O sexo de Christiane Amanpour e a inteligência de Salvador Sobral
Uma nova série da Netflix, uma revista que faz pensar e um concerto único para um filme inacabado. É isto o que nos passa pela cabeça. (...)

O sexo de Christiane Amanpour e a inteligência de Salvador Sobral
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma nova série da Netflix, uma revista que faz pensar e um concerto único para um filme inacabado. É isto o que nos passa pela cabeça.
TEXTO: A francesa Philosophie Magazine parece ter o efeito que todas as publicações gostavam de ter junto do seu público: sempre que a vejo numa banca penso que escolheram exactamente o tema que apetece ler naquela altura. E, além disso, consegue o muito difícil equilíbrio entre ideias profundas e um tratamento, editorial e gráfico, que nos dá vontade de ler. “Precisamos das elites?” é a pergunta na capa da edição de Novembro (já saiu outra depois desta). As respostas, dadas por filósofos clássicos e contemporâneos, e acompanhadas por reportagens, trazem-nos o (muitas vezes esquecido) prazer de pensar e deixam-nos uma pergunta: porque é que em Portugal não fazemos uma revista assim?Como a inteligência é sempre um prazer, um dos momentos marcantes para mim das últimas semanas foi assistir à inteligência do talento com que, numa mistura de sensibilidade e humor, Salvador Sobral e Júlio Resende criaram o acompanhamento musical para o filme, inacabado e recuperado pela Cinemateca Portuguesa, O Homem dos Olhos Tortos, de Leitão de Barros. Foi o arranque do ciclo Video Lucem (programa 365 Algarve), que começou em Olhão e terá uma sessão por mês até Maio em diferentes cidades algarvias. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Há uma altura em que até uma grande jornalista de política internacional se cansa de percorrer zonas de guerra, entrevistar chefes de Estado e primeiros-ministros, tentando perceber porque é que há conflitos que parecem não ter fim à vista e decide voltar as suas atenções para a cama. Neste caso, a cama dos outros. E quem diz cama, diz mil e uma outras possibilidades, porque o que descobrimos no documentário da Netflix Sex & Love Around the World, apresentado pela famosa repórter da CNN Christiane Amanpour, é que não há mesmo limites para a imaginação quando falamos de sexo (ou da falta dele) no Japão. É por Tóquio que Amanpour anda no primeiro episódio da série (seguem-se Deli, Beirute, Berlim, Accra e Xangai), por entre gravuras eróticas japonesas que, em séculos idos, terão chocado os ocidentais, e as mais recentes mangas Yaoi (ou Boy’s Love ou, simplesmente BL) que, com o seu universo homoerótico, atraem jovens raparigas que não têm tempo para relações próprias. O episódio é um retrato fascinante de uma sociedade onde as pessoas evitam tocar-se e onde (é o que dizem a Amanpour) 40% dos homens são virgens. E quando, no final, pensávamos que Anthony Bourdain teria gostado de fazer este documentário, surgiu no genérico uma informação que não nos surpreendeu: foi ele o produtor executivo da série.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens guerra homem sexo
Desconstruir uma mulher
John Banville faz uma demonstração feérica da sua habilidade como escritor e, corajosamente, utiliza todos os truques, quase mágicos, para conjurar o fantasma do mestre Henry James. (...)

Desconstruir uma mulher
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: John Banville faz uma demonstração feérica da sua habilidade como escritor e, corajosamente, utiliza todos os truques, quase mágicos, para conjurar o fantasma do mestre Henry James.
TEXTO: Antes de iniciar a leitura do mais recente romance do irlandês John Banville (o segundo melhor livro de ficção publicado em Portugal em 2018, segundo os críticos do Ípsilon), é importante relembrar Retrato de uma Senhora, a obra-prima de Henry James, publicada em 1881. Nela, a privilegiada Isabel Archer, nascida em Albany, Nova Iorque, órfã muito nova, mas determinada a “enfrentar o seu destino”, aceita o convite de uma tia abastada para que a visite na sua grandiosa propriedade, perto de Londres. Aí, Isabel encontra o primo, o delicado e sempre enfermo Ralph Touchett — que se apaixona por ela — e recebe uma inesperada proposta de casamento de Lord Warburton, um homem mais velho. Caspar Goodwood, filho de um milionário de Boston, também quer casar com ela, mas Isabel rejeita todas as propostas porque “quer manter intacta a sua independência”. No entanto, numa viagem a Itália, acaba por cair na armadilha preparada por Gilbert Osmond e a sua amante, a diabólica Madame Merle. (De notar que estas duas personagens, cínicas e egoístas, são americanas, embora James insinue despudoradamente que a sua longa permanência na Europa terá contribuído para a sua decadência moral). Autoria: John Banville (Trad. Frederico Pereira) Relógio D’Água Ler excertoAo aceitar casar com Osmond, Isabel é apanhada numa teia de intrigas e manipulações — incluindo o afecto pela enteada, Pansy — que a desviam totalmente dos seus propósitos. Ao longo desta espécie de melodrama, James desenvolve uma longa e sinuosa análise da personalidade de Isabel Archer, retrata a situação das mulheres no século XIX — incluindo a das que trazem, do Novo Mundo, uma visão mais desempoeirada da vida — e faz uma crítica feroz ao casamento como instituição, um contrato estabelecido muitas vezes na sequência de um impulso. John Banville pega nas pontas soltas do final do romance de James, quando Isabel, desafiando o marido, volta a Inglaterra para acompanhar o primo nas suas derradeiras horas e, em Mrs Osmond, dá seguimento à aventura existencial de Isabel. O veredicto do infeliz Ralph Touchet — “Isabel não sofreu nem está destinada a sofrer” — acaba por ser uma espécie de maldição que a perseguirá, daí em diante. Morto e enterrado o primo, que lhe deixa uma imensa fortuna porque acredita nas “possibilidades” da jovem mulher, esta inicia a sua longa viagem de regresso a casa, em Roma, onde terá de decidir se fica, ou não, com o marido, e como deverá lidar com a traição e a ignomínia. Em Londres, visita amigas e tenta receber conselhos, mais ou menos díspares e vagos sobre as resoluções que tem de tomar, embarca para Paris, demora-se em Florença e aproxima-se vagarosa e titubeantemente do seu destino, com muitas pausas e mudanças de humor, pelo caminho. Dividida entre o desejo de liberdade — que a fortuna lhe proporciona — e o dever inerente à sua condição — ela é uma “senhora” — Isabel vive num constante vaivém entre o impulso e a reflexão, entre a sua inerente bondade e o desejo de transgressão. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. É sabido que uma grande parte dos personagens de Henry James são verdadeiros “peregrinos” que deixam a sua terra natal — em geral a América com destino à Europa — em busca de experiências, nas quais o erótico, o político, o económico e o estético se cruzam incessantemente. É o caso de Isabel Archer, a sua muito complexa e desarmante heroína que, tal como Daisy Miller, outra das suas ingénuas e dramáticas protagonistas, sofre o choque das diferenças culturais ao ver-se confrontada com a decadente sociedade do velho continente. James castiga severamente estas jovens mulheres que trazem consigo um forte desejo de liberdade e independência, mas que pecam por “excesso de autoestima”, segundo o autor. Na sua qualidade de expatriadas, de deslocadas, observam com intensidade um universo que lhes é estranho e Banville parece disposto a resgatá-las desse penoso destino, pelo menos no que diz respeito a Isabel Archer, não sem as fazer passar pela dúvida, pela indecisão e pelos maus julgamentos. Se a heroína de James é uma jovem promissora que traz consigo um optimismo e uma frescura incomparáveis, de certa forma “manchados” pelas possibilidades fornecidas pelo dinheiro — Isabel tanto é condicionada por Osmond, por escassez, como por Touchet, por excesso — com Banville, ela surge, mais velha e mais indecisa, sufocada por essa riqueza que tanto pode comprar a sua liberdade — se ela a quiser — como pode restringi-la a uma quase servidão. Isabel Archer, na sua transformação para Mrs Osmond — isto é, desde o instante em que casa com o cínico, preguiçoso, esquelético e maquiavélico Osmond — sofre um processo de metamorfose dolorosa, metamorfose essa que Banville se dispõe a explorar longa e intensamente, com um método que roça o sadismo. E se James deixou Isabel no “fio da navalha”, no processo de decidir (ou não) o resto da sua vida, Banville não oferece uma saída fácil, antes prolonga a incerteza até ao limite do suportável, terminando o seu relato de uma forma paradoxalmente inconclusiva. Num arremedo dos maneirismos de James, Banville transforma Isabel em Mrs Osmond, fazendo dela uma quase caricatura, numa permanente inquietude, a olhar por múltiplas janelas, a dar voltas intermináveis por jardins, a sentar-se a levantar-se de inúmeros e aconchegados sofás, a entrar e a sair de fiacres, a beber chás tépidos e intragáveis, a dormir em camas desconfortáveis e a mudar de decisão com uma impulsividade caprichosa, sempre seguida da sua severa, mas estóica criada, Staines, que funciona como uma espécie de Sancho Pança, no feminino. O fascínio por Henry James, também reconhecido por Banville, parece estar para durar. Em anos recentes, Colm Tóibín, Alan Hollinghurst e David Lodge não o deixaram sossegado, ficcionando-lhe a vida e a obra, apropriando-se do seu legado. John Banville faz, neste romance, uma demonstração feérica da sua habilidade como escritor e, corajosamente, utiliza todos os truques, quase mágicos, para conjurar o fantasma do mestre James. Feito o balanço, é facilmente discernível o prazer que deve ter retirado desta experiência. Na realidade, o exercício em torno do destino de Isabel Archer/Mrs Osmond — que subtilmente Banville satiriza com ferocidade contida — é muito mais sobre o seu criador inicial, Henry James, do que sobre a sua heroína. Ou, melhor ainda, é essencialmente sobre o próprio Banville.
REFERÊNCIAS:
Uma ópera em directo de Bayreuth para os fãs de Wagner sentados no CCB
Pela primeira vez, o famoso festival dedicado ao compositor transmitiu em directo a abertura para um país que não fala alemão. Bayreuth também inovou ao entregar nova produção de Lohengrin a um norte-americano. (...)

Uma ópera em directo de Bayreuth para os fãs de Wagner sentados no CCB
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.136
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Pela primeira vez, o famoso festival dedicado ao compositor transmitiu em directo a abertura para um país que não fala alemão. Bayreuth também inovou ao entregar nova produção de Lohengrin a um norte-americano.
TEXTO: Foi há quase um ano que a presidente do Círculo Richard Wagner começou a tentar trazer para Portugal a transmissão em directo da abertura do Festival de Bayreuth, a meca alemã da ópera de Richard Wagner e um lugar de culto para os melómanos. “Essa é uma senhora história”, começa por dizer Teresa Cochito, recuando o início dos contactos a um encontro de Katharina Wagner, directora do festival, com os círculos dedicados ao compositor alemão durante o mês de Agosto passado, onde se discutia o que é que estas associações que reúnem 37 mil membros em todo o mundo podiam programar em sintonia com a abertura do festival de 2018. “A ideia da transmissão em directo por satélite do festival não era muito linear para fora dos países de língua alemã. Nunca tinha sido feita nenhuma. ”Mas este 25 de Julho de 2018 foi um dia “histórico”, como lhe chamou Paulo Ferreira de Castro, o musicólogo que em Lisboa, no Centro Cultural de Belém (CCB), fez a conferência que introduziu a nova produção de Lohengrin, assinada pelo encenador norte-americano Yuval Sharon, dirigida pelo maestro alemão Christian Thielemann e com cenografia e figurinos dos pintores Neo Rauch e Rosa Loy, também eles alemães. “Isto não é sequer uma prática corrente fora da Alemanha. Estamos hoje aqui um pouco em Bayreuth nas margens do Tejo”, continuou Ferreira de Castro sobre o espectáculo que começou a ser transmitido ao final da tarde de quarta-feira no Grande Auditório do CCB. “É a primeira vez que fazemos uma transmissão para fora dos países que falam alemão. Sim, a estreia foi em Lisboa”, confirmou já esta quinta-feira Markus Latsch, o responsável pelos contactos com os media do programa Festival de Bayreuth no Cinema, que junta 130 salas, a sua maioria na Alemanha, mas com extensões este ano também à Áustria e à Suíça. Já de saída para outra produção, Markus Latsch estava entusiasmado com o facto de alguns dos bilhetes oferecidos pela organização para o próximo festival em 2019, num sorteio a que assistimos também no CCB no final da transmissão em directo, tivessem ficado para alguns dos fãs lisboetas de Wagner. Numa parceria com o CCB e o Instituto Alemão, o Círculo Richard Wagner alarga assim em Portugal as transmissões em directo das grandes casas de ópera internacionais, que começaram com a Gulbenkian e o Metropolitan de Nova Iorque e já incluem o Corte Inglés e a Royal Opera, que ultimamente também tem mostrado as suas produções em Belém em directo e diferido. “Há um excelente público wagneriano em Portugal, mas o festival tem sempre longas filas de espera para a obtenção de bilhetes porque só há 60 mil lugares por festival. Há anos e anos de espera para ter os bilhetes”, afirma a presidente do Círculo Richard Wagner, que todos os anos leva alguns dos seus membros a Bayreuth. “Com as novas tecnologias, a possibilidade de experimentar aquele lugar pensado por Wagner para mostrar a sua obra de arte total é uma oportunidade única. No CCB, houve uma reacção muito boa do público. Eu adorei. ” Do ponto de vista musical, continua Teresa Cochito, “aquilo é o topo da nata”, porque Christian Thielemann “é uma coisa absolutamente excepcional” e o elenco “fabuloso”. Quanto às encenações, “é importantíssimo que tragam novidade, que não sejam inócuas deposições de coisas do passado, e que proponham uma leitura filosófica”. Da encenação de Yuval Sharon, releva a introdução da iconografia ligada às efeméridas, um tipo de insectos que só dura um dia, para identificar Lohengrin ou aqueles que estão ligados ao poder. “As asas que usam realçam como é efémera a ideia, ou o projecto, de que um ser virtuoso, só luz, extraterrestre, consegue conviver no dia-a-dia terrestre. ”A estreia absoluta de Lohengrin, a ópera do cavaleiro do cisne, foi em 1850 em Weimar, na Alemanha, mas Wagner não assistiu porque vivia no exílio por causa da sua participação na Revolução de 1848, lembrou Paulo Ferreira de Castro na conferência. “Ele confiou essa estreia a Liszt, que era uma espécie de director artístico da corte de Weimer. Conta-se que assistiu ao espectáculo através da sua imaginação na Suíça, sentado na esplanada do Hotel do Cisne. Nessa altura não havia transmissão em satélite, mas para Wagner a ópera terá acabado mais cedo, porque os tempos de Liszt eram muito lentos. . . ” Se Lohengrin vem trazer a luz à sombra e salvar a princesa Elsa da morte, a cor orquestral também é muito importante nesta ópera, "porque há um trabalho muito imaginativo em termos de timbres". O antigo director do Teatro Nacional de São Carlos explicou também que Lohengrin é uma obra charneira na composição de Wagner. “É a última obra romântica, depois virá a tetralogia, Tristão e Isolda, Os Mestres Cantores de Nuremberga e Parsifal no final da vida. Mas Lohengrin prenuncia muitas das opções da obra da maturidade de Wagner. ” Paulo Ferreira de Castro, que falou antes de começar a transmissão e lembrou quanto Bayreuth não gosta de revelar grande coisa antes das obras subirem ao palco, preparou-nos para uma certa tensão entre cenografia e encenação. Afinal, como lembrou o crítico do New York Times, a estreia do primeiro encenador americano em 142 anos de Festival de Bayreuth não se fez sem alguns percalços. Quando Yuval Sharon chegou a Bayreuth em 2016 para substituir Alvis Hermanis na encenação, já o casal de artistas que assina a cenografia e figurinos trabalhava há anos na produção. Neo Rauch e Rosa Loy têm defendido, explicou o conferencista português, que é preciso reintroduzir “o reencantamento do mundo”, numa resposta ao “desencantamento do mundo” referido na obra do sociólogo alemão Max Weber, uma tendência geral da vida moderna ocidental, especialmente presente na cultura alemã. Já a abordagem à encenação de Yuval Sharon, que simboliza a renovação da ópera nos EUA, é mais política, como escreve David Allen do New York Times: se “nenhuma estrela deve ser seguida sem cepticismo”, cabe às mulheres da ópera interrogarem a luz que representa Lohengrin, numa crítica feminista que fica por vezes subjugada pelo encantamento da cenografia. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Elsa, se eu me tornar teu esposo, passarei a proteger o teu país e o teu povo, e nada me separará de ti, mas há algo que tens de me prometer: jamais me deverás perguntar, nem sequer teres curiosidade em saber, de onde vim nem qual é o meu nome e a minha origem!” Mas Elsa, como defende Paulo Ferreira de Castro, tem todo o direito de saber com quem se casou. “Quem é o verdadeiro herói? Elsa ou Lohengrin?”As referências são mais do que muitas e, por vezes, um pouco avassaladoras e confusas: cenário e figurinos pintaram-se de azul, cabelos de cantores incluídos; há uma central eléctrica que parece saída directamente do filme Metropolis, a obra-prima expressionista de Fritz Lang; o guarda-roupa inspirou-se na pintura antiga do Norte da Europa; Lohengrin, o herói, faz lembrar o homem novo do mundo soviético, um operário electricista. Quando nos aproximamos do final, o laranja, a cor complementar do azul, começa a invadir o cenário e os figurinos – o quarto nupcial extravagantemente representado dentro de uma torre eléctrica é todo laranja. Elsa fez a pergunta proibida, traindo a sua promessa. Lohengrin anuncia que é filho de Parsifal, o rei do Graal. Mas enviado para combater o mal, só tinha poderes excepcionais enquanto não fosse revelada a sua identidade. Falha, assim, o encontro entre o humano e o divino, entre o ideal e a realidade, entre a teoria e a prática, entre a revolução e a vida política. Mas na cena final, que termina com a palavra “desgraça”, já não vemos uma Elsa caída, antes uma mulher a quem Lohengrin dá uma mochila cheia de coisas para enfrentar uma nova vida. É tempo de ressurgir o irmão desaparecido de Elsa, Gottfried, transformado num homem silvestre contemporâneo, outra figura mítica da Europa medieval.
REFERÊNCIAS:
CNN revela carta sobre construção na Rússia assinada por Donald Trump
O Presidente norte-americano garantiu durante a campanha que não tinha negócios na Rússia, e no domingo o seu advogado disse que ninguém assinou nenhum acordo preliminar. (...)

CNN revela carta sobre construção na Rússia assinada por Donald Trump
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Presidente norte-americano garantiu durante a campanha que não tinha negócios na Rússia, e no domingo o seu advogado disse que ninguém assinou nenhum acordo preliminar.
TEXTO: O canal norte-americano CNN divulgou esta quarta-feira um acordo preliminar para a construção de um projecto imobiliário no centro de Moscovo, assinado por Donald Trump em Outubro de 2015. Durante a campanha eleitoral de 2016, o actual Presidente norte-americano disse que não tinha quaisquer interesses comerciais na Rússia e, mais recentemente, negou que tenha assinado qualquer carta de compromisso. O documento foi mostrado pelo jornalista Chris Cuomo no seu programa na CNN e está disponível, na íntegra, no site da estação norte-americana. A carta apresentada pela CNN tem as assinaturas de Donald Trump e do dono da empresa russa que iria desenvolver o projecto, Andrei Rozov. Nela estão detalhadas as condições para a aquisição, pela empresa russa, de um empreendimento que seria conhecido como "Trump Moscow". Durante a campanha para as presidenciais de 2016, e já depois de ter chegado à Casa Branca, em 2017, Donald Trump disse sempre que não tinha quaisquer negócios com a Rússia. "Eu não tenho negócios na Rússia, não tenho nenhum negócio com a Rússia, não tenho nenhum negócio que poderia vir a acontecer na Rússia, porque nos mantivemos afastados. E não tenho empréstimos na Rússia", disse Donald Trump a 11 de Janeiro de 2017, dias antes de tomar posse como Presidente dos EUA, numa conferência de imprensa na Trump Tower, em Manhattan. Com a abertura de várias investigações sobre as suspeitas de interferência russa nas eleições de 2016 nos EUA – a principal das quais é liderada pelo procurador especial Robert Mueller –, o interesse de Trump em desenvolver um projecto imobiliário na Rússia foi sendo revelado. Em Setembro de 2017, o então advogado pessoal de Trump, Michael Cohen, disse ao Congresso norte-americano que, de facto, houve um interesse na construção de uma Trump Tower em Moscovo, mas garantiu que a abordagem foi feita por ele e que o negócio foi descartado em Janeiro de 2016 – antes do arranque das eleições primárias no Partido Republicano, que viriam a ser ganhas por Donald Trump. Segundo o depoimento de Michael Cohen em Setembro de 2016, nem Donald Trump nem os seus filhos foram mantidos ao corrente da abordagem feita entre Outubro de 2015 e Janeiro de 2016. Já este ano, em Abril, Cohen começou a colaborar com os investigadores do Departamento de Justiça e com outros procuradores que o acusaram de fraude fiscal e bancária e de pagar a duas mulheres para se manterem em silêncio sobre relações passadas com Donald Trump – segundo esses procuradores, os pagamentos violaram as leis federais de campanha porque os valores ultrapassaram, em muito, o máximo permitido a um indivíduo e serviram para poupar o candidato Donald Trump a possíveis consequências negativas perante os eleitores. Apesar de os media norte-americanos terem noticiado o possível negócio em Moscovo em 2017, foi só a partir de Abril de 2018 – com um raide do FBI ao escritório de Michael Cohen – que se começou a saber a dimensão do envolvimento de Donald Trump. No mês passado, Michael Cohen admitiu em tribunal que mentiu na declaração que enviou ao Congresso em Setembro de 2017 – e disse que as conversações com vista à construção de uma Trump Tower em Moscovo foram acompanhadas de perto por Donald Trump e prolongaram-se, pelo menos, até ao Verão de 2016, quando já se sabia que Trump seria o candidato do Partido Republicano à Casa Branca. No dia em que Cohen disse ter mentido ao Congresso, o Presidente Trump acusou-o de apenas querer escapar com uma sentença leve, e voltou a sugerir que não assinou qualquer carta de intenções para um projecto na Rússia. "Em Janeiro, a Fox noticiou uma carta que ele [Michael Cohen] assinou, e que fala especificamente sobre esse negócio. Eu nem sequer me lembro disso", disse Trump numa conversa com jornalistas antes de partir para a cimeira do G20, em Buenos Aires. As negociações para a construção de um projecto imobiliário em Moscovo são um dos vários temas em foco nas investigações do procurador especial Robert Mueller. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O objectivo é perceber se Trump estaria a prometer uma aproximação à Rússia, através de declarações públicas favoráveis ao Presidente Vladimir Putin e outras acções, para garantir a entrada das suas empresas em Moscovo. O facto de um candidato à presidência dos EUA ter projectos de negócios na Rússia não é um crime em si, mas os investigadores estão a tentar perceber o que levou Donald Trump e o seu advogado, entre muitas outras pessoas, a desmentirem a existência desses contactos durante tanto tempo. Ainda no domingo, o actual advogado pessoal de Trump, Rudolph Giuliani, disse que o actual Presidente não assinou nenhum documento sobre o negócio. "Era um projecto imobiliário. Havia um acordo preliminar na calha, mas ninguém o assinou", disse Giuliani à CNN.
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Entidades EUA
As regras orçamentais europeias chocam com França e Itália
Há que encontrar novas formas de governança na zona euro e analisar porque funcionam mal as instituições europeias em situação de crise. (...)

As regras orçamentais europeias chocam com França e Itália
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Há que encontrar novas formas de governança na zona euro e analisar porque funcionam mal as instituições europeias em situação de crise.
TEXTO: O presidente Macron, na passada segunda-feira, em resposta aos protestos dos “coletes amarelos”, anunciou medidas que, segundo o Governo francês, resultarão num aumento da despesa entre 8 e 10 mil milhões de euros. A que acrescem cerca de 4 mil milhões de euros de receita “perdida” devido à suspensão e posterior cancelamento do aumento dos impostos sobre os combustíveis que, como se sabe, desencadeou este amplo movimento de protesto. Note-se que a proposta de Orçamento de 2019 de França previa um défice de 2, 8% do PIB. Mas as estimativas de crescimento económico foram entretanto revistas em baixa, pelo que agora se prevê que o défice venha a superar novamente os 3% do PIB, podendo mesmo atingir os 3, 4% do PIB. Note-se ainda que as propostas de França contrastam com o processo orçamental em Itália que, na sequência das exigências da Comissão Europeia, reviu o défice para 2019 em baixa de 2, 4% para 2, 04% do PIB, o que não deixa de ser irónico. Na realidade, estes são os primeiros grandes testes ao Tratado ou Pacto Orçamental Europeu e às regras complementares implementadas a partir de 2012, nem cinco anos decorridos após a sua entrada em vigor a 1 de Janeiro de 2013 e num contexto macroeconómico extremamente favorável. Imagine-se o impacto destas regras orçamentais num contexto macroeconómico desfavorável!Os casos mais recentes, em grandes economias da Zona Euro, sinalizam que as novas regras orçamentais europeias são míopes e que terão de ser alteradas. Evidentemente, no contexto de convulsões sociais profundas em Itália e em França, as autoridades europeias terão de ser capazes de alterar o rumo para evitar chocar com esses dois gigantes icebergues. É ainda de salientar que a proposta de integração do Tratado Orçamental na legislação europeia foi chumbado na Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, com um voto de 25 contra 25. É caso, aliás, para se dizer que a crise do euro foi muito má conselheira. Na Alemanha, o Governo alemão está a contemplar alterar leis, nomeadamente leis fiscais, de forma a facilitar a fusão do Deutsche Bank com o Commerzbank, na sequência de uma continuada descida do preço das acções do Deutsche Bank e do envolvimento deste banco em mais um escândalo, transferências bancárias ligadas à alegada “lavagem” de 200 mil milhões de euros na Estónia pelo Danske Bank. Em teoria, se necessário, deveria ser aplicada uma medida de resolução bancária ao Deutsche Bank, mas parece que as regras só se aplicam às “cobaias”, i. e. , aos pequenos países e pequenos bancos. O Estado alemão é accionista do Commerzbank e, por via dessa fusão, passaria a ser accionista do Deutsche Bank, a um preço favorável porque o preço das acções do Deutsche Bank caíram muito em relação às do Commerzbank. Assim, posteriormente, poderia, como accionista, participar num aumento de capital do novo Deutsche Bank-Commerzbank, sendo o Deutsche Bank desta forma parcialmente nacionalizado e salvo da aplicação de uma medida de resolução. O interesse nacional sempre primeiro. E, neste caso, bem!As autoridades europeias e nacionais investiram enormes recursos em reformas das regras orçamentais e das regras de supervisão bancária que, já se constata, não servem e criam mais problemas do que resolvem. Há que encontrar novas formas de governança na zona euro e analisar porque funcionam mal as instituições europeias em situação de crise. É necessário saber aprender com os erros que se cometem. Afigura-se que o problema é que a governança da zona euro ainda se parece demasiado com a intriga e os virulentos combates de poderosos das antigas cortes imperiais. O poder, na zona euro, está na mão de muito poucos “príncipes e princesas ". Será que aprenderão a lição?Como revelado por mais um artigo de Sérgio Aníbal no Público a 13 de Dezembro, o Governo fez um acordo com os credores europeus do sector oficial. Estes impuseram cinco condições antes da autorização dos pagamentos ao FMI, duas das quais – manutenção de maturidade residual média da dívida de 6, 5 anos, excluindo dívida à UE, e manutenção de almofada financeira de 40% das necessidades de financiamento de médio e longo prazo nos próximos 12 meses – com significativas implicações para o erário público se se perpetuarem no tempo. O acordo foi feito, de forma secreta, à revelia do Parlamento português, e formalizado com o pedido e as respostas a esse pedido, no mesmo dia, 24 de Outubro do corrente ano, pelo Ministério das Finanças de Portugal, Comissão Europeia, BCE, Mecanismo Europeu de Estabilidade (e Fundo Europeu de Estabilização Financeira), tendo sido aprovado pelo Parlamento alemão a 19 de Novembro de 2018, antes de ser anunciado pelo Primeiro Ministro no Parlamento português. As autoridades europeias e um parlamento de outro estado membro definiram as condições de gestão da dívida pública de um estado membro, Portugal. Ou seja, vai-se para além do Pacto de Estabilidade e Crescimento e do Tratado Orçamental (limites ao défice público e ao stock de dívida pública) e começam-se a impor restrições à maturidade da dívida, à dimensão da almofada financeira e às características das emissões de dívida pública. O que no mundo anglo-saxónico se designa por uma “slippery slope” (uma rampa escorregadia com consequências potencialmente negativas)…Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As condições negociadas com as autoridades europeias implicam custos para o erário público que dependem da duração dos compromissos assumidos pelo Governo de Portugal, particularmente, em relação à manutenção da maturidade residual média da dívida em 6, 5 anos. A linguagem utilizada nos documentos oficiais disponíveis no website do Parlamento da Alemanha parece sugerir que o Governo somente estaria obrigado a cumprir essas condições imediatamente antes do pagamento ao FMI, que ocorreu a semana passada. Seria importante que o Ministério das Finanças de Portugal confirmasse que não se vinculou a cumprir essas condições também no futuro. Somente assim se poderá avaliar se foi positiva a amortização antecipada da dívida ao FMI.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE FMI
Cerco policial não abafou a “raiva” nem o “desespero” dos “coletes amarelos”
Quarto acto dos protestos em Paris começou com tranquilidade, mas a tensão subiu ao longo do dia e à noite a capital francesa voltou a ser palco de uma batalha campal, quando os jovens dos subúrbios tomaram o lugar dos manifestantes. (...)

Cerco policial não abafou a “raiva” nem o “desespero” dos “coletes amarelos”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.35
DATA: 2018-12-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quarto acto dos protestos em Paris começou com tranquilidade, mas a tensão subiu ao longo do dia e à noite a capital francesa voltou a ser palco de uma batalha campal, quando os jovens dos subúrbios tomaram o lugar dos manifestantes.
TEXTO: Para o “quarto acto”, o quarto sábado consecutivo de protestos em Paris, milhares de “coletes amarelos” chegaram de toda a França para provar ao Presidente da República, Emmanuel Macron — e a todos os franceses —, que, ao contrário do que dizem os media, não são um grupo de desordeiros, mas manifestantes pacíficos que assumiram a responsabilidade de vir para a rua dar voz ao descontentamento de um povo que já não consegue suportar mais a carestia de vida depois de décadas de empobrecimento. E durante uma boa parte do dia, os milhares de “coletes amarelos” que estiveram em Paris cumpriram essa missão. Agitando a bandeira da França, e entoando o hino nacional; segurando pequenos cartazes e escrevendo mensagens nas costas dos seus coletes, homens e mulheres, mais jovens e mais velhos, caminharam para cima e para baixo da Avenida dos Campos Elísios, o local simbólico e autorizado para a manifestação. Um impressionante dispositivo policial, com mais de oito mil efectivos de diversos brigadas e departamentos da polícia e Guarda Nacional, foi montado logo às primeiras horas da manhã para garantir que, desta vez, os manifestantes não conseguiam circular livremente pelas ruas do 16. º Bairro da capital. Nem aproximar-se do Arco do Triunfo, como tinham feito uma semana antes. Com tanques, carrinhas, ambulâncias, motorizadas e centenas e centenas de agentes infiltrados num cordão humano, as autoridades formaram um perímetro em torno da Praça de l’Étoile (actualmente, Praça Charles-de-Gaulle), assegurando que o Arco do Triunfo não era novamente “profanado”, e que nenhum dos “coletes amarelos” escapava da vigilância. Ao longo de horas, tudo funcionou como devia, com polícia e manifestantes a avançarem e recuarem numa coreografia ensaiada nas semanas anteriores e aperfeiçoada entre as oito e as dez da manhã, quando os “coletes amarelos” começaram a chegar vindos de cidades e vilas da Borgonha à Normandia, e os Campos Elísios ficaram bem compostos de gente. No interior desse perímetro determinado como palco dos protestos, debaixo da vigilância musculada das forças da polícia, os “coletes” tiveram margem de manobra para dar voz ao seu descontentamento. Houve vaias e insultos e, de tempos a tempos, algumas provocações e escaramuças. Foram disparados muitos petardos, fogos-de-artifício e very lights. Mas em contraste com a última vez, não houve nem confronto nem destruição. “Nós somos pacifistas. Não somos extremistas, não somos radicais. Viemos aqui bater-nos por direitos, não para partir e estragar”, dizia Jean-Baptiste, de 27 anos, vindo de Le Neubourg, uma comuna de quatro mil habitantes na região da Normandia, a cerca de duas horas e meia de Paris. Para chegar aos Campos Elísios, Jean-Baptiste passou por oito pontos de controlo da polícia, e em todos foi obrigado a mostrar a identificação, a abrir a mochila que trazia uma máscara antigás, uma garrafa de água e duas sanduíches. “Revistaram-nos e fecharam-nos aqui, mas não é grave”, disse, confessando-se em partes iguais “incomodado” e “tranquilizado” com a vigilância que também garantia a segurança dos manifestantes. Ao seu lado havia quem criticasse o excesso da presença policial, interpretando-a como uma mensagem do Governo para os manifestantes. “Isto é o [ministro do Interior, Christophe] Castaner a querer atear o fogo. O interesse do Governo é dividir, e é por isso que nos misturam a todos no mesmo saco, ‘coletes amarelos’ e vândalos. Mas o Presidente Macron que veja o que está aqui a acontecer e pare de nos tratar como vândalos. Nós não viemos para destruir a mais bela avenida do mundo. Viemos para dizer que um salário tem de servir para uma pessoa viver decentemente”, explicava Pierre, que tinha uma única frase escrita no seu colete: “Não estou contente”. A mesma mensagem era repetida por um e outro “colete amarelo”. Todos falavam de “raiva” e “cólera”, mas também de “exasperação”, “angústia” e “desespero” — porque o valor dos salários, das reformas e das pensões não garante uma vida digna; porque à carga fiscal “mais elevada da Europa” não correspondem os serviços públicos de qualidade que os contribuintes têm de pagar; porque os governantes estão “desligados da realidade” e da vida quotidiana dos cidadãos e os políticos só respondem “às ordens dos lobbies, dos banqueiros e dos grandes grupos”, tornando-se nos principais promotores da corrupção. As queixas são muitas e variadas, e já vão muito além do abandono definitivo da anunciada revisão em alta do imposto sobre os combustíveis, a gota de água que fez transbordar o copo e pôs em marcha o movimento “coletes amarelos”. Nenhum deles comprou a trégua pedida pelo Presidente Emmanuel Macron, que numa primeira reacção às exigências dos manifestantes prometeu suspender essa medida temporariamente. Aquilo que os coletes mais reclamavam neste sábado era a atenção do Presidente Macron. Não acreditavam como o chefe de Estado ainda não falara aos cidadãos, como continuava alheio às suas reivindicações — que, mostram as sondagens, têm a simpatia ou apoio de sete em cada dez franceses. A única palavra de ordem que gritavam era “Macron démission”, provando que o movimento permanece, por enquanto, imune à apropriação política de partidos, sindicatos e outras organizações políticas. “Nenhum político me interessa, nenhum deles me convence, já há muito que deixei de acreditar neles, sejam de direita, esquerda ou centro”, declarava Leonel, um luso-descendente que veio com quatro companheiros de Toulouse, no Sul do país. “Em França já não há democracia. Há mais de 30 anos que as pessoas estão a empobrecer”, dizia, garantindo que “as pessoas estão a começar a ferver” e a olhar para casos como o da Islândia, onde, confrontado com a crise e a corrupção, “o povo tomou o país nas mãos para fazer as leis”, disse. Essa seria a fórmula para ultrapassar o impasse político em França, defende: “Um referendo popular, uma nova república, onde é o povo que decide as acções do Governo”. Porém, o ambiente, por vezes tenso, por vezes distendido, que marcou a manhã não se aguentou todo o dia. A situação alterou-se dramaticamente durante a tarde, à medida que a impaciência, o cansaço, e a fúria dos “coletes amarelos” encurralados nos Campos Elísios se avolumava. O frente-a-frente com as autoridades endureceu, com muitos manifestantes a deixar de acatar as instruções e enfrentar abertamente as ordens da polícia. Escaramuças que horas antes não chegavam a durar mais do que dois minutos transformaram-se em braços-de-ferro, com a polícia a avançar (embora sem carregar) sobre a multidão e a disparar granadas de dispersão, flashballs e gás lacrimogéneo. Na resposta, os manifestantes arremessaram aquilo que encontravam: garrafas de plástico, latas de cerveja, pedras. . . Caixotes do lixo, canteiros ou pinheiros de Natal foram incendiados; muitos painéis de madeira usados para proteger as montras dos estabelecimentos comerciais da avenida foram arrancados, fosse para servir de escudo, fosse para improvisar barricadas, fosse para atirar contra a policia. Ao mesmo tempo que a tensão atingia o nível máximo nos Campos Elísios, e a razão e moderação se esgotavam de ambos os lados, começavam a espalhar-se pela cidade grupos de jovens casseurs, o nome que os franceses deram aos indivíduos que a pretexto das manifestações e marchas de protesto se infiltram nas multidões para promover a violência. Serão militantes de extrema-direita e extrema-esquerda, anarquistas e black blocks ou simplesmente vândalos e marginais que sem qualquer motivação política evidente aproveitam a confusão para roubar e pilhar. Num instante, em distintos pontos da cidade, erguiam-se barricadas e incendiavam-se automóveis, com a cortina de fumo resultante a esconder os actos seguintes: o arrombamento e a pilhagem dos comércios que estiveram encerrados por ordem municipal ou os assaltos às caixas de levantamento automático. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Ao fim da tarde, a escalada da violência, já disseminada muito para além do perímetro da manifestação dos “coletes amarelos”, levou a polícia a tomar medidas drásticas para manter o controlo da situação. Os canhões de água foram accionados, a polícia antimotim começou a investir com os bastões. O número de indivíduos identificados e detidos, que ao final da manhã já era de centenas de pessoas, cresceu para mais de 1300 ao início da noite. O número de feridos conheceu idêntica evolução: de manhã não havia registos de casos, depois do almoço já eram mais de duas dezenas e no fim do dia as autoridades confirmavam o transporte de mais de uma centena de pessoas para unidades hospitalares (18 dos 117 feridos oficiais eram polícias). “Isto já não tem nada a ver com os ‘coletes amarelos’”, garantia ao PÚBLICO um dos agentes da Brigadas Anticrime (que actuam à paisana) que perseguiam grupos de adolescentes, todos vestidos de preto e com as caras cobertas, que destruíam tudo à sua passagem. “Agora é a vez dos jovens marginais dos subúrbios desceram à cidade”, informava, conformado com a nova rotina dos sábados em Paris. “O turno começa às 4h30, e acaba quando tudo acalmar. Com sorte, estaremos todos a voltar a casa à meia-noite”, despedia-se.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens violência mulheres salário
Shopping de Natal: presentes solidários
Várias marcas aproveitam a altura do Natal, para angariar fundos para diferentes instituições. O Culto sugere alguns presentes solidários que pode encontrar. (...)

Shopping de Natal: presentes solidários
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: Várias marcas aproveitam a altura do Natal, para angariar fundos para diferentes instituições. O Culto sugere alguns presentes solidários que pode encontrar.
TEXTO: Com o Natal ao virar da esquina, continua a corrida pela prenda perfeita para as pessoas mais chegadas. Nem todos os presentes nascem iguais: alguns valem por dois, aproveitando a generosidade das pessoas e ajudando a angariar fundos para as mais diferentes causas. A marca de sapatos portuguesa Freakloset, por exemplo, criou uma edição limitada (de 50 pares) de sapatos desenhados e customizado pela ilustradora Wasted Rita. O lucro reverte integralmente a favor da UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta. A Antiga Barbearia do Bairro juntou-se à Liga Portuguesa contra o Cancro, durante o mês de Dezembro, na compra de qualquer produto da marca, um euro reverte a favor da organização. A Missão Continente [pertence ao mesmo grupo que o PÚBLICO] tem à venda canecas e caixas de bombons, cujas receitas contribuem a favor de diferentes projectos na área responsabilidade social e da alimentação. Também o PÚBLICO tem um Calendário Ilustrado para 2019, criado para apoiar a Associação para a Promoção Cultural da Criança (APCC). Já a Douglas está a vender conjuntos de seis postais (no valor 1 euro), cujas receitas revertem totalmente a favor da Make-A-Wish, uma organização que realiza os desejos de crianças com doenças que colocam a sua vida em risco. A Chicco contribuirá com um euro para a Ajuda de Berço por cada vale de 15% de desconto utilizado nas Lojas Chicco ou na loja online. Para receber o vale, basta registar o seu e-mail no site. Através de um par de meias da Calzedonia, até 25 Dezembro 2018, poderá contribuir para a Liga dos Bombeiros Portugueses. Neste Natal há mais um presente especial para colocar no sapatinho, a Ambar e a Cruz Vermelha Portuguesa lançam uma agenda solidária com o objetivo de angariar fundos para apoiar a missão da organização. Por cada agenda vendida, um euro reverte para a instituição e poderá ser adquirida na loja. Também a ambarscience e a Quercus lançaram um kit didático e solidário – Amigos da Floresta – que desafia os mais novos na área da educação ambiental. Ao adquirir este kit, o consumidor está a contribuir para a reflorestação do país, e uma parte das receitas reverterá para os programas de educação ambiental da Quercus. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A campanha das Guerreiras da Dama de Copas, lançada durante o mês da luta contra o cancro, está activa até 31 de Dezembro: na compra dos soutiens desportivos criados para esta campanha, a marca doará 10% do seu valor ao Fundo iMM-Laço. Algumas organizações, como a Unicef e Nariz Vermelho, têm lojas próprias com várias opções de presentes. O Culto juntou algumas sugestões de presentes solidários, na fotogaleria em cima.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave educação ajuda social criança mulheres
Número de desempregados inscritos recua 17,4% em Outubro
As actividades com maior expressão nas ofertas de emprego recebidas no continente foram as imobiliárias, administrativas, do comércio e do alojamento e restauração (...)

Número de desempregados inscritos recua 17,4% em Outubro
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: As actividades com maior expressão nas ofertas de emprego recebidas no continente foram as imobiliárias, administrativas, do comércio e do alojamento e restauração
TEXTO: O número de desempregados inscritos nos centros de emprego baixou 17, 4% em Outubro face ao mesmo mês de 2017 e diminuiu 1, 4% face a Setembro, para um total de 334. 241 pessoas, revelou hoje o IEFP. De acordo com a Informação Mensal do Mercado do Emprego disponível na página do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), para a diminuição do desemprego registado, face ao mês homólogo de 2017 (menos 70. 323 pessoas), contribuíram todos os grupos de desempregados, com destaque para os homens (menos 20%), os adultos com idades iguais ou superiores a 25 anos (quebra de 16, 8%), os inscritos há um ano ou mais (recuo de 23, 3%), os que procuravam novo emprego (diminuição de 16, 7%) e os que possuem como habilitação escolar o 1. º ciclo básico (queda de 22, 2%). Já face ao mês anterior, a redução fez-se sentir, particularmente, nas mulheres, na procura de novo emprego, em inscrições com um ano ou mais e em habilitações de nível superior. O desemprego jovem fixou-se nas 37, 6 mil pessoas, um decréscimo homólogo de 21, 7% (menos 10, 4 mil pessoas) e um acréscimo em cadeia de 3, 6% (mais 1, 3 mil pessoas), “em linha com a tendência habitualmente observada no mês de Outubro (o desemprego jovem aumentou entre Setembro e Outubro em nove dos últimos dez anos)”, refere o IEFP. O desemprego de longa duração recuou 23, 3% na comparação homóloga, com um decréscimo de 46, 5 mil pessoas inscritas há mais de 12 meses nos centros de emprego, situando-se nas 153, 4 mil pessoas (menos 3, 4% face ao mês de Setembro). A redução homóloga do desemprego foi transversal a todas as regiões do país, destacando-se, com as descidas percentuais mais acentuadas, as regiões Norte (menos 19, 4%) e Alentejo (menos 21, 3%). Face ao período homólogo, o desemprego diminuiu em todos os sectores de actividade económica, com a maior redução a registar-se na indústria da madeira e da cortiça (menos 28, 3%), na construção (menos 27, 6%) e na fabricação de mobiliário, reparação de máquinas e equipamentos e outras indústrias transformadoras (menos 25, 2%). Ao longo do mês de Outubro, inscreveram-se nos serviços de emprego 52. 693 desempregados, número inferior ao do mesmo mês de 2017 (menos 1. 022 ou uma redução de 1, 9%). Em relação a Setembro deste ano, o volume de inscrições foi também inferior (menos 1. 188 ou uma diminuição de 2, 2%). Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Por grupos profissionais dos desempregados registados no continente destacaram-se os trabalhadores não qualificados (25, 1% do total), os trabalhadores dos serviços pessoais, de protecção segurança e vendedores (19, 3% do total) e os especialistas das actividades intelectuais e científicas (12, 3% do total). As ofertas de emprego recebidas ao longo de Outubro totalizaram 12. 833 em todo o país, número inferior ao mês homólogo de 2017 (menos 2. 235 correspondente a uma quebra de 14, 8%) e acima do mês anterior (mais 769, um aumento de 6, 4%). As actividades com maior expressão nas ofertas de emprego recebidas (dados do continente) foram as imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio (17, 9%), comércio por grosso e retalho (11, 5%) e alojamento, restauração e similares (9, 9%).
REFERÊNCIAS:
Entidades IEFP
Eurocracia em Lisboa: a “escolha” dos socialistas europeus
A comparação entre a forma como o PPE e o PSE encaram a indicação de um candidato a Presidente da Comissão diz muito sobre o modo como vêem e como vivem a democracia europeia (...)

Eurocracia em Lisboa: a “escolha” dos socialistas europeus
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-04 | Jornal Público
SUMÁRIO: A comparação entre a forma como o PPE e o PSE encaram a indicação de um candidato a Presidente da Comissão diz muito sobre o modo como vêem e como vivem a democracia europeia
TEXTO: 1. Nos próximos dias 7 e 8 de Dezembro, o Partido Socialista Europeu (PSE), organiza o seu Congresso em Lisboa. Deveria ser o Congresso em que os delegados dos partidos nacionais escolheriam o seu candidato ao posto de Presidente da Comissão Europeia. Mas, infelizmente, e já pela segunda vez consecutiva, não será. Em Lisboa, nenhum delegado socialista escolherá nada nem ninguém. Já alguém, nos corredores de Bruxelas, escolheu por eles. 2. Tendo em vista as eleições europeias de 2014, cada uma das maiores famílias políticas acordou apresentar um candidato ao lugar de Presidente da Comissão Europeia. Tratava-se de reforçar a democracia europeia, imitando o que se passa a nível nacional nas eleições legislativas, em que cada partido apresenta o seu candidato a chefe de governo. Na corrida eleitoral de 2014, o PPE levou a sério este desenvolvimento constitucional, compreendendo a sua importância para o aprofundamento da democracia europeia. Abriu um processo de competição interna para a designação do candidato do PPE ao lugar de Presidente da Comissão. E logo apareceram duas candidaturas: a de Jean-Claude Juncker e a de Michel Barnier. No Congresso de Dublin, os delegados vindos de toda a União, depois de uma disputada e intensa campanha em jeito de primárias, puderam escolher entre os dois. O resultado é conhecido: venceu Juncker. Já na qualidade de Spitzenkandidat – digamos, de “cabeça de lista” – o antigo primeiro-ministro luxemburguês fez campanha por toda a Europa. O PPE venceu as eleições com maioria relativa e Juncker foi capaz de reunir um apoio parlamentar maioritário suficientemente forte para o Conselho Europeu ter sido forçado a nomeá-lo. Este foi um processo aberto, competitivo, leal e transparente; primeiro, dentro do partido; depois, na praça pública e nas urnas europeias. Em 2018-2019, o PPE fez o mesmo. Acreditando nas virtualidades e na virtude democrática de dar a voz aos militantes, aos partidos membros e aos delegados, organizou uma competição eleitoral interna, a que concorreram Manfred Weber, líder parlamentar no Parlamento Europeu, e Alex Stubb, antigo primeiro-ministro finlandês. Cada um fez a sua campanha nos Estados-membros e em diferentes iniciativas do PPE, tudo se consumando no Congresso de Helsínquia com um debate e a habitual parafernália eleitoral de umas primárias. Ganhou Weber, que será agora o candidato de toda a família PPE. 3. Enquanto o PPE abraçou este trilho democrático tanto em 2014 como em 2019, que fizeram os socialistas europeus? Em 2014, não organizaram um debate interno; limitaram-se, na velha tradição das combinações de corredor, a entronizar um candidato: Martin Schulz, então Presidente do PE. Não houve eleições primárias, não houve debate interno, não houve escolha por parte dos delegados, não houve eleição no Congresso. Houve uma decisão do “bureau” do partido, uma decisão de candidato único, depois artificialmente ratificada em Congresso. Desencadear um processo de escolha de um candidato a Presidente da Comissão para democratizar a União e depois reduzir tudo a um processo tipicamente burocrático e tecnocrático é uma contradição nos termos. Eis como em 2014, o PSE foi capaz de transformar um mecanismo que visava a democratização da União no mais típico e opaco expediente da eurocracia bruxelense. Agora, em 2018-2019, o que fizeram os socialistas europeus? Quando se esperava que houvessem aprendido algo com o processo de 2014 e que estivessem preocupados com a vaga populista que está em curso nos quatro cantos da UE, limitam-se a repetir o erro. Mais uma vez, os socialistas europeus renunciam a abrir umas eleições internas, a tornar transparente a escolha, a dar poder aos delegados dos partidos nacionais. Ao invés, fecham as portas dos seus gabinetes e tudo decidem nos bastidores. É sabido que chegou a haver veleidades de candidatura do ex-chanceler austríaco e do comissário eslovaco, mas o PSE tratou de fazer abortar qualquer laivo de competição interna. Mais uma vez, com consequências que se antolham sombrias, optou pela nomeação elitista do candidato único. Assim, de cátedra, nomeou o holandês Timmermans, actual vice-presidente da Comissão e companheiro de luta e de partido do nosso velho conhecido Dijsselbloem. 4. A comparação entre a forma como o PPE e o PSE encaram a indicação de um candidato a Presidente da Comissão diz muito sobre o modo como vêem e como vivem a democracia europeia. Mas, processo de nomeação aparte, vale a pena olhar com olhos de ver para o candidato cooptado pela eurocracia socialista. Timmermans pertence ao partido trabalhista holandês e foi ministro dos Negócios Estrangeiros, quando o seu líder, Jeroen Dijsselbloem, era ministro das Finanças. É conhecida a posição da Holanda sobre Portugal durante o período da Troika, quando Timmermans chefiava precisamente as relações externas. Era o tempo em que o seu líder Dijsselbloem achava que merecíamos castigo porque gastávamos o dinheiro em álcool e mulheres. Por mais que agora se doure a pílula, é também sabido que defende uma União Europeia minimalista, advogando uma farta devolução de poderes aos Estados e a desregulação, nunca mostrando entusiasmo com a reforma da zona euro. É este o seu programa, é este o seu currículo. Eis a personalidade que o consenso burocrático do petit comité de dirigentes socialistas nos reservou para ser aclamada num pseudo-congresso. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. 5. A 7 de Dezembro o PS português e Costa vão ser anfitriões dos primeiros-ministros da Roménia, da Eslováquia e de Malta, países em que os sinos dobram pelo Estado de Direito, pela separação dos poderes, pela liberdade de imprensa. Tanto se fala – e bem – na Polónia e na Hungria; ninguém pergunta a Costa como convive tão tranquilamente com estes exemplos de socialismo? Como pode tolerar a acção de um Dragnea ou de um Fico? Como pode incensar três primeiros-ministros adeptos da “democracia iliberal”?SIM. Carvalho Guerra. Dia 29, na comemoração dos 40 anos da Universidade Católica no Porto, foi homenageado. A Católica deve-lhe muito; o país também. O mais humanista dos “empreendedores do conhecimento”. SIM. José de Freitas. Dia 29 tornou-se Presidente do CCBE, a associação europeia das “ordens” dos advogados. Com uma cultura profissional ímpar, representa o melhor da advocacia lusa e europeia.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Presidentes egípcios depostos enfrentam-se em tribunal
Hosni Mubarak e Mohammed Morsi voltaram a encontrar-se, desta vez na sala de audiências. O homem que esteve no poder durante 30 anos testemunhou contra o antigo líder da Irmandade Muçulmana. (...)

Presidentes egípcios depostos enfrentam-se em tribunal
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.12
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Hosni Mubarak e Mohammed Morsi voltaram a encontrar-se, desta vez na sala de audiências. O homem que esteve no poder durante 30 anos testemunhou contra o antigo líder da Irmandade Muçulmana.
TEXTO: Dois protagonistas da história egípcia recente enfrentaram-se em tribunal na quarta-feira, com o Presidente deposto Hosni Mubarak a testemunhar pela primeira vez contra o antigo Presidente afecto à Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsi. Mubarak, 90 anos, testemunhou durante hora e meia num complexo prisional de alta segurança no sul do Cairo, onde Morsi está detido. Vestindo um fato escuro e andando com o auxílio de uma bengala, foi acompanhado para a sala de audiências pelos dois filhos. Morsi envergava o tradicional macacão prisional, sentado numa cela de metal e vidro, juntamente com outras figuras proeminentes da Irmandade Muçulmana que também são réus no caso. Cerca de 30 familiares, a maioria mulheres, levantaram-se para transmitir sinais de apoio aos arguidos no início e no final da sessão. A audiência fez parte de um novo julgamento em que Morsi e outros são acusados de orquestrar fugas da prisão e de violar as fronteiras do Egipto durante a revolta que levou à deposição de Mubarak em Fevereiro de 2011. Hosni Mubarak, visivelmente debilitado, foi alvo de dezenas de perguntas do juiz em relação ao desenvolvimento de medidas de segurança durante o avanço da revolta contra o seu regime de três décadas. Falando com uma voz frágil que se foi tornando gradualmente mais forte, pareceu por vezes impaciente, alegando que não possuía informações ou detalhes relevantes para as perguntas. Quando questionado sobre a alegada entrada no Egipto de militantes estrangeiros, Mubarak afirmou que o responsável pelo Departamento de Inteligência lhe disse, a 29 de Janeiro de 2011, que centenas de pessoas atravessaram a fronteira em Gaza para apoiar a Irmandade Muçulmana. “Ele disse-me que havia grupos armados que infiltraram as fronteiras em força, cerca de 800 pessoas”, garantiu Mubarak em tribunal. O ex-presidente negou, porém, responder a perguntas sobre o papel dos grupos militantes, para não discutir segredos de Estado sem autorização. “Quero autorização para falar sobre isto. Vou pedir permissão para não cometer uma ofensa”, finalizou. Mubarak foi ele próprio preso durante seis anos após a revolução de 2011, aparecendo acamado na cela da sala de audiências. Foi sentenciado a prisão perpétua por orquestrar o assassínio de manifestantes. O ex-Presidente foi libertado após as últimas acusações contra ele terem caído em Março de 2017. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Morsi, primeiro líder democraticamente eleito após a revolução, está na prisão desde que foi deposto por Abdel Fattah al-Sissi, então general das Forças Armadas e actual Presidente do Egipto. Depois do afastamento de Morsi, o Governo perseguiu a Irmandade, o movimento mais antigo e organizado do país, prendendo milhares dos seus membros e classificando o grupo como uma organização terrorista. A Irmandade garante, porém, que está exclusivamente dedicada a activismo pacífico. Morsi está a cumprir várias penas que totalizam 45 anos, depois de ser condenado por espiar para o Qatar e por ter orquestrado a morte de manifestantes em 2012. O ex-Presidente tinha sido sentenciado à morte no caso das fugas de prisão e recebido penas de prisão perpétua nas acusações de espionagem, mas esses veredictos foram anulados. Os familiares dos arguidos dizem ter pouca esperança de conseguir justiça. “O tribunal é uma farsa e o caso é também uma farsa”, afirmou um deles, que pediu para permanecer no anonimato. Enquanto Morsi e Mubarak se encontravam em tribunal, Sissi, reeleito para o seu segundo mandato em Março, presidia à cerimónia de inauguração de um grande complexo habitacional na cidade costeira de Alexandria.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte tribunal prisão mulheres assassínio