A “vida normal” dos Cottim, uma família com a voz nas mãos
A comunicação é fervorosa na casa silenciosa dos Cottim. Mãe, pai e dois filhos são surdos. Mas têm a voz nas mãos graças à língua gestual portuguesa. Vinte anos depois de a Constituição reconhecer a língua materna deles, as barreiras persistem, apesar dos avanços. A vida de quem mora num universo sem som — e a aprendizagem por fazer dos ouvintes (...)

A “vida normal” dos Cottim, uma família com a voz nas mãos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.15
DATA: 2018-12-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: A comunicação é fervorosa na casa silenciosa dos Cottim. Mãe, pai e dois filhos são surdos. Mas têm a voz nas mãos graças à língua gestual portuguesa. Vinte anos depois de a Constituição reconhecer a língua materna deles, as barreiras persistem, apesar dos avanços. A vida de quem mora num universo sem som — e a aprendizagem por fazer dos ouvintes
TEXTO: Nos intervalos das aulas, olhava-a com o seu ar mais galante enquanto ela, interessada noutro colega da escola, o ignorava. Mas ele insistia, como se houvesse um “íman” entre os dois. Foi preciso algum tempo e muita paciência para conquistar algum espaço. Trocaram olhares, algumas palavras, mais tarde perderam-se em horas e horas de conversa. Tornaram-se próximos. Ele poupava a semanada para lhe pagar o bilhetes do cinema, uma ida ao café. Escrevia-lhe cartas de amor. Ataram namoro durante sete anos. Depois casaram-se. Tiveram dois filhos. E já lá vão uns 40 anos. “É uma vida normal, não é?”Maria Cecília Dias é surda. Mário Rui Cottim também. Mas a história deles não será muito diferente de qualquer outra história de amor. “Os ouvintes e surdos são exactamente iguais, só nos distingue a língua”, diz Maria Cecília: “Somos uma família como as outras. Só que somos muito felizes. ”Sentados no sofá, os Cottim aprontam-se para a entrevista. Cláudia Braga, intérprete de língua gestual portuguesa (LGP) que vai fazer a ponte entre o P3 e a família, pega no comando da televisão, avisa que vai desligar para o som não interferir na conversa. “Com som ou sem som, para nós é igual”, responde Mário Cottim a arrancar gargalhadas. O humor tem as portas abertas neste apartamento em Rio Tinto, Gondomar. Pais e filhos são surdos, integram uma comunidade linguística e cultural diferente, mas querem deixar bem claro que surdez não é sinónimo de infelicidade — e só choca com inclusão e rima com preconceito porque o mundo ainda não girou o suficiente. Há uma diferença abismal entre a infância dos pais Mário e Maria Cecília e a dos filhos, Joana e Ricardo Cottim, 31 e 28 anos. E, se tudo correr como eles desejam, haverá um gigante fosso para a geração dos filhos que um dia virão. A LGP, cujo dia nacional se celebra nesta quarta-feira, dia 15, foi incluída na Constituição em 1997. Em Portugal, estima a Associação Portuguesa de Surdos, existem cerca de 120 mil pessoas com algum grau de perda auditiva. Muito mudou na vida delas nos últimos vinte anos — mas outro tanto há por fazer. Joana tem ideias muito claras sobre a comunidade da qual faz parte — sobre os erros e virtudes das decisões que têm sido tomadas. E recusa deixá-las nas mãos dos outros: “Como diz a Ana Sofia Antunes, [Secretária de Estado para a Inclusão das Pessoas com Deficiência], ‘nada para nós sem nós’”, sublinha. É muito simples: “Um ouvinte nunca vai sentir como uma pessoa surda. Por isso, é importante ouvir-nos, trabalhar connosco”. Era criança e já adorava acompanhar o pai nas idas à Associação de Surdos do Porto (ASP), cuja direcção integrava. Sentia-se bem no mundo dos gestos e cedo aderiu e participou no departamento jovem, sendo responsável pela organização de acampamentos, promoção de actividades culturais, celebração de aniversários. Aos 20 anos tornou-se a mais jovem vogal de sempre da Federação Portuguesa das Associações de Surdos (FPAS). “Aprendi muito sobre direitos, como proteger a comunidade e a língua, quais as barreiras, a luta pela acessibilidade. Tudo. ”Foi ao adquirir novos conhecimentos que, depois de completar um curso de LGP para formadores na ASP, percebeu a possibilidade do ensino superior: “Os meus pais não tinham ido para a faculdade, nunca ninguém me falou disso. Pensava que não era possível um surdo fazê-lo. ” Na Universidade do Porto conheceu obstáculos até então desconhecidos neste contexto. Mas não desistiu. Com outros surdos, bateu-se pelo direito a ter um intérprete em todas as aulas. E, “em 2007, conseguiu-se esse estatuto. ” Fez duas licenciaturas, um mestrado. Em 2013, fundou a Comissão Nacional de Jovens Surdos. Integrou um projecto pioneiro que levou a LGP aos palcos do Teatro Nacional de São João e promoveu visitas guiadas para surdos na Fundação de Serralves. Actualmente, é professora de LGP na Escola de Referência para a Educação Bilingue de Alunos Surdos (EREBAS) do Agrupamento de Escolas de Santa Maria da Feira. “Sonho muito com o futuro. A comunidade surda precisa de mim e eu dela. Faltam muitas lutas. ” Há dias, um amigo surdo de Joana foi atropelado e levado de urgência para o hospital. Ficou em estado crítico. Quando acordou, com sede, fez o gesto de água. Mas nenhum médico ou enfermeiro o compreendia. “Isto é muito grave. Vinte anos depois do reconhecimento da LGP os hospitais não têm um interprete o dia inteiro? É muito grave. ”Não é só nos hospitais. Nos bancos, no centro de emprego, no teatro ou em exposições, em vários serviços públicos. Muita coisa está por mudar — “sobretudo mentalidades”. Na segurança social e nas finanças, exemplifica Joana, os surdos têm de marcar um horário para terem atendimento com intérprete: “Um ouvinte pode ir a estes serviços a qualquer hora, num intervalo de almoço, quando tem um tempo livre. Nós não”, diz, perante o aceno do pai: “É um direito de cidadania. ”Maria Cecília nasceu surda, depois de um parto difícil onde foram usados fórceps. Mário Cottim não tem a certeza: ou nasceu já sem ouvir ou terá acontecido quando, ainda bebé, caiu da cadeirinha alta de refeições e sangrou de um ouvido. Os dois, nascidos em 1956, são filhos de pais ouvintes, como acontece na maioria dos casos. Era uma outra realidade aquela onde eles cresceram. Por essa altura, ainda se procurava uma “normalização” dos surdos, com cirurgias, utilização de aparelhos de fonoaudiologia e o ensino da língua oral em detrimento da LGP. A escola tinha como missão primeira ensinar os alunos a falar — ainda que, sem os gestos, muitos se limitassem a repetir as palavras sem lhes entender o sentido. Eram pouco mais do que analfabetos funcionais. Ao vê-la perdida na escola onde a professora pouco a entendia, os pais de Maria Cecília deprimiram. A única palavra que conseguia dizer era “pai”. A dada altura, ao ouvirem falar do Araújo Porto, um colégio para surdos, decidiram visitá-lo. “Os alunos eram todos surdos, todos. Fiquei pateta a olhar para aquilo. Eram só meninas”, recorda Maria Cecília. Chorou muitas vezes ao ser deixada ali, achava “estranho” aquele cenário. Mas aos poucos foi-se habituando: aprendia a oralizar com as freiras e a gestualizar com as colegas. Um dia, teria uns oito anos, chegou a casa e disse: “mãe”. “Ela ficou em choque, chorou emocionada. ”Mário Cottim esteve também numa escola normal até à quarta classe. Depois, foi para Lisboa, onde havia um colégio para rapazes surdos. “Aprendi a oralizar, a fazer leitura labial, a escrever. Mas os gestos eram às escondidas. Usávamos uma mímica, misturada com LGP. Era confuso”, conta. Curioso, Mário Rui mergulhava em livros, ia ao cinema. “Lia as legendas e tentava compreender o contexto. Quando aparecia uma palavra difícil, apontava e depois, em casa, ia procurar ao dicionário e às enciclopédias. Perceber o contexto é o mais difícil. Mas repeti, repeti, repeti. Até conseguir algum conhecimento de português. ”Depois do casamento, Mário e Maria Cecília puseram-se a falar sobre filhos. Ambos tinham vontade de ser pais — mas a angústia era grande. Preocupava-os que eles herdassem a surdez e, em paradoxo, que fossem ouvintes com pais surdos: como iriam comunicar depois? Joana nasceu sem problemas auditivos. “Falava e falava, era muito exagerada”, sorri o pai. “Mas começámos a notar que estava a perder a audição”. Nessa altura, Ricardo já tinha nascido. E os dois irmãos tiveram varicela ao mesmo tempo. Poderá vir daí a perda de audição de Joana. A do irmão, mais tarde diagnosticado com síndrome de Asperger, seria provavelmente anterior. Para Maria Cecília, não foi fácil aceitar. “Fiquei doente, emagreci imenso. Pensava no futuro, como é que eles iam crescer. Vivia angustiada”, conta. O marido, optimista, jurava-lhe que tudo ia correr bem, só tinham de lutar. Mas Maria Cecília demorou a abraçar aquela realidade. Proibia a filha de gestualizar, insistia para que falasse. “Foi um erro meu, pensava de forma errada. ”Joana Cottim olha-a de forma terna. “A culpa não é dela, era da sociedade. ” Quando era pequena, Joana queria aprender LGP, mas a mãe dizia-lhe que não devia, que era feio. E então ela punha-se em frente ao espelho, escondida, a treinar. “Na rua, as pessoas ficavam a olhar com cara de parvas. Havia muito preconceito”, recorda: “Era por isso que a minha mãe me proibia”. Não foi por muito tempo: quando Maria Cecília percebeu que era com a LGP que a filha se ia desenvolver, mudou o chip. Tornou-se mãe protectora — e defensora da língua gestual. “Se as pessoas olharem, olham. . . Se diziam alguma coisa por o Ricardo berrar, ficava louca. Dizia-lhes ‘o meu filho é surdo e autista, ouviram?’. Pediam logo desculpa. ”Revolta foi sempre palavra fora do dicionário de Joana. Sentia, isso sim, alguma angústia quando percebia ser mais lenta do que os amigos da escola a captar os ensinamentos da professora. Mas foi uma adaptação: “A minha avó ensinou-me sempre que tinha de me integrar, revoltar não valia de nada. Ter pais surdos talvez tenha ajudado nisso. E o meu irmão: senti sempre que tinha de o proteger”, diz enquanto lhe faz festinhas na cara. O síndrome de Asperger dificulta a expressividade de Ricardo, “um menino muito carinhoso” e “apaixonado por poesia”. Joana sabe que não é científica a sua teoria, mas acredita nela como num resultado matemático: “A nossa comunicação, muito visual, fez com que ele tivesse menos dificuldades. Temos mais sensibilidade. ” No quarto do benjamim da casa, as estantes estão pejadas de livros, banda desenhada sobretudo. Depois de terminar o 12. º ano na Escola Secundária Alexandre Herculano encontrou emprego como gestor de stock num armazém farmacêutico. Faz uma vida normal. Na família Cottim, todos estão empregados — o pai na área de contabilidade de uma empresa, a mãe como auxiliar de acção educativa no Centro de António Cândido. Mas esse é um cenário invulgar entre a comunidade surda, onde a baixa literacia e o desemprego são problemas aumentados. “Depois de terminarem a escola, onde são mais ou menos acompanhados, muitos ficam isolados. Não se integram! A sociedade não tem resposta para eles. . . 20 anos depois. Como é possível?”, lamenta Joana. Recentemente, o Bloco de Esquerda propôs no Parlamento que a LGP passasse a ser ensinada nas escolas de referência também a alunos ouvintes e que fosse criado um grupo de recrutamento de professores de LGP, que, por não terem qualquer hipótese de vinculação, vivem constantemente em situação precária. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Há sinais de mudança”, admite Joana, feliz por também os cursos superiores de LGP estarem em crescimento e, com isso, se ter um leque de intérpretes cada vez maior. Joana Cottim tem também ensinado crianças que ouvem, em idade pré-escolar: “Penso no futuro e imagino-os a trabalhar nos mais diversos serviços públicos. Eu velhinha e eles a atenderem-me: ‘Olha, a minha professora de LGP!’ Em vez de se aprender mandarim, porque não apostar numa língua portuguesa? É o meu sonho. ”Há outros. Como o de ver a prestação social de inclusão desaparecer e ser substituída por verdadeira inclusão: “A prestação é, de certa forma, uma maneira abafar o problema. Prefiro ter acessibilidades a 100%”, argumenta. Ou os filhos que quer ter: “Quatro!”, responde perante o espanto sorridente do pai. “Já pedi à médica de família para fazer testes. Mas se for genético terei filhos na mesma. Serão felizes como eu. ” Ao ouvir falar de sonhos, Mário Cottim idealiza: “O que gostava de voltar atrás no tempo. . . Ter 20 anos e poder fazer o curso de arquitectura”, diz algo entristecido, para logo recuperar o sorriso. “A minha vez já passou. Mas a dos meus filhos não. ”O esforço, diz Joana Cottim, está muito do lado dos ouvintes — pois são estes que são, quase sempre, analfabetos na língua gestual. Não têm de existir dois mundos separados. Como escreveu Danielle Bouvet, numa poesia que Ricardo Cottim gosta de interpretar, “o mundo que tu ouves é o mesmo mundo que eu vejo”. A diferença é que os ouvintes “são viciados no som”, os surdos não vivem sem luz. Por isso andam sempre com uma lanterna: “A nossa comunicação é através dos olhos, na escuridão não comunicamos. ” Mário Rui Cottim resume numa frase: “Nós ouvimos com os olhos”. E a filha completa logo a seguir: “E a voz sai-nos das mãos. ”
REFERÊNCIAS:
Tribunal vai julgar 28 arguidos acusados de tráfico na prisão de Coimbra
Na base da rede estavam arguidos que, por vezes sob ameaças e violência física, guardavam a droga nas suas celas ou no próprio corpo ou tinham como missão recolher estupefaciente arremessados do exterior. (...)

Tribunal vai julgar 28 arguidos acusados de tráfico na prisão de Coimbra
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Na base da rede estavam arguidos que, por vezes sob ameaças e violência física, guardavam a droga nas suas celas ou no próprio corpo ou tinham como missão recolher estupefaciente arremessados do exterior.
TEXTO: Vinte e oito arguidos, a maioria dos quais se encontram já presos, vão começar a ser julgados em 14 de Janeiro, em Coimbra, por participarem num esquema de tráfico de droga na prisão desta cidade, entre 2016 e 2017. A rede, de acordo com o Ministério Público, terá funcionado, pelo menos, entre Janeiro de 2016 e Julho de 2017, estando em causa sobretudo haxixe. Segundo a acusação, a rede seria liderada por três homens que "têm um carácter violento, sendo temidos pelos reclusos e até por alguns guardas prisionais". Um deles é o britânico Steven Johnson, de 54 anos, condenado em 2013 à pena máxima (25 anos) por liderar um grupo que sequestrou e torturou um cidadão escocês no Algarve, em 2010. Este arguido está, de momento, a cumprir pena em Inglaterra. Outro dos alegados cabecilhas da rede é Fábio Santos, 27 anos, de Faro, que tinha sido detido pela Polícia Judiciária em 2014, depois de ter andado fugido às autoridades, sendo na altura suspeito de participar num esquema de tráfico de droga para a cadeia de Pinheiro da Cruz. O outro terceiro líder da rede tem 28 anos e é natural de Lisboa, estando a cumprir pena no Linhó. De acordo com a acusação, os três reclusos terão decidido "organizar e liderar um grupo com o propósito de introduzir e distribuir elevadas quantidades" de droga para venda "a um número elevado de reclusos". Contavam com a colaboração de cinco "homens de confiança", que actuavam "num segundo plano de organização, os quais, por sua vez angariavam e dirigiam, por diversos meios, outros elementos do grupo". "Toda esta actividade tinha um carácter organizado e tentacular, envolvendo igualmente arguidos não reclusos que, após receberem o produto das mãos de terceiros, entregavam-no a outros arguidos, nomeadamente, com saídas precárias ou em regime aberto, e que, por sua vez, o transportavam e introduziram" no interior da prisão de Coimbra, realça o Ministério Público. Na base da rede estavam arguidos que, por vezes sob ameaças e violência física, guardavam a droga nas suas celas ou no próprio corpo ou tinham como missão recolher estupefaciente arremessados do exterior. "Outros desempenhavam, cumulativamente, a função de cobradores de dívidas contraídas na aquisição de estupefaciente, exercendo reiteradamente pressão física e ou psicológica", lê-se na acusação. O Ministério Público relata alguns episódios de ameaças e violência física a reclusos. Um dos casos acabou num suicídio dentro da prisão, em Outubro de 2017. A mando de Steven Johnson, um recluso guardava bolotas de haxixe na sua cela, que foi alvo de buscas por parte dos serviços prisionais. Por forma a garantir que não seriam encontradas, o recluso atirou-as para a sanita, tendo transmitido o sucedido a Steven Johnson, que logo lhe terá exigido o pagamento, por transferência bancária, de 500 euros, frisando que, "se tal não acontecesse, o esfaqueava". A vítima ligou à mãe a pedir que fizesse a transferência, mas a progenitora não tinha o dinheiro. No dia 28 de Abril de 2017, o recluso tentou suicidar-se por enforcamento na cadeia de Coimbra, tendo depois sido transferido para Pinheiro da Cruz, "onde, por força das pressões sentidas, veio a pôr termo à vida" seis meses mais tarde, relata o Ministério Público. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A rede terá conseguido, pelo menos, uma vantagem económica de 21 mil euros no espaço de um ano. 22 dos 28 arguidos estão presos. No processo, são ainda acusadas seis mulheres entre os 21 e os 32 anos, namoradas ou amigas dos líderes da rede ou de terceiros, cujas contas eram usadas para o depósito dos pagamentos da droga comprada na prisão. Steve Johnson e Fábio Santos são acusados de crime de tráfico de droga, associação criminosa, extorsão na forma tentada, branqueamento de capitais. Já o terceiro alegado líder da rede é ainda acusado de ofensa à integridade física qualificada. A maioria dos arguidos reclusos são apenas acusados de crime de tráfico de estupefacientes, associação criminosa, sendo alguns ainda acusados de extorsão na forma tentada, por terem participado nas ameaças feitas a outros presos. As arguidas incorrem em branqueamento de capitais e associação criminosa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime homens violência suicídio prisão mulheres corpo
Cardeal George Pell, terceira figura do Vaticano, condenado por abusos sexuais
Notícia foi avançada pelo site norte-americano Daily Beast. Jornais australianos estão impedidos de publicar pormenores do julgamento e queixam-se de "censura". (...)

Cardeal George Pell, terceira figura do Vaticano, condenado por abusos sexuais
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Notícia foi avançada pelo site norte-americano Daily Beast. Jornais australianos estão impedidos de publicar pormenores do julgamento e queixam-se de "censura".
TEXTO: O cardeal George Pell, o terceiro mais importante na hierarquia do Vaticano, terá sido considerado culpado de duas acusações de abuso sexual de menores na Austrália, segundo o site norte-americano Daily Beast. Na quarta-feira, Pell foi afastado pelo Papa Francisco do influente Conselho de Cardeais. George Pell, de 77 anos, responsável pelas finanças do Vaticano, encontra-se suspenso dessas funções devido ao escândalo. Saiu de Roma no Verão de 2017 para começar a ser julgado em Melbourne, no seu país natal. Na quarta-feira, soube-se que foi afastado do Conselho de Cardeais do Papa, um importante órgão do Vaticano criado em 2013 e que era constituído por nove elementos. Com George Pell saíram também os cardeais Francisco Errázuriz Ossa, do Chile, e Laurent Pasinya, do Congo. Com estas saídas, o Conselho de Cardeais passa a funcionar apenas com seis elementos, já que o Papa "não vai nomear outros cardeais para o seu lugar", disse na quarta-feira o director da sala de imprensa da Santa Sé, Greg Burke. "Já em Outubro, o Papa tinha escrito aos três cardeais em causa, os mais velhos do grupo, agradecendo-lhes pelo seu trabalho", acrescentou Burke, citado pela agência Ecclesia. Para além de George Pell, também o chileno Francisco Errázuriz Ossa se viu envolvido no escândalo de abusos sexuais na Igreja Católica – foi acusado de esconder as denúncias de abuso sexual contra o padre chileno Fernando Karadima. O cardeal congolês Laurent Pasinya, de 79 anos, não está relacionado com o escândalo de abusos sexuais. O julgamento de George Pell está envolto em secretismo e os jornais australianos estão proibidos de publicar notícias sobre os seus desenvolvimentos. O país tem uma lei antiga que pode ser usada para travar a publicação de notícias sobre um determinado julgamento – o objectivo, hoje em dia mais difícil de alcançar, era o de impedir que a visibilidade desse julgamento contribuísse para influenciar o desfecho. Os órgãos de comunicação australianos estão obrigados a cumprir essa ordem do tribunal nos próximos meses, já que George Pell será julgado por outra acusação de abuso sexual de menores no próximo ano. O tribunal considera que as notícias sobre o desfecho do actual julgamento podem influenciar o decurso do próximo. Nesta quinta-feira, o jornal australiano Herald Sun saiu com uma primeira página a negro e com a palavra "CENSURADA". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "O mundo está a ler uma história muito importante que é relevante para os vitorianos. O Herald Sun está proibido de publicar pormenores desta notícia importante", escreve a direcção do jornal de Melbourne, no estado de Victoria. A notícia a que o Herald Sun faz referência foi avançada esta semana pelo site norte-americano Daily Beast, que considera não estar abrangido pela ordem do tribunal australiano. Segundo o site, o cardeal George Pell foi considerado culpado das acusações de abuso sexual contra dois menores, na década de 1990, e fica a aguardar o anúncio da pena a que será condenado.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave lei tribunal negro sexual abuso
Marcelo junta-se a outros líderes europeus a pedir maior ambição nas metas climáticas
A poucas semanas da cimeira sobre o clima do próximo mês na Polónia, na declaração conjunta, "Iniciativa por uma maior ambição climática", afirma-se que as alterações climáticas são "o principal desafio" dos tempos actuais. (...)

Marcelo junta-se a outros líderes europeus a pedir maior ambição nas metas climáticas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.125
DATA: 2018-12-15 | Jornal Público
SUMÁRIO: A poucas semanas da cimeira sobre o clima do próximo mês na Polónia, na declaração conjunta, "Iniciativa por uma maior ambição climática", afirma-se que as alterações climáticas são "o principal desafio" dos tempos actuais.
TEXTO: Líderes de 16 países europeus apelaram esta sexta-feira para maiores esforços no combate às alterações climáticas, numa declaração à qual o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, também se associou. A poucas semanas da cimeira sobre o clima do próximo mês na Polónia, na declaração conjunta, "Iniciativa por uma maior ambição climática", afirma-se que as alterações climáticas são "o principal desafio" dos tempos actuais. Marcelo Rebelo de Sousa assinou a declaração e saúda a iniciativa, como salienta numa nota publica na página da Presidência. No documento, Presidentes e primeiros-ministros alertam que as temperaturas médias globais já aumentaram acentuadamente quando comparadas com os valores pré-industriais. "Sentimos os efeitos imediatos, como no recente Verão, inclusivamente na Europa. Ondas de calor e incêndios escaldantes da Grécia ao Ártico ceifaram as vidas de dezenas de mulheres, homens e crianças enquanto destruíam a subsistência de muitos outros", dizem os responsáveis políticos na declaração. No documento, que tem como primeiro subscritor o Presidente austríaco, Alexander Van der Bellen, afirma-se que o aquecimento global é uma "séria ameaça à paz e à estabilidade em todo o mundo", e acrescenta-se que são necessárias medidas para o prevenir, que além de necessárias são benéficas para as economias e para as sociedades do mundo. Na Polónia, entre os dias 2 e 14 de Dezembro, vai procurar-se finalizar o trabalho iniciado no Acordo de Paris sobre o clima, assinado em 2015, e discutir a definição de novas e mais ambiciosas metas para 2025. Até agora, as metas apresentadas pelos mais de 190 países que assinaram o Acordo são insuficientes para reduzir a emissão de gases com efeito de estufa de forma a que o aquecimento global não ultrapasse os dois graus celsius em relação aos valores pré-industriais, sendo que a meta mais ambiciosa saída de Paris era a de limitar esse aumento a 1, 5 graus. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "Nós, colectivamente, temos a obrigação para as futuras gerações de fazer tudo o que é humanamente possível para acabar com as alterações climáticas bem como para nos adaptar aos seus efeitos adversos", dizem os subscritores da declaração. Entre os que a assinaram, além de Marcelo Rebelo de Sousa, estão os presidentes de países como a Alemanha, a Itália, Grécia ou o Chipre, a Finlândia ou a Eslovénia, entre outros. A Polónia, que recebe as próximas negociações mundiais sobre o clima, não assinou o documento. O governo polaco pede uma "transição justa", uma referência à ideia de que os trabalhadores de indústrias intensivas em carbono, como os das minas de carvão, devem receber apoio financeiro e formação para novos empregos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens mulheres
Inclusão de novas vacinas no programa nacional será feita “em articulação" com a DGS
Seguindo o percurso normal, a decisão final sobre este assunto caberá à ministra da Saúde, que se deve fundamentar no parecer da Direcção-Geral da Saúde. (...)

Inclusão de novas vacinas no programa nacional será feita “em articulação" com a DGS
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Seguindo o percurso normal, a decisão final sobre este assunto caberá à ministra da Saúde, que se deve fundamentar no parecer da Direcção-Geral da Saúde.
TEXTO: Afinal, a inclusão de três novas vacinas no Programa Nacional de Vacinação (PNV), que tanta polémica causou depois de ser aprovada no Parlamento sem consulta prévia dos especialistas, vai ter que ser feita “em articulação com a Direcção-Geral da Saúde (DGS)”. No texto final do Orçamento do Estado (OE) para 2019 conhecido ontem foi esta a versão que ficou expressamente consagrada. Esta redacção final vem “abrir um caminho de conciliação que permitirá à DGS fazer o seu trabalho do ponto de vista da saúde pública” e levar em consideração os pareceres da comissão técnica de vacinação (o grupo de peritos que avalia se faz ou não sentido alargar as vacinas a toda a população), reagiu a assessoria daquela direcção-geral. Foi em 28 de Novembro passado que o Parlamento aprovou, com os votos contra do PS e a abstenção do CDS-PP, as propostas do PCP e do BE no sentido da inclusão, em 2019, no Programa Nacional de Vacinação (PNV) das vacinas contra o rotavírus, que provoca gastroenterites, contra a meningite B, que já é dada gratuitamente a crianças em situações clínicas muito graves, além do alargamento da vacina contra o Papiloma Vírus Humano (HPV) aos rapazes (esta já faz parte do PNV mas apenas para as raparigas). Seguindo o percurso normal, a decisão final sobre este assunto (de alterar ou não o actual PNV para incluir estas vacinas) caberá à ministra da Saúde, que se deve fundamentar no parecer da DGS. Esta, por sua vez, tem que se fundamentar no parecer da comissão técnica de vacinação - que há algum tempo está já avaliar se faz sentido universalizar cada uma estas vacinas. Depois, se a decisão for positiva, vai ser necessário definir as condições em que a medida será aplicada - as crianças que vão ser abrangidas, o calendário de vacinação, o número de doses a administrar, entre outras coisas. Um processo complexo do ponto de vista técnico. O artigo que consta da versão final do OE diz que o Governo, "em articulação com a DGS", procede à integração no PNV das três vacinas. Na proposta apresentada pelo PCP esta expressão não aparecia, mas a deputada comunista Carla Cruz faz questão de sublinhar que os deputados “nunca disseram que a DGS não estaria envolvida”. O objectivo do PCP, reitera, foi o de possibilitar o acesso de todas as famílias a estas vacinas, que são recomendadas por muitos pediatras, e que o OE tivesse cabimentação para isso. Já a proposta do BE referia a "articulação" com a DGS. Quando há propostas com mesmo objectivo, os serviços do Parlamento fazem uma compatibilização e habitualmente usam a mais abrangente, explica o deputado bloquista Moisés Ferreira. “A fixação da redacção final foi feita por consenso entre todos os grupos parlamentares”, conclui o PCP. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Resta saber se as vacinas passarão todas para o PNV em 2019. No dia seguinte ao da aprovação das propostas, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, sublinhou que as três vacinas estavam a ser analisadas pela Comissão Técnica de Vacinação (CTV), mas esclareceu que, relativamente à do rotavírus, do ponto de vista estritamente técnico, a patologia que provoca “não tem peso suficiente em Portugal” para que a vacina seja candidata a integrar o PNV. Sobre a vacina da meningite B, acentuou que é necessário apurar, "de acordo com a bactéria que circula no nosso país, se a vacina é efectiva ou não". Quanto ao alargamento da vacina contra o HPV aos rapazes, disse que a CTV tem os dados que vão permitir, a curto prazo, emitir uma recomendação.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS PCP BE
Felismina ficou sem abrigo com uma filha pequena e um filho deficiente
Há na vida de Felismina um antes e um depois de Ricardo ter nascido com uma deficiência. Dedicou-se inteiramente a ele. Hoje vive com a família num alojamento temporário. (...)

Felismina ficou sem abrigo com uma filha pequena e um filho deficiente
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.03
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há na vida de Felismina um antes e um depois de Ricardo ter nascido com uma deficiência. Dedicou-se inteiramente a ele. Hoje vive com a família num alojamento temporário.
TEXTO: Esta é a quinta de uma série de reportagens sobre pobreza. Acompanhe nos próximos dias o dossier O que é ser pobre hoje em Portugal?Felismina Moutinho está sem abrigo. Não é expressão que adopte, mas é a que melhor descreve a sua situação, do companheiro, do filho adulto e deficiente e da filha menor. Dormem no Centro de Alojamento Social da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Ela num quarto com os filhos. O companheiro noutro quarto com um desconhecido. A mulher, de 46 anos, nunca pensou ver-se num sítio daqueles. Horas para entrar e sair do quarto, nenhuma hipótese de cozinhar, uma toalha de banho e uma toalha de rosto por semana, convívio forçado com estranhos. “Os seguranças olham para nós como. . . gente que não tem mesmo nada, que está mesmo por baixo. ”Há na sua vida um antes e um depois de Ricardo ter nascido, já lá vão 20 anos, com uma síndrome semelhante à trissomia 21. Contava cinco anos, o seu “estado de saúde complicou-se”. Felismina trabalhava como auxiliar de acção médica e fez contas à vida. “Se pagasse a alguém para ficar com ele, nunca iria fazer o que eu fiz. Abdiquei da minha vida para ajudar o Ricardo. E a dona Alice, a avó paterna do Ricardo, sempre me apoiou. ”Em Setembro, a Direcção-Geral da Comissão Europeia que avalia as políticas sociais na Europa publicou um estudo a chamar a atenção para o facto de os cuidadores informais correrem maior risco de “ansiedade, depressão, exaustão, isolamento”. Correm também “agravado risco de pobreza e mais dificuldades no mercado de trabalho”. Conforme a mesma investigação, este como outros riscos de pobreza tem género: em 2016, 7, 4% das mulheres desempregadas em Portugal nem procuravam um trabalho, porque cuidavam de um familiar (criança ou um adulto incapaz), percentagem que descia para 0, 8% nos homens. Cuidar de Ricardo é a grande ocupação de Felismina. O rapaz precisa de ajuda para tomar banho, para se vestir, para se calçar, para comer. Volta e meia, há que levá-lo a consultas, exames. Todas as tardes, terapia da fala numa parte da cidade ou fisioterapia noutra parte da cidade. E está à espera de vaga para a hidroterapia, que há-de ocupar-lhe duas manhãs por semana. O pai de Ricardo nunca assumiu tal papel. “Eu estava grávida, ele foi morar para Aveiro. Foi preciso a GNR ir buscá-lo, porque ele não vinha fazer o exame de paternidade”, diz ela. “Nunca deu nada ao Ricardo. ” A avó, essa, morava numa casa antiga e espaçosa e deu guarida a Felismina e ao filho. Felismina nunca pagou renda. Pagava parte das contas de água, luz e gás. Há oito anos, teve uma filha. E passou a morar no rés-do-chão com as duas crianças e o novo companheiro. Continuava, porém, a servir-se do primeiro andar, onde permanecia Alice. Ia assumindo mais cuidados com a casa à medida que ela ia envelhecendo. Ao que diz, terá sido mais ou menos por essa altura que o pai de Ricardo, electricista de profissão, tornou à casa materna, ficando alojado nas águas furtadas. E nem esta cercania o terá aproximado do filho. Ricardo refere-se a ele como “o velho”. Alice morreu em Outubro de 2017. O pai de Ricardo nada disse, mas logo em Novembro fez uma permuta da casa. “Começou a aparecer com roupas caras e até comentámos que devia ter fintado alguma mulher. ” Ao que diz Felismina, o pai de Ricardo só a avisou em Fevereiro. “Tínhamos de sair até Novembro/Dezembro deste ano. ”Felismina e o companheiro, Vasco, de 42 anos, começaram a pensar no que haviam de fazer à vida. Para cuidar do filho, está há muito fora do mercado de trabalho. Para que o companheiro realizasse o seu sonho de ser arquitecto, fazia a gestão doméstica apenas com o rendimento social de inserção, o apoio à terceira pessoa e os abonos. Sem renda para pagar, apertando aqui e ali, até conseguia. E agora? O pai de Ricardo podia mesmo pôr o filho deficiente na rua? Felismina pediu apoio jurídico. Não tiveram o tempo esperado para encontrar uma alternativa. Em Abril, o novo proprietário avisou-a: “Isto é meu. Tem de sair até ao final do mês. ” E ela ficou atrapalhada. “Ir para onde?” Em Junho, o pai de Ricardo deixou-lhe um bilhete: “Ligue-me. É urgente. Não se esqueça que tem de sair da casa o mais rápido possível. O novo dono precisa de fazer obras no prédio. ”Houve outros avisos. Ela tem tudo guardado. Mostrou os papéis na primeira vez que falou com o PÚBLICO, no princípio de Novembro, estava ela num alojamento local. Lúcia e Ricardo viam televisão na pequena sala. E ela conversava na cozinha, debruçada sobre a mesa. Vasco estava nas aulas. O último aviso de que se lembra veio no dia 22 de Agosto. “Tínhamos de sair até 20 de Setembro, senão, punha as nossas coisas na rua. Eu disse-lhe que chamava a polícia e que o tribunal analisaria a situação. Ele disse que não queria polícia, nem tribunal. ”Ainda “não tinha a vida resolvida”. E estava informada. “Os advogados disseram-me que eu não tinha direito à casa, mas o Ricardo tinha, porque é filho dele e tem incapacidade superior a 70%. ” Ou o pai deixava o filho continuar a morar ali, ou a casa era vendida e o rapaz recebia uma parte. “Pediram a impugnação da permuta. ”No dia 24 de Setembro, um familiar do novo proprietário terá mudado a fechadura da entrada para o primeiro andar. No dia 25, terá desligado os contadores de água e luz de toda a casa. “Vim para casa de uma senhora”, diz Felismina. Não podiam ficar sem água e sem luz. Ficou uns dias na casa da tal senhora. Outros tantos na Pousada de Juventude. Andaram um mês a gastar a poupança em pensões, residenciais ou alojamentos locais. Até ficou de boca aberta quando percebeu que lhes cobravam taxa turística. “Ainda passo por ser turista!”, indigna-se. Só salvara alguns dos pertences que, no dia 4 de Outubro, o novo proprietário colocou na rua. Guardava-os por favor em várias partes. Procurava casa, descrente. Ricardo deixara de receber 150 euros de abono bonificado e passara a receber 269 da nova prestação social para a inclusão, mas. . . “Isso é para as coisas dele. ” Dá muita despesa. “Desenvolveu uma hepatite auto-imune. . . ”Que solução podia encontrar uma família de quatro pessoas com 269 euros de prestação social para a inclusão, 540 euros de rendimento social de inserção e 37 euros de abono de família? Viu apartamentos T1 a 500 ou 600 euros. Procurar mais afastado do centro requer gastar dinheiro em passes e não anula outro entrave: exigem três meses de entrada, recibos de vencimento que nem ela nem Vasco têm e fiador. “A minha última hipótese seria habitação social. ”Há cada vez mais histórias de despejo pelo país fora. “Ainda há poucas horas me chegou mais um caso de pessoas que não têm possibilidade de pagar renda e vão ser despejadas”, lamentava, por estes dias, Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas, numa conversa telefónica. A taxa de pobreza baixou para 17, 3%, mas a linha de pobreza é 60% da mediana do rendimento das famílias. Não tem em conta as despesas. E as despesas com a renda subiram muito. “Custa muito não ter pão na mesa, mas estar a comer debaixo da ponte é muito pior. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No dia 17 de Outubro, Felismina recorreu à Domus Social, a empresa municipal de habitação. Está à espera. Não sabe quanto tempo terá de esperar. Há muita gente à espera. Naquela altura, segundo a Câmara do Porto, a lista de espera para habitação social ultrapassava os mil fogos. Quem tem uma criança e um filho deficiente é considerado prioridade, mas quantas prioridades haveria?No dia 6 de Novembro, a família entrou no Centro de Acolhimento Social da Santa Casa da Misericórdia do Porto. “É um ambiente pesado”, suspira Felismina. “A minha filha não gosta de ali estar. O meu filho ri-se ao ver cuspir ou atirar lixo para o chão. Para ele, é tudo uma paródia. Até quando viu as nossas coisas na rua ele se riu. ”No fim do primeiro ano, a Prestação Social para a Inclusão (PSI), lançada em Outubro de 2017, chegava a 85. 873 pessoas com deficiência. Em Março, começará a ser pago um complemento àquelas que vivem em situação de pobreza. Este apoio arrancou apenas com a componente base. Essa pode ser requerida por qualquer pessoa maior de idade e com um grau de incapacidade superior a 60% desde que a ateste até aos 55 anos. Se for superior a 80% nem importa o rendimento. Destina-se a “compensar os encargos gerais acrescidos que resultam da situação de deficiência”. Segundo tem dito a secretária de Estado para a Inclusão, Ana Sofia Antunes, mais de 91% dos beneficiários recebem o valor máximo, isto é, 269, 08 euros. No próximo ano, a medida será alargada às pessoas com menos de 18 anos. Estima-se que entre 30% e 50% dos actuais beneficiários da componente base da PSI possam vir a receber algum valor deste complemento pensado “com o objectivo de combater a pobreza”. As candidaturas já abriram no passado dia 1 de Outubro, mas este pagamento suplementar só deverá começar a ser feito a partir de Março do próximo ano (ainda que com direito a retroactivos) e poderá ir até aos 431, 32 euros por mês. De acordo com o portal do Governo, somando as duas componentes, conforme o grau de deficiência e os rendimentos da família de que a pessoa faz parte, obtem-se a PSI. As contas não serão fáceis de fazer. O valor a atribuir corresponderá à diferença entre o valor do limiar do complemento e a soma dos rendimentos da pessoa com deficiência e dos seus familiares directos, isto é, pais e filhos. Gerou polémica o facto de ficarem de fora as pessoas que perderam capacidades já depois dos 55 anos. Mas em Novembro, o Conselho de Ministros aprovou o alargamento do Complemento Solidário para Idosos (CSI) aos pensionistas por invalidez que não beneficiem da PSI e que vivem em situação de carência económica. Este alargamento do CSI também já só será pago no próximo ano, mas produz efeitos desde o dia 1 de Outubro de 2018, o que quer dizer que haverá direito a retroactivos. Ana Cristina Pereira
REFERÊNCIAS:
Entidades GNR
Liliana quis fazer formação pelo dinheiro, mas já fala no 12.º ano
Ficou desempregada quando engravidou da segunda criança. Tem somado acções de formação. E tomou-lhe o gosto. (...)

Liliana quis fazer formação pelo dinheiro, mas já fala no 12.º ano
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Ficou desempregada quando engravidou da segunda criança. Tem somado acções de formação. E tomou-lhe o gosto.
TEXTO: Esta é a sexta de uma série de reportagens sobre pobreza. Acompanhe nos próximos dias o dossier O que é ser pobre hoje em Portugal?Diziam que se havia alguém que pudesse fazer alguma coisa com o que aprendera numa cave apetrechada de computadores, na zona Oriental do Porto, era Liliana Morais, mas, pelo menos por enquanto, ela não se fia. “Não vou ter um trabalho a abrir computadores. Apesar de os ter aberto aqui, não tenho confiança para ir à casa de alguém abrir o computador. ”Fez uma formação em Manutenção e Reparação de Equipamentos Informáticos, um curso de Capacitação para a Inclusão, financiado pelo Fundo Social Europeu e destinado a pessoas maiores de idade que tenham entre o 4. º ano e o 12. º e estejam desempregadas há mais de um ano. E tem um discurso pragmático, esta mulher de 38 anos. “Vim fazer esta formação pelo dinheiro”, afirma. O curso de 260 horas garantia-lhe 0, 97 euros de bolsa por hora, sete horas por dia, cinco dias por semana, 90 euros de subsídio de alimentação, 63 de subsídio de transporte. Certo que 80% do valor da bolsa é cortado no rendimento social de inserção (RSI). “Mesmo assim, são mais cento e tal euros que entram. É uma ajuda, não é?”Todos os cêntimos contam. Liliana está desempregada há três anos. Tem um filho de 12 e uma filha de três. Não se pense que o trabalho a assusta. “Comecei a trabalhar aos 16 anos. Colava entretela [com o calor do ferro de engomar]. Cosia botões. Limpava o atelier. Era aprendiz de costureira”, conta. Não se imaginava a esbanjar, mas via-se a pagar as contas e a guardar para satisfazer algum desejo ou acalmar alguma aflição. Não fez carreira na costura. Mais queria lidar com gente. “Trabalhei em cafés. ” Não faltava trabalho. Nos anos 90, Portugal andava eufórico. “Saia-se de um café e entrava-se noutro. ” Esfumou-se a euforia, ficou a depressão. E essa apanhou-a já com um filho nos braços. A crise alastrou pelo país adentro, fechando lojas, restaurantes, cafés. Muitos portugueses procuram alternativa lá fora. Nessa grande onda migratória foi uma comadre. E ela parecia feliz na Irlanda do Norte. Liliana pegou no filho e apanhou um voo. Os portugueses aventuraram-se para aquela ilha na aurora do século XXI, atraídos por anúncios publicados na imprensa nacional que remetiam para agências de trabalho temporário. Concentraram-se em localidades como Portadown, Cookstown, Dungannon, Craigavon e Lisburn, para responder às necessidades de fábricas de processamento de carne e outras. “Ganhava muito mais do que aqui”, recorda. Só que havia algo mais importante. “Aqui, estava sempre com o meu filho. Lá, nunca via o meu filho. ” O rapaz saia da escola às 16h, Liliana entrava na fábrica às 17h. Meia hora de mimo diário. Tinha de o deixar em casa de uma ama a dormir, porque trabalhava até às 5h. A situação melhorou quando conseguiu trocar de turno. Passou a entrar às 5h e a sair às 17h. “Assim, já conseguia estar com ele até às 20h ou 20h30. ” Percebeu o desgosto do rapaz quando o mudou de ama. “Eu pedi-lhe para deixar o meu filho ligar ao pai, que ele devia ter saudades. Ele disse-lhe que tinha era saudades da mãe. Aquilo mexeu comigo. ”Não foi só isso que a fez regressar. Reconciliara-se com o pai do rapaz. O homem estivera lá e não arranjara emprego. Liliana arrendou uma pequena casa num “ilha” – uma “ilha”, no Porto, é uma sucessão de habitações minúsculas construídas em fila (ou costas com costas) nos quintais das casas da classe média, um tipo de bairrozinho que surgiu na segunda metade do século XIX para responder ao grande afluxo de gente que viera do campo para a cidade. E arranjou trabalho na cozinha de um modesto restaurante. “Quando engravidei, a patroa mandou-me embora. Ela disse que já não gostava dos meus serviços. Arranjou uma desculpa, pronto. Estava lá há três meses. Não tinha contrato, não tinha nada. ”A população desempregada tem estado a diminuir (a taxa de desemprego recuou para 6, 6% em Setembro, algo que não se via há 16 anos). Só que entre os que continuam desempregados aumentou a percentagem de pobres. Os mais recentes dados do Instituto Nacional de Estatística apontam para uma taxa de pobreza que passou de 44, 8% em 2016 para 45, 7% em 2017. Liliana não tinha sequer direito a aceder ao subsídio de desemprego. E o namoro voltara a não dar certo. Era, outra vez, uma mãe solteira, agora de duas crianças, o que agrava ainda mais a situação. Nos agregados constituídos por um adulto com pelo menos uma criança dependente a taxa de risco de pobreza é de 28, 2%. Com duas crianças para criar, Liliana recorreu à Segurança Social. “Recebo 298 euros de RSI, 100 euros de pensão de alimentos, 240 euros de abono de família. Com o abono pago quase sempre a água, a luz, a MEO. Vem o RSI e pago a renda e a loja. Há uma loja à minha beira, onde vou buscar iogurtes, cereais e outras coisas e pago no fim do mês. ”Por mais que estique, nem sempre consegue chegar ao fim do mês. “Às vezes, a pessoa paga a renda e outras contas e já não tem que chegue para a luz, mas vai à avó e a avó empresta e depois dá-se”, diz. A família nunca lhe falta. “Preciso de qualquer coisa para os meninos e vou à minha mãe ou à minha avó. É por isso que, apesar de ter RSI, nunca precisei de ir a uma assistente social dizer: ‘Olhe, preciso para comer…’”Não quer que se pense que os filhos sofrem privações. “Eles almoçam na escola. Na escola, têm sempre carne ou peixe. Eu em casa também faço. ” Material escolar a acção social garante. Passe não é preciso. “Acho que eles têm o que é necessário. Têm casa. Têm comida na mesa. Têm roupa. ” Ainda há pouco, lhes comprou roupa e calçado. É que, entretanto, a vida melhorou. A Câmara do Porto atribuiu-lhe um subsídio temporário para a renda. São mais 150 euros durante 12 meses. “Vou buscar aqui e ali e consigo orientar-me. ”Não é que não tenha tido qualquer proposta de trabalho. “Do Centro de Emprego já me chamaram para trabalhar em lares, mas era à noite e eu tenho uma menina”, diz. Enquanto a menina não entrar na pré-primária precisa de um horário mais ajustado à ama da Segurança Social, que funciona das 9h00 às 15h00/16h00. Jorge Vinhas, presidente da Associação C. A. O. S. , sigla de Coragem Acima de Outras Situações, falou-lhe no curso de Manutenção e Reparação de Equipamentos Informáticos. “Ele sabia que eu andava à procura de qualquer coisa. ”Quando se conversa mais tempo com ela percebe-se que o dinheiro não foi a única motivação. “Lá em casa, fichas na parede sou eu que arranjo. Gosto dessas coisas. Achei o curso interessante e vim. ”Jorge Vinhas julga importante perceber que numa formação destas não importa só o que se aprende em termos técnicos. Estes cursos também ajudam a ganhar competência ao nível da expressão oral e escrita, a trabalhar o relacionamento interpessoal, a ganhar pontualidade, a ter noções básicas de informática, que podem ajudar quem está afastado do mercado de trabalho a preparar-se para uma formação profissional ou um emprego. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Liliana saiu da escola com o 6. º ano. Há uns anos fez um curso de geriatria que lhe deu equivalência ao 9. º. Feito o curso de Manutenção e Reparação de Equipamentos Informáticos, está de volta à CAOS para um curso de operador/a de logística. Outras 265 horas, a 1, 13 euros por hora, seis horas por dia, quatro dias por semana, com subsídio de alimentação, sem subsídio de transporte. Neste momento, está a aprender a fazer o currículo e a procurar trabalho. E já tem outras aspirações. “Queria ver se tirava o 12. º ano à noite, mas tenho de organizar a minha vida. ”O risco de pobreza dispara. Cerca de metade dos desempregados vive abaixo do limiar da pobreza. E isso tem muito a ver com a desprotecção social, que atinge pessoas, amiúde ainda jovens, com carreiras curtas ou intermitentes e que, por isso, têm dificuldade em aceder ao subsídio de desemprego. E pessoas, muitas vezes mais velhas, com o tempo de subsídio esgotado. A síntese é feita pelo sociólogo Frederico Cantante, associado do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, membro do Observatório das Desigualdades e autor do estudo O Mercado de Trabalho em Portugal e nos países europeus – estatísticas 2018. A tese confirma-se, com facilidade, ao olhar para a estatística oficial. Em Outubro, por exemplo, a Segurança Social pagou algum tipo de subsídio de desemprego a 165. 827 pessoas. Nessa altura, o Instituto de Emprego e Formação Profissional tinha 334. 241 inscritos, o que quer dizer que metade não recebia qualquer prestação. A estes haveria que acrescentar quem já nem procura emprego, os chamados desencorajados. A duração do subsídio de desemprego propriamente dito depende da idade do beneficiário e do número de meses que pagou Segurança Social desde a última situação de desemprego. Quem tem menos de 30 anos tem direito a esta protecção durante um período máximo de 11 meses (mais um por cada cinco anos de descontos). Quem tem mais de 55 anos pode ir até aos 18 meses (mais dois por cada cinco anos de descontos). O subsídio social depende do rendimento da família. E só pode ser requerido por trabalhadores que não têm condições para aceder ao subsídio de desemprego (inicial) ou que já o esgotaram (subsequente). Também aqui os menores de 30 anos podem receber no máximo 330 dias e os maiores de 50 anos ir até 540. Já foi pior. O desemprego desprotegido cresceu entre 2008 e 2016. Não só por causa da taxa de desemprego, mas também por se terem apertado os critérios para aceder ao subsídio social e por se ter reduzido o período de atribuição. E diminuiu desde que, em 2016, se criou uma medida de apoio extraordinário aos desempregados de longa duração, que em Outubro chegava a 2740 indivíduos. No próximo ano, será possível quem tem mais de 55 anos prolongar o subsídio social de desemprego até atingir a idade da reforma. O desemprego tem estado a baixar, chegando a Novembro nos 6, 6%, mínimo dos últimos 16 anos. O desemprego de longa duração segue essa tendência. O reingresso no mercado de trabalho, porém, depende de diversos factores. As pessoas com menos escolaridade têm mais dificuldade, nota Cantante. Fernando Diogo, professor da Universidade dos Açores especializado em pobreza, lembra que uma boa parte das pessoas que estão desempregadas não tem competências sociais e qualificações escolares. “Há aqui um esforço de qualificação da população em idade activa que tem que ser feito em Portugal (onde se incluem as qualificações sociais que antecedem as profissionais como a pontualidade, a assiduidade, a relação com os colegas e com as chefias, a motivação…)”, sublinha. O investigador não quer “fazer tábua rasa dos esforços que têm sido feitos para qualificar os activos”, mas julga que “basta olhar para as estatísticas da educação para perceber que muito ainda há para fazer sobretudo entre os mais despossuídos”. “A dificuldade portuguesa na educação em geral é especialmente visível nas comparações internacionais, quer no âmbito da União quer no da OCDE”, remata. Ana Cristina Pereira
REFERÊNCIAS:
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António Costa quer "manter a memória viva" da luta contra a ditadura
O Conselho de Ministros decorre esta quinta-feira naquela antiga prisão do Estado Novo. (...)

António Costa quer "manter a memória viva" da luta contra a ditadura
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.150
DATA: 2017-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Conselho de Ministros decorre esta quinta-feira naquela antiga prisão do Estado Novo.
TEXTO: O primeiro-ministro, António Costa, defendeu esta quinta-feira ser fundamental "manter a memória viva" da luta contra a ditadura, durante o Conselho de Ministros na Fortaleza de Peniche, quando se assinalam 43 anos da libertação dos presos políticos. O Conselho de Ministros decorre esta quinta-feira naquela antiga prisão do Estado Novo e antes do início da reunião - que conta com a presença de todos os ministros do executivo socialista - António Costa e o restante Governo visitaram a Fortaleza de Peniche e conheceram as antigas celas, acompanhados por alguns presos políticos que ali estiveram enclausurados antes do 25 de Abril de 1974. "Acho fundamental manter esta memória viva porque como infelizmente a história nos tem recordado quando nos esquecemos, tendemos a repetir aquilo que nunca mais pode ser repetido", disse António Costa em declarações dentro da cela onde esteve o histórico comunista Álvaro Cunhal. O primeiro-ministro destacou que este "é um momento muito importante e muito significativo porque é sempre preciso lembrar", quando se festejam os 43 anos da Revolução dos Cravos que "houve os 48 anos anteriores e houve mulheres e homens - como o Domingos Abrantes [actual conselheiro do Estado] e tantos outros - a quem devemos estar hoje aqui em liberdade". Questionado sobre a solução que o Conselho de Ministros vai apresentar para este edifício histórico, António Costa disse apenas: "Isso já anunciámos". Depois da visita à antiga prisão, Costa e os restantes membros do Governo tiraram uma fotografia com os presos políticos que esta quinta-feira estão presentes em Peniche, entre os quais Domingos Abrantes - preso político que esteve mais anos em Peniche - que guiou o primeiro-ministro durante a visita e ao sentar-se na cama da cela de Álvaro Cunhal acabou por tocar no chão uma vez que esta não tinha estrado. Estiveram também presentes o historiador e antigo dirigente bloquista Fernando Rosas, o jornalista António Perez Metelo e Jorge Galamba Marques, pai do deputado socialista João Galamba, que o acompanhou a Peniche. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A antiga fortaleza, que foi convertida em prisão a partir de 1934, tinha 25 presos políticos quando se deu o 25 de Abril de 1974. O futuro da fortaleza tem estado envolto em polémica devido à hipótese de ser concessionada a privados para aí ser criado um hotel. Já este mês o ministro da Cultura disse concordar a criação de um museu da resistência à ditadura na Fortaleza de Peniche. "O Governo quer preservar o interesse memorial da Fortaleza e construir aí um museu da resistência à ditadura", afirmou Luís Castro Mendes, indo assim ao encontro da proposta apresentada hoje pelo Grupo Consultivo criado pela tutela para, até final de Abril, apresentar soluções futuras para o monumento.
REFERÊNCIAS:
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Portugal dentro e fora do penico
O penico perdeu terreno para o saneamento das casas, deixou o interior das mesas-de-cabeceira e tornou-se uma brincadeira de crianças. Mas a sua força na cultura é maior do que um objecto – é uma palavra e uma piada para todo o serviço, de Bordallo Pinheiro a Ricardo Araújo Pereira. Na segunda série Objectos (quase) obsoletos olhamos para o que foi substituído, eliminado ou transformado nas casas portuguesas nas últimas décadas. (...)

Portugal dentro e fora do penico
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: O penico perdeu terreno para o saneamento das casas, deixou o interior das mesas-de-cabeceira e tornou-se uma brincadeira de crianças. Mas a sua força na cultura é maior do que um objecto – é uma palavra e uma piada para todo o serviço, de Bordallo Pinheiro a Ricardo Araújo Pereira. Na segunda série Objectos (quase) obsoletos olhamos para o que foi substituído, eliminado ou transformado nas casas portuguesas nas últimas décadas.
TEXTO: O que têm em comum Ricardo Araújo Pereira, Raphael Bordallo Pinheiro, a cidade de Braga, a banda punk Garotos Podres e os portugueses que não usam fraldas? Um objecto tão importante que já motivou a intervenção da Entidade Reguladora para a Comunicação, serviu de reacção ao Ultimato de 1890 de Inglaterra a Portugal e educou muitas gerações de portugueses na arte de controlar as suas necessidades fisiológicas. O penico é dos céus quando falamos de Braga e de outras localidades onde muito chove, e é dos diabos quando leva o advogado Marinho e Pinto a queixar-se de uma rábula de um humorista. Já dormiu debaixo de nós ou à nossa cabeceira, agora é uma brincadeira de crianças. Há um tempo antes e um tempo depois do penico. Ou do bacio, se se preferir. Há uma era do penico no mobiliário, em que as mesas-de-cabeceira tinham uma tipologia própria, paralelepípedos com uma porta na base para se guardar o bacio para as urgências nocturnas. Há uma era do penico no urbanismo português, quando o saneamento básico ainda era uma história de água vai, bem medieval, janela fora, e um pós-penico quando, há pouquíssimas décadas, a existência de uma casa de banho e de uma sanita em cada vez mais casas o remeteu para a actual vida de um bacio - ser um marco no crescimento do ser humano quando se abandona as fraldas e se passa ao penico, para depois se graduar na reluzente sanita. Hoje, o penico não é tanto obsoleto quanto o é predilecto dos miúdos para as jovens escatologias. Houve um tempo em que estava por toda a casa, porque a casa era “muito engraçada/ não tinha tecto /não tinha nada” e quando “ninguém podia fazer pipi/ [era] porque penico não tinha ali” - a música A casa, com letra de Vinicius de Moraes, manifesta bem a sua importância, ao lado de tectos e paredes. Era essencial em qualquer casa. A sua história remonta ao século VI a. C. e aos gregos que o inventaram, tendo o seu uso sido popularizado na Idade Média mas sobretudo do século XIV em diante. O seu formato e materiais variavam, do metal ao barro e à loiça, passando pelo estanho. A certa altura ganhava uma estrutura adjacente, uma cadeira em sua volta, sobretudo para os ricos burgueses e nobres. A arte manteve-o na imagem. Pieter Bruegel, o Velho, pintou no seu Caritas? (1559) um penico bem detalhado, mais uma vez junto de um acamado. Frédéric Bazille pinta em 1865 L'ambulance improvisée (Monet blessé à l'hôtel du Lion d'Or à Chailly-en-Bière), que está exposto no Musée d'Orsay, em Paris. Nele, o seu amigo e pintor Claude Monet está de cama, ferido, e com um penico bem perto de si. E na Utopia (1516) de Thomas More os penicos eram satiricamente feitos de ouro. Há meros 15 anos nascia em Portugal a banda Penicos de Prata, que musica a sátira de grandes poetas portugueses, de Pessoa a Adília Lopes. Depois de décadas debaixo das camas ou dentro das mesas-de-cabeceira, Portugal guarda os seus penicos nos sítios mais inesperados. N’Uma Aventura no Palácio da Pena (2012), Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada escrevem como as gémeas Teresa e Luísa, escondidas no palácio em Sintra, se deparam com um “penico de loiça antiga, muito fora do vulgar pois tinha tampa”. Era o penico da rainha D. Amélia, um de vários que os museus portugueses guardam. Estão também na habitual montra que prova a passagem de um objecto para o ramo do passado, nas lojas de antiguidades, nos sites coleccionadores, mas também, no seu formato mais comum de há 70, 60, 50 ou 40 anos - uma bacia de estanho, porcelana ou plástico, com uma indispensável pega - à venda em sites como o OLX com o inevitável epíteto “vintage”. Há uma nostalgia do penico, como comprova a olaria Oficina da Formiga, em Ílhavo, que continua a fazer penicos em cerâmica tradicional e “transmitindo os sentimentos de saudade e tradição nas peças” que produz. Há 80 anos, nem o penico era usual no campo português, como mostram os resultados do Inquérito à habitação rural dos anos 1940, citado no terceiro volume da História da Vida Privada em Portugal de José Mattoso. “As dejecções são feitas em pleno campo, numa estrumeira do exterior da casa ou mesmo na corte do gado. ” Três décadas depois, o Censo de 1970 dizia-nos que só 29% das casas portuguesas tinham em simultâneo o que a historiadora Sandra Marques Pereira considera os “quatro requisitos mínimos de modernidade”: “água, luz, banho e retrete”. A concentração de modernidade era maior nas cidades do litoral e menor no interior. O cenário torna-se mais confortável nos estudos populacionais seguintes, porque entre 1981 e 2001, escreve-se na mesma obra, a percentagem de habitações sem instalação de banho desce dos quase 40% para pouco mais de 5% e a percentagem de casas que não dispunham de retrete dos 20% para os 6%. É paralelamente a este avanço de saneamento que o penico recua. “Lembro-me de utilizar quando era pequena e numa altura em que não havia casas de banho. Hoje não tenho bacio e penso que é um objecto que está em desuso. Só as crianças e os idosos é que ainda o usam”, dizia em 2005 Teodora Maria, de 64 anos e natural de Vila Viçosa, ao Correio da Manhã. O jornal inquiria os visitantes de uma exposição de 170 penicos em miniatura, um “enorme sucesso”. Outra visitante, de 13 anos, confirmava a actual vida do bacio - “Na minha casa só a minha irmã, que tem agora dois anos, é que usa o bacio. O meu avô também tem um debaixo da cama ou dentro da mesa-de-cabeceira e usa-o no quarto para não ter que descer as escadas”, contava Cátia Rebocho. Actualmente, só há um modelo de mesa-de-cabeceira com portinhola e o espaço que há décadas era reservado para o penico à venda no prolífero Ikea. A imagem de catálogo mostra que agora atrás dessa porta moram idealmente alguns papéis e um telemóvel. A Conforama também vende mesinhas de cabeceira com um texto tranquilizador: “Por fim, é chegado o momento de descansar. E nada melhor do que estar deitado na sua cama e saber que tem tudo aquilo de que necessita ao alcance da sua mão. Coloque sobre a mesinha de cabeceira uma lâmpada prática, um objecto decorativo ou deixe o telemóvel enquanto ele se carrega”. Nada de penicos, só telemóveis, objecto associado a outro tipo de chamadas nocturnas. A palavra penico foi então substituída, ainda que simbolicamente, pela palavra telemóvel. Mas se objecto penico reduziu o seu raio de acção, a sua presença na cultura mantém-se forte precisamente no verbo. “Penico” significa um ”recipiente próprio para se urinar e defecar; bacio; pote; bispote”. Diz a Infopédia que a palavra penico é “de origem obscura”. Já o bacio tem nome mais fácil de recuperar, vem “do latim popular baccinu, ‘vaso de madeira’”. É uma palavra e um objecto que carrega consigo outros sentidos. À cabeça vem o humor, relacionado com a vergonha que a cultura ocidental associa a actos tão naturais e essenciais como respirar e comer - defecar e urinar. O dramaturgo George Bernard Shaw dizia, sobre a invenção da irmã mais velha do penico, a retrete ou sanita, que “só uma sociedade muito refinada é capaz de pensar nestas coisas e, ao mesmo tempo, ruborizar-se ao falar delas”. É também sua a acepção algo depreciativa. A um objecto destinado a recolher dejectos e odores nada refinados fazem-se associações negativas, como na caricatura de Alonso, no final do século XIX, em que o penico diz “política” e está cheio de homens de casaca. “Como se costuma dizer em linguagem popular, eu mijo fora do penico”, clamava o jornalista e escritor Manuel António Pina numa das suas últimas entrevistas, em 2012. Falava de não ser militante de qualquer partido e de ser desalinhado. É uma expressão que, anos mais tarde, traria uma camada extra de humor ao próprio humor feito sobre as eleições legislativas de 2015. O candidato António Marinho e Pinto, ex-bastonário dos advogados, deu uma entrevista em que dizia aos jovens portugueses para “mijarem fora dos penicos”. Durante a pré-campanha, o humorista Ricardo Araújo Pereira, na rubrica Isso é tudo muito bonito, mas… da TVI, pegou nas declarações para concluir: “Até que enfim que alguém expressa os grandes valores políticos do séc. XXI: liberdade, igualdade e… chichi. Os partidos são penicos e o voto é chichi. Urinar é um direito e um dever cívico. ”Num sketch, alguém faz que urina em penicos com símbolos dos partidos no fundo. Um deles tem a imagem de Marinho e Pinto. “Um ataque torpe e cobarde”, para Marinho e Pinto, que fez queixa à ERC. Que não lhe deu razão - a rábula “parece fazer literalmente jus ao desafio lançado pelo próprio queixoso aos jovens: ‘Mijem fora dos penicos que vos põem à frente’”. O caso ficou por aí, mas o uso do penico como arma de arremesso não. Em Coimbra, em 2001, numa manifestação em que os trabalhadores dos transportes municipais se queixaram de não ter casas de banho nem sítio onde se fardar no centro da cidade, lá estavam os penicos. Eram cor-de-rosa e foram notícia porque o então presidente da autarquia, Manuel Machado, os mandou retirar por estarem “achincalhar a dignidade” da reunião semanal do executivo camarário. A questão da dignidade do penico acompanha-o sempre. Havia penicos nas praxes académicas, como os que o PÚBLICO via nas cabeças dos caloiros na Cidade Universitária de Lisboa em 2008. Era avisado que quem não comprasse um penico para enfiar na cabeça era “um caloiro abaixo de verme”, para risota geral dos recém-chegados à universidade. Há penicos nas reportagens e crónicas sobre Braga, cidade cuja pluviosidade profusa lhe merece a alcunha de “penico dos céus” (outras cidades, como a beirã Viseu, também recebem a mesma honra). Um capacete aberto para andar de mota, especialmente dos que se usavam com uma pequena pala e abas de pele em cima de uma Famel ou de uma Zundapp é, naturalmente, um penico. O penico é um objecto ingrato, tão útil quanto rejeitado. Se no século XVI eram os escravos que carregavam com os penicos dos nobres e burgueses portugueses, nem quando se inventou finalmente um sistema de escoamento com o que evoluiria para ser um autoclismo, havia quem preferisse continuar a contar com o bom e velho penico – nas mãos de outros, claro. Foi o caso dos britânicos Tudors, no século XVI, que preferiam “ter um criado que trouxesse um penico até ao quarto” ao invés de ter de caminhar até ao quarto de banho, como recorda a curadora dos Palácios Reais Históricos, Lucy Worsley, na BBC. Anos mais tarde, é a vez de a relação de Inglaterra com o penico ser revista em Portugal. Foi pela mão de Raphael Bordallo Pinheiro, ceramista e caricaturista, que reagiu ao Ultimato de 1890, quando Inglaterra exigiu a Portugal que se retirasse de certos territórios em África, como melhor sabia. Momento grave na relação dos países aliados, gera a letra do actual hino nacional, A Portuguesa, e a queda de um governo. E, numa oficina nas Caldas da Rainha, dá origem a uma nova versão de John Bull, a conhecida representação de um inglês rico e amigo da comida e da bebida criada no século XVIII. Bordallo Pinheiro acocora-o, faz de um braço uma asa e do seu corpo o interior de um colorido penico – hoje peça de museu, até invoca a figura de Donald Trump e é um dos penicos mais famosos do país. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O penico John Bull é também a prova de que associar alguém ao penico raramente é coisa boa. No Portugal dos anos 1990 resumia-se a febre do surf e daqueles que a cavalgavam só por pose com a expressão “surfistas de banheira”. Mas os Garotos Podres, banda do punk brasileiro, diziam tudo com um penico - era a música do Surfista de Pinico (1993 ). “Pego a minha prancha/E mostro a elas que existo/Eu sou/Um Surfista de penico/Mas eu preciso/É aprender a nadar/Senão no meu penico/Eu sei que eu vou me afogar”. Nem todos podem ter a leveza e humor da actriz portuguesa Daniela Ruah, estrela na televisão americana, e que em 2017, quando fez 34 anos, publicou no Instagram, para o seu quase milhão de seguidores, uma foto de infância bem disposta. “Sim, tenho milho na mão. Sim, estou na casa de banho. Sim, tenho um penico na cabeça. ”
REFERÊNCIAS:
Saudades da Céline com acento, revisionismo com Malcolm Gladwell e... MeToo
Horas de YouTube são uma excepção, mas Phoebe Philo também o era; um podcast excepcional; um movimento mais inclusivo. (...)

Saudades da Céline com acento, revisionismo com Malcolm Gladwell e... MeToo
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.2
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Horas de YouTube são uma excepção, mas Phoebe Philo também o era; um podcast excepcional; um movimento mais inclusivo.
TEXTO: Os podcasts são um vício — e até dizem que podem ser uma gateway drug para esse outro devorador de pavilhões auriculares que são os (bons) audiolivros, mas para já consomem-se histórias em versão revisionista. Ainda por cima, chegando-lhes tarde, há a vantagem de haver doses generosas da Revisionist History de Malcolm Gladwell, sobre os temas mais extraordinários ou ordinários. O jornalista e autor canadiano lançou em Maio os mais recentes dez episódios do total de 30 já disponíveis sobre os lapsos linguísticos de Elvis Presley (aquela música que ele nunca, nunca conseguiu cantar igual) ou a abaladora mudança da forma de fritar as batatas fritas do McDonald’s, passando pelo “paradoxo da sátira”, de Harry Enfield a Jerry Seinfeld. Horas e horas com pessoas, fenómenos ou perspectivas incompreendidas, agora com mais explicações e muitas vezes moldadas por opiniões. Não é um requiem por um sonho, mas é um memorial por uma mulher. Nas últimas semanas o YouTube tornou-se num invulgar refúgio estético, conceptual e político – a ver desfiles de moda. Mais precisamente a ver desfiles que não o do Inverno 2019 da marca francesa Celine, que perdeu o acento numa medida de rebranding e perdeu o alento para parte do seu público à chegada de Hedi Slimane. O designer da estética rock ‘n’roll dos anos 2000, das silhuetas esguias e dos babydolls decadentes substituiu a britânica Phoebe Philo, voz que falava uma verdadeira e original língua de moda do século XXI. A Céline dela era adulta, democrática e variável, e os desfiles que agora moram na Internet são um in memoriam de um tempo que, sem muitos saberem, foi responsável por libertar corpos não-normativos de mulheres adultas e por esses ténis brancos que todos adoptaram. O contraste com o apaixonado pela Califórnia noir e pela estética Polaroid — de valor próprio, é certo — foi tal que mil think pieces se escreveram depois do seu desfile de estreia na marca. Agora, a silhueta mais solta, confortável, de Philo vive ainda nas ruas, e no que Vanessa Friedman chamou a “paisagem da psique” colectiva. Philo pôs Joan Didion na sua publicidade. Slimane tirou o acento à marca e pôs (outra vez) versões da sua mulher e homem esqualidamente jovens na passerelle. Não há nada de errado nisso. Mas dado o clima político, faz falta o acento. Cerebral. É ir ver ao YouTube. "A geometria sempre só me confundiu". "Foi um ano de matemática". "Começou com o hipnotizante espectáculo de peças de dominó a cair". Entre números e imagens, assim começam os textos da edição da New Yorker que assinala um ano do momento #MeToo e que analisa e tenta propor caminhos para o movimento MeToo. “A dor masculina e feminina são há muito temas literários fundamentais. Nos livros, tal como na vida, as narrativas da raiva masculina – da Íliada a um discurso de Donald Trump – exigem uma atenção reverencial”, lê-se num deles, sobre como um dos cernes deste clima em que se dirimem versões é a palavra de uma pessoa contra a de outra, e o de como isso é também uma questão literária. Às vezes, a linguagem da ficção pode oferecer pistas para a realidade, e a linguagem, como se lê noutro desses textos, pode incluir armadilhas que tornam um discurso público de justiça numa retórica de exclusão (ou ser distorcida para o que os detractores deste clima consideram ser uma retórica de ódio). É um dos temas da cultura do último ano e passá-lo em revista, de forma crítica, nunca é demais. Porque a mensagem de que não há uma caça ao homem poderoso mas sim uma esperança na mudança de justiça social para todos ainda não passou.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave cultura exclusão mulher homem social mulheres feminina