Devem ser os deputados a aprovar vacinas? Decisão é polémica
Especialistas ouvidos pelo PÚBLICO afirmam que vacinas são seguras e eficazes, mas alguns criticam o facto de a decisão de mexer no Programa Nacional de Vacinação ter sido tomada no Parlamento e não pelos técnicos que estudam estas matérias. (...)

Devem ser os deputados a aprovar vacinas? Decisão é polémica
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.55
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Especialistas ouvidos pelo PÚBLICO afirmam que vacinas são seguras e eficazes, mas alguns criticam o facto de a decisão de mexer no Programa Nacional de Vacinação ter sido tomada no Parlamento e não pelos técnicos que estudam estas matérias.
TEXTO: O Parlamento aprovou nesta terça-feira, com os votos contra do PS e a abstenção do CDS, a proposta do PCP que introduz no Programa Nacional de Vacinação (PNV) as vacinas contra o rotavírus, que é responsável por gastroenterites, e contra a meningite B, actualmente dada gratuitamente a crianças em situações clínicas muito graves. Para além disso, alargou a vacina contra o Papiloma Vírus Humano (HPV) aos rapazes. Esta já faz parte do PNV, só que apenas para as raparigas. Mas são os deputados as pessoas mais indicadas para aprovar vacinas?Se ninguém coloca em causa a eficácia e a segurança das mesmas, nem todos os especialistas ouvidos pelo PÚBLICO estão de acordo quanto a quem deve tomar este tipo de decisões. “De uma forma geral entendemos que melhorar a cobertura vacinal é algo positivo. Não está em causa a bondade da decisão, agora deve ser tomada sob proposta de quem tem os dados científicos. Deve ser suportada por uma comissão técnica de vacinação, que é um órgão que existe”, afirmou Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública. Para o médico “estas são questões técnicas, que têm de ser suportadas do ponto de vista técnico”. “Depois, o decisor, seja o Parlamento ou Governo, pode implementar as recomendações emitidas pela comissão técnica de vacinação. Parece-nos um precedente perigoso substituir o que é técnico por aquilo que é político”, salientou. Não é a primeira vez que o facto de os deputados pretenderem decidir sobre fármacos dá origem a polémica. Em Outubro, o Parlamento debateu (e acabou por chumbar) uma proposta do PAN que pretendia evitar o alegado consumo abusivo de medicamentos para a hiperactividade, como a Ritalina, proibindo a sua prescrição pelos médicos a menores de seis anos. O psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Pedro Afonso, foi uma das vozes que contestou a iniciativa: “Está aqui a abrir-se um precedente perigoso, o do poder político se meter no acto médico. ”Nesta quarta-feira, o bastonário dos médicos foi igualmente muito crítico quanto à forma como a decisão de alterar o PNV foi tomada. "Acho que é uma má decisão da Assembleia da República, por ser feita sem ouvir a Direcção-Geral da Saúde, e é uma falta de respeito pelos profissionais de saúde e pela própria Direcção-Geral da Saúde", afirmou Miguel Guimarães, sublinhando que "é fundamental que todas as vacinas do PNV tenham uma análise e um acordo baseado na evidência científica". Citada pela RTP, a ministra da Saúde sublinhou também que "cabe à Direcção-Geral da Saúde (DGS) e à comissão técnica [que a integra] fazer a avaliação e a recomendação” das vacinas a incluir ou não no programa nacional. “A inclusão que foi feita não foi antes preconizada pela DGS. Estamos a avaliar o sentido da redacção da norma que vai sair [do Orçamento do Estado]. Estamos a falar de três vacinas: para o rotavírus, meningite B e o HPV para os rapazes. Quanto às duas primeiras, a comissão técnica não tinha concluído pela necessidade da sua universalização”, disse Marta Temido. Embora não façam parte do PNV, estas vacinas são recomendadas pelos pediatras por serem eficazes e seguras. Para o rotavírus existem duas disponíveis no mercado, comercializadas pela Merck Sharp & Dohme e a Smith Kline & French Portuguesa. Os esquemas vacinais variam entre as três e as duas doses e os custos totais entre os 153 os 119 euros, respectivamente. Também para o HPV existem duas vacinas disponíveis em Portugal, com graus de protecção diferentes. São comercializadas pela Merck Sharp & Dohme e pela GlaxoSmithKline. Os valores, dependendo do número de doses e da escolha da marca, podem variar entre os 91 euros e os 436 euros. Para a meningite B, as opções também são duas, comercializadas pela GlaxoSmithKline e pela Pfizer. Dependendo do número de doses e da marca, os valores variam entre os 190 euros e os 380 euros. É por quebrar a barreira do acesso por causa dos custos, que o pediatra Mário Cordeiro aplaude a decisão tomada pelos deputados. “Os partidos que propuseram a medida estão de parabéns, bem como os que a aprovaram. Esta medida impunha-se, não só pelos benefícios de saúde pública que tem, mas também pela diminuição das desigualdades sociais. ”Para o médico, que já fez parte da comissão técnica de vacinação, “estas três vacinas são imprescindíveis”. “Esta foi uma coisa boa que os deputados fizeram, ainda mais que, com o concurso público internacional [obrigatório quando a DGS faz aquisição], as vacinas ficam a um terço do preço de venda ao público. Como pediatra, acho que a comissão técnica já se devia ter prenunciado. A vacina contra a meningite B devia ser universal e ainda bem que os deputados não estiveram à espera da decisão”, afirmou, lembrando que o desígnio do PNV é garantir uma cobertura universal da vacinação. Questionado sobre o facto de a decisão ter sido tomada no Parlamento, Mário Cordeiro não partilha das posições demonstradas por outros médicos. “Propuseram porque outros países na Europa, com epidemiologia igual à nossa, como o Reino Unido, têm vindo a tomar esta opção e existem vários órgãos e comissões de pediatria que aconselham. É uma medida que tem base científica”, afirmou, lamentando que o PS tenha votado contra. No início deste ano, a comissão de vacinas da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP) fez uma actualização das suas recomendações sobre as vacinas não contempladas PNV. E aconselha as crianças a fazer as três agora aprovadas. “O que a SPP tem dito é que se justifica a vacinação a todas as crianças a título individual. As vacinas são seguras e eficazes e a quem as pode comprar, recomendamos que o faça”, disse Luís Varandas, pediatra e coordenador da comissão de vacinas da SPP. Diz que está “satisfeito" com a decisão do Parlamento, "até por uma questão de equidade”. Luís Varandas admitiu contudo que seria mais difícil recomendar a introdução destas vacinas no PNV "porque não está em causa apenas a segurança e a efectividade" das mesmas. “Está também o custo que isso representa para o Ministério da Saúde. Esse habitualmente precisa de um estudo um pouco mais elaborado para se decidir que não há dúvidas" que o dinheiro que se vai gastar numa vacina compensa os resultados que se vai obter com uma universalização. Numa opinião pessoal, Luís Varanda considerou que “o Parlamento legislou num campo que não é dele”. “Legislarem sem consultarem órgãos e comissões técnicas não fica muito bem. Isto é uma medida política. Porque fizeram isto este ano e não no ano passado? As vacinas não são novas. Acho que é uma medida eleitoralista. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Não é a primeira vez o Parlamento debate a introdução de vacinas no PNV, mas tinha-o feito através de meras recomendações ao Governo e não em forma de lei. Carla Cruz, deputada do PCP, explicou que o objectivo do partido “foi melhorar a acessibilidade, garantir a universalidade e proteger a saúde da comunidade”. “Existem vários estudos científicos que mostram a importância das crianças serem vacinadas contra estas doenças e quisemos dar consequência aos estudos e dotar o PNV com mais vacinas que permitem maior imunização”, salientou. Também o BE, o PEV e o PAN tinham propostas no mesmo sentido. Questionada sobre se tinham contactado a comissão técnica da DGS antes de fazer a proposta de lei, Carla Cruz disse que não. “Sem prejuízo da avaliação da comissão técnica, existem vários estudos científicos que mostram a efectividade das vacinas e sustentam este alargamento”, afirmou, salientando que não está em causa a competência da comissão técnica nem nenhuma intenção de condicionar o seu trabalho. Mas também lembrou que a comissão tem estas matérias em estudo há muito tempo.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PAN PCP BE PEV
Inspecção responsabiliza enfermeira em greve e médicos por morte de feto
Caso deu-se em 2017 durante protesto dos enfermeiros obstetras. Exame de rotina a grávida de risco internada no Hospital de Santa Maria podia ter dado o alerta. Não foi feito. (...)

Inspecção responsabiliza enfermeira em greve e médicos por morte de feto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Caso deu-se em 2017 durante protesto dos enfermeiros obstetras. Exame de rotina a grávida de risco internada no Hospital de Santa Maria podia ter dado o alerta. Não foi feito.
TEXTO: A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) concluiu que uma enfermeira e três médicos violaram o “dever de cuidado que lhes era exigível”, tendo responsabilidade na morte de um feto durante a “greve de zelo” dos enfermeiros obstetras, no Verão do ano passado, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. O caso está ser investigado pelo Ministério Público. Há cinco arguidos. Na tarde de 23 de Agosto do ano passado, uma grávida de 33 semanas deu entrada na urgência do Hospital de Santa Maria, onde era acompanhada desde os primeiros meses de gestação. Na casa dos 20 anos, com antecedentes de problemas respiratórios e cardíacos, a grávida apresentava restrição do crescimento fetal – o feto era mais pequeno do que esperado, estava no percentil 6, 8 –, alterações do fluxo urinário e uma infecção respiratória. Ficou internada para “indução da maturidade pulmonar fetal e vigilância do bem-estar fetal”, segundo o diário clínico citado pelo relatório do inquérito da IGAS a que o PÚBLICO teve acesso. Foi-lhe prescrito, entre outros exames de vigilância, uma cardiotocografia (CTG) — um exame complementar de diagnóstico que avalia o bem-estar fetal. Esta deveria ser feita “uma vez por turno”. No entanto, na noite de 24 de Agosto, a segunda do seu internamento, nem enfermeiros nem médicos fizeram a CTG de rotina às mulheres internadas na obstetrícia. Era o primeiro dia do segundo protesto do movimento dos Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia, em que estes deixaram de exercer funções especializadas como forma de reivindicar uma diferenciação salarial. Por esse motivo, a única enfermeira especialista no turno da noite informou as utentes de que estava apenas a prestar cuidados gerais, deixando a mesma nota no resumo diário dos registos de enfermagem. “Declino responsabilidades nos superiores hierárquicos”, escreveu. Na equipa estava ainda uma enfermeira generalista e uma assistente operacional. Uma hora depois de iniciar o turno, às 23h30 de 24 de Agosto, a enfermeira especialista ligou para a equipa médica do serviço de urgência questionando quem iria prestar os cuidados especializados que estavam prescritos, nomeadamente a CTG e a auscultação de focos fetais. O chefe de equipa respondeu “que aqueles cuidados não iriam ser realizados pela equipa médica durante o seu turno”, o contrário do que tinha acontecido durante o dia, uma vez que “não tinha médicos disponíveis”. Acrescentou “que a responsabilidade pelo incumprimento do que estava prescrito nas folhas terapêuticas seria inteiramente da própria” enfermeira especialista. “Com base nessa informação, a enfermeira assumiu como decisão médica a não realização desses cuidados”, sublinhou a IGAS. Tomou esta decisão (sabendo que era a única enfermeira naquele turno que podia fazer a CTG de rotina, que os médicos não a fariam e que a grávida em questão necessitava de monitorização constante) “apenas porque estava de protesto”, afirma a inspecção. Esta recusa teve “eventuais repercussões no desenvolvimento do seu quadro clínico”. A IGAS apoia-se num parecer do conselho consultivo da Procuradoria-Geral da República, conhecido pouco mais de uma semana antes destes eventos, que considerava que não havia enquadramento legal para os enfermeiros em greve de zelo recusarem funções que lhes fossem atribuídas, pelo que podiam ser responsabilizados civil e disciplinarmente. A grávida queixou-se pela primeira vez perto da uma da manhã de dia 25, com dor pélvica e lombar e vómitos. Na urgência estava o chefe de equipa e quatro médicas, duas das quais internas de 2. º e 5. º anos, apurou o PÚBLICO. A médica chamada para a observar medicou-a com um profiláctico para vómitos e náuseas. Cerca de duas horas depois a grávida repetiu as queixas, tendo uma enfermeira administrado um analgésico conforme indicado por outra médica ao telefone. Na passagem de turno, pouco depois das 8h, a equipa de enfermagem notou que a grávida tinha “perda moderada de sangue vivo por via vaginal”. Não são detectados batimentos cardíacos fetais e confirma-se a morte do feto. A perita médica ouvida pela IGAS considerou que uma CTG poderia ter revelado algum sinal de alarme. A inspecção aponta também responsabilidades ao médico chefe de equipa, por ter dado instruções às quatro médicas para não realizarem o exame de rotina. Acrescenta que se este considerava que não tinha condições de trabalho o devia ter explicado numa declaração de autodefesa, mecanismo criado pela Ordem dos Médicos para proteger os clínicos nestas situações. O próprio admitiu, quando questionado pela inspecção sobre se foram prestados todos os cuidados exigíveis, que “olhando só os registos clínicos, eventualmente, não”. A mesma perita concluiu que a assistência médica prestada à grávida “foi de certo modo deficitária, decorrente provavelmente da conjugação de vários factos: greve dos enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia", que condicionou o trabalho de equipa, e “algum ‘facilitismo’ por parte dos médicos”, que fizeram uma “observação deficiente/não observação da grávida”. A IGAS propôs, por isso, que três médicos (o chefe de equipa e as duas internas) fossem alvo de procedimento disciplinar. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Contactado pelo PÚBLICO, o Centro Hospitalar Lisboa Norte, onde se integra o Santa Maria, não se pronuncia sobre o caso, ficando por esclarecer se os clínicos foram ou não alvo de sanções disciplinares. Certo é que a enfermeira especialista em causa não foi alvo de processo disciplinar, uma vez que renunciou ao contrato de trabalho no próprio dia 25 de Agosto de 2017 e trabalha agora noutro hospital. Segundo o Código do Trabalho, citado pela IGAS, “o empregador tem poder disciplinar sobre o trabalhador ao seu serviço enquanto vigorar o contrato de trabalho”. O caso passou, em Fevereiro, para as mãos do conselho jurisdicional da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros que, contactado pelo PÚBLICO, fez saber apenas que decidiu suspender o processo até que esteja concluído o inquérito judicial a decorrer no Ministério Público. O Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa continua a investigar, tendo constituído cinco arguidos. O processo encontra-se em segredo de justiça.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte trabalhador mulheres
Morreu João Branco, metade dos Storytailors e designer do romântico e das histórias
Com Luís Sanchez, o designer formou uma das marcas mais reconhecíveis da moda portuguesa. Sector recorda criador com "sensibilidade transcendental”, com "um universo muito próprio", focado no trabalho de "laboratório". Tinha 40 anos. (...)

Morreu João Branco, metade dos Storytailors e designer do romântico e das histórias
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.08
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Com Luís Sanchez, o designer formou uma das marcas mais reconhecíveis da moda portuguesa. Sector recorda criador com "sensibilidade transcendental”, com "um universo muito próprio", focado no trabalho de "laboratório". Tinha 40 anos.
TEXTO: O designer de moda João Branco, metade da dupla Storytailors, morreu na segunda-feira, aos 40 anos. A notícia foi dada pela marca nas redes sociais, e avançada pela Lusa, sem ser divulgada a causa da morte. "Inundados por um mar de dor e tristeza, informamos que faleceu a noite passada o nosso querido João Branco", lê-se numa mensagem publicada esta terça-feira, acompanhada de versos de Fernando Pessoa. João Branco nasceu em Lisboa em 1978 e ingressou em 1996 no curso de Design de Moda na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Foi aí que conheceu Luís Sanchez, com quem, anos mais tarde e depois de concluírem o curso, formaria a dupla Storytailors. Durante o curso, “percebem que têm universos estéticos comuns e que o seu trabalho se complementa”, refere a biografia no site da marca. O trabalho dos Storytailors sempre foi diferente. Distintivo, era inconfundível tanto nas passerelles portuguesas da ModaLisboa (onde se estrearam em 2001, no concurso Sangue Novo, e depois onde debutaram como marca em 2004) quanto no Portugal Fashion, onde estiveram, além de nas suas edições nacionais, por cinco vezes em Paris a apresentar colecções. O ponto de vista pelo qual os dois designers se enamoraram era facilmente identificável por todos os que um dia ouviram e contaram histórias. Eram os designers dos contos de fadas, dos corpetes, dos corpos fantasiosos e das mulheres, mas também dos rapazes, das aventuras, dos sonhos e da literatura. O vestuário dos Storytailors era “de uma plasticidade onírica, com uma enorme sensibilidade para trabalhar os tecidos. A técnica de Moulage [ou draping, que faz a modelagem do tecido directamente no corpo ou manequim] nas mãos deles parece fácil, sente-se a dedicação e o amor nesse saber trabalhar o tecido e o corpo”, descreve esta terça-feira a designer Alexandra Moura ao PÚBLICO. Descreve João Branco – de quem era amiga além de colega de profissão com quem sempre partilhou “ideias, processos, formas de estar na vida” – como “um homem de uma sensibilidade incrível, com um universo interior muito rico. De uma delicadeza e cuidado incansável. Alguém com uma sensibilidade transcendental”. Eduarda Abbondanza, presidente da ModaLisboa, já acompanhava os criadores desde os tempos de faculdade, pois foi sua professora durante dois anos. João Branco “era uma pessoa com um universo muito próprio. Ele era um criativo e tinha mesmo de fazer aquele trabalho. Era focado, determinado e obcecado por aquilo, já desde a escola”, conta ao PÚBLICO. A ligação ao vestuário antigo e, mais concretamente, à estrutura do corpete é uma das vertentes mais evidentes do ADN da marca. “Foi comigo que ele construiu o primeiro corpete, a partir de um corpete da minha bisavó. Tirou os moldes e, a partir daí, começou um estudo mais intenso sobre o corpete”, conta Eduarda Abbondanza, que destaca precisamente esta vertente de “laboratório” de investigação do vestuário antigo, que a dupla transportava “para os dias de hoje”. “Há uma complementaridade total entre os dois”, assinala Valentina Garcia, sócia e directora executiva da Storytailors desde há cinco anos. “Eles conheceram-se na faculdade e trabalham de uma forma muito complementar. O João é a pessoa mais da forma e o Luís é a pessoa mais da matéria”, conta, continuando a falar no presente. Retrata-o como uma pessoa sensível. “Como criador, tinha um imaginário inacreditável. Tinha uma competência extraordinária de passar do 3D [dos corpos] para o 2D [dos tecidos]. Ou seja, de imaginar como é uma determinada peça e de a materializar. ”Em 2006 inauguram o seu espaço na Calçada do Ferragial, em Lisboa, com loja e atelier. Instalam-se num edifício pré-pombalino dividido em três pisos, onde, segundo o site da marca, outrora eram armazenadas “especiarias, tecidos e pedras preciosas”. Há alguns anos que começaram a apresentar as suas colecções no Portugal Fashion, deixando a Moda Lisboa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mesmo quando iam a outras paragens beber inspiração, a sua roupa de autor era sempre romântica. Apoiada na construção entre o rígido dos corpetes e o vaporoso das saias, os Storytailors, marca cujo futuro fica agora em aberto, são dramáticos. Também por isso foram frequentemente convidados a colaborar com vários teatros, criando os figurinos de peças que subiram aos palcos dos teatros nacionais D. Maria II e S. João, do Teatro Municipal S. Luiz ou da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa; e tendo vestido os The Gift ou Mísia. Das capas de revistas — vestiram a revista Pública de Natal de 2011 — às preocupações comerciais, ultrapassaram um período de insolvência em 2012, regressaram à apresentação de colecções como a que levaram em Outubro deste ano ao Portugal Fashion. Valentina Garcia lembra que as três últimas colecções — que sob o mote da capicua, se centravam no conceito de fluidez — reflectiam a própria identidade do criador. “A vida e o trabalho criativo do João foram sempre sobre a liberdade. A liberdade de tudo: de criação, de poder ser, de género. E acho que estas colecções espelharam muito isso — o poder agarrar numa peça e misturar com outra e poder assumir várias identidades, poder ser outra pessoa e outro tempo. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte escola homem género estudo mulheres corpo faleceu
Um Natal vestido de vermelho... por dentro
Já sabe o que vai vestir durante as festas? E quanto à lingerie? (...)

Um Natal vestido de vermelho... por dentro
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Já sabe o que vai vestir durante as festas? E quanto à lingerie?
TEXTO: Se antes já havia o drama de não saber o que vestir na noite e no dia de Natal agora, e graças às marcas de roupa interior, há mais um dilema: o que vestir por debaixo do que vamos vestir na noite e no dia de Natal?A lingerie vermelha é a sugestão de muitas marcas e algumas estão mesmo a criar modelos propositadamente para a época como é o caso da portuguesa Type que desenhou não só lingerie mas também um biquíni e um fato de banho num encarnado forte. Também a Cantê, marca portuguesa de biquínis, se lançou na área da lingerie e criou modelos para este Natal. As lojas, online e físicas, têm modelos desenhados ou escolhidos intencionalmente para esta altura, como é o caso da Dama de Copas que seleccionou uma série de modelos porque, justifica, as mulheres “procuram coisas diferentes e interessantes para esta altura, tanto para si como para oferecer como presente”. Mas há mais, veja na fotogaleria em cima.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulheres
Pela primeira vez, um bebé recebeu uma vacina entregue por drone
Espera-se que no futuro este método chegue a outras áreas remotas. Por agora, irão ser feitos mais testes noutras localidades de Vanuatu. (...)

Pela primeira vez, um bebé recebeu uma vacina entregue por drone
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Espera-se que no futuro este método chegue a outras áreas remotas. Por agora, irão ser feitos mais testes noutras localidades de Vanuatu.
TEXTO: Em Vanuatu, um bebé com um mês tornou-se a primeira pessoa do mundo receber uma vacina distribuída por um drone, anunciaram as Nações Unidas. Aumenta assim a esperança de que este método possa salvar vidas noutras áreas remotas. O drone voou 25 minutos ao longo de 40 quilómetros de terrenos montanhosos para chegar até à baia de Cook, uma área da ilha de Erromango. Chegar até lá pode levar várias horas a pé ou de barco. O Governo de Vanuatu tornou-se agora o primeiro do mundo a contratar uma empresa de drones comerciais para distribuir vacinas, de acordo com a Unicef, que na terça-feira designou o sucesso deste teste como “um grande salto para a saúde mundial”. Além do bebé, o primeiro a ser vacinado, ao todo uma enfermeira vacinou 12 crianças e cinco mulheres grávidas contra a poliomielite e a tuberculose. “É algo muito inovador. Espero que se estenda a uma região ainda maior”, afirmou na quarta-feira Gina Dehinavanua, da agência humanitária Care International. “Irá ajudar as nossas crianças e garantirá que todas aquelas que tenham entre os zero e os cinco anos tenham todas as vacinas necessárias em dia”, disse por telefone à agência Reuters a partir de Port Vila, a capital de Vanuatu. Esta nação do Pacífico, com cerca de 280 mil pessoas espalhadas por aproximadamente 80 ilhas, é um dos países mais pobres do mundo. Apenas cerca de um terço dos habitantes destas ilhas tem a aeródromos e a estradas acessíveis. Em cada mil bebés que nascem em Vanuatu, 28 morrem antes de completar os cinco anos, de acordo com os dados da Unicef de 2016, enquanto apenas um em cada cinco crianças é vacinada. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As vacinas são difíceis de transportar porque precisam de se manter conservadas em temperaturas específicas. Durante o voo do drone, as vacinas foram mantidas em caixas de esferovite (para isolamento térmico) com sacos de gelo e um sensor de temperatura. “O mundo ainda continua a lutar para imunizar as crianças nos locais mais remotos e os drones podem mudar as regras do jogo e fazer com que se alcancem todas as crianças”, disse Henrietta Fore, directora-executiva da Unicef, em comunicado. As entregas usando drones irão ser testadas em mais localidades ao longo do arquipélago, antes de o Governo de Vanuatu decidir se o método será aplicado de forma mais abrangente. Embora os drones já tenham sido usados antes em entregas de medicina, nunca foram utilizados para fins humanitários em larga escala.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulheres humanitária
As selfies são tantas que até “porno” dá para fazer com elas
Um programador criou um algoritmo que lhe permite embutir, sem grandes recursos, rostos famosos como os de Gal Gadot ou Scarlett Johansson em vídeos pornográficos. (...)

As selfies são tantas que até “porno” dá para fazer com elas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um programador criou um algoritmo que lhe permite embutir, sem grandes recursos, rostos famosos como os de Gal Gadot ou Scarlett Johansson em vídeos pornográficos.
TEXTO: Há mais uma caixa de Pandora ao virar da esquina: já é possível “colar” qualquer rosto a outro corpo numa imagem em movimento, mesmo sem acesso a tecnologia de ponta nem à necessidade de convocar uma equipa multidisciplinar, com um resultado razoavelmente credível. O que significa que o número de vídeos manipulados, sobretudo com figuras públicas, devem começar a crescer e a levantar dúvidas a respeito da autenticidade do que vemos. Nos sites de pornografia, é comum encontrar rostos de actrizes ou cantoras de primeira linha forçados em imagens; títulos de vídeos com os seus nomes, apesar de serem protagonizados por mulheres fisicamente parecidas; ou até nomes artísticos de profissionais de filmes para adultos que remetem para estrelas do cinema, da música ou da moda. Funciona por aproximação: quem está no ecrã permite, tanto quanto possível, fantasias impossíveis. Um programador não identificado conseguiu levar esta prática mais longe. Com um simples computador e software acessível a todos (open source), desenvolveu um algoritmo para dar às actrizes de vídeos pornográficos caras de gente tão famosa quanto Gal Gadot (no gif abaixo), Scarlett Johansson, Maisie Williams ou Taylor Swift. E publicou-os no Reddit, sob o pseudónimo “deepfakes”. Excerto de vídeo feito com o rosto de Gal Gadot, a estrela de "Wonder Woman"O resultado não é o mesmo que ver uma rejuvenescida Carrie Fisher ou um ressuscitado Peter Cushing em Rogue One: Uma História de Star Wars, nem um também renascido Paul Walker em Velocidade Furiosa 7 ou o fino recorte da cabeça de Lena Headey sobre o corpo de Rebecca Van Cleave no caminho de expiação percorrido por Cersei Lannister em A Guerra dos Tronos. Mas a ferramenta ainda está a aperfeiçoar-se. E pode sempre aparecer outra melhor. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O problema ético é evidente: usa-se à revelia a identidade de alguém em situações sobre as quais essa pessoa não tem controlo. As implicações não se restringem ao entretenimento para adultos ou à “pornografia de vingança”. O que acontecerá quando um político figurar num vídeo comprometedor, ou alguém for incriminado desta forma? Mais debates frame a frame, mais teorias da conspiração. Acresce que o algoritmo recorre a imagens disponíveis online para conhecer cada ponto do rosto a inserir e assim poder adaptá-lo com naturalidade à acção corporal; quanto mais houver, melhor é o resultado. Ou seja, as selfies que tanto partilhamos podem voltar para nos assombrar. A rubrica Tecnologia encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICOA rubrica Tecnologia encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra mulheres corpo
António Arnaut quer profissionais de saúde com carreira idêntica à magistratura
O chamado "pai" do Serviço Nacional de Saúde lançou o apelo no dia em que completa 81 anos de vida. (...)

António Arnaut quer profissionais de saúde com carreira idêntica à magistratura
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-05-30 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20180530193000/https://www.publico.pt/n1760006
SUMÁRIO: O chamado "pai" do Serviço Nacional de Saúde lançou o apelo no dia em que completa 81 anos de vida.
TEXTO: O impulsionador do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António Arnaut, defendeu neste sábado, em Coimbra, a necessidade de "acabar com o subfinanciamento" do SNS e de criar uma carreira para os profissionais do sector idêntica à dos magistrados. António Arnaut lançou o apelo no dia em que completa 81 anos de idade, durante uma sessão de homenagem promovida pelas escolas superiores de Enfermagem (ESEnfC) e de Tecnologia da Saúde (ESTeSC) de Coimbra, durante a qual foi dado o nome do ministro dos Assuntos Sociais no II Governo Constitucional ao auditório comum aos dois estabelecimentos de ensino. "O financiamento [do SNS] é deficiente, mas sobretudo é preciso recriar as [suas] carreiras profissionais como carreiras de função pública", fazendo com que "haja uma carreira tendencialmente de exclusividade", disse António Arnaut. "A sustentabilidade do SNS não está no seu orçamento, mas no modo como são respeitados e motivados os seus profissionais", que devem, "não de forma obrigatória", poder "optar pela exclusividade", mas "dando-lhes boas condições de trabalho e condições dignas de remuneração", sustentou. À margem da cerimónia, que decorreu ao final da manhã, explicitando a ideia (que "há muito tempo" vem defendendo), António Arnaut afirmou aos jornalistas: essa carreira deveria ser criada "à semelhança dos juízes, dos magistrados", com "regalias, digamos assim, idênticas às dos juízes". "Os juízes tratam da nossa liberdade e dos nossos interesses legítimos", mas "os médicos, os enfermeiros, os profissionais de saúde" tratam da "nossa saúde e da nossa vida", salientou. Trata-se de uma "carreira tendencialmente de exclusividade para quem por ela queira optar", mas assegurando "estabilidade, formação permanente, equipas" e outras "condições dignas de trabalho e de remuneração", sintetizou. Na sessão de homenagem, dirigindo-se ao presidente do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), que representava o ministro da Saúde, António Arnaut pediu a José Martins Nunes para transmitir ao ministro Adalberto Campos Fernandes que "o apoia", mas que é "um apoiante crítico", sempre atento às suas decisões. "Diga-lhe que estou vivo, graças ao SNS", mas que para ele e "muitos cidadãos portugueses continuarem vivos e saudáveis, dentro das circunstâncias, é preciso que o SNS não definhe, é preciso inverter a marcha de uma certa paragem, consequência de políticas erradas dos últimos tempos, e voltar aos velhos princípios da solidariedade e da esperança", que presidiram à criação do SNS. "E se a minha voz chegar a Lisboa", o primeiro-ministro, António Costa, "saiba que não há democracia sem que seja reconhecido o direito à saúde de todos os portugueses sem quaisquer limitações e que a soberania de um país também está na forma como se exerce o direito à saúde", acrescentou. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A homenagem "pretende ser um agradecimento ao homem que criou o SNS, mas ele não seria preciso para deixar António Arnaut na História", sustentou Jorge Conde, presidente da ESTeSC, referindo que bastariam as condições de advogado e de escritor do homenageado para ele "ficar na História". Mesmo assim, Jorge Conde recordou alguns aspectos da vida de António Arnaut, desde a oposição à ditadura, à fundação do PS ou à intervenção cívica. "Ao homenagear António Arnaut queremos também manifestar e deixar para memória futura um forte e profundo reconhecimento e gratidão a um conjunto de homens e mulheres", a maioria dos quais "anónimos, que, com o nosso homenageado", lutaram para que se "fizesse Abril em Portugal" e para que "a democracia acontecesse", afirmou, por seu lado, a presidente da ESEnfC, Maria da Conceição Bento. Este acto pretende também contribuir para que os alunos de ambas as escolas aprendam "sobre e com a história de António Arnaut" e não apenas por ter sido o fundador do SNS, mas "principalmente sobre os grandes valores que nortearam e norteiam toda a sua vida e que são e serão sempre indispensáveis à manutenção, desenvolvimento e consolidação do SNS", salientou Maria da Conceição Bento.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Filipa chorou “desalmadamente” quando viu suspenso o sonho de ser mãe
Depois de 1300 euros investidos, mulher viu suspenso tratamento para engravidar com dador anónimo. Especialistas defendem “regime transitório” e lembram que o próprio Tribunal Constitucional admite o anonimato quando haja “razões ponderosas”. (...)

Filipa chorou “desalmadamente” quando viu suspenso o sonho de ser mãe
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-30 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20180530192852/https://www.publico.pt/n1818894
SUMÁRIO: Depois de 1300 euros investidos, mulher viu suspenso tratamento para engravidar com dador anónimo. Especialistas defendem “regime transitório” e lembram que o próprio Tribunal Constitucional admite o anonimato quando haja “razões ponderosas”.
TEXTO: A notícia atingiu Filipa Sousa com a eficácia de um tiro à queima-roupa. “Na segunda-feira, quando esperava o telefonema de uma enfermeira a marcar a data da segunda tentativa [de inseminação], quem me ligou foi o meu médico a dizer que, afinal, o tratamento não podia continuar. Chorei desalmadamente, como se não houvesse amanhã”, recordou ao PÚBLICO. À beira de completar os 37 anos de idade, Filipa é uma dos milhares de pessoas afectadas pela orientação dada sexta-feira pelo Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA) aos cerca de 30 centros de fertilização existentes no país no sentido de suspenderem os tratamentos de fertilização com recurso a dadores anónimos. Estes só poderão continuar quando se consiga obter dos dadores autorização para a utilização dos embriões ou gâmetas doados no pressuposto do anonimato a que o Tribunal Constitucional veio pôr fim. “Já andava com níveis de ansiedade altos, porque o processo é de si muito melindroso psicologicamente, por mais fortes que sejamos em termos emocionais. Tinha gastado 900 euros na primeira tentativa, que não resultou, e, para esta segunda tentativa, já ia em 400 euros de gastos, entre ecografias e injecções de estimulação hormonal. Mas o pior é que sei que daqui a cinco ou seis meses o meu corpo já não responderá da mesma forma. E o meu receio é que o problema desencadeado pelo Tribunal Constitucional fique agora metido numa gaveta sem solução à vista”, acrescenta esta candidata a mãe que, por não ter parceiro, decidira fazer inseminação com recurso a dador anónimo. “Sempre quis ser mãe biológica, sabendo que reúno todas as condições psicológicas, financeiras e o apoio de familiares e amigos. Quando, no final de Agosto, iniciei o processo - e fi-lo no privado para evitar as listas de espera a que estaria sujeita no sector público - nada fazia duvidar da normalidade na aplicação da lei [que alargou a procriação medicamente assistida às mulheres sozinhas]. Quem podia esperar que, dois anos após a vigência de uma lei, a vida de tantas pessoas seria colocada em suspenso?”, enquadra Filipa Sousa, recuperando os argumentos que expôs na carta que enviou, entretanto, ao CNPMA, seguida de um apelo escrito ao presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Filipa não está sozinha. Segundo Alberto Barros, director de um centro de fertilidade, o fim do anonimato dos dadores afecta milhares de pessoas que constituem “um grupo silencioso que não vai manifestar-se em frente ao Parlamento nem à porta do Tribunal Constitucional (TC) porque vive o problema no recato familiar”. Em causa está o facto de, à boleia do pedido de verificação da constitucionalidade da lei que regulamenta a gestação de substituição, o TC ter considerado que a regra do anonimato dos dadores de material genético com vista a possibilitar a fecundação da mulher atenta contra o direito à identidade pessoal e genética da criança. Na sequência deste acórdão, o CNPMA perguntou em comunicado pelo destino a dar aos embriões criopreservados produzidos com recurso a gâmetas de dadores anónimos. E anteviu uma “redução significativa dos potenciais dadores com repercussões negativas para os beneficiários”, alertando ainda para a discriminação que daqui resulta entre a compatibilização do direito das pessoas nascidas com recurso a gâmetas ou embriões doados em regime de anonimato com o direito dos dadores à manutenção do sigilo quanto à sua identidade legalmente consagrado à data da doação”. No centro de PMA dirigido por Vladimiro Silva, o remédio para não suspender os tratamentos em curso foi recorrer ao banco de esperma da Dinamarca, que trabalha com doadores não anónimos, por um lado, e, por outro, telefonar a alguns dadores que se disponibilizaram para abdicar da garantia de anonimato. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Porém, a longo prazo, o especialista acredita que num país que, como Portugal, sofre de uma crónica falta de dadores mesmo sob anonimato o que está em causa é a possibilidade de continuar a assegurar os tratamentos de procriação medicamente assistida. “Muitos dos tratamentos estavam a ser feitos por via da importação de células a partir de Espanha, mas este recurso fica agora também posto em causa porque em Espanha vigora o anonimato que deixamos de poder garantir”. No limite, conclui Vladimiro, “a questão que se colocará não é a de saber se a criança tem ou não direito a conhecer o pai mas a nascer ou a não nascer”. Sem condenar a reacção “defensiva e prudente” do CNPMA, o médico alcandora-se no próprio acórdão do TC e nas leituras contraditórias que dele fazem vários constitucionalistas para defender que há aqui a possibilidade de criar um regime de transitoriedade que permita prosseguir com os tratamentos sem desperdiçar o material genético já doado. “O tribunal não baniu instantaneamente o anonimato. No artigo 80. º, admite a possibilidade de anonimato dos dadores quando haja razões ‘ponderosas’ para tal”, recorda. Ora, no seu entender, e à semelhança do que se passou em Inglaterra, aquando da transição para o não anonimato, deveria criar-se um período de transição em que vigoraria um sistema misto: “Os dadores com material já doado que queiram continuar anónimos devem ser autorizados a tal, vigorando o princípio do não anonimato para as doações feitas a partir de uma determinada data. ”Este regime de transitoriedade faz sentido também para Alberto Barros porque só assim será possível evitar a suspensão dos tratamentos em curso e a descongelação e a eliminação de “centenas e centenas de embriões” que foram doados no pressuposto do anonimato.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei tribunal mulher criança mulheres corpo discriminação ansiedade
Fidel, a tua ilha vai afundar?
Em 1994, o repórter do PÚBLICO Adriano Miranda passou três meses em Cuba. Em 2018, regressou à ilha para acompanhar a transição de poder que pôs fim à era dos Castro. Eis uma amostra do confronto desses dois momentos separados por 24 anos. (...)

Fidel, a tua ilha vai afundar?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em 1994, o repórter do PÚBLICO Adriano Miranda passou três meses em Cuba. Em 2018, regressou à ilha para acompanhar a transição de poder que pôs fim à era dos Castro. Eis uma amostra do confronto desses dois momentos separados por 24 anos.
TEXTO: A noite chegou. O burburinho das buzinas não abrandava. O trânsito continuava frenético. Nos passeios largos de uma qualquer avenida, casais com filhos sentavam-se junto das árvores. As copas faziam de telhado e os ramos de alicerces. Sacos de plástico faziam de móveis onde se guardava o pouco que havia. Sorriam para mim. Viviam ali. No passeio, debaixo de uma qualquer árvore. Estava em Bombaim. Na Índia, uma das maiores democracias do mundo. E viajar para fotografar nunca foi uma tarefa fácil. A miséria, além de cruel é hipocritamente fotogénica. É muito fácil resvalar. E ser um fotógrafo de merda. Índia. Uma das duas viagens que me marcaram e transformaram. Um murro no estômago. Os ricos, muito ricos, e os outros, os miseráveis. A humilhação. Milhões de pobres sem qualquer direito, por mais elementar que fosse. Numa das maiores democracias do mundo. Cuba. A outra viagem que me marcou e transformou. Um murro no coração. A primeira vez que aterrei em Havana foi em 1994. Vivia-se o auge do “período especial”. Ângela, com palavras calmas, explicava-me que numa semana as prateleiras ficavam vazias. As lojas fecharam. Com o fim da União Soviética e a queda do Muro de Berlim, as transacções comerciais acabaram. Com o bloqueio dos Estados Unidos a ajudar, Cuba ficou moribunda. Quis perceber que país era aquele. Que gente era aquela. Cuba para mim nunca foi um destino turístico. Foi um destino de reflexão. Vivi em casa de cubanos. Percorri a ilha. Trabalhei no campo. Senti na pele, porque quis deixar de ser português. Quis adoptar outra nacionalidade. E aprendi tanto, meu Deus!Na ilha da solidariedade os homens e as mulheres eram de outra fibra. Unidos, venciam as dificuldades. Todos tinham o que comer. Todos tinham escola. Todos tinham médico. Quase tudo o resto faltava. Menos a dignidade. A verticalidade. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Quando em Março de 1995 o avião sobrevoou Havana, disse adeus à ilha da solidariedade. Lá ficaram amigos. Uma vida baseada no colectivo para se ultrapassarem os tempos difíceis. Lá deixei alguma coisa. Mas os cubanos deram-me muito mais. Muito mais do que eu lhes dei. Ensinaram-me que a vida não se resumia a uma Coca-Cola gelada. Abril de 2018. O destino fez-me voltar a Cuba. De novo, com a máquina fotográfica. E Cuba está tão igual e tão diferente. O turbilhão das recordações e das comparações era inevitável. Agora, lojas cheias. De pessoas e produtos. Alfaces e flores. Artistas e associações. Turistas e dólares. Autocarros e calhambeques. Bandeiras dos Estados Unidos e de Cuba. Telemóveis de última geração e internet, mas só nos jardins. Sapatilhas de marca e filas para os teatros. Pequenos empresários e funcionários públicos. Segurança e simpatia. Escola na mais remota aldeia. Universidades em todas as províncias (só de Medicina são 21 faculdades). Saúde universal e gratuita para todos. Tolerância zero à droga e à corrupção. Eleições e partido único. Enganem-se aqueles que esperam ver em Cuba o paraíso ou o inferno. No jardim dos gelados Copélia, agora todo recuperado, um casal de namorados beija-se. Estão apaixonados. Nota-se bem. A baunilha mistura-se com o chocolate. Uma síntese perfeita da sociedade cubana. O socialismo a experimentar timidamente o capitalismo. E todos nós sabemos como é o capitalismo. É como aquele monstro dos filmes de Hollywood, nunca morre por mais tiros que leve, é viscoso, traiçoeiro e espalha-se por todo lado. Cuba irá render-se ao monstro? Não sei e duvido que alguém saiba.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens escola campo mulheres
Histórias de outro tempo
O filme de Marta Mateus, Farpões, Baldios, construído como um trabalho da memória de trabalhadores rurais do Alentejo, entra este sábado na competição nacional do Curtas Vila do Conde. (...)

Histórias de outro tempo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: O filme de Marta Mateus, Farpões, Baldios, construído como um trabalho da memória de trabalhadores rurais do Alentejo, entra este sábado na competição nacional do Curtas Vila do Conde.
TEXTO: Farpões, Baldios, o título da curta-metragem de Marta Mateus que tem este sábado estreia nacional no Curtas Vila do Conde depois da apresentação na Quinzena dos Realizadores do último Festival de Cannes, podia ser o início de um recitativo, como aqueles que as personagens pronunciam e declamam como se estivessem num palco. O palco é a paisagem de uma zona interior do Alentejo, as personagens são os trabalhadores rurais que, pelo recurso à memória, abrem o filme a uma temporalidade que não é a da lógica narrativa convencional. Aqui, quase só comparecem velhos e crianças: os primeiros para evocar o passado, os outros para avançar às arrecuas (como avança um deles, por uma estrada mal desenhada no meio dos campos, puxado por uma menina e com os olhos fixos no horizonte de que se vai distanciando) e para deixar o tempo suspenso entre o passado e o presente. As crianças abrem farpas na espessura temporal dos velhos. O filme, que está na competição nacional do Curtas Vila do Conde, não conta uma história, conta histórias condensadas das vidas dos trabalhadores rurais, do regime de trabalho duro a que foram sujeitos, do quase nada com que sobreviviam, da relação ritualizada com o seu mundo das origens, com uma paisagem primordial e severa de onde nascem as “fábulas míticas” (a expressão é de Pavese). Também não constrói uma ficção nem extrai testemunhos para um documentário. Não há nenhum procedimento historiográfico, nem etnográfico, nem sociológico, muito embora não proíba o espectador de ter em conta esses saberes e referências. A lógica deste filme é outra, o seu tempo é o da memória que não responde às exigências do encadeamento nem labora para a fábrica do contínuo com que o cinema veio a identificar-se. As imagens são quase sempre de uma beleza inaudita, mas não há nenhuma estetização ostensiva e retoricamente inócua. As personagens trazem para o filme uma linguagem primordial, pertencente a uma tradição oral, feita de ditos, rezas pagãs, contos populares, provérbios. E esta dimensão idiomática da linguagem alarga-se ao que no filme pertence a códigos não-verbais, muito especialmente as fisionomias e os gestos. Dir-se-ia mesmo que o filme foi feito para restituir os gestos e as palavras de que as pessoas foram espoliadas e que deixaram de ter valor no mercado social. A câmara evita exercer qualquer soberania técnica sobre as personagens. O movimento mais determinante de Farpões, Baldios é da ordem de uma tonalidade afectiva a que podemos chamar empatia. E a empatia, aqui, é sobretudo o efeito visível de uma escuta. A fala das personagens é para ser escutada, como um poema é para ser ouvido, porque quase nunca se adequa à dimensão pragmática e comunicativa da linguagem. As personagens falam numa língua que é um idioma comunitário, transmitido pela tradição oral: elas fazem ainda parte de uma civilização da oralidade, em extinção, sem a qual não existiria poesia. Aqueles homens e aquelas mulheres transportam consigo uma espécie de gravidade que faz deles “últimos homens” e “últimas mulheres”. Há uma dimensão literária evidente nesta curta-metragem de Marta Mateus (sem cair em afectações poéticas indesejáveis e perigosas) que advém do recurso às palavras reveladoras de um enraizamento mítico-simbólico com o espaço. Se quisermos definir o filme quanto ao género, em função de categorias literárias, podemos dizer que ele integra elementos narrativos, poéticos e dramáticos. A dimensão narrativa é a das histórias que são contadas de maneira concentrada e elíptica; a dimensão poética tem a ver sobretudo com a desactivação do contínuo narrativo e da linguagem da comunicação; a dimensão dramática é a do efeito teatral de todas aquelas vozes que tornam o passado presente. Esta presentificação não se serve de nenhuns outros recursos que não seja a memória. Em nenhum momento deste filme se quer mostrar em imagens aquilo de que se fala. Esse “realismo” é completamente estranho ao seu movimento e à sua estética. A memória condensa, expande, cria, ficciona. Transforma o real em imaginário. Ora, essa topologia imaginária que Farpões, Baldios restitui dá às suas personagens uma primazia que faz delas também autores do filme, no sentido em que determinam o modo de filmar. E, além delas, há a paisagem: árida, agreste, onde nunca se vislumbra um sinal que remeta para formas de vida contemporâneas. A paisagem não é aqui um cenário, um fundo. Pelo contrário, muitas vezes sentimos que as personagens são submersas por ela. Trata-se de uma integração forte e dolorosa entre o elemento humano, cultural e com história, e o elemento natural, que tem também certamente uma história, mas com outra temporalidade. Ora, o que esta curta-metragem tem de exemplar é o modo como faz dialogar os dois elementos e os integra numa unidade superior de sentido. Da mesma maneira que nos dá uma “fábula mítica” sem perder o contacto com a História e o seu lado mais cruel e injusto. Devemos perceber que este filme não deixa que a estética da memória aniquile a dimensão política. Não, obviamente, a política que se traduz em conteúdos e ideologemas, mas a que está comprometida essencialmente com uma forma.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens social género espécie mulheres extinção