Enquanto as Marias vão ao cinema, a Sé respira mais um pouco
Entre o documentário e a ficção, Marias da Sé tem uma comunidade como protagonista. No filme de Filipe Martins cabem tradições, singularidades e delicadezas da Sé que resiste. Mas se ressente. Estreia no Porto está marcada para esta quarta-feira, 17 de Outubro. (...)

Enquanto as Marias vão ao cinema, a Sé respira mais um pouco
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.156
DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Entre o documentário e a ficção, Marias da Sé tem uma comunidade como protagonista. No filme de Filipe Martins cabem tradições, singularidades e delicadezas da Sé que resiste. Mas se ressente. Estreia no Porto está marcada para esta quarta-feira, 17 de Outubro.
TEXTO: Números 47 e 49, portas acastanhadas, varandas enfeitadas. Na casa do começo da rua, mora a explicação de quase tudo. Numa, duas violas envolvidas por papel colorido, na outra uma faixa preta com o baptismo anunciado: "Varanda da Saudade". Ainda em Setembro se ouviu fado ecoar dali. Ainda em Setembro a Sé foi o que a Sé é (ou era?). Maria João Mendes e Paula Lemos atropelam-se a reviver o dia, repetido de quando em vez na Rua Escura. Não é apenas pelo fado vadio, é pela gente reunida nesses eventos. “Isto fez com que o povo que cá morou regressasse à terra”, aponta Paula Lemos. Gente há muito apartada da comunidade, empurrada para os bairros, deslocada para a periferia. Mas que mantém o coração na Sé. Foi por um acaso que Filipe Martins foi parar à “loja da Maria João”, no piso raso daquele prédio, vistas para a Sé catedral. Mas não foi casual a sua permanência. Ali, o realizador encontrou a essência que buscava. “Elas são as guardiãs do espírito tradicional da Sé”, aponta. Filipe Martins tinha sido convidado pelo Balleteatro e a Porto Lazer para fazer um retrato da comunidade da Sé, geografia onde o Porto nasceu. E andava a calcorrear a zona quando lhe falaram daquele lugar. — Entrei e estavam umas oito ou nove mulheres a jogar cartas. Conheci-as logo. — E gostaste, diz lá! Não há mulheres como as do Norte. Maria João espicaça o realizador. Foi já há três anos que Filipe Martins andou por ali a filmar. E depois da estreia mundial do filme, entre o documentário e a ficção, no Festival de Cinema de Avanca, chegou a vez do Porto. Esta quarta-feira, 17 de Outubro, às 21h30, as Marias da Sé enchem o grande ecrã do Passos Manuel, no terceiro dia do Family Film Project. É um retrato desta comunidade pelas suas vozes, narrativa desenhada de forma “espontânea”, ao ritmo do quotidiano dos moradores. E com os actores João Reis, Carla Bolito e Lígia Roque a dar-lhe uns laivos de ficção. Uma “encenação do real”, nas palavras do realizador, onde se discute política e futebol, bairrismo e tradições, delicadezas e desassossegos. Maria João traz o cabelo preto brilhante amarrado, enormes argolas de ouro, avental com toques de renda. Ser mulher “nascida e criada” na Sé é linha primeira da sua biografia e orgulho para o qual lhe faltam palavras: “Não há explicação, é preciso ser daqui para saber. ” Há uns anos, depois de o telhado da sua casa na Rua de D. Hugo fracassar, foi parar a um bairro. “Era por um ano, foram 19”, conta. Há coisa de três, com os trocos que o filho do meio foi fazendo no mundo do futebol, conseguiu comprar aquele prédio e voltar à Sé. E dali não quer sair mais. Mãe de três e avó de dois, apesar dos 45 anos, é na loja dela o epicentro de uma comunidade que se recusa a desistir. Mesmo condenada a morar fora, Paula Lemos não desiste. Quando há uns 12 anos juntou dinheiro para investir numa casa, “ainda ninguém olhava para a Sé com olhos de olhar”. Quem estava não queria sair, quem tinha casas não queria vender. Foi parar a Oliveira do Douro, mas ali desagua sempre que pode. A filha Tatiana (também actriz no filme) pratica boxe na União Desportiva da Sé e também ela, dada ao desporto, começou a fazê-lo. “Chamam-lhe bairro da Sé, mas não é bairro. É uma comunidade. É mais chique”, sorri. “A nossa maneira de ser é diferente em tudo. Defendemos isto com unhas e dentes”, aponta Maria João. À porta do Mercado de S. Sebastião, a poucos metros dali, Maria Carvalho espera a carrinha que a levará até São Roque. Vai encher os caixotes pretos de mercadoria para vender no mercado na manhã seguinte. Também ela é personagem no filme de Filipe Martins: “Apareço a falar mal do Pinto da Costa e elas a falar mal do Vieira”, conta. Avental com a águia sempre posto, “Maria Comunista”, como é conhecida, não deixa nada por dizer. Sempre que o Benfica joga na cidade, vai a Campanhã receber a claque e faz o caminho com ela até às Antas. “Nunca gostei daquele campo”, afirma, peremptória. “Chama-se Dragão, não é Antas”, contesta a vizinha Conceição Baptista, moradora da Sé há mais de 50 anos. Em poucos segundos, a conversa vai da bola à política. Da política ao turismo. “É sempre a piorar. Tiraram as pessoas, mandaram-nas para os bairros. E as casas estão vazias ou com hostels”. Da Rua Escura “cheinha” de gente já nem sobram vestígios: “No meu prédio já sou só eu e a minha irmã”, conta. Albina Maia, 81 anos, ouve a queixa e faz eco. Desde que o marido morreu, há uns dois longos anos, sente-se “sozinha como um gato”. Trocou Cabeceiras de Basto pelo Porto aos 14 anos. Foi criada de servir, com salário de 100 escudos, até se casar. Depois mulher-a-dias, vendedora de roupa com posto em frente ao mercado. “O que isto era e o que é”, deixa sair. Há dias, desmaiou em casa e não teve quem lhe valesse — e essa solidão forçada é parte do drama de quem ali vive. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Filipe Martins sublinha a “perfeita consciência” da comunidade em relação à história ali vivida: “A noção da importância cultural delas e da ameaça desta especulação imobiliária e overdose do turismo. ” Paula Lemos atropela a frase mal ouve falar de turismo: “Essa overdose era boa se nos levasse a nós também”, defende. O prédio ao lado da loja da Maria João foi vendido. Será mais um hostel. Uns metros abaixo, há casas devolutas há anos prometidas para residências de estudantes. Na Rua dos Pelames, apartamentos renovados e fechados. “Isto é bonito enquanto a gente cá estiver”, reclama Paula Lemos, “quando formos todos embora vão ver o quê? Prédios?”. À porta da loja, um cartaz de letras amarelas e fundo azul anuncia o filme Marias da Sé. Jogam-se cartas, fala-se da vida. Sábado será dia de comes e bebes ao almoço, a meio do mês haverá uma “excursão aos leitões, só para mulheres”, em breve regressará o fado na varanda a abalar saudades. Novamente a verdadeira Sé. Quando esta noite o filme rodar no Passos Manuel, Maria João sorrirá: “No tempo em que isto acontece, a Sé resiste mais um bocadinho”. Assim seria, garantem, com um pequeno apoio camarário que as ajudasse a protagonizar o renascimento da Sé. Mas agora fora do ecrã.
REFERÊNCIAS:
O Rafiq de Mtwara
Na extraordinária e belíssima África, o rigoroso planeamento de uma viagem — à maneira ocidental — pode subitamente tornar o agradável em desagradável. O sentido do improviso é uma das faculdades mais necessárias. (...)

O Rafiq de Mtwara
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-03-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na extraordinária e belíssima África, o rigoroso planeamento de uma viagem — à maneira ocidental — pode subitamente tornar o agradável em desagradável. O sentido do improviso é uma das faculdades mais necessárias.
TEXTO: Há uma fotografia que revisito com alguma frequência na minha memória, como se de um flash se tratasse: a imagem do Rafiq de Mtwara, um jovem que nos apareceu do nada, na Tanzânia, na escuridão da estrada, apenas ao alcance do muito curto horizonte que os faróis da viatura nos permitiam ver. Encontrávamo-nos perdidos à saída da cidade de Mtwara. Este amigo fez questão de voltar atrás alguns quilómetros para nos indicar o caminho, quando apelámos à sua ajuda. Como fotógrafo, prezo instintivamente estes registos de memória que vou fazendo. Temo que a minha própria faculdade individual em armazenar essas mesmas imagens seja assaltada pela extrema confiança que nelas vou depositando. É um defeito meu, eu sei, mas tendo a deixar-me levar cada vez mais pela fotografia. Ainda a madrugada despertava quando o jornalista Manuel Carvalho e eu, preparados para nos fazermos à estrada e com todos os minutos cronometrados, nos sentimos por instantes enclausurados na guest house, onde provavelmente tínhamos sido os únicos hóspedes a pernoitar. Vínhamos de Nevala, depois de termos admirado o grande vale do Rovuma e visitado o Boma, a fortaleza alemã erguida durante a Grande Guerra. Gritei com toda a minha voz a chamar por alguém para sairmos da estalagem, julgando que a proprietária teria pernoitado noutro lugar e que não lhe tínhamos feito entender a nossa necessidade de, àquela hora, já estarmos a caminho para atravessarmos para a outra margem do Rovuma e regressar a Moçambique. Entretanto, Eva, a nossa anfitriã, despertou ao meu chamamento e lá veio abrir as grades para nos pormos a caminho. Os tanzanianos são de longe melhores do que os franceses e os espanhóis todos juntos no que diz respeito à preservação do seu idioma. Pelo menos nesta região, dificilmente conseguimos comunicar noutro idioma senão o suaíli. A nossa estalajadeira não nos dirigiu uma única palavra em inglês, apesar das nossas vãs tentativas, esforçando-nos o máximo possível para entendermos a língua. Apenas os sorrisos fizeram as honras. O cansaço que carregávamos no corpo era do tamanho de uma longa, poeirenta e dura picada em terra batida, enfrentada durante lentas horas de deslumbramento. Nada que se comparasse aos horrores e às fadigas desumanas suportadas pelas populações e pelos militares no Rovuma durante a Grande Guerra. A nossa fadiga era-nos, aliás, sugerida pela memória desses homens e mulheres que deambularam ao longo de centenas de quilómetros pela majestade do Rovuma, a pé, transportando artilharia, toneladas de mantimentos ou carregando os feridos em combate ou os combalidos pela malária ou a disenteria. A caminho da fronteira de Kilambo, na Tanzânia, tínhamos como objectivo atravessar o Rio Rovuma em direcção a Namoto. Kilambo é das principais portas fronteiriças de entrada em Moçambique. Chega-se lá num batelão muito concorrido e com a sua navegabilidade literalmente comprometida pelas marés, porque, quando chega a hora de vazar as suas águas, o Rovuma expõe largos bancos. Há dias em que a travessia é feita apenas numa viagem de ida e outra de volta, deixando para trás uma enorme fila de viaturas ligeiras e de camiões repletos de mercadorias. Muitos passageiros, com alguma sorte, embarcarão no dia a seguir. Outros vão arriscando o transporte em pequenas barcarolas que se fazem à correnteza das águas. Na extraordinária e belíssima África, o rigoroso planeamento de uma viagem — à maneira ocidental — pode subitamente tornar o agradável em desagradável. O sentido do improviso é uma das faculdades mais necessárias. Assim que conseguimos fazer-nos à estrada, às cegas, em direcção a Kilambo, julgávamos que tudo estava sob controlo. A única coisa que não prevíramos era que o nosso GPS, o contacto directo com as pessoas que fomos encontrando, seria em suaíli. Perdidos na madrugada à saída de Mtwara, num labirinto de estradas em terra batida e algumas em obras, demos pelo menos duas vezes connosco numa estrada que terminava no recreio do que naquela escuridão nos pareceu ser uma escola primária. Desesperados para chegarmos a tempo de apanharmos o batelão e sem vislumbrarmos o que seria a estrada principal, cruzámo-nos no meio de nada com Rafiq. Um rapaz generoso e que ainda hoje vejo sorrir na minha memória. Era um sorriso muito genuíno e de olhos cativantes. Quase não precisámos de comunicar para que ele percebesse que estávamos perdidos. Imediatamente pusemos a sua bicicleta na viatura. Sempre sorridente e a gesticular, Rafiq apontou-nos, no meio daquela escuridão, a saída do labirinto em que nos encontrávamos. Gostaria de ter sabido mais sobre ele, mas o tempo e a barreira da língua que se impunha entre nós, levou a melhor. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Chegados a Kilambo, nas margens de um rio que viveu guerras duras e que agora fervilha de vida e juventude, reparámos que todos se tratavam por Rafiq. Com surpresa, compreendemos o sentido do significado do termo rafiq. Uma palavra de origem árabe que quer dizer amigo gentil, bondoso, aquele que, para ajudar a solucionar os problemas dos outros, age com muita sabedoria. Afinal, o nosso amigo de Mtwara não se chamava Rafiq. Terá usado o termo para nos aceitar como seus amigos. Foi assim que naquela madrugada ficámos por instantes a observar Rafiq, uma estrela cadente que apareceu e, enquanto acenava, despedindo-se, montado na sua bicicleta, foi desaparecendo, a caminho de mais um dia de cultivo nas suas terras.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra escola ajuda mantimentos mulheres corpo
Sardenha: uma ancestral energia dionisíaca
O trágico caminho que Macbeth descreve até ao trono da Escócia é deslocado por Alessandro Serra para a Sardenha dos carnavais – inquietante, fascinante e grotesca (...)

Sardenha: uma ancestral energia dionisíaca
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: O trágico caminho que Macbeth descreve até ao trono da Escócia é deslocado por Alessandro Serra para a Sardenha dos carnavais – inquietante, fascinante e grotesca
TEXTO: Ninguém parece saber muito bem que origem terá e há quanto tempo durará. Dir-se-ia que existe desde sempre, com essa mesma natureza perturbadora, tão fascinante quanto ameaçadora, como se juntasse vida e morte num só sopro, numa tradição com máscaras grotescas e comportamentos que não conhecem limites. O Carnaval — ou os vários carnavais, que se estendem por mais de um mês, avançando por várias localidades — na região de Barbagia, na Sardenha, convoca personagens que desfilam pelas ruas num ritual pagão misterioso, em que o perigo parece estar sempre presente atrás das máscaras e de um sentido oculto, alimentado por cantos e danças invariavelmente infiltrados por alguma desordem e por lendas como a de Ilonzana, mulher velha, feia e trajada de negro que, na localidade de Ottana, se acredita ser responsável pelos destinos de homens e mulheres, podendo matar quem se recusar a pagar-lhe uma bebida.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens mulher negro mulheres
Praias com água completamente limpa são 44 e dez estão em Torres Vedras
Estudo da associação ambientalista Zero divulga conclusões semelhantes a 2018. (...)

Praias com água completamente limpa são 44 e dez estão em Torres Vedras
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.183
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Estudo da associação ambientalista Zero divulga conclusões semelhantes a 2018.
TEXTO: Portugal tem 44 praias sem qualquer vestígio de poluição, 7% das 608 zonas balneares em funcionamento este ano, segundo uma análise da associação ambientalista Zero divulgada este sábado. No dia em que abre a época balnear em quase três centenas de praias, a Zero (Associação Sistema Terrestre Sustentável) diz que Torres Vedras, com dez praias, e Vila do Bispo, com cinco, são os concelhos líderes em termos de águas balneares de qualidade. De acordo com a ZERO, não foi detectada qualquer contaminação nas análises às águas dessas praias ao longo das três últimas épocas balneares e o número de zonas balneares com zero poluição é idêntico ao do ano passado. Na análise foram tidos em conta os parâmetros da legislação em vigor, diz a associação, em comunicado, no qual se lê também que uma das praias é de interior, a praia de Montes, na Albufeira de Castelo do Bode, em Tomar. Na lista de praias mais limpas, outros concelhos com mais praias de elite são o da Praia da Vitória, nos Açores, com quatro praias, e Tavira, no Algarve, com três. Aljezur, Vale Figueiras Angra do Heroísmo, Salga Angra do Heroísmo, Salgueiros Esposende, Apúlia Esposende, Ramalha Faro, Barreta Grândola, Aberta Nova Grândola, Melides Lourinhã, Peralta Mafra, São Lourenço Marinha Grande, Pegras Negras Marinha Grande, Praia Velha Matosinhos, Pedras do Corgo Peniche, Baleal Sul Peniche, Baleal-Campismo Porto Santo, Porto das Salemas Praia da Vitória, Porto Martins Praia da Vitória, Prainha Praia da Vitória, Sargentos Praia da Vitória, Zona Balnear dos Biscoitos Santiago do Cacém, Fonte do Cortiço Sesimbra, Moínho do Baixo-Meco Tavira, Cabanas-Mar Tavira, Ilha de Tavira-Mar Tavira, Terra Estreita Tomar, Montes (única praia interior) Torres Vedras, Amanhã (Santa Cruz) Torres Vedras, Centro (Santa Cruz) Torres Vedras, Física (Santa Cruz) Torres Vedras, Formosa Torres Vedras, Mirante (Santa Cruz) Torres Vedras, Navio Torres Vedras, Pisão (Santa Cruz) Torres Vedras, Santa Helena Torres Vedras, Santa Rita-Norte Torres Vedras, Santa Rita-Sul Vila do Bispo, Almadena-Cabanas Velhas Vila do Bispo, Boca do Rio Vila do Bispo, Burgau Vila do Bispo, Castelejo Vila do Bispo, Cordoama Vila do Conde, Labruge Vila Nova de Gaia, Aguda Vila Real de Santo António, Fábrica-MarCom duas praias no “currículo” estão os concelhos de Angra do Heroísmo, Esposende, Grândola, Marinha Grande e Peniche. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A associação alerta que só devem ser frequentadas praias classificadas como zonas balneares, que se devem preservar as dunas e que não devem ser deixados resíduos, nomeadamente de plástico. “Mais de 80% dos 12, 2 milhões de toneladas de plástico que entram no ambiente marinho em cada ano vêm de fontes terrestres, sendo o maior contribuinte o lixo de plástico, incluindo itens como garrafas de bebidas e outros tipos de embalagens”, alerta a ZERO.
REFERÊNCIAS:
Tempo sábado
Fado e festa à mesa
Aponte na agenda: nos dias 8 e 9 de Junho o passeio ribeirinho da Amora vai receber alguns dos melhores fadistas nacionais. Um festival que tem muito para oferecer, da música portuguesa à boa comida são muitas as razões para planear uma visita ao Seixal. (...)

Fado e festa à mesa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-07-10 | Jornal Público
SUMÁRIO: Aponte na agenda: nos dias 8 e 9 de Junho o passeio ribeirinho da Amora vai receber alguns dos melhores fadistas nacionais. Um festival que tem muito para oferecer, da música portuguesa à boa comida são muitas as razões para planear uma visita ao Seixal.
TEXTO: A pouco mais de vinte quilómetros de Lisboa, encontramos a Baía do Seixal, uma zona que cada vez mais está a roubar a atenção da capital. Uma paisagem bonita, boa comida, boa cultura e a simpatia de quem recebe têm conquistado portugueses e estrangeiros. Mais do que nunca, o Seixal está na moda. Vai estar ainda mais no fim-de-semana de 8 e 9 de Junho com o Fado Food Fest, que chega pela primeira vez à zona ribeirinha da Amora. Faça-se à estrada e prepare-se para um ambicioso programa de festas que inclui animação de rua, fogo-de-artifício e concertos, com alguns dos mais prestigiados fadistas da nova geração. “Vamos ter desde o fado mais tradicional ao contemporâneo, para além da gastronomia típica. Posso ainda afirmar em primeira mão que iremos ter algumas surpresas”, conta o promotor do evento Celso Machado. A ideia não é nova mas anda a ser trabalhada há alguns meses. “Foi possível tornar realidade com o apoio da Câmara Municipal do Seixal e a ACISTDS (Associação do Comércio, Indústria, Serviços e Turismo do Distrito de Setúbal)”. O recinto do Festival encontra-se na Avenida Silva Gomes, Amora. A organização irá disponibilizar autocarros para transportar todos os visitantes do Fado Food Fest entre o recinto do festival e a estação da Fertagus em Foros de Amora das 16h30 às 23h30. No sábado, o letrista e compositor Helder Moutinho sobe ao palco principal às 21h00 do Fado Food Fest. Uma hora depois de Ana Laíns celebrar 20 anos de carreira, Cuca Roseta encanta às 23h15 com a alma e emoção que a sua voz transporta aos amantes de música durante 1h15. A noite só termina com M-Pex no palco secundário, chamado palco Jardim, a partir das 00h30. Um projecto que alia a guitarra portuguesa à música electrónica, misturando tradição e modernidade. Já no domingo, o espectáculo começa no palco Rio, às 21h00, com a artista (e curadora do evento) Diamantina Rodrigues, uma eterna apaixonada pela música e pelo Seixal. “O meu concerto assenta em clássicos, onde faço uma viagem por alguns dos maiores nomes masculinos do fado já desaparecidos. Assim, interpretarei criações de Alfredo Marceneiro, Fernando Farinha, Fernando Maurício, Carlos Ramos, Tristão da Silva entre outros, lembrando o que fomos como base daquilo que somos hoje na representação das nossas raízes e cultura por este mundo fora”, explica-nos. 8 de JunhoPalco Jardim9 de JunhoPalco RioPalco JardimÀs 22h00, a cantora dá o lugar ao DJ Stereossauro - conhecido por cruzar o fado, guitarra portuguesa e a música electrónica - para um concerto de quase uma hora. A cabeça de cartaz Gisela João toma de assalto o Fado Food Fest com a sua voz única e uma energia inigualável às 23h15. Poderá, ainda, assistir a um espectáculo piromusical pelas 00h35. O festival acaba com um pé de dança a ouvir os Bela Ensemble no palco secundário, a partir das 00h45. “É importante trazer os novos projetos de fado com roupagens mais atuais e mais próximos de uma nova geração que aprendeu a ouvir fado mais recentemente, e até projetos mais alternativos com raízes neste estilo musical, no entanto, será igualmente importante trazer nomes que nos transportem para as raízes mais puras e “clássicas” do fado”, conclui Diamantina Rodrigues. Mas nem só de música se faz este festival, como o próprio o nome indica iguarias não vão faltar. Petiscos e gastronomia regional fazem parte do menu e o espaço contará ainda com um wine court onde poderá degustar vários vinhos nacionais. Na zona de restauração não haverá descartáveis de plástico. Os copos serão todos reutilizáveis (com devolução da tara), os pratos e tigelas são feitos a partir de cana do açúcar e os talheres a partir de amido de milho, sendo por isso ambos 100% biodegradáveis. Os guardanapos e as toalhas de mesa são recicláveis e haverá sinalética para separação de resíduos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Com o tema “Baía do Seixal à mesa com o Fado”, a primeira edição prevê acolher um total de 4 mil pessoas. Fora do palco haverá também muita animação, como um espectáculo de fogo de artifício. Nas palavras de Joaquim Santos, presidente da Câmara Municipal do Seixal será: “Um festival único, que junta vários aspectos do melhor da nossa cultura, como o fado e a gastronomia”. Os bilhetes estão à venda no Fórum Cultural do Seixal, FNAC, Ticketline e na bilheteira no local (a partir das 11h do dia 7 de Junho). As portas abrem às 17h com espaços de gastronomia regional e as 21h marcam o início dos concertos. Já apontaram na agenda?
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura cantora assalto
“Os milagres acontecem” e Shakira voltou para “uma noite inesquecível”
O concerto na Altice Arena, da digressão de promoção de El Dorado, tinha sido adiado em Novembro e realizou-se finalmente na quinta-feira à noite. (...)

“Os milagres acontecem” e Shakira voltou para “uma noite inesquecível”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.8
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O concerto na Altice Arena, da digressão de promoção de El Dorado, tinha sido adiado em Novembro e realizou-se finalmente na quinta-feira à noite.
TEXTO: Logo ao início do concerto, Shakira afirmou, num português do Brasil fluente, que ainda há meses pensava que não voltaria a cantar. “Mas os milagres acontecem”, continuou, chamando aos fãs portugueses “amigos”. É que, em Novembro de 2017, toda a digressão de promoção de El Dorado, o 11. º álbum da cantora colombiana, foi adiada quando Shakira sofreu uma hemorragia nas cordas vocais. Em Maio desse ano, quando o disco saiu, Shakira tinha dito ao The New York Times que, antes de o álbum ser feito, duvidou que fosse lançar outra colecção de canções. Ou seja, o concerto de quinta-feira à noite em Lisboa podia nunca se ter realizado, mas realizou-se. Mesmo que a Altice Arena, um sítio que a colombiana já esgotou antes, não estivesse lotada, a colombiana regressou finalmente àquela sala pela primeira vez desde Novembro de 2010, e não parou de falar sobre o quão radiante estava com isso — “esta é uma noite inesquecível”, disse. Do alinhamento, idêntico ao do primeiro concerto da digressão (a 3 de Junho em Hamburgo, Alemanha), constavam sete das 13 canções de El Dorado. Com luzes apagadas e telemóveis ao alto, Estoy aquí, êxito com quase 23 anos, foi o primeiro tema da noite, mais ou menos 15 minutos após a hora marcada para o início da actuação, e teve direito a confetti disparados de um canhão. Ouviu-se no espanhol original, apesar de haver uma versão em português, língua na qual Shakira falou entusiasticamente ao longo de toda noite — a dada altura, chegou a dirigir-se à banda em português, para logo perceber que os músicos, liderados pelo guitarrista e produtor Tim Mitchell, não são tão fluentes na nossa língua quanto ela. Antes de Shakira, o norte-americano DJ Salva, que fez a primeira parte, passou temas como Turn down for what, de DJ Snake e Lil Jon, tendo abandonado o palco 20 minutos antes das nove da noite, deixando meia hora de intervalo entre actuações, um compasso de espera estranho em que os dois círculos dourados no fundo do palco, com ecrãs que mostravam a hashtag da noite (#ShakiraLisbon), desafiavam os espectadores a juntarem-se ao Viber, a aplicação de mensagens oficial da digressão. Nesses mesmos ecrãs, durante o concerto eram mostradas imagens, incluindo fotografias da cantora ao longo da sua vida, no caso de Estoy aquí, ou as pessoas com quem Shakira cantava o tema originalmente, como Rihanna no reggae de Can't remember to forget you — que acabou com a colombiana a tocar bateria e a erguer as baquetas cruzadas no ar — ou Carlos Vives no quase vallenato de La bicicleta, que fechou o concerto. Não foi o único instrumento que Shakira tocou: recorreu a um pequeno teclado, e a guitarra tanto acústica, como em Amarillo, quanto eléctrica, como em Inevitable, também lhe passou pelas mãos. Houve espaço para a dança à la Thriller de Michael Jackson de She Wolf, baladas como Nada, de El Dorado, com simulação de fogo-de-artifício atrás, ou Inevitable — “uma música que não posso deixar de cantar hoje” —, os movimentos de ombros, ancas e cabelo de Shakira, interlúdios, como uma animação sobre o mito de Chiminigagua, da tribo muísca, precedeu a dança do ventre de Whenever, wherever, ou, antes do encore, um pequeno vídeo sobre crianças que andam longas distâncias todos os dias para irem para a escola na Índia, Marrocos ou Argentina, tudo para dar tempo para as mudanças de roupa da colombiana e para a balada Toneladas, também do último álbum. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Antes desse mesmo encore, o Mundial de Futebol que decorre foi recordado com La la la (Brasil 2014) e Waka waka (this time for Africa), do Mundial 2010 na África do Sul. Shakira saiu do palco após repetir que “?somos todos África” e, passada uma hora e meia após ter entrado em cena, as luzes apagaram-se outra vez e o público bateu pés e palmas até ela voltar. Nesse encore, a cantora desceu do palco, cumprimentou os fãs e voltou com uma bandeira de Portugal, para depois entrar em Hips don't lie, com o teclista Albert Menendez a fazer a parte de Wyclef Jean. Durante La bicicleta, os canhões dispararam confetti, desta vez a apanhar mais áreas da sala do que da primeira vez. Já sem Shakira e os músicos em palco, e com os créditos do vídeo sobre crianças que vão para a escola em pano de fundo, ouviu-se Clandestino. O single, que não aparece em El Dorado mas foi lançado este mês para promover a digressão, é feito em colaboração com o também colombiano dado ao reggaeton Maluma, que também canta em Chantaje, tema que se fez ouvir ao vivo no concerto. Esta noite podia nunca ter acontecido, mas aconteceu.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola cantora
KISMIF – o punk na academia
O programa da KISMIF Conference, a ter lugar entre 4 e 7 de Julho na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, compõe-se de uma série de comunicações afectas este ano à temática Gender, differences, identities and DIY cultures (...)

KISMIF – o punk na academia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O programa da KISMIF Conference, a ter lugar entre 4 e 7 de Julho na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, compõe-se de uma série de comunicações afectas este ano à temática Gender, differences, identities and DIY cultures
TEXTO: Keep it simple, play it fast (KISMIF) é uma conferência que desenha um movimento condizente com a simplicidade que advoga na sua designação: mostrar que o punk, sem ter de deixar a rua, vestir-se de gala ou esconder as cristas coloridas, pode e deve ter uma existência académica. Não no sentido de se aburguesar e se tornar apenas assunto de gabinetes, mas como motor de pensamento, reflexão e valorização da cultura do it yourself. Daí que o programa da KISMIF Conference, na sua quarta edição e a ter lugar entre 4 e 7 de Julho na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, se componha de uma série de comunicações afectas este ano à temática Gender, differences, identities and DIY cultures, vindas de realidades tão distintas quanto Reino Unido, Áustria, Austrália, Hong Kong, Brasil, Israel, Espanha, Canadá e, claro, Portugal, e reunindo participações de investigadores e professores de disciplinas como Antropologia, Sociologia da Cultura ou Etnomusicologia. A que se juntam também músicos com produção relevante no período punk e pós-punk – com foco particular no epicentro da cena britânica. Entre os conferencistas encontramos, assim, gente como John Robb (ex-membro dos Membranes, editor do site e da revista Louder than War), Lucy O’Brien (com passagem pela banda punk feminina The Catholic Girls e autora de She Bop: The Definitive History of Women in Popular Music), Helen Reddington (baixista de bandas como The Chefs e Helen and the Horns, que passou a livro investigações sobre o papel das mulheres no punk inglês e na produção musical, e neste momento trabalha com Gina Birch no documentário Stories from the She-Punks) e Ana da Silva e Gina Birch (as duas forças motrizes por detrás das The Raincoats, grupo seminal do pós-punk, inspiração para todo o movimento riot grrrl e mais além). A presença na KISMIF no dia 4, apanha as Raincoats no final de uma digressão nacional com paragens em Braga, Lisboa e Coimbra. Como aquecimento da conferência, no dia 3 decorre uma summer school com workshops em torno do DIY, da etnomusicologia e do que significa ser músico na era do streaming. A KISMIF integra também, como seria de esperar, alguns concertos que abrilhantam o programa (Vítor Rua interprets Telectu e TV Smith, a 4 e 7 de Julho, respectivamente), programados, como não poderia deixar de ser, para o subpalco do Teatro Rivoli).
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura mulheres feminina
Gabriel Muzak, uma movida brasileira com “boleia” de Gil
Gilberto Gil vai encerrar sábado as Festas de Lisboa e Gabriel Muzak desafiou dois dos músicos que o acompanham (Domenico Lancelotti e Thomas Harres) para uma sessão especial, na véspera, no Intendente. (...)

Gabriel Muzak, uma movida brasileira com “boleia” de Gil
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.05
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Gilberto Gil vai encerrar sábado as Festas de Lisboa e Gabriel Muzak desafiou dois dos músicos que o acompanham (Domenico Lancelotti e Thomas Harres) para uma sessão especial, na véspera, no Intendente.
TEXTO: O encerramento das Festas de Lisboa vai fazer-se este sábado, junto à Torre de Belém, com um concerto de Gilberto Gil comemorativos dos 40 anos do disco Refavela, um dos seus registos históricos (que inclui canções como Ilê Ayê, Aqui e agora ou Sandra). Isso será às 22h, como acesso livre. Na véspera, e aproveitando a presença em Lisboa de dois músicos seus amigos que vêm com Gil, Domenico Lancelotti e Thomas Harres, o cantor e compositor brasileiro Gabriel Muzak promove mais uma sessão das suas “Tropical Muzak”. Será dia 29 na Casa Independente, no Largo do Intendente, às 22h. Nascido no Rio de Janeiro, em 9 de Junho de 1975, e hoje a residir em Lisboa, Muzak já tem um sólido trabalho como compositor e produtor, com três discos gravados em nome próprio: Bossa Nômade (2002), Quero Ver Dançar Agora (2013) e Imageria (2015), este sobretudo com músicas para cinema e apenas disponível nas plataformas digitais. Gabriel Muzak, que tem acompanhado Adriana Calcanhotto nos seus mais recentes (e aplaudidos) concertos em Portugal, como guitarrista, começou a ligar-se à música ainda jovem. A mãe tinha um violão em casa, e, diz ele, “toca e canta muito bem, até hoje. ” Aos 10 anos, ele ainda tentou o violão, sem sucesso. Reincidiu aos 14, e a mãe, ao vê-lo tocar, insistiu que estudasse. E assim foi. “Fui ter aulas com Paulão Sete Cordas, um grande violonista. Ainda sem electricidade. E a minha dedicação já foi diferente. ” Teve aulas durante uns meses e depois o professor foi acompanhar Zeca Pagodinho numa digressão (toca com ele até hoje). Resultado: “Fiquei tocando blues no sofá de casa. ”Isso no violão. Até que comprou a primeira guitarra eléctrica e começou a descobrir outros sons. Integrou depois bandas como Zabumba Iê Mohamed (“que flirtava com influências afro-árabes mas era uma banda de rock”), The Funk Fuckers, Seletores de Frequência e Rockz. Do blues do sofá passou ao funk, ao rock, à electrónica, a uma música mais experimental. “Os próprios exercícios de técnica, cromáticos, têm uma musicalidade que já leva para caminhos pouco explorados, porque emitem notas. ”Na Casa Independente, Gabriel Muzak vai reunir vários músicos para tocarem juntos temas pré-combinados e também para improvisarem. Além de Domenico Lancelotti e Thomas Harres, que integram a comitiva de Gilberto Gil, estarão também presentes Filipe Caneca (“um teclista e acordeonista que vem de uma família de músicos”) e a cantora portuguesa Joana Barra Vaz (que já tem quatro discos e participou no Festival da Canção 2018). “É uma noite que, por ter dois convidados chegando no próprio dia, vai ter bastante improviso e nós vamos explorar isso. São dois bateristas dos quais eu sou fã há muito tempo. O Domenico, que tocará guitarra e mpc, tem um estilo muito impactante na bateria e também vai tocá-la aqui. ” Quanto Joana Barra Vaz, Gabriel já combinou as canções. “Escolhemos três músicas dela para tocarmos juntos. Acho muito bonita a voz dela e o jeito de ela cantar. A ideia, aqui, é aproximar estes mundos. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
A monumentalidade lúdica de Joana Vasconcelos chegou ao Guggenheim
Num dos espaços expositivos mais conhecidos da Europa, o museu Guggenheim de Bilbau, inaugura-se esta sexta-feira uma importante mostra de Joana Vasconcelos. É a primeira artista portuguesa a fazê-lo. (...)

A monumentalidade lúdica de Joana Vasconcelos chegou ao Guggenheim
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Num dos espaços expositivos mais conhecidos da Europa, o museu Guggenheim de Bilbau, inaugura-se esta sexta-feira uma importante mostra de Joana Vasconcelos. É a primeira artista portuguesa a fazê-lo.
TEXTO: Está parado a meio do imenso átrio do museu Guggenheim de Bilbau, em Espanha, olhando atenciosamente para cima e para os lados. Por ele passam outras pessoas que fazem o mesmo, mas ele distingue-se por estar imóvel há minutos. O belga Aaron Ruffox é apenas um dos inúmeros visitantes do museu que esta quinta-feira foram surpreendidos por uma monumental obra da artista portuguesa Joana Vasconcelos ali suspensa. Trata-se da nova peça Egeria (2018), da série valquírias, personagens femininas da mitologia nórdica, que a artista tem vindo a trabalhar desde os anos 2000. Esta sobressai pela escala e por ter sido imaginada especificamente para o local, distinguindo-se pela forma tentacular como sobrevoa o espaço, num misto de bordados, pedraria, lantejoulas e luzes LED, com ramificações de cores vivas a entrelaçarem-se nos cantos, ângulos e formas criadas pelo arquitecto Frank Gehry para o museu. Existe um efeito de surpresa e de festividade directa que é projectada no lugar. “Não é só impactante, como apetece ficar aqui para nos perdermos nesta dinâmica tão fluida”, diz-nos Aaron Ruffox, ainda boquiaberto. A peça, que deverá pesar “cerca de duas toneladas”, haverá de dizer Joana Vasconcelos, 46 anos, demorou dois anos a ser feita, envolvendo arquitectos, engenheiros e artesãos, e é a sua maior obra na vertical, com 30 metros de altura, 36 de largura e 45 de profundidade, tendo demorado quinze dias a ser montada. Constitui um dos destaques da exposição I’m Your Mirror, que se inaugura esta sexta-feira, mantendo-se até 11 de Novembro, antes de entrar em itinerância no próximo ano, estando para já previstas passagens pela Fundação Serralves, no Porto, e depois por Roterdão, na Holanda. Trata-se da primeira exposição individual de um artista português num dos espaços expositivos mais conhecidos da Europa e do mundo, o Guggenheim, constituindo mais um momento definidor na afirmação internacional daquela que já é a artista lusa da sua geração com mais visibilidade. Tem curadoria de Petra Joos, do próprio Guggenheim, e de Enrique Juncosa, curador independente e antigo subdirector do Museu Rainha Sofia, em Madrid. No exterior do edifício, rodeando-o, ao lado de obras bem conhecidas de Jeff Koons ou Louise Bourgeois, estão agora também duas obras de Joana Vasconcelos. O já conhecido dos portugueses Pop Galo (2016), um gigantesco galo de Barcelos, e uma peça nova, Solitário (2018), um grande anel de noivado feito com 112 jantes de automóveis metalizadas e 1300 copos de cristal. No interior do museu, ocupando várias salas, estão os restantes trabalhos, num total de 35, sendo 14 deles inéditos. Na sala maior da mostra estão duas das suas obras mais icónicas – A Noiva (2001-05), um candelabro feito com tampões, e Marilyn (2011), um par de sapatos de salto alto feitos com panelas – e aquela que é a peça chave da exposição, I’ll be your mirror (2018), uma máscara veneziana criada com 231 molduras de duplo espelho com um peso de 2, 5 toneladas. Em conversa com o PÚBLICO, um dos dois comissários da exposição, Enrique Juncosa, recorda que foi há mais de dois anos que o processo se iniciou, argumentando que a fase final de “instalação das obras” constituiu um grande desafio. “Tudo isto envolveu imenso trabalho e foi complexo, porque não sabíamos muito bem quanto tempo iríamos necessitar para a montagem, mas a Joana tem uma boa equipa e, em coordenação com as pessoas daqui, fez-se um excelente trabalho. ”A grande escala, as cores vibrantes ou o excesso são algumas das marcas identitárias do trabalho de Joana Vasconcelos, no entanto alguns dos trabalhos expostos mais antigos, como Sofá aspirina (1997) e Cama valium (1998) transportam-nos para a escala humana e para a economia formal, com os materiais (comprimidos) a sugerirem uma ambiguidade significante. “Como acontece com todos os artistas, a sua obra é diversa, embora existam elementos que são mais facilmente reconhecíveis. Para aqui quisemos trazer alguma dessa diversidade, mas existem sempre linhas condutoras no seu trabalho”, diz Enrique Juncosa, destacando a dualidade entre gestos políticos e poéticos, a relação entre global e local, os materiais de alta tecnologia e artesanais ou esse jogo em criar peças que simbolizam requinte, mas que são criadas a partir de materiais vulgares. “Ela acaba por expor muitas das contradições do nosso mundo contemporâneo. A utilização de referências do quotidiano, da sua própria experiência ou do que a rodeia, mediado por um mundo de imagens, definem-na. O seu trabalho é muito atractivo no sentido em que as pessoas se projectam muito nele a partir do momento em que contém uma série de elementos que entram em relação connosco. E é também sedutor no sentido em que é caloroso. Aproxima-se de nós. É por isso que ela é bem-sucedida. ”Resistências ao seu trabalho também não faltam, naturais no patamar onde se insere hoje. Espectacularidade sem densidade ou simplismo das metáforas são algumas das críticas proferidas. “De alguma forma muita da arte contemporânea tornou-se cínica ou autocentrada e percebe-se que algumas pessoas possam achar o trabalho da Joana fácil”, argumenta Enrique Juncosa. “Mas é uma crítica infundada. Por outro lado, quando ela fala sobre o seu trabalho é coloquial, aproximando-se das pessoas, podendo parecer menos intelectual. Mas não o é. A verdade é que o seu trabalho está recheado de referências à história de arte – do Barroco a Rubens ou a Duchamp – seja para a glosar ou recriar com humor. Um humor que nunca é intimidatório, mesmo quando é irónico. ”Por vezes, em Portugal, o eventual potencial reflexivo de algumas das suas obras é esquecido. Fala-se das formas. Da estética. Das polémicas decorrentes de algumas das suas peças tocarem referências simbólicas. Ali, liberta disso, Joana Vasconcelos discorre sobre a maneira como transforma objectos da sociedade de consumo em obras de arte em aberto. Ou como a gigante Egeria constitui uma metáfora da ocupação dos museus pela mulher. Ou de como Burka (2002) é sobre a violência de género. Ou de como tem uma série de obras que abordam a identidade feminina e outras cruzam a identidade pessoal, cultural ou nacional, como em Coração independente vermelho (2005), com Amália Rodrigues a fazer-se ouvir no museu. Ou outras ainda como Call center (2014-16), onde uma imagem de uma pistola feita de 120 telefones (cuja peça sonora Call Center: Sinfonia Electroacústica para 168 Telefones é de Jonas Runa), se transforma numa alegoria sobre a violência da comunicação incessante dos nossos dias. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Sentir algo é o mais importante numa exposição, não são as teorias que se tecem sobre as mesmas”, haverá de dizer-nos Aaron Ruffox, ainda a olhar para a enorme obra suspensa no átrio do Guggenheim, quando lhe perguntamos se retirou algum significado daquela peça que tanto o fascinou. A sua resposta é, afinal, mais uma teoria possível. Mas existem muitas outras. No caso de Joana Vasconcelos o segredo para a realização da produção do Guggenheim parece ter sido conciliar na sua arte uma série de singularidades (locais, mas não só) com uma linguagem universal, ter ido construindo o seu público de forma alargada, operando numa lógica onde privados e poderes públicos não se excluem, ser consciente das dinâmicas de mercado onde se insere, ter uma perspectiva estratégica e, francamente, divertir-se muito com tudo isso.
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Partidos BE
Rodrigo Leão: “Sempre existiu, na música que tento fazer, alguma coisa de Portugal”
Rodrigo Leão reedita a banda sonora de Portugal, um Retrato Social em CD duplo, com um disco de regravações de canções suas cantadas em português: Os Portugueses. (...)

Rodrigo Leão: “Sempre existiu, na música que tento fazer, alguma coisa de Portugal”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Rodrigo Leão reedita a banda sonora de Portugal, um Retrato Social em CD duplo, com um disco de regravações de canções suas cantadas em português: Os Portugueses.
TEXTO: Há dez anos, Rodrigo Leão fez a banda sonora da série Portugal, um Retrato Social, de António Barreto e Joana Pontes, série que a RTP exibiu e foi depois lançada em DVD. A banda sonora deu, nesse mesmo ano, lugar a um disco, que agora ressurge nas lojas mas num formato bem diferente: um CD duplo cuja “cara” é, não o disco original, que aparece como CD2, mas Os Portugueses, gravado agora como extensão do universo abordado na série e no primeiro disco. Rodrigo Leão explica ao PÚBLICO o conceito:“Há dez anos, havia um tema que se chamava Os portugueses, o último da banda sonora que encerrava o disco. E eu já não sabia se chamámos Os portugueses à pequena tour que fizemos à volta desse documentário, uns dez ou quinze concertos. Este ano, em que resolvemos fazer várias iniciativas, entre elas reeditar essa banda sonora, achámos que não fazia sentido reeditá-la sozinha. Então pensámos acrescentar-lhe um CD extra com as canções que até hoje eu fiz em português, que não são muitas. ” Ao lote, que reunia cinco canções compostas e gravadas por Rodrigo Leão nos seus discos a solo (Vida tão estranha, Melancolia, A corda, Rosa e Segredos, vieram depois juntar-se um tema dos Sétima Legião (Mil maneiras de amar) e dois dos Madredeus (O pastor e Guitarra). Isto além de um tema original, Restos da Vida. Mas mesmo os temas antigos foram todos regravados, com as vozes de Ana Vieira (4), Camané (3) e Selma Uamusse (3). “Foi um desafio, de certa maneira, mas tudo muito intuitivamente. Fomos pensando nas coisas. A ideia de fazer uma regravação d’O pastor, por exemplo, foi muito recente, apesar de no ano passado já termos feito nalguns concertos, em festivais ao livre, uma versão d’O pastor. Mas a ideia de juntar temas dos Madredeus e dos Sétima Legião pareceu-nos que fazia sentido nos 25 anos do Ave Mundi Luminar [o primeiro disco de Rodrigo Leão a solo] que agora se comemoram. ” As vozes convidadas fazem também parte dessa “memória”, devido a colaborações anteriores. “O Camané, trabalhei com ele há três anos atrás, naquele projecto na Assembleia da República [O Espírito de um País, espectáculo que comemorou os 40 anos do 25 de Abril, em 2015]. Depois acabou por participar também no disco com a Orquestra e o Coro Gulbenkian [O Retiro, 2015] e agora, para este disco, o Restos da Vida foi feito a pensar na voz dele. ” Selma Uamusse, cantora moçambicana que tem uma presença fortíssima em palco, também já cantou em gravações e concertos e Rodrigo Leão, tal como Ana Vieira. “No fundo, foi juntar neste disco os cantores que trabalharam comigo ao longo destes quatro ou cinco anos. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Apesar de trabalhar num universo musical mais lato, Rodrigo Leão diz que a ideia do país está lá. “Sempre existiu, nas músicas que tento fazer, alguma coisa de Portugal. Mas muito diferente dos projectos Madredeus e Sétima Legião. Aqui, tivemos esta oportunidade de regravar estes temas todos com um técnico alemão muito bom, Tobias Lehmann. Acho que é um dos discos com melhor som que eu já gravei. E ainda bem. ”Os Portugueses está, também, a correr palcos. “Já fizemos seis ou sete concertos com este projecto. Têm na primeira parte as imagens do documentário, com a música da banda sonora, a na segunda parte as canções em português. Uns concertos têm a Ana Vieira, outros a Selma Uamusse, noutros as duas. ” Além de Portugal, há outros países na agenda: Áustria, França, Espanha, para já. Tudo isto levou Rodrigo Leão a adiar para 2019 o próximo disco. “Tenho vindo a trabalhar em composições novas. Tencionava gravar ainda este ano, mas penso que só conseguirei fazê-lo no início do ano que vem. É um disco talvez mais experimental. Instrumental, com um bocadinho de electrónica. ”
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