Regina Pessoa e Luís Sequeira entre novos membros da Academia dos Óscares
A academia norte-americana anunciou na segunda-feira que convidou 928 novos membros, de 59 países, que terão poder de voto na escolha dos premiados com os Óscares. (...)

Regina Pessoa e Luís Sequeira entre novos membros da Academia dos Óscares
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A academia norte-americana anunciou na segunda-feira que convidou 928 novos membros, de 59 países, que terão poder de voto na escolha dos premiados com os Óscares.
TEXTO: A realizadora portuguesa Regina Pessoa, o editor de som Nelson Ferreira e o designer Luís Sequeira, lusodescendentes, foram convidados a integrar a Academia de Cinema dos Estados Unidos, que atribui anualmente os prémios Óscares. A academia norte-americana anunciou na segunda-feira que convidou 928 novos membros, de 59 países, que terão poder de voto na escolha dos premiados com os Óscares, prosseguindo o objectivo de tornar a associação mais diversa e representativa, especificando que, deste total, 49 por cento são mulheres e 38 por cento são "pessoas de cor". Entre os novos membros convidados estão a realizadora portuguesa Regina Pessoa, autora de vários filmes de animação premiados, como História Trágica com Final Feliz, ou Kali, o Pequeno Vampiro, assim como o editor de som Nelson Ferreira e o designer Luís Sequeira, ambos canadianos com raízes em Portugal, e que estiveram este ano nomeados para os Óscares pelo filme A Forma da Água, do mexicano Guillermo del Toro. O realizador moçambicano Pedro Pimenta e vários nomes do cinema brasileiro, como a actriz Alice Braga, a realizadora Maria Augusta Ramos e o músico Carlinhos Brown, também se encontram na lista de convidados. A actriz espanhola Rossy De Palma, o realizador húngaro Béla Tarr, o cineasta sul-coreano Hong Sang-Soo, os italianos Marco Bellocchio e Luca Guadagnino e o actor franco-americano Timothée Chalamet estão igualmente entre as escolhas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Destaque ainda para as presenças dos músicos Kendrick Lamar, Sufjan Stevens e Questlove e das escritoras Laura Esquivel e J. K. Rowling. Segundo a academia, os membros convidados são de várias gerações, desde a adolescente norte-americana Quvenzhané Wallis, protagonista no filme Bestas do Sul Selvagem, à actriz britânica Eileen Atkins, de 84 anos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave adolescente mulheres
Gilberto Gil encerra as Festas de Lisboa com concerto gratuito em Belém
A comemoração dos 40 anos do disco Refavela, estreada no Brasil em 2017, tem uma única apresentação em Portugal: é este sábado, às 22h, nos jardins da Torre de Belém, a fechar as Festas de Lisboa. Com Gilberto Gil estará uma banda de oito músicos além das vozes de Mayra Andrade, Chiara Civello e Mestrinho. O acesso é livre. (...)

Gilberto Gil encerra as Festas de Lisboa com concerto gratuito em Belém
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A comemoração dos 40 anos do disco Refavela, estreada no Brasil em 2017, tem uma única apresentação em Portugal: é este sábado, às 22h, nos jardins da Torre de Belém, a fechar as Festas de Lisboa. Com Gilberto Gil estará uma banda de oito músicos além das vozes de Mayra Andrade, Chiara Civello e Mestrinho. O acesso é livre.
TEXTO: É a segunda visita de Gilberto Gil a palcos portugueses em 2018. A primeira foi em Março, nos coliseus de Lisboa e Porto, com o projecto Trinca de Ases, onde o cantor e compositor baiano se juntou a Gal Costa e a Nando Reis. Agora vem celebrar os 40 anos de um disco histórico seu, Refavela, gravado em 1977 depois de uma viagem de Gil a África. A ideia do espectáculo não foi dele, foi do seu filho Bem Gil, que no ano passado propôs a vários músicos e cantores celebrar esse disco num espectáculo único no Rio de Janeiro. Mas não foi único, continuou, e o resultado chega agora a Portugal, com banda e cantores: além dele, a cabo-verdiana Mayra Andrade, a italiana Chiara Civello e o brasileiro Mestrinho. Será este sábado, nos jardins da Torre de Belém, às 22h, no encerramento das Festas de Lisboa que decorrem desde 1 de Junho. O acesso será gratuito. “É um show muito vivo, muito orgânico”, diz ao PÚBLICO Bem Gil, cantor, arranjador, e multi-instrumentista, responsável pela idealização e direcção musical do espectáculo. “Apesar de a gente estar se baseando no repertório do Refavela, e nos próprios arranjos do disco, o clima não é revivalista, de reprodução do que foi gravado. A ideia veio justamente da natureza dos músicos envolvidos, que já têm uma relação com o projecto, até do ponto da vista da formação individual de cada um. Então, o Refavela já é um disco muito vivo para todos. ” Exemplo disso, diz ele, é que vários destes artistas sabem as músicas de cor. “E a própria participação do Gil no projecto é baseada nas músicas que continuaram fazendo parte do repertório dele nestes quarenta anos. Ele canta o Babá Alapalá, o Aqui e agora, o próprio Refavela, canções que ele vem cantando durante a sua carreira. ”A estrutura de Refavela 40 é a mesma da estreia, mas com algumas alterações na equipa. “Quando o projecto foi estreado no Brasil ele tinha a mesma configuração: uma banda de oito elementos e quatro cantores, dois homens e duas mulheres. A gente começou com a Céu, a Maíra Freitas, o Moreno Veloso [filho de Caetano] e o meu pai. ” A estreia foi no Rio de Janeiro, em 1 de Setembro de 2017, e era para ser uma apresentação única. Mas o êxito do espectáculo foi tal que surgiu a ideia de levá-lo a outros palcos. O que aconteceu, seguindo depois para São Paulo e para Salvador da Bahia. Só que, entretanto, a cantora Céu foi mãe, Maíra também e tiveram de mexer na equipa de cantores. E isso deu a ideia, a Bem Gil, de recorrer, nas apresentações na Europa, a cantores deste continente. “A Mayra [Andrade] surgiu por uma questão de identificação musical, do próprio trabalho dela, com os elementos deste show; e a Chiara [Civello] por já ter uma relação com o próprio Gil (que participou em discos dela) e pelo tempo que passou e morou no Brasil, por esse lado afectivo. No lugar do Moreno, que está nesse mesmo período fazendo uma tournée com o pai e os irmãos, a gente trouxe o Mestrinho, que é um acordeonista incrível de Sergipe. ”É na formação dos músicos que reside a principal diferença entre o disco e o espectáculo. Bem Gil: “A ideia de fazer esse show vem muito do gosto que a gente tem pelos arranjos e pela sonoridade do disco, não só pelas canções em si, pelas melodias. Mas o baixista desse show, por exemplo, tem características muito diferentes do baixista original. Então isso já actualiza. A ideia é tentar, com a nossa natureza, reproduzir aqueles arranjos. ”Além das músicas do disco original (Refavela, Ilê ayê, Aqui e agora, Sandra, Balafon, Norte da saudade, Era nova, Babá alapalá, Patuscada de Gandhi ou Samba do avião, numa versão do célebre tema de Tom Jobim), ouvir-se-ão canções como Queremos saber, Sarará Miolo, A Gaivota, É, Sítio do Pica-Pau-Amarelo ou versões de temas de Caetano Veloso (Two Naira Fifty Kobo) e Bob Marley (Exodus, Jamming e Three Little Birds). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A cantora Mayra Andrade diz, ao PÚBLICO, que “é um espectáculo muito espontâneo, muito vivo, em que cada um participa nas músicas do outro, dando uma rodagem nova a este repertório, que já tem 41 anos. Eu participo com uma música cabo-verdiana, que foi gravada em 1983-84, e está a ser uma experiência muito boa para mim. ” Mayra está, ao mesmo tempo, a preparar um novo disco seu. “Vou lançar um disco em Outubro, que será bastante diferente do que fiz antes. É como se tivesse a essência do primeiro disco, em termos de instrumentos tradicionais, mas com uma influência grande da música de programação. É um disco mais livre, onde há menos aquela necessidade de fazer o tradicional mas onde a essência do tradicional continua presente, porque ela está em mim. Será um disco muito mais actual em termos de sonoridade. Pela primeira vez estou a trabalhar com pessoas ainda mais novas do que eu e está a ser superinteressante. ”Voltando a Refavela 40: depois de várias apresentações no Brasil, já esteve em Inglaterra e França, no Barbican Centre de Londres e no Archo Jazz Festival em Blainville-Crevon. O espectáculo foi também gravado no Brasil para um DVD a editar em breve e deve terminar agora na Europa. Ou talvez não. Porque Bem Gil diz que ainda vai tentar fazer um último espectáculo, no Brasil, “com toda a gente que participou no projecto”, músicos e cantores.
REFERÊNCIAS:
Nadah El Shazly, Aisha Badru ou Iara Rennó nos Concertos L da Madeira
A série de espectáculos que decorrem na Estalagem da Ponta do Sol, pequena vila da Madeira, têm vindo a ganhar protagonismo por ali passarem nomes de referência do cenário musical actual. (...)

Nadah El Shazly, Aisha Badru ou Iara Rennó nos Concertos L da Madeira
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A série de espectáculos que decorrem na Estalagem da Ponta do Sol, pequena vila da Madeira, têm vindo a ganhar protagonismo por ali passarem nomes de referência do cenário musical actual.
TEXTO: Nos últimos anos os Concertos L, série de espectáculos que decorrem na Estalagem da Ponta do Sol, pequena vila da Madeira, têm vindo a ganhar protagonismo por ali passarem nomes de referência do cenário musical actual (Anna Meredith, Weyes Blood, THEESatisfaction, Thurston Moore, Dirty Beaches, CTM, Wildbirds & Peacedrums ou Juana Molina), alguns deles em estreia nacional como aconteceu com Bianca Casady (CocoRosie) ou com a cantora Sevdaliza. Este ano não será diferente. A brasileira Iara Rennó, uma das referências independentes daquele país, por vezes comparada a Elza Soares, com quem aliás já colaborou, estrear-se-á em Portugal, ali, a 30 de Junho, para mostrar as canções dos muitos elogiados álbuns Arco e Flecha, o mesmo sucedendo com a americana Aisha Badru, praticante de uma soul emotiva difícil de cartografar, que se prepara para lançar o álbum de estreia, actuando a 15 de Setembro. Quem também se estreará será o norueguês Kristoffer Lo, tocador de tuba com sólida reputação na Europa, que actuará a 30 de Julho, e o suíço Pyrit, a 1 de Setembro, movendo-se pelos territórios electrónicos, com muitas influências psicadélicas e um universo sombrio muito personalizado. Não será estreia nacional, mas parece surgir no momento exacto, quando a sua reputação está em alta. Falamos da multi-instrumentista e compositora egípcia Nadah El Shazly que surge na capa do último número da revista The Wire, simbolizando as novas linguagens experimentais do Cairo. Estará na Ponta do Sol a 11 de Agosto. O virtuoso da harpa Edmar Castaneda com Gregoire Maret, que já arrecadou um Grammy na sua carreira (1 de Agosto), a cantora brasileira Joyce Candido, da nova geração do samba, e portugueses como Tatanka (18 de Julho), Gonçalo Caboz (15 de Agosto), Maria João & André Santos (22 Agosto), Indignu (22 Setembro) ou Sara Tavares (29 Setembro) completam o cartaz.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cantora
Comoventes, violentos, cheios de solidão: os europeus
São rostos dos anos 70 e 80 do cinema europeu, contradições no olhar, violência e solidão. É um retrato de grupo: Feios, Porcos e Mais - Um Olhar Europeu, ciclo a partir de 3 de Julho na Cinemateca. De Claude Sautet à “comédia à italiana”, mas avistando-se também o presente, Abdéllatif Kechiche. (...)

Comoventes, violentos, cheios de solidão: os europeus
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.15
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: São rostos dos anos 70 e 80 do cinema europeu, contradições no olhar, violência e solidão. É um retrato de grupo: Feios, Porcos e Mais - Um Olhar Europeu, ciclo a partir de 3 de Julho na Cinemateca. De Claude Sautet à “comédia à italiana”, mas avistando-se também o presente, Abdéllatif Kechiche.
TEXTO: Rostos cheios de vida e de solidão fazem o cartaz da Cinemateca de Julho: Romy Schneider adormecendo no final de Une Histoire Simple (Claude Sautet, 1978) sem saber o que fazer à vida; Isabelle Huppert iniciando com La Dentellière (Claude Goretta, 1977) a sua disponibilidade para ser usada — começando aí o périplo de vingança que a trouxe até hoje; Alberto Sordi e os gestos da vidinha de borghese picollo, picollo no tremendo filme de 1977 de Mario Monicelli, transformando-se em anjo exterminador; ou Patrick Dewaere, insolente, trágico, entre a raiva pronta a explodir de La Meilleure Façon de Marcher (Claude Miller, 1976) e o recolhimento de um dos seus últimos filmes, Un Mauvais Fils (Claude Sautet, 1980), tendo, entre um e outro, de facto, explodido (Série Noire, Alain Corneau, 1979). O rosto de Dewaere parece dizer: “Desculpem, mas não conseguimos viver” — é o que vê nele Francisco Valente, juntando-se à proposta que lhe fazemos de dar rosto(s) a um cartaz imaginário do ciclo que programou, Feios, Porcos e Maus — Um Retrato Europeu. “Desculpem, mas não conseguimos viver” pode ser o fil rouge deste diálogo, que se inicia a 3 de Julho na sala da Barata Salgueiro, com outro conjunto de existências turbulentas que Valente programou no início do ano, American Way of Life — por isso continuamos aqui, com o programador destas vidas europeias, o diálogo de Janeiro. O título, Feios, Porcos e Maus — Um Retrato Europeu, que cita o filme com que Ettore Scola contribuiu em 1976 para acabar com a “comédia à italiana” — um ano antes de Un borghese picollo, picollo, golpe fatal desferido por Monicelli como quem fecha o caixão, Scola passeou a câmara por tableaux vivants com os restos de um género glorioso da indústria italiana —, esse título, dizíamos, peca voluntariamente pelo excesso. Como assinala o texto de apresentação do ciclo: nem todos aqui são feios e maus, o que caracteriza estas duas dezenas de longas-metragens “é a capacidade que têm de reflectir a vida, através de personagens comoventes e imensas, tanto pela sua beleza como pelos seus defeitos”. Agora entre nós: “Se tivesse de escolher um rosto como cartaz, escolheria vários: vejo rostos poderosos e cheios de vida em cada um destes filmes, cheios de contradições e de indecisão nos olhares, mas sinto que ganham força, também, pela sua inclusão dentro de um retrato de grupo. Como se as estrelas — Romy Schneider é bom exemplo — despissem a sua aura para se valerem umas com as outras e umas contra as outras. ”Romy Schneider no cinema de Sautet. . . Por aí, pela ideia de colectivo, Claude Sautet tinha de ser colocado no cartaz. Está presente com cinco títulos, Les Choses de La Vie (1970), filme de abertura, César et Rosalie (1972), Vincent, François, Paul. . . et les Autres (1974), Une Histoire Simple (1978) — destes dois, um deles, ou aquele sobre homens ou este sobre mulheres, deve ser o seu nec plus ultra — e Un Mauvais Fils. O que não pode deixar de ser lido como statement: um ciclo dentro do ciclo para restaurar o não consolidado respeito por um cineasta a quem o cânone pós-nouvelle vague estabeleceu que era burguês, académico, conservado em formol. Mas Sautet, e os seus homens e mulheres desta fase da sua filmografia, quando o boom económico europeu do pós-guerra mostrava as fissuras, cedia, a “crise” impregnava as vidas (Sautet metia as personagens dentro de carros, em pedaços de cinema filmado com transparências que pairavam acima do realismo, para que elas, protegidas do mundo, carregassem as baterias com o grupo, mostrando-se sem carapaças), e aparece, afinal, tão próximo de nós, hoje. “Claude Sautet trabalhou na sombra de outros autores aclamados e perguntamo-nos como é que ainda pode ser considerado fora de um círculo mais respeitado”, questiona Valente. “Les Choses de la Vie inaugura a sua fortíssima fase da década de 70” — depois de um início junto do cinema de género, com filmes que falharam comercialmente mas onde há um soberbo Classe Tous Risques, de 1960 — “e desfaz o preconceito de tornar a burguesia francesa, classe com posses materiais e confortável na sua vida ordeira, objecto de cinema. É uma das grandes forças de Sautet: ver a vida simples e quotidiana ser objecto de violência a partir dos sentimentos das personagens ou mesmo, como nos filmes seguintes sobre filhos de operários ou antigos operários que se tornaram patrões, ver o olhar do realizador retirar-lhes as máscaras de segurança. A instabilidade das relações amorosas ou económicas, o facto de a única possibilidade que estas pessoas têm é viver em permanente fuga em frente — gesto e sentimento bem presentes nos dias de hoje, séc. XXI — faz de Sautet um cineasta actual”. Era um francês de sensibilidade italiana. Como os actores que escolheu – sinta-se o temperamento de Yves Montand, que se chamava Ivo Livi, de Serge Reggiani ou de Michel Piccoli, em Vincent, François, Paul. . . et les Autres, os dados das biografias confirmarão. Montand ficou com um papel que Vittorio Gassman recusou. Já alguém reparou que se se misturassem as imagens de Vincent, François, Paul. . . e de C’eravamo tanto amati, de Ettore Scola, o mashup passaria a mesma música melancólica — não se trata de inspiração, sequer, os filmes são do mesmo ano. Isto para dizer que se a proximidade de Sautet ao cinema italiano é algo de natural, neste ciclo em que se comunicam tons e crises, cria-se um território sentimental. Há filmes em que o grupo se cerra à volta das personagens, não sendo certo que as salve. Há filmes em que as personagens ficam irremediavelmente sozinhas. Sem chegar ao niilismo de Un borghese picollo, picollo, em que a solidariedade desapareceu e Alberto Sordi se dispõe a matar, Dellito d’amore (1974), de Luigi Comencini, fala de um par que ficou sem a protecção da fábrica, do partido e da ideologia, e que vai em direcção à morte. Às tantas, Giuliano Gemma pergunta a uma Stefania Sandrelli chorosa se o que se passa com ela é “um drama amoroso”. . . A pergunta, em cenário fabril em que a superestrutura marxista colapsa e a classe operária de desaparece, tem uma resposta: Dellito d’amore só pode ser um filme de amor (e a crítica caiu em cima de Comencini)“Há outra linha neste ciclo, como aponta, que é a desconfiança perante as instituições. Este período [dos filmes] apanha a decadência de movimentos que deram origem às maiores lutas políticas do século XX e exibem a corrupção das instituições de poder, dos partidos, da religião ou dos media e do seu novo sensacionalismo. Provavelmente em Un borghese piccolo, piccolo saímos da sala não apenas arrasados com o que o filme nos diz, mas com a vida que voltamos a encontrar fora da sala e que reconhecemos do filme — por tudo o que nos conta sobre a nossa vida íntima e política, as experiências profissionais ou a corrupção em que a sociedade europeia parece cair. Esse filme pega na história de um cidadão que tentou seguir o guião de sucesso que a sociedade tinha para ele, a mesma que acabou por retirar-lhe tudo. O que lhe resta é a revolta. Isso leva-nos a perguntar se não são os sentimentos a coisa mais perigosa do mundo, porque nos pode deixar a um passo de nos tornarmos criminosos ou terroristas. ”Este território, afinal, é uma sensibilidade geograficamente identificável. É mediterrânica. “Falar da vida europeia passa, obrigatoriamente, por falar da vida e do movimento do Mediterrâneo. É um nervo do ciclo e das nossas vidas, tal como uma das questões políticas europeias do nosso tempo. Os acontecimentos recentes em Itália mostram que vivemos uma rejeição total do que é o Mediterrâneo. No fundo, uma rejeição de nós próprios. ” Depois do francês Sautet e dos italianos, avistam-se as angustiantes manobras da família de O Segredo de Um Cuscuz, de Abdéllatif Kechiche (2007), único título programado que escapa aos anos 1970 e 80 — deve ser ponto de chegada para serem equacionadas novas possibilidades de partida para as vidas europeias. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Sim, Kechiche é um herdeiro deste cinema de que falámos” — é um admirador de Sautet, aliás —, “pois reúne nos seus filmes o olhar social, o despudor em filmar sentimentos e desejos, o facto de eles poderem ser elemento de euforia ou violência. Não é por acaso que é contestado pela crítica bem-pensante que o rejeita como ‘excessivo’. Kechiche, cineasta europeu e árabe, e este último dado não é de ignorar no presente político e nas fricções que dominam o mundo, é um dos cineastas mais livres, expressivos e independentes. Achei interessante ir à procura do cinema dele. . . O cinema acaba sempre por nos falar no presente. Estes filmes podem parecer muito diferentes nas suas propostas, mas ganham uma força como colectivo. Tal como nós, espectadores. ”Programação completa aqui
REFERÊNCIAS:
Um Black Mirror de millennials
A possível definição desta peça hiperbólica pertence aos próprios Os Possessos. De 27 a 30 de Junho, O Novo Mundo existe na Culturgest e é um deserto onde tudo se pode projectar. (...)

Um Black Mirror de millennials
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.16
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A possível definição desta peça hiperbólica pertence aos próprios Os Possessos. De 27 a 30 de Junho, O Novo Mundo existe na Culturgest e é um deserto onde tudo se pode projectar.
TEXTO: Na edição da Abacus, o monumental romance Infinite Jest, de David Foster Wallace, inclui uma nota (a 324) que se estende por sete páginas. Como defende o site Literary Hub, é uma nota que, deixada a pairar entre dois blocos de texto, vale por um capítulo inteiro, apesar de relegada para as últimas páginas do livro. Será um dos exemplos mais extremos da profusão de notas finais ou de rodapé a que Foster Wallace recorre com mestria e de forma desmedida, enxertando uma imensidão de informação nas suas obras. Em 2666, na publicação da Quetzal, Roberto Bolaño estende-se por 320 páginas na descrição das centenas de crimes que têm por vítimas as mulheres no deserto de Sonora, dedicando a quarta parte das cinco que compõem o tomo a uma experiência literária que testa o estofo do leitor e induz um estado de desespero e sufocação justificado pela especificidade temática. Foster Wallace e Bolaño foram dois dos autores que alimentaram um clube de leitura montado pel’Os Possessos para lançar a criação de um espectáculo chamado O Novo Mundo – em cena na Culturgest, Lisboa, de 27 e 30 de Junho. Durante vários meses, os encontros semanais haviam de servir para discutir livros mas também para os seis autores do texto final – Daniel Gamito Marques, João Pedro Mamede, Leonor Buescu, Miguel Ponte, Nuno Gonçalo Rodrigues e Tiago Lima, grupo a que se juntava a actriz Catarina Rôlo Salgueiro nos debates –apresentarem cenas escritas a partir de temas lançados por João Pedro. Dois exemplos: baby boom e suicídio – nascimento e morte, fenómenos colectivos e decisões individuais, explosões e implosões. “Aquilo de que estávamos à procura e que queríamos transportar para o teatro era um certo fôlego de raciocínio e de ideias levadas até ao fim”, diz João Pedro Mamede – fundador com Catarina e Nuno Gonçalo d’Os Possessos, e principal responsável pela encenação de O Novo Mundo. “Queríamos trabalhar monólogos, parentéticas, lidar com o excesso de informação que há nesse tipo de literatura e trazê-lo para aqui. ” De Foster Wallace, Bolaño ou Zadie Smith – autora acrescentada por sugestão de Francisco Frazão, ex-programador de teatro da Culturgest, responsável pelo convite à companhia para apresentar na sala lisboeta um “espectáculo hiperbólico”, para um grande elenco – não resta no espectáculo senão uma memória distante. Essas referências, que ajudaram a encontrar um tom inicial para aquilo que imaginavam, foram-se esbatendo e diluindo nas 130 páginas que compunham o primeiro best of de cenas avulsas. As 130 páginas foram depois esquartejadas até restar apenas um terço e foi a partir dessa dieta forçada que começaram a entrever um espectáculo que lidava com a condição dos millennials e com a busca pela fé. “Essa ideia dos millennials está sobretudo na angústia colectiva que é esta pergunta: Será que temos todo o tempo do mundo ou será que já não vamos a tempo?”, resume João Pedro Mamede. “Há também uma certa alienação e um esquecimento, algo que acaba por atravessar os sujeitos todos da peça. ” Catarina Rôlo Salgueiro acrescenta a estas coordenadas uma inquietude, a necessidade de “estar sempre à procura de outro espaço que não este onde estamos agora”, e a efemeridade presente nos “contratos temporários, no trabalho e na forma como nos relacionamos com o outro”, em que tudo é a prazo. Se a tesoura aplicada no texto foi inclemente, tê-lo-á sido ainda mais ao reduzir os 14 cenários originais a uma única localização: o deserto. Um deserto que é, na verdade, como se fosse uma sala branca, imaculada para nela tudo poder ser projectado. “Vejo. Um deserto. A perder de vista”, ouve-se, às tantas durante a peça. Mas logo se percebe que o deserto existe no lugar de um casino, o deserto pode ter uma mulher presa numas escadas, pode ser o lugar perfeito para montar uma esplanada, pode existir enquanto estrada com destino a um oásis. Este deserto, com um único cacto, vem também do deserto do real de Zizek – que, por sua vez, cita o filme Matrix – e que é sinónimo da “aridez da realidade”. Este deserto, que é espaço em branco para nele se imaginar qualquer sonho, é também testemunha do canibalismo de um par de turistas afectadas que se cansam da solicitude do seu empregado de mesa e resolvem devorá-lo sobre a mesa. Ali tudo se pode projectar. Mas nada dura. Após uma trilogia de peças focadas na cidade, numa soturnidade urbana que carregava sempre um evidente pessimismo, Os Possessos enveredaram, desta vez, por um texto que, sendo “um pouco Black Mirror de millennials, tem um laivo de esperança”. Nem que seja porque há personagens que desesperam com sede e são presenteadas de imediato com um oásis, porque há quem encontre Deus no fim da sua travessia, porque há reconciliação a sobrepor-se a um choque conjugal, porque há quem levite em direcção ao céu feliz por deixar a vida terrena. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Com a teia baixada para impor “uma espécie de cinemascope”, este O Novo Mundo pode, para quem muito necessitar de o situar no espaço, existir algures entre os Estados Unidos e o México, como se fosse um western fora de época. Mas não enfileira em qualquer lógica de distopia. Quando muito, está sobretudo alinhado com o presente, numa constatação de mudança de paradigma, empoleirado algures e tentando equilibrar-se no ponto em que uma verdade termina e se converte num outro sistema. Esse movimento acarreta também uma reflexão sobre quem são Os Possessos e que teatro é o seu. Uma das respostas mais claras a essa pergunta é a de uma natureza de contínua mutação, mas em que a companhia parece zombar da precariedade da sua existência rodeando-se sempre de elencos alargados e processos criativos muito participados. “Este Novo Mundo”, cita Catarina de um dos ensaios, “é tão especial porque estamos a juntar vários tipos de teatro diferentes. E temos quase um representante de cada nova companhia: a Nídia Roque do Teatro da Cidade, o Miguel Cunha dos Auéééu. ” A que acrescem ainda Isabel Muñoz Cardoso, Francis Seleck, Margarida Vila-Nova ou Filipa Matta, entre aqueles que são menos habituais no mundo eléctrico e musical d’Os Possessos. São muitos, dividem-se entre crianças e adultos, as crianças discutem com “grande propriedade de discurso e linguagem” morte e religião, os adultos pensam em marisco e enchem a boca com futilidades. Uma das turistas tem fome porque não consegue dormir, a outra tem medo de ser estrangulada durante o sono e acha acordar uma coisa horrível. “O Novo Mundo não promete grande coisa, mas há sonhos, etc. ”, dizem. Pode até seguir-se o abismo, mas, como cantam em cena, ainda agora começaram a usar as reservas de futuro. Hão-de ser suficientes para travar a tempo ou saltar e aterrar do outro lado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte suicídio mulher fome medo espécie mulheres
Enquanto La Casa de Papel não regressa, há Vis a Vis
A famosa série espanhola só volta em 2019, mas há outra série co-criada pelo mesmo argumentista, Álex Pina. Falámos com Iván Escobar, que está aos comandos do dia-a-dia de Vis a Vis, cuja terceira temporada se estreia esta quinta-feira, às 23h10, no FOX Life. (...)

Enquanto La Casa de Papel não regressa, há Vis a Vis
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A famosa série espanhola só volta em 2019, mas há outra série co-criada pelo mesmo argumentista, Álex Pina. Falámos com Iván Escobar, que está aos comandos do dia-a-dia de Vis a Vis, cuja terceira temporada se estreia esta quinta-feira, às 23h10, no FOX Life.
TEXTO: Enquanto não chega a terceira época de La Casa de Papel, que tal outra série espanhola? Mais especificamente, uma série que tem como co-criador Álex Pina, o responsável por essa série, e que partilha com ela vários membros da equipa técnica. É essa a proposta de Vis a Vis e se passa, à moda de Orange is the New Black, numa prisão feminina. A estreia em Portugal da terceira temporada é esta quinta-feira, às 23h10, no FOX Life. É a primeira leva de episódios da série com a chancela da FOX (e, aliás, a primeira vez que a FOX espanhola se aventura na produção própria de séries). É que antes, em Espanha, Vis a Vis era uma série da Antena 3, só que foi cancelada em 2016. O fervor da Marea Amarilla, nome que se dá aos fãs da série, levou a que a FOX pegasse nela e a ressuscitasse este ano. Tem sido frequente, nos últimos meses, séries que foram canceladas voltarem ao activo nos Estados Unidos. Quer seja anos depois de terem saído do ar, quase sempre no mesmo canal onde passaram originalmente, quer seja logo a seguir, ressuscitadas por outra produtora – recentemente aconteceu com Brooklyn Nine-Nine e Lucifer, por exemplo. Ora, em Espanha isso não é comum. “Acho que é uma das primeiras” séries em que isso acontece, explica ao PÚBLICO, por email, Iván Escobar, co-criador e produtor executivo da série, o seu showrunner. Há mais de 15 anos que Escobar trabalha com Pina, com quem diz ter aprendido "milhões de coisas", a co-escrever ou co-criar séries. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É um recomeço que serve para trazer novidades à trama, com novas personagens a juntarem-se a personagens como Macarena Ferreiro, interpretada por Maggie Civantos. “Faz parte do ADN de uma série como Vis a Vis mudar. Não se repetir”, reitera o guionista, mas, ao mesmo tempo, era preciso construir cenários novos e isso foi aproveitado para mudar a acção de sítio. As temporadas anteriores passavam-se no centro prisional de Cruz del Sur, e são agora transferidas para outra prisão, chamada Cruz del Norte, onde são introduzidas novas personagens e onde a hierarquia de poder é posta em causa. O elenco da série é maioritariamente feminino. Os responsáveis mencionados até agora, porém, são só homens. Das quatro pessoas que criaram a série, só uma é mulher: Esther Martínez Lobato. Apesar disso, a equipa criativa tem muitas mulheres. “O olhar feminino não se pode fingir nem imitar. Numa série feminina tem de haver guionistas femininas e não só. Realizadores, assistentes de realização, produtoras, actrizes. Procuramos que seja assim”, partilha o criador. O que é que Iván Escobar promete para esta temporada de Vis a Vis? O objectivo, afiança, é sempre o mesmo e nunca muda: "não defraudar" e ser-se "valente". Tais princípios envolvem, elabora, tomarem-se por vezes "decisões radicais, ousadas e até polémicas", como reviravoltas na história e até a morte de personagens de quem os fãs gostam. "Contudo, o dia em que deixarmos de surpreender o público vai ser o dia em que desaparecemos de cena", assegura.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens mulher prisão mulheres feminina
O que fazia Angelina Jolie numa cerimónia real?
A actriz norte-americana esteve na cerimónia de celebração dos 200 anos da Ordem de São Miguel e São Jorge, na Catedral de São Paulo, em Londres. (...)

O que fazia Angelina Jolie numa cerimónia real?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A actriz norte-americana esteve na cerimónia de celebração dos 200 anos da Ordem de São Miguel e São Jorge, na Catedral de São Paulo, em Londres.
TEXTO: A rainha Isabel II sentiu-se mal e por isso não pôde comparecer na cerimónia de celebração dos 200 anos da Ordem de São Miguel e São Jorge, na Catedral de São Paulo, esta quinta-feira. Mais surpreendente do que a ausência da monarca foi a presença de Angelina Jolie, durante o serviço anglicano. A actriz norte-americana apareceu na igreja, assistiu à cerimónia, acenou aos fãs à chegada e até se vestiu como realeza, com chapéu e tudo. O vestido Ralph & Russo, num tom cinzento pálido, que escolheu, mereceu-lhe uma série de comparações a Meghan Markle. É que desde o casamento a duquesa tem usado quase exclusivamente vestidos em tons neutros claros. O que fazia então a actriz na Catedral de São Paulo? Nada mais, nada menos do que receber uma honra da Ordem de São Miguel, pelo seu serviço em países estrangeiros, de acordo com o tablóide londrino Evening Standard. A distinção é tipicamente atribuída pela rainha, com o aconselhamento do primeiro-ministro. Esta quinta-feira, a rainha esteve representada por Eduardo, Duque de Kent. Não foi a primeira vez que Jolie foi distinguida pela realeza. Em 2014, foi condecorada pela rainha Isabel II como Dama Honorária da Ordem de São Miguel e São Jorge. O título foi-lhe atribuído pelo seu trabalho no Reino Unido e esforços para acabar com a violência sexual em zonas de guerra.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra violência rainha sexual casamento
Couto, a mãe da bisnaga icónica faz cem anos
A Couto nasceu no Porto e comemora o seu centenário no próximo dia 29 com a abertura da primeira loja no país na mesma cidade. (...)

Couto, a mãe da bisnaga icónica faz cem anos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Couto nasceu no Porto e comemora o seu centenário no próximo dia 29 com a abertura da primeira loja no país na mesma cidade.
TEXTO: A bisnaga era amarela, branca e preta. Durante décadas foi um sucesso, era portuguesa e “andava na boca de toda a gente”, dizia o anúncio à pasta medicinal Couto. Depois, como tudo, caiu no esquecimento, mas o regresso foi sendo construído devagarinho. A Couto celebra cem anos de vida e vai abrir a sua primeira loja na cidade que a viu nascer, o Porto. A história da Couto começa na farmácia com o mesmo nome ainda havia rastilhos da Primeira Guerra e Alberto Gomes da Silva, actual dono da empresa, não era nascido. Com menos 20 anos do que a empresa, o proprietário viria a passar ali uma vida inteira. Hoje, com 80 anos, recorda ao P2 as histórias que ouvia em pequeno, do tio Alberto Couto, vindo do Brasil, que queria muito comprar uma farmácia e fez logo sociedade com o dono de um estabelecimento que ficava no Largo de São Domingos, no Porto, de onde a fábrica se viria a mudar, depois de 2000, para a outra margem do rio Douro, Vila Nova de Gaia. Lembra-se que era o tio quem fazia os medicamentos “à moda antiga” e que, em 1932, criou a pasta medicinal Couto com um amigo brasileiro que era dentista. Rapidamente se tornou um sucesso, afinal, o produto “surgiu numa altura de grande escassez de marcas internacionais e obteve notoriedade quando não havia grandes opções. Resistiu à erosão do tempo com um design de marca que se desenvolveu sem se deixar influenciar pelas outras pastas dentífricas de grande consumo à venda”, contextualiza Carlos Coelho, especialista de marcas, referindo que a crise económica que assolou o país, “nos levou a olhar para trás e ir buscar estas marcas que viviam sobretudo na nossa memória”. Carlos Coelho defende mesmo que “a Couto é a rainha das marcas adormecidas e [a empresária] Catarina Portas foi uma das agentes de 'desadormecimento', porque depois do 25 de Abril o país abriu-se à modernização europeia” que mexeu com as marcas nacionais. “A Catarina fez um trabalho de memória e colocou à venda marcas como um culto do país”, realça, referindo que “esses produtos são muito importantes porque são agentes económicos, mas representam um papel muito importante na nossa história social e económica”. E aqui o especialista coloca a grande questão: “O desafio é o que se faz a seguir numa marca em que o volume de negócios não é grande, mas é muito grande na contribuição que teve para a importância de preservar as marcas portuguesas”. Marcas como a Couto têm o “grande desafio de construir memórias de futuro” para que daqui a 20 ou 30 anos as pessoas ainda as recordem. E aí a Couto teve um papel notável com os anúncios na televisão e nos jornais, que ainda estão na memória de grande parte dos portugueses. Como produto medicinal, a pasta combatia os problemas nas gengivas que eram provocados, por exemplo, pela sífilis, uma doença sexualmente transmissível. “A sífilis atacava as gengivas e os dentes caiam. Esse médico dentista disse logo ao meu tio que a solução era o clorato de potássio que depois introduziram na composição da pasta”, lembra Alberto Gomes da Silva rodeado pelos produtos da marca. “Lavava-se os dentes com a pasta Couto e ficava o problema resolvido”, resume, entusiasmado. Ele, que cresceu com a bisnaga amarela no lavatório lá de casa onde se lia “pasta medicinal Couto” em fundo preto, continua a tê-la por todo o lado. Na fábrica há réplicas em tamanho gigante, imagens emolduradas e penduradas nas paredes dos vários anúncios que a marca foi desenvolvendo e, claro, centenas e centenas de bisnagas que são produzidas na sala de fabrico, ao lado do escritório. “Couto” é a palavra mais vezes escrita nas embalagens e sabonetes, pousadas nas prateleiras logo à entrada da fábrica. Alberto Gomes da Silva olha para trás e encontra na sua persistência e no amor que nutre pela empresa a explicação para esta se manter ao longo de cem anos. Só em 2017, a Couto facturou um total de 940 mil euros, prevendo crescer mais este ano. No ano passado vendeu 700 mil unidades de pasta Couto. “Cheguei a vender dois milhões de bisnagas em 2000 e depois começou a decair. Mas mesmo assim, ainda é o produto que mais se vende”, conta. “As pessoas eram apaixonadas pela pasta”, diz, por seu lado, a mulher Maria Alexandra Gomes da Silva, directora comercial da Couto e responsável pelo impulso dado à marca com a introdução de novos produtos, alguns dos quais serão lançados agora para comemorar os 100 anos da Couto – água de colónia, after shave, creme de barbear, gel de banho, sabonete e leite corporal. “Será a nossa linha Primus. A única coisa que não é feita aqui na fábrica é o sabonete”, realça a directora comercial. A marca vende para Espanha, Itália, Angola, Moçambique, Cabo Verde e EUA. O empresário lembra que em pequeno passava as férias na antiga fábrica, além de ver os produtos a serem fabricados, também os embalava. A Couto não produzia só a pasta dentífrica, mas também outros produtos farmacêuticos, como o óleo de fígado de bacalhau. “Sabia mesmo muito mal. Era um tónico fortificante que o médico receitava, quase toda gente tomava. Tinha resultados no tratamento da tuberculose pulmonar, escrófulas, raquitismo e nas infecções características da fraqueza geral”, lê-se na biografia do empresário que a mulher mandou fazer em Setembro de 2017 para “dar a conhecer os aspectos essenciais do percurso de vida” do marido e “mais sobre o homem” com quem casou. É neste livro que passa em revista como a Couto começou e cresceu. “Olhe que, quando eu era pequeno, não havia caixas de pastilhas como há hoje, nem se compravam os medicamentos aos laboratórios. ” Era tudo feito na oficina da farmácia: “O médico escrevia a receita e a farmácia aviava, ou seja, preparava o xarope, os supositórios ou a pomada. ” Alberto Gomes da Silva lembra-se bem de, aos 17 anos, fazer pomadas. “Misturava-se o pozinho e o líquido, e o farmacêutico lá fazia o medicamento”, recorda, enquanto tira da gaveta um caderno de apontamentos, como se fosse um tesouro com mais de 70 anos, que era do tio, o fundador da Couto, com dezenas de receitas de medicamentos e outros produtos. O tio escrevia as fórmulas com a composição explicada tim-tim-por-tim, como a do famoso Restaurador Olex que fez grande furor e fica guardada em segredo naquele caderno e na memória de quem trabalha na empresa. Já estavam na nova fábrica, em Vila Nova de Gaia, quando o acetato de chumbo foi proibido na composição do Restaurador Olex e substituído por outra substância. Ainda hoje é possível ver no Youtube o anúncio onde se ouve uma voz off a dizer que “um preto de cabeleira loura ou um branco de carapinha não é natural. O que é natural e fica bem é cada um usar o cabelo com que nasceu. Usando diariamente o Restaurador Olex dá ao seu cabelo a sua cor primitiva”. Nos próximos tempos não se deve ver anúncios da Couto como este, não faz parte dos planos da empresa, declara a directora comercial. O empresário passa umas páginas à frente, suspira fundo e sorri de saudosismo, referindo: “Olhe aqui o lombrigol que fazíamos para atacar as lombrigas. Hoje em dia, já não se faz nada disto. ” E vai lendo em voz alta a fórmula: “mil gramas de óleo, mais 20 gramas de essência de mercúrio e duas gramas de clorofórmio”. Depois folheia o caderno de folhas amareladas, marcadas pelo passar dos anos, até parar nas “mil gramas de vaselina, mais 0, 03 de corante e 15 de essência própria para fazer brilhantina sólida”. Ou na fórmula de verniz para as unhas com a respectiva explicação. Mas por essa altura, elucida, “já havia medicamentos feitos dos laboratórios”. Da farmácia à cosmética“Se lavar os dentes com a nossa pasta, sente logo a diferença, porque evita e trata as doenças dos dentes”, garante o empresário. “Não há bactéria que resista. E se tiver aftas na boca, ponha um bocadinho de pasta e deixe ficar que vai ver que, no outro dia, desapareceram”, aconselha Ana Teixeira, 63 anos, a funcionária mais antiga da empresa já com 44 anos de casa. De touca na cabeça, bata e calça branca vestidas, Ana vai desfiando, muito despachada, como aos 18 anos “embrulhava a pasta Couto em celofane, colava os rótulos à mão e punha o selo medicinal que era obrigatório na altura”. Agora já não se faz assim. Mas Ana Teixeira não é do tempo em que, acrescenta Alberto Gomes da Silva, “se enchia à mão uma bisnaga de cada vez com a ajuda de uma espátula”. Agora as máquinas fazem essa tarefa desde o enchimento até o produto estar pronto para sair da fábrica. Quando Ana Teixeira começou a trabalhar, além da pasta dentrífica, já se faziam outros produtos como a Vaselina Pura, o Creme Desodorizante e a Água Oxigenada. A Couto chegou a ter três dezenas de funcionários, agora são cerca de uma dezena, e quase todos "fazem parte da mobília", como Isabel Moreira, de 59 anos, que há 42 é empregada de escritório. “Na altura que entrei, havia a pasta dentífrica, o Restaurador Olex e o Petróleo Olex”, recorda. “Está a ver esta máquina de embalagem? Veio de lá [da primeira fábrica]. Tem 35 anos”, aponta a funcionária. Outras trabalhadoras estão à volta das máquinas que fabricam a pasta – esta esteve seis dias em quarentena. “É o tempo do controlo microbiológico sair”, justifica Claúdia França, directora técnica, responsável pelo design, desenvolvimento e controlo da qualidade dos produtos. Antes de ser produzido, todos os novos produtos passam pelas mãos de Claúdia França, licenciada em ciências farmacêuticas com pós-graduação em dermocosmética e marketing. “Faço a fórmula do início ao fim. Primeiro penso nas matérias-primas que a Couto usa habitualmente e depois desenvolvo. Tenho ideia do aroma e peço amostras a vários fornecedores de perfumes”, descreve enquanto faz uma visita guiada ao laboratório onde faz o controlo de qualidade da produção e desenvolve as fórmulas. Há frascos por todo o lado, até mesmo aqueles de farmácia antigos que hoje são apenas decorativos, assim como uma série de instrumentos de precisão. No início, a pasta dos dentes era vendida em farmácia por ser “medicinal”. Só mais tarde passou a “dentífrica” e está à venda em mais lojas, mas não em grandes superfícies. Catarina Portas, da rede de lojas Vida Portuguesa, acha “extraordinário” como é que “uma das marcas [portuguesas] mais emblemáticas” se consegue manter e revitalizar no mercado. “Tiveram a inteligência de nunca se terem vendido”, realça. “Desde o primeiro momento que tenho a Couto à venda, e vendo imenso, tive de adquirir também o Restaurador Olex porque os clientes pediam”, recorda. A empresária ficou impressionada quando, há 12 anos, viu à venda a pasta Couto com grande destaque em Londres e em Milão, enquanto em Portugal “as pessoas não davam grande valor porque tinham à disposição as marcas multinacionais”. Catarina Portas realça ainda o design, o facto de a embalagem nunca ter mudado e de a marca ter sempre apostado na publicidade, desde anúncios aos calendários. O malabarista de Moçambique“A marca apostou num anúncio inesquecível com um malabarista”, recorda o especialista em marcas Carlos Coelho. Durante o anúncio, a preto e branco, o malabarista segura uma cadeira com os dentes, ouvindo-se uma voz de fundo: “Dentes fortes, gengivas sãs, boca saudável. Só com a pasta medicinal Couto. ” O dono da empresa lembra-se bem do malabarista que convenceu a ir a Portugal, para trabalhar num espaço de diversão, em Lisboa, que então explorava com um sócio. Uma coisa levou à outra e quando menos se esperava lá estava o artista a participar num anúncio memorável. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por estes dias, a azáfama instalou-se na fábrica por causa da nova loja que está prevista inaugurar já na próxima sexta-feira, dia 29, na Rua de Cedofeita, no Porto, para comemorar o centenário. “As funcionárias vestem a camisola”, realça Cláudia França. E nem Alberto Gomes da Silva pára. Apesar dos seus 80 anos, é vê-lo a conduzir a empilhadora com as paletas, confirmar se as bisnagas estão em ordem, e se for preciso, ainda dá um jeitinho numa máquina que não esteja a funcionar. “É um verdadeiro engenhocas”, orgulha-se a mulher, que explica que o novo espaço “vai ter uma parte como se fosse farmácia antiga e uma parede a contar a história da Couto”. “A pasta Couto é uma marca que dá colo, dá um certo saudosismo do passado e responde ao nosso desejo de memória. Vejo a Couto como uma marca bandeira de ideologia, um ícone que se reconhece ao longe, que representa um determinado tempo. A marca consegue-se manter sem perder a identidade”, conclui Carlos Coelho.
REFERÊNCIAS:
Iñaki Urdangarin: Chegar ao topo e depois cair, arrastando consigo a monarquia
Depois de uma carreira gloriosa no andebol espanhol, Urdangarin chegou à Zarzuela. Aí iniciou uma nova vida, enredando-se numa teia de interesses e influências que o conduziu à sua própria destruição e à maior crise da casa real. (...)

Iñaki Urdangarin: Chegar ao topo e depois cair, arrastando consigo a monarquia
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois de uma carreira gloriosa no andebol espanhol, Urdangarin chegou à Zarzuela. Aí iniciou uma nova vida, enredando-se numa teia de interesses e influências que o conduziu à sua própria destruição e à maior crise da casa real.
TEXTO: Em 2000, nos Jogos Olímpicos de Sydney, Iñaki Urdangarin conquistava a medalha de bronze pela selecção espanhola de andebol e realizava o último jogo da sua gloriosa carreira. Festejou com a sua mulher, a infanta Cristina de Borbón, filha do então rei Juan Carlos, com a sogra, a rainha Sofia, e com o cunhado e príncipe, Felipe, que, mais do que tudo, era já seu amigo. Ali, no campo, de medalha olímpica no peito, era felicitado pela sua nova família. A família real espanhola. O fim de uma etapa de glória e o início de uma nova vida. Mas esse futuro que parecia brilhante foi o que o destruiu. Dezoito anos depois, no dia 18 de Junho de 2018, entrou na prisão de Brieva, a pouco mais de 100 km de Madrid. De entre 82 prisões à escolha, Urdangarin escolheu ir para Brieva, um estabelecimento reservado a mulheres, mas com um módulo exclusivo para homens. É o único que lá está. Isolado e sozinho, tal como foi ficando desde que estalou o escândalo que ficou conhecido como o “caso Nóos”. Esta ala da prisão de Brieva, construída em 1989, conta com cinco celas, uma sala com televisão e um pequeno pátio. Urdangarin está na mesma cela onde o famoso antigo director-geral da Guarda Civil, Luis Roldán, cumpriu parte da sua pena de 28 anos (esteve lá detido entre 1995 e 2005) por crimes como fraude, corrupção ou suborno. Prevaricação, desvio de fundos, fraude fiscal, tráfico de influências são os crimes pelos quais o outrora genro perfeito do rei de Espanha foi condenado a cinco anos e dez meses de prisão. Serão também estas as acções pelas quais Urdangarin ficará eternizado. “Um bom rapaz, dedicado de corpo e alma à sua profissão e que acredita no que faz”, descrevia-se ao El País Urdangarin naquele dia de despedida em Sydney. Em 1997 Urdangarin chegou oficialmente ao Palácio da Zarzuela, pouco mais de um ano depois de, durante os Jogos Olímpicos de Atlanta, ter conhecido Cristina de Borbón, filha do então rei Juan Carlos. A paixão, conta-se, foi imediata. Por esta altura, a coroa espanhola vivia um dos períodos de maior apogeu, com níveis de aceitação como nunca voltou a ter. O pico da reputação da família real estancou no momento em que Urdangarin entrou e se tornou duque de Palma de Maiorca. Rapidamente conquistou o apreço de toda a família. Além de um respeitado desportista, sendo um dos jogadores de andebol mais titulados em Espanha (ganhou 52 títulos, entre os quais dez campeonatos de Espanha e duas medalhas de bronze olímpicas), os seus dotes sociais eram sobejamente conhecidos. A falta de títulos académicos foi rapidamente resolvida com uma licenciatura e mestrado em Administração de Empresas na conceituada universidade ESADE, em Barcelona, entre 1999 e 2001 – o facto de o ter feito em apenas dois anos, quando geralmente são necessários cinco, levantou polémica. O novo casal era a imagem de uma monarquia moderna. E trazia consigo uma mensagem de inclusão. Urdangarin é basco e jogou durante 14 anos no FC Barcelona, tornando-se uma das figuras do andebol do clube. O Palácio da Zarzuela recebia assim alguém que lhe permitia estabelecer uma ligação com duas das regiões mais hostis ao rei. “Há que saber dizer adeus. Quero pensar no meu futuro profissional e lutarei para que esta nova etapa seja tão bem-sucedida quanto a que agora acaba”, disse quando se despediu do FC Barcelona, recorda o El País. A posição que acabava de alcançar, por intermédio do casamento, rapidamente lhe deu as oportunidades necessárias para construir este futuro que ambicionava. E serviu de base para a nova vida que iniciava, e também para o estrondo da posterior queda. Um dos professores que conheceu dos tempos da ESADE foi Diego Torres. Bem impressionado com Urdangarin, Torres convidou-o para sócio do Instituto Noós, uma instituição sem fins lucrativos. “O objectivo era contratar Urdangarin e tudo o que vinha com ele”, diria José Luis Ballester, antigo director-geral do Desporto no governo autónomo das ilhas Baleares, num dos seus depoimentos à Justiça no âmbito do “caso Nóos”. Quando confirmou a sentença de Urdangarin, o Supremo espanhol apontava também como origem do descalabro “o privilegiado posicionamento institucional de que desfrutava, dada a sua proximidade com a chefia do Estado”. A nova carreira empresarial do novo duque de Palma começou rapidamente a criar desconforto na família real. Relatam os jornais espanhóis que na Zarzuela começaram a avisá-lo para se afastar destes círculos de poder político e de influência. O próprio reconheceu perante o juiz, em 2012, os avisos que recebeu. Inclusivamente da parte do próprio rei que lhe pediu para abandonar os negócios em que se estava a envolver e, depois, que fosse trabalhar para fora de Espanha. Mas por esta altura já o marido da infanta Cristina estava fatalmente embrenhado na teia de influências e de corrupção. Só em contratos públicos, adjudicados através do Instituto Nóos, a investigação calcula que Urdangarin arrecadou mais de seis milhões de euros, sobretudo junto do governo das Baleares, da comunidade valenciana e de Madrid. Nas baleares, durante a governação de Jaume Matas (de 2003 a 2007), foram entregues à instituição dois contratos para organizar dois congressos sobre turismo e desporto. O custo da organização ultrapassou os dois milhões de euros, o que levantou, pela primeira vez, as suspeitas não só da oposição política de Matas mas também da justiça – nomeadamente do juiz de Palma de Maiorca, José Castro, em 2010. O inquérito viria a concluir que desse valor cerca de 1, 5 milhões acabaram no bolso de Urdangarin e de Torres. O mesmo aconteceu junto da generalitat valenciana, que outorgou quatro contratos no valor total de quase quatro milhões de euros. Para tudo isto, os conhecimentos de Urdangarin e as portas que a sua posição na Zarzuela abriam foram fundamentais. “Urdangarin era um conseguidor, um intermediário”, reconheceu Mata num dos seus depoimentos. “Notava-se que se sentia um pouco limitado no seu dia-a-dia, que considerava que estava a desempenhar um papel principalmente de comercial”, descreve Torres ao El País. “Odiava as rotinas. Fazíamos uma boa equipa: eu observava e compilava dados. Iñaki absorvia o ambiente e conhecia as pessoas”. Em 2011, já a investigação decorria, e Urdangarin foi formalmente imputado na mesma. Abria-se o período de maior crise da coroa espanhola e o início da queda do genro perfeito. Em 2013, a crise agudizou-se e pela primeira vez na história um membro da família real era levado ao banco dos réus. Cristina de Borbón era acusada de cumplicidade nos crimes fiscais do marido mas acabou absolvida. Por sua vez, Torres foi condenado a cinco anos e oito meses de prisão e Matas a três anos e oito meses. Por esta altura, Cristina e os seus quatro filhos já se tinham mudado de Washington para Genebra, na Suíça, permanecendo assim afastados do escândalo que estava no seu pico. A separação em relação à casa real não se dava só em termos geográficos e começou a fazer-se sentir a nível institucional e pessoal de forma irremediável. Apesar de publicamente o “caso Nóos” ter sido sempre um tema a evitar pelos reis Juan Carlos e Sofia, sabe-se que ambos se mantiveram ao lado da filha. O mesmo não aconteceu com o irmão, Felipe, anteriormente próximo de Cristina. Este escândalo foi um dos factores que contribuiu para que, em Junho de 2014, Juan Carlos abdicasse do trono. Nunca a coroa esteve com níveis de rejeição tão altos. A coroa passava para o agora rei Felipe VI. A promessa era de modernização e renovação da monarquia. E isso passava pela limpeza da imagem deixada pelo casal dos duques de Palma. Em 2015 mais um acontecimento sem precedentes: o monarca retirou os títulos de duque à sua irmã e cunhado. A ostracização institucional ficava completa. Sobre o processo, as únicas declarações públicas da casa real, o que voltou a acontecer aquando da confirmação da sentença por parte do Supremo, é de realce relativamente à independência da justiça – que esteve também em jogo neste caso – ao não ter quaisquer problemas em levar a julgamento um dos seus membros e de colocar na prisão outro pela primeira vez na história. “O caso Urdangarin gerou uma crise inédita para a monarquia espanhola, que desembocou na abdicação do rei Juan Carlos I e no distanciamento institucional da irmã do novo monarca, a infanta Cristina”, escreve o El País no editorial que se seguiu à confirmação do Supremo. “A exemplaridade não pode ser só uma promessa de boca do rei e dos governantes, mas sim uma exigência moral e judicial que garanta o cumprimento do artigo 14 da nossa Constituição: ‘Os espanhóis são iguais perante a lei. ’”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Foi também sendo noticiado os pedidos do pai e irmão de Cristina para que se separasse do seu marido e que se afastasse o mais possível do rasto de problemas judiciais que ele trazia consigo. A rejeição foi pronta e a infanta manteve-se sempre junto de Iñaki. E assim continua. Absolutamente convicta da inocência do marido, relata a comunicação social espanhola. No mesmo dia em que Iñaki recebeu a ordem de prisão, 13 de Junho, Cristina celebrou o seu 53º aniversário. Sozinha com os filhos em Genebra, tentando manter a sua vida tal como ela era. Chegou a ser avançado que a infanta se iria mudar para Lisboa, aproveitando a mudança da sede da Fundação Aga Khan, onde trabalha actualmente, para a capital portuguesa, mas isso não passou até ao momento de rumores. De acordo com declarações de uma fonte próxima a Cristina de Borbón ao El Mundo, a infanta “está destroçada mas mostra a mesma força que teve durante todo o processo”, acrescentando que não há, para já, planos de uma mudança para Lisboa. Tem direito a uma visita semanal ao marido, o que planeia cumprir.
REFERÊNCIAS:
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Maro e a felicidade das primeiras coisas, da Internet para o mundo
É um pequeno fenómeno na Internet. Com 23 anos, Mariana Secca, que se apresenta como Maro, lança agora o primeiro álbum. Estreia em palco acontece em Julho em Lisboa e no Porto. (...)

Maro e a felicidade das primeiras coisas, da Internet para o mundo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.475
DATA: 2018-06-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: É um pequeno fenómeno na Internet. Com 23 anos, Mariana Secca, que se apresenta como Maro, lança agora o primeiro álbum. Estreia em palco acontece em Julho em Lisboa e no Porto.
TEXTO: Um primeiro álbum, que é um tríptico sobre adolescência e crescimento, e dois concertos em Lisboa e no Porto revelam a felicidade das primeiras coisas da cantora portuguesa Mariana Secca, que se apresenta como Maro. Mariana Secca, lisboeta de 23 anos, edita no sábado a terceira parte de um álbum de estreia, sem título, que tem sido disponibilizado desde Março nas plataformas digitais em três volumes de canções. A estreia em palco acontecerá a 6 de Julho, no Teatro Capitólio, em Lisboa, e, no dia 8, na Casa da Música, no Porto. O álbum está organizado de forma cronológica e resume tudo aquilo que Maro compôs desde os primeiros temas da infância até 2017, ano em que terminou os estudos na escola de música de Berklee, nos Estados Unidos. A primeira música do álbum, intitulada Deixa, para voz, guitarra e harpa, foi escrita pela cantora aos 12 anos, e as mais recentes, do terceiro volume, já reflectem "a celebração de uma escolha" em viver para a música, como contou em entrevista à agência Lusa. Maro — alcunha que adoptou como nome artístico — nasceu num ambiente familiar marcado pela música, com uma avó pianista, a mãe professora e pai músico não profissional. Começou a estudar piano aos quatro anos, fez conservatório, aprendeu sozinha a tocar guitarra e a cantar e, num impasse a caminho de um curso de veterinária, decidiu escolher a música. Inscreveu-se e foi admitida na escola de Berklee, em Boston, com apoio de bolsas de estudo, onde viveu três anos e completou o curso em Dezembro passado. "Acabou por não ser difícil, porque foi uma descoberta tão feliz perceber que era mesmo isto que queria fazer. Ir para a América, sim é longe, mas já não interessava. Estar longe da família, sim é difícil, mas isto era o que eu queria mesmo fazer", contou. Para a cantora, o melhor dessa experiência, que quer agora capitalizar num percurso em nome próprio, foi "tocar com pessoas de culturas muito diferentes, que falam línguas diferentes, que comem coisas diferentes". Apesar da distância com Portugal, Maro teve a Internet como âncora de contacto, sobretudo como forma de ir divulgando todas as canções que foi compondo ou reinterpretando. No YouTube é possível encontrar vários vídeos com gravações amadoras, muitas deles acompanhada de músicos da escola norte-americana, com quem gravou o álbum. Foi em Berklee que gravou, e na Internet divulgou, várias séries de vídeos em que interpreta Mário Laginha, Bernardo Sassetti, Rui Veloso ou José Afonso, mas também surgem versões dos Radiohead, de Ornatos Violeta ou de Quim Barreiros, ao piano ou com guitarra acústica. "Eu sinto que por ter tantas influências e por ouvir músicas tão diferentes, também o que vou fazer vai ser um bocadinho assim. (. . . ) Quero imenso aprender com pessoas que tocam outras coisas e fazer parte disso e trazer isso para a música que me sai mais naturalmente", explicou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Actualmente vive em Los Angeles, na Califórnia, numa fase de "descoberta, entrar de cabeça e ver no que dá". "Comecei a dar aulas para juntar algum dinheiro, de resto é ir a sessões, gravar, escrever, trabalhar em casa, ir conhecendo pessoas que inspiram. " Tendo a Internet como "o maior aliado", Mariana Secca está ainda a tentar criar a própria editora independente, para continuar a editar as composições dela ou com outros músicos. Diz que tem pelo menos seis álbuns a editar nos próximos meses, um deles já em Julho, "de música electrónica, R&B, pop". "Eu quero sempre fazer isto pela música e depois tentar moldar o resto à criatividade. Sendo independente isso é completamente possível. Eu tenho imenso gozo em descobrir outros estilos. Eu quero completa liberdade para fazer o que eu quiser. " Por tudo isto, agradece à quase obsessão em ser organizada e motivada. E agradece também ao músico brasileiro Milton Nascimento, de quem um dia ouviu o tema Cais, que a fez querer ser o que é hoje. "Ele é das razões mais óbvias pelas quais estou a cantar. "
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola estudo cantora