Nesta dança entre Portugal e Brasil cabem todas as violências
Um Encontro Provocado é a nova criação da Companhia Paulo Ribeiro e tem coreografia de Henrique Rodovalho. As violências social, de género e colonial são exploradas na derradeira estreia do festival NANT, esta quinta-feira no Teatro Viriato, em Viseu. (...)

Nesta dança entre Portugal e Brasil cabem todas as violências
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um Encontro Provocado é a nova criação da Companhia Paulo Ribeiro e tem coreografia de Henrique Rodovalho. As violências social, de género e colonial são exploradas na derradeira estreia do festival NANT, esta quinta-feira no Teatro Viriato, em Viseu.
TEXTO: Tudo começa com o ritmo suave e doce da canção Nada será mais como era antes, do brasileiro Silva, acompanhada de movimentos soltos e sorrisos no rosto dos bailarinos. Assim que a faixa dá lugar a uma batida carregada e pungente, a leveza é substituída pela tensão e os corpos prontamente se colocam em posição de confronto, quase como se esse fosse o seu estado natural. E o ciclo há-de repetir-se – ainda que volte a tocar uma música alegre que alivia pontualmente a desordem, esta volta sempre. “O país pode estar o caos, mas se é Carnaval, é Carnaval”, afirma Henrique Rodovalho sobre a realidade entranhada de violência no Brasil que é retratada na sua nova criação. O coreógrafo brasileiro desenhou a coreografia de Um Encontro Provocado, espectáculo que sobe a palco esta quinta e sexta para encerrar a mostra de dança New Age, New Time (NANT), no Teatro Viriato, em Viseu. A partir de um convite da Companhia Paulo Ribeiro e do trabalho com quatro intérpretes portugueses, procurou construir uma reflexão sobre a violência em contextos tão diferentes como são Portugal e Brasil. “Somos países-irmãos, mas a violência é uma questão preocupante no Brasil hoje em dia, enquanto Portugal é um dos países mais seguros do mundo”, reflecte, acrescentando que “se procurou perceber por que é que esta diferença existe”. A “relação emocional” dos brasileiros com a vida é um factor estruturante na propagação da violência, segundo o coreógrafo. “Acho que a violência social e de roubo, por exemplo, é uma consequência de algo que vem mais do íntimo”, opina. A predominância da emoção sobre a razão ajuda a perceber a ligeireza com que a violência é tratada. “O Nordeste é uma das regiões mais violentas, mas é o povo mais alegre e que mais se diverte, porque tudo vem e vai”, esclarece Henrique Rodovalho. A educação é uma questão problemática que contribui para a preponderância da dura realidade brasileira, já que “não há espaço para pensar o que é ou não certo”, afirma. Em palco, sucedem-se várias cenas de luta em que todos sofrem e desferem golpes, criando-se uma agonizante batalha de corpos a embater no chão e uns nos outros com grande rigor atlético e “uma técnica que cruza a fisicalidade e a dança contemporânea”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. São várias as leituras que podem ser feitas da peça que aborda a “violência no ser e do ser” e as diversas ramificações de violência que cabem dentro destas, “do mais óbvio e carnal ao mais metafísico”, segundo António Cabrita, que partilha a direcção artística da Companhia Paulo Ribeiro com São Castro. O espectáculo é uma provocação ao pensamento que, durante uma hora, aborda a violência social, a violência de género e, até, a violência colonial – há uma cena em que a forma dos corpos parece fazer lembrar uma caravela, aludindo aos seculares laços de descoberta e dominação, não necessariamente mútuas, que unem os dois lados do Atlântico. Pontualmente, o ambiente de caos e hostilidade é interrompido por ritmos energéticos e movimentos delicados, dinâmica que equilibra a narrativa coreográfica e incorpora, novamente, o contexto social do Brasil. “O momento de pausa e leveza é a arte como momento de respiração e alívio da realidade”, explica Henrique Rodovalho, sublinhando que “cada vez se nota mais a necessidade desse escape na sociedade brasileira”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência educação ajuda social género
Gulbenkian vai ser Itinerante e espalhar colecções, orquestra e coro pelo país
Fundação lança no sábado um programa que até 2020 levará obras de arte do seu acervo e concertos dos seus agrupamentos residentes a várias cidades portuguesas. (...)

Gulbenkian vai ser Itinerante e espalhar colecções, orquestra e coro pelo país
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fundação lança no sábado um programa que até 2020 levará obras de arte do seu acervo e concertos dos seus agrupamentos residentes a várias cidades portuguesas.
TEXTO: É um programa com a marca de um projecto histórico da fundação, o Serviço de Bibliotecas Itinerantes, criado em 1958 e feito nos primeiros anos por carrinhas Citroën que levavam livros a todo o país. Agora, em vez de livros, serão a escultura, a pintura ou a música a viajar pelo território nacional, através de uma nova marca, a Gulbenkian Itinerante, que entra em cena já no sábado e é para manter até 2020. A Gulbenkian Itinerante arranca oficialmente no sábado, dia em que será conhecida a sua identidade gráfica, com a inauguração da exposição Corpo e Paisagem, repartida entre o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (CACGM), em Bragança, e o Espaço Miguel Torga, em Sabrosa, e com comissariado de Jorge da Costa, director do CACGM. O programa que leva obras das colecções do Museu Calouste Gulbenkian e actuações do Coro e Orquestra Gulbenkian a várias cidades portuguesas trabalhará sempre assim, como explica ao PÚBLICO, por email, a presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Isabel Mota: “A responsabilidade da curadoria foi deixada aos programadores de cada equipamento. Não é uma itinerância tradicional. ”Não existe um programa autónomo ou uma estrutura específica a trabalhar a marca Gulbenkian Itinerante, mas as equipas da fundação estarão disponíveis para colaborar, explica Isabel Mota. A ideia não é pôr a circular “exposições pré-concebidas”: partiu-se de uma pré-selecção, orientada pelo tema Atravessar culturas através dos tempos, e assim um diálogo de mais de um ano começou a dar frutos. “Ficou sempre claro que se privilegiariam obras em reserva e que se procuraria, sempre que possível, recuperar autores hoje menos recorrentes ou presentes”, ressalva a presidente da fundação. Corpo e Paisagem vai mostrar em Trás-os-Montes obras de Almada Negreiros, Paula Rego, Ana Vidigal, Helena Almeida, Rui Chafes ou Thomas Wienberger, excertos da Colecção Moderna e aquisições de diferentes proveniências do fundador, Calouste Gulbenkian. Depois, Lugares, Paisagens, Viagens chegará ao Museu de Portimão a 8 de Dezembro, num projecto de “co-curadoria”, como descreve em nota o director do museu, José Gameiro, e que inclui obras de Teresa Dias Coelho e esculturas ou tapeçarias da colecção do fundador. Estão para já também previstas outras mostras no Centro de Artes de Sines (16 de Março), Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco (6 de Abril) ou Palácio da Galeria de Tavira (23 de Novembro). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Este programa nasce num território onde existe já o programa de exposições itinerantes da Fundação de Serralves, com um catálogo de mostras especialmente concebidas para apresentação em espaços das autarquias fundadoras. Questionada sobre se a Fundação Gulbenkian quer voltar a estar mais presente no país, Isabel Mota frisa que “esteve sempre presente”, recordando as suas várias actividades nacionais. A marca Gulbenkian Itinerante, que está a ser trabalhada desde “o sucesso” da exposição dedicada a Almada Negreiros em Lisboa, em 2017, envolve também a Orquestra Gulbenkian, que em 2019 actuará nas Caldas da Rainha, em Águeda, no Porto ou em Coimbra. Quanto ao Coro Gulbenkian, só tem previstas saídas internacionais: nos próximos tempos, irá a Espanha (Fundación Juan March, em Madrid; Sacra Capilla del Salvador, em Úbeda; e Auditório Adán Martin, em Tenerife) e a França (Palais de la Musique et des Congrès, em Bordéus). “Desde o início do meu mandato que assumi como prioridade uma maior aproximação das actividades culturais às populações mais isoladas e distantes”, diz a presidente da Fundação Gulbenkian, referindo que “estão previstas novas actuações nacionais” do coro. Mas a instituição, lembra, é “internacional” e internacional deverá ser também a sua itinerância.
REFERÊNCIAS:
O Último Tango em Paris: inquietante em 1972, inquietante em 2016
A estreia em Portugal só aconteceu no Verão de 1974 e durante dois meses houve filas à porta do Cinema São Jorge. Agora que Bertolucci morreu, desfaz-se por completo o triângulo de um filme-ícone que foi sinónimo de controvérsia, mas também de libertação. (...)

O Último Tango em Paris: inquietante em 1972, inquietante em 2016
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.33
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A estreia em Portugal só aconteceu no Verão de 1974 e durante dois meses houve filas à porta do Cinema São Jorge. Agora que Bertolucci morreu, desfaz-se por completo o triângulo de um filme-ícone que foi sinónimo de controvérsia, mas também de libertação.
TEXTO: 8 de Agosto de 1974. O passeio da Avenida da Liberdade junto ao Cinema São Jorge está cheio. Largas dezenas de pessoas esperam que chegue a sua vez de comprar bilhete para uma das estreias mais aguardadas desse primeiro Verão da Lisboa pós-revolução. Será assim durante dois meses. O Último Tango em Paris, filme de Bernardo Bertolucci (1941-2008) que a palavra “escândalo” precede e persegue, chega pela primeira vez a um cinema português, quase dois anos depois da sua estreia mundial, em Nova Iorque. Em Portugal a censura do Estado Novo tinha colado o rótulo de “proibida” a esta obra controversa que viria a ocupar um lugar de destaque na história do cinema. Pelo que é, como objecto, mas também pela circunstância de se ter transformado num símbolo de libertação que está longe de se circunscrever às questões da moral e do sexo. Mesmo que tenham sido sobretudo as cenas de sexo — entre Paul (Marlon Brando), um americano de meia-idade que tenta recuperar do suicídio da mulher, e Jeanne (Maria Schneider), uma francesa muito jovem que vê numa relação exclusivamente física com um desconhecido a fuga possível a um quotidiano rotineiro — a alimentar polémicas. Em Itália, onde o filme foi censurado à estreia, em 1972, e só teve distribuição na íntegra em 1987, Bertolucci chegou mesmo a responder em tribunal por obscenidade, e acabou sentenciado a uma pena de prisão suspensa e impedido de votar durante cinco anos. Em Inglaterra, a célebre cena de sexo anal entre Paul e Jeanne que haveria de reacender a polémica passados mais de 40 anos (já lá iremos) foi encurtada. Em Portugal, e já no pós-25 de Abril, foram muitos os protestos que se ouviram dentro e fora das salas, com os jornais a referirem-se-lhe como “filme voyeur” ou “escândalo de celulóide”, lembra Joana Stichini Vilela no seu LX70 (D. Quixote, 2014). “Sabíamos de antemão que a cena da sodomia, ‘a da manteiga’, era, de todas, a esperada com maior ansiedade, mesmo com um nervosismo quase histérico. (…) Aconteceu o que esperávamos: um chorrilho de gritos, apupos, incitamentos e alarvidades. Pena. Como se o filme fosse só isso”, lamentava Carlos Plantier nas páginas do diário O Século Ilustrado. “Desassombrada bofetada no convencional modo de nascer, crescer e morrer, este filme constitui um documento urgente e bem-vindo por tudo isso. E pelo resto”, escreveu João Alves da Costa no Diário Popular, que pôs nada mais, nada menos que oito jornalistas a escrever sobre O Último Tango em Paris. Dividindo claramente as águas entre os que o aplaudiam como gesto corajoso e inovador, ajudando a transformá-lo num ícone, e os que o viam como um atentado aos valores da família e um apelo à “depravação”, palavra muitas vezes usada nos protestos de rua e nos púlpitos dos políticos mais conservadores nos países em que se estreou ainda na década de 1970, o filme de Bertolucci manteve, a avaliar pelo debate mediático que desencadeou já em 2016, a sua natureza inquietante. Evocando declarações feitas por Maria Schneider (1952-2011) ao jornal britânico Daily Mail em 2007 — em que a actriz acusara Bertolucci de se ter aproveitado da sua juventude em O Último Tango em Paris, informando-a da cena de sexo anal que não vinha no guião apenas minutos antes de a rodarem —, o realizador voltou a indignar muitos dos espectadores, alguns deles até então seus “aliados”. Num comunicado enviado à revista Variety cinco anos depois da morte de Schneider, o italiano reconheceu que combinara com Brando (1924-2004), nos bastidores, que o actor usaria manteiga como lubrificante, decidindo ambos que não informariam Schneider para que a sua resposta fosse espontânea. Tanto um como outro queriam que reagisse como mulher e não como actriz. Bertolucci era já um cineasta respeitado, Brando, então com 48 anos, uma estrela em Hollywood, e Schneider uma actriz desconhecida que começara a rodagem ainda com 19 anos. “O Marlon disse-me: ‘Maria, não te preocupes, é só um filme’, mas durante aquela cena, mesmo que aquilo que o Marlon estava a fazer não fosse real, as minhas lágrimas eram verdadeiras”, contou a actriz ao Daily Mail. “Para ser sincera, senti-me humilhada e um pouco violada, tanto por Marlon como por Bertolucci. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Maria Schneider referia-se sempre ao cineasta como um “manipulador”. Bertolucci, esse, só se desculpou pelo que acontecera quando a actriz morreu com um cancro, aos 58 anos: “A morte [da Maria] chegou demasiado cedo. Apesar de não ter conseguido dar-lhe um abraço, gostava de lhe dizer que sempre me senti ligado a ela… E, pelo menos desta vez, pedir-lhe que me perdoe. ”Uma admissão de culpa que chegou tarde e que antecipou, de certa forma, o movimento #Me Too, desencadeado em Outubro de 2017, quando duas publicações norte-americanas puseram definitivamente o foco sobre a cultura predatória de Hollywood ao dar conta de que dezenas de mulheres acusavam o produtor Harvey Weinstein de violação, assédio e abuso sexual. Schneider já não pôde juntar-se aos que, desde então, denunciaram outros nomes fortes da indústria, como Kevin Spacey, Oliver Stone ou Morgan Freeman, mas o que com ela se passou no plateau de O Último Tango em Paris, naquele triângulo que Bertolucci comandava, continua aí para lembrar que, mesmo numa relação que se pretende apenas profissional entre um realizador e os seus actores, há limites a respeitar.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte cultura suicídio tribunal mulher prisão violação sexo sexual mulheres abuso assédio ansiedade
"Um edifício em altura não é um bicho de sete cabeças"
Com a Torre de Picoas terminada, ergueu-se uma trindade de edifícios em altura na Av. Fontes Pereira de Melo. Da autoria do atelier Barbas Lopes, a arquitecta Patrícia Barbas defende aqui que a nova torre de escritórios permitiu à cidade ganhar espaço verde e um inesperado vazio numa zona muito consolidada de Lisboa. Os inquilinos com ambições de trabalharem no topo do mundo estão prestes a tomar conta do FPM 41, o nome mais cosmopolita de uma torre cor de champanhe. (...)

"Um edifício em altura não é um bicho de sete cabeças"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com a Torre de Picoas terminada, ergueu-se uma trindade de edifícios em altura na Av. Fontes Pereira de Melo. Da autoria do atelier Barbas Lopes, a arquitecta Patrícia Barbas defende aqui que a nova torre de escritórios permitiu à cidade ganhar espaço verde e um inesperado vazio numa zona muito consolidada de Lisboa. Os inquilinos com ambições de trabalharem no topo do mundo estão prestes a tomar conta do FPM 41, o nome mais cosmopolita de uma torre cor de champanhe.
TEXTO: Talvez por o atelier Barbas Lopes ocupar o espaço de uma antiga oficina mecânica, memória ainda visível nos dois pisos que o escritório ocupa no lisboeta bairro de Campo de Ourique, Patrícia Barbas, a chefe de uma equipa de sete arquitectos, explica que a cor quente e metalizada da nova torre que desenhou em Picoas é igual à de uma carrinha Audi de que já se desfez — tem a cor do champanhe. Depois, desconstrói essa piscadela de olho ao símbolo do luxo e da doce vida, comentando com humor que a cor ideal do edifício FPM 41 também pode ser descrita como cor de burro quando foge. São comparações que servem à arquitecta para explicar como este edifício se quis intemporal, como sempre ali estivesse estado, mas procurou também olhar para os vizinhos e estudar o contexto em que se insere. Patrícia Barbas, 47 anos, é uma das poucas mulheres em Portugal que chefia, sozinha, um atelier de arquitectura conhecido. Uma situação recente, no entanto, que se seguiu à morte em 2016 do seu sócio e marido, Diogo Seixas Lopes, uma das vozes mais singulares da arquitectura contemporânea portuguesa, com quem estabeleceu a dupla Barbas Lopes desde 2006. Vencedor em 2014 de um concurso de ideias de arquitectura lançado por um promotor imobiliário em colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa, o atelier Barbas Lopes está prestes a entregar aos futuros inquilinos esta obra com uma altura invulgar em Lisboa, principalmente feita por um atelier com a sua dimensão e jovem. Até à construção da torre de Picoas, rebaptizada com a sigla FPM 41, que identifica o número da porta na Av. Fontes Pereira de Melo, a artéria para onde está virada a entrada principal, a obra mais importante desenhada pelo atelier Barbas Lopes foi o Teatro Thalia (2012), feito em parceria com Gonçalo Byrne, mestre de várias gerações lisboetas. Depois de várias polémicas, o FPM 41 é agora devolvido à cidade, criando um novo espaço público em seu redor, parte dele nascido em terrenos que são privados, como o novo atravessamento que vem da Avenida Fontes Pereira de Melo até à Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves. Numa entrevista feita no atelier que começou com uma visita à obra de Picoas dias antes, Patrícia Barbas conta também que gostou de ver a sua torre dar origem a uma trindade em Picoas: “Gosto de números ímpares. Olho para o nosso edifício como parte daquela trindade que inclui o Sheraton e o Imaviz, um equilíbrio que se amplia às outras peças do xadrez. ”Chamamos torre ao FPM 41, que tem 17 andares e 67, 87 metros de altura. O que é uma torre?Pela definição do Plano Director Municipal (PDM), uma torre é um edifício em altura, mas isso não quer dizer que seja um arranha-céus. Ao longo deste processo de construção, houve quem chamasse arranha-céus ao FPM 41, geralmente porque queria criticar a opção de construir em altura em Picoas. Há muitas vezes esse equívoco entre torre e arranha-céus. Como é que o PDM define exactamente uma torre?Nos conceitos do PDM para os tipos de edifício, a torre é definida com uma edificação isolada, ou inserida numa frente edificada, onde se destaca por uma elevada altura de fachada. Ou seja, é um edifício mais alto do que largo, apresentando uma verticalidade demarcada e superior à dos edifícios envolventes. Estou a citar directamente. Mas a cota máxima permitida naquela zona de Lisboa é definida pela empresa ANA, que tem a ver com o cone de aproximação à pista do aeroporto de Lisboa. Essa é a cota do Imaviz e esse era o nosso tecto, porque o Sheraton, um pouco mais alto, foi uma excepção permitida pela cidade. Para subir ali até aos quase 70 metros, também segundo o PDM, o FPM 41 tinha de soltar-se das vizinhanças. Ou seja, este é um edifício em altura que não tem paredes meias com outros. Quando avançaram para o projecto, como é que foi essa dança com os edifícios à volta, nomeadamente o Sheraton e o Imaviz?Olhámos para a Av. Fontes Pereira de Melo, que sofre ali um alargamento, porque o Fórum Picoas e o Imaviz recuam e configuram uma praça. Era importantíssimo que o edifício se relacionasse com essa excepção na avenida. Do que me lembro, a partir das imagens a que tivemos acesso, éramos os únicos que virávamos a entrada principal para esta praça. Para nós, isso era óbvio. O gesto arquitectónico de avançar aquela consola doze metros, a parte suspensa do edifício que marca a entrada principal, é também para fazer o alinhamento com a frente da Rua Latino Coelho, nomeadamente com a Maternidade Dr. Alfredo da Costa, criando uma linha invisível. Recuámos o envidraçado, o duplo pé-direito do lobby, para alinhar no contacto com o chão com o Saldanha Residence, situado do outro lado da avenida. Esses alinhamentos, o tamanho do vazio da consola, servem para definir aquela esquina da praça. Usámos sempre como referência o Seagram, do Mies van der Rohe [Nova Iorque, 1958]. É um edifício de escritórios de uma inteligência enorme, porque o Mies puxa o edifício para trás e faz uma praça que permite olhar o edifício em altura. No fundo, Mies define exactamente a forma como apreendemos o edifício: estamos no alinhamento da avenida, o edifício recua e cria um vazio. Voltando ao tema da torre pedida pelo promotor, com o Sheraton ao lado, que durante anos foi o edifício mais alto de Lisboa, e mesmo o Imaviz: a ideia de altura é imediata nesta zona de Lisboa?Para nós era um exercício que fazia sentido, porque também ajuda a resolver a relação entre o Sheraton e o Imaviz, em que o desenho urbano ganha um terceiro elemento. Além dos alinhamentos, o que é que foi importante também para desenhar a torre?Nos textos que escrevemos dizemos sempre que quisemos desenhar um edifício sem tempo que pudesse mediar esta décalage, esta diferença de épocas que sente naquele triângulo que faz o encontro da 5 de Outubro com a Latino Coelho e a Fontes Pereira de Melo. Porque temos coisas do princípio do século, a maternidade e a casa-museu, e a Lisboa moderna dos anos 70. No desenho, na escolha dos materiais, tentámos sempre fazer ali um fade out, uma transição. Daí também o lado mais abstracto da fachada, que costumamos dizer que é um cortinado, porque faz ali um fundo para uma intervenção que não se limita ao edifício em si mas também à envolvente. O desenho do espaço urbano é um contributo para fazer com que estas duas épocas completamente diferentes, o romantismo e os anos 70, comuniquem — o espaço do Ressano Garcia, autor do plano das Avenidas Novas, mais os dos arquitectos Ventura Terra e Norte Júnior, autores da maternidade e da casa-museu, versus o de Fernando Silva, autor do Imaviz e do Sheraton. A relação com a maternidade e a casa-museu é resolvida com os espaços exteriores. Primeiro, com o atravessamento pedonal que abrimos no lado oposto à entrada principal. Para nós também era importante trabalhar esta questão do vazio, porque não é usual ganhar um atravessamento com 15 metros de largura numa avenida consolidada. Essa abertura não é apenas uma contrapartida à construção em altura, porque há uma decisão de projecto de abrir o usufruto daquele espaço, propriedade privada da FPM 41, à cidade. Há uma dissolução dos limites entre o privado e o público, ou municipal, que nos interessou explorar. Usam alguns truques para fazer a torre parecer mais alta? O tema da fachada em ziguezague é um deles?Os 17 pisos e mesmo o formato do lote não são coisas muito esbeltas. Não fizemos um edifício-triângulo, compacto, mas partimos o edifício em dois corpos para ganhar arestas. É como se estivéssemos a esculpir um bloco, o que permite trabalhar as proporções. O tema do plissado faz com que as linhas verticais ganhem mais preponderância. Onde é que foram buscar esta modelação? Faz lembrar na vertical o tema do edifício da Liberty Seguros, também na Avenida Fontes Pereira de Melo. Gosto imenso desse edifício [arquitecto António Gomez Egea, 1966]. Provavelmente, ele está algures no meu arquivo cerebral. O grande problema num edifício de escritórios é a gigante carga de energia e a questão da iluminação dos espaços de trabalho. Com Guilherme Carrilho da Graça, da Natural Works, começámos a estudar como é que conseguíamos orientar a maior parte dos envidraçados para uma posição favorável em termos de luz, mas que ao mesmo tempo o edifício estivesse protegido de uma incidência directa. Daí os opacos e os transparentes do plissado, que nos permite orientar as janelas conforme a implantação do edifício. Na Fontes Pereira de Melo e na Latino Coelho as duas orientações não são perfeitas, mas aí optámos por privilegiar a vista de rio, da ponte, do Cristo Rei, do Castelo. Para quem vai do Saldanha para a Fontes Pereira de Melo, o edifício é cego, mas para quem vem do Marquês de Pombal é transparente. Tal como no Teatro Thalia, discutimos sempre a ideia do edifício poder ser um camaleão. A roupa, a pele, muda conforme as alturas do dia e a questão da transparência versus opacidade também contribui para isso. De maneiras diferentes, o tom quente dos outros edifícios, como o Fórum Picoas, reflecte-se no nosso. Como é que viram este salto em relação ao vosso trabalho? Desde logo, o tipo de programa, que não é normal em Lisboa. Depois a entrega desta encomenda a um atelier da vossa dimensão. O processo foi mesmo muito interessante. Não há antecedentes de ter sido disponibilizada através de concurso uma encomenda para esta geração entre os 40 e os 50. Uma torre é um programa difícil de fazer ou parece mais difícil do que é?Na nossa resposta ao concurso, quisemos fazer as perguntas fundamentais para um programa que era um edifício em altura de escritórios nesta localização. Claro que sabíamos das dificuldades, porque desde os anos 70 que há projectos de edifícios em altura de nomes aí da praça para este lugar preciso. Sabíamos da dimensão do desafio, mas atirámo-nos para um desafio destes como nos atirámos para o que é dedicado à melhor forma de actuar no Palacete Barão de Santos, uma remodelação que estamos a fazer e uma coisa muito mais miúda. Se formos falar de metros quadrados, são diferenças abissais, mas é curioso que os dois levaram o mesmo tempo a serem construídos. O que é mais difícil de fazer numa torre? Ou vêem o FPM 41 mais como um edifício de escritórios?É um edifício privado mas com uma presença pública que tem de ser enfrentada. Imaginámos o edifício com a quantidade de pessoas que o utilizam, porque estamos a falar de muita gente, mais de 1300 pessoas. Uma das questões colocadas foi o que define um espaço de trabalho no princípio do século XX, agora, e o que é que poderá vir a ser. Para nós era fundamental desenhar espaços de trabalho livres de qualquer elemento estrutural, que fossem tão flexíveis que pudessem hoje ser usados por uma empresa que quisesse espaços de trabalho muito formais — gabinetes e salas de reuniões, tudo repartido — e amanhã ser a sede da Google, que é tudo openspace e informal. Como este é um edifício shell and core, o coração, as entranhas e a pele é nossa, mas os interiores das fracções são projecto de quem aluga, até porque correspondem a imagens corporativas. Por isso, a flexibilidade dos espaços de trabalho está directamente ligada à questão da estrutura. Com essa flexibilidade, o FPM 41 é um edifício que ultrapassa o próprio uso de escritório?Exacto, amanhã aquilo poderá ser um edifício de habitação, um hotel. São espaços em aberto, com vãos que atingem os 22 metros e que impressionam. Que outras perguntas se fazem ao projectar uma torre?A esta escala é preciso haver racionalidade construtiva, porque há um promotor que faz um investimento e quer ter retorno. A aritmética das escolhas que fazemos tem de ser economicamente viável e aguentar um longo processo de escrutínio. Um processo destes tem que ter em conta as várias entidades oficiais que o analisam, desde os bombeiros aos vários departamentos da câmara, passando pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), e considerar que as possibilidades de comercialização do edifício podem evoluir com o tempo. Por exemplo, uma das duas lojas que é alugada por um dos inquilinos vai ser usada como segunda entrada. Esse poder de adaptação do edifício, de ele poder mexer sem perder verdadeiramente o essencial, é um motivo de satisfação agora que vemos o fim desta aventura. Fizemos as perguntas e as apostas certas. A última questão, entre as perguntas principais de que ainda não falámos, é a do conforto ambiental e da performance energética, que são fundamentais. Um edifício de escritórios é um consumidor de energia e houve uma série de medidas implementadas que contribuem para que ele não seja só uma esponja de consumo. Temos a fachada que responde a uma ventilação natural, com 48 janelas que abrem, pois era um absurdo desenhar um edifício em Lisboa completamente fechado, uma vez que temos um clima ameno para o quente. Depois, temos a cobertura mais alta que é técnica, forrada a painéis fotovoltaicos, com o edifício a produzir energia para compensar o que consome. Os próprios elevadores produzem energia ao andar para cima e para baixo e injectam-na para se alimentarem a si próprios. Porque é que optaram por a cobertura não ser visitável?Criámos uma cobertura visitável no corpo mais baixo virado para a 5 de Outubro. É muito difícil que um edifício em altura produza energia suficiente, porque tem uma implantação muito pequena em relação à área total, mas para nós era mais importante que o edifício se compensasse a si próprio do que ter uma grande cobertura visitável. Até porque essa utilização é privada, não estávamos a desenhar um miradouro público. Além da cor champanhe que cores é que discutiram para o edifício?Sempre falámos de champanhe bronze, porque não sabíamos muito bem qual era o espectro. O bronze, o castanho metálico, vem do Sheraton, mas há ainda o amarelo do Imaviz e o salmão do Fórum Picoas. O champanhe acaba por ser mais claro, mas mesmo assim não é um dourado. Tem também a ver com a forma como os edifícios se reflectem no nosso, porque há ali umas horas do dia em que o Picoas e o salmão aparecem reflectidos. Já falámos um pouco dessa cor de burro quando foge quando fomos à obra, uma cor parda que do nosso ponto de vista reage bastante bem à questão da incidência da luzQuais são os materiais usados na torre?O betão e o aço da estrutura, o sistema é misto, o alumínio lacado da fachada, o vidro e depois temos apontamentos em madeira e mosaico de vidro, porque queríamos que o espaço do escritório tivesse um espírito de conforto e de “luxo”. A pastilha que vemos na entrada é um tributo ao Seagram do Mies, que a usa frequentemente. Há um número suficiente de mulheres com visibilidade a fazer arquitectura em Portugal?Ainda não há equilíbrio na representatividade, mas temos arquitectas em Portugal a fazer um óptimo trabalho, no ensino, na teoria e na práctica. Alguns exemplos do último caso: Inês Lobo, Paula Santos, Désirée Pedro (na dupla Atelier Corvo), Graça Correia (na dupla Correia-Ragazzi), Margarida Grácio Nunes (dupla com Fernando Salvador), Catarina e Rita Almada Negreiros (CAN RAN) e também mais novas como Ana Jara e Lucinda Correia (Artéria), Sofia Couto (na dupla Aurora), Ana Luísa Soares (do trio FALA). . . só para nomear algumas. A primeira licenciada em Arquitectura em Portugal foi em 1942 em Lisboa, a Maria José Estanco, e a segunda em 1943 no Porto, a Maria José Marques da Silva. A integração das mulheres na profissão é uma história recente e corresponde a uma transformação na mentalidade em Portugal. Basta pensar que só depois da revolução é que em Portugal o direito de voto se tornou universal e não discriminatório. Felizmente os tempos são outros e é cada vez mais comum encontrar mulheres arquitectas na obra, que era um ambiente “naturalmente” misógino. Há mulheres a ocuparem cargos de projectistas, de fiscalização ou mesmo, do lado das construtoras, de preparação de obra. Ainda não as encontramos como directoras de obra, é um facto, mas aí também não há arquitectos mas engenheiros. Nas câmaras, nos últimos anos, tenho tido mais reuniões com colegas do sexo feminino do que masculino. Mas nesse mundo das obras há situações em que por se ser mulher também há privilégios. Não se diz palavrões em frente à arquitecta. Lembro-me que queríamos ter um local de trabalho na obra para fazer o acompanhamento e foi discutida a questão das caves, escuras, não serem “um lugar para uma senhora”. Também podemos usar isso a nosso favor, porque há sempre esse efeito de cerimónia. Com a morte do Diogo Seixas Lopes deixou de trabalhar em dupla. Como é que o atelier se reorganizou?Ainda estamos num processo de organização, porque é uma perda. Os Barbas Lopes representam uma forma de olhar a disciplina e esses princípios continuam válidos. Nós, como o Siza, acreditamos mesmo que a arquitectura é uma disciplina poética, que é muito mais do que uma resposta a um problema. Para nós, é a poesia e a ética. Já têm projectos sem o Diogo?O Chalet Faial, em Cascais, novamente uma reabilitação de um edifício do século XIX. Fizemos também o projecto aqui para a nossa casa-atelier. É um projecto antigo, que nunca foi desenvolvido porque depois eu e o Diogo percebemos que se calhar não era boa ideia vivermos no sítio onde trabalhávamos, porque não só éramos sócios como éramos casados. Seria uma partilha total e recuámos nessa decisão de fazer aqui casa-atelier. Voltar a essa solução é uma decisão minha, mas com um projecto completamente diferente. Claro que é muito diferente trabalhar sem ser em dupla, porque a vantagem é ter ali um espelho que não é bem um espelho. Tínhamos muitos anos de navegação conjunta e sendo pessoas diferentes a coisa era muito complementar. Agora é a chefe do atelier?Sim, num atelier de sete pessoas, contando comigo. Faz imensa falta esse complemento. O que tento fazer é manter o mesmo género de exercício com a equipa. O que é que acha que a cidade pode aprender com este projecto?Acho que se pode aprender que as mudanças não são sempre para pior. Há este pessimismo incutido e quando há uma alteração achamos que só vai piorar. Um edifício em altura não é um bicho de sete cabeças. Mas os edifícios em altura são uma questão maior do que Lisboa e do que Portugal, porque permitem uma ocupação menor de espaço. Abrem outras hipóteses, como a criação de espaços verdes, de espaços públicos. Nos últimos anos, os portugueses estão finalmente a viver o espaço público e voltou-se ao espaço fora de casa como continuação de um espaço de estar. No Jardim da Estrela, é impressionante a quantidade de pessoas sempre que há um raio de sol. O FPM 41 abre a possibilidade de devolver espaço público à cidade e mostrar que um edifício em altura não é o tal bicho de sete cabeças. Porque é que a cidade tem essa desconfiança em relação aos edifícios em altura? Onde é que eles se podem construir?Onde? Claramente há sítios na cidade onde não faz sentido nenhum construir em altura. Como a cidade histórica?Sim. Mas é curioso ver que os portugueses vão para Nova Iorque e vêem edifícios históricos de três pisos ou quatro ao lado de uma torre e acham tudo normalíssimo, mas cá é uma coisa disruptiva. É considerado um corte e que estás a destruir uma tradição qualquer. Em Nova Iorque o histórico é a construção em altura. Se calhar não é o melhor exemplo, mas Zurique, que até há uns anos não tinha edifícios nenhuns em altura, agora tem. Porque é um caminho normal, exactamente por causa dessa questão de ocupação do solo, para não termos uma cidade tão em extensão, não sermos uma Los Angeles. Voltando aos locais onde se pode construir em altura: estou a lembrar-me das torres do Siza para Alcântara e isso para mim não tinha problema nenhum. Fazia sentido porque temos os pilares da ponte, que é um elemento vertical. Era pôr as coisas a falarem umas com as outras. E quanto à desconfiança de Lisboa em relação às torres?Em Lisboa essa desconfiança do edifício em altura é uma questão histórica, mas ele abre a possibilidade de se poder devolver espaço público à cidade, como já disse. Temos dossiers e dossiers de projectos que nunca foram para a frente, desde o Norman Foster ao Álvaro Siza, principalmente por serem edifícios em altura. Quando olha para o Sheraton e para o edifício Imaviz, quais são as ligações que gosta de ver com o FPM 41?Olho para o nosso edifício como parte daquela trindade que inclui o Sheraton e o Imaviz, que depois também se amplia às outras peças do xadrez. Eu gosto dos números ímpares, gosto dessa trindade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Aquele triângulo, que se faz do encontro da 5 de Outubro com a Latino Coelho e a Fontes Pereira de Melo, é uma excepção e um acerto na grelha ortogonal do plano das Avenidas Novas. Por causa do peso que os carros tomaram nas faixas laterais, esse triângulo inclinado que sobrava era um “jardim” e tornou-se um sítio de ninguém. Mas nós fizemos um plinto, um espaço de estadia o mais plano possível, e a nossa referência era o jardim que aqui existia do Hotel Aviz, com aquela exuberância toda.
REFERÊNCIAS:
“É verdade que os fundos europeus só são para alguns”
“Se não houvesse fundos não sabemos o que aconteceria à ciência e ao ensino profissional em Portugal”, defende o economista que coordenou a avaliação ao QREN e explica como as ajudas selectivas geram mais benefício. (...)

“É verdade que os fundos europeus só são para alguns”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.037
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: “Se não houvesse fundos não sabemos o que aconteceria à ciência e ao ensino profissional em Portugal”, defende o economista que coordenou a avaliação ao QREN e explica como as ajudas selectivas geram mais benefício.
TEXTO: Depois de estudadas mais de seis mil empresas portuguesas que receberam incentivos do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), o economista Ricardo Paes Mamede deixou de ter dúvidas: “os fundos europeus apoiam as empresas de forma altamente selectiva; é verdade que os fundos só são para alguns”. Na avaliação, cuja equipa coordenou, ao programa de fundos europeus que atribuiu mais de três mil milhões de euros de incentivos às empresas entre 2007 e 2013 para serem mais competitivas, diz não ter encontrado resultados que surpreendessem mas reteve esse ponto central. “Consolidei essa percepção que tem o seu quê de polémico, mas é um resultado muito evidente deste estudo”, diz o economista que foi também membro do Observatório do QREN durante seis anos. Ainda que as maiores empresas estejam sempre presentes nestes grupos – “estão sempre a receber porque são as maiores, porque têm sempre projectos mas até são as que relativamente recebem menos” –, o que é expressivo para Paes Mamede é as “empresas que se destacam pelas suas competências, pelo projecto empresarial, pela sofisticação que têm ou pretendem ter, por terem projectos de internacionalização, actividades de inovação e I&D, e que procuram certificar o seu sistema de gestão”. Estas conclui, “estão sobre-representadas nos fundos”. Concorda com este caminho? “Sim – responde -, isto é a responsabilidade de um país”. Porque “faz sentido o Estado dar apoios públicos a quem traga externalidades positivas para a economia, em conhecimento, actividades relevantes”, entre outros pontos. “Uma empresa quando inicia um processo de exportação vai sinalizar para as empresas semelhantes que há oportunidades de mercado”. Ou seja, são também as empresas mais qualificadas em termos de gestão e estratégia. Como os critérios de elegibilidade passam pela capacidade de gestão empresarial e projectos com objectivos de internacionalização, explica que “os próprios fundos tendem a dar prioridade às que têm maior dinâmica de inovação e internacionalização”. “Sou crítico mas não consigo deixar de me sentir europeísta. O meu percurso é indissociável da UE”. É assim que Ricardo Paes Mamede separa o que considera que têm sido os erros políticos de construção europeia e a própria ideia de Europa. Nas razões que elenca: os primeiros computadores que foram para a sua escola vieram com os fundos europeus, a sua primeira viagem ao estrangeiro foi ao Parlamento Europeu, foi estudante Erasmus, fez o mestrado e o doutoramento com bolsas europeias, os seus projectos de investigação são todos com a UE. Acrescenta: “todo o meu salário enquanto estive no observatório do QREN foi pago pela UE, entre os meus amigos mais próximos alguns não são portugueses, mas são europeus”. Considera que “há uma concretização extremamente positiva do processo de construção europeu (para Portugal)", em que os fundos trouxeram sobretudo "práticas institucionais, uma alteração do funcionamento do Estado”, mas o projecto europeu é também a “ditadura dos mercados”. “A UE é uma construção permanente que impõe um modelo de sociedade em que a maior parte da sociedade europeia não se revê nele”. A solução não será o eurocepticismo. “Vejo – diz Paes Mamede - possibilidade de [esse modelo] ser questionado democraticamente”. Já quanto às grandes empresas, tem manifestado reservas sobre o impacto real dos fundos europeus que lhes são destinados. “As grandes empresas consomem 40% dos fundos para as empresas mas são poucos projectos. Tenho as maiores dúvidas de que se justifique gastar fundos assim”. Admite que a capacidade destas em adicionar investimento e gerar consequências positivas na economia seja “baixa”, mas prefere esperar por dados de um estudo qualitativo que as autoridades prometeram sobre este grupo. “Admito que possa estar errado”. O efeito de adicionalidade de investimento das pequenas e médias empresas através do QREN foi um dos seus grandes contributos constatados com este estudo e que lhe deram nota positiva. A avaliação divulgada em Outubro passado e que foi inédita, a nível europeu, pela quantidade de fontes de informação (oito) e anonimizadas pelo INE apontou uma clara capacidade destes fundos induzirem investimento adicional (por cada euro de incentivo europeu as empresas investem 1, 41 euros) para além de terem diminuído o fosso salarial entre homens e mulheres. Quanto ao grupo das grandes empresas não entrou no estudo que coordenou porque os métodos utilizados pela equipa “não permitem conclusões claras”, ainda que tenha reservas quanto à utilização dos fundos para as grandes empresas, “a maior parte delas não precisa”. Para este economista, os fundos devem ser “instrumento para trazer grandes investimentos que deixem bastante no país, que tragam competências, não endividamento”. Um critério que – sustenta - deve ser também aplicado a este grupo, ainda que possa não ser essa a visão de Bruxelas. Fundos que sustentam OESeis anos como membro do Observatório do QREN, entre 2008 e 2014, e a coordenação da avaliação do QREN mostraram a Paes Mamede o papel dos fundos europeus para Portugal que vai para lá da contabilidade das verbas entradas. “Se não houvesse fundos, não sabemos o que aconteceria à ciência e ao ensino profissional” em Portugal, admite. As respostas à necessidade de equilíbrio das contas públicas, a chamada consolidação orçamental, “não deixou muito espaço” para as funções sociais do Estado, frisando que os fundos europeus “sustentam o Orçamento do Estado em muitas áreas”. É assim que vê o alargamento do ensino profissional às escolas secundárias, no tempo de Maria de Lurdes Rodrigues à frente do Ministério da Educação. As escolas ganharam uma nova fonte de orçamento, o ensino profissional passou “a ser financiado em permanência pelos fundos” e “também a ciência não funcionava em Portugal sem fundos europeus”. Entre os primeiros programas de fundos estruturais para Portugal (o primeiro em 1989), e o que lhe tem destinado até 2020 são cerca de 100 mil milhões de euros. São montantes que procuraram aproximar a nível de vida dos portugueses em relação aos europeus e depois dar também maior competitividade à sua economia, desde as obras de betão à qualificação, educação e ambiente. Os relatórios mostram que por vários anos, especialmente nos três quadros comunitários de apoio (QCA I, II e III), Portugal foi o Estado-membro que mais financiamento estrutural recebeu. Nunca foi inferior a 2% do PIB e houve períodos que chegou a 3%. Mas também foi, dos quatro países da Coesão (Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia, os então países mais pobres da EU) o que sempre cresceu menos e entretanto entrou em divergência. Os resultados concretos obtidos pelo país são complexos, longe do preto e branco, mas Paes Mamede observa: “a Europa é muito distante mas com os fundos europeus é totalmente diferente”. As políticas de coesão e de defesa da convergência surgiram para acolher os então novos Estados-membros menos desenvolvidos (Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia) por causa de um problema que se via à distância: o Mercado Interno e a moeda única podiam não ser bons para toda a Europa. Relatórios como o de Padoa Schioppa de 1987 já diziam sobre o MIE que o processo de integração europeu traria um potencial de convergência mas também muitos riscos de divergência das regiões. “E a política de coesão é um mecanismo para potenciar a força de convergência e minimizar os riscos de divergência”, acrescenta. O alargamento da Europa da Leste e o choque da crise financeira mostraram, porém, que a política de aproximação das regiões da Europa em termos de desenvolvimento social, económico e ambiental é um instrumento limitado, quando Portugal começou a divergir da média europeia e a empobrecer. Paes Mamede sustenta que “a política de coesão não pode resolver por si só problemas mais vastos”, como a liberalização financeira, a unificação monetária, os choques macroeconómicos, os fluxos de capital dentro da UE, a evolução cambial como a que aconteceu entre 2001 e 2008, em que o euro passou de menos de um dólar para mais de um dólar e meio. “Temos tido uma sucessão de choques violentíssimos ao longo dos anos sobre as economias e não podemos esperar que a política de coesão substitua mecanismos de ajustamento económico que deixaram de existir”. A pergunta a fazer é se a política de coesão permitiu às economias estarem mais bem preparadas para a globalização: “Sem dúvida nenhuma. Fez com que Portugal estivesse hoje muito mais preparado para a globalização do que há 25 anos, mas não é suficiente. ”Depois da euforia de crescimento dos anos de 1995 a 2008, sustenta que se percebeu com a crise que “a assimetria estrutural da economia europeia – a sua estrutura produtiva - nunca deixou de existir”, havendo hoje uma consciência “mais clara que não se vai lá com controlo do défice, aumento da concorrência, controlo dos salários”. Mas vai, na sua opinião, com a mudança da estrutura produtiva. “Crítico mas europeísta”“Sou crítico mas não consigo deixar de me sentir europeísta. O meu percurso é indissociável da UE”. É assim que Paes Mamede separa o que têm sido os erros políticos de construção europeia e a própria ideia de Europa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nas razões que elenca: os primeiros computadores que foram para a sua escola vieram com os fundos europeus, a sua primeira viagem ao estrangeiro foi ao Parlamento Europeu, foi estudante Erasmus, fez o mestrado e o doutoramento com bolsas europeias, os seus projectos de investigação são todos com a EU. E acrescenta: “todo o meu salário enquanto estive no observatório do QREN foi pago pela UE, entre os meus amigos mais próximos alguns não são portugueses, mas são europeus”. Considera que “há uma concretização extremamente positiva do processo de construção europeu (para Portugal): os fundos trouxeram sobretudo práticas institucionais, uma alteração do funcionamento do Estado”, mas o projecto europeu é também a “ditadura dos mercados”. “A UE é uma construção permanente que impõe um modelo de sociedade em que a maior parte da sociedade europeia não se revê nele”. A solução não será o eurocepticismo. “Vejo – diz Paes Mamede - possibilidade de [esse modelo] ser questionado democraticamente”. ?
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
No Ponto: pão-de-ló de Alfeizerão
Regularmente, a Fugas divulga um vídeo novo sobre um doce diferente. (...)

No Ponto: pão-de-ló de Alfeizerão
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Regularmente, a Fugas divulga um vídeo novo sobre um doce diferente.
TEXTO: Para um paladar pouco atento, os pães-de-ló podem parecer todos iguais, mas todos têm as suas diferenças. Não é por acaso que vários ganharam fama própria. Ao longo da minha investigação sobre a história dos doces em Portugal, fui provando muitos pães-de-ló distintos e é admirável como os mesmos três ingredientes — açúcar, ovos e farinha — resultam numa variedade tão grande. O pão-de-ló de Alfeizerão, concelho de Alcobaça, é de grande qualidade e tem a característica de ser muito húmido, como o de Ovar, de modo que o melhor é comê-lo à colher. É um dos pães-de-ló mais conhecidos em Portugal desde 1925, tendo beneficiado de uma localização conveniente, entre Caldas da Rainha, São Martinho do Porto, Alcobaça e Nazaré. Em épocas festivas como o Natal, é um doce maravilhoso para servir como sobremesa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Cristina Castro criou o projecto No Ponto para registar e dar a conhecer os doces do país. Tem vindo a publicar a colecção A Doçaria Portuguesa, "os mais completos livros sobre a história e actualidade dos doces de Portugal". A investigação para este trabalho levou a autora a viajar por todos os concelhos em busca de especialidades doceiras. A partir da oportunidade de ver como se faz, de falar com quem produz, de conhecer vidas, histórias e tradições associadas à doçaria, surgiram os vídeos que desvendam um pouco de cada doce. Regularmente, a Fugas revela um vídeo novo sobre um doce diferente.
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Palavras-chave rainha
Volvo XC40 venceu o Women's World Car of the Year 2018
Volvo XC40 é Carro do Ano, o Aston Martin Vantage conquistou o prémio Carro de Sonho e Fiona Pargeter, da Comunicação da Jaguar Land Rover, foi distinguida como Mulher de Mérito. (...)

Volvo XC40 venceu o Women's World Car of the Year 2018
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Volvo XC40 é Carro do Ano, o Aston Martin Vantage conquistou o prémio Carro de Sonho e Fiona Pargeter, da Comunicação da Jaguar Land Rover, foi distinguida como Mulher de Mérito.
TEXTO: O SUV compacto da Volvo que tem vindo a conquistar prémios um pouco por toda a parte, adicionou mais um troféu à lista: foi o escolhido por um painel de mulheres jornalistas especializadas na área automóvel. Trinta e quatro mulheres em representação de 27 países, Portugal incluído, escolheram o mais novo SUV da empresa sueca, depois de analisados centenas de modelos numa eleição que culminou numa lista de finalistas que, além do vencedor, incluía BMW X2, Jaguar E-Pace, Jaguar I-Pace, Peugeot 508 e Porsche Cayenne. A segurança, o conforto a bordo, a condução fácil e todo o sistema de info-entretenimento de utilização intuitiva foram alguns dos atributos apontados pelas juradas para justificar a escolha pelo XC40. O Volvo XC40 é um SUV compacto de luxo fabricado pela Volvo Cars, originalmente projectado por Thomas Ingenlath e revelado em Setembro de 2017. Desde então, o Volvo XC40 ganhou uma série de prémios, incluindo Carro Internacional do Ano em Genebra. A Volvo e o XC40 podem agora adicionar o galardão do Women's World Car of the Year a essa lista, sendo este troféu o único votado exclusivamente por mulheres. Os prémios Women's World Car of the Year, criados em 2009 como resposta à ausência de mulheres entre os júris internacionais, não pretendem indicar o melhor carro para mulheres, mas antes distinguir os melhores automóveis lançados globalmente a partir da avaliação de especialistas do sector de todo o mundo: da Argentina à Nova Zelândia, do Canadá à África do Sul, passando pela Rússia ou Índia – ao todo são 27 os países representados. A empresa de consultoria Grant Thornton, associada ao Women's World Car of the Year, voltou a gerir todo o processo de eleição, sendo este secreto e os votos controlados pelo escritório da empresa em Auckland (Nova Zelândia). O sócio, Paul Kane, disse que a votação final deste ano foi extremamente renhida. O grupo votou ainda o Carro de Sonho Holly Reich, ou seja, um veículo que gostassem de possuir ou conduzir: Aston Martin Vantage. O V8 de 4, 0 litros foi projectado por Marek Reichman, o designer que lidera o estúdio da Aston Martin, e a escolha deste coupé de duas portas e dois lugares põe, segundo a organização, “firmemente de lado a falácia de que as mulheres não apreciam desportivos”. O prémio Carro de Sonho é baptizado com o nome de uma das juradas-fundadoras, a norte-americana Holly Reich, falecida em Outubro de 2016. Reich, que fez parte da organização durante seis edições, era uma confessa admiradora de automóveis exóticos e potentes. Em declarações ao site norte-americano Driving the Nation, o vice-presidente e director de Marketing da Aston Martin, Simon Sproule, que conheceu a jurada que dá nome ao troféu, considerou “este prémio um adequado tributo à paixão que Holly tinha pela indústria automóvel e pelos seus produtos”, afirmando ainda “a honra” que este prémio representa para um carro como o Aston Martin Vantage. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Esta edição ficou ainda marcada pela introdução de um novo prémio que pretende reconhecer mulheres que se destacam na indústria automóvel. Este ano, o prémio Mulher de Mérito (WOW, na sigla original) foi entregue a Fiona Pargeter, a ex-directora global de Comunicação e de Relações Públicas da Jaguar Land Rover, recentemente promovida, ganhando responsabilidades adicionais de Marketing. O júri do Women's World Car of the Year considerou que Fiona Pargeter tem tido um papel consistente no envolvimento das mulheres no mundo automóvel, quer como parceiras, quer como clientes. Para a actual responsável do Marketing global da JLR, a distinção foi “uma surpresa”. “É um privilégio saber que este grupo de mulheres inspiradoras me reconhece desta maneira. ”
REFERÊNCIAS:
Com 15 anos e sem papas na língua: o discurso demolidor de Greta na Cimeira do Clima
Depois de ter feito greve à escola contra as alterações climáticas, Greta Thunberg subiu ao palco da Cimeira do Clima sem medo de apontar o dedo aos líderes mundiais que, diz, "não são maduros o suficiente" para encarar "o peso das alterações climáticas". (...)

Com 15 anos e sem papas na língua: o discurso demolidor de Greta na Cimeira do Clima
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -1.0
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Depois de ter feito greve à escola contra as alterações climáticas, Greta Thunberg subiu ao palco da Cimeira do Clima sem medo de apontar o dedo aos líderes mundiais que, diz, "não são maduros o suficiente" para encarar "o peso das alterações climáticas".
TEXTO: Greta Thunberg é uma jovem sueca de 15 anos que tem dado nas vistas pelos sucessivos apelos a mudanças mundiais urgentes em relação aos problemas ambientais. A sua luta começou quando decidiu fazer greve às aulas para protestar contra as alterações climáticas. Daí a ser convidada para discursar na Cimeira do Clima das Nações Unidas, que terminou este fim-de-semana em Katowice, na Polónia, foram dois passos. Falou sem papas na língua e sem medo de apontar o dedo aos líderes mundiais que, segundo a jovem, "não são maduros o suficiente para encarar os factos e estão a deixar o peso das alterações climáticas para as crianças". "Eu preocupo-me com a justiça climática e com o planeta onde vivo. A nossa civilização está a ser sacrificada para que um número muito pequeno de pessoas continue a lucrar enormes quantias de dinheiro. A nossa biosfera está a ser sacrificada para que pessoas ricas em países como o meu possam viver luxuosamente. É o sofrimento de muitos que paga pelos luxos de poucos", disse a activista de 15 anos, enquanto discursava para representantes de mais de 200 países. A jovem terminou o seu discurso, que já se está a tornar viral, dizendo que não estava ali para implorar que os líderes mundiais se preocupassem com o que estava a acontecer, afirmando que quem luta contra as alterações climáticas já foi ignorado no passado e, certamente, sê-lo-á mais vezes. "Estamos a ficar sem desculpas e sem tempo. Viemos aqui para que vocês saibam que a mudança está a chegar quer vocês gostem ou não. O poder é do povo. Obrigada", rematou Greta. Greta falou na cimeira em representação da Climate Justice Now!, uma rede que junta organizações e movimentos que lutam pela justiça climática. Mas a sueca chegou a Katowice já com uma bagagem de activismo às costas. Tudo começou aos oito anos, quando lhe explicaram, pela primeira vez, o que estava a acontecer com o planeta e o porquê de ter de poupar água, reciclar e não desperdiçar comida. A partir daí nunca mais abandonou a causa ambiental. Em meados de Agosto deste ano, começou a ser notícia um pouco por todo o mundo. As eleições para o Parlamento sueco aproximavam-se e a adolescente decidiu sentar-se todos os dias nas escadas do edifício em Estocolmo durante o horário escolar. Chamou-lhe "greve à escola contra as alterações climáticas" e o objectivo era pressionar o Governo a adoptar uma postura radical no combate às alterações climáticas. Depois das eleições, que se realizaram a 9 de Setembro, continuou o protesto apenas às sextas-feiras. "Estou a faltar à escola para protestar contra a inacção dos países no que toca às alterações climáticas — e tu também devias. Todas as sextas-feiras, falto às aulas e sento-me à porta do Parlamento do meu país e vou continuar a fazê-lo até que os líderes mundiais comecem a agir de acordo com o Acordo Climático de Paris. " É com estas palavras que Greta descreve a luta que tem desenvolvido nos últimos meses num artigo de opinião publicado no The Guardian, onde também refere que tem síndrome de Asperger e que, por isso, encara o mundo "a preto ou branco". "Ouço as pessoas dizer que as mudanças climáticas são uma ameaça à existência, mas vejo-as a levar a sua vida como se nada se estivesse a passar", reflecte. O seu protesto tem gerado debate nas redes sociais e fez com que, em solidariedade, centenas de jovens por todo o mundo faltassem às aulas, alguns apoiados pelos pais, para protestar contra a inércia dos governos dos seus países. all finalists are to be flown in from all over the world, to be a part of a ceremony, has no connection with reality. Our generation will never be able to fly(among other things), other than for emergencies. Because the adult generations have used up all our carbon budget. —>Há poucas semanas, Greta subiu ao palco da conferência TEDxStockholm para falar sobre a sua greve e da forma como convenceu os pais a adoptarem um estilo de vida saudável. O título do seu discurso diz tudo: "School strike for climate - save the world by changing the rules" (em tradução livre, "Greve à escola pelo clima — salvar o mundo mudando as regras"). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Razões não faltam, portanto, para justificar a sua nomeação para o Children's Climate Prize que desde 2016 distingue uma criança que se destaca por "ter feito algo extraordinário pelo clima e pelo ambiente". O júri do prémio mundial anunciou que Greta foi nomeada como finalista deste ano porque “demonstrou mais determinação, dedicação e força no combate à mudança climática e no trabalho pelo futuro da humanidade do que a maioria dos adultos ou políticos já fez”. These students have walked out to demand climate action now! pic. twitter. com/DxkqIv1WDqNo entanto, através do Twitter, Greta pediu para ser removida da lista de finalistas, uma vez que teria de viajar de avião para a cerimónia da entrega de prémios, meio de transporte que a jovem e a sua família já não utilizam devido às grandes emissões de carbono que provocam. Em caso de emergência, os país da activista, o actor sueco Svante Thunberg e a cantora de ópera Malena Ernman, bem como a irmã de Greta, que também tem síndrome de Asperger, usam um carro eléctrico, mas para o transporte diário toda a família usa apenas a bicicleta.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE BE
Vacinas: carta aberta à diretora-geral de Saúde
Surpreendeu-me a sua posição ofendida sobre a aprovação, pelo parlamento, da integração das vacinas da meningite B, do rotavírus e do HPV para os rapazes no Plano Nacional de Vacinação. (...)

Vacinas: carta aberta à diretora-geral de Saúde
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Surpreendeu-me a sua posição ofendida sobre a aprovação, pelo parlamento, da integração das vacinas da meningite B, do rotavírus e do HPV para os rapazes no Plano Nacional de Vacinação.
TEXTO: Cara Dr. ª Graça Freitas: não a conheço pessoalmente, mas tenho, por si e pelos seus antecessores, o maior respeito. Parecem-me pessoas altamente competentes, sérias, com excelente poder de comunicação e de argumentação, articulando pedagogia com apurado sentido de serviço público. Contudo, surpreendeu-me sobremaneira a sua posição ofendida sobre a aprovação, pelo parlamento, da integração das vacinas da meningite B, do rotavírus e do HPV para os rapazes no Plano Nacional de Vacinação. Sabe Dr. ª, tenho uma filha, com quase três anos, e o seu pediatra, um magnífico profissional com muitos anos de serviço nacional de saúde, respondeu à minha pergunta sobre se deveria ou não protege-la com essas vacinas tão caras: “João, eu vacinei as minhas duas filhas…”. Naturalmente, não precisou de acrescentar mais nada e despendi, sem arrependimento, centenas de euros. Mas eu tinha esse dinheiro e a maior parte dos pais portugueses não o tem. Dada a recente polémica, procurei informar-me e descobri, sem surpresas, que a sociedade portuguesa de pediatria, através de um colégio prestigiado de infeciologistas, recomenda a inclusão destas vacinas. É verdade que os Rotavírus, num país avançado como o nosso em cuidados de saúde, dificilmente matam, mas provocam diarreias agudas que exigem longos e dispendiosos internamentos e - critério mais importante e menos utilitarista - acarretam enorme sofrimento às crianças e famílias. Quanto à Meningite B, como sabe, atinge cerca de 30 crianças por ano e mata. Quanto vale, sª Dr. ª a vida de uma criança? Pois é, não tem preço. E como é irracional e injusto que a desigualdade mate…Finalmente, o HPV é uma doença biunívoca, que passa de rapazes para raparigas e vice-versa. Aliás, a decisão de vacinar as meninas alicerça-se em estudos sobre a doença em rapazes. Diga-me um argumento válido para não incluir esta vacina. Alguns países, mais avançados, incluem mesmo nos seus planos a vacina da Hepatite A e da Varicela. Conhece melhor do que eu a necessidade de obtermos não só uma proteção individual, mas também grupal. O que se passa hoje com os surtos de sarampo mostra bem a importância dessas duas proteções. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Senhora Dr. ª: nada tenho contra os peritos. Eu próprio sou, no meu domínio, a Sociologia, amiúde convidado para monitorizar e avaliar a conceção e execução de políticas públicas. Mas não queiram os peritos invocar uma sacrossanta autoridade quando, eles próprios, estão também expostos a fatores que contaminam a sua imaculada neutralidade. A Senhora insinuou, sem ter a coragem de os identificar, o que me pareceu torpe, pressões da indústria farmacêutica, mas em momento algum se referiu à sua condição de funcionária superior de um Governo, do qual é Diretora-Geral de saúde e que, por razões economicistas, não quer incluir estas vacinas! Relembro o aviso do filósofo e sociólogo Jürgen Habermas: não queira o “mundo do sistema” (pleno de regras, instituições, burocracias e normas) colonizar o “mundo da vida”, onde se expressam e comunicam as pessoas no quotidiano; não seja ele imune às necessidades e anseios das pessoas. Creio, Dr. ª Graça, que devemos caminhar, cada vez mais, para políticas sociais, incluindo as de saúde, de cariz universal, sem criar guetos estigmatizantes de “beneficiários” e “assistidos” e isso só se consegue generalizando os apoios e não sujeitando-os à lógica da urgência e dos mínimos sociais. Não há nada mais importante, acredite, do que a dignidade de cada um e cada uma ao sentir-se integrado de pleno direito e não por favor de outrem. Uma última questão: se tem netos (ou se não tem, imaginando tê-los) vaciná-los-ia? Agradeço o seu tempo e espero uma resposta.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha criança doença
Duas febres na mesma semana: Shoplifters e Ferrante
Os livros de Elena Ferrante encontram identificação em distintas gerações. Shoplifters, por sua vez, não nos toca por identificação, mas sim pelo murro no estômago que sentimos com alguma revolta pelo meio. (...)

Duas febres na mesma semana: Shoplifters e Ferrante
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181130180035/http://publico.pt/1853041
SUMÁRIO: Os livros de Elena Ferrante encontram identificação em distintas gerações. Shoplifters, por sua vez, não nos toca por identificação, mas sim pelo murro no estômago que sentimos com alguma revolta pelo meio.
TEXTO: Vimos chegar na mesma semana a Portugal o filme vencedor da Palma de Ouro em Cannes, Shoplifters, e o documentário sobre a saga de livros de Elena Ferrante. Gostei muito de ambos. O documentário porque não se foca na personalidade misteriosa que escreve estes livros, mas sim na razão pela qual a narrativa de A Amiga Genial, História de um Novo Nome, História de Quem Vai e de Quem Fica e História da Menina Perdida seduziu emocionalmente milhares de pessoas em todo o mundo, tendo vendido 30 milhões de exemplares. E é aliás esta sedução emocional que me faz juntar Shoplifters e a "febre" Ferrante na mesma crónica. Os livros de Elena Ferrante, que eu espero que sejam adaptados para o cinema um a um, encontram identificação em distintas gerações — o que não é tarefa fácil — e exploram de uma forma muito bonita a amizade entre duas mulheres, Lila e Lenù. Parafraseando a autora, "uma amiga mulher é tão rara quanto um amor verdadeiro". E quem não tem um pilar feminino nas suas vidas?Apercebi-me deste efeito intergeracional quando a minha mãe foi internada este ano e precisei de lhe levar um livro como distracção. Imediatamente, sem muito tempo para pensar, peguei na Amiga Genial, porque me recordei da bonita amizade que ela sempre descrevera com a Maria da Luz. Shoplifters, por sua vez, não nos toca por identificação, mas sim pelo murro no estômago que sentimos com alguma revolta pelo meio. Conseguimos ver espelhada na tela de cinema a nossa própria ética. O cinema pode e deve ter esta magia, ao expor friamente cenários improváveis de vidas que julgamos ficcionais mas que muitas das vezes não o são. Shoplifters confronta a violência infantil e uma extrema falta de amor versus o amor no seio de uma família de ladrões que passam a usar a criança nos seus roubos. Gente que rouba sobretudo em supermercados para sobreviver, o que atribui aliás o nome ao filme. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Esta dualidade entre certo e errado fez-me recordar o livro Ética para um Jovem, de Fernando Savater, que li ainda adolescente e de vez em quando ainda folheio. A linha entre o certo e errado é, talvez, dos dilemas humanos mais difíceis de definir e a magia deste filme está aqui. Será melhor para a criança ter amor e um futuro condenado a uma vida de criminalidade, ou viver sem conhecer o amor incondicional, podendo frequentar a escola e seguir o seu rumo?Nunca nos perguntamos mas não é por acaso que as moedas têm dois lados distintos e podemos todos aprender com isso em vários momentos da nossa vida sobretudo nos momentos de dúvidas e questionamentos. É que, no fundo, não existe, nem tem de existir, um lado mais certo ou mais errado, um lado verdadeiro ou falso. Existem dois lados e os dois são em si mesmos, verdadeiros. Por fim, é delicioso ver como este filme quebra o conservadorismo japonês, e uma vez mais expõe a realidade que nos contei na última crónica — o que vem do Japão está na moda e ainda bem.
REFERÊNCIAS: