"Sinal de alerta": drogas e suicídios fazem cair esperança média de vida nos EUA
Mortes por overdose de opióides sintéticos aumentaram 45% e a taxa de suicídio é a mais alta das últimas décadas. (...)

"Sinal de alerta": drogas e suicídios fazem cair esperança média de vida nos EUA
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.15
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Mortes por overdose de opióides sintéticos aumentaram 45% e a taxa de suicídio é a mais alta das últimas décadas.
TEXTO: A esperança média de vida dos norte-americanos está em queda, alerta um estudo dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention, CDC), nos Estados Unidos. Segundo o relatório, a descida da esperança média de vida está directamente relacionada com o aumento de suicídios e da morte por overdose. O estudo afirma que morreram mais 70 mil norte-americanos em 2017 do que no ano anterior, com um aumento significativo entre indivíduos dos 25 aos 44 anos. Estes números significam que só no ano passado morreram mais americanos do que tinham morrido desde que o governo começou a contabilizar os óbitos nacionais, há mais de um século. Os dados reflectem o aumento generalizado da população envelhecida de todo o país, mas as mortes em grupos etários mais jovens, particularmente em cidadãos de meia-idade, tiveram um impacto maior no cálculo da taxa de esperança média de vida, diz o relatório. Em 2017, um americano vive em média 78 anos e seis meses, quase uma década a menos do que a taxa de esperança média de vida mais alta do mundo. É uma descida de 0, 1 anos em relação a 2016. O relatório divulgado esta quinta-feira revela que as mortes por overdose de opióides sintéticos aumentaram em média 45% em todo o país e a taxa de suicídio é a mais alta das últimas décadas. "A expectativa de vida dá-nos uma visão geral da saúde do país e os resultados deste estudo são preocupantes e um sinal de alerta de que estamos a perder muitos americanos cedo demais e com demasiada frequência, com causas de morte que são evitáveis", disse o director dos CDC, Robert Redfield, em comunicado. Entre as causas principais de morte estão doenças cardíacas, cancro, acidente vascular cerebral (AVC), diabetes e suicídio, as mesmas que em 2016. Enquanto os Estados Unidos tentam lidar com a crise de opiáceos, a morte por overdose aumenta, em média, 16% ao ano desde 2014. Só no ano passado, as drogas foram responsáveis pela morte de mais de 70 mil norte-americanos, quase 10% mais que em 2016 e com uma taxa significativamente maior entre homens. No topo da lista de estados que registaram mais mortes por uso excessivo de droga estão Virgínia, Ohio, Pensilvânia e Washington. O estudo mostrou também que o suicídio se tornou a segunda principal causa de morte entre cidadãos dos dez aos 34 anos de idade em 2016, com taxas a aumentar 33% entre 1999 e 2017. Em declarações à BBC, Jerry Reed, da National Action Alliance for Suicide Prevention, disse que "o suicídio nem sempre é uma questão de saúde mental, uma vez que a descida das condições económicas e de vida pode colocar as pessoas em posições de risco. É necessário intervir nos casos de saúde mental, mas também nos de saúde pública". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O relatório concluiu também que as mulheres continuam a viver mais do que os homens, mas a taxa de mortalidade aumentou entre o grupo etário dos 45 aos 54 anos. Entre 2016 e 2017, a taxa de mortalidade também diminuiu entre mulheres negras, sem mudanças significativas entre homens negros e hispano-americanos. Actualmente, o Mónaco e o Japão possuem as taxas mais altas de esperança média de vida no mundo, com os cidadãos a viver 89 e 85 anos, respectivamente. SOS – Serviço Nacional de SocorroSOS Voz Amiga (entre as 16 e as 24h00) 21 354 45 45 91 280 26 69 96 352 46 60Telefone da Amizade 22 832 35 35Escutar - Voz de Apoio - Gaia 22 550 60 70SOS Estudante (20h00 à 1h00) 969 554 545Vozes Amigas de Esperança (20h00 às 23h00) 22 208 07 07Centro Internet Segura 800 21 90 90 Linha Internet SeguraConversa Amiga 808 237 327 210 027 159Telefone da Esperança 222 030 707
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens suicídio estudo mulheres
Cidades europeias reuniram em Lisboa com o lixo na agenda
Representantes de várias cidades europeias estiveram em Lisboa a discutir formas de lidar melhor com o lixo e melhorar a sustentabilidade ambiental. (...)

Cidades europeias reuniram em Lisboa com o lixo na agenda
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Representantes de várias cidades europeias estiveram em Lisboa a discutir formas de lidar melhor com o lixo e melhorar a sustentabilidade ambiental.
TEXTO: Há uma mão cheia de cenas que fizeram de Beleza Americana um dos mais memoráveis filmes da década de 1990, mas uma talvez se destaque. Rick e Jane estão sentados na cama dele a olhar para a televisão, a ver um vídeo que mostra um saco de plástico a esvoaçar ao vento. Jane pergunta-lhe o que vê naquele saco. “Beleza”, responde Rick. A cena é praticamente igual e passa-se em Varsóvia, 2018. Uma rapariga está de telemóvel em riste a filmar um saco de plástico à deriva. Aproxima-se um homem. “É lindo, não é?”, pergunta ela. Ele passa-lhe à frente, agarra no saco bruscamente e responde qualquer coisa como: “Não, não é nada lindo, o saco tem é de ir para o lixo!” Meu dito, meu feito. Depois de deitar o saco num caixote, o homem lança um olhar reprovador à interlocutora e segue caminho. Na plateia ouvem-se algumas gargalhadas. É o segundo dia de um encontro das cidades e regiões que integram o Urban Waste, um projecto europeu que visa desenhar estratégias de gestão de resíduos em cidades turísticas. Numa sala de um hotel de Lisboa, os representantes de Varsóvia, na Polónia, explicam porque era necessário um vídeo destes. As margens do rio Vístula, que atravessa a cidade, tiveram obras há uns anos e tornaram-se um ponto de atracção para milhares de pessoas, nacionais e estrangeiras, que para ali vão fazer praia, festas, desporto, actividades culturais. Problema: todos os dias são recolhidas, só numa das margens, 2, 5 toneladas de lixo à solta e 3, 5 toneladas de lixo em caixotes. Para enfrentar tamanha dor de cabeça ambiental e de saúde pública, a câmara de Varsóvia lançou um vasto programa de combate aos resíduos. Do programa fazem parte medidas simples (como a distribuição de caixas para beatas de cigarro e sacos para o lixo) e iniciativas mais complexas. Há, por exemplo, uma espécie de concurso em que os frequentadores daquele espaço são incentivados a apanhar cinco ou mais garrafas de plástico para receberem um prémio. Também existe uma máquina que, a troco de duas garrafas de plástico vazias, oferece água fresca. A paródia ao Beleza Americana insere-se nesta estratégia, assim como um outro vídeo promocional que brinca com a suposta existência de um monstro do rio que ataca as pessoas que atiram lixo para o chão. Na plateia estão pessoas de diversos pontos da Europa: Tenerife, Copenhaga, Paris, Florença, Kavala, Nice, Santander, Ponta Delgada e Lisboa, entre outros. Iniciado há cerca de dois anos por impulso do Governo das Canárias – um arquipélago que há anos lida com problemas graves de sustentabilidade ambiental –, o Urban Waste, financiado pela União Europeia, terminará em meados de 2019. Que lastro deixará?No 10º arrondissement de Paris, não muito longe da Gare de l’Est, fica a Rue du Paradis, que a autarquia local (equivalente a uma junta de freguesia, mas à escala parisiense) quer transformar na “Rua Zero Desperdício”. “Em Paris basicamente incineramos quase todo o lixo que produzimos”, explica Léa Vasa, responsável pela implementação de um plano climático no bairro. Com esta iniciativa, “o principal objectivo é mudar a perspectiva das pessoas, levá-las a perceber o papel que têm no combate às alterações climáticas”, disse. O projecto só arranca a sério a 8 de Dezembro, mas durante as fases preparatórias já foi possível entusiasmar residentes, empresas, lojas, cafés e restaurantes, que nesta rua abundam. “Em dois dias demos centenas e centenas de compostores, já temos fila de espera”, exemplifica Léa. “Parece que toda a gente quer ter uma criação de minhocas em casa”, brinca. A compostagem doméstica é uma forma de dar utilidade aos restos de comida, que de outra forma iriam para aterro. Outras medidas estão previstas, com o propósito de reduzir o plástico das embalagens de comida, acabar com as beatas espalhadas pelo chão, deitar electrodomésticos fora à primeira avaria. Prevê-se que cada cidadão produza menos 50 quilos de resíduos anualmente no fim da experiência, daqui a um ano. Em Lisboa, as medidas definidas no âmbito do Urban Waste destinam-se ao sector hoteleiro e de restauração. Em Setembro, a câmara assinou um protocolo com representantes do sector com vista a tornar realidade essas ideias, que são praticadas pontualmente. Reduzir o desperdício alimentar em hotéis e restaurantes, substituir produtos que só se usam uma vez (champôs, sabonetes) por produtos mais duradouros, pôr contentores para separar o lixo nos quartos e monitorizar a comida produzida são algumas das iniciativas em marcha. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Durante o encontro, Sofia Cordeiro, assessora da vereação da Estrutura Verde, passou em revista as principais actividades da câmara nesta matéria nos últimos anos. Mencionou a construção do corredor verde de Alcântara, o plano de utilização de água reciclada, o galardão de Capital Verde 2020 e o programa Uma Praça em Cada Bairro – que apresentou como uma forma de reduzir a preponderância automóvel na cidade e, assim, melhorar a qualidade ambiental. No fim da apresentação, questionada pela assistência, revelou que a câmara tem planos para fechar algumas zonas ao trânsito automóvel, mas que isso só avançará quando for notório para os lisboetas que os transportes públicos estão a funcionar melhor. Apesar de, como referiu, isso ser um tema cada vez mais recorrente nas conversas dos Paços do Concelho, ainda parece faltar um bom bocado para que tal aconteça.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homem espécie doméstica rapariga
Alcobaça: uma viagem sem pressa de regressar a casa
Chegou a Alcobaça. O Mosteiro, classificado como Património da Humanidade pela UNESCO em 1989, é a sua primeira paragem. Este monumento guarda quase 900 anos de história e abre as portas para uma cidade de visita obrigatória no Ano Europeu do Património. (...)

Alcobaça: uma viagem sem pressa de regressar a casa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Chegou a Alcobaça. O Mosteiro, classificado como Património da Humanidade pela UNESCO em 1989, é a sua primeira paragem. Este monumento guarda quase 900 anos de história e abre as portas para uma cidade de visita obrigatória no Ano Europeu do Património.
TEXTO: “Por mais que tente e que faça, quem passa por Alcobaça tem que por força voltar”, já cantava (e bem) Maria de Lourdes Resende. Uma canção que imortalizou Alcobaça e, em troca, Alcobaça imortalizou-a dando o seu nome a uma das principais ruas da cidade. É lá que começa esta visita guiada, a caminho do centro, onde Alcobaça se ergueu entre os rios Alcoa e Baça. Há quem defenda que o seu nome não nasceu simplesmente deste acaso geográfico, mas sim devido à sua ocupação árabe, época em que era chamada “Al Cobaxa”. Mas é a Ordem de Cister que conta a história desta cidade. “A Ordem de Cister é uma ordem religiosa católica e os seus membros religiosos são os monges também conhecidos por cistercienses”, explica Maria Alegria Marques, professora catedrática e membro do Centro de História da Sociedade e da Cultura. Estima-se que estes realizassem um trabalho muitíssimo importante, sem o qual os Templários não teriam a necessária retaguarda para o desempenho da sua missão de monges-guerreiros ao serviço de uma nação e de um objectivo global: a união do Ocidente e Oriente em torno de um império espiritual. “Cada vez mais me convenço que existem todos os indícios de que os monges cistercienses terão chegado a Portugal na década de 1130. O primeiro local onde eles terão estado terá sido no Mosteiro de São Cristóvão de Lafões. Logo depois, teremos uma fundação em Tarouca”, prevê Maria Alegria Marques. E como é que os monges ocuparam Alcobaça? “O primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques e a sua mulher Rainha D. Mafalda doaram as terras de Alcobaça à Ordem de Cister como agradecimento do monarca pela ajuda na conquista de Santarém aos mouros”, diz a autora da obra “Estudos sobre a Ordem de Cister em Portugal”. Durante este período, a conquista de territórios a sul e o respectivo povoamento eram determinantes para a consolidação de Portugal enquanto país. Ao mesmo tempo, a Europa reassumia a necessidade de continuar a marcar a presença num mundo que assistia igualmente ao avanço ameaçador do Islão. “Claro que aqui poderíamos colocar outras questões: como é que a Ordem do Cister (que remonta à fundação da Abadia de Cister em território francês) soube do conhecimento desta terra em Portugal?”, questiona Maria Alegria Marques. “Havia gente do nosso território que conhecia estrangeiros e estou convencida que estabeleceram contactos com gente que conhecia Cister. Eles vieram para aqui e não vieram por acaso. Eles sabiam para onde vinham”, afirma a professora catedrática que é também membro da equipa do Projecto do Museu Cisterciense de Alcobaça. Assim, a 8 de Abril de 1153 regista-se a data da fundação da Abadia de Santa Maria de Alcobaça e da sua Carta de Couto. A construção do templo foi iniciada em 1178, tendo como inspiração a abadia de Claraval (em França), sede da Ordem de Cister. O Mosteiro de Alcobaça foi assim construído num estilo a que se chamou Gótico Primitivo, que tem o seu expoente máximo na Catedral de Notre Dame, em Paris. “Inicialmente, o Mosteiro de Alcobaça não era aquilo que hoje nós vemos. Provavelmente, a primeira construção seria em madeira como era normal. Depois de nascer um pequeno Mosteiro é que se lançou realmente a obra do grande Mosteiro que os séculos nos deixaram”, alerta Maria Alegria Marques. “A partir daí, os monges vão iniciar todo um trabalho de fixação que é extraordinário. Quem vai fazer Alcobaça vão ser efectivamente os monges com o seu trabalho de desbravamento de terras, secagens de pântanos e de lançar todas as bases da vida”, conta. E como é que era a vida dentro do Mosteiro do Alcobaça? “Os Mosteiros de Cister, de uma maneira geral, estão ligados a um certo entendimento espiritual do mundo e da vida. O Mosteiro de Alcobaça é um deles. Lá viviam os monges que seguiam a regra do ‘ora et labora’ (reza e trabalha) – aqueles que fizeram profissão – e os conversos com um hábito de cor castanha”. São esses que trabalhavam as terras, tinham vivências próprias e não estavam obrigados aos ofícios divinos como os monges brancos. Hoje é impossível ignorar a imponência do Mosteiro de Alcobaça que foi classificado pela UNESCO como Património Mundial em 1989. É uma obra de séculos com um ambicioso conjunto arquitectónico de 220 metros de comprimento que se divide em 3 corpos: a igreja, a ala Norte e a ala Sul. Da época medieval são igualmente algumas dependências que permitem imaginar como seria o quotidiano dos monges que o habitaram. Deste edifício é de destacar a fachada, a Igreja, a sala dos túmulos, a Capela de S. Bernardo, a Capela do Senhor dos Passos, o Claustro de D. Dinis, as salas do Capítulo e dos Monges, a Cozinha e o refeitório, o dormitório e a sala dos Reis. “E outros espaços que, ao longo dos séculos, foram convertidos e outros deitados abaixo para se fazerem coisas novas de acordo com as exigências dos tempos”, acrescenta a professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. “Por exemplo, o dormitório dos conversos que era uma parte importante dentro do Mosteiro e que não temos hoje no Mosteiro de Alcobaça porque foi deitado abaixo para as obras do século XVII. ” Posteriores, e seguindo por isso a complexa estética barroca, há espaços igualmente interessantes, como a Sacristia Nova, a Capela Relicário, assim chamada por possuir 89 esculturas-relicário, e a Capela de Nossa Senhora do Desterro, com um interior revestido a azulejos, com episódios bíblico, como a Fuga e o Regresso do Egipto e passos da vida de Jesus. Foi, inclusive, neste Mosteiro um dos quatro lugares Património Mundial do Centro de Portugal , que se deram as primeiras aulas públicas em Portugal. No entanto, falar no Mosteiro de Alcobaça é falar também da maior história de amor da História de Portugal. A paixão trágica de D. Pedro e D. Inês de Castro está lá imortalizada e é a prova, desde o século XIV, que o amor pode ser eterno. Quando D. Pedro morreu, em 1367, deixou no seu testamento a vontade de ser sepultado em Alcobaça junto com D. Inês. No seu túmulo encontra, inclusive, uma rosácea, dividida em duas faixas circulares, onde estão representadas cenas de vida dos dois amantes. Já no túmulo de D. Inês de Castro encontra episódios da Bíblia. Nos pés, está representado o dia do Juízo final, o dia em que as almas são julgadas. E nas faces laterais, estão as cenas da vida de Jesus Cristo, desde a sua nascença até à sua Crucificação. Uma homenagem a um amor que se estende pelo centro da cidade, pelo Jardim do Amor e pelo Percurso Camoniano. É neste último local onde encontra peças de cerâmica que nascem da interpretação do episódio Inês de Castro de “Os Lusíadas” de Luís Vaz de Camões. Desde os finais do século XIX que Alcobaça se afirma como um território de expressão da cerâmica artística. Em pleno século XX, existem inúmeras fábricas que promovem a identidade alcobacense imortalizada no Mosteiro de Alcobaça. Mas a visita ao Património Mundial do Centro de Portugal, acompanhada pela Turismo Centro de Portugal, continua. Alcobaça está actualmente em expansão de olhos postos no futuro sem, no entanto, esquecer as suas tradições indissociáveis da presença, durante quase 700 anos, da Ordem de Cister. O legado da Ordem de Cister transformou Alcobaça na cidade dos doces conventuais e as trouxas-de-ovos têm grande parte da sua origem nos conventos e mosteiros portugueses. As claras de ovos utilizadas para a confecção de hóstias ou para engomar os hábitos deixavam as gemas que, para não serem desperdiçadas, levaram as freiras e frades a criarem doces ricos em açúcar e gemas. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Actualmente o património estende-se ao vale em redor do Mosteiro, próximo da Serra dos Candeeiros, uma região fértil propícia ao cultivo da fruta e do vinho. Tradição, essa, que ainda hoje se mantém e pôs a ginja e maçã de Alcobaça na boca do mundo. É uma das principais marcas do concelho ao lado da Chita de Alcobaça. Um tecido de algodão estampado originário da Índia, que foi trazido para a Europa pelos portugueses no século XV, tendo tido grande sucesso nos séculos XVII e XVIII tanto para decoração como para vestuário. De facto, a visita à região de Alcobaça é inegavelmente enriquecedora: dos Mosteiros de Alcobaça e de Coz ao Museu Nacional do Vinho, passando pela gastronomia rica e variada, não faltam eventos culturais e praias que deixam quem passa por Alcobaça com vontade de lá voltar.
REFERÊNCIAS:
Entidades UNESCO
Salazar e os direitos humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos terá soado ao ditador português como uma coisa de um anarquista bêbado. (...)

Salazar e os direitos humanos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Declaração Universal dos Direitos Humanos terá soado ao ditador português como uma coisa de um anarquista bêbado.
TEXTO: Ontem, um advogado perguntou-me num cocktail “como é que descreveria Salazar a um estrangeiro com apenas uma frase”. Tive a sorte de, na véspera, ter aprendido uma coisa nova e evitei repetir aquilo que todos sabemos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Dezembro de 1948, mas Portugal só a adoptou em Março de 1978. Por causa da ditadura de Salazar, chegámos ao texto com 30 anos de atraso. Chegámos tarde a muitas coisas — até à própria ONU. As razões são mais do que conhecidas. Mas se hoje é difícil imaginar o mundo sem um instrumento universal que liste e defina os direitos humanos, lembrar que Portugal teve um regime com tamanha pequenez é uma pedagogia útil. Se a ausência de uma Declaração Universal dos Direitos Humanos retrata o mundo anterior à II Guerra Mundial, os 26 anos de inacção da ditadura portuguesa em relação ao texto — hoje considerado um dos maiores feitos da própria ONU — são a prova crua da incapacidade do Estado Novo em acompanhar a evolução do mundo. Quando muitos dos actuais avós portugueses nasceram, não existia um texto universal que se dirigisse a todos os humanos da Terra. Havia cartas históricas de direitos humanos, mas eram todas de carácter nacional: a Magna Carta (1215), a Carta dos Direitos Britânicos (1689), a Declaração de Independência Americana (1776) e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789). Os cidadãos de três países ocidentais e ricos tinham regras e balizas. Todos os outros inspiravam-se à distância. Nos primeiros anos, António de Oliveira Salazar, presidente do Conselho, tinha uma boa razão para não adoptar a declaração. Portugal não era membro das Nações Unidas e o pedido de adesão era chumbado pela URSS ano após ano. Portugal só foi aceite como Estado-membro da ONU em 1955. Mas teve a seguir 19 anos para o fazer. Ficar de fora foi dizer que Lisboa não aceitava a “autoridade moral” do texto, nem o via como um “ideal comum”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Agora que estamos a dias de celebrar os 70 anos da adopção da declaração, fui relê-la com os óculos de Salazar. Era simplesmente impossível assiná-la. Cada uma das 30 alíneas é uma facada directa no coração do ditador. Alguns exemplos: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais” (menos os colonizados e as mulheres da “metrópole”); “todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal” (menos os presos políticos); “ninguém será mantido em servidão” (à excepção dos povos das colónias); “ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes” (menos os inimigos e os comunistas); “ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado”; “o homem e a mulher têm o direito de casar sem restrição alguma de nacionalidade” (o que fazer às hospedeiras e aos diplomatas, que não podiam casar com estrangeiras?); “toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento”; “à liberdade de opinião e de expressão”; “à liberdade de reunião”; ao “acesso, em condições de igualdade, às funções públicas do seu país”. É maçador continuar. A Declaração Universal dos Direitos Humanos terá soado a coisa de um anarquista bêbado. Sim, a declaração não é vinculativa e é uma utopia. Mas que seríamos nós sem querer mais? Escreve a jurista Patrícia Galvão Teles, membro da Comissão de Direito Internacional da ONU, que “o grande feito da declaração foi ter alterado o terreno moral das relações internacionais, que passou a orientar-se e a medir-se pelo valor do respeito dos direitos humanos” (Portugal e os Direitos Humanos nas Nações Unidas, organização de Ana Helena Marques, Carmen Silvestre e Margarida Lages, Instituto Diplomático, 2017). “Colocou o indivíduo como parte integrante de um mundo de Estados soberanos, que não podem mais utilizar a capa da soberania como um escudo na forma como os próprios cidadãos são tratados dentro de fronteiras. ”E, por tudo isto, a resposta no cocktail (que aprendi numa conferência do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva) teve pelo menos o efeito de surpresa: “Salazar numa frase? Foi o ditador que não adoptou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. ”
REFERÊNCIAS:
Entidades ONU
Fazer a espargata em menos de um mês. É possível?
Para quem já desistiu de fazer a espargata, há um livro que diz que é possível em menos de quatro semanas. Aceitei o desafio. (...)

Fazer a espargata em menos de um mês. É possível?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.08
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Para quem já desistiu de fazer a espargata, há um livro que diz que é possível em menos de quatro semanas. Aceitei o desafio.
TEXTO: Desafiaram-me na redacção a aprender a fazer a espargata em 30 dias. Não consegui, mas há cada vez mais pessoas a tentar, inspiradas pela história da japonesa Eiko. Aos 50 anos ganhou a alcunha de “rainha da espargata”, com vídeos virais no YouTube em que demonstra exercícios para “qualquer pessoa” aprender a fazer o exercício em menos de um mês. Diz que aprendeu sozinha. Depois de 6, 7 milhões de visualizações, decidiu escrever um livro sobre o seu método. A edição portuguesa – Flexível em 4 semanas – chega por meio da Porto Editora. “Como conseguirá fazer alguma coisa se nem a espargata consegue fazer?”, provoca Eiko no seu livro. Diz que cerca de dois terços dos seus alunos completam o desafio: não entrei no grupo, mas admito que notei melhorias. “É uma questão de ‘mindset’”, escreve Eiko por e-mail depois da minha tentativa falhada. Tal como eu, evitou treinar flexibilidade durante anos. “Não nasci flexível de todo. A amplitude dos meus movimentos também era muito reduzida”, revela. “Comecei a minha carreira como instrutora de aeróbica, e só quando quis mudar para o ioga, é que percebi que tinha de melhorar a flexibilidade. ”Agora, quer motivar mais pessoas a tentar. Faço parte do público-alvo: nunca consegui chegar decentemente com as mãos aos pés (pelo menos, sem dobrar os joelhos), e sempre temi testes de agilidade na escola. Gosto de exercício físico e sou capaz de me inscrever para uma maratona, mas nunca me vão ver a correr para uma aula de ioga ou pilates. Sou – e sempre fui – um zero a flexibilidade, mas também nunca me esforcei muito por melhorar. O plano de ataque que Eiko propõe era simples demais para não tentar: três exercícios de alongamentos específicos por dia (focados na área da cintura, anca e coxas) que não ultrapassavam os cinco minutos por dia. As páginas do livro são ocupadas com imagens de demonstração, exercícios alternativos para quem é muito pouco flexível ou tem problemas de mobilidade, dicas dos seus alunos, e algumas histórias sobre os benefícios da espargata (para Eiko, o exercício parece ser solução para quase tudo – do sedentarismo, a hábitos alimentares pouco saudáveis). Tentei seguir as instruções à risca e durante um mês consegui quase sempre pôr alguns minutos de lado para os alongamentos. Pela segunda semana, as minhas mãos começaram a chegar perto do chão, e fui gostando mais dos exercícios (o corpo parece “flutuar” depois dos alongamentos). Mas a espargata? Essa continuou desaparecida em combate. Tal como eu, cerca de 20% dos alunos da Eiko “falham” o programa. Outros 20% desistem antes de chegar ao fim. “Pessoas com a pélvis inclinada para trás, ou com ossos da coluna ligeiramente deslocados precisam de mais tempo”, justifica. Pessoas que façam treinos de força regularmente e evitem alongar (“normalmente homens que fazem muita musculação”) também podem ter mais dificuldade. “As pessoas podem sentir dores musculares quando começam o meu programa. E por causa disto, algumas pessoas perdem a motivação e desistem”, acrescenta a professora de ioga. Mas é assim tão mau não saber fazer a espargata? “A coisa mais importante para completar o meu programa é o foco”, responde-me Eiko. Diz que vê a espargata como “uma motivação” para os seus alunos treinarem a flexibilidade. Parte do livro também é ocupada por uma série de contos ficcionais baseados no tipo de pessoas que Eiko encontra nas suas aulas. Entre o elenco, há um gerente de 40 anos, ansioso com a ideia de envelhecer, e uma mulher de 30 anos infeliz por não conseguir atingir os seus objectivos. A vida de ambos melhorou depois de aprenderem a fazer a espargata. “O dia-a-dia torna-se mais fácil quando se é mais flexível”, frisa a professora de ioga. “A nossa amplitude de movimento é maior. Torna-se mais fácil andar, subir escadas, apanhar objectos do chão. Alivia dores nas costas e reduz a probabilidade de lesões. ”Estudos da American College of Sports Medicine (ACSM), uma reputada instituição na área do desporto e medicina, notam que a flexibilidade é uma habilidade fundamental para prevenir quedas com o avanço da idade. Além disso, pode ser visto como uma actividade relaxante, promotora da saúde mental. Saber fazer a espargata, porém, não é definido como fundamental no processo. “É um movimento pouco funcional”, explica-me Marco Abreu, um terapeuta de movimento e instrutor de pilates. “Ninguém vai fazer a espargata para apanhar uma coisa do chão. Equiparar a espargata a ter flexibilidade é um conceito redutor”, sublinha. Alongamento com toalha: Passe uma toalha de mãos à volta da planta do pé, estique a perna (sem flectir o joelho) e puxe a toalha em direcção à cabeça com ambas as mãos. Insista, balançando a perna durante 30 segundos. Repita com a outra perna. Se acha o alongamento difícil, não puxe tanto a perna para si. Agachamento sumo: Vire os joelhos para fora e afaste as pernas até atingir uma amplitude que seja o dobro da largura dos seus ombros. Baixe as ancas e coloque as mãos na parte interna das coxas, junto aos joelhos. As coxas devem estar paralelas ao chão (se não conseguir, não baixe tanto as ancas). Balance as ancas e coxas para cima e para baixo em movimentos curtos e rápidos. No ioga, a posse é conhecida como hanumanasana (ou posição do macaco), em homenagem a uma personagem da mitologia hindu capaz de enormes saltos. Abreu diz que “não há mal nenhum em querer fazer a espargata”, mas que o mais importante é treinar para ter uma boa amplitude de movimentos que sejam úteis no dia-a-dia. “Para um atleta de taekwondo pode ser importante chegar com os pés à cabeça, mas para muitos será fazer um agachamento com uma boa amplitude para levantar objectos ou conseguir subir e descer degraus sem dor. ”Recomenda pilates, ioga ou aulas de alongamentos para trabalhar a força e estabilidade, além da flexibilidade. O instrutor acrescenta que a “hidratação” é fundamental (provavelmente uma das minhas falhas, com vários cafés a fazer parte da minha rotina diária). A fáscia – um tecido conjuntivo formado por fibras de colagénio que envolve os músculos do corpo – precisa de água. Entre muitas funções, como ajudar a manter a postura, a fáscia ajuda os músculos a voltar à sua posição original durante o exercício depois de contrair. Dormir e comer bem também são elementos importantes. “É importante não esquecer que o corpo é um sistema. Funciona como um todo”, insiste Abreu. Já para Eiko, é “preciso começar pelo básico”: o primeiro passo para chegar à espargata é ver até que ponto o corpo consegue chegar naturalmente. Depois, deve-se baloiçar para cima e para baixo, até aumentar a amplitude dos movimentos. “Trabalha-se com menos tensão, e sentimo-nos mais relaxados”, explica Eiko. “Não é preciso alongar à força toda… Se forçarem demasiado o movimento, o efeito é o oposto. ”No meu caso, ao que parece, não estava a praticar na melhor altura. Optei por fazer os exercícios de Eiko todas as manhãs depois de correr. Embora me sentisse muito mais relaxada no final, é a pior altura para aumentar a flexibilidade porque os músculos estão contraídos do exercício e com o estímulo apenas relaxam até à sua amplitude normal. Oops. “Recomendo fazer os meus exercícios depois de um banho ou duche, de noite. Quando o corpo está quente [mas não cansado], a flexibilidade do corpo aumenta e é mais fácil alongar”, diz Eiko. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nas redes sociais, há quem sugira alongar à noite enquanto se vê uma série no computador – admito que ainda não consegui trocar o lençol e a caneca de chá pelo tapete de ioga. O livro da Eiko motivou-me a começar a dar mais valor à flexibilidade (descobri que 15 ou 20 minutos de alongamentos podem ser muito relaxantes de manhã), mas sem o desafio de fazer a espargata num mês, há dias em que me desleixo. A ACSM recomenda tentar treinar a flexibilidade entre dois e três dias por semana para manter uma boa amplitude de movimentos. Para Eiko, a chave do seu programa é “apagar a imagem mental de alguém pouco flexível, que falha sempre…É preciso esquecer essa pessoa. Só assim se consegue o sucesso. ” Estou a trabalhar no assunto.
REFERÊNCIAS:
Risco de pobreza é o mais baixo desde 2003
Risco de pobreza em 2017 diminuiu para 17,3%. Baixou dez pontos percentuais entre as famílias numerosas. Aumentou 0,7 pontos entre os idosos. (...)

Risco de pobreza é o mais baixo desde 2003
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Risco de pobreza em 2017 diminuiu para 17,3%. Baixou dez pontos percentuais entre as famílias numerosas. Aumentou 0,7 pontos entre os idosos.
TEXTO: Pelo terceiro ano consecutivo a taxa de risco de pobreza voltou a diminuir, passando de 18, 3% para 17, 3% em 2017. É a taxa mais baixa desde, pelo menos, 2003. A grande descida — de 9, 8 pontos percentuais — deu-se nos agregados com três ou mais filhos, o grupo que tem mais dificuldades entre toda a população: aqui, a taxa de risco de pobreza era de 41, 4% em 2016 e passou para 31, 6% no ano passado. A presença de crianças continuou a estar associada a um risco de pobreza acrescido, por isso as taxas nos agregados com um adulto e pelo menos uma criança dependente foram igualmente altas — de 28, 2%. Os dados provisórios constam do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística em 2018 sobre os rendimentos das famílias no ano anterior. E acabam de ser divulgados. Segundo o INE, a taxa de risco de pobreza em 2017 corresponde à proporção de habitantes com rendimentos monetários líquidos inferiores a 5610 euros anuais, o que equivale a 468 euros por mês. Consideram-se que estão em risco de pobreza pessoas que, após as transferências sociais, como abonos e subsídios, por exemplo, vivem com rendimentos abaixo desse limiar. O INE publicou pela primeira vez dados regionais onde a Área Metropolitana de Lisboa surge como a região com a mais baixa taxa de pobreza (12, 3%) e o Alentejo com dados inferiores à média nacional (17%). As Regiões Autónomas são as mais afectadas — 31, 5% nos Açores e 27, 4% na Madeira — e Norte, Centro e Algarve mantêm-se nos 18, 6%. Fazendo uma análise por grupo de famílias, foram os agregados com crianças dependentes que viram o risco de pobreza diminuir mais, passando de 19, 7% para 18, 1%. Porém, as mulheres e as crianças continuam a estar mais expostas, apesar das descidas registadas nestes grupos. Reduziu-se o risco para menores de 18 anos, de 20, 7% para 18, 9% – a taxa mais alta entre todos os grupos etários. Diminuiu também o risco para ambos os sexos mas o impacto foi mais expressivo para os homens (menos 1, 2 pontos percentuais) do que para as mulheres (menos 0, 8 pontos percentuais), chegando as mulheres a ter quase 18% de taxa de risco de pobreza, quando esse valor é de 16, 6% para homens. Já entre os adultos em idade activa o risco de pobreza diminuiu 1, 4 pontos percentuais (de 18, 1% para 16, 7%). O mesmo não aconteceu com a população idosa, cujo risco aumentou 0, 7 pontos percentuais, estimando-se em 17, 7% em 2017. Aumentou igualmente — em 0, 6 pontos percentuais — o risco para os reformados (de 15, 1 para 15, 7%). Indicador positivo é o facto de a taxa de pobreza entre os trabalhadores ter diminuído de 10, 8% para 9, 7% Porém, para os desempregados os riscos aumentaram, passando de 44, 8% em 2016 para 45, 7% em 2017. A proporção da população com menos de 60 anos que vivia em agregados familiares com intensidade laboral per capita muito reduzida — trabalhou em média menos de 20% do tempo de trabalho possível — foi de 7, 2% em 2017 (menos 0, 8 pontos percentuais do que no ano anterior). Também desceram os principais indicadores de desigualdade: o Coeficiente de Gini (que assume valores entre 0, quando todos os indivíduos têm igual rendimento, e 100, quando todo o rendimento se concentra num único indivíduo) foi de 32, 6%, ou seja, menos 0, 9 pontos percentuais do que no ano anterior. Segundo o INE, este indicador tem “em conta toda a distribuição dos rendimentos, reflectindo as diferenças de rendimentos entre todos os grupos populacionais, e não apenas os de menores e maiores recursos”. Já em relação aos indicadores de privação material — que dizem respeito a 2018 — mantém-se a tendência de redução (com 16, 6%, menos 1, 4 pontos percentuais do que no ano passado), e o mesmo acontece com a taxa de privação material severa (6%, menos 0, 9 pontos percentuais do que em 2017). Assim, neste campo, os dados mostram, por exemplo, que 41, 3% dos portugueses não podem pagar uma semana de férias por ano fora de casa, 34, 7% não conseguem assegurar o pagamento imediato, sem recorrer a empréstimo, de uma despesa inesperada, 19, 4% não conseguem manter a casa adequadamente aquecida e 6, 6% não têm como pagar atempadamente rendas, encargos ou despesas correntes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para além de analisar quem está em risco de pobreza (definido em função dos rendimentos) ou sofre de privação material (medida pelo acesso a determinados bens) o INE e o Eurostat, o departamento de estatísticas da União Europeia, calculam anualmente a taxa de “risco de pobreza ou exclusão social”. Dados recentemente divulgados colocam Portugal em 11º lugar numa lista de 26 países entre este indicador. Este indicador agrega, de algum modo, quem vive uma ou mais das seguintes situações: tem um rendimento abaixo do que em cada país é definido como o limiar de pobreza; vive em agregados com intensidade laboral per capita muito reduzida (poucas horas de trabalho); encontra-se em situação de privação material severa (situações em que não existe acesso a um conjunto de bens). Segundo os dados do INE agora divulgados, em 2018, houve uma descida do número de pessoas que vivem em “risco de pobreza ou exclusão social”: passaram de 2, 4 para 2, 2 milhões. Isto fez diminuir a “taxa de pobreza ou exclusão” para 21, 6%, menos 1, 7 pontos percentuais do que no ano anterior.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens exclusão campo social criança mulheres pobreza
The Music Stylist: Sofia Hoffmann tem um projecto de "alta costura musical"
O projecto pretende trabalhar a música de forma personalizada através de playlists, composições ou concertos pensados à medida de cada espaço e evento. (...)

The Music Stylist: Sofia Hoffmann tem um projecto de "alta costura musical"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O projecto pretende trabalhar a música de forma personalizada através de playlists, composições ou concertos pensados à medida de cada espaço e evento.
TEXTO: Todos nós já trauteámos a canção que estava a dar no café, escolhemos ficar mais tempo no bar porque a música era agradável ou deixámos de entrar na loja porque não estava ao nosso gosto. “O mais interessante é que muitas vezes as pessoas não sabem por que vão embora ou ficam”, afirma Sofia Hoffmann, criadora do The Music Stylist, serviço especializado que quer fazer uma curadoria musical adequada a determinado espaço, evento ou contexto. “No dia-a-dia, a música está presente mesmo de forma inconsciente, por isso é muito importante que um espaço tenha uma caracterização sonora e auditiva. ”Partindo da relação entre a música, as emoções e comportamentos, foi criado um conceito de “alta costura musical” que, segundo a também cantora de jazz, se define como a “identificação e selecção de sons e sonoridades indicados para cada lugar e momento”. Nesse sentido, o The Music Stylist organiza playlists, composições musicais, concertos e sessões de DJing, tendo por base o ambiente que o cliente quer criar. “Fazemos um perfil emocional para aferir as emoções que as pessoas deverão sentir naquele momento e, depois, transpomos essa informação para um perfil musical”, explica. O projecto pretende tornar a música uma componente activa que possa acrescentar valor às experiências de portugueses e estrangeiros, colmatando, assim, aquela que é “uma lacuna do mercado turístico”, de acordo com Sofia Hoffmann. “Existem sítios fantásticos, mas onde a música não é trabalhada da melhor forma. ” O crescimento do turismo em Portugal e a mudança dos hábitos de consumo impulsionaram a criação do serviço musical personalizado. “O consumidor procura cada vez mais adquirir experiências em vez de objectos”, afirma, notando que “há cada vez mais lojas, restaurantes e hotéis atractivos e, por isso, faz sentido trabalhar com outra atenção a componente auditiva”. O projecto de curadoria musical pretende ser um factor de diferenciação face à infindável oferta da actualidade através do estabelecimento de uma relação emocional entre os clientes e as marcas. “Se as pessoas se sentirem bem, permanecem mais tempo e, provavelmente, voltam”, refere. A globalização, digitalização e instantaneidade do presente tornam especialmente relevante “o passa-palavra e todo o tipo de promoção que seja feita de consumidor para consumidor”. O efeito das diferentes sonoridades nas emoções do dia-a-dia justificam um serviço premium, assim chamado pelo “nível de exclusividade e unicidade” do produto final. Além de desenhar o ambiente sonoro para determinado espaço e momento, o The Music Stylist faz um acompanhamento posterior do impacto que a música está a ter na nova dinâmica de clientes, marcas e produtos. “Podemos valorizar a música ao máximo e, com ela, valorizar cada momento, lugar e experiência”, conclui.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave consumo cantora
“Cuidado com as passwords”, avisam Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Armadilha Digital é o mais recente livro das autoras de Uma Aventura, que o apresentaram nesta segunda-feira, no Porto, com a ajuda do director da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica da Polícia Judiciária, Carlos Cabreira. (...)

“Cuidado com as passwords”, avisam Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Armadilha Digital é o mais recente livro das autoras de Uma Aventura, que o apresentaram nesta segunda-feira, no Porto, com a ajuda do director da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica da Polícia Judiciária, Carlos Cabreira.
TEXTO: Alertar os mais jovens para “riscos e perigos da Internet” através de uma história com que se identifiquem é o propósito de Armadilha Digital, o quinto livro da colecção Seguros e Cidadania, editada pela Associação Portuguesa de Seguradores (APS). Protagonistas: passwords fracas. Quais são elas? As “relacionadas com o próprio nome, nome dos filhos, datas de nascimento, telefones, número de porta, de residência, etc. ”. Exemplos que surgem no final da obra, a que se acrescenta ainda recomendações para “evitar o furto de identidade”, como “nunca revelar a palavra-passe a ninguém” ou “evitar disponibilizar os dados pessoais em sites ou plataformas que promovem encontros online, como chats e redes sociais”. Clonagem de cartões bancários, burlas online, cópias de ficheiros, e-mails falsos e ataques aos sistemas informáticos das empresas e do Estado são outros riscos para que Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada alertam em Armadilha Digital. As autoras, conhecidas sobretudo pela colecção Uma Aventura, contaram com a colaboração do director da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica da Polícia Judiciária, Carlos Cabreira, e com a equipa do Centro de Investigação para as Tecnologias Interactivas da Universidade Nova de Lisboa. Ana Maria Magalhães diz ao PÚBLICO: “Podia fazer-se um livro apenas informativo. Mas os textos informativos são apelativos para um reduzido número de pessoas. A maior parte chega a meio e abandona-os. ” Por isso, criaram uma história que cativasse o jovem leitor: “Uma história, para arrebatar, tem de criar empatia. Pessoas de quem se goste, pessoas que se odeie, pessoas que nos indignam, atitudes e actos absolutamente condenáveis e outros enternecedores. ”Segundo Isabel Alçada, foi preciso “virar do avesso” os textos informativos que leram. E explica: “Estavam escritos do ponto de vista de quem já sabe e não do ponto de vista de quem está na eventualidade de sofrer um problema. ”Vamos à história: um workshop sobre programação numa escola de artes e o fascínio de uma aluna pelo formador dão o mote para uma narrativa que irá revelando os perigos que corremos ao transmitir certas informações a alguém que mal conhecemos. Sem querermos entrar em muitos pormenores da narrativa, podemos desvendar que familiares da rapariga, Beatriz, hão-de ver-se a braços com crimes de pirataria informática decorrentes da sua ingenuidade e desconhecimento. De caminho, é-nos dado conta de que existem seguros que podem minimizar os danos destes novos cibercrimes. Descreve Ana Maria Magalhães: “Íamos contando a história e nunca mais chegávamos ao que se pretendia. ” Isabel Alçada continua: “Tínhamos de dar lastro às personagens e torná-las próximas do potencial leitor. ” Ana completa: “É uma história de amor. Percebe-se que a rapariga está apaixonada e que ele é enigmático. ” Isabel prossegue: “Quisemos reconstituir uma realidade que torne nítida a posição de cada personagem…” Ana conclui: “… e que a pessoa sinta: podia ser eu. ”O tema do livro foi proposto, como habitualmente nesta colecção (começou em 2013), pela directora-geral da APS, Alexandra Queiroz, devido ao crescimento “da influência dos recursos digitais nas práticas financeiras e os riscos que isso implica, sobre os quais muita gente não tem noção”, explica Isabel Alçada. De acordo com a associação, “o objectivo principal é chegar às escolas”, estando estas publicações integradas numa “acção de esclarecimento sobre o que é o seguro, no âmbito do programa nacional de literacia financeira, com a chancela Portugal Seguro”. O quinto volume, destinado ao 3. º ciclo e secundário, foi lançado nesta segunda-feira justamente numa “escola que tem no seu programa oficial, especificamente, a literacia em seguros”, o Agrupamento de Escolas Fontes Pereira de Melo, no Porto, em associação com a Fundação Cupertino Miranda. Ambas as autoras admitem que alteraram comportamentos depois deste trabalho. Isabel Alçada: “Mudo as passwords de vez em quando, tenho mais cuidado quando vou ao banco online, tinha os cartões de código todos à vista e agora tenho outro cuidado e atenção. ” Ana Maria Magalhães passou a usar “o cartão multibanco só dentro do banco”. A trabalhar juntas desde 1982, quisemos saber se fizeram algum pacto ou contrato que as obrigue a assinar em conjunto. Divertidas, respondem: “Não, não fizemos, é implícito”, diz Isabel. Ana discorre: “Quando os miúdos nos fazem essa pergunta, eu costumo dizer: ‘Nasci com dois braços, seria muito estúpido cortar um para ver como é trabalhar só com o outro. Nós começámos juntas e correu bem. Em equipa que vence não se mexe. ”Durante todos estes anos, sempre que alguém sugere a uma das autoras algum tema ou iniciativa no âmbito da escrita para crianças e jovens, isso significa que a outra também está a ser convidada. Dizem não estar “fartas” uma da outra, continuam amigas e vão tendo projectos em separado: Ana fez uma autobiografia, Isabel esteve no Plano Nacional de Leitura e escreveu sobre ele a solo. Isabel Alçada recorre à geometria: “Somos secantes. ” Isto para explicar que “a maior parte das actividades é em conjunto, mas depois cada uma tem a sua vida”. Ana: “Estamos óptimas assim. Se estivéssemos todos os dias a trabalhar juntas, ia tornar-se cansativo. ”O processo de trabalho mantém-se a cada novo título: lêem, estudam, investigam, cada uma por seu lado, mas recorrendo às mesmas fontes. Vão conversando, vêem se têm lacunas na investigação e se coincidem na interpretação dos documentos que consultaram. Se têm divergências sobre o entendimento de algo, recorrem a um especialista no assunto. “Depois, inventamos uma história. ” Tem resultado. Ambas ex-professoras de História, Ana já se reformou, mas Isabel ainda não. “Eu já me podia ter reformado, mas o Presidente [Marcelo Rebelo de Sousa] convidou-me para ser consultora para a Educação e eu achei muito interessante. Lá estou. ”Durante a leitura de Armadilha Digital, tropeçámos em pelo menos duas expressões que nos soaram estranhas, por remeterem para tempos recuados: “dichotes e remoques” e “lançavam miradas aos seguranças”. Quisemos saber se eram propositadas e se tinham algum objectivo didáctico. Divertidas, respondem: “Não, não é”, diz Isabel. “Escapou”, acrescenta Ana. E explica: “Muitas vezes escrevemos e depois, pensamos: espera aí, já ninguém diz isto. E cortamos. Há sempre uns que escapam, esses escaparam!”Isabel: “Temos a preocupação de ver, no caso de o leitor não conhecer o termo, se o contexto o esclarece. ” Ana: “Usamos imenso ‘mirada’. Eles tiram pelo sentido, mas temos de ter cuidado porque se não, não percebem a história. ”A compreensão por parte dos leitores sempre esteve nas suas preocupações: “Sempre tivemos a intuição de que, se tivéssemos termos, expressões ou figuras de estilo que impedissem a compreensão do texto, eles abandonavam a leitura. ” Isabel lembra como os estudos entretanto realizados provam isso mesmo: “Há uma investigação na área da leitura que demonstra que, se houver, 10% de palavras que eles não conheçam o significado, rejeitam o livro. ”Sobre as frases feitas, Ana Maria Magalhães recorda um miúdo pequenino que “ria às gargalhadas” porque tinha lido a frase até então desconhecida “enquanto o Diabo esfrega um olho”. Logo Isabel Alçada se lembrou de outra criança que também se riu muito quando leu “foi num pé e veio no outro”. Convencido de que tinha ido e vindo “ao pé-coxinho”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Acabaram por transpor essa ideia para a colecção A Bruxa Cartuxa. “Aproveitámos essas frases feitas, umas mais vulgares, outras menos. Através de magia, acontecem coisas como: ‘Nesta sala está tudo de pernas para o ar. ’ E fica mesmo tudo de pernas para o ar. Eles acham imensa piada. ”A terminar, Ana refere: “Mesmo na colecção Uma Aventura, nalgumas reedições, houve termos que tiveram de ser substituídos por sinónimos. Isto por serem palavras que as pessoas deixaram de dizer completamente. Tem de se ter cuidado, estamos em 2018 e não em 1940. ”Desta colecção, Seguros e Cidadania, já fazem parte os seguintes títulos: O Risco Espreita, Mais Vale Jogar pelo Seguro (2013); Catástrofes e Grandes Desastres (2014); Um Perito em Busca da Verdade (2016); Encontro Acidental (2017), ilustrados por Carlos Marques. Em Armadilha Digital, as imagens são assinadas por João Pupo. São livros distribuídos gratuitamente nas bibliotecas escolares em articulação directa entre a APS e os professores bibliotecários.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola educação criança rapariga
Discute muito? Os abraços podem ajudar a evitar o mau humor
O estado civil não parece influenciar a relação entre abraços e humor. (...)

Discute muito? Os abraços podem ajudar a evitar o mau humor
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.69
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: O estado civil não parece influenciar a relação entre abraços e humor.
TEXTO: As pessoas que recebem abraços têm menos probabilidade de ter mau humor depois de uma discussão do que aqueles que não recebem esse tipo de afecto, sugere um estudo, publicado na revista online Plos One. Embora o contacto pessoal e as interacções sociais significativas com outras pessoas estejam vinculados há muito tempo a uma melhor saúde física e mental, grande parte dessa pesquisa concentrou-se nos relacionamentos românticos ou familiares. Por seu lado, este estudo concentrou-se em adultos que normalmente não eram casados ??nem estavam em relacionamentos de longo prazo. E, entre estes, foi encontrado um vínculo entre simples abraços e melhores estados de espírito depois de as pessoas passarem por conflitos. Para o estudo, os investigadores entrevistaram 404 homens e mulheres todas as noites, durante duas semanas, e perguntaram-lhes sobre as actividades e interacções que tiveram durante o dia, assim como qualquer mudança de humor. Apenas 98 dos participantes eram casados ou estavam em relacionamentos “parecidos com o casamento”. Quando as pessoas passaram conflitos, notaram que os sentimentos negativos não aumentavam se, naquele dia, tivessem recebido um ou mais abraços. “Não ficamos surpresos ao descobrir que as pessoas que relataram receber um abraço pareciam estar protegidas contra os maus humores relacionados com a experiência de conflito”, declara Michael Murphy, um dos autores da investigação, da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, Pensilvânia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Essa descoberta é consistente com várias linhas emergentes de evidências que demonstram a capacidade dos comportamentos de toque em relacionamentos próximos para reduzir as percepções de ameaças e aumentar os sentimentos de segurança e bem-estar”, continua Murphy por e-mail. “No entanto, ficamos pelo menos um pouco surpresos ao descobrir que não havia diferenças detectáveis entre mulheres e homens no nosso estudo, na medida em que os abraços protegiam contra o clima negativo relacionado ao conflito”. No geral, os participantes relataram conflitos numa média de dois dias durante o estudo; e relataram receber abraços, em média, em quase nove dias. Em qualquer dia, cerca de 10% dos participantes experimentaram conflitos e também receberam um abraço, segundo o estudo. Cerca de 4% dos participantes em qualquer dia tiveram conflitos, mas não tiveram um abraço. O estado civil não parece influenciar a relação entre abraços e humor. Embora a relação entre abraços e humor também parecesse semelhante para homens e mulheres, as mulheres relataram mais dias de conflito e mais dias de abraços do que os homens.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens estudo mulheres casamento
Stan Smith, o homem que também é um sapato
Na origem, esteve um sapato de linhas simples, que respondesse tão-somente ao que os tenistas precisavam — um calçado duradouro e confortável. Depois, juntou-se-lhe um grande e humilde campeão. O resultado é um modelo de culto, o mais icónico e transversal de sempre. (...)

Stan Smith, o homem que também é um sapato
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na origem, esteve um sapato de linhas simples, que respondesse tão-somente ao que os tenistas precisavam — um calçado duradouro e confortável. Depois, juntou-se-lhe um grande e humilde campeão. O resultado é um modelo de culto, o mais icónico e transversal de sempre.
TEXTO: Aos oito anos, Trevor Smith perguntou: “Papá, deram o nome ao sapato por causa de ti ou deram-te o nome por causa do sapato?” Para tirar essa e outras dúvidas, Stan Smith publicou uma bonita e gráfica autobiografia. Some People Think I’m a Shoe foi escrito para todos o que desconhecem o campeão de ténis que deu o nome ao sapato mais vendido de sempre. E também para contar a história de como os Stan Smith se tornaram agora, 50 anos após a sua criação, um omnipresente acessório de moda. Stan nasceu a 4 de Dezembro de 1946, em Pasadena (Califórnia), filho de um treinador de ténis. Mas o desporto preferido na infância era o basquetebol. Só aos 15 anos é que o ténis começou a tornar-se mais sério. Por ter dado um “salto” na sua estatura, Stan apresentava alguma descoordenação de movimentos e isso levou-o a ser rejeitado para apanha-bolas num EUA-México, na Taça Davis. Decidido a melhorar a mobilidade, começou a saltar à corda todos os dias. Pouco tempo depois ganhava o seu primeiro torneio de ténis, para delírio dos responsáveis do Pasadena Tennis Patrons e do ocasional treinador Pancho Segura, uma estrela no circuito profissional Jack Kramer que, aos sábados, visitava a Pasadena High School. Com 16 anos, Stan definiu quatro objectivos: fazer parte da selecção norte-americana da Taça Davis; ser o número um dos EUA; vencer o torneio de Wimbledon; ser o número um do mundo. Concretizou-os todos!Antes, Stan conquistou o título de campeão júnior dos EUA e passou quatro anos na University of Southern California (USC), onde foi campeão nacional universitário, em 1968. O rapaz desastrado tinha melhorado o jogo de pés e a velocidade, factores cruciais para quem apresentava um gabarito físico de 1, 93m de altura e 82 quilos de peso, que igualmente lhe permitiu desenvolver um ténis apoiado em fortes serviços e bons vóleis na rede. Depois veio o serviço militar, mas o seu prestígio nos courts fez com que fosse autorizado a continuar a treinar e a jogar ténis, desde que participasse em várias acções junto dos seus camaradas de armas, um pouco por todo o mundo. E foi nesse período que conquistou os dois títulos individuais no Grand Slam. Líder do ranking dos EUA desde 1969, Smith chegou a número um do mundo, em 1971, ano em que triunfou no US Open, ao bater na final Jan Kodes. No ano seguinte, venceu em Wimbledon, após derrotar Ilie Nastase na primeira final do torneio disputada num domingo — pois até então, na Grã-Bretanha, não eram permitidos eventos desportivos nesse dia. Depois da introdução do actual ranking ATP, em 1973, Smith não foi além do terceiro lugar. Ao longo da carreira conquistou ainda mais cinco majors em pares masculinos (entre 1968 e 1980), de entre mais de 100 títulos ganhos nas duas variantes. No período de 12 anos, participou em sete títulos dos EUA na Taça Davis e deu por 16 vezes o terceiro e decisivo ponto à selecção na prova — com destaque para as vitórias sobre os romenos Ilie Nastase e Ion Tiriac, em 1972, na primeira final disputada na Europa de Leste, na capital da Roménia liderada pelo ditador Nicolae Ceausescu, sob condições adversas: severas medidas de segurança, público hostil e juízes de linha parciais. A atitude serena, humilde e confiante dentro do court, além do prestígio, conduziu-o à primeira direcção da Associação de Tenistas Profissionais (ATP), que decretou o famoso boicote de oito dezenas de proeminentes jogadores ao torneio de Wimbledon de 1973 — o que o impossibilitou de defender o título. Os 1209 encontros realizados no circuito penalizaram-lhe o cotovelo. Uma operação em 1977 permitiu que Stan Smith ainda competisse mais quatro anos, até se despedir do circuito. O convite para comentador de ténis na televisão facilitou a transição. Em 1986, tornou-se o responsável pelos treinadores da federação norte-americana (USTA). E, no ano seguinte, foi entronizado no Tennis Hall of Fame, o panteão do ténis mundial. A ideia de associar um nome do desporto a um sapato data de 1932, quando a Converse, que patrocinava uma equipa de basquetebol, baptizou uma versão melhorada de um modelo criado 15 anos antes com o nome do jogador mais popular dos The Converse All Stars: o All Star Chuck Taylor. A Adidas fez o mesmo pouco depois, mas com ídolos europeus, apenas conhecidos neste continente. Desde os anos 30 que a Adidas procurava substituir a lona habitual nos sapatos por couro, já que os modelos Superstar destinados ao basquetebol nunca duravam mais do que alguns jogos. O inovador modelo surgiu em 1965, desenhado com a colaboração de Robert Haillet — o melhor tenista francês dessa década que deu o nome ao novo modelo —, especificamente para os requisitos de um jogador de ténis: sola em borracha com pequenos pitons para melhor tracção em qualquer piso; parte superior em couro, que se ajusta à forma do pé; parte traseira almofadada, para proteger tornozelo e calcanhar; três linhas de pequenos buracos (em substituição das icónicas três listas da adidas) nas laterais, para ventilação — um avanço tecnológico na altura. E praticamente todo em branco, de acordo com as rígidas regras do equipamento dos tenistas amadores, que proibiam qualquer associação às marcas. O preço de lançamento do sapato em questão era de 49, 90 francos. Em Maio de 1971, ainda antes de conquistar o primeiro dos seus dois títulos individuais no Grand Slam, o amigo e agente de Stan Smith (e ex-capitão da selecção norte-americana da Taça Davis), Donald Dell, marcou uma reunião com Horst Dassler, filho de Adolf “Adi” Dassler fundador da Adidas, no restaurante parisiense Elle et Lui — onde Smith foi surpreendido ao ser recebido por empregadas fardadas como homens. O responsável da marca queria introduzir no mercado americano o modelo Adidas Robert Haillet e ninguém melhor para embaixador do que o melhor jogador desse país. Esse estatuto saiu reforçado após a conquista do Open dos EUA, em Setembro de 1971, numa final disputada numa quinta-feira, devido aos sucessivos adiamentos causados pela chuva — na véspera, Smith ganhou a meia-final de singulares e perdeu a final de pares. Sinal dos tempos: quando a falta de luz ameaçou adiar o quinto set dessa final para quinta-feira, o que não agradava a nenhum dos tenistas, os quatro acordaram em dividir o prize-money e decidir o título num tie-break, até aos nove pontos. Os primeiros sapatos introduzidos nos EUA ostentavam o nome Adidas Haillet e eram recomendados em campanhas publicitárias por Stan Smith. A personalidade do sapato assentava perfeitamente a “Stan The Man” e o seu sucesso cresceu em paralelo com a notoriedade da selecção dos EUA na Taça Davis, prova que venceram entre 1968 e 1972, tornando o processo de mudança de nome mais lento. Aliás, todos os elementos da equipa chegaram a calçar esse modelo, bem como outros tenistas, como, por exemplo, Martina Navratilova. Só mais tarde, já na era Open (quando, em 1968, os tenistas profissionais puderam entrar nos torneios e as provas do Grand Slam passaram a atribuir prémios monetários) e depois do triunfo em Wimbledon, em 1972, Smith assinou um contrato profissional e a fotografia do campeão norte-americano apareceu na “língua” dos sapatos; curiosamente, uma imagem tirada nos únicos seis meses da vida adulta em que Smith não usou bigode. Com o nome do norte-americano inscrito nas laterais, Haillet e Smith conviveram no sapato durante sete anos. Em 1973, a carreira de Smith estava no auge; venceu sete dos onze torneios do WCT Tour — circuito profissional que substituiu o Kramer Tour. Por causa deste sucesso, o nome de Haillet viria a desaparecer completamente do sapato e o de Stan Smith, para além da “língua”, passaria a surgir também no calcanhar. A popularidade dos ténis saltou para fora dos courts e atingiu o estatuto de culto quando, em 1977, David Bowie posou com eles calçados. O ídolo musical era também um modelo de moda para muitos jovens fãs e ajudou a divulgar os Stan Smith — John Lennon usou uns, pretos, durante a gravação de Strawberry Fields. Entretanto, os ténis Adidas já tinham entrado no mundo da moda, com os modelos Samba e, principalmente, Superstar. Nos anos 80, altura em que outros tenistas também tiveram direito a modelos “com assinatura” — como Rod Laver, Ilie Nastase, Ivan Lendl ou Stefan Edberg —, os Stan Smith ganharam a mesma notoriedade quando começaram a ser adoptados por músicos de hip-hop, como MCA dos Beastie Boys. Mais tarde, Bernard Summer, dos New Order, ou Damon Albarn, dos Blur e Gorillaz, confirmaram a popularidade do sapato no mundo da música, destacada ainda com a inclusão na letra de Jigga That Nigga, do rapper Jay-Z. E o coreógrafo, bailarino, actor e realizador Mikhail Baryshnikov usou-os na tela, no filme White Nights, de 1985. No entanto, até finais dos anos 90, os seus fãs britânicos tinham de viajar a França para os comprar. A influência do sapato chegou ao Japão, único país que incluiu uma versão para trabalhadores, com a biqueira em metal. Mas foi nessa década que a cotação dos Stan Smith subiu em flecha no mundo da moda: a modelo Naomi Campbell apareceu nua na revista The Face apenas calçada com uns Stan Smith prateados. Desde então, foram poucas as alterações feitas no modelo de base. Mas houve uma, talvez tão insignificante como importante, que marcou a história do calçado desportivo: Smith sugeriu a introdução de uma pequena perfuração na língua, por onde os atacadores passavam impedido esta de se mover para os lados. Outra sugestão do próprio resultou num apoio do calcanhar mais acolchoado. Os Stan Smith originais viriam a ter uma segunda versão, com uma língua almofadada, mas as variantes do modelo dispararam: nos anos 70, uma versão para criança; e em 1997, surgiu o Stan Smith Confort, com os fechos em velcro; em 2002, apareceu um high-top (cano alto), um modelo Millennium com as últimas inovações tecnológicas e, alguns anos depois, a versão Sleek, mais delgada e destinada ao mercado feminino. O século XXI ficou marcado pela associação de artistas e grandes nomes da moda ao sapato, como Colette, Yohji Yamamoto, Pharrell Williams e Raf Simons, tornando-os uma referência da cultura popular com a sua interpretação do modelo, muitas vezes em exemplares únicos ou edições limitadas, vendidos ou leiloados através de reputadas marcas ou em leilões solidários, apresentando uma variedade de versões em bota, com pitons, com sola alta, plataforma, sandália e até tamancos. E vários estilistas incorporaram-nos no seu guarda-roupa pessoal. “Tomo com frequência emprestados os da minha filha, uns clássicos brancos e verdes e uns pretos com bolinhas reflectoras. São um modelo muito fácil de distinguir, porque nos acompanharam ao longo de décadas”, admite Katty Xiomara, que, em 2016, desenhou uma colecção para desporto. A estilista portuguesa justifica o sucesso do modelo com a irreverência da juventude: “Os Stan Smith surgem num tempo em que usar sapatilhas no dia-a-dia era algo incomum. Foram pensadas para a prática de um desporto, mas os jovens da altura elevaram-nas a outro estatuto; são modelos que quebraram as regas de vestuário e penso que esta é a razão mais forte para terem direito a esta longevidade e a este estatuto eterno de peça de estilo. ”Entretanto, surgiram as ligações de outras “marcas” aos Stan Smith, como o universo Star Wars (com Yoda a tomar o lugar de Stan Smith) ou os Marretas. A fotografia de Smith com o seu inseparável bigode foi impressa na “língua” apenas no modelo de 2014, o Skateboarding. A criatividade dos diversos estilistas mantém-se igualmente através da utilização de novas texturas, diferentes tipos de tecidos (pano e vários tipos de pele) e materiais (incluindo cortiça) e introdução de novas tecnologias. A mais recente é uma sola em poliuretano termoplástico, desenvolvida em conjunto com a BASF, dotada de uma elasticidade que permite devolver energia ao sapato e deu origem ao modelo Boost. Actualmente, na loja online portuguesa, existem 70 versões do modelo, para homens, senhora e criança — incluindo nove para recém-nascidos. Originalmente fabricados em Landersheim, no Nordeste da França, os Adidas Stan Smith tiveram de responder à procura e a produção passou por vários países, como Argélia, Canadá, China, Checoslováquia, Alemanha, Hungria, Índia, Indonésia, Marrocos, Portugal, Espanha, Coreia do Sul, Taiwan, EUA ou Vietname. Em 2011, numa bem delineada estratégia de marketing, a Adidas anunciou o fim da produção do modelo Stan Smith —Craig Kallman, chairman e CEO da Atlantic Records, entrou em pânico e comprou (e mandou comprar) todos os pares possíveis, reunindo seis centenas de modelos nos armazéns onde guarda as suas colecções de discos. A justificação da marca: “Stan Smith é um mito que só se vende em França” Dois anos depois, novamente durante o Torneio de Roland Garros, a marca alemã anunciou o regresso do modelo para 2014, assinalando o 50. º aniversário da sua criação. No relançamento, foi dado aos fãs a possibilidade de personalizarem o seu par, escolhendo a cores e inscrevendo o seu nome na palmilha. Em 2016, a popularidade dos Stan Smith explodiu na Índia, depois de a estrela de Bollywood Ranveer Singh usar um modelo no filme Befikre. ”É a história de um tipo estranho que se transforma num gajo fixe e conquista a rapariga, com os meus sapatos calçados”, brinca Stan Smith. Mais recentemente, a artista Diana “Didi” Rojas recriou os seus ténis favoritos em cerâmica, numa peça em tamanho gigante. Durante o torneio de Roland Garros de 1989 e perante Robert Haillet, co-criador do sapato, um representante do Guinness World of Records entregou ao responsável da Adidas um certificado pelos 22 milhões de pares vendidos. Hoje, estima-se que já tenham passado dos 40 milhões. “Este modelo, mesmo sendo extremamente icónico, é bastante básico, é quase uma tela em branco, o ponto zero da sapatilha. Penso que pode ser comparada ao polo do René Lacoste. São modelos absorvidos pela sociedade de tal forma que muitas vezes nos esquecemos de qual a sua verdadeira origem”, explicou Katty Xiomara. Versátil e minimalista, na linha da máxima “less is more”, o sapato é um fenómeno transversal na sociedade, que surpreendeu o próprio Stan Smith: “Raf Simmons usou os ténis diariamente durante dez anos, Usher disse-me que tem o modelo em todas as cores, vemos Harrison Ford, John Lennon. . . até a mulher do [actual] Presidente calça uns. Não tenho a certeza se isso é bom ou mau. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Em casa, Stan reúne 60 pares, divididos por dois roupeiros: um para os do dia-a-dia, outro para os de colecção. Continua activo na sua academia, em Sea Pines Resort (Carolina do Sul) — que criou em 2002 e onde prepara jogadores para o circuito profissional ou para obterem bolsas universitárias —, a par das suas funções de embaixador da Adidas, que o levam a todo lado e onde, repetidamente, se depara com o desconhecimento do seu legado. “No ano passado, num restaurante em Paris, três de quatro rapazes calçavam os meus sapatos. O meu amigo perguntou-lhes se sabiam quem era Stan Smith e mostrou-lhes que era eu que estava ali. Eles não acreditaram, mas, entretanto, devem ter feito uma pesquisa porque, no final do jantar, vieram pedir-me para lhes assinar os sapatos”, contou recentemente Stan Smith. Ao longo da vida coleccionou inúmeras amizades, cumprimentou seis presidentes dos EUA — visitou a Casa Branca e o casal Clinton jantou em sua casa. Mas Stan nunca imaginou que o seu nome alguma vez se tornasse tão popular. “Nunca sonhei que os meus filhos fossem um dia calçar Stan Smith, muito menos os meus netos”, admitiu o campeão. Tal como ele, também os Adidas Stan Smith têm lugar no respectivo panteão.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA