Cinco passos para te tornares fã de k-pop
Estas são cinco coisas que deves saber para entrar de cabeça no colorido universo k-pop: da música às expressões mais frequentes, dos dramas ao estilo. (...)

Cinco passos para te tornares fã de k-pop
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.45
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181231204516/http://publico.pt/1855319
SUMÁRIO: Estas são cinco coisas que deves saber para entrar de cabeça no colorido universo k-pop: da música às expressões mais frequentes, dos dramas ao estilo.
TEXTO: BTS: Na Coreia do Sul todas as sonoridades são bem-vindas e não é exagero nenhum dizer que há bandas para todos os gostos – do hip hop ao rock, passando pelo R&B. Mas, tal como no Ocidente, as mais populares são as bandas pop, como os BTS (um grupo formado por sete rapazes, todos com menos de 25 anos, que já somam cinco anos de carreira a ocupar os lugares cimeiros dos tops). Foram eles os principais responsáveis por trazer o k-pop para as tabelas de música norte-americanas, ao serem o primeiro grupo do género a alcançar um primeiro lugar na tabela Billboard 200, com a canção Love yourself: tear. BlackPink: Todas as integrantes deste grupo são, também, muito jovens – a mais velha tem uns tenros 23 anos – mas já andam nas lides da música há dois anos. A banda também já conseguiu alguma projecção internacional no Ocidente, especialmente depois da colaboração com a cantora britânica Dua Lipa, na música Kiss and make up. Red Velvet: São cinco e já conseguiram pelo menos uma proeza: arrancar um elogio do líder norte-coreano, Kim Jong-un, que disse estar “comovido” com a música pop sul-coreana depois de uma actuação da banda em Pyongyang, em Fevereiro deste ano. Idol (ou ídolo): São celebridades que foram treinadas, durante anos, para atingir o estrelato. Todas as estrelas de k-pop passam por este treino. São seleccionadas pelas agências e recebem formação de canto, dança e línguas. Pede-se que saibam falar um coreano perfeito, mesmo que tenham nascido noutras partes do globo. Bias: “Quem é o teu bias?”. Esta é uma pergunta que quase todos os fãs já terão ouvido. Os grupos de k-pop podem ter entre quatro a 13 membros e o bias é o membro favorito de um fã. Clube de fãs: Esta expressão não é de origem coreana, mas cada grupo de k-pop tem o seu clube de fãs e alguns adoptam nomes originais – como os Army, fãs de BTS. Arroz de fã (ou fan rice em inglês): São sacos de arroz que os fãs oferecem aos ídolos como símbolo de admiração e compromisso. Honoríficos: São intrínsecos à cultura coreana e foram adoptados pelos fãs da música pop coreana por todo o mundo. Hyung é usado por um rapaz para se referir a um homem mais velho; noona é o equivalente mas para mulheres. Uma mulher usa oppa para se referir a um homem mais velho e unni para uma mulher mais velha. Como a grande maioria dos fãs de k-pop são mulheres, oppa é a expressão mais utilizada para se referirem aos ídolos. Selca: Antes de a palavra “selfie” se ter tornado conhecida no Ocidente já os coreanos usavam a palavra selca para se referirem aos auto-retratos que faziam no telemóvel. É a combinação das palavras “self” (próprio) e “camera” (câmara). Foram os dramas sul-coreanos que deram início à onda coreana – ou hallyu, no original, uma nova vaga cultural. Começaram a ganhar popularidade no início dos anos 2000 e abriram espaço para que outros formatos pudessem conquistar público, como o cinema e a música. À semelhança das telenovelas portuguesas, as tramas costumam girar à volta do amor (muitas vezes não correspondido), relacionamentos e família. You and I (1997): Este é um dos dramas coreanos mais antigos. A história gira à volta da família de Park Jae Chul, um marinheiro, com três filhos e uma filha. Boys Over Flowers (2009): Baseado nos livros de banda desenhada japoneses com o mesmo título, Boys Over Flowers conta a história de Jan Di, uma rapariga de origem humilde que consegue uma bolsa para estudar numa escola de elite. My Golden Life (2017): Esta série foi uma das que mais prémios arrecadou na última edição dos KBS Drama Awards, o equivalente ao Emmy sul-coreano. Gira em torno da história de uma mulher que encontra uma forma de subir de estatuto social. São os sucessores das séries na onda coreana e um dos seus pilares fundadores. A indústria cinematográfica é mais antiga do que a korean wave – começou nos anos 1940 – mas foi no início do milénio que teve o seu desabrochar. Oldboy (2003): Conta a história de Oh Dae-Su, raptado e depois libertado com uma missão: encontrar o seu captor. Expresso do Amanhã (2013): Inspirado num livro de banda desenhada francesa, é um filme de produção sul-coreana mas falado em inglês. A história passa-se num em 2031, num futuro distópico no qual uma experiência sobre as alterações climáticas corre mal e mata toda a vida na terra. Apenas algumas pessoas se salvam e sobem a bordo do expresso do amanhã. As rotinas de beleza sul-coreanas são conhecidas por terem um sem-número de passos – a mais conhecida soma 12 passos, ainda que, em teoria, possam ter mais. Cobrem tudo o que é necessário para o cuidado da pele, passando pela hidratação, limpeza, tonificação e esfoliação. Mas não te assustes: estes 12 passos não são para repetir todos os dias. As marcas coreanas trabalham maioritariamente com matérias-primas naturais e até as marcas que produzem maquilhagem tendem a apostar mais nos cuidados de pele. O mote é: a beleza vem de dentro, não de fora. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A maquilhagem tende a ser natural, mas não é que os sul-coreanos sejam comedidos na hora de apostar. É comum ver tons coloridos e brilhantes nas pálpebras, mas tudo o resto deve ser mantido sóbrio. Nos lábios, o batom aplica-se no centro, criando um gradiente e perdendo cor à medida que se aproxima das extremidades. As sobrancelhas usam-se rectas, mas depiladas. Alguns produtos de beleza de marcas sul-coreanas podem ser encontrados nas lojas Yoyoso, lojas coreanas em Portugal. Existem no Dolce Vita Tejo e no Centro Comercial Alegro de Setúbal. O guarda-roupa difere. O streetwear é popular, assim como os tons pastel e os cortes a direito. Mas também não é incomum, em espectáculos e nos vídeos, ver mulheres com couro, renda ou lantejoulas e homens de fato ou com visuais monocromáticos. É caso para dizer que há roupa para todos os gostos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens filha escola cultura mulher homem social género mulheres rapariga cantora
Televisão japonesa cancela convite a banda de K-pop devido a camisola com mensagem política
Um dos membros da banda coreana usou uma camisola com a imagem da explosão de uma das bombas atómicas no território japonês. (...)

Televisão japonesa cancela convite a banda de K-pop devido a camisola com mensagem política
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.04
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um dos membros da banda coreana usou uma camisola com a imagem da explosão de uma das bombas atómicas no território japonês.
TEXTO: O canal de televisão japonês Tv Asahi cancelou o convite que tinha feito à banda sul-coreana BTS devido a uma camisola com uma mensagem política usada por um dos sete membros da banda há mais de um ano. A banda coreana BTS, também conhecida como Bangtan Boys, foi convidada pelo canal de televisão para uma entrevista no programa musical desta sexta-feira à noite, em antevisão da torné japonesa da banda de k-pop com arranque marcado para a próxima terça-feira. Mas o convite foi retirado porque começaram a circular, nas redes sociais, fotografias de um dos membros da banda vestido com uma sweatshirt branca estampada nas costas. Nas fotografias, retiradas de um dos episódios do programa de televisão da banda, BTS: Bon Voyage, vêem-se duas imagens e várias palavras escritas de forma repetida. Numa das imagens, vê-se uma nuvem em forma de cogumelo, semelhante às que se formaram depois dos ataques nucleares de Hiroxima e Nagasáqui, que mataram centenas de milhares de japoneses e causaram consequências irreversíveis no país. A outra imagem mostra vários coreanos a celebrar a libertação da ocupação japonesa, em 1945 – apenas um mês depois dos ataques nucleares perpetrados pelos EUA. Essas imagens surgem acompanhadas por quatro palavras, historicamente associadas à luta independentista coreana: “Patriotismo, História, Libertação, Coreia. ”Jimin, 23 anos, terá sido fotografado com a camisola no dia 15 de Agosto de 2017, a data celebrada pelos coreanos para marcar o fim da ocupação japonesa. Não se sabe se o jovem teve alguma motivação política quando usou a peça, que ainda está disponível numa loja online. Mas, para alguns fãs japoneses da banda, é “insultuosa”. “Temos a informação de que uma T-shirt usada por um dos membros causou alarido. Depois de termos falado com a editora sobre o que se passava, tomámos a decisão de adiar a sua presença no nosso programa”, lê-se no comunicado da televisão Asahi. A banda também publicou um comunicado a pedir desculpa aos fãs pela ausência no programa, mas sem referir a questão da camisola: “Pedimos desculpa por desapontarmos os nossos fãs que estavam ansiosos por isto. ”De acordo com o New York Times, o criador da camisola, vendida pela marca Ourhistory, pediu desculpa pela camisola e pela mensagem, que não queria que fosse entendida como "anti-japonesa". Há 70 anos que a derrota japonesa na II Guerra Mundial libertou a Península Coreana da ocupação colonial, mas o tema ainda é sensível para japoneses e coreanos. Há questões que se arrastam desde os tempos de guerra, como a questão “mulheres de conforto” coreanas, forçadas a trabalhar nos bordéis militares japoneses, que afectam as relações actuais entre os dois países. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os momentos de tensão multiplicam-se e agravam-se. O último registou-se no mês passado, quando o Supremo Tribunal da Coreia do Sul ordenou que uma empresa de aço japonesa a operar na península pagasse uma compensação a quatro sul-coreanos, submetidos a trabalhos forçados durante a guerra. Tóquio disse que esta decisão era “inaceitável”. Polémicas à parte, os BTS são uma das bandas de pop sul-coreano mais conhecidas e bem-sucedidas do mundo. Foram a primeira banda de k-pop alcançar um primeiro lugar na tabela internacional Billboard 200, com a música Love Yourself: tear. Apenas um mês depois, conseguiram a dobradinha com o tema Idol. Foram também os primeiros músicos sul-coreanos a discursar no âmbito da iniciativa Unlimited Generation da UNICEF, a convite das Nações Unidas.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Juiz mantém acusações de violação e agressão sexual contra Weinstein
Tribunal de Nova Iorque rejeita pedido de eliminação dos casos e dá uma vitória à acusação. Produtor que iniciou o movimento #MeToo volta a tribunal em Março. (...)

Juiz mantém acusações de violação e agressão sexual contra Weinstein
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Tribunal de Nova Iorque rejeita pedido de eliminação dos casos e dá uma vitória à acusação. Produtor que iniciou o movimento #MeToo volta a tribunal em Março.
TEXTO: Nos últimos meses acumulavam-se sinais de que o caso judicial contra Harvey Weinstein, o produtor acusado de violação e assédio sexual por dezenas de mulheres, pudesse estar a enfraquecer ou mesmo cair por terra. Mas esta quinta-feira um juiz de Nova Iorque declinou o pedido que visava rejeitar as acusações de que é alvo e que são a primeira manifestação judicial do caso que desencadeou o movimento #MeToo. Harvey Weinstein voltará a tribunal a 7 de Março para uma audiência prévia sobre as cinco acusações de violação e agressão sexual. A decisão do juiz James Burke foi célere na manhã desta quinta-feira em Nova Iorque (hora local), onde a imprensa aguardava as declarações do advogado de Weinstein, o experiente Ben Brafman – conhecido do grande público pela sua defesa do político francês Dominique Strauss-Kahn, antigo director do Fundo Monetário Internacional que foi acusado de atacar sexualmente a funcionária de limpeza Nafissatou Diallo num hotel em Nova Iorque em 2011. Para Brafman, esta decisão é, cita a CNN, “uma desilusão”. Ben Brafman defende que vários erros processuais e má conduta por parte da acusação justificavam que o caso contra Harvey Weinstein, o rosto mais público da vaga de denúncias de assédio e violência sexual de Outubro de 2017, fosse deixado cair. Depois de várias diligências, estava agendada para esta quinta-feira uma audiência que decorreu em privado, segundo detalha a rádio pública norte-americana NPR, e onde o magistrado informou as partes de que o caso em que três mulheres o acusam continuará. Harvey Weinstein, o produtor que passou a predador no tribunal da opinião pública, esteve presente e saiu rapidamente da audiência sem falar à imprensa. Negou sempre as acusações de várias mulheres de diferentes perfis – das superestrelas como Uma Thurman, Angelina Jolie a actrizes que dizem ter visto a sua carreira destruída por lhe resistirem como Mira Sorvino ou Ashley Judd, a suas funcionárias ou jornalistas que não são conhecidas do grande público – que se foram avolumando desde Outubro de 2017. Reapareceu em público em Maio quando se entregou e foi acusado de vários crimes sexuais em Nova Iorque, depois de ter estado meses resguardado da imprensa desde que as investigações do New York Times e da New Yorker compilaram dezenas de acusações e um perfil e um modus operandi que se tornou célebre. As investigações jornalísticas ganharam o prémio Pulitzer, o caso Weinstein acabaria por originar um movimento social internacional de denúncia do assédio sexual e influenciaria o desfecho de pelo menos um processo criminal – contra o comediante Bill Cosby. Mas o caso Weinstein tem na formalização das acusações sobre o produtor e sua ida a julgamento o seu potencial grande clímax – e um teste formal às mudanças ou limites do sistema judicial quanto aos casos de violência sexual. Harvey Weinstein enfrentava, até Outubro, seis acusações de crimes sexuais, mas o tribunal rejeitou uma delas depois de a defesa do produtor ter conseguido comprovar que um detective que investigava o caso não tinha dado informações à acusação sobre uma testemunha favorável ao acusado. Em causa estava o caso de Lucia Evans, que o acusava de a ter forçado a um acto de sexo oral em 2004 durante um casting; uma amiga da queixosa testemunhou contudo que a actriz lhe contara que o acto fora voluntário em troca de um emprego. Foi apenas um de alguns obstáculos que o caso contra o rosto do momento #MeToo enfrentou nos últimos meses, com Brafman a defender que o caso só está em tribunal por pressões políticas e com as probabilidades de a defesa poder contar, no futuro julgamento, com testemunhas que contem as suas histórias (algumas das quais as que chegaram aos média, com a força das celebridades e da opinião pública possivelmente já empática) como sucedeu no recurso contra Bill Cosby que reverteu a anulação do primeiro julgamento e acabou com a sua condenação. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Mas, como assinalava a Hollywood Reporter recentemente, é uma prática pouco comum nos tribunais em Nova Iorque. E o caso de Asia Argento, uma das protagonistas da história da New Yorker e que este Verão admitiu que pagou a um actor menor de idade pelo seu silêncio após uma relação sexual, é outro capítulo do #MeToo que demonstrou quão turvas são as águas dos casos de abuso sexual e das políticas do consentimento. O cenário, que por agora se salda com uma vitória de Harvey Weinstein na eliminação de uma acusação e numa vitória dos procuradores com a decisão de avançar para julgamento, é visto como “as aspirações do movimento #MeToo a embater nas exigências legais da prova que são necessárias num caso criminal”, como disse à Hollywood Reporter o advogado Roy Black. Do lado de Weinstein, um email da sua conta pessoal que surgiu na internet há duas semanas mostra-o queixoso: “Tive um ano do inferno. O pior pesadelo da minha vida”, escreveu o distribuidor e produtor, citado pelo New York Times, como símbolo da operação de relações públicas do alegado agressor que visa mostrá-lo como vítima de tratamento tendencioso. Esta quinta-feira, a conhecida advogada Gloria Allred, que representa uma das alegadas vítimas, disse aos jornalistas: “As manchetes que sugerem que o caso está a cair por terra estão incorrectas”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave violência tribunal social violação sexo sexual mulheres abuso assédio agressor
Ensino profissional perde um terço dos seus alunos mais frágeis
Os que chumbaram mais antes, continuam a chumbar mais depois. E 30% abandonam a escola. Segundo o investigador Joaquim Azevedo os dados confirmam que as escolas "não sabem lidar com as crianças que tiveram percursos muito conturbados durante o ensino básico”. (...)

Ensino profissional perde um terço dos seus alunos mais frágeis
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181231192402/https://www.publico.pt/1840976
SUMÁRIO: Os que chumbaram mais antes, continuam a chumbar mais depois. E 30% abandonam a escola. Segundo o investigador Joaquim Azevedo os dados confirmam que as escolas "não sabem lidar com as crianças que tiveram percursos muito conturbados durante o ensino básico”.
TEXTO: Os alunos que no ensino básico foram desviados para outras ofertas educativas, devido ao acumular de chumbos, são também os que menos sucesso alcançam nos cursos profissionais do ensino secundário. Esta é uma das principais constatações de um novo estudo sobre o ensino profissional, divulgado pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC). Seguindo o percurso individual de cada aluno, a DGEEC foi apurar qual era a situação em 2016/2017 dos alunos que, três anos antes, seguiram do 9. º ano para um curso profissional. À semelhança do que também se passa no ensino regular, três anos é o prazo normal (sem retenções) de conclusão dos cursos profissionais do secundário. E o que a DGEEC descobriu foi o seguinte: 70% dos cerca de 30 mil alunos que chegaram ao profissional vindos do ensino básico geral concluíram o curso em três anos, enquanto só 35, 6% dos 7869 estudantes que vieram de outras vias o conseguiram fazer. Mais: a percentagem dos que abandonaram o secundário sem terminar este nível de ensino sobe de 6% entre os primeiros para 30% no segundo grupo. Para o investigador da Universidade Católica, Joaquim Azevedo, que tem acompanhado de perto a realidade do ensino profissional, os dados agora divulgados vêm confirmar, por um lado, que “as escolas não sabem lidar com as crianças que tiveram percursos muito conturbados durante o ensino básico” e, por outro, que se continua a encarar o ensino profissional como se este servisse “para tudo e para todos”. Entre os estudantes que se inscreveram no ensino profissional em 2014/2015, estão incluídos 5652 alunos que concluíram o 9. º ano nos Cursos de Educação e Formação (CEF) do ensino básico, 1769 que terminaram o 3. º ciclo do ensino básico nos cursos vocacionais, criados por Nuno Crato, e 448 que frequentaram turmas do básico com Percursos Curriculares Alternativos (PCA). Todas estas ofertas têm em comum o facto de se destinarem a alunos com um historial de retenções, como comprovam aliás as suas idades médias de chegada ao secundário: oscilam entre 16, 9 e 17, 3 anos, enquanto os que vêm do ensino regular têm em média menos de 16 anos. O que mostra que os primeiros tiveram mais chumbos no seu percurso anterior do que os segundos. São cursos que, “já em si, constituem soluções de ‘segunda’ e de terceira’”, critica Joaquim Azevedo, para defender que quando os adolescentes, que foram para ali encaminhados, os terminam “deveriam continuar a usufruir de alternativas curriculares adequadas e não ser ‘remetidos’ para o ensino profissional, como se, por não ser ‘ensino geral’, servisse para tudo e para todos!”. O que não é verdade, insiste: “O ensino profissional não é um percurso mais fácil que o do ensino geral. Exige, por exemplo, uma clara orientação e ‘vocação’”. Ora, acrescenta, “uma boa parte dos alunos que são oriundos daqueles outros cursos do ensino básico não reúnem condições básicas para prosseguirem estudos em ambas estas modalidades [geral e profissional], que são pouco flexíveis e muito rígidas”. E por isso continuam a ter o fracasso pela frente já que, denuncia ainda Azevedo, continua a existir “uma devoção incompreensível e comum com o modelo curricular único e igual para todos, que arrasta imenso insucesso escolar desnecessário”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No conjunto, a percentagem de alunos que concluiu o ensino profissional em três anos passou de 53% em 2014/2015 para 60% em 2016/2017. No seu estudo, a DGEEC aponta outras diferenças que apresenta como "muito significativas". Por exemplo, em 2016/2017 a taxa de conclusão no tempo normal para um curso profissional na Área Metropolitana de Lisboa (46%) ficou 21 pontos abaixo da atingida no Norte (67%). É uma tendência que se repete. Como é também a do maior sucesso das raparigas, mesmo nos cursos profissionais: 68% concluíram em três anos, quando entre os rapazes este valor foi de 55%. Ou ainda a que aponta para um melhor desempenho das escolas profissionais privadas, onde 67% dos alunos conseguiram concluir no tempo normal. Nas secundárias públicas este feito foi alcançado por 56%. As classes mais favorecidas só optam pelo ensino secundário profissional quando os seus filhos mostram grandes dificuldades nos estudos. Esta é uma das conclusões da DGEEC, que analisou as idades de ingresso no ensino profissional e as taxas de conclusão em tempo normal entre os alunos dos escalões A e B da Acção Social Escolar (ASE) e comparou-as com as registadas entre os estudantes que não necessitam destes apoios. Primeiro resultado que a DGEEC apresenta como sui generis: ao contrário do que sucede no ensino regular, “os indicadores de sucesso no ensino profissional não atingem os seus valores mais elevados entre os alunos que não beneficiam da Acção Social Escolar (ASE), mas sim entre os que estão no escalão B”. Nos primeiros a taxa de conclusão em três anos é de 56%, enquanto nos segundos sobe para 63%. Entre os alunos oriundos dos agregados mais desfavorecidos, que estão no escalão A da ASE, este valor é de 52%, o mais baixo, portanto. Segundo resultado: “A idade média de ingresso no profissional é mais elevada para os alunos sem ASE (16, 1) do que para os estudantes no escalão B (16). " E isso quer dizer, frisa a DGEEC, que os primeiros “têm mais retenções anteriores” do que os segundos, quando em geral os estudantes do básico sem apoios da ASE “têm, em média, indicadores de sucesso escolar francamente superiores” aos dos alunos que beneficiam de apoios. Somando estas duas realidades, a DGEEC afirma então o seguinte: “Os alunos de estratos socioeconómicos elevados têm que evidenciar dificuldades escolares muito marcadas durante o ensino básico para que os respectivos agregados familiares optem pela sua matrícula no ensino profissional. "E aqui chegados aplica-se a eles o que se passa também com todos os outros alunos com um histórico de chumbos: como o “sucesso no básico é um dos preditores do sucesso no profissional” e eles não o tiveram, acabam também por soçobrar nos cursos profissionais.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação social estudo
O jazz arrasador dos Sons of Kemet e o funaná-festa dos Bulimundo no FMM
Fim-de-semana de encerramento do 20º Festival Músicas do Mundo, em Sines, com a festa a ficar por conta de Bulimundo e Baiana System, a sensualidade nas mãos de Yasmine Hamdan e Sara Tavares e o jazz mutante e inspirador assegurado por Sons of Kemet e Yazz Ahmed. (...)

O jazz arrasador dos Sons of Kemet e o funaná-festa dos Bulimundo no FMM
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -1.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Fim-de-semana de encerramento do 20º Festival Músicas do Mundo, em Sines, com a festa a ficar por conta de Bulimundo e Baiana System, a sensualidade nas mãos de Yasmine Hamdan e Sara Tavares e o jazz mutante e inspirador assegurado por Sons of Kemet e Yazz Ahmed.
TEXTO: A lua desponta por detrás das ameias do Castelo de Sines, mas carrega uma mancha que lhe suja a imagem e, quando subir mais um pouco, há-de ocupar o céu parcialmente encoberta, roubada da sua plenitude. Nesta noite de sexta-feira os olhos desviam-se com frequência do palco na direcção dessoutro espectáculo que concorre, por momentos, com a actuação do acordeonista finlandês Kimmo Pohjonen, acompanhado pelas duas filhas no projecto Skin. Mas, para lá dessa disputa, o eclipse da lua parece fornecer uma imagem bastante adequada daquilo que vemos acontecer em palco. O músico finlandês, que nos habituámos a ver nas suas muitas visitas anteriores a Portugal (só no Festival Músicas do Mundo foram duas as ocasiões) como se combatesse com o acordeão em palco e este fosse um objecto selvagem que Kimmo tentava domar com obstinação, parece ele próprio agora domesticado. As frequentes diatribes lancinantes em que Kimmo embarcava, com as quais agarrava o público pelos colarinhos e o encostava à parede, e que lhe valeram descrições como o “punk do acordeão”, surgem agora a espaços, como se Pohjonen, tal como a lua, não estivesse presente na totalidade. Percebe-se que é outra a natureza do projecto Skin, que partilha com as filhas, mais sintonizado com uma exploração melódica que acompanha as vozes etéreas de Inka e Saana. Mas é demasiado tentador olhar para Kimmo investido no papel de pai, inibido pela presença das suas crias, não querendo deixá-las desconfortáveis em público ao soltar o lado selvático da sua música. Mesmo com a ocasional irrupção (que recupera esse espírito) e uma polka tradicional como espelho da transmissão familiar (lembrando as polkas que Kimmo tocava em criança com o pai), pareceu sempre que o músico não quis ofuscar as virtudes das suas filhas (na guitarra/electrónica e na bateria), demasiado pai consciencioso para ser o músico total que conhecemos. Toda essa contenção foi para as malvas logo em seguida. Os Sons of Kemet de Shabaka Hutchings não nasceram para se atirar ao mundo com cuidados. Depois de visitar o FMM com os The Comet Is Coming, o saxofonista britânico regressou com o projecto que criou para não deixar cair em esquecimento a música caribenha com que cresceu. E tudo é pulsação, sangue e nervo nestes Sons of Kemet: a propulsão rítmica assegurada por duas baterias tocadas em simultâneo não dá tréguas e, não raras vezes, ameaça e chega mesmo a tomar conta do espectáculo, servindo-se do balanço percussivo das Caraíbas, mas “molhando o pão” também na força descontrolada e directa do rock mais sujo e do punk. A isto junta-se uma tuba que oferece tanto swing quanto tensão à música. As linhas de Theon Cross são uma endiabrada adulteração dos sons de Nova Orleães e garantem a constante ameaça de que há algo prestes a explodir na música dos Sons of Kemet. Ora quando Shabaka estende sobre o restante quarteto um saxofone inquieto, vigoroso e de uma enorme amplitude melódica, ouvimo-lo como se caminhasse sobre as brasas de Fela Kuti e Sun Ra, discursando sobre uma música escaldante e altamente inflamável naquele que foi, seguramente, um dos concertos maiores do 20º Festival Músicas do Mundo em Sines. Dos lados do jazz veio ainda uma outra extraordinária surpresa na sexta-feira – dia que acolheu ainda uns Cordel do Fogo Encantado pouco encantadores, demasiado prog-MPB e com a poeira do sertão talvez a toldar-lhes algum discernimento para elevar a ambição poética a um resultado musical condizente; e umas Maravillas do Mali que maravilharam com belíssimos arranjos de cordas dos mais clássicos sons cubanos, mas em que esta aparente liga de amizade Cuba-Mali se esqueceu de informar quase todos os malianos do local de encontro (felizmente Mory Kanté recebeu as coordenadas). O jazz chegou-nos então, também, pela trompete de Yazz Ahmed, música nascida no Bahrein e formada em Londres, cuja manipulação do som do instrumento encontrou sempre novas formas de nos envolver num som modorrento, como uma língua de calor que cercava cada tema e atirava cada segundo para um lugar de suave delírio às portas do deserto. Como que a fazer a súmula perfeita, tocou um tema inspirado pela realizadora saudita Haifaa al-Mansour e uma versão dos Radiohead. Belíssimo concerto. “Quando Deus bate palmas, a gente dança”. São estas as palavras com que Sara Tavares se refere à doença que motivou a sua longa ausência dos palcos e dos discos. E é este o mote para a magnífica actuação que leva a maior multidão de sempre no FMM ao concerto de fim de tarde no Castelo (isto num ano em que as enchentes não atingiram os mesmos níveis de edições anteriores), no derradeiro dia do festival. É o mote para a renovação que a cantora operou na sua música, ao brincar com sonoridades mais electrónicas – a ideia de que perante a ameaça da quebra se responde com vitalidade redobrada. Tudo é simples nas canções de Sara Tavares: o irresistível cardápio melódico, a banda extraordinária que lhe acrescenta riqueza sem complicar e a sensualidade meio velada, dengosa, feita daquele torpor encalorado que convida ao toque. Uma sensualidade bem diferente daquela que a libanesa Yasmine Hamdan leva para palco a abrir a noite de sábado do Castelo. Com Yasmine, não há canção que não seja construída sob essa névoa de mistério e sedução, de acordo com uma linguagem por onde serpenteiam o tempo todo melodias arábicas que são todo um programa de sugestão física. Quer seja o rock de matriz blues ou de variante psicadélica, quer sejam as tangentes ao trip-hop ou música ambiental, o reportório da cantora emigrada em Paris vive sempre dessa relação ambígua com a assertividade: nunca adopta um género de forma declarada, repete as linhas vocais com a qualidade de refrães pop, mas fá-lo com o efeito hipnótico da música árabe. E esse, na verdade, é o seu maior e muito eficaz encanto. Antecipando um pouco aquilo que viria mais tarde, o final do concerto de Sara Tavares far-se-ia com uma passagem pelo funaná e pelos Bulimundo. Os próprios Bulimundo chegavam horas depois, quase a encerrar a programação deste 20º FMM, com a sua colecção impagável de funanás que equivalem a uma festa permanente. E isso é tanto mais extraordinário quanto os Bulimundo possam ser sérios candidatos a banda mais estática do planeta. Os seus movimentos em palco são mínimos, tornando quase impossível acreditar que toda a ginga que ouvimos seja proveniente daqueles homens impávidos, cuja missão colectiva atinge um nível de verdade máxima sempre que Zeca di nha Reinalda pega no microfone. É daquelas vozes que parece sobrepor-se a tudo à volta, quase nos fazendo jurar que a única razão para haver instrumentos no grupo é para que a sua voz possa ser levada em ombros. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para quem desesperava por música que pudesse levar a multidão a um estado de euforia colectiva, nada mais acertado do que fechar o FMM no Castelo de Sines (haveria ainda mais música na praia) com os brasileiros Baiana System. Que é como quem diz: uma descarga sonora techno-rock-hip-hop-samba-dub, tudo junto para fazer tremer o chão de qualquer sítio por onde passem. Por entre gritos de apoio a Lula e de condenação de Temer, com os Baiana não há lugar a subtilezas e é pela acutilância do discurso e das batidas carregadas que se fazem ouvir (e bem). Numa noite que foi sempre de festa, foi bonito ver o zimbabueano Oliver Mtukudzi mostrar o quanto as suas belas canções se desenvolvem e incluem coreografias, mas nunca estão preparadas para terminar. É uma outra forma de verdade na música – em que os temas são colocados em marcha e se tocam enquanto houver alguma coisa a dizer naquele pequeno espaço musical de uma canção. Quando Mtukudzi diz que podiam “passar a vida inteira numa só canção”, não é exagero. E é, ao mesmo tempo, a mais justa imagem daquilo em que se tornou o FMM em 20 edições: o final chega sempre como uma surpresa e, mais do que isso, dá vontade de nunca se sair verdadeiramente de lá. O PÚBLICO está em Sines a convite do FMM.
REFERÊNCIAS:
Um passeio para mostrar uma Lisboa manchada de sangue
A cidade "do Tejo e tudo" tem um lado sombrio que é revelado numa visita aos seus momentos mais trágicos. Eis os Crimes de Lisboa. (...)

Um passeio para mostrar uma Lisboa manchada de sangue
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.6
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A cidade "do Tejo e tudo" tem um lado sombrio que é revelado numa visita aos seus momentos mais trágicos. Eis os Crimes de Lisboa.
TEXTO: Na sombria e evocadora Rua das Damas, em Alfama, a luz dos candeeiros vai e volta de forma intermitente, iluminando a chuva. O sítio escolhido para narrar tal crime não poderia ser mais evocativo. No início dos anos 1990, três mulheres foram assassinadas e esventradas por um homem que ficaria conhecido como o estripador de Lisboa. “O assassino, até hoje, nunca foi descoberto”, sussurra Marco Pedrosa, antes de ler o excerto de uma carta redigida por uma filha das vítimas. O actor e guia de 42 anos é o criador dos Crimes de Lisboa — uma visita guiada por locais da cidade conotados com eventos fatídicos, organizada pela Wild Walkers. Este passeio, explica, foi elaborado “a pensar nos portugueses”. E nos dois anos de visitas que leva, “o foco está em alguns dos eventos mais trágicos de Lisboa”. Nestas estórias que narra, apresenta pormenores sórdidos e procura ser o mais fiel possível ao que se passou. Só assim consegue transportar as pessoas para os episódios que evoca. Ana Santos e Catarina Oliveira, de 21 anos, resolveram embarcar na aventura não sabendo o que esperar. “Sempre me interessou a parte mais sombria do ser humano”, diz Ana. “Havendo a possibilidade de aliar isso a Lisboa, achei que seria interessante. " Catarina vem acompanhá-la, mas não conhece muitos crimes, ao contrário da amiga. “Três meses depois da primeira morte, o assassino volta a matar”, conta Marco. Os pormenores sobre os crimes adensam-se quando Ana Paula, de 47 anos, uma das participantes que veio acompanhada pelas filhas, questiona incrédula: “Esta história é verdadeira?”. O Pátio do Carrasco, dividido entre o Largo de São Martinho e a Rua do Limoeiro, é ponto de passagem da visita. O amarelo das casas com vista para o empedrado escuro do átrio ajuda a recriar o cenário que ali se vivia no século XIX. Terá sido nesse pátio funesto que viveu o último carrasco de Portugal. Ali, junto à antiga cadeia do Limoeiro, contam-se as histórias de Luís Alves, o último homem cujo trabalho era matar. “Foi por ser algo fora do tradicional” que Marina e João Santos, 34 e 36 anos, resolveram enveredar no passeio de final de tarde. Dos crimes e acontecimentos que foram escutando, dizem que “não é propriamente uma coisa que se aprenda na escola” e que esse é o “grande atractivo”. Da Praça do Comércio, passando pelo Largo de São Domingos, a caminhada sobe até ao miradouro do Chão do Loureiro. No antigo mercado transformado em parque de estacionamento, contemplam-se as reminiscências de uma Lisboa antiga, ao som de um encapuzado acompanhado por uma guitarra. Do nevoeiro que embruma as vistas, ganha-se uma perspectiva única da dimensão arrasadora do terramoto de 1755. Só o Convento do Carmo resistiu. Este ponto da visita serve para ilustrar a relação entre eventos trágicos e as mudanças na cidade que deles advieram. Daí até ao Rossio, o percurso é feito debaixo de uma chuva miudinha. Catarina Maria foi uma das muitas infiéis a morrer na Praça D. Pedro IV durante o período da Inquisição. Os autos-de-fé eram uma “exibição pública do tema perante uma cidade ao rubro”, explica Marco. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Para Marco Pedrosa havia uma lacuna em Lisboa pelo facto de ainda não existir este tipo de visita. “É uma forma de mostrar os crimes reais da cidade”, diz. A ligação entre eles não é temporal. O propósito é “ir aos sítios onde ocorreram e relacioná-los”, conta. Os bilhetes para os Crimes de Lisboa podem ser adquiridos na Ticketline (15 euros o individual e 24 euros para duas pessoas). Se quiser fazer a visita num grupo de quatro, paga 40 euros. Em Janeiro e Fevereiro o passeio será sempre às 16h30 de cada domingo. “A nossa história está cheia de eventos trágicos. Esta é uma colectânea deles”, descreve o criador.
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Profissional de cibersegurança: procura-se
Há oferta e há muito dinheiro na área da cibersegurança. Mas faltam profissionais na área, falta formação para os criar, e falta interesse. O problema é global. (...)

Profissional de cibersegurança: procura-se
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há oferta e há muito dinheiro na área da cibersegurança. Mas faltam profissionais na área, falta formação para os criar, e falta interesse. O problema é global.
TEXTO: Os especialistas em cibersegurança – capazes de prevenir, detectar e resolver ameaças informáticas – estão entre os especialistas mais cobiçados por empresas. Com as pessoas a passar cada vez mais tempo online e com as empresas e serviços públicos cada vez mais informatizados, o risco de ciberataques é maior e também aumenta a gravidade que estes podem ter. Um ciberataque em massa pode bloquear o acesso a serviços essenciais. No ano passado, por exemplo, vários doentes em hospitais no Reino Unido tiveram de ser transferidos para outras instituições devido a computadores infectados com o vírus WannaCry. Em Portugal, o Serviço Nacional de Saúde não registou incidentes, mas, preventivamente, deixou de aceitar emails vindos de entidades externas. Os salários nesta área são bons, mas isso não chega para atrair todos os profissionais necessários. Em Portugal, um especialista que começa a trabalhar em cibersegurança pode ganhar entre 21 mil euros e 24 mil euros, brutos, por ano. Profissionais com experiência podem chegar aos 70 mil euros anuais, a que se somam vários benefícios extra. Porém, a cibersegurança é uma área que gera pouco interesse, em que há pouca formação universitária especializada, e onde os profissionais não ficam muito tempo na mesma empresa. Jorge Alcobia, director executivo da Multicert, uma empresa de segurança informática, diz que tem “uma dúzia de profissionais” nesta área, mas “com outra dúzia, continuava a não ter o suficiente para a quantidade de oportunidades que há para explorar”. A situação é semelhante noutras empresas, e a escassez também se faz sentir no sector público: Pedro Veiga, o ex-coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), que se demitiu recentemente do cargo, admitiu na altura que o centro tinha fortes “dificuldades em contratar pessoas”. A situação tem vindo a agravar-se nos últimos dois meses, diz Vasco Teixeira, gestor sénior na empresa de recrutamento Michael Page. “É uma combinação de vários factores: a fuga de talento para o estrangeiro, o novo regulamento sobre a protecção de dados, e a necessidade de estar protegido. ”“A guerra de talento resultou num aumento salarial nos últimos anos nesta área, mas obviamente que tudo depende das competências de cada profissional”, diz Beatriz Carrizo, directora de recursos humanos na S21Sec, uma empresa de segurança informática (que pertence ao grupo Sonae, dono do PÚBLICO). Desde 2016 que a empresa tenta recrutar mais destes profissionais. Actualmente, há 55 processos de selecção abertos, tanto a nível nacional, no Porto e Lisboa, como em Espanha e na América Latina. Beatriz Carrizo refere que a “capacidade para trabalhar em equipa” é fundamental, com "profissionais orientados a pessoas e a clientes". Encontrar pessoas não é fácil e a S21Sec optou por oferecer vários programas de formação específicos a profissionais que tenham cursos em tecnologias de informação. “Procura-se cada vez mais a combinação de um perfil especializado e as chamadas soft skills”, resume Vasco Teixeira, da Michael Page. “É preciso um papel pró-activo ao falar com outras empresas, e também um papel de evangelização dentro da própria organização, ao definir e explicar o que são boas práticas de segurança e garantir que os trabalhadores as aplicam. ”“Têm um perfil raro, que é difícil de encontrar. E não há formação académica específica em Portugal”, nota, por seu lado, Jorge Alcobia, da Multicert. “Pode-se tirar engenharia informática, administração de sistemas, mas tem de se entrar na área por interesse pessoal, desenvolvido fora de horas. Geralmente, as pessoas que entram nesta área desenvolvem uma curiosidade sobre o tema aos 13 ou 14 anos e mantêm-na ao longo dos anos. ” As ofertas universitárias, argumenta Alcobia, não são suficientes. Por norma, as empresas preferem contratar profissionais que já estão no mercado há pelo menos dois anos. “Há quem chegue ao pé de nós e diga que tem muito interesse na área, mas é preciso ter experiência", diz. “Há cursos pequenos, mas existe uma falha ao nível do ensino superior. ”Em 2018, só há uma licenciatura focada em cibersegurança em Portugal: a de Segurança Informática em Redes de Computadores da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico do Porto. "A empregabilidade não poderia estar melhor”, diz João Paulo Magalhães, o professor que coordena a licenciatura. “Sinto isso no dia-a-dia, quando, por diversos canais, me perguntam sobre a disponibilidade de estudantes para abraçar desafios profissionais. ” As vinte vagas disponíveis para o concurso nacional são preenchidas na primeira fase, e as médias têm vindo a subir, bem como o número de estudantes que seleccionam a licenciatura como primeira opção. As outras opções académicas são uma licenciatura em engenharia informática ou em redes e sistemas, antes de se seguir para um mestrado ou especialização técnica na área. “Não há muitas licenciaturas e dificilmente haverá", defende Manuel Eduardo Correia, responsável pelo mestrado em Segurança Informática da Universidade do Porto. “Muito antes de fazer uma especialização é preciso ter bases que só se conseguem em áreas como engenharia informática. Um mestrado como o nosso é a resposta mais comum a nível da Europa e a nível internacional. ” Luís Rodrigues, responsável pela licenciatura e mestrado em Engenharia Informática e de Computadores do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, concorda que uma aprendizagem muito direccionada no início dos estudos não faz sentido: “Não é interessante ingressar num curso excessivamente focado. Uma especialização com esse cariz faz mais sentido no contexto da formação pós-graduada, já no mercado de trabalho. "Os problemas, porém, não acabam com a contratação. “É muito difícil reter”, frisa Jorge Alcobia. “Não são pessoas que procuram progressão de carreira a nível hierárquico, mas sim novas oportunidades e desafios. Tendem a ficar um ou dois anos numa empresa antes de decidir que já aprenderam o suficiente. ” Deixar o emprego não é problema. “É fácil saltar de um lado para o outro”, diz. Recrutar profissionais fora do país não é solução, porque a escassez é global. Até 2022, o mundo vai precisar de 1, 8 milhões de profissionais de cibersegurança – que não existem – para lidar com o número crescente de ataques. Os dados vêm da ISC2, uma associação internacional para profissionais de cibersegurança, que em 2017 realizou inquéritos sobre o tema em 170 países. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Há um problema global de pessoas”, explica John McCumber, director daquela associação. “É preciso trabalhar com organizações públicas e privadas, e com governos, para desenvolver formas mais criativas e acessíveis de entrar na área através de escolas vocacionais, estágios, e mais. "Segundo o relatório da ISC2, 19% dos profissionais a trabalhar hoje na área vieram de áreas alheias à informática como vendas, finanças, marketing e contabilidade. E, embora outras áreas das tecnologias de informação já comecem a ver um maior equilíbrio de géneros, a área da cibersegurança é ocupada quase a 100% por homens. “Em Portugal, há claramente mais homens do que mulheres”, diz Vasco Teixeira, da Michael Page. “Mas acredito que não é algo para que os recrutadores olham. Numa área em que já há falta de trabalhadores, se o mercado estivesse a estrangular pelo género, perdia ainda mais. ”
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Eu não fui mãe adolescente
Não somos um grupo de amigos, somos pais e filhos com menos anos de diferença do que outros, mas somos daqueles que impõem regras e horas de recolher. (...)

Eu não fui mãe adolescente
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Não somos um grupo de amigos, somos pais e filhos com menos anos de diferença do que outros, mas somos daqueles que impõem regras e horas de recolher.
TEXTO: Há dias recebi um convite profissional para ir almoçar em família a um restaurante que tem essa modalidade ao domingo: almoços de família. Aleguei que os meus filhos já são crescidos e, do outro lado, responderam que era um almoço de família. Na segunda-feira, recebi um telefonema a perguntar se correra tudo bem, se tínhamos gostado, que idade tinham os meus filhos e terminou com um “foste mãe adolescente?”. Confesso que corei. Eu sei que os meus filhos bebem vinho e os das minhas amigas mal seguram no biberão ou bebem iced tea, mas eu não fui mãe adolescente. Fui mãe mais nova do que a minha mãe ou a minha sogra, que na sua geração foram mães tardias, quase a bater nos 30. Hoje seriam, pelos vistos, mães adolescentes. É certo que aconteceu ser mãe, não foi planeado. Se tivesse sido, teríamos esperado pela casa com 200 metros quadrados e com garagem no centro da cidade; pelo carro familiar; pelas viagens de sonho e só depois teríamos pensado no primeiro filho. Com isso, sim, teríamos esperado dez anos, chegado aos 35 e seriamos pais pela primeira vez. Não foi assim e, por consequência, tivemos de fazer tudo ao mesmo tempo: o miúdo, a mobília comprada às peças que a Altamira (já não existe) nos ia guardando; os copos da Ritzenhoff ou a torradeira da Kenwood que íamos namorando na Dimensão (que já não é na Praça de Alvalade, em Lisboa); e ainda hoje sonhamos com o carro. Mas o miúdo era o mais importante e mais tarde, a miúda. Cedo aprendemos com o nosso pediatra que são eles que têm de se adaptar a nós e não o contrário. Cedo percebemos que se não há o carrinho de bebé de última geração, há de penúltima; se não há o brinquedo que dá música e projecta luzes no tecto para os adormecer ou aparelhos para esterilizar tetinas e chupetas, há canções de embalar e uma chaleira ao lume. Saudáveis, cresceram saudáveis, com as vacinas em dia e sem doenças a assinalar. À medida que cresceram não houve game boys, nem portáteis ou televisões no quarto, os telemóveis entraram tarde nas suas vidas, mas os livros estiveram sempre presentes. Livros que se liam em conjunto, primeiro para aprenderem a ler, hoje só pelo prazer de partilhar frases de um livro de poesia, de um post numa rede social ou de uma notícia. As viagens são feitas quando é possível, que é o mesmo que dizer, quando há dinheiro. Sem medos que os meninos fiquem traumatizados porque os amigos já foram à neve e eles não. Os meninos foram à neve e com os amigos. Já fizeram viagens intercontinentais e muito do que viajaram foi à sua conta porque os meninos já bebem vinho e também trabalham no Verão para conhecerem mundo. Outras viagens fazemos em família e é óptimo acontecer numa altura da vida em que somos quase da mesma idade (!), em que podemos fazer as mesmas coisas, ir aos mesmos sítios sem estarmos com preocupações se são muito pequenos, se estão cansados, se querem ir à casa de banho, se…Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É possível, sempre foi, conversar sobre tudo, das pilas do Mapplethorpe às raparigas violadas e presas em El Salvador por fazerem abortos, passando pela morte do último realizador italiano cujo filme provocou enormes filas na Avenida da Liberdade em 1974 ou pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia e o impacto que pode ter na Europa, no mundo. Falamos de igual para igual, há alturas em que a conversa merece bolinha vermelha no canto e há outras em que aprendemos tantas coisas com eles que ficamos deslumbrados. Mas atenção, não somos um grupo de amigos, somos pais e filhos com menos anos de diferença do que outros, mas somos daqueles pais que impõem regras e horas de recolher. Às vezes somos mais chatos do que os pais mais velhos, percebemos pelas queixas deles. Temos outra energia, argumento. Mas também há noites em que são eles que nos ligam, preocupados, a perguntar por onde é que andamos. Portanto, aos casais que adiam e adiam o momento de ter filhos só posso dizer-vos que há alturas difíceis, que podemos ser penalizados na nossa carreira porque temos de os ir buscar a horas à escola; que o dinheiro parece não chegar para tudo o que ambicionamos para eles e para nós; que os primos podem receber uma bicicleta no Natal e eles as aventuras do Astérix; que pode ser preciso engolir o orgulho e pedir ajuda aos nossos pais; mas que é fantástico poder desfrutar de uma refeição com gente que sabe estar, que sabe conversar e que sabe apreciar um bom vinho. Nesses momentos só ansiamos por que eles sigam o nosso exemplo, se lancem na aventura de ter filhos sem planear demasiado, de maneira a que possamos ser jovens avós, bisavós até, e ter a mesa cheia de conversas e riso.
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Mas afinal o que é que o musical Hamilton tem?
Um musical de hip-hop, que foca o nascimento da nação americana, deleitou um Presidente americano e provoca agora a fúria noutro, num vendaval de afirmações divergentes que retratam a divisão da era Trump. (...)

Mas afinal o que é que o musical Hamilton tem?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um musical de hip-hop, que foca o nascimento da nação americana, deleitou um Presidente americano e provoca agora a fúria noutro, num vendaval de afirmações divergentes que retratam a divisão da era Trump.
TEXTO: Foi um dos temas do fim-de-semana. Na sexta-feira o vice-Presidente eleito norte-americano, Mike Pence, foi à Broadway, em Nova Iorque, ver o musical Hamilton, tendo sido vaiado e interpelado no final pelo actor Brandon Dixon, que leu uma declaração em forma de apelo: “Esperamos que este espectáculo o tenha inspirado a defender os valores americanos e a trabalhar para o bem de todos nós”, ouviu-se às tantas, enquanto era recordado que a história americana ali relatada só havia sido possível porque foi “contada por um grupo diverso de homens e mulheres, de diferentes cores, credos e orientações. ” O resto da episódio é conhecido. Donald Trump não gostou do ocorrido e publicou no Twitter que Pence havia sido “acossado” e acusou o elenco do musical de ter sido “muito rude” para “um homem muito bom”, exortando a um pedido de desculpas. O actor Brandon Dixon utilizou também as redes sociais para dizer a Trump que “conversar não é assédio”, ao mesmo tempo que elogiava Pence por ter escutado. Já o próprio Pence pareceu relativizar o sucedido, afirmando no domingo que não se sentiu ofendido “com o que foi dito”, adiantando que tinha “apreciado o espectáculo”, deixando ao mesmo tempo uma mensagem política: “O Presidente eleito será o Presidente de todos. ”Talvez. Mas a verdade é que o ocorrido veio evidenciar a divisão do país na era Trump, com as etiquetas no Twitter a repartirem-se entre menções satíricas ao passado ultraconservador de Pence ou a clamores de vingança e de boicote ao musical, lançados pelos apoiantes do novo Presidente. Por sua vez organizações defensoras dos direitos civis protegeram o respeito pela liberdade de expressão reconhecido na constituição do país. “Os americanos não necessitam de pedir perdão, nem sequer a Presidentes ou vice-Presidentes, pelo exercício apropriado e lícito dos seus direitos constitucionais”, respondeu a Trump, a American Civil Liberties Union. Já esta segunda-feira, em declarações à CBS, o actor Brandon Dixon, que na peça faz de Aaron Burr, o terceiro vice-Presidente americano, repetiu que não existe motivo para pedido de desculpas. O actor, que integra um elenco multirracial, apesar das figuras históricas que desempenham serem brancas, voltou a defender a declaração de sexta-feira, asseverando que “apenas quiseram difundir uma mensagem de amor e unidade”, depois de uma campanha eleitoral onde vieram ao de cima divisões profundas. Por sua vez, os defensores de Trump carregaram contra aquilo que consideram ser o “ódio” da esquerda pelos brancos. “A arrogância e hostilidade do elenco de Hamilton vem recordar-nos que a esquerda ainda está em luta”, disse no Twitter, Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara de Representantes e possível futuro membro do Governo de Trump. Mais radical foi David Duke, ex-líder do Ku Klux Klan, que escreveu que “o Presidente Trump deveria cortar todo o financiamento para as artes a estes anti-brancos. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O incidente tomaria estas proporções se o espectáculo fosse outro? É pouco provável. É que Hamilton conta a história do “nascimento” dos Estados Unidos dando ênfase à ideia de “país multicultural”, fazendo-o com actores brancos, negros e hispânicos nos papéis de fundadores da nação, como Alexander Hamilton ou George Washington. O musical foi criado por Lin-Manuel Miranda, que apoiou a candidata derrotada, Hillary Clinton, que aliás viu o aclamado espectáculo, o mesmo acontecendo com Obama – diga-se que Miranda chegou a actuar na Casa Branca em 2009, já aí evidenciado paixão pelo hip-hop, com Barack e Michelle Obama no público. Hamilton não é um musical qualquer, utilizando os ritmos e a linguagem vernacular do hip-hop, para reflectir a história americana, com diálogos rápidos e uma mistura de referências da cultura popular actual e da história americana mais fundadora. O musical bateu desde o ano passado recordes de bilheteira e ganhou um Pulitzer em Drama e onze prémios Tony. Numa entrevista recente, Lin-Manuel Miranda partilhava os discos de hip-hop e R&B que anda a ouvir e ficámos a saber que os últimos álbuns de Common, A Tribe Called Quest e Alicia Keys não têm saído do seu leitor de CDs. O musical, que já não precisava de publicidade – está esgotado há meses – vai chegar à Europa, mais exactamente a Londres, no próximo ano, tudo indicando que nos próximos dias a polémica venha a esvaziar-se um pouco. Afinal, dizem os mais cínicos, esta polémica até beneficiou Trump, desviando as atenções de uma outra: o acordo firmado, na ordem dos 25 milhões de dólares, para encerrar os processos por fraude contra a sua universidade alegando que, com as novas responsabilidades, não terá muito tempo de ir a tribunal.
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O que se está a passar nas prisões?
O PÚBLICO explica-lhe de que se queixam os reclusos e porque protestam os guardas prisionais. (...)

O que se está a passar nas prisões?
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181231194056/https://www.publico.pt/n1853723
SUMÁRIO: O PÚBLICO explica-lhe de que se queixam os reclusos e porque protestam os guardas prisionais.
TEXTO: Qual foi a gota de água que esteve na origem do motim de terça-feira na cadeia de Lisboa?O facto de os reclusos terem sido avisados apenas na terça-feira ao fim da tarde de que no dia seguinte, dia de plenário de guardas prisionais, não haveria visitas. A maior parte já não estava em condições de informar os familiares do cancelamento. Nas greves, a lei obriga a pré-avisos com maior antecedência, o que permite informar previamente tanto os reclusos como os respectivos familiares, o que não é o caso dos plenários de trabalhadores em que o prazo é muito mais curto. Qual foi o motivo do aviso tão tardio?O Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional e a Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais acusam-se mutuamente pelo atraso. O presidente do sindicato, Jorge Alves, garante que enviou a informação da convocação do plenário na sexta-feira à tarde. Já o director-geral das prisões, Celso Manata, insiste que a informação não referia os serviços mínimos e que isso obrigou a uma negociação com o sindicato que só ficou terminada na terça-feira. Tal só permitiu avisar os reclusos na terça-feira à tarde. Jorge Alves assegura, no entanto, que a questão dos serviços mínimos só lhe foi colocada pela direcção-geral na terça-feira. Por outro lado, refere que a convocatória deixava aos delegados sindicais a responsabilidade de acordarem os serviços mínimos com a direcção das respectivas cadeias, caso a caso, já que em alguns estabelecimentos nem sequer houve plenário. Este é o único problema existente na cadeia de Lisboa?Não. Esta prisão é uma das que apresentam piores instalações. São recorrentes as queixas de falta de condições e da convivência forçada com baratas e ratos. Isto além do frio e da má qualidade da alimentação. Segundo o sindicalista Jorge Alves, com o novo horário imposto pelos serviços prisionais aos guardas e que, nesta prisão, arrancou no início do ano, foi suprimida uma das três visitas semanais. Tal concentrou os visitantes nos dois dias que ficaram, o que faz com que os familiares tenham que esperar muito tempo para a revista pessoal e dos bens que entram na cadeia. Por isso, os visitantes nunca conseguem usufruir da hora de que dispõem para a visita, ficando, por vezes, limitados a um quarto de hora. Jorge Alves reconhece que até já houve casos em que, face ao atraso, os familiares não conseguiram entrar na cadeia. “Nesta prisão só há uma guarda feminina a fazer a revista de cerca de 400 mulheres em média por dia”, exemplifica o presidente do SNCGP, realçando a grave carência de guardas. Segundo os últimos dados dos serviços prisionais, relativos a final do ano passado, estavam na cadeia de Lisboa 985 reclusos, mais 98 pessoas (11%) do que as vagas existentes. Apesar da sobrelotação na prisão da capital, havia casos bastantes mais graves, como o Estabelecimento Prisional do Porto, onde, no final de 2017, viviam 1128 reclusos nas 686 vagas existentes. Quantas greves já fizeram os guardas prisionais na cadeia de Lisboa este ano?Segundo dados da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público até esta quarta-feira tinham ocorrido 312 dias de greve este ano no Estabelecimento Prisional de Lisboa, 299 dos quais às horas extras. Além dos sete dias de greve nacional (incluindo quatro dias entre 1 e 4 de Dezembro) contabilizados até esta quarta-feira, houve ainda uma paralisação de seis dias apenas nesta cadeia que afectou o horário normal de trabalho. Porque protestam os guardas prisionais?A greve às horas extras, habitualmente entre as 16h e as 19h, foi uma reacção à imposição por parte da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais de novos horários de trabalho. Os novos turnos entraram em vigor em três fases até ao final de Maio, tendo começado logo no início do ano em seis cadeias (Lisboa, Porto, Coimbra, Paços de Ferreira, Castelo Branco e Funchal). Estes estabelecimentos prisionais avançaram logo para 15 dias de greve às horas extras, tendo Lisboa sido a única a manter o protesto. Mais tarde, em Agosto, o hospital prisional, em Caxias, começou um protesto idêntico, que se mantém. “Nos novos horários, a maior parte das rendições dos guardas ocorre durante o dia, quando os reclusos ainda estão fora das celas, o que provoca problemas de segurança”, realça Jorge Alves. O sindicalista acusa o director-geral de perseguir os guardas, nomeadamente os da cadeia de Lisboa, a quem a direcção geral já instaurou mais de 120 processos disciplinares por se recusarem a fazer mais de duas horas extras por dia. Além disso, os guardas exigem que os seus vencimentos, que são equiparados aos da PSP, acompanhem os escalões adoptados por aquela polícia. E reivindicam duas novas categorias para a classe (guarda coordenador e chefe coordenador). Lembram que não existem cursos para chefes há 17 anos e que tal faz com que muitos guardas estejam a exercer essa função sem receberam o respectivo acréscimo remuneratório. Os guardas queixam-se ainda de não saberem se e como as progressões serão descongeladas nas suas carreiras. Que novas greves estão marcadas?O Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP), um organismo que representa mais de 90% da classe, marcou mais 18 dias de greve, em três períodos, até à antevéspera de Natal. O primeiro começa esta quinta-feira e prolonga-se por uma semana, até dia 13. O segundo começa no dia seguinte e mantém-se até 18 e o último está marcado entre os dias 19 e 23. A outra estrutura sindical, o Sindicato Independente do Corpo da Guarda Prisional marcou greve entre 15 deste mês e 6 de Janeiro. O que justificou a intensificação dos protestos em Dezembro?O presidente do SNCGP, Jorge Alves, reconhece que a altura do Natal é má para fazer greve, mas culpa o Governo pelo protesto. “Fomos empurrados para isto e temos pena que isto afecte os reclusos”, resume. O sindicalista acusa o Governo de andar a brincar com os guardas prisionais e o primeiro-ministro de desautorizar a ministra da Justiça. “Entre Maio e Agosto estivemos a negociar a revisão do nosso estatuto socioprofissional com pelo menos duas reuniões por mês, a 21 de Agosto o ministério manda-nos um projecto com o que aceitava rever para discutirmos no dia seguinte”, explica Jorge Alves. A reunião realizou-se, mas depois as negociações foram suspensas por causa das férias e do impacto financeiro das medidas. A tutela, garante o sindicalista, só se voltou a reunir com o SNCGP no final de Novembro. “A secretária de Estado informou-nos que o primeiro-ministro não ia renegociar o estatuto, porque este era recente [2014] e não se justificava”, indigna-se Jorge Alves. O Ministério da Justiça não quis comentar as acusações do sindicado. Que serviços mínimos estão assegurados?Os serviços mínimos que vão vigorar durante o período de greve que se inicia esta quinta-feira até dia 13 garantem, como habitualmente, uma visita semanal e duas horas de recreio ao ar livre, os serviços médicos urgentes e de higiene, além das deslocações aos tribunais em caso de diligências urgentes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Os bares e as “lojas” onde os reclusos se podem abastecer de produtos de higiene e alimentares vão estar fechados, o que vai impedir os reclusos de comprarem tabaco, por exemplo. Só estão autorizados telefonemas urgentes, ficando suspensas as formações e as actividades lectivas. O trabalho dos reclusos só se mantém quando estes são pagos por empresas ou desempenham funções ligadas à alimentação e higiene das cadeias (reclusos afectos às cozinhas, padaria e lavandaria). Qual é a divergência com as festas de Natal?Ao longo de Dezembro são habituais os tradicionais almoços/visitas de família programados. Os reclusos têm direito a juntar cerca de seis familiares e a almoçar no refeitório fora do horário habitual, tendo que contratar a alimentação à empresa que fornece a cadeia. No entanto, “não houve acordo”, garante o Ministério da Justiça, porque as festas de Natal ainda poderiam realizar-se após o protesto de 13 de Dezembro, que já tem os serviços mínimos fechados. Na greve que ocorre entre 14 e 18 deste mês, os guardas aceitaram integrar nos serviços mínimos a possibilidade de as mães reclusas levarem e trazerem os filhos à creche, e às festas de Natal, destinadas a estes. A decisão final quanto aos almoços de Natal ainda depende do colégio arbitral, que deverá igualmente decidir o que ocorre no período de 19 a 23 e no protesto agendado pelo sindicato independente, marcado para o período entre 15 deste mês e 6 de Janeiro.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE