Portugueses dão pouco sangue mas são mais generosos com os órgãos
Os portugueses dão pouco sangue, mas estão dispostos a doar órgãos, segundo duas sondagens Eurobarómetro hoje divulgadas em Bruxelas. (...)

Portugueses dão pouco sangue mas são mais generosos com os órgãos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.156
DATA: 2010-06-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os portugueses dão pouco sangue, mas estão dispostos a doar órgãos, segundo duas sondagens Eurobarómetro hoje divulgadas em Bruxelas.
TEXTO: Segundo o Eurobarómetro, apenas 22 por cento dos portugueses já doaram sangue, sendo a média dos 27 países da União Europeia (UE27) de 37 por cento. E tanto em Portugal como na UE27 há mais homens dadores (29 e 44 por cento, respectivamente) do que mulheres (15 e 31 por cento). Já no que toca à vontade de doar órgãos após a morte, a percentagem de portugueses que responderam afirmativamente (60 por cento) é superior à média europeia (55 por cento). A Suécia é o país com maior percentagem de potenciais dadores de órgãos (83 por cento) e a Letónia apresenta a menor, com apenas 25 por cento de respostas afirmativas. A desconfiança no sistema é a principal razão apontada pelos portugueses que não estão dispostos a doar órgãos (28 por cento, sendo a média UE27 de 21 por cento), seguindo-se o receio em relação à manipulação de corpos (Portugal 20 por cento e UE27 25 por cento) e convicções religiosas (9 por cento em Portugal e 7 por cento na UE27). As sondagens foram realizadas, em Portugal, pela Euroteste, que fez 1031 entrevistas entre 2 e 10 de Outubro.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte homens mulheres
Dois anjos em Evin, a prisão de Ahmadinejad
A jornalista Roxana Saberi queria escrever um livro sobre um país "misterioso e incompreendido". A documentarista Mehrnoushe Solouki queria filmar uma "terra maldita". O regime islâmico não gostou. Levou-as para a secção 209 de Evin, onde permanecem encarcerados milhares de opositores políticos de Mahmoud Ahmadinejad, o Presidente cuja reeleição, há um ano, gerou os maiores protestos das últimas três décadas de teocracia. Em "Between Two Worlds" e "Fatwa de Sang", elas descrevem como o Irão se tornou numa grande prisão. (...)

Dois anjos em Evin, a prisão de Ahmadinejad
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-12 | Jornal Público
SUMÁRIO: A jornalista Roxana Saberi queria escrever um livro sobre um país "misterioso e incompreendido". A documentarista Mehrnoushe Solouki queria filmar uma "terra maldita". O regime islâmico não gostou. Levou-as para a secção 209 de Evin, onde permanecem encarcerados milhares de opositores políticos de Mahmoud Ahmadinejad, o Presidente cuja reeleição, há um ano, gerou os maiores protestos das últimas três décadas de teocracia. Em "Between Two Worlds" e "Fatwa de Sang", elas descrevem como o Irão se tornou numa grande prisão.
TEXTO: Roxana Saberi: Entre dois mundosLembram-se de mim? Sou a jornalista Roxana Saberi que, de Janeiro a Maio de 2009, passou 100 dias na prisão de Evin, em Teerão, e a quem o namorado, o perseguido cineasta curdo Bahman Ghobadi, escreveu uma linda carta de amor: My Iranian girl with Japanese eyes and an American ID is in jail. Shame on me! Shame on us!Fui detida no dia do aniversário de Bahman, sábado, 9 da manhã, 31 de Janeiro. Ding-dong. Ding-dong. Ding-dong. A campainha da porta não parava de tocar. Eu acabara de acordar e ainda estava de pijama. Pelo intercomunicador, um tipo de meia-idade disse-me que era o carteiro. Vesti à pressa a minha rooposh (túnica) até aos joelhos e tapei o cabelo com um lenço branco, para o receber. Abri apenas uma fresta, e ele passou-me uma folha de papel. O meu modesto conhecimento da língua farsi só me permitiu ler "Prisão de Evin". Fiquei apavorada. Tentei fechar a porta entreaberta, mas quatro homens forçaram a entrada. Ficaram chocados de ver o meu chador a tapar o piano, na sala. Revistaram tudo, de livros a fotos de família. Confiscaram CD, DVD e até extractos bancários. Que sorriso vitorioso o deles quando encontraram os meus dois passaportes, o americano e o iraniano. Já não poderia deixar o país. Eu vivia num quinto andar. Se habitasse o rés-do-chão, ter-me-ia lançado de uma janela para a rua. "Temos de a levar para interrogatório", disse-me um deles. Não deram justificações, e eu pensei que o meu "crime" talvez fosse o de ter continuado a enviar notícias para vários media com os quais colaborava, como a BBC, a Fox e a National Public Radio, apesar de, em 2006, me ter sido retirada a licença. As autoridades sabiam o que eu fazia, e nunca tentaram impedir-me. Talvez eu devesse ter partido nessa altura, mas achei que era uma oportunidade de escrever um livro sobre um país de enorme riqueza histórica e cultural, ainda um mistério, para mim, e incompreendido por uma grande parte do mundo. Seria um retrato do Irão pelos olhos dos iranianos. O meu pai, Reza, nasceu em Tabriz, no Noroeste do Irão. Apesar de pobre, conseguiu formar-se em Literatura Inglesa e viajar pelo mundo. Foi no Japão, onde era professor, que conheceu a minha mãe, Akiko. Para a família dela, namorar um estrangeiro era tabu. Por ambos se terem encontrado duas vezes, ela ficou de castigo durante semanas e teve de rapar a cabeça. Quase Miss AméricaReza voltou ao Irão, mas não deixou de enviar cartas a Akiko através de um amigo comum. Numa dessas cartas, ela encontrou um bilhete só de ida para Teerão. Viajou em segredo e os dois casaram-se em 1971. Dois anos depois, foram viver para os Estados Unidos. Eu nasci em Belleville (New Jersey) mas, quando tinha dois anos e o meu irmão quatro, mudámo-nos para Fargo (Dakota do Norte). Aqui, Akiko é patologista; Reza escreve livros de filosofia e traduz poesia persa. Na pacata Fargo, durante muito tempo, estive apenas concentrada em integrar-me numa escola de alunos louros de olhos azuis. Mas, à medida que o tempo passava, sentia que algo me faltava. Em 1997, para conseguir uma bolsa que pagasse um mestrado em Jornalismo, candidatei-me a Miss Fargo. Apesar de mal poder andar de saltos altos e de me aterrorizar a ideia de desfilar em fato de banho, ganhei e fui coroada Miss Dakota do Norte. Cheguei também a finalista no concurso Miss América. Já tinha completado um segundo mestrado, em Relações Internacionais, e trabalhava como jornalista em Houston (Texas), quando recebi um convite para ser correspondente no Irão. Em Fevereiro de 2003, deixei a América com destino ao país que, um ano antes, George W. Bush incluíra num "Eixo do Mal". Nunca imaginei que iria agonizar numa cela exígua e imunda de Evin. Em isolamento, não tinha jornais, livros, televisão, caneta, papel. As guardas eram o meu único contacto humano. Sem relógio, os minutos eram horas e as horas eram dias. Após dois dias de solidão e escuridão, ofereceram-me havâ-khori. Seria sinónimo de liberdade? Não, apenas uma caminhada de 20 minutos, para ver a luz e esticar as pernas, num pátio de muros e arame farpado. Sem jardins e sem flores, parecia uma jaula. Demorei a chegar ao estádio de Saeb Tabrizi, poeta persa do século XVII: "Quando um pássaro entende que é mais do que a sua jaula, já é livre. "Em penosos interrogatórios, algemada e de olhos vendados, sucumbi à pressão. A minha única saída era admitir um crime que não cometi, e depois pedir perdão. Prometeram libertar-me se confessasse que recebia dinheiro da CIA. Exigiram que denunciasse uma das pessoas que eu entrevistara. Dei um nome, de alguém que estava longe e a quem não poderiam fazer mal. Propuseram depois que eu espiasse para eles. Só então me deixaram telefonar ao meu pai. "A tua família não pode saber onde estás para que possas colaborar connosco no futuro", avisou um dos interrogadores, a que chamei Javan, porque parecia os javân (jovens) do Norte de Teerão, com o seu ar ocidentalizado, blue jeans e blusão de cabedal. "Diz ao teu pai que foste detida por comprar bebidas alcoólicas. " Assim se espalhou a informação de que fui detida por consumir álcool, proibido na República Islâmica. Lenços azuis no bazarNão fui libertada como prometeram. Ficaram furiosos por o meu pai ter alertado gente influente para o meu desaparecimento. Transferiram-me para a secção 209, reservada aos prisioneiros políticos, para onde levei os meus únicos objectos: dois cobertores com que dormia no chão, escova e pasta de dentes. Foi aqui que conheci Roya, Vida, Leila, Elham, Samira, Silva Harotonian, Narguess, Mahvash e Fariba. Fiquei impressionada com a coragem delas. Foram submetidas às mesmas pressões mas não sucumbiram. Inspiraram-me. Decidi arriscar pôr em perigo a liberdade em troca da verdade. Reneguei a confissão. Todas as minhas companheiras de cela me ensinaram lições importantes. Fariba e Mahvash, por exemplo, ensinaram-me que devemos tentar transformar os desafios em oportunidades. Que não devemos odiar nem mesmo aqueles que nos enganaram profundamente. Podemos converter a nossa fúria em energia positiva, num poder que faz avançar o mundo. Fariba e Mahvash, que entraram no terceiro ano de prisão sem culpa formada, são dirigentes da comunidade bahá"í, a maior minoria religiosa do Irão, privada de todos os direitos básicos. Mais tarde, quando me apercebi de que o mundo exterior já tinha conhecimento do meu paradeiro, que os media estavam a noticiar o meu caso e que havia muitos apelos internacionais à minha libertação, ainda ganhei mais força interior. Iniciei uma greve de fome e enfrentei sem medo os carcereiros e os magistrados, que entretanto me acusaram de espionagem. No final do meu julgamento, a 11 de Maio de 2009, o veredicto foi uma pena suspensa de dois anos de cadeia (inicialmente eram oito) e a proibição de trabalhar no Irão nos cinco anos seguintes. Duas horas depois, eu estava livre. Antes de partir, fiquei a saber que muitos iranianos seguiram de perto a minha história. Um taxista recusou cobrar-me uma viagem. No bazar de Teerão, fiquei perplexa ao ver à venda "lenços Roxana", azuis como aqueles que apareciam numa foto publicada nos jornais - sinal de admiração por alguém que enfrentou as agruras de Evin. Escrevi Between Two Worlds (HarperCollins) para que todos saibam que muitos iranianos inocentes continuam sujeitos às mesmas iniquidades que enfrentei. Muitos sofrem mais do que eu sofri. No meu caso, creio que a atenção internacional ajudou a pressionar as autoridades a libertarem-me, e acredito que é necessária uma atenção semelhante para todos os que ainda são tratados injustamente no Irão. Não sei ao certo quais as razões por que me prenderam. Talvez, devido a uma luta pelo poder entre as várias facções no regime. Depois de eu ter renegado a minha confissão falsa, o principal interrogador admitiu saber desde o início que eu não era uma espia (algo que o adjunto do procurador sugeriu que eu era - em privado, é claro!). Talvez os meus captores quisessem usar a minha confissão falsa para intimidar os iranianos que advogam melhores relações com o Ocidente. Na altura, o Presidente Barack Obama falava sobre uma maior aproximação ao Irão, e muitos iranianos da linha dura não estavam interessados nisso. Talvez quisessem que a minha confissão falsa reforçasse a alegação de que a América colocou espiões por todo o Irão. Justificariam, deste modo, um maior controlo sobre a sociedade e o silenciamento das críticas, sob pretexto de proteger a segurança nacional. Os meus raptores também pareciam genuinamente ressentidos por eu ter entrevistado tantos iranianos para um livro que eu queria publicar no estrangeiro, fora do alcance da censura deles. Não sei também quais as razões que conduziram à minha libertação, mas creio que a pressão internacional teve muito a ver com isso. As notícias sobre as minhas duas semanas de greve de fome aborreceram os meus captores, e o regime terá concluído que manter-me na prisão seria muito mais oneroso do que libertarem-me. Ainda me sinto culpada por várias declarações que fui forçada a fazer e a repetir (várias vezes) em vídeo. Alguns activistas de direitos humanos e antigos presos políticos têm-me dito para não ser tão dura comigo, que outros na mesma situação também cederam às pressões. O que os meus captores me obrigaram a fazer na prisão é "tortura branca", cujos efeitos deixam marcas psicológicas em todos os que passam por situações semelhantes. Escrever sobre a minha experiência e falar sobre ela tem-me ajudado a cicatrizar as feridas, porque acho importante as pessoas saberem que o que me aconteceu ainda acontece a muitos outros. Tive muita sorte e, agora, sinto a responsabilidade de usar a liberdade para falar em nome dos que lutam para que as suas vozes sejam ouvidas. Liberdade e democraciaNo dia em que recuperei em liberdade, os meus captores ainda me ameaçaram. Se eu revelasse os "acordos" que me propuseram, mandariam matar-me. Ouvi dizer que fizeram ameaças iguais a outros prisioneiros. Sei que, no passado, responsáveis iranianos estiveram envolvidos em assassínios de dissidentes no estrangeiro. Na prisão, tentei superar o medo. Ter medo agora seria uma vitória para os meus captores. Acredito no valor das mensagens que tento transmitir, e tenciono continuar a denunciar as violações de direitos humanos. De momento, talvez as autoridades iranianas tenham outras prioridades, que não ordenar a minha morte. Espero ainda publicar o livro sobre o Irão que me levou até Evin. Inclui muitas histórias interessantes sobre os iranianos. Há mais de cem anos [desde a revolução constitucional de 1905-1911] que há um movimento pela democracia no Irão. Acredito que uma maioria quer um governo democrático que respeite os direitos humanos. Alguns reclamam mudanças no quadro da República Islâmica; muitos exigem todo um novo sistema de governo. Um dos factores que alimentam este desejo de um governo mais democrático é puramente demográfico: cerca de dois terços da população tem menos de 30 anos. Muitos iranianos não tinham nascido quando aconteceu a revolução islâmica ou não se lembram dela. Muitos outros que contactam o mundo exterior conhecem os seus direitos, e exigem que eles sejam respeitados. Mais e mais mulheres frequentam as universidades. Numerosos jovens mudaram-se das aldeias para as cidades só para frequentar uma faculdade. Aqui, expõem-se a novas ideias e fazem novas exigências à sociedade e ao regime. É impossível prever quanto tempo vai demorar até que este clamor de democracia tenha resposta (depende de muitas condições dentro e fora do país), mas acredito que será bem-sucedido. Mehrnoushe Solouki: Numa "terra maldita"Chamo-me Mehrnoushe Solouki mas, em casa, tratam-me por "Nazi". Não, não é engano. Nada tenho a ver com o Nationalsozialismus de memória sinistra. Em persa, "Nazi" significa "graça", e é assim que alguns pais chamam os filhos em sinal de afecto. Digo isto para entenderem que não é por ser "Nazi" que fui parar à mais vil prisão iraniana - um antigo jardim, a norte de Teerão, no sopé das montanhas Evin, onde há 35 anos um dos primeiros-ministros do Xá criava coelhos. Fui parar à cadeia de Evin por ter filmado Lanat Abad, a "Terra Maldita", na qual o regime despejou em valas comuns os corpos de cerca de 10 mil opositores (números da Amnistia Internacional), entre 1988 e 1989 - um dos piores crimes da revolução islâmica. Homens, mulheres e crianças foram enforcados ou fuzilados, no final da guerra Irão-Iraque, em obediência a um édito (fatwa) do ayatollah Khomeini depois de os Mujahedin-e Khalq (Combatentes do Povo), aliados de Saddam Hussein, terem lançado a Operação Luz Eterna, para derrubar a teocracia que dez anos antes ajudaram a instaurar. Tropecei em Lanat Abad quando fazia um documentário sobre os rituais fúnebres dos zoroastras, judeus, cristãos arménios e bahá"ís. Era uma encomenda de uma instituição ecuménica canadiana para o festival Métropolis de Montreal. Queria filmar o cemitério de Khavaran, um espaço simbólico onde estão reunidas todas as minorias religiosas, e onde a estética e a arquitectura funerárias contrastam com as normas dos muçulmanos xiitas - a maioria da população. Lanat Abad - sem lápides, sem fotos, sem flores - fica bem próxima de Golestân Javid, espécie de gueto onde os baha"ís, perseguidos como apóstatas, enterram quase clandestinamente os seus entes queridos, deixando sobre os túmulos doces e chocolates. O meu assistente, Rasoul, bem me avisara que não deveria "desenterrar os mortos" de Khavaran. Um dia, à saída da produtora de Bahman Kiarostami, filho do grande cineasta Abbas, seis tipos corpulentos bloquearam-me a passagem. Exigiram que lhes desse o disco rígido onde estavam as minhas filmagens de Lanat Abad. Recusei, mas eles foram até ao laboratório e confiscaram o que procuravam. Não satisfeitos, levaram-me para Evin. Com uma venda nos olhos, fizeram-me atravessar um labirinto de corredores até chegar a uma cela de seis metros de largura por dez de comprimento, na secção 209 de Evin. Sem janelas e sem móveis. Fui privada de tudo. Só tinha um livro, o Corão, mas eu não sei ler árabe. Não tinha caneta nem papel para escrever. Nada, nenhum sinal de vida. Davam-me arroz e carne vermelha num prato de plástico. Mas um morto não come. Dormia no chão sob uma luz fluorescente, acesa dia e noite. A isto, chamam "tortura branca". Ficamos com a sensação de que estamos num mundo vazio de tudo, e que nem Deus nos ouve. Por vezes, tinha a impressão de que as paredes se estreitavam e me sufocavam cada vez mais. Nunca convivi com outros prisioneiros na minha cela. Estava sozinha, mas ouvia vozes e gritos. Durante várias noites, ouvi os gritos de sofrimento de um jovem. Mais tarde, vim a saber que era Sina, um independentista curdo. Morreu sob tortura. Os meus captores eram o malvado Gôlestan e o bom Rézaî, nomes falsos, é claro. Rézaî era um jovem bem vestido e de barba feita, nada parecido com os pasdaran [guardas da revolução]. A primeira frase que me dirigiram foi: "Será libertada dentro de cinco dias, se tudo correr bem. . . " Passei 35 dias em isolamento. Depois, mais um ano retida e sequestrada no Irão, sem poder deixar o país, até ao pagamento de uma fiança. Sem vergonha de mentirNão, não tive vergonha de confessar o que os interrogadores queriam ouvir - preenchi 700 páginas de confissão. No Irão, mentir é uma questão de sobrevivência. Desde muito nova que aprendi a mentir. Vejamos: fui uma das apoiantes mais entusiastas da revolução. Tinha nove anos quando o Xá deixou o Irão em Janeiro de 1979. Só a perspectiva de, no cinema, não ter de me levantar para ouvir um hino em honra do imperador pareceu-me justificação suficiente para apoiar a sua queda. Que felicidade, a cena surreal em que ajudei a minha vizinha Mitra a distribuir, de Cadillac, sanduíches e refrigerantes aos "jovens revolucionários". Todos pareciam festejar a partida do ditador e o regresso do teólogo que ele exilara em Paris. O meu pai, antigo militante comunista, era uma excepção: "Saberão vocês quem são os mullahs?"Tinha razão. Meses depois, a vizinha Mitra, sempre elegantemente vestida, bem penteada e de unhas pintadas, foi obrigada a despedir-se, por se recusar a usar o véu. Refugiou-se no estrangeiro. O meu pai, que trabalhava num banco privado, onde os empregados eram accionistas, perdeu todos os seus investimentos. Sem dinheiro, teve de vender a nossa grande moradia e comprar um apartamento pequeno. A revolução também me obrigou a viver várias vidas: uma de mini-saia, em casa e nas noites com os amigos; outra de chador, na escola e na rua. Convenci-me que eu era duas pessoas num só corpo. Para soltar as amarras, fui ter aulas de teatro com uma companhia profissional. Comecei como figurante, na peça Sohrab e Rostam. Na mitologia iraniana, Sohrab correspondia ao rei Édipo, com a diferença de que, no combate entre pai e filho, é o pai (Rostam) que mata o filho (Sohrab). Quando a encenadora Pary Banu (Lady) Saberi, uma famosa actriz dos anos 1960 - a primeira a ter a coragem de se despir em palco -, se converteu ao islão para obter financiamento, fiquei decepcionada. Não quis mais participar num espectáculo onde o passado (o pai) mata o futuro (o filho). Eu fantasiava representar Ofélia tal como Shakespeare a imaginara, não segundo códigos religiosos. Queria que Masha, uma das Três Irmãs, de Tchekov, pudesse dizer que amava outro homem que não o seu marido. Para contornar as restrições, eu e os meus amigos formámos um grupo e actuávamos numa cave. Os censores acabaram com o nosso sonho. Os meus pais também não queriam que eu fosse actriz, profissão comparada à de palhaço. Preferiam que escolhesse Medicina ou Engenharia, para me fazer respeitar. Em 1995, sentindo-me prisioneira até na minha casa, comprei um visto no mercado negro, no bazar de Teerão, e voei para Paris. Licenciei-me em Literatura Francesa na Universidade de Teerão. Conhecia Malraux, Camus, Ionesco. . . O francês era uma língua rara e prestigiada no Irão. Na bagagem levei o meu livro sagrado, o Petit Robert. Por força de mentir dia e noite, acabei por me esquecer onde estava a verdade. Na prisão, os interrogadores exigiam que eu mentisse, e eu tinha de alinhar no jogo. Em Evin, o silêncio significa morte. Também conhecia a natureza do regime com que deveria alinhar no jogo da mentira. Consegui várias vezes manter-me tranquila e esconder a minha ira. Era um corpo prisioneiro mas um pensamento livre. Não tive vergonha de confessar contra mim própria, porque não denunciei outros. Nem as famílias das vítimas nem as personalidades com quem me encontrei. Para mim, a verdade não é a preto e branco. Não há infelicidade absoluta e felicidade absoluta. No dia em que me libertaram de Evin, em Março de 2007, deram-me um formulário para preencher sobre as condições prisionais e o comportamento dos guardas. Havia quatro respostas: "Excelente", "Bom", "Menos bom", "Mau". O hábito de mentir ajudou-me a responder "Bom" às duas questões. Quebrar o silêncioEscrevi Fatwa de Sang (Michel Lafon) porque queria falar de mim própria, dos prisioneiros de consciência que foram executados em 1988 e daqueles que foram encarcerados pelo governo que resultou de um golpe de Estado após as eleições de Junho de 2009. Centenas de jornalistas, feministas e estudantes continuam atrás das grades. Sou um ser humano que não pode permanecer em silêncio. Os direitos humanos são uma língua universal, uma cultura que une todas as nações do mundo, embora as ditaduras aleguem que se trata de uma "questão interna". Quando deixei o Irão, em Janeiro de 2008, senti uma enorme fúria contra os que me detiveram durante tanto tempo. Apercebi-me que estava a tornar-me violenta. Se começasse a agir como aqueles que eu condenava, nada me distinguiria deles. Tive de aprender a acalmar-me. Só depois disso consegui escrever Fatwa de Sang. Este livro deveria ter sido publicado em Julho de 2009. Duas grandes editoras francesas mostraram interesse: a Denoël, filial da Gallimard, e a Harmattan, mas os factos narrados no capítulo sobre a Operação Théo fizeram-nas hesitar em publicar a obra na íntegra. Agradeço a Michel Lafon ter aceitado o desafio. A Operação Théo foi lançada, em Junho de 2003, pelo Ministério do Interior francês contra membros exilados dos Mujahedin, a pedido do regime iraniano. A França e o Irão planeavam assinar contratos de 25. 000 milhões de euros no sector do gás e do petróleo. Em protesto, alguns activistas iranianos imolaram-se pelo fogo junto a embaixadas francesas na Europa. De quem foi a culpa? Senti-me cúmplice. Eu participei nas rusgas policiais como intérprete. O dinheiro que recebi ajudou-me a pagar os estudos e a deixar de trabalhar em part-time no McDonalds. Sou sincera e falo sem rodeios: a minha libertação não foi uma vitória diplomática para a França, embora os meus melhores amigos sejam franceses e eu tenha dupla nacionalidade, iraniana e francesa. Em Abril de 2009, mudei-me mesmo para Paris, depois de ter sido atacada no prédio onde residia, no centro de Montreal. Infelizmente, a polícia canadiana recusou garantir a minha segurança e perseguir o agressor. Escolhi viver na Europa. Movimento femininoO disco rígido que continha a montagem das minhas filmagens de Khavaran continua confiscado. As cassetes foram devolvidas aos meus pais, mas as imagens foram danificadas pelos aparelhos usados pelas autoridades. Ainda assim, consegui recuperar uma parte. Não tenciono voltar ao Irão. Tenho a vida que quero. Faço o trabalho que gosto. Sou livre. Se voltasse, seria condenada a quatro anos de cadeia com pena suspensa, como deliberou o juiz. Ainda não acabei a minha história de Khavaran. Quem é responsável? Quem? Por eu ter questionado os seus fundamentos, o regime ficou irritado. Em Junho de 2009, o povo iraniano superou o medo e mostrou-se determinado a empreender uma mudança democrática. Nos confrontos, as mulheres estão na linha da frente. Direi mesmo que o "movimento verde" é um movimento feminino. O povo iraniano, com a sua coragem imensa, mostra que o respeito pelos direitos humanos é fundamental para definir uma sociedade, seja qual for a sua cultura. O "movimento verde" continuará o seu caminho, no interior e exterior do Irão. A História ensina-nos que os regimes tirânicos, ainda que convencidos da sua força, não resistem indefinidamente a povos persistentes e pacíficos. O regime ficou mais inflexível porque está à beira de ruir. A partir de uma entrevista por e-mail com Roxana Saberi e de extractos do seu livro Between Two Worlds (HarperCollins)No dia seguinte às eleições iranianas de 12 de Junho de 2009, muitos apoiantes do derrotado Mir-Hossein Mousavi, o candidato favorito da oposição, saíram à rua em protesto. A cor de campanha de Mousavi inspirou o Movimento Verde, de contestação ao Presidente reeleito, Mahmoud Ahmadinejad. Na linha da frente dos que denunciaram fraudes e exigiram a repetição do voto popular estavam mulheres e jovens, não só das áreas urbanas como das ruraisImagem de Evin que o regime entregou à ONU para mostrar que trata bem os prisioneiros
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Três em cada quatro alunos copiam e alguns começam os "treinos" na escola primária
Nas universidades, três em cada quatro alunos assumem copiar nos exames e 90 por cento destes já o faziam no liceu. Às cábulas tradicionais vieram entretanto juntar-se métodos mais sofisticados, partilhados na internet. (...)

Três em cada quatro alunos copiam e alguns começam os "treinos" na escola primária
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.4
DATA: 2010-06-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Nas universidades, três em cada quatro alunos assumem copiar nos exames e 90 por cento destes já o faziam no liceu. Às cábulas tradicionais vieram entretanto juntar-se métodos mais sofisticados, partilhados na internet.
TEXTO: O professor da Universidade do Minho Ivo Domingues avançou com um projecto de investigação para perceber qual a verdadeira dimensão do "copianço" nas escolas portuguesas e deparou-se com uma realidade assustadora: “No ensino superior a predisposição para copiar é quase universal”. O estudo realizado em 2006 veio revelar que três em cada quatro estudantes universitários copiam. “E fazem-no em qualquer disciplina, desde que precisem e possam”, sublinha o sociólogo à agência Lusa. A investigação - "O copianço na universidade: o grau zero na qualidade" – demonstrou que existia uma espécie de “carreira escolar” no mundo da cábula: “90 por cento dos que diziam copiar já o faziam anteriormente” e alguns tinham começado “logo na primária”. Se cabular é um hábito generalizado, rapazes e raparigas distinguem-se na hora de definir uma técnica: as alunas têm mais tendência para trocar informações entre si, “de forma mais solidária”, enquanto eles o fazem “de modo mais autónomo”. Ivo Domingues detectou ainda que “tendencialmente os alunos que querem copiar são os primeiros a chegar à sala de aula, para escolher os lugares que os colocam mais na zona de sombra do olhar e da atenção do professor”. Mas há alunos que copiam na “linha da frente”. As novas tecnologias são cada vez mais usuais nas salas de aula, mas não fizeram desaparecer os métodos mais tradicionais de "copianço". “As cábulas podem ser colocadas em canetas, bolsos, nas próprias provas do exame, nos tampos das mesas, até aos métodos mais sofisticados como máquinas de calcular ou telemóveis”, diz Ivo Domingues. Auscultadores ocultos pelos cabelos e “ligações telefónicas do interior da sala para o exterior” são outras técnicas enumeradas pelo investigador e divulgadas na Internet. A Lusa encontrou um site onde um anónimo de Braga vendia um “kit de espionagem adaptado para copiar nos exames” por 300 euros. No youtube surgem vídeos que ensinam técnicas sofisticadas como reproduções dos rótulos das garrafas de coca-cola, onde as informações em letrinhas brancas são substituídas por matéria. Na Internet, há também salas de conversação onde se trocam experiências de vida: “Já usei telemóvel e pergaminho no bolso da casaca”, ironiza um ex-aluno, enquanto noutra sala alguém recorda os tempos em que se usavam os “relógios Cásio com máquina de calcular”. Conhecendo-se as técnicas, porque é que os professores não actuam mais? Ivo Domingues lembra que alguns “desvalorizam os efeitos negativos do copianço” e outros querem prevenir conflitos. “Na identificação do ato de copiar o professor corre riscos, porque se pode enganar e o aluno não estar a copiar ou ser confrontado com a recusa do aluno em reconhecer que estava a copiar, obrigando-o a ter de o provar em público”, explica. Os professores sabem que estão sozinhos nesta 'guerra'. Entre os estudantes existe uma espécie de “código de conduta”, um pacto de silêncio, porque para eles o "copianço" não é uma prática ilícita.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra estudo espécie
Estudo indica que os alentejanos são os que mais copiam e os açorianos os mais sérios
Os alunos alentejanos são os que mais copiam, de acordo com um estudo realizado em dez universidades portuguesas. No extremo oposto, como os mais bem classificados, surgem os açorianos: metade garante que não usa cábulas nos exames. (...)

Estudo indica que os alentejanos são os que mais copiam e os açorianos os mais sérios
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.222
DATA: 2010-06-14 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os alunos alentejanos são os que mais copiam, de acordo com um estudo realizado em dez universidades portuguesas. No extremo oposto, como os mais bem classificados, surgem os açorianos: metade garante que não usa cábulas nos exames.
TEXTO: Um estudo realizado nas universidades públicas dos cursos de Economia e Gestão, publicado no mês passado no Journal of Academic Ethics, entrevistou 2675 alunos: dois em cada três admitiram copiar. Recorrer a métodos ilícitos para conseguir tirar boas notas é uma prática que vai aumentando consoante os alunos se vão aproximando do final do curso. “Nota-se um aumento de comportamento desonesto nos anos finais do curso. Penso que isto será resultado da pressão para ter boas notas e entrar no competitivo mercado de trabalho”, disse à agência Lusa Aurora Castro Teixeira, uma das autoras do estudo. Mas, salientou a investigadora, existe “uma grande diferença” entre homens e mulheres: "Os rapazes têm uma propensão à cópia em 20 por cento acima das raparigas". Outra das revelações do estudo é a “grande heterogeneidade em termos de regiões. Os alunos residentes no Alentejo aparecem com uma propensão à cópia muito superior”, contou a autora do estudo, que indica que oito em cada dez alentejanos são cábulas. Neste “ranking”, são os alunos originários das ilhas que surgem como os mais cumpridores das regras: metade dos açorianos diz que nunca copia, logo seguidos por 41, 7 dos madeirenses. Todos os outros assumem fazê-lo. No Continente, “as zonas do interior aparecem com índices mais elevados em contradição com o litoral”, onde 40 por cento de alunos respondem aos exames sem recorrer a “ajudas externas”. As investigadoras quiseram perceber outras causas que poderiam potenciar práticas ilegais nos exames e concluíram que contextos mais permissivos levavam a índices mais elevados de "copianço". Os institutos que sensibilizam os alunos para as questões de ética ou que têm códigos de honra – só há um - revelam-se mais bem sucedidos. “A média nacional (de "copianços") ronda os 60 por cento, mas naquele organismo que tinha um código de ética a média é abaixo de 40 por cento”, lembrou a investigadora, salientando que além de “padrões de ética muito mais exigentes” havia sanções “extremamente eficazes” para quem era apanhado a copiar. A grande maioria entende que ser apanhado não traz grandes consequências e talvez também por isso cerca de metade dos alunos (51, 4 por cento) consideram que copiar não é um ato grave nem com muita relevância. Mais do que uma questão moral, a presença de vigilantes nas salas de exames é considerada por muitos como dissuasora. Aurora Teixeira diz que “os alunos que mais copiam são os que consideram que os vigilantes são dissuasores e que assumem que se tivessem menos vigilantes estudavam menos”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens estudo mulheres
Tribunal da Relação absolve Estado no pagamento de indemnização a Paulo Pedroso
O Tribunal da Relação absolveu hoje o Estado no pagamento de indemnização a Paulo Pedroso, avançou há momentos a SIC Notícias. A defesa de Paulo Pedroso poderá agora recorrer ao Supremo Tribunal de Justiça. (...)

Tribunal da Relação absolve Estado no pagamento de indemnização a Paulo Pedroso
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-17 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Tribunal da Relação absolveu hoje o Estado no pagamento de indemnização a Paulo Pedroso, avançou há momentos a SIC Notícias. A defesa de Paulo Pedroso poderá agora recorrer ao Supremo Tribunal de Justiça.
TEXTO: O valor da indemnização estava fixado em 130 mil euros, por Paulo Pedroso ter passado quatro meses e meio em prisão efectiva por alegado envolvimento no caso Casa Pia, relacionado com abusos sexuais a menores daquela instituição. Paulo Pedroso ficou em prisão preventiva depois de ter sido ouvido pelo juiz de instrução Rui Teixeira, no dia 21 de Maio de 2003, acusado de crimes de abuso sexual de menores por quatro jovens. Foi libertado quatro meses e meio depois, a 8 de Outubro, por decisão do Tribunal da Relação, e foi recebido de forma apoteótica pelo PS no Parlamento. Nesse mesmo ano, em Dezembro, o MP acusou formalmente o ex-deputado socialista de 23 crimes de abuso sexual, mas em Maio de 2004, a juíza de instrução criminal então com o processo decidiu não levar Paulo Pedroso a julgamento. Ano e meio depois, em Novembro de 2005, e depois de um recurso do Ministério Público, o Tribunal da Relação viria a confirmar a decisão da juíza. O advogado de Paulo Pedroso vai recorrer da decisão do Tribunal da Relação de Lisboa. Em declarações à agência Lusa, Celso Cruzeiro disse que ainda não foi notificado da decisão do Tribunal da Relação, mas que vai recorrer da mesma caso Paulo Pedroso veja a sua pretensão negada. “Se a decisão for aquela que está a ser divulgada, nós obviamente não nos conformamos e vamos recorrer para o Supremo Tribunal de Justiça e até às instâncias que forem necessárias”, afirmou.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Tribunal considerou que prisão preventiva de Paulo Pedroso não foi ilegal
O Tribunal da Relação de Lisboa, que negou uma indemnização a Paulo Pedroso, no processo Casa Pia, considerou que a prisão preventiva “não foi ilegal e que não houve erro grosseiro” na aplicação desta medida de coação. (...)

Tribunal considerou que prisão preventiva de Paulo Pedroso não foi ilegal
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.25
DATA: 2010-06-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O Tribunal da Relação de Lisboa, que negou uma indemnização a Paulo Pedroso, no processo Casa Pia, considerou que a prisão preventiva “não foi ilegal e que não houve erro grosseiro” na aplicação desta medida de coação.
TEXTO: O acórdão, a que a agência Lusa teve acesso e que foi aprovado com um voto vencido, realça que “o erro grosseiro é aquele que é indesculpável, crasso ou palmar, resultante de uma manifesta falta de conhecimento ou de diligência por parte de quem o pratica”. Segundo os desembargadores, “a apreciação e qualificação do erro grosseiro deve ser realizada com base nos factos, elementos e circunstâncias reportados ao momento do decretamento ou manutenção da prisão preventiva, sendo irrelevantes, por regra, os factos posteriores do processo, designadamente a absolvição ou a não pronúncia”. Assim, entendem que “não há erro grosseiro quando a consistência do conjunto da prova afasta quer a inexistência dos factos, quer a manifesta falta de provas”. Paralelamente, o acórdão sublinha que para haver lugar a uma indemnização “não basta que a detenção ou a prisão preventiva seja ilegal, é necessário ainda que seja manifestamente ilegal”. A Relação entendeu que, no caso do ex-dirigente socialista, a prisão preventiva foi decretada “por um juiz competente [Rui Teixeira] com fundamento em fortes indícios do mesmo ter praticado vários crimes de abuso sexual de crianças” e que “sendo esses crimes puníveis com pena de prisão de máximo superior a três anos (. . . ) pode afirmar-se ser legal a prisão preventiva”. Quanto aos pressupostos para aplicação da prisão preventiva, o tribunal superior entendeu que “também aqui não se depara com qualquer erro grosseiro”. Assim, refere o acórdão, imputando-se a Paulo Pedroso a prática de vários crimes de abuso sexual de crianças, “existia então o perigo de perturbação da ordem e da tranquilidade públicas”. Em Setembro de 2009, O ex-dirigente socialista Paulo Pedroso ganhou a acção interposta contra o Estado por prisão ilegal no processo da Casa Pia. Na sentença o juiz considerou que a detenção do ex-dirigente socialista foi um “erro grosseiro”. No entanto, o magistrado atribuiu uma indemnização de cerca de 100 mil euros, “bastante aquém” dos 600 mil euros pedidos na ação contra o Estado. Paulo Pedroso chegou a ser acusado de crimes sexuais contra alunos da Casa Pia de Lisboa, mas acabou por ser ilibado na instrução do processo pela juíza Ana Teixeira e Silva.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave tribunal prisão sexual abuso ilegal
Autoridade do medicamento dos EUA veta viagra feminino
Uma comissão da agência dos Estados Unidos da América para a alimentação e os medicamentos (FDA, na sigla em inglês) votou ontem por unanimidade contra a comercialização do produto designado como "viagra feminino". (...)

Autoridade do medicamento dos EUA veta viagra feminino
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Uma comissão da agência dos Estados Unidos da América para a alimentação e os medicamentos (FDA, na sigla em inglês) votou ontem por unanimidade contra a comercialização do produto designado como "viagra feminino".
TEXTO: Os estudos da FDA revelaram que os resultados sobre a eficácia deste medicamento não são “convincentes”. A empresa alemã Boehringer Ingelheim pretendia a aprovação da FDA, necessária para poder vender nos EUA esta pastilha cor-de-rosa, que ainda não está à venda em nenhum país do mundo. Ao contrário da "irmã" masculina, o Viagra da farmacêutica Pfizer Inc, este medicamento (flibanserin) deveria tomar-se diariamente, como uma espécie de antidepressivo que equilibra os químicos do cérebro associados ao desejo sexual. Porém, as investigações efectuadas com 2400 mulheres, que consistiam na toma desta pastilha e de um placebo sem que a mulher soubesse qual deles estava a tomar, concluíram que a toma da pastilha só melhora ligeiramente a libido e tem efeitos secundários. De facto, 15 por cento das mulheres que tomavam a pastilha abandonaram o tratamento, porque lhes causava depressão, desmaios e cansaço, entre outros problemas. Mas as esperanças e tentativas de resolver a desordem sexual feminina hipoactiva continuam, uma vez que também a empresa norte-americana BioSante Pharmaceuticals está a trabalhar num produto similar. A investigação do produto por esta empresa, um gel baseado na hormona masculina testosterona, está na terceira fase e, segundo a empresa, conseguiu aumentar a satisfação sexual em 238 por cento nas quatro semanas de testes. O fabricante está a investigar os possíveis riscos cardiovasculares que poderão decorrer da testosterona, mas espera apresentar o seu pedido de aprovação à FDA no final de 2011. As dificuldades para conseguir este tipo de medicamentos devem-se, indicam os peritos, a que enquanto o problema da disfunção sexual no homem é físico, nas mulheres é mais complicado, porque pode estar no cérebro e, ao mesmo tempo, pode ter causas biológicas e psicológicas. “Para os homens, o problema está nos genitais, o que é mais fácil de resolver do que um problema que está no cérebro”, afirmou uma psicóloga clínica e professora na faculdade de medicina da Universidade Case Western Reserve, Sheryl Kingsberg, à CNN.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
O nó na garganta do aprendiz
O garoto da Azinhaga que "andou sempre descalço até aos 14 anos" terminou ontem a sua conferência de Nobel com a Academia a aplaudi-lo de pé: "Obrigado mestre. "A ele, que se apresentou como "aprendiz" num discurso quase íntimo por dentro da infância e dos livros. Comoveu e comoveu-se. Mas não deixou em sossego a Igreja, a Europa e os "poderosos do mundo”. (...)

O nó na garganta do aprendiz
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: O garoto da Azinhaga que "andou sempre descalço até aos 14 anos" terminou ontem a sua conferência de Nobel com a Academia a aplaudi-lo de pé: "Obrigado mestre. "A ele, que se apresentou como "aprendiz" num discurso quase íntimo por dentro da infância e dos livros. Comoveu e comoveu-se. Mas não deixou em sossego a Igreja, a Europa e os "poderosos do mundo”.
TEXTO: “Mestre Saramago, aqui, aqui!" Cercado de gente que assim o chama, José Saramago sorri, tentando corresponder aos acenos, às perguntas, aos pedidos de autógrafos, mãos ocupadas a assinar o seu nome de Nobel da literatura de 1998 nos livros que lhe, vão dando e nas cópias do texto que acaba de ler, emocionado perante a Academia Sueca — o discurso em que se define como aprendiz desses "mestres de vida" que foram os seus avós e, "essas dezenas de personagens de romance e de teatro", de repente vivas, a desfilar ali. "Obrigada mestre", justa mente assim lhe agradeceu Sture Allén, secretário permanente da Academia Sueca, mal Saramago terminou e a sala rompeu a aplaudi-lo, de pé. Demorou 45 minutos a comovente viagem de papel que o escritor partilhou com as centenas de pessoas que se juntaram às 17h30 (hora local) de ontem no salão de um velho palácio de Estocolmo, que já foi da Bolsa e agora é sede da Academia. Lá fora era noite escura e nevava. Lá dentro um homem de 76 anos, em pé num pequeno estrado, rodeado de estátuas de gesso e lustres dourados, de frente para a mulher amada, Pilar, folheou uma a uma as 15 páginas de um discurso como a Academia Sueca não se lembra de ter ouvido, quase íntimo na memória da infância, quase mágico no súbito aparecimento de todas as suas personagens, como se a uma única, longa, história pertencessem, encadeadas, umas dando origem às outras, e ao que o autor foi sendo. Como se num fim de tarde de uma cidade escandinava precocemente anoitecida algo, dentro de Saramago e do que ele escreveu, se iluminasse para revelar. um sentido, um fio, um fim. "Foi vivido. " Erik Lorinroth, o mais antigo membro da Academia Sueca não encontra melhor palavra para resumir ao PÚBLICO o que acaba de ouvir, depois de 46 anos a escutar 46 prémios Nobel da Literatura, nesta mesma sala, "Foi maravilhoso. Cada discurso é muito diferente do outro, mas este baseou-se muito na própria vida do premiado. ”Expõe-se assim um romancista perante o mundo, a lembrar o tempo em que andava descalço na aldeia, "sempre descalço até aos 14 anos", em que ajudava o "avô Jerónimo nas suas andanças de pastor", e ia com a avó Josefa pela madrugada ambos "munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado", esse tempo em que "nas noites quentes de Verão, depois da ceia", seu avô dizia "José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira" e iam, e "enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos" que o avô contava, "lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias" que e mantinham desperto. José Saramago, na sua tribuna de Nobel: "Nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência mundo. " Porque esse avô "deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras". E é neste momento que a voz do neto treme, tantos anos passados sobre o tempo da figueira, à beira das lágrimas numa sala solene que o escuta, em silêncio, suspensa, os 18 membros da Academia debruçados sobre a tradução sueca das palavras que ali estão a ser ditas, em português. "Esteve quase a ir-se abaixo", comentará depois Zeferino Coelho, editor e amigo de Saramago há tempo bastante para não se enganar. Pilar del Rio, a espanhola que apareceu na vida do romancista português quando ele já "não podia esperar nada assim", confirma esse nó na garganta em que se embrulharam as palavras do Nobel, a meio da viagem entre a infância e os personagens. Pilar esteve sempre de olhos levantados para o marido, sem folhas brancas no colo porque as sabia de cor sempre de olhos levantados para o que fosse preciso. Para quando Saramago precisasse. Gente capaz de dormir com porcosDa Azinhaga, da "gente paz de dormir com porcos como se fossem os seus próprios filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito" e que, como o avó Jerónimo, ao pressentir a morte, se despedia "das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas chorando porque sabia que as tornaria a ver", desse mundo partiu Saramago para contar as personagens dos livros que lhe deram o Nobel. "Ao pintar os meus pais e meus avós com tintas de literatura(. . ) estava, sem o perceber a traçar o caminho por onde as personagens iriam fabricar trazer-me os materiais e as ferramentas que (. . . ) acabariam por fazer de mim a pessoa em hoje me reconheço: criador dessas personagens, mas, ao mesmo tempo, criatura delas. Em certo sentido poder-se-á dizer que, letra a letra, palavra a palavra, página a página, livro a livro, tenho vindo, sucessivamente, a implantar no homem que fui as personagens que criei. "Ei-las a desfilar, pela mão do autor, como bonecas russas umas contendo as outras, num descendo pela sala da Academia, desenhando aos poucos uma certa forma implicada (logo, política) de ver o mundo. H, o "medíocre pintor de retratos" ("Manual de Pintura e Caligrafia) que ensinou a Saramago "a honradez elementar de reconhecer e acatar, sem ressentimento nem frustração" os seus próprios limites; "os homens e as mulheres do Alentejo" ("Levantado do Chão") que o escritor conheceu como gente "enganada por uma Igreja tão cúmplice como beneficiária do poder do Estado e dos terratenentes latifundiários, gente permanentemente vigiada pela polícia, gente, quantas e quantas vezes, vítima inocente das arbitrariedades de uma justiça falsa"; Luís Vaz de Camões ("Que Farei com Este Livro?"), "génio poético absoluto, o maior da nossa Literatura" que "regressa pobre da Índia onde muitos se iam para enriquecer", "soldado cego de um olho e golpeado na alma", "sedutor sem fortuna" que revelou a Saramago "a humildade orgulhosa" e "obstinada" de "querer saber para que irão servir amanhã os livros que andamos a escrever hoje"; Baltasar, Blimunda e Bartolomeu ("Memorial do Convento"), "três loucos portugueses do século XVIII, num tempo e num país onde florescem as superstições e as fogueiras da Inquisição" e onde habita "uma multidão de milhares e milhares de homens as mãos sujas e calosas, como corpo exausto". E o cortejo prossegue com Ricardo Reis, "mestre de arte poética" que há-de terminar no princípio da "Jangada de Pedra", romance que foi "fruto imediato do ressentimento colectivo português pelos desdéns históricos da Europa". Aqui, o Nobel abre um parêntesis no seu discurso e corrige: "Fruto de um meu ressentimento pessoal. . . ". E sublinha, perante a Academia, a metáfora da jangada de pedra: "Que a Europa, toda ela, deverá deslocar-se para o Sul, a fim de, em desconto dos seus abusos colonialistas antigos e modernos, ajudar a equilibrar o mundo. Isto é, Europa finalmente como ética. "Viva a literaturaA plateia ainda o ouvirá regressar, com ironia, à Igreja, no momento em que auto-define "O Evangelho segundo Jesus Cristo" como "herético ao não ser "mais uma lenda edificante de bem-aventurados e de deuses, mas a história de uns quantos seres humanos sujeitos a um poder contra o qual lutam, mas que não podem vencer. " Sobre as crenças religiosas, "essas que com tanta facilidade levam os seres humanos a matar e a deixar-se matar" repetirá, de pé na sua tribuna de Estocolmo, três vezes a palavra “intolerância". E assim chegamos à última página (a 12, nas cópias que a assistência tem na mão, a 15 no original do autor), em que Saramago, "o aprendiz" explica que no "Ensaio sobre a Cegueira" quis recordar "que a dignidade do ser humano é todos os dias insultada pelos poderosos do nosso mundo". Depois, "como se tentasse exorcizar os monstros", pôs-se o aprendiz a escrever "a mais simples de todas as histórias", a que contém todos os nomes", "dos vivos e dos mortos", a que foi publicada meses antes de a Academia Sueca decidir que a este aprendiz chamaria mestre. Sem uma única vez ter pronunciado a palavra "Nobel", José Saramago fica de pé, no fim do seu discurso, no meio das palmas. 0 secretário permanente da Academia diz em francês: "Obrigado mestre, obrigado laureado, viva a literatura, o romance, Saramago!" E ele embaraçado a sorrir, dois passos adiante no pequeno estrado, cruza os braços contra o peito, agradece à esquerda, à direita, avança um passo mais e estende a mão para Pilar. Assim ficam por um segundo, só os dois no meio da sala, antes de começar o cerco. Texto publicado na edição de 8 de Dezembro de 1998
REFERÊNCIAS:
"Quando um escritor morre, é um mundo que desaparece"
D. Mariana Amália chega à rua e respira fundo. Acaba de descer a escadaria dos Paços do Concelho, no Largo do Município, em Lisboa, onde se foi despedir de José Saramago que morreu sexta-feira, aos 87 anos, em Lanzarote. (...)

"Quando um escritor morre, é um mundo que desaparece"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento 0.0
DATA: 2010-06-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: D. Mariana Amália chega à rua e respira fundo. Acaba de descer a escadaria dos Paços do Concelho, no Largo do Município, em Lisboa, onde se foi despedir de José Saramago que morreu sexta-feira, aos 87 anos, em Lanzarote.
TEXTO: De repente, ali, em frente a um cartaz com o rosto dele a sorrir e onde se lê "Obrigada, Saramago", recorda o ano de 1977, quando o escritor almoçava e jantava em sua casa, no Lavre, Alentejo. Saramago chegou à aldeia em plena reforma agrária, dormia na cooperativa e quis evitar o restaurante e fazer as refeições numa casa de família enquanto trabalhava no que seria o livro Levantado do Chão. "Comia tudo, menos favas", diz Mariana Amélia, 79 anos, que viria a ser o primeiro nome dado a Blimunda, personagem da obra (segundo Isabel da Nóbrega, uma das ex-mulheres de Saramago). "[Quando José se tornou Saramago], nunca esqueceu aquilo que fiz, e daí para cá ficou sempre indo lá por casa. " Na última vez que passou pelo Lavre, Saramago não almoçou, mas sentou-se no seu sofá. Conversaram. E é por essa e por outras conversas que Mariana Amélia sente "uma saudade muito grande que fica". É por essa "saudade" que centenas de pessoas esperaram ontem durante horas, debaixo de um sol escaldante, para entrarem no Salão Nobre e prestarem homenagem ao Nobel da Literatura. Muitos militantes comunistas. Ou nem tantos. Ainda ao final da manhã, Augusto Marques, 74 anos, assistiu ao bater de palmas à entrada do caixão no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Este militante do Partido Comunista lamentava: "Está pouca gente para o que ele merecia. Devia estar aqui mais gente. "Intelectuais entre anónimosMas, ao longo do dia, as dezenas de pessoas da manhã tornaram-se centenas e a fila para entrar na Câmara Municipal de Lisboa tornou-se contínua (ao princípio da noite, a Lusa falou em milhares de pessoas). Entre anónimos, encontravam-se o maestro Victorino de Almeida ("uma daquelas figuras que fazem com que Portugal entre na história no mundo"), o crítico e programador Augusto M. Seabra (que lhe fez uma grande entrevista por ocasião do lançamento do livro O Ano da Morte de Ricardo Reis e lembrou uma frase que Saramago gostava de dizer: "Dantes diziam de mim: "É bom mas é comunista. " Agora dizem: "É comunista mas é bom. ""), a cineasta Teresa Villaverde, a apresentadora Bárbara Guimarães, o músico Luís Cília, o poeta e candidato à Presidência da República Manuel Alegre ("Ele nunca esteve de costas voltadas e a mostra disso está no facto de ter querido vir para Portugal. Aqui é que era a raiz dele e a raiz dele era a língua") e, ao final do dia, o ex-Presidente da República Jorge Sampaio. A meio da tarde, o primeiro-ministro, José Sócrates, prestou homenagem ao escritor, e causou agitação entre jornalistas, "câmaras" e fotógrafos ao sair por uma porta lateral. Nesse momento surgiu Dilma Rousseff, a candidata à Presidência do Brasil e à saída do velório, perseguida pelos jornalistas brasileiros, afirmou: "Temos Eça de Queirós, temos Machado de Assis e Saramago está entre esses escritores que imortalizaram a língua portuguesa. " A ministra da Cultura espanhola, Ángeles González-Sinde, que também esteve presente, explicou que o escritor uniu dois países que habitualmente vivem de costas voltadas. "Uniu-os mesmo depois da morte", disse a ministra, que durante a manhã esteve também no aeroporto de Figo Maduro. Os restos mortais do escritor chegaram a Lisboa, vindos de Lanzarote, em Espanha, no C-295 da Força Aérea portuguesa que aterrou às 13h35 no aeroporto de Figo Maduro. Primeiro um helicóptero no céu, depois o barulho ensurdecedor e o avião a avançar pela pista. Por fim, as portas a abrir e três mulheres a sair: a ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, e a viúva de Saramago, Pilar del Río, imponente, vestida de negro, seguida pela filha do escritor, Violante Matos. Foram cumprimentadas pelo secretário de Estado da Defesa, Marcos Perestrello, em representação do Governo português. No avião, vinham também os dois irmãos de Pilar e o filho. O professor universitário Manuel Gusmão foi um dos primeiros a entrar no velório durante a tarde, onde considerou que estava muita gente. "Estão a entrar por grupos de pessoas, mas o fluxo é constante. Para além das pessoas que reconhecemos, estão muitas pessoas de origem popular. " O poeta Nuno Júdice lembrou que, "quando um escritor morre, é um mundo que desaparece, mas do Saramago ficará sempre a sua imaginação, a sua vida. Ele e os seus livros nunca deixarão de ser um exemplo". Na sala, que tem o retrato de Almeida Garrett pintado no tecto, estava o caixão, aberto, como já tinha estado em Lanzarote. Aos pés, uma fotografia do escritor coberta de cravos e orquídeas. O corpo de José Saramago tinha os óculos postos, e, por cima, um pano branco deixava a descoberto o nó da gravata. Alguém pousara dois cravos vermelhos no seu peito. À direita estavam a família e os amigos próximos. A mulher de Saramago, Pilar del Río, recebia as personalidades que entravam. À esquerda, duas gigantescas coroas de flores onde se lia "Sentida homenagem do comandante Fidel Castro para José Saramago" e "Sentida homenagem do presidente Raul Castro". Rostos anónimos iam passando em frente ao caixão. Havia quem parasse, se benzesse e seguisse. Uns agarravam-se a livros do Nobel da Literatura. Outros levavam flores que deixavam aos seus pés. Havia quem tivesse pouca vontade de sair e fosse ficando. Lágrimas e cravosHouve lágrimas. Uma adolescente vestida de preto - talvez uma das pessoas mais novas que ontem passaram por aquele salão - chorava. A mãe, também de luto, pousava a mão no ombro da filha. Um senhor de meia-idade, com grandes óculos de massa - parecidos com os que Saramago usou em tempos - soltou, alto o suficiente para se ouvir a vários metros de distância, um "adeus camarada". E logo voltou as costas, deixando o salão. João Santos, desempregado, de Lisboa, saiu da sala da urna com o amigo António Velhas que vestiu fato para a ocasião. "É um homem com cultura, formado e merece a última homenagem", diz, explicando por que passou por ali. E quando chegam à rua comentaram que nunca tinham visto um morto de óculos. "Não se podia dizer que não era ele. Era ele mesmo. " De repente, as atenções voltaram-se para um homem que chegou à praça. De bóina vermelha na cabeça, Augusto Ramos, militante do PCP, segurava uma bandeira do partido que, bem esticada, era do comprimento dos dois braços estendidos. Conta já com umas boas dezenas de anos - as suficientes para ser do tempo em que muita gente não estudava. Confessou que não conhece a obra de Saramago. porque não sabe ler. "Eu gostava do Saramago como militante e como pessoa", disse sem nunca largar a bandeira. Numa das mãos segurava também um ramo de flores, com uma rosa, uma gerbéria e cravos vermelhos. Quando saiu do edifício, já só trazia a bandeira. E, num gesto de despedida, ergueu o punho cerrado. Dobrou a bandeira vermelha e deixou a praça.
REFERÊNCIAS:
Partidos PCP
Quatro mortos num atentado contra militares em Istambul
A explosão de uma bomba matou quatro pessoas num mini-autocarro que transportava militares e as suas famílias em Istambul. O atentado acontece um dia depois de o Exército ter intensificado as suas operações contra os separatistas curdos na fronteira com o Iraque. (...)

Quatro mortos num atentado contra militares em Istambul
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 2 | Sentimento -0.15
DATA: 2010-06-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: A explosão de uma bomba matou quatro pessoas num mini-autocarro que transportava militares e as suas famílias em Istambul. O atentado acontece um dia depois de o Exército ter intensificado as suas operações contra os separatistas curdos na fronteira com o Iraque.
TEXTO: Segundo os media turcos, morreram na explosão três sargentos e uma rapariga de 17 anos, filha de um militar. Ficaram feridas ainda 12 pessoas. Um dos militares morreu já no hospital. A bomba estava colocada na estrada e terá sido activada por controlo remoto à passagem do autocarro perto de um complexo militar no bairro de Halkali, um subúrbio popular da margem europeia da cidade. “Isto é um ataque terrorista e o objectivo do ataque é claro – criar divisões, tensões e desespero”, disse aos jornalistas o governador da província de Istambul, Huseyin Avni Mutlu. Não houve para já qualquer reivindicação. A explosão ocorre na sequência dos piores ataques contra militares turcos em anos por parte dos rebeldes curdos do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). Durante o fim-de-semana foram mortos 12 soldados em ataques no Sudeste do país, cenário da guerra civil que durante 26 anos já matou perto de 45 mil pessoas. De acordo com Ancara, os rebeldes mantêm bases no interior do Curdistão iraquiano é a partir daí que preparam estes ataques. Em resposta, o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, prometeu que os separatistas vão “afogar-se no seu próprio sangue”. Na segunda-feira foram mobilizadas tropas de elite turcas ao longo da fronteira com o Iraque. Apesar de os ataques do PKK se concentrarem normalmente em alvos militares no Sudeste, o grupo já realizou no passado vários ataques em grandes cidades da Turquia. Mas o mesmo já fizeram grupos de extrema-esquerda, nacionalistas e islamistas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra filha ataque rapariga