Brillante, tudo no sítio
A luta pela sobrevivência é interceptada nas ruas e na lama de Mãe Rosa com a eficácia cortante do cinema do género: género Brillante Mendoza. (...)

Brillante, tudo no sítio
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: A luta pela sobrevivência é interceptada nas ruas e na lama de Mãe Rosa com a eficácia cortante do cinema do género: género Brillante Mendoza.
TEXTO: Por alturas da sua “catedral” Lola, de 2009 – grande ano para ele, foi também o ano de Kinatay. . . – , o filipino Brillante Mendoza dizia-nos que lhe interessava a “realidade” mas também a “verdade do cinema”. Num filme em que uma avó se debatia com o guarda-chuva ao vento e uma cidade se dissolvia em água, Mendoza respondia a uma questão muito concreta sobre a chuva: era real ou era fabricada, era de cinema, de ficção, ou era real, de documentário? Veio dos céus e, simultaneamente, foi produzida por máquinas, respondia. Tal como os actores: havia profissionais e havia amadores. Tal como as cidades, acrescentamos, que no cinema fusional de Mendoza, em que o documento tem na ficção possibilidades de expressão e de revelação, foram sendo tratadas e dominadas como estúdios a céu aberto: cada figura humana, mais as suas incessantes caminhadas que não levam a lugar algum, cada produção do caos da realidade, são sinais da claustrofobia do mundo, da crueldade das relações de poder, provas da luta pela sobrevivência, e encontram no determinismo dos géneros cinematográficos forma de expressão eloquente. Mãe Rosa é um reencontro com tudo aquilo que, em 2009, mostrava um universo em expansão, mostrava um cineasta que começara tarde (aos 45 anos, em 2005, com Massagista) a conquistar o tempo perdido. Um feliz reencontro porque quando o nome de Brillante passava da promessa a confirmação, com prémios e ciclos a servirem de caução, houve um falhado encontro com Isabelle Huppert, mas que afinal era consequência irresistível do momento de que o filipino gozava (Cativos, em 2012). E se em 2015 Taklub, realizado depois da devastação do ciclone Yolanda (seis mil vítimas nas Filipinas), confirmava que o cinema para Mendoza só podia existir junto da catastrófica ligação com lugares e pessoas (as leis da natureza tão intransponíveis como as leis sociais), parecia ter como limite domesticador o programa oficial de protecção contra os desastres naturais que o gerara. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mãe Rosa, então: é um dos títulos para guardar, numa escolha pessoal, com John John (2007, nos meandros do “mercado” de adopção e das dependências emocionais e económicas que engendra), Lola (duas mulheres que se cruzam, uma a avó de uma vítima de assassinato, a outra do neto suspeito de ser o assassino) ou Kinatay (a perda de inocência de um jovem polícia e a perda de inocência do espectador voyeur, um dos “escândalos” da história de Cannes. ). Mendoza trilha de novo com as personagens as ruas de um bairro sobrepovoado, encharcado em água e lama, sabendo que elas não chegarão a lado nenhum. Talvez cheguem com o cinema, que as vai buscar e as apanha no momento sempre certo e sempre justo em que elas, emanação da realidade, simultaneamente se dizem com a eloquência da ficção – talvez se possa obstar, mas só se as alturas do lirismo de Lola servirem de comparação, que há uma eficácia e uma secura de “género” que ameaçam o filme como um maquinismo, desde logo o do “género Brillante Mendoza”, até porque se reconhecem as deambulações sem saída, as esquadras de polícia. . . Realização:Brillante Mendoza Actor(es):Jaclyn Jose, Julio Diaz, Baron GeislerMãe Rosa: pequena comerciante de um bairro pobre, quatro filhos, um negócio de drogas para manter a economia doméstica a flutuar ao nível da sobrevivência. Ela e o marido são apanhados pela polícia, que joga com o casal o jogo da corrupção, e cabe aos filhos intervir - conseguir o dinheiro que a polícia pede – para desenrascar os pais. Neste império determinista da precaridade, a câmara de Mendoza não faz um plano a mais, um daqueles para sublinhar, para se aproveitar da miséria com redundância ou para prometer epifanias. A montagem é cortante, cruel, é essa a única forma de estar com as personagens. Há um momento transbordante quando Mãe Rosa tem finalmente tempo para parar a pensar no que lhe aconteceu. E . . . Mendoza, momento apurado, suspende –. . . é tudo, e é o fim.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave género mulheres doméstica assassinato
Um museu íntimo para memórias em atropelo
Segundo momento de uma trilogia dedicada à memória, Moeder elege a figura materna para nos conduzir a um museu tão belo quanto desconcertante. Nas habituais encruzilhadas entre dança e teatro, os belgas Peeping Tom não perderam a mão e mostram-no no Festival de Almada. (...)

Um museu íntimo para memórias em atropelo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Segundo momento de uma trilogia dedicada à memória, Moeder elege a figura materna para nos conduzir a um museu tão belo quanto desconcertante. Nas habituais encruzilhadas entre dança e teatro, os belgas Peeping Tom não perderam a mão e mostram-no no Festival de Almada.
TEXTO: Começa com um estúdio de gravação dentro do qual decorre um velório. A luz vermelha acende-se de forma intermitente, sinalizando a sua utilização. Mas aquilo que o estúdio regista é, afinal, o silêncio. Moeder, segunda peça que a companhia belga Peeping Tom dedica a uma trilogia sobre a memória, começa por acentuar a ausência. Um corpo que se apaga para, logo a seguir, passar talvez a existir em exclusivo num emaranhado de recordações – absurdas, pouco lineares, desconexas, surreais, incompletas. Quando a luz do estúdio se extingue, é num museu que somos deixados, um lugar onde se acumulam memórias que podemos visitar quando nos lembrarmos que elas permanecem ali. Moeder, de certa forma, dá-nos uma (ou várias?) cabeça onde estarmos. E começa por uma ausência porque, na verdade, foi mais ou menos por uma ausência que tudo principiou. Quando Franck Chartier e Gabriela Carrizo se lançaram a mais uma trilogia em torno da família – antes tinha havido Le Jardin (2002), Le Salon (2004) e Le Sous-sol (2007) –, a saúde da mãe da fundadora dos Peeping Tom seguia num avançado processo de degradação. Após a morte da mãe, Gabriela pegou pela primeira vez nesta ideia primordial ao apresentar uma performance no Teatro Nacional de Bruxelas – 15 minutos num pequeno estúdio de gravação, em que o público podia comer bolachas e beber café enquanto esperava por algo que nunca acontecia. Era um espaço para se instalar o silêncio e o desconforto. Mais tarde, e com o trabalho da companhia a obrigar Franck e Gabriela a dividirem esforços na criação das duas primeiras etapas da nova trilogia, fazia sentido que a Franck coubesse Vader (Pai) e a Gabriela Moeder (Mãe). Não que a vida de Carrizo esteja pespegada no desfiar anárquico de memórias que compõe a peça em estreia em Portugal no Festival de Almada – 11 de Julho, Centro Cultural de Belém –, mas é impossível não olhar para aquele velório como uma ligação demasiado directa à sua vida particular. Até porque o precioso tratamento do som ao vivo começa logo a seguir ao momento em que o caixão é tapado e levado para longe da vista, começa quando a cena é ocupada por um corpo feminino que se debate (tentando não submergir) com uma água que ouvimos e quase vemos. Esse som vem de uma pesquisa desencadeada por uma frase que a irmã de Gabriela, poetisa, terá proferido no funeral – “Minha mãe, primeiro som em mim”. Nada disto é explícito, mas o palco está habitado por fotos de família de actores e bailarinos, peças de vários puzzles de diferentes coordenadas familiares que permitem espreitar e, na verdade, muito pouco dão a ver. Ou melhor, pouco dão a ver das vidas de quem arrasta os pés a chapinhar numa água (que só ouvimos); de quem coloca as mãos suportando o peso de um bebé (que só adivinhamos) em avançado estado de gestação e dá um mortal frontal desamparado que rouba o sossego e a respiração ao público; de quem se afeiçoa perdidamente por uma máquina automática de café, objecto supremo de consolo em qualquer sala de espera; de quem olha para um quadro e se lembra da mãe a preparar a sopa na cozinha; de quem se queixa uma e outra vez do seu “trabalho de merda”. Aquilo que cada um vê é, na verdade, a sugestão de uma história que não é a sua – nem a de ninguém. É uma manta de retalhos, com a coerência de pensamentos em atropelo ou sonhos em roda-livre. Mas que, ainda assim, activa outros fragmentos de memórias individuais pertencentes a cada um. Companhia:Peeping Tom Direcção de actores:Gabriela Carrizo Centro Cultural de Belém, Lisboa, 11 de Julho de 2017 às 21hTeatro Municipal Joaquim Benite, Almada, Todos os dias, de 4 de Julho de 2017 a 18 de Julho de 2017Desde os primeiros passos que os Peeping Tom, no seu híbrido entre dança e teatro, se debruçam sobre um microscópio onde observam as relações familiares ou de pequenas comunidades. Cada duas pessoas são já uma história de inesgotável e fascinante complexidade. “Somos dois criadores que constituímos uma pequena família, temos uma filha, e ambos temos famílias que estão longe [sediados em Bruxelas, a lonjura varia entre França para ele e Argentina para ela]”, reflecte Gabriela Carrizo em conversa com o Ípsilon, depois de uma primeira noite de apresentação de Moeder no Théâtre National de Toulouse, terminada com a longa ovação de pé de uma plateia comovida. “Não decidimos conscientemente tratar desta temática nem achamos que tenhamos de compensar essa distância das nossas famílias, mas talvez isso esteja presente naquilo que fazemos. ”Se a morte da sua mãe é um dado objectivo e quase a piscar num brilhante néon nas nossas cabeças enquanto assistimos à cena inicial, Moeder constrói-se também sobre a necessidade de Gabriela “ganhar distância em relação à perspectiva sobre o tema”. “É uma obra de memória, de reconstrução da vida, de ciclos da vida e sem o pudor que muitas vezes se tem de entrar no casulo familiar e na maternidade. ” Gabriela Carrizo fala em ciclos de vida e, de facto, não tarda para que a sala de gravações onde o funeral decorre reapareça como sala de partos ou como espaço onde é mantida uma incubadora que aprisiona um corpo mais envelhecido a cada nova aparição. Aqui, como em muitas outras paragens de Moeder, há uma comicidade que se roça indecentemente no absurdo, uma estranheza que se funde no terrorífico. Uma impossibilidade de a mãe estar com a sua filha que sugere uma carga dramática inicial; os planos do pai, segurança do museu, em ir festejar o sétimo aniversário junto à incubadora num cúmulo disparatado; e uma situação cada vez mais estapafúrdia à medida que o tempo avança. “Há muitas coisas que se podem tirar dessa imagem da incubadora”, diz a directora artística dos Peeping Tom. “Desde a impossibilidade de a ver por razões médicas até, por outro lado, uma híper-protecção daquela menina”, separada das enfermidades e perversidades do mundo. “Muitas destas coisas são difíceis de explicar por palavras e mais facilmente traduzíveis por imagens que podem sugerir muitas interpretações. É um processo que se faz no estúdio, pouco a pouco, com os bailarinos e os actores, e em que eles propõem as suas histórias e o seu material. Eu proponho, eles propõem e depois fazemos uma construção e assumimos escolhas. ”No primeiro capítulo da trilogia da memória, Vader colocava a figura paternal num lar, num crescente desligamento do mundo, a desequilibrar-se numa queda para a decadência e, consequentemente, para a morte. Em Vader, a memória é uma memória a esvair-se rapidamente, a desaparecer sem deixar rasto, a esvaziar um corpo, deixando-o sem coordenadas e sem orientação possível – um saco de peles caídas e de músculos sem elasticidade, praticamente destituído de funções. A memória, ali, prende-se com a identidade e é um último e frágil fio que se prende à vida. Quando se rompe, pouco resta. Se em Vader a memória está por um fio, em Moeder funciona por justaposição de diferentes recordações e em que os ritmos, os espaços e o som “ajudam a mergulhar noutros espaços de memória, noutras matérias e noutros espaços mentais”. Esta forma persistente de exploração sonora, em que “não se sabe se é o som que provoca o movimento ou o contrário”, diz Gabriela Carrizo, foi trabalhada a partir do contacto com um sonoplasta – responsável por sons de estúdio acrescentados aos filmes para que soem mais “reais” – em que este partilhou com a companhia os seus materiais, o seu arsenal portátil e as suas possibilidades de criar ilustrações sonoras para as mais diversas situações. “Foi mais uma porta que pudemos abrir e que depois levou à ideia de ocuparmos o interior do estúdio de gravação, produzindo sons com a água, todo um elemento que está muito ligado à mãe. ”Da mesma forma que num filme, aqui, aplicada sobre cenas que são roubadas ao esquecimento e trazidas mesmo que episodicamente à memória, a intervenção sonora parece dizer-nos que também essa evocação de momentos passados obedece sempre a uma necessária encenação mental, a uma reconstituição que corrige os pormenores mais desgastados ou sumidos e substitui-os, adulterando ou apenas modificando cada lembrança para que não seja beliscada na sua perfeição. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Marie, guia daquela exposição muito particular em que os quadros nem sempre se deixam olhar sem responder, às tantas informa um dos visitantes que “pode tirar os óculos, não têm qualquer utilidade neste museu”. As gargalhadas que a piada provoca na sala em Toulouse, pelo inesperado, rapidamente são trocadas por sorrisos cúmplices, como se fosse aquela simples frase a desvendar, por fim, que este é um museu interior, íntimo, feito para virarmos o olhar para dentro. “Começamos sempre por escolher o espaço cénico”, esclarece Gabriela. “Fazemos uma maqueta, falamos do local onde e em que tempo a peça se vai passar, precisamos de um espaço para nos inspirarmos. Decidirmos onde se vai passar é muito importante para a dramaturgia da peça, porque o espaço é sempre uma outra personagem – mesmo que possa ser ambivalente e mudar a toda a hora. ” Museu, estúdio de gravação e máquina de café são – nem vale a pena pensar em negá-lo – personagens por direito próprio nesta belíssima e desconcertante criação dos Peeping Tom. Trabalhando repetidamente sobre esta escala de relações – “o casal, os microcosmos, os huis clos”, define Gabriela Carrizo –, Vader e Moeder serão sucedidos, em 2019, por Kinderen. Na peça derradeira da trilogia, são os filhos que perdem a referência dos pais, resultado de uma pesquisa em curso sobre a orfandade ou a recusa de uma relação filial envolvendo crianças. A perda e o pensamento sobre quem se é como filho/a com a perda dos pais, no entanto, está já presente em Moeder, não convocando apenas a memória mas revelando-se também um chão fértil para perguntar como se continua a ser filho de pais ausentes – o que se guarda, o que se carrega, o que se deita fora, o que prende ou liberta. As dimensões são tantas, nesta intrincada e quase arbitrária sequência de cenas, que Gabriela Carrizo prefere não analisar demasiado e deixar que cada cena seja alimentada por decisões pouco conscientes. Mas que, tal como na súbita e possante interpretação de Cry baby (canção popularizada por Janis Joplin) por uma mãe acabada de dar à luz, abre repetidas comportas emocionais. Há quem ria sonoramente, há quem chore silenciosamente, há quem se assuste sem medo de se denunciar. Em Moeder, não há muito onde nos escondermos. O Ípsilon viajou a convite do Festival de Almada
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Ucrânia enfrenta multa pesada na Eurovisão
Organizadores do festival decidiram multar a estação pública ucraniana pelo facto de a concorrente russa ter sido impedida de participar devido à anexação da Crimeia. (...)

Ucrânia enfrenta multa pesada na Eurovisão
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.108
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Organizadores do festival decidiram multar a estação pública ucraniana pelo facto de a concorrente russa ter sido impedida de participar devido à anexação da Crimeia.
TEXTO: A Ucrânia vai ter de pagar uma pesada multa pelos atrasos na organização da edição deste ano do festival da Eurovisão e por ter impedido a concorrente russa de participar no certame, anunciou esta quinta-feira a União Europeia de Radiodifusão (UER). As autoridades ucranianas proibiram a representante russa no festival da Eurovisão de entrar no país com o argumento de que a cantora realizou um concerto na Crimeia, território que fazia parte da Ucrânia e que foi anexado pela Rússia em 2014. Os serviços secretos ucranianos confirmaram na altura que a cantora Iulia Samoilova “violou a lei ucraniana” por ter participado num concerto em 2015 na cidade de Kerch, na Crimeia, quando já era considerada ocupada. Como tal, Samoilova ficou proibida de entrar na Ucrânia “durante três anos”. “Como resultado disto, as atenções foram retiradas da competição e reputação da marca da Eurovisão foi colocada em perigo”, diz a UER em comunicado citado pela Reuters. “Por isso, o comité de direcção da competição recomendou que a UA:PBC (companhia nacional de radiodifusão pública da Ucrânia) deve receber uma multa substancial, em linha com as regras da competição”, acrescentou sem especificar os montantes envolvidos na sanção. Zurab Alasania, director da estação pública ucraniana, revelou que a multa é de 200 mil euros e que irá recorrer da decisão. O presidente da Eurovisão, Frank Dieter Freiling, afirmou também, citado pela BBC, que espera que a edição do próximo ano, a ser realizada em Portugal, como consequência da vitória de Salvador Sobral, volte a unir as audiências e que toda a gente participe.
REFERÊNCIAS:
Entidades UA
Carteiras inteligentes e com mecanismos anti-furto
Já há várias propostas de carteiras com alarme, baterias portáteis, sistemas de GPS e alarmes incluídos. Eis algumas sugestões. (...)

Carteiras inteligentes e com mecanismos anti-furto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.214
DATA: 2017-07-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Já há várias propostas de carteiras com alarme, baterias portáteis, sistemas de GPS e alarmes incluídos. Eis algumas sugestões.
TEXTO: Numa altura em que todos os aparelhos têm o prefixo smart e são descritos como inteligentes – do telemóvel e relógio ao frigorífico – equipas de engenheiros e estilistas estão a tentar desenvolver carteiras com o mesmo adjectivo. A outra ambição é ser à prova de furto. Vários modelos conseguiram angariar rapidamente fundos em sites de financiamento colectivo. Esta carteira de couro inlcui um ponto de acesso à Internet, alarme, GPS, e um carregador portátil. Foi concebida para o “homem de negócios em viagem”, que não pode perder a carteira e precisa de ter os dispositivos todos carregados e Internet acessível em qualquer lugar. Vem com sistema de alarme bluetooth que notifica o dono (via aplicação móvel) de cada vez que a carteira fica para traz. Se for o telemóvel o dispositivo esquecido, a própria carteira começa a apitar. Caso seja roubada, uma microcâmara envia fotografias de quem abre a carteira quando o modo "carteira roubada" está activado. A bateria portátil pode caque funciona com ou sem fios (através do Wifi). A proposta – que nasceu no site de financiamento colectivo Indiegogo e alcançou o objectivo (cerca de 39 mil euros) no primeiro dia – também é à prova de água. O preço deverá rondar os 238 dólares (cerca de 208 euros), com o lançamento previsto mundial para Dezembro. Tirando o facto de ser um modelo mais robusto que a Volterman – não vem revestida a couro e assemelha-se a um cofre magro que cabe no bolso das calças – , os criadores da Cashew distinguem o produto de outros no mercado por vir com sistemas de autenticação biométrica. Também começou como uma campanha num site de financiamento colectivo. A carteira apenas se pode abrir com uma impressão digital do dono, ou das pessoas em quem o dono confia (suporta até 20 impressões digitais diferentes). Quando está fechada, vem protegida com um sistema que a bloqueia a identificação por radiofrequência (RFID). O sistema desenvolvido há décadas tem sido inserido nos cartões de crédito nos últimos anos para permitir a utilização sem código, mas pode ser aproveitado para atacantes com leitores electrónicos roubarem informação através de sensores. A Cashew resolve o problema (porém, quem não quiser uma carteira – e estiver preocupado –consegue a mesma protecção ao enrolar o cartão de crédito com uma folha de alumínio). Custa 199 dólares (cerca de 175 euros), e é enviada para todo o mundo. A versão de carteira dos criadores da Wocket é um cartão: o objectivo é juntar a informação de vários cartões num só. O aparelho vem protegido com um sistema de segurança numérico e outro activado através da voz. A Wocket traz um leitor para programar os vários cartões com que funciona, e uma bolsa que tem um ecrã que permite escolher o cartão que se está a utilizar de cada vez. Além de cartões financeiros, o produto também guarda informação de palavras-passe, e cartões de fidelidade de lojas e serviços. Recomenda-se, porém, que o utilizador viaje sempre com o cartão de cidadão e a carta de condução. Custa 179 dólares (156 euros), com os portes estão incluídos. Quem quiser, pode pagar com bitcoins. Embora as carteiras acima possam ser utilizadas por homens e mulheres, a sua divulgação é direccionada para os homens. Ainda não há muitas carteiras desenhadas para mulheres a aproveitar estas tecnologias, mas já há uma proposta de mala no site de financiamento Kickstarter. O lançamento oficial é este mês. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A FYB London vem com bolsos para carregamento sem fios do telemóvel, um fecho que se abre com a impressão digital da dona, divisões protegidas de identificação por radiofrequência onde se podem colocar os cartões e o passaporte, e tecnologia de bluetooth para avisa quando a mala se afasta. Um sistema de GPS permite saber depois a localização. O projecto conseguiu mais do que 125% do financiamento inicialmente pedido no Kickstarter (precisava de 30 mil dólares, acaba com 131, 4 mil). Custa 399 dólares e há três modelos de cor há escolha: branca, preta (com detalhes a branco), e uma edição especial azul escura.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens homem mulheres
Áustria pode ficar sem Governo segunda-feira - chanceler enfrenta moção de censura
Se a oposição votar contra Sebastian Kurz, a Áustria ficará mais de três meses com um governo de gestão - algo sem precedentes. (...)

Áustria pode ficar sem Governo segunda-feira - chanceler enfrenta moção de censura
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2019-05-23 | Jornal Público
SUMÁRIO: Se a oposição votar contra Sebastian Kurz, a Áustria ficará mais de três meses com um governo de gestão - algo sem precedentes.
TEXTO: O chanceler austríaco, o conservador Sebastian Kurz, vai enfrentar na segunda-feira uma moção de censura no Parlamento na sequência do escândalo do vídeo que envolveu o seu antigo parceiro de coligação, o partido de extrema-direita FPÖ. Kurz arrisca ver-se afastado do Governo e o país ficar entregue a um governo de gestão até à tomada de posse do Executivo que sair das eleições antecipadas marcadas para Setembro. A moção foi apresentada pelo mais pequeno partido com assento parlamentar (o ecologista de esquerda Jetzt (Já), com sete lugares em 183), na sequência da saída dos ministros do partido de extrema-direita que governava há 17 meses com Kurz. O FPÖ caiu em desgraça após a divulgação, na sexta-feira passada, de um vídeo em que o seu líder e vice-chanceler, Heinz-Christian Strache, foi apanhado a discutir formas de contornar a lei de financiamento dos partidos em troca de potenciais contratos públicos inflacionados a uma suposta milionária russa, e ainda meios para controlar os media na Áustria, chamado aos jornalistas “prostitutas”. A divulgação das imagens de parte da conversa regada a álcool numa casa de férias em Ibiza provocou um enorme sentimento de vergonha e protestos espontâneos em Viena (no discurso de demissão, no sábado, Strache desvalorizou o seu comportamento: “Foram cenas de copos”, disse). O chanceler, Sebastian Kurz, quebrou a coligação e pediu eleições antecipadas. Mas está a ser muito criticado por ter formado governo com o FPÖ, por não ter desistido da coligação mais cedo depois de sinais de alarme, e muitos comentadores e políticos repetem: “tínhamos avisado” que não era boa ideia governar com a extrema-direita. O Presidente, que é quem demite membros do Governo, seguiu a recomendação de Kurz e afastou esta terça-feira o ministro do Interior, Herbert Kickl (cujo ministério tem a tutela da investigação que agora decorre às finanças do seu partido). Os restantes ministros do partido demitiram-se em protesto pelo afastamento de Kickl, como tinham prometido: o dos Transportes, Norbert Hofer (antigo candidato presidencial e novo líder do partido) e ainda os titulares da Defesa e Assuntos Sociais. A ministra dos Negócios Estrangeiros, Karin Kneissl, independente mas nomeada pelo FPÖ, mantém-se no cargo – a ministra casou no ano passado e teve um convidado destacado, o Presidente russo, Vladimir Putin, com quem dançou e a quem fez uma vénia. Kneissl é uma as protagonistas da proximidade do partido com a Rússia, que não é segredo: o FPÖ tem um acordo de cooperação formal com o partido Rússia Unida, no Governo russo. Antes de sair, o ministro do Interior ainda assinou um regulamento impondo um limite máximo de 1, 5 euro por hora para renumeração de trabalho voluntário feito por requerentes de asilo. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os ministros vão ser substituídos por técnicos, e falando aos jornalistas ao lado do chanceler, o Presidente, Alexander Van der Bellen, aconselhou serenidade no meio da tempestade política na Áustria: “Não há razões para preocupação”, disse. “É em alturas como estas que se pode ver a elegância e a beleza da Constituição. ”Quanto a Kurz, o seu destino na segunda-feira, o dia após as eleições europeias, poderá ser definido pelo Partido Social-Democrata (SPÖ). Tirando a extrema-direita, que já anunciou que votará a favor da moção, os social-democratas e os liberais ainda não disseram o que planeiam fazer. O SPÖ tem criticado Kurz e apoiado a ideia de um governo de transição novo até às eleições, e a moção de censura teria precisamente este efeito. Três meses com um governo deste género seria uma situação sem precedentes no país.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei social género vergonha
Hospitalizações por anorexia nervosa duplicaram em 15 anos
Distúrbios alimentares provocaram quase 4500 hospitalizações entre 2000 e 2014. Um em cada três doentes é hospitalizado mais do que uma vez. Há registo de 25 mortes com anorexia nervosa neste período. (...)

Hospitalizações por anorexia nervosa duplicaram em 15 anos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Distúrbios alimentares provocaram quase 4500 hospitalizações entre 2000 e 2014. Um em cada três doentes é hospitalizado mais do que uma vez. Há registo de 25 mortes com anorexia nervosa neste período.
TEXTO: Em 15 anos houve quase 4500 hospitalizações no Serviço Nacional de Saúde (SNS) por causa de doenças do comportamento alimentar, como a anorexia e a bulimia nervosas. Um grupo de investigadores do Cintesis (Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde), em colaboração com a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, monitorizou as admissões hospitalares por distúrbios alimentares entre 2000 a 2014, para concluir que são muito frequentes os internamentos e que há mesmo casos em que se revelaram fatais. “Os resultados revelaram que o número de hospitalizações por distúrbios alimentares se manteve estável ao longo dos anos em estudo, mas os casos de anorexia nervosa subiram de 12, 8 por 1 milhão de habitantes para 23, 7 em 2014”, revela a investigação publicada no International Journal of Eating Disorders. Uma quase duplicação de casos que Manuel Gonçalves-Pinho, médico de saúde pública e um dos investigadores principais a assinar o artigo, pede para ser interpretada com alguma cautela porque este "boom hospitalar" pode decorrer do aumento da incidência mas também pode ficar a dever-se a uma maior atenção a este fenómeno e ao maior número de diagnósticos. Neste período, registaram-se 25 mortes com anorexia nervosa. “Estas pessoas foram hospitalizadas com anorexia e acabaram por morrer, mas não podemos dizer que isto aconteceu apenas por causa" deste distúrbio, esclarece. Ao longo destes 15 anos, foram 3237 os doentes a necessitar de hospitalização e cerca de um terço necessitou de ser hospitalizado mais do que uma vez, revela o estudo. "Estas doenças são muito prevalentes e representam uma fatia elevada do orçamento", sublinha o médico. Com a coordenação de Alberto Freitas, do Cintesis, os investigadores analisaram os registos clínicos de todos os hospitais públicos de Portugal continental, cedidos pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e previamente anonimizados. É a primeira vez que é avaliado em Portugal o "panorama mais grave" dos distúrbios de comportamento alimentar. Há muitos outros casos de doentes que foram a consultas mas não necessitaram de internamento, explica Manuel Gonçalves-Pinho. Sendo a anorexia nervosa uma perturbação psiquiátrica complexa, em geral privilegia-se o tratamento em ambulatório e só em situações complicadas é que é preciso hospitalização. Este é também o primeiro estudo em que num país europeu se avaliam todas as patologias do comportamento alimentar. Além da anorexia nervosa e da bulimia nervosa, há distúrbios menos conhecidos, como a pica, que é a vontade anormal de ingerir produtos não-alimentares, como terra, moedas, carvão, etc, a doença da ruminação e o chamado vómito psicogénico, entre outros, que habitualmente não são objecto deste tipo de estudos. Ao longo deste período, três pessoas morreram, aliás, com o distúrbio de pica mas não há registo de óbitos de doentes com bulimia (comer compulsivamente e depois provocar o vómito). A anorexia nervosa é, de longe, a patologia mais frequente: mais de metade (54%) dos casos analisados são deste tipo e menos de um quarto (27%) foram classificados como distúrbios alimentares genéricos. A bulimia nervosa surge com muito menor frequência: 13% dos registos referiam-se a pacientes com esta perturbação. São sobretudo mulheres (87%) em idades jovens (média de 26 anos) mas já relativamente tardias, quando se sabe que muitos dos casos se iniciam na adolescência. Quanto à letalidade, a equipa de investigação observou uma mortalidade de 0, 9% no caso da anorexia nervosa - as tais 25 mortes em quinze anos. A anorexia nervosa é possivelmente uma das mais letais patologias psiquiátricas, devido à desnutrição associada ao risco de suicídio, enfatizam os investigadores. Foram registadas 229 tentativas de suicídio no total, 5% nos casos de anorexia. Ainda assim, os dados revelam que o número de tentativas de suicídio acaba por ser maior entre os pacientes com bulimia (10%). Mas estes dados não estão completos. “Os casos de suicídio não constam da base de dados analisada. Só se internados ainda com vida. O que nos leva a supor que o número de mortes decorrentes de distúrbios alimentares deverá ser ainda mais elevado”, frisa Alberto Freitas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Além da carga emocional e social que estes distúrbios representam para os pacientes, as hospitalizações representam um custo elevado que os investigadores estimam "em 21, 5 milhões de euros, numa média de 1, 43 milhões de euros por ano”. E este cálculo inclui apenas os custos directos do internamento. Os gastos com um doente deste tipo são mesmo mais elevados do que a despesa com o tratamento de doentes com esquizofrenia ou com pessoas com trissomia 21, nota Manuel Gonçalves-Pinho. As perturbações do comportamento alimentar são, pois, um conjunto de patologias com representatividade no panorama hospitalar. "A saúde mental e o estigma social que infelizmente lhes está associada podem contribuir para o atraso na procura de ajuda especializada junto do psiquiatra ou médico de família. Quanto mais tardia for a procura de ajuda mais difícil será o prognóstico e o tratamento”, avisa o médico, que insiste na "importância da educação para a saúde mental nas escolas”. Assinam ainda esta investigação Ana Margarida Cruz, João Vasco Santos, Francisco Coutinho e Isabel Brandão.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave suicídio educação ajuda social doença estudo mulheres
Fome no momento de ir para a cama ou para a escola afecta 11%
Falta comida, nuns casos, e sobram medicamentos noutros. Muito ligados à família e à boa-mesa, os jovens portugueses tendem a desorganizar-se na chegada à universidade por terem sido demasiado protegidos na infância. (...)

Fome no momento de ir para a cama ou para a escola afecta 11%
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Falta comida, nuns casos, e sobram medicamentos noutros. Muito ligados à família e à boa-mesa, os jovens portugueses tendem a desorganizar-se na chegada à universidade por terem sido demasiado protegidos na infância.
TEXTO: Os jovens que declararam sob anonimato ir para a escola ou para a cama com fome por não haver comida suficiente em casa perfazem 11%, na soma dos que declararam que isso acontece às vezes (7, 2%) ou frequentemente e sempre (3, 8%). Em 2014, as categorias “frequentemente” e “sempre” perfaziam 1, 5% e, em 2010, 1, 2%. Será um reflexo tardio da crise, este agravamento? “Não sabemos. É provável que seja uma continuidade do agravamento registado em 2014, em que estávamos todos com um pano negro sobre a cabeça por causa da crise. Agora, há uma retoma económica, mas as pessoas que não conseguiram resolver os seus problemas podem ter ficado naquilo a que chamamos ‘um nicho escondido com problemas agravados’”, admite Margarida Gaspar de Matos, coordenador do estudo A Saúde dos Adolescentes Portugueses, que é divulgado nesta quarta-feira. A investigadora lembra que “as pessoas deixaram entretanto de beneficiar dos incentivos alimentares que as escolas davam [nos piores anos da crise] a todos os miúdos, para integrar discretamente os que tinham fome e que o escondiam, até que desmaiavam nas aulas de educação física, por exemplo”. A coordenadora do estudo ressalva, porém, que os dados obtidos não permitem certezas: “É verdade que há mais rapazes do que raparigas a dizerem-se com fome e pode ser a ‘fome de crescimento’ que os levou a responder sim à pergunta”. Quando lhes perguntam se tomaram medicamentos no mês anterior ao inquérito, a percentagem de respostas positivas entre os alunos do 8º e do 10º ano de escolaridade deixou perplexa Margarida Gaspar de Matos. “Mais de metade [52, 6%] tomou remédios para a dor de cabeça, um quarto [25, 2%] para as dores de estômago, 16, 5% para as dores de costas, 11, 2% para o nervosismo, 9% para as dificuldades em adormecer!", espanta-se a psicóloga clínica. Acrescem os 7, 6% que tomaram medicamentos para aumentar a memória e a concentração e os 6, 5% que tomaram remédios para a tristeza. E o pior é que “mais de um quarto destes miúdos tomaram estes medicamentos sem prescrição médica”, acrescenta, para lembrar que “não é possível saber qual vai ser o efeito destes remédios a longo prazo em crianças que ainda estão a desenvolver-se”. Logo, importaria que houvesse mais psicólogos no Serviço Nacional de Saúde, também porque “não há grande treino dos pediatras e dos médicos de família nas questões de saúde mental infantil, o que faz com que a resposta tenda a ser medicamentosa”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nem tudo é mau no estilo de vida dos adolescentes portugueses. Na comparação com os restantes países, são dos que se alimentam melhor, nomeadamente no tocante ao hábito de tomar o pequeno-almoço e à ingestão de fruta. E, neste último inquérito, mostram-se “muito integradores da diferença, quer em relação às pessoas que vêm de outros países quer a pessoas com menos poder económico”. Porém, apenas 9, 2% admitem ler um jornal diariamente ou quase todos os dias para ficar informado. E sentem-se pouco ou nada motivados para o activismo social. "Há um afastamento que resulta da percepção de que não vale a pena”, interpreta a investigadora, para apontar outra idiossincrasia aos adolescentes portugueses: “A ligação com a família é muito forte, mas têm dificuldades em tornar-se autónomos e responsáveis”. Porque “há menos miúdos e a tendência é para serem tratados como artigos de luxo”, muitos crescem à força quando chegam à universidade. “Não estão habituados a gerir dinheiro, a comprar comida, a lavar a roupa: desorganizam-se completamente”, acrescenta, para apontar duas prioridades: criar “estruturas de autonomização e de responsabilização" dos jovens e dar-lhes "oportunidades de participação social desde pequenos”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola concentração educação fome negro social estudo infantil
Há 54 presidentes de associações juvenis que têm mais de 60 anos
Governo quer que estas organizações sejam presididas por jovens até aos 30 anos, mas perto de metade não cumpre este requisito. Financiamento público é feito com base no histórico e maiores fatias vão sempre para as mesmas organizações. (...)

Há 54 presidentes de associações juvenis que têm mais de 60 anos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-07-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Governo quer que estas organizações sejam presididas por jovens até aos 30 anos, mas perto de metade não cumpre este requisito. Financiamento público é feito com base no histórico e maiores fatias vão sempre para as mesmas organizações.
TEXTO: Chamam-se associações juvenis e, por lei, têm que ter 75% de sócios com menos de 30 anos. Mas quando se olha para as lideranças, o cenário é bastante mais envelhecido. Há 54 presidentes destas organizações que têm mais de 60 anos. O Governo quer mudar o panorama com uma nova lei, o que terá implicações na forma como se dividem os mais de 3 milhões de euros anuais de apoios do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) a estas entidades. De acordo com os dados do Registo Nacional do Associativismo Jovem (RNAJ), onde estão incluídas as associações com estas características, há 54 presidentes que têm mais de 60 anos. O mais velho tem 86, de acordo com o RNAJ. É o líder do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré. O PÚBLICO contactou por várias vezes o número de telefone disponível no site da associação, que nunca foi atendido. Além disso, quase um terço dos líderes das associações (28, 4%) tem mais de 41 anos. Se contabilizarmos ainda os líderes entre 31 e 40 anos chegamos à conclusão que quase metade (49, 3%) dos presidentes das associações juvenis está acima da idade em que a lei considera que um cidadão é jovem. Outra conclusão que se retira do RNAJ: a escassa renovação das direcções das associações juvenis. Mais de metade destes organismos teve apenas um presidente desde que o seu registo passou a ser obrigatório, em 2007. Em média, cada uma das associações teve menos de dois presidentes (1, 9) nos últimos 12 anos. As lideranças são também claramente masculinas: só 31% dos presidentes são mulheres. O Governo tem uma proposta de lei para obrigar as associações juvenis a terem um presidente com 30 anos ou menos (ver texto ao lado). O presidente da Federação Nacional de Associações Juvenis (FNAJ), Tiago Rego, 29 anos, “concorda que as associações devem ser preferencialmente dirigidas por jovens”. Mas isso só é possível “nas condições ideais”, diz. Há zonas do país que têm “especificidades” que fazem com que isto não seja possível, defende: “As condições do litoral e do interior são diferentes, por exemplo. ” Todavia, o que realmente afasta a FNAJ da proposta do Governo é o que consideram ser uma “ingerência” do poder político na democracia interna das associações. As associações juvenis têm que ter 75% de associados jovens e são estes que têm votado em pessoas mais velhas para presidir aos destinos das suas instituições, considera Tiago Rego. Em sentido contrário, a proposta de lei é classificada como “um grande passo em frente” pelo presidente do Conselho Nacional de Juventude (CNJ), Hugo Carvalho, 27 anos. Entusiasta da solução apresentada pelo do Governo, o dirigente entende que é preciso “renovar o associativismo jovem”. “Não tenho nada contra quem é mais velho, mas não podemos ter os mais velhos a receber milhares de euros e os mais novos a receber algumas centenas”, diz Hugo Carvalho. “A nova lei vai trazer mais jovens para as associações”, concorda Raquel Neto, vogal da associação Juvemedia, de Lisboa. “Para chegarmos aos jovens temos que ter pessoas mais jovens, com novas ideias e mais próximas das suas preocupações”, acrescenta. O presidente da Juvemedia tem 51 anos, mas a situação é “transitória”, garante Raquel Neto. A associação, que desenvolve programas de formação em gestão de projectos e promoção da ética no desporto junto de alunos do secundário, por exemplo, foi sempre liderada por jovens. No anterior mandato, passou por um período de crise, com um conjunto de dívidas que obrigaram a vender o edifício sede que tinha no centro de Lisboa. David Lopes, um dos fundadores, voltou à associação para a “tirar do buraco”, ilustra a vogal da direcção. Este ano há novas eleições às quais só devem concorrer associados com menos de 30 anos. Se a lei for aprovada nos termos em que o Governo a propôs, Nuno Chaves, 42 anos, é um dos presidentes com o lugar em risco. O líder da ProAtlântico, sediada em Lisboa, olha para a questão com pragmatismo: “As regras existem e as organizações têm que se adaptar. ” Com a nova lei, é isso que fará. A única coisa que pede ao Governo é que crie um período transitório para que as associações que recebem estes apoios do Estado não fiquem sem essas verbas de um momento para o outro. A ProAtlântico recebe este ano quase 48 mil euros do IPDJ ao abrigo do Programa de Apoio Juvenil. “Não é a nossa maior fonte de financiamento, mas é uma grande ajuda”, expõe Chaves. A associação é a instituição nacional que mais jovens integra no programa de voluntariado europeu e tem conseguido a aprovação de várias candidaturas ao programa Erasmus +. Tem quatro funcionários permanentes para gerir os vários projectos em que está envolvida. O estatuto de associação juvenil é atribuído a instituições com carácter muito diverso, desde coros, como o Choral Phydelis, ligado ao Conservatório de Música de Torres Novas — cujo presidente tem 69 anos — ou a Associação Desportiva, Cultural e Social da Aldeia de S. Sebastião, em Castelo Bom, distrito da Guarda, que tem Centro de Dia e Residência para Idosos. O seu presidente tem 66 anos, segundo o RNAJ. Nenhum destes responsáveis se mostrou disponível para falar com o PÚBLICO ao longo do dia de sexta-feira, apesar dos vários contactos. Os dados em que se baseia este trabalho foram disponibilizados pelo presidente do CNJ que é, por inerência, presidente da Comissão de Acompanhamento do RNAJ. Os números mostram ainda que, se o total de dirigentes acima dos 30 é elevado, o mesmo não acontece com o de associados. Os 75% obrigatórios por lei são cumpridos: em média, 14% dos associados têm mais de 30 anos. No final do ano passado, havia 1385 associações no RNAJ. Destas, cerca de 1000 têm recebido apoios regulares do Estado nos últimos anos, ao abrigo do estatuto de associação jovem. Os apoios financeiros do IPDJ dividem-se em três programas. Existe o Programa de Apoio Juvenil, destinado às associações juvenis, para o qual, este ano, foram destinados 3, 1 milhões de euros, e o Programa de Apoio Estudantil, vocacionado para as associações académicas e de estudantes, que recebeu um pouco menos de 2, 5 milhões. Ambas as linhas de financiamento dividem-se em duas. Por um lado, os apoios anuais, destinados a apoiar os planos de actividades das associações e que consomem a maioria dos recursos. Por outro, os apoios pontuais, para actividades específicas e cujas candidaturas podem ser apresentadas durante todo o ano. O IPDJ prevê ainda um programa de apoio infraestrutural, que se divide em duas medidas: uma destinada a infra-estruturas e outra para apoio à aquisição de equipamentos. Os critérios de atribuição têm em consideração a dimensão das associações e também o seu histórico, uma medida introduzida na lei em 2006 e que faz com que a lista das associações que mais dinheiro tem recebido do IPDJ ao longo da última década não tenha sofrido praticamente nenhuma alteração. Entre 2007 e 2018, são sempre as mesmas quatro associações que mais apoios recebem do Programa de Apoio Juvenil. Entre elas está a Associação para a Promoção Cultural da Criança (APCC), uma IPSS sediada em Lisboa, que gere campos de férias e até uma unidade hoteleira, no Mosteiro de Vairão, em Vila do Conde (recebe 56 mil euros neste ano) e as duas associações nacionais de escuteiros, o Corpo Nacional de Escutas (CNE) e a Associação de Escoteiros de Portugal (AEP), que recebem 276 mil euros e 100 mil euros, respectivamente. No topo da lista está também a FNAJ, que para 2018 tem inscritos mais de 128 mil euros. Além do apoio directo à FNAJ, o IPDJ financia ainda todas as 12 federações regionais de associações juvenis. Os apoios às federações totalizam 166 mil euros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. CNE, FNAJ, AEP e APCC arrecadam 18% de todos os apoios atribuídos a associações juvenis em 2018. A sua fatia dos apoios já foi mais elevada: em 2012, recebiam 27%. Além das quatro associações, há nomes que são uma constante nas listas das instituições mais apoiadas, como a Associação de Jovens Agricultores de Portugal, a Associação de Guias de Portugal (também ligada ao movimento escutista), bem como a Juvemedia e a ProAtlântico. No Programa de Apoio Estudantil, a situação é semelhante. As associações académicas de Coimbra, Aveiro e Minho recebem 15% dos 2, 5 milhões de euros do programa. Ao longo da última década têm sido sempre as mais financiadas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei ajuda social criança mulheres corpo
Nunca Portugal levou a uma feira do livro tantas traduções apoiadas
São 47 as obras de autores de língua portuguesa preparadas expressamente para a Feira de Guadalajara por editoras latino-americanas, com o apoio da Dglab e do Instituto Camões. Em 2013, quando Portugal foi o país convidado na Feira de Bogotá, tinham sido 35. (...)

Nunca Portugal levou a uma feira do livro tantas traduções apoiadas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.6
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: São 47 as obras de autores de língua portuguesa preparadas expressamente para a Feira de Guadalajara por editoras latino-americanas, com o apoio da Dglab e do Instituto Camões. Em 2013, quando Portugal foi o país convidado na Feira de Bogotá, tinham sido 35.
TEXTO: Em 2013, quando foi o país convidado da Feira Internacional do Livro de Bogotá (FILBo), Portugal dispôs de um pavilhão com três mil metros quadrados que incluía uma livraria com 20 mil exemplares à venda, em português e em castelhano, num total de 3200 títulos (2400 em língua portuguesa). Desta vez, o pavilhão de Portugal na Feira Internacional do Livro (FIL) de Guadalajara, onde é país-tema, tem 1200 metros quadrados e uma livraria igualmente mais acanhada, onde estão à venda menos livros, 13 mil, também nas duas línguas (dez mil deles em espanhol, num total de 600 títulos diferentes). É gerida pelo Fondo de Cultura Económica e tem como parceiro para toda a logística de envio a Livraria Ferin, que já o havia assumido em Bogotá também. Quando a livraria está cheia de gente, gera-se confusão na fila para o pagamento, dada a falta de espaço para se circular. O pavilhão português tem outras zonas que parecem subaproveitadas, embora sirvam de local de passagem. De resto, e segundo a Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas? (DGLAB), foi por questões de segurança que a livraria teve de ser mais pequena. “Como o espaço cedido a Portugal é um espaço que é preciso atravessar para ir para os outros pavilhões, fomos obrigados a deixar uma margem grande para as pessoas poderem estar a conversar e apertou-se um pouco a livraria”, explica José Manuel Cortês, subdirector da DGLAB. “Em dias de ponta aqui, podem chegar a passar, em média, por hora, cerca de 20 mil pessoas. Se se condiciona a passagem pode haver problemas de segurança”, continua Cortês, sublinhando que a livraria do pavilhão português é “aquilo que foi possível dentro da conjuntura e das regras que a FIL estabelece". "E sem querer criar polémicas", acrescenta, "é muito melhor, por exemplo, do que o espaço de livraria que Madrid teve no ano passado”, quando foi a cidade convidada da feira. O responsável da DGLAB prefere apontar para as vendas: “No sábado e no domingo, o pavilhão esteve permanentemente cheio e fizeram-se muitas vendas. Segunda, terça e quarta-feira, como a feira só abre às 16h para o público, há uma quebra. "Todas as manhãs, o Fondo de Cultura Económica, que também tem um stand próprio na feira, reforça com alguns exemplares títulos que se foram esgotando. Dos autores consagrados que estão presentes na feira existem mais exemplares, como seria de esperar. O esforço da DGLAB foi conseguir que o Fondo apostasse na diversidade e tivesse expostos livros de poesia, de literatura infantil, e de culinária, guias de viagem e de vinhos, ensaios históricos, e não só os best-sellers. “Há aqui todas as áreas em português e em espanhol. É evidente, que em espanhol, sobretudo em certas áreas, há menos exemplares porque também há menos títulos. Um dos nossos problemas é que os títulos que são traduzidos são fundamentalmente os literários: poesia, literatura para a infância e a juventude de autores ou de ilustradores portugueses. . . É um jogo que tem de se fazer, mas é natural e inevitável que as montanhas de livros que aqui estejam sejam de Pessoa, Saramago, Eça, Lobo Antunes. "Mas se diminuiu o número de livros à venda na livraria em relação a Bogotá, aumentou o número de edições latino-americanas de autores de língua portuguesa que beneficiaram de apoios à tradução e estão agora a ser lançadas na FIL. São 47, a que se juntam outras como as publicadas pelas editoras Vaso Roto ou Puro Pássaro, que não se candidataram a nenhum apoio e ainda assim estão a lançar novos livros em Guadalajara, de Valter Hugo Mãe, João Luís Barreto Guimarães e Maria do Rosário Pedreira, por exemplo. Além do seu programa habitual de Apoio à Tradução, a DGLAB lançou um apoio extra para a feira, o programa especial de apoio à Tradução e Edição “Portugal-Guadalajara 2018”. Por sugestão da própria FIL, o programa abriu-se a editoras de todo o espaço latino-americano, e não apenas às mexicanas. Em Bogotá, o apoio só estava disponível para a Colômbia e permitiu a tradução de 35 obras, um volume sem precedentes. Desde então as editoras colombianas têm vindo a publicar livros portugueses. Muitas candidataram-se também agora. O programa especial para esta feira apoiou 47 obras, publicadas por 26 editoras repartidas por Argentina, Chile, Colômbia, México, Uruguai e Venezuela. O montante total do apoio ascendeu a 113. 869 euros (52. 019 mil euros da DGLAB para tradução e ilustração, mais 61. 850 euros do Instituto Camões para apoio à edição). Ambas as entidades estavam preparadas para dar mais apoio, pois o contingente inicial de candidaturas validadas chegava às 61. Entretanto houve desistências de editoras que, por variadas razões, não conseguiram reunir as condições para concretizar a edição. São obras diversas, de José Eduardo Agualusa, João Tordo, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Sophia, Eugénio de Andrade, Ricardo Araújo Pereira, Afonso Cruz, Lídia Jorge, Eduardo Lourenço, Adília Lopes, Pepetela, Gonçalo M. Tavares, Tiago Rebelo, Paulina Chiziane, José Luís Peixoto, Ruy Belo, Ana Teresa Pereira, Nuno Júdice, Gastão Cruz. António Jorge Gonçalves, Manuel Alegre, entre outrosSubscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Também o programa habitual de Apoio à Tradução da DGLAB para editoras estrangeiras contemplou este ano editoras latino-americanas e espanholas, cujas traduções estão na FIL. São oito obras, de autores como Francisco de Holanda, Susana Moreira Marques, Mia Couto, Fernando Pessoa, Rui Cóias, e ainda duas antologias publicadas pela editora mexicana Eternos Malabares: Poetas Mulheres – Vozes de Portugal e do México e Poesia de agora – Poetas de Portugal e do México. E ainda recebeu apoio a revista literária Luvina, da Universidade de Guadalajara. O habitual apoio à ilustração e à BD portuguesas contemplou quatro livros para editoras da Argentina, do México e de Espanha. Muitos destes livros foram impressos pelas editoras à última hora, especialmente para esta que é a maior feira do livro do espaço hispânico, onde estão à venda. Só mais tarde serão distribuídos pelas livrarias mexicanas. O PÚBLICO viajou a convite do comissariado para a participação portuguesa na FIL Guadalajara 2018
REFERÊNCIAS:
Gabriella Cristiani, que tratava Bertolucci por Bernardo: "Era genial como pessoa e como artista”
Montadora dos principais filmes do cineasta e vencedora de um Óscar por O Último Imperador, a italiana Gabriella Cristiani diz que Bertolucci era "um espírito grande". (...)

Gabriella Cristiani, que tratava Bertolucci por Bernardo: "Era genial como pessoa e como artista”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.325
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Montadora dos principais filmes do cineasta e vencedora de um Óscar por O Último Imperador, a italiana Gabriella Cristiani diz que Bertolucci era "um espírito grande".
TEXTO: “Era uma satisfação enorme trabalhar com ele, um desafiante prazer, claro, mas é isso que se espera de um espírito grande, e ele era-o”, diz a italiana Gabriella Cristiani, 69 anos, que montou vários filmes de Bernardo Bertolucci (1941-2018), entre eles O Último Imperador (1987), com o qual viria a ganhar, em 1988, o Óscar de Melhor Montagem. Foi em Lisboa, onde actualmente passa longas temporadas, que soube esta segunda-feira da morte do realizador e "grande amigo”, como frisa ao PÚBLICO com emoção, lembrando que falaram pela última vez há duas semanas. Da primeira vez que se cruzaram é que não se recorda, apesar de até terem vivido na mesma rua, em Roma, nos anos 1960. “Toda a gente se conhecia naquele tempo na indústria do cinema”, explica, aludindo ao período em que Fellini, Rossellini, Antonioni ou o montador Franco Arcalli, que viria a transformar-se no seu mentor, eram as figuras tutelares do meio. “Foram todas essas pessoas que me levaram para o cinema, foi por elas que fui infectada por esse vírus”, afirma, descrevendo que a morte de Bertolucci é “também o fim de uma era”. “Mas os seus filmes haverão de perdurar porque tudo o que ele fez é brilhante e de uma grande generosidade. ”Com mais de 30 anos de carreira no cinema, ao longo dos quais montou mais de 30 filmes, realizou dois documentários e uma longa-metragem de ficção (Mulheres entre o Céu e o Inferno, de 1999, com John Malkovich e Molly Parker), e ainda cantou ou participou como actriz noutros títulos, é essencialmente pela colaboração com Bertolucci que Gabriella Cristiani é reconhecida. “Ele era muito aberto à inovação e eu muito inclinada para ela, por isso dávamo-nos muito bem, acho que ele sempre gostou do meu lado mais intuitivo. O processo de fazer filmes pode ser muito repetitivo, por isso o desafio é sempre como fazer diferente”, diz aquela que é ainda hoje considerada uma das pioneiras na utilização de técnicas digitais na montagem. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Durante sete anos foi assistente de Franco Arcalli, tendo trabalhado com ele em O Útimo Tango em Paris (1972) ou 1900 (1976). Arcalli morreu quando estava a preparar com Bertolucci La Luna (1979), e a partir daí o cineasta achou que Gabriella "estava mais do que pronta para montar sozinha”. Entre os filmes que fizeram juntos conta-se A Tragédia de um Homem Ridículo (1981), antecipando a aclamação internacional e transversal do realizador. Em 1998 veio o Óscar, com "aquele que foi provavelmente o filme mais fácil de montar, porque estava tudo lá”. “Tudo o que os meus olhos viam era excelente, foi fácil ir seleccionando no meio de tanta beleza. ” O Último Imperador arrecadou nove Óscares; nas fotos de grupo, Gabriella Cristiani é a única mulher . “Nessa noite senti-me a rainha da montagem. Quando se é a única, é assim que nos sentimos. Mas era muito fácil trabalhar nas equipas de Bernardo, fossemos mulheres ou homens, porque havia a mesma procura da arte e da excelência, e quem é que não quer participar disso? O processo era sempre um desafio, mas não era doloroso, era até bastante prazenteiro. Claro que por vezes podíamos discordar, e ele podia ser difícil, mas era também muito inteligente e bondoso, e no fim de contas as coisas eram quase sempre muito simples porque toda a gente caminhava na mesma direcção. ”Em 1990 surgiu Um Chá no Deserto, cujo trabalho de montagem foi muito destacado, pelas novidades digitais introduzidas. Gabriella Cristiani haveria de realizar um documentário à volta desse filme. “Já nessa altura era nítido que só havia uma palavra para descrever Bernardo como pessoa e artista: génio. E hoje, olhando para trás, ainda menos dúvidas tenho. Tudo o que fez é excepcional e de grande exigência para consigo e para os que o rodearam. Só lhe podemos agradecer. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens mulher rainha homem mulheres