperado aconteceu: uma enorme e sonora gargalhada infantil apossou-se de Manuela, que por breves instantes destapou o rosto de menina. “Olhe, é a primeira pessoa que me pergunta isso!”. Outro sorriso, com os seus olhos azul-turmalina a brilhar. “Tenho um neto autista, o meu lindo Mário, com quem aprendo todos os dias e ele comigo. . . Só aos oito anos é que começou a associar as palavras e a entender. Agora, tem 12 anos e digo-lhe muitas vezes: ‘Olha a avó, Mário, não se fala alto!’. Nós falámos muito todos os dias. Tenho que lhe fazer entender a realidade da vida, ensinar a saber estar na vida, a respeitar o próximo. Por outro lado, o meu sistema nervoso é normal, apesar de não conseguir estar muito tempo parada. Sabe, sou surda do ouvido direito e o outro não anda também lá muito bem. Quando estou a trabalhar, mergulho de tal maneira nos meus pensamentos sobre a vida, sobre o mundo, sobre a maldade que os seres humanos são capazes de fazer uns aos outros, que nem me apercebo que estou a fazer um comício. Às vezes, prefiro conversar com as minhas plantas para não me chatear com as pessoas, ou mesmo dar um passeio à beira-mar para aliviar a tensão que me incomoda, pelas coisas más que vão acontecendo pelo mundo. “Acho que as pessoas actualmente cometem muitos erros por não pararem para pensar na relação com os outros, porque uma palavra mal dita ao outro, às vezes, é pior do que dar-lhe um bofetão. Deviam ir até à beira-mar, porque comunicar com o mar é uma coisa fantástica: alivia e é algo que faz bem à alma, aos pensamentos e aos sentimentos. O mar acalma a gente e é bom para reflectir. . . O mar alivia um bocadinho o stress do dia-a-dia, eu entendo isto assim, na minha maneira de pensar. ”Após dez minutos a ouvir Maria – a senhora que falava sozinha –Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. pareceu-me ridículo colocar-lhe a questão sobre “as pessoas que não respeitam e que desestabilizam o trabalho dos outros”. Senti uma estranha sensação de ter abraçado o mar, quando me despedi da senhora das limpezas e regressei à minha secretária, onde o meu computador me aguardava, também estável, para editarmos as fotografias do jornal. Para meu regozijo, Maria pediu-me ainda, por favor, que tivesse muito respeito e muita paciência com todas as estagiárias e todos os estagiários. Nunca me devo esquecer que sou um deles, porque estamos sempre a aprender.
REFERÊNCIAS: