A ausência das mulheres na arquitectura é para olhar de frente
A exposição de Fernanda Fragateiro inaugura um novo ciclo no MAAT dedicado a artistas portugueses com percurso internacional e a meio da sua carreira. Mostra obras dos últimos dez anos que reflectem sobre o espaço. (...)

A ausência das mulheres na arquitectura é para olhar de frente
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.043
DATA: 2017-06-22 | Jornal Público
SUMÁRIO: A exposição de Fernanda Fragateiro inaugura um novo ciclo no MAAT dedicado a artistas portugueses com percurso internacional e a meio da sua carreira. Mostra obras dos últimos dez anos que reflectem sobre o espaço.
TEXTO: Fernanda Fragateiro está em frente à peça que deu origem à exposição que esta quarta-feira abre ao público no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa. A artista explica que Architecture, a place for women? foi adquirida no ano passado por Pedro Gadanho, director do MAAT, no Armory Show, a mais antiga feira de arte de Nova Iorque, e que foi esta interrogação sobre a visibilidade das mulheres no mundo da arquitectura que despoletou o convite para fazer a exposição na Galeria 2 do Edifício Central. Fernanda Fragateiro: dos arquivos à matéria, à construção, comissariada por Sara Antónia Matos, inaugura, ao mesmo tempo, um novo ciclo no MAAT dedicado a artistas portugueses a meio da sua carreira, já com um reconhecido percurso internacional, que fazem parte da colecção de arte da Fundação EDP, a que pertence o museu lisboeta. A peça, que passou a integrar a colecção EDP ao lado de outras duas obras mais antigas de Fragateiro, junta-se às outras 18 esculturas que ocupam a Galeria 2 do Edifício Central Tejo até Setembro, seis delas concebidas de propósito para esta exposição. Como “o tema da ausência das mulheres na produção de espaço é para olhar de frente”, sublinha a artista durante a visita guiada que fez aos jornalistas, é mesmo em frente aos nossos olhos — mais exactamente à altura dos olhos de Fernanda Fragateiro — que esta viga construída através de milhares de folhas foi colocada, dificultando a circulação, porque atravessa um dos espaços da montagem de parede a parede. “Está colocada ao nível dos nossos olhos para sentirmos que nos intimida”, continua. Como é habitual, a artista justapôs verticalmente um conjunto de textos e imagens, neste caso revistas de arquitectura cortadas, a Domus e a Abitare. Da revistas, só vemos o perfil milimétrico das páginas enquadradas por um fino suporte de aço inox, transformando-as num objecto a cujo conteúdo não temos acesso. Fernanda Fragateiro encara também estes objectos-esculturas, de que há vários exemplos na exposição com formatos mais pequenos, como desenhos, por causa da superfície colorida criada pela mancha impressa das páginas. Aqui, ganha nova escala e é transformado numa viga, um elemento estrutural da arquitectura. No início da visita, Fernanda Fragateiro explicou que nesta exposição que junta trabalhos dos últimos dez anos, interrogou o lugar que as obras ocupam, numa das várias camadas e relações que o seu trabalho estabelece com o espaço e com a arquitectura, mas também com as obras de outros artistas plásticos que fazem parte da história da arte. “Todas as obras têm referências a outras obras de arte ou a outros arquitectos. ”Por isso, começando pelo princípio, Fernanda Fragateiro questionou porque é que transformaram um espaço com características tão belas como o edifício da Central Tejo num “white cube”, com as suas incontornáveis paredes brancas, num modo de expor que tem dominado as galerias e os museus um pouco por todo o mundo. “Fui retirando camadas de alguma artificialidade para que o espaço respirasse”, acrescentando a artista que deitou abaixo algumas paredes de Pladur, o gesso cartonado com que são feitas estas divisórias, tornando visíveis as grandes janelas deste exemplar de arquitectura industrial ou furando-as para criar circulações inesperadas ou explorar o que está por detrás de uma montagem. “Quis inverter esta tentativa de domesticar o espaço. ”Demolição 2, o título da grande peça de parede que nos recebe no início da exposição, é feita com os destroços de uma remodelação de um prédio pombalino que Fernanda Fragateiro foi encontrando dentro de um contentor, ao longo dos últimos meses, na rua onde mora em Lisboa, a Rua da Madalena, enquanto preparava esta exposição, bem como uma intervenção para a Porta 14, um espaço expositivo do atelier do arquitecto Pedro Pacheco, um vizinho e amigo, onde mostrou uma versão reduzida desta nova série. “Não sabemos bem se estamos a olhar para uma ruína romana, mas de facto é uma ruína dos anos 1970. É da época em que se usava este material, os blocos de Ytong. É um material pré-fabricado, mas é um resto de alvenaria muito leve. Parece que flutua. ”Se virarmos à esquerda depois de Demolição 2, encontramos Construir É Destruir É Construir, um trabalho que já foi aqui mostrado em 2009 e que também faz parte da colecção EDP. É um contentor forrado a espelho e meticulosamente desenhado, nas palavras da artista. Está cheio de restos de tijolos de uma fábrica do Montijo, onde a artista nasceu, que foram esmagados num caminho pela passagem constante de camiões. Incorpora também alguns tijolos da Central Tejo, num edifício também ele feito de tijolos que está classificado e necessita de uma manutenção constantes. O laranja dos tijolos, uma cor muito presente na exposição, destacou a artista, cruza-se com a obra Double Words (2011), outra escultura de parede. A própria cor é uma referência ao trabalho do artista minimalista norte-americano Donald Judd, cujo catálogo Kunst + Design, de capa laranja, dialoga com uma escolha que parece mais feita por impulso, a de um livro sobre os protestos políticos do século XX alemão — pelo menos é assim que a artista também a apresenta. A essa capa acedemos apenas através do reflexo de uma superfície de aço inox polido, para descobrirmos uma mancha laranja que Fernanda Fragateiro diz identificar a camisola de um manifestante entre uma multidão fotografada a preto e branco. Este duplo discurso, intelectual e sensorial, é muito presente em Fernanda Fragateiro, sendo o primeiro muitas vezes deliberadamente oculto pelo segundo. O laranja volta a estar presente em Modernity Unbound (2017), “uma pintura encontrada” nas páginas fechadas do livro do historiador da arquitectura Detlef Mertins, cujo perfil é colorido, que fazem aqui um novo bloco (tijolo?) inexpugnável. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A presença da ausência das mulheres na arquitectura volta com os trabalhos Stones Against Diamonds e Built, à volta da figura da brasileira Lina Bo Bardi, com Measuring E1027, uma reflexão sobre uma casa de Eileen Gray que estava atribuída a Le Corbusier, e ainda Having Words, sobre Denise Scott Brown, a mulher de Robert Venturi, que trabalhou em dupla com ele e foi excluída do Prémio Pritzker. “Essa história da Eileen Gray descobri numa Domus de 1968, porque quis ver o que se discutia nesse período de grande agitação social. A peça também pode ser só uma bela escultura monocromática, além de contar uma história. ”Entre as seis esculturas novas está Muro (2017), outra das ruínas da exposição, neste caso uma reflexão sobre a “des-arquitecturalização” e uma referência ao trabalho do grupo pós-modernista SITE da década de 70 e ao seu projecto Indeterminate Façade. Feito como blocos maciços de betão cor-de-rosa, é fácil lê-lo, dizemos nós, como uma paródia às ideias de Trump para o muro com o México ou uma parábola à “fake architecture”. É um contraponto a Biblioteca (2016-2017), uma escultura que replica as estantes da sala de leitura da Biblioteca Pública de Évora, “onde estão paredes imensas cheias de livros antigos, a que está proibido o acesso”. Fernanda Fragateiro também leu essa superfície como uma pintura, desta vez branca, remetendo para o conhecimento adormecido nas bibliotecas. Desde Évora e da exposição que a artista fez no Fórum Eugénio de Almeida, inaugurada em Janeiro deste ano, a escultura cresceu. Às vezes, as obras mudam de nome, diz Fernanda Fragateiro, numa reinvenção, normal no trabalho da artista, porque construir também é demolir. A inauguração da exposição prevista para esta terça-feira ao final da tarde foi cancelada devido ao luto em memória das vítimas dos incêndios no centro do país.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher social mulheres luto
Professor de Beja condenado a 18 anos de prisão por abuso sexual de alunas
Professor de 48 anos abusou sexualmente de quatro crianças e maltratou outra, entre 2015 e 2017, na escola básica da aldeia de Salvada. Além da pena de prisão, docente terá que pagar cinco indemnizações num total de 53.000 euros. (...)

Professor de Beja condenado a 18 anos de prisão por abuso sexual de alunas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-10-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Professor de 48 anos abusou sexualmente de quatro crianças e maltratou outra, entre 2015 e 2017, na escola básica da aldeia de Salvada. Além da pena de prisão, docente terá que pagar cinco indemnizações num total de 53.000 euros.
TEXTO: O Tribunal de Beja condenou nesta quarta-feira a 18 anos de prisão efectiva o professor de uma escola do concelho por abuso sexual de quatro alunas, maus tratos contra outra e por posse de fotografias pornográficas de menores. O acórdão foi lido nesta quarta-feira pouco mais de dez meses após a detenção do docente, que abusou sexualmente de quatro crianças e maltratou outra, entre 2015 e 2017, na escola básica da aldeia de Salvada, e tinha fotografias pornográficas de menores em vários suportes informáticos. O professor, de 48 anos, que está em prisão preventiva, que passará a efectiva após o acórdão transitar em julgado, estava acusado de 534 crimes de abuso sexual de quatro crianças, um crime de maus tratos a outra criança e de um crime de pornografia de menores. O colectivo deu como "parcialmente provada" a acusação pública e, durante o julgamento, houve alterações dos factos e, por isso, absolveu o professor de 532 crimes de abuso sexual de crianças agravado e condenou-o pela prática de dez crimes de abuso sexual de crianças de trato sucessivo, dois crimes de abuso sexual de crianças agravado e dois crimes de abuso sexual de crianças, um crime de maus tratos e um crime de pornografia de menores. Pelos 16 crimes, em cúmulo jurídico, o colectivo condenou o professor a uma pena única de 18 anos de prisão efectiva e "a uma pena acessória de proibição de exercer profissão, emprego, funções ou actividades, públicas ou privadas, cujo exercício envolva contacto regular com menores pelo período de 15 anos". O tribunal condenou também o professor a pagar cinco indemnizações, uma a cada uma das quatro crianças vítimas de abuso sexual e outra à criança vítima de maus tratos, de valores que variam entre os 5. 000 e os 20. 000 euros, num total de 53. 000 euros. Abordados pela Lusa após a leitura do acórdão, o advogado do arguido e a representante das quatro crianças que se constituíram assistentes no processo, sendo que três foram alvo de abusos sexuais e a outra de maus tratos, escusaram-se a falar sobre a decisão do colectivo. Segundo o acórdão, os abusos sexuais das quatro crianças foram cometidos pelo professor entre 2015, quando tinham entre seis e nove anos, e 2017, quando tinham entre oito e 11 anos. Os maus tratos contra uma quinta criança terão começado em Setembro de 2015, quando a vítima tinha seis anos. As crianças depuseram para memória futura e relataram os abusos ou maus tratos de que foram alvo por parte do professor, que, na primeira sessão do julgamento, que decorreu a 10 de Setembro, recusou prestar declarações. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O docente ameaçava as crianças para que mantivessem o silêncio, mas o caso foi denunciado pela mãe de uma das alunas abusada. O professor foi detido pela Polícia Judiciária no dia 22 de Novembro de 2017 e, dois dias depois, foi sujeito a primeiro interrogatório no Tribunal de Beja, que lhe decretou a prisão preventiva. No dia da detenção, a PJ realizou buscas à casa e apreendeu o computador e vários suportes informáticos do arguido, onde encontrou ficheiros de pornografia de menores armazenados.
REFERÊNCIAS:
Entidades PJ
O problema sexual da Relação do Porto
A Relação do Porto não se dá bem com o sexo, e seria útil que uma daquelas associações que andam pelo país a pregar os direitos das mulheres fizesse uma visitinha à Rua Campo dos Mártires da Pátria. (...)

O problema sexual da Relação do Porto
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-10-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: A Relação do Porto não se dá bem com o sexo, e seria útil que uma daquelas associações que andam pelo país a pregar os direitos das mulheres fizesse uma visitinha à Rua Campo dos Mártires da Pátria.
TEXTO: Ontem o juiz Manuel Soares escreveu neste jornal um texto intitulado “Alguém que explique isto, por favor”, e eu pensei: “Excelente, vai justificar o acórdão do Tribunal da Relação do Porto que subscreveu em Junho, no qual dois homens que abusaram sexualmente de uma mulher semi-inconsciente se safaram com pena suspensa. ” Mas não. Afinal era só um texto a queixar-se dos juízes de carreira terem perdido o monopólio das decisões em matérias de litígio fiscal (pelos vistos, alguns juízes queixam-se do excesso de trabalho, mas também se queixam da sua diminuição). O acórdão, esse, ficou por explicar. Mas vale a pena reflectir sobre ele, porque há três problemas distintos que devem ser sublinhados. O primeiro problema tem a ver com o facto de o acórdão ser assinado pelo Tribunal da Relação do Porto. A Relação do Porto não se dá bem com o sexo, e seria útil que uma daquelas associações que andam pelo país a pregar os direitos das mulheres fizesse uma visitinha à Rua do Campo dos Mártires da Pátria. Desde o acórdão que absolveu o psiquiatra de abusar de uma paciente grávida no seu consultório, com o argumento de que para ser violação tinha de ter sido com mais força (acórdão de 13 de Abril de 2011); ao acórdão do juiz Neto de Moura que manteve a pena suspensa a um homem que agrediu violentamente a mulher com uma moca de pregos, usando como um dos argumentos que “o adultério da mulher é uma conduta que a sociedade sempre condenou, e por isso vê com alguma compreensão a violência exercida pelo homem traído” (acórdão de 11 de Outubro de 2017); receio bem que a Relação do Porto comece a ter um histórico sinistro em matérias de sexo e costumes. O segundo problema tem a ver com a própria lei. Ainda este ano a Amnistia Internacional acusou Portugal de não definir a violação como sexo sem consentimento, e alguns juristas contestaram essa interpretação. Mas este caso é um bom exemplo para ver quem tem razão. O artigo do Código Penal que define a violação (164. º) exige a prática de “violência”, “ameaça grave” ou “ter tornado inconsciente ou posto na impossibilidade de resistir” a vítima. Mas logo a seguir, o artigo 165. º define o “abuso sexual de pessoa incapaz de resistência” como a prática de um acto sexual com “pessoa inconsciente”. Ou seja, pôr uma pessoa a dormir e ter sexo com ela é violação. Se já estiver adormecida é abuso sexual. Esta distinção é chocante, e não espanta que a maior parte das pessoas, quando confrontadas com o caso de dois funcionários de uma discoteca que copularam à vez com uma mulher incapaz de reagir, o considerassem uma violação. Era exactamente isso que deveria ser. O terceiro problema tem a ver com a interpretação da lei. É verdade que não são os juízes que fazem as leis, mas são eles que as interpretam, e a complacência demonstrada pelos juízes desembargadores em relação aos dois abusadores é difícil de compreender. Maria Dolores da Silva e Sousa (relatora) e Manuel Soares consideraram que eles têm “escassíssimo pendor para a reincidência”, que a sua culpa se situa “na mediania, ao fim de uma noite com muita bebida alcoólica” e “ambiente de sedução mútua” e que “a ilicitude não é elevada”, já que não houve “danos físicos nem violência”. Imaginem a mulher abusada, que nem sequer pediu uma indemnização mas apenas a condenação dos dois homens, a ler uma passagem deste calibre. Este é o tipo de crimes cuja desvalorização é absolutamente inaceitável nos tempos que correm. E ainda bem.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos homens lei violência campo tribunal mulher homem violação sexo sexual mulheres abuso adultério
Operação da Europol identifica 94 supeitos de exploração e abuso sexual de crianças
Um relatório da Europol adianta que o trabalho de identificação das vítimas e dos autores dos crimes sexuais demorou duas semanas e foi dirigido por uma taskforce do centro especializado em cibercriminalidade daquele organismo europeu. Houve participação de Portugal. (...)

Operação da Europol identifica 94 supeitos de exploração e abuso sexual de crianças
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um relatório da Europol adianta que o trabalho de identificação das vítimas e dos autores dos crimes sexuais demorou duas semanas e foi dirigido por uma taskforce do centro especializado em cibercriminalidade daquele organismo europeu. Houve participação de Portugal.
TEXTO: Vinte e sete investigadores de 21 países juntaram-se à Europol para identificar, através de milhões de fotografias e vídeos, 241 vítimas de exploração e abuso sexual de crianças, permitindo acusar 94 abusadores de 28 países pela prática dos crimes. Um relatório divulgado nesta sexta-feira pela Europol adianta que o trabalho de identificação das vítimas e dos autores dos crimes sexuais demorou duas semanas e foi dirigido por uma taskforce do centro especializado em cibercriminalidade daquele organismo europeu. De acordo com informação da Europol, mais de 32 milhões de imagens e vídeos estiveram disponíveis na base de dados da organização, por forma a permitir uma análise detalhada do seu conteúdo e dos seus utilizadores, tendo no total sido verificadas 584 séries contendo imagens susceptíveis de configurar tais crimes. Em 91 situações, os países, onde as séries foram produzidas, foram informados da situação por forma a avançarem com uma investigação a nível interno. Todas as séries constam de uma base de dados da Europol designada por "Internacional Child Sexual Exploitation". "Sabemos que quatro olhos vêem melhor que dois, agora imaginem 34 pares de olhos e cérebros trabalhando em conjunto, durante duas semanas, trocando conhecimento e boas práticas. Os olhos vieram da Bélgica, Chipre, Dinamarca, França, Alemanha, Hungria Itália, Letónia, Holanda, Portugal, Espanha, Suécia, Reino Unido e parceiros vindos da Austrália, Bósnia-Herzegovina, Canadá, Colômbia, Moldávia, Noruega, Suíça e Estados Unidos", indica a nota da Europol, sublinhando o elevado número de vítimas e infractores identificados nesta operação. A Europol, que é uma Agência Europeia de Polícia, alertou ainda para o crescimento deste tipo de exploração e abuso sexual. Simultaneamente, e pela décima nova vez, a Europol organizou um seminário, com a duração de dez dias, para treinar membros das forças policiais no combate aos crimes de exploração sexual de crianças através da Internet. O treino, única no género, inclui a análise das mesmas imagens da base de dados da Europol que levaram à indiciação dos 94 abusadores. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A iniciativa visou expandir a comunidade policial que se dedica ao combate dos crimes em causa. Desde 2000, altura em que se realizou a primeira edição, quase mil membros das forças policiais foram formados neste tipo de combate, que inclui diversas vertentes, desde a forense até à investigação financeira. A Europol tem também em curso uma iniciativa destinada a alargar o combate de tais crimes à sociedade civil, introduzindo mecanismos que permitem aos cidadãos participar o conhecimento de situações de exploração e abuso sexual de crianças. Desde o início do projecto, em 1 de Junho de 2017, mais de 22 mil informações foram enviadas para a Europol, permitindo a identificação de oito crianças e um abusador.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave comunidade género sexual abuso
Google protegeu criador do Android acusado de abuso sexual
O caso remonta a 2014, quando Andy Rubin foi afastado da empresa com um acordo de 90 milhões de dólares. Agora, o New York Times revela quais os motivos do afastamento, que a Google tentou ocultar. (...)

Google protegeu criador do Android acusado de abuso sexual
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-10-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: O caso remonta a 2014, quando Andy Rubin foi afastado da empresa com um acordo de 90 milhões de dólares. Agora, o New York Times revela quais os motivos do afastamento, que a Google tentou ocultar.
TEXTO: Há quatro anos, em Outubro de 2014, a Google despedia-se de Andy Rubin, fundador e director da Android Inc. (empresa criada em torno do sistema operativo móvel do mesmo nome que foi comprada pelo Google em 2005). O então director executivo da empresa norte-americana, Larry Page, desejou-lhe boa sorte para o futuro e elogiou o seu trabalho. Esta quinta-feira, o New York Times revela as razões do afastamento de Andy Rubin da gigante tecnológica, que a Google tentou esconder durante quatro anos. Rubin foi afastado depois de a Google ter investigado uma denúncia de assédio sexual feita por uma funcionária da empresa, e de ter concluído que as acusações eram credíveis. Em vez de ser despedido, Rubin saiu com uma compensação de 90 milhões de dólares. E não foi o único trabalhador protegido pela empresa em circunstâncias semelhantes. A denúncia contra Rubin foi feita por uma funcionária da equipa Android com quem o egenheiro manteria uma relação extraconjugal, acusando-o de a ter forçado a fazer sexo oral num quarto de hotel em Março de 2013. Foi apresentada uma queixa às autoridades e ao departamento de recursos humanos da Google, que abriu uma investigação ao caso e concluiu que a acusação — que Rubin nega — teria fundamento. Ainda assim, a empresa assinou um acordo de 90 milhões de dólares (79 milhões de euros), pagos em tranches mensais de dois milhões de euros. O último pagamento está agendado para o próximo mês. O porta-voz de Rubin, Sam Singer, afirma que o criador do Android nunca foi informado de qualquer conduta inapropriada na empresa e que “qualquer relacionamento que Rubin teve na Google foi consensual”, garantindo ainda que o engenheiro abandonou a empresa por opção pessoal. No seu artigo, o New York Times conta que teve acesso a documentos internos da empresa e que entrevistou mais de 30 funcionários da companhia (a maioria optou pelo anonimato devido a acordos de confidencialidade ou por receio de represálias). E cita pelo menos mais dois casos de dois executivos que terão sido protegidos pela empresa face a acusações semelhantes. Também em relação a estes, o motivo de saída foi escondido e os dois funcionários receberam grandes quantias de dinheiro. Em resposta ao jornal, a vice-presidente de operações da Google, Eileen Naughton, afirmou que a empresa tem levado cada vez mais a sério as denúncias de assédio que são recebidas. "Investigamos e tomamos medidas, incluindo o despedimento", disse. "Nos últimos anos, adoptamos uma postura particularmente rígida quanto à conduta inadequada de pessoas em posições de autoridade. Estamos a trabalhar seriamente para continuar a melhorar a forma como lidamos com este tipo de comportamentos", acrescenta. Já esta quinta-feira, após a publicação do artigo pelo jornal norte-americano, a gigante tecnológica enviou um comunicado a todos os funcionários da empresa, assinada pelo seu CEO, Sundar Pichai. No documento, o responsável diz que nos últimos dois anos foram despedidas 48 pessoas, incluindo 13 executivos de topo, devido a denúncias de abuso sexual na empresa. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O presidente executivo da Google diz que “foi difícil” ler a história do New York Times e garante que a Google está empenhada em garantir “um ambiente de trabalho seguro e inclusivo”. “Queremos assegurar-vos que investigamos todas as denúncias de abuso sexual ou conduta imprópria e agimos para as resolver”, acrescentou o CEO, citado pela BBC, repetindo a garantia já dada pela vice-presidente de operações da Google ao jornal. As acções da Alphabet, a empresa que detém a Google, caíram mais de 3% na bolsa de Nova Iorque depois de conhecida a notícia do New York Times.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave trabalhador humanos sexo sexual abuso assédio
Os criminosos são operários, estudantes, homens, mulheres e até crianças
Quem são os indivíduos que compõem a indistinta massa humana que saiu para as ruas de Londres - e de Birmingham, Manchester, Gloucester, ou Liverpool -, desafiando a polícia, roubando à descarada e destruindo tudo o que lhes apareceu à frente, num vandalismo indiscriminado e uma violência aparentemente arbitrária? (...)

Os criminosos são operários, estudantes, homens, mulheres e até crianças
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-08-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Quem são os indivíduos que compõem a indistinta massa humana que saiu para as ruas de Londres - e de Birmingham, Manchester, Gloucester, ou Liverpool -, desafiando a polícia, roubando à descarada e destruindo tudo o que lhes apareceu à frente, num vandalismo indiscriminado e uma violência aparentemente arbitrária?
TEXTO: Um deles é Christopher Heart, 23 anos, pai de dois filhos, operário da construção, apanhado pela polícia com umas sapatilhas de marca Lacoste e um casaco ainda com o dispositivo de alarme preso à manga, abandonando uma loja de artigos desportivos de Hackney. Outro é Alexis Bailey, de 31 anos, que trabalha como conselheiro de aprendizagem numa escola primária londrina. Detido em flagrante, no tribunal declarou-se culpado do furto de uma aparelhagem numa loja saqueada em Croydon na segunda-feira. . Ou Aaron Mulholland, que chorou e garantiu ao magistrado do tribunal que tinha aprendido a lição. O nadador-salvador, de 30 anos, trabalha num ginásio de Peckham e aproveitou a confusão para pilhar uma loja de telemóveis. A polícia também agarrou um menino de 11 anos, que no tribunal de Romford (Essex) confessou calmamente pertencer ao gang que destruiu e saqueou um armazém do grupo Debenhams. Até agora, tinha-se pintado um retrato impreciso da turba envolvida nos saques e desacatos. A generalização apontava para "jovens de classes desfavorecidas residentes em bairros sociais". Alguns seriam "elementos" já conhecidos das autoridades; outros cidadãos marginalizados, arrastados pela corrente: "Pessoas habitualmente discriminadas e que de repente se vêem poderosas", explicava o criminólogo John Pitts, acrescentando que essa sensação "pode ser tão alucinante como uma droga". Mas à medida que as centenas de pessoas detidas nas pilhagens e confrontos vai sendo presente a tribunal, é possível ficar com uma ideia mais precisa sobre a demografia dos criminosos. Não há mais rapazes do que raparigas, nem há predominância de minorias, étnicas ou religiosas. Não são todos desempregados ou estudantes sem perspectivas de futuro. E a haver uma "inspiração" para os saques, é a do consumismo desenfreado. O que têm em comum o recruta do exército, o designer gráfico, o camionista, o estudante universitário, apanhados juntos a pilhar lojas de Londres; o que os leva a roubar sapatilhas e óculos de sol, ecrãs de plasma, telemóveis, roupa de marca, bebidas alcoólicas e até bilhetes da lotaria?Em Manchester, um repórter da BBC perguntou porquê a uns jovens que estavam a pilhar lojas na terça-feira. "Porque podemos. Porque não nos acontece nada" foi a resposta de um. "Por que não aproveitaríamos a oportunidade de ficar com artigos caríssimos à borla?", replicou o outro. Depois, os dois disseram que era por causa do Governo. "O Governo não manda nada. Se mandasse, nada disto estava a acontecer. Quero lá saber da polícia, por mim vou continuar a roubar até ser apanhado", garantiu um deles.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave escola tribunal
Morreu Beatriz Cal Brandão, uma das fundadoras do PS
Beatriz Cal Brandão, uma das fundadoras do Partido Socialista e a primeira mulher a licenciar-se em engenharia química, faleceu na madrugada de hoje aos 97 anos em Gaia, disse fonte familiar. (...)

Morreu Beatriz Cal Brandão, uma das fundadoras do PS
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-08-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Beatriz Cal Brandão, uma das fundadoras do Partido Socialista e a primeira mulher a licenciar-se em engenharia química, faleceu na madrugada de hoje aos 97 anos em Gaia, disse fonte familiar.
TEXTO: Fundadora do Partido Socialista, juntamente com o seu marido Mário Cal Brandão e Mário Soares, entre outras figuras da oposição ao regime de Salazar, Beatriz Cal Brandão foi a primeira mulher a licenciar-se em engenharia química, o que a levou a dirigir uma fábrica de cerâmica em Vila Nova de Gaia. Lutadora antifascista desde a sua juventude, Beatriz Cal Brandão esteve presa diversas vezes, tendo sido durante uma das suas prisões que conheceu Mário Cal Brandão com quem casou e viveu durante toda a sua vida. Beatriz Cal Brandão foi eleita deputada pelo PS após o 25 de Abril, exerceu funções durante várias legislaturas e foi a primeira deputada a defender, no Parlamento, o direito ao aborto. Em 2010 foi homenageada durante o II Encontro Autárquico das Mulheres Socialistas, que decorreu no Porto. Na altura foi destacada a sua “extraordinária capacidade intelectual” e a conciliação que conseguiu fazer entre a família e a defesa dos grandes valores da solidariedade, da fraternidade, sempre na luta das mulheres. O seu corpo está em câmara ardente na capela de Gulpilhares, Gaia. O funeral, ainda não tem dia definido.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Morrem duas vezes mais homens do que mulheres em idade activa na Europa
Um relatório sobre saúde masculina divulgado ontem pela Comissão Europeia não dá boas notícias aos homens europeus. Eles, entre os 18 e os 60 anos, estão a morrer mais do que elas no mesmo grupo etário. (...)

Morrem duas vezes mais homens do que mulheres em idade activa na Europa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2011-08-27 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um relatório sobre saúde masculina divulgado ontem pela Comissão Europeia não dá boas notícias aos homens europeus. Eles, entre os 18 e os 60 anos, estão a morrer mais do que elas no mesmo grupo etário.
TEXTO: As explicações para estas mortes prematuras podem estar na escolha de um estilo de vida menos saudável e na adopção de mais comportamentos de risco (como fumar e beber), entre outros factores económicos e sociais, mas o resultado é que anualmente, nos 27 países da União Europeia (UE), morrem 630 mil homens e 300 mil mulheres em idade activa. O documento sublinha que 50 por cento destas mortes são evitáveis. Segundo o documento, elaborado pelo European Men"s Health Forum (EMHF) e que em Portugal foi coordenado pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa, apesar do aumento da esperança de vida, as baixas taxas de natalidade fazem prever um cenário com uma drástica redução de homens em idade activa. As estimativas para 2060 apontam para menos 24 milhões de homens entre os 15 e os 64 anos e mais 32 milhões com mais de 65 anos. Os homens estão a morrer mais do que as mulheres e, alerta o relatório, isso não está necessariamente relacionado com factores biológicos, mas antes com estilos de vida prejudiciais e outros factores que os colocam nesta situação de desvantagem. O relatório confirma ainda uma mudança no padrão do cancro masculino, com uma redução de casos de cancro do pulmão e um aumento do cancro da próstata. Há ainda uma referência especial ao cancro dos testículos, que, apesar de ser tratável, permanece como principal causa de morte por cancro nos homens com idades entre os 20 e os 35 anos. Os homens portugueses merecem algumas referências particulares no estudo, ainda que seja de notar que não são apresentados dados relativos a Portugal no capítulo dedicado à saúde mental, onde se alerta para um subdiagnóstico de depressões e outros problemas. Os portugueses são referidos, por exemplo, quando se fala do número de admissões hospitalares, apresentando as mais baixas taxas nos casos que estão especificamente relacionados com doenças do sistema circulatório e ainda com ferimentos, envenenamentos e causas externas. Portugal é também mencionado no capítulo referente à medicina preventiva. Aqui, os portugueses são exemplo de um país onde os homens estão atentos aos níveis de colesterol e tensão arterial, com cerca de 70 por cento dos inquiridos a admitirem ter medido a sua tensão no ano anterior e 56 por cento a referir que testou o colesterol. A nível geral, nota-se que os homens fazem menos exames de saúde como prevenção do que as mulheres. Mas há mais: um dos gráficos apresentados trata a esperança de vida para homens com 50 anos e com severas limitações de actividade e mostra Portugal com valores superiores aos 27 Estados-membros da UE nos homens e nas mulheres. Portugal também é citado quando se explora as várias causas de morte nos homens. Entre doenças infecciosas, cancro ou doenças respiratórias, entre muitos outros problemas de saúde, os homens portugueses são os que morrem mais na Europa com "sintomas, sinais e resultados clínicos e laboratoriais anormais, não especificados", registando 12 por cento das mortes neste item. Por fim, Portugal sobressai também no campo das mortes por acidente vascular cerebral, onde apresenta as mais altas taxas da Europa Ocidental, e no declínio de casos de VIH na população masculina.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Governo brasileiro contra anúncio de Gisele Bundchen em roupa interior
Um ano depois da proibição do anúncio da americana Paris Hilton pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, por ser “demasiado sexy”, a Secretaria de Políticas para as Mulheres, dependente da Presidência brasileira, pediu agora a suspensão de um conjunto de anúncios com a manequim brasileira Gisele Bundchen. A secretaria defende que a publicidade “reforça o estereótipo, enganoso, das mulheres como objectos sexuais para os seus maridos”. (...)

Governo brasileiro contra anúncio de Gisele Bundchen em roupa interior
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.0
DATA: 2011-09-29 | Jornal Público
SUMÁRIO: Um ano depois da proibição do anúncio da americana Paris Hilton pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, por ser “demasiado sexy”, a Secretaria de Políticas para as Mulheres, dependente da Presidência brasileira, pediu agora a suspensão de um conjunto de anúncios com a manequim brasileira Gisele Bundchen. A secretaria defende que a publicidade “reforça o estereótipo, enganoso, das mulheres como objectos sexuais para os seus maridos”.
TEXTO: Os anúncios estão a ser transmitidos desde o dia 20 de Setembro nos canais de televisão brasileiros e, segundo um comunicado da presidência, desde essa altura a Secretaria de Políticas para as Mulheres tem recebido várias “reclamações de indignação que dizem respeito à publicidade”. A presidência enviou uma carta com um pedido de suspensão ao responsável pela regulação da publicidade, “manifestando o seu repúdio à campanha”. No anúncio, que publicita roupa interior da marca Hope, a modelo brasileira (que goza de grande projecção internacional) ensina as mulheres qual a melhor forma de transmitir más notícias aos seus maridos. Primeiro a modelo aparece vestida a informar o marido que algo menos bom aconteceu. Logo depois, vestida apenas com roupa interior, Bundchen dá a mesma notícia ao marido, com a marca a sublinhar que essa é a forma "certa" de transmitir más notícias. A publicidade termina com a voz de um narrador a dizer: “Você é brasileira, use o seu charme”. A secretaria, que depende directamente da presidente Dilma Rousseff, afirma que a publicidade tem um conteúdo discriminatório e que infringe os artigos referentes aos direitos das mulheres consagrados na Constituição brasileira. O proprietário da marca de roupa também já se pronunciou sobre a nota divulgada pela secretaria da presidência: “O objectivo definido era mostrar, com humor, que a sensualidade natural da mulher brasileira, reconhecida mundialmente, pudesse ser uma arma eficaz, no momento de dar uma má notícia”. Não se conhece ainda a decisão do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária do Brasil, país onde é recorrente a utilização da sensualidade e o corpo das mulheres nos anúncios publicitários para promover diferentes tipos de produtos.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos mulher mulheres corpo
Vítimas resistem mais a abandonar o lar com medo de perder emprego
Cada vez mais mulheres vítimas de violência doméstica resistem a refugiar-se numa casa abrigo, preferindo viver com o agressor a perder o emprego, alertam as instituições que lidam com estes casos. (...)

Vítimas resistem mais a abandonar o lar com medo de perder emprego
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 9 | Sentimento 0.5
DATA: 2011-11-25 | Jornal Público
SUMÁRIO: Cada vez mais mulheres vítimas de violência doméstica resistem a refugiar-se numa casa abrigo, preferindo viver com o agressor a perder o emprego, alertam as instituições que lidam com estes casos.
TEXTO: Os efeitos da crise económica já se fazem sentir no dia-a-dia da Associação de Apoio à Vítima (APAV) e da Associação de Mulheres Contra a Violência (AMCV). Ali, garantem os técnicos, é cada vez mais difícil convencer as mulheres a sair de casa. "As mulheres começam a não chegar (às casas abrigo) porque têm medo de deixar os seus trabalhos", conta à Lusa Maria Macedo, técnica do centro de atendimento da AMCV, adiantando que "as mulheres em perigo de vida, que se refugiam numa casa abrigo, não regressam mais às zonas que frequentavam. Têm de recomeçar tudo do zero, incluindo arranjar um novo emprego". A decisão de abandonar o lar é um dos momentos mais difíceis de todo o processo e o último estudo nacional já indicava que uma em cada três vítimas aguenta durante mais de dez anos uma relação violenta. João Lázaro, vice-presidente da APAV, também sente que "a actual crise leva a que muitas vítimas ponderem muito mais em dar o passo em frente e quebrar o silêncio, face às dificuldades económicas e financeiras de terem um projecto e uma vida alternativa sem violência". Resultado: "estão mais sujeitas à violência porque tentam aguentar ao máximo". "A confirmar-se esta percepção das associações deste cenário preocupante, porque estamos a falar de um risco de morte", diz Teresa Morais, secretária de Estado da Igualdade. Para as associações, o fenómeno é agravado pelo facto de ainda serem as vítimas a abandonar o lar. Elisabete Brasil, da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), diz ser necessário "inverter a forma de actuação" para que "quem está em perigo possa ficar em casa e quem é perigoso saia". Na opinião da especialista, a situação poderia ser minorada com uma maior aplicação de medidas de afastamento de agressor: "O projecto-piloto das pulseiras electrónicas começou em 2009 e este ano foi alargado a todo o país. Mas a verdade é que é pouco utilizado. Em muitos casos não vimos a aplicação dessa medida", lamenta. Anualmente, são feitas cerca de 30 mil denúncias, existindo apenas 52 pulseiras no país. A secretária de Estado garante que não há falta de equipamentos, até porque "todas as pulseiras que foram necessárias até agora estavam disponíveis". No caso do sistema de tele-assistência, "dos 50 aparelhos existentes estão em funcionamento apenas 20", frisou. Teresa Morais garante que os dois programas, que deveriam terminar em breve, vão continuar em funcionamento, sendo "intenção da tutela da igualdade e do Ministério da Justiça reforçá-los". Reconhecendo as vantagens da aplicação de mais medidas de afastamento, a secretária de Estado diz que em 2012 deverão decorrer acções de formação para dar a conhecer estas ferramentas: "acredito que ainda haja muitos magistrados que não conheçam este sistema". As três associações defendem "tolerância zero para este tipo de crime", lamentando a realidade percepcionada pelos números: até ao segundo trimestre as autoridades receberam 14. 508 participações de denúncias de violência doméstica mas, no terceiro trimestre do ano, estavam detidos nas cadeias portuguesas apenas 121 homens por violência doméstica. As casas abrigo foram criadas como espaço de acolhimento temporário por seis meses, mas a crise tem vindo a prolongar a estadia das vítimas, por dificuldades na reorganização da sua vida. "A saída das mulheres pode agora levar o dobro ou mais tempo", acrescentou João Lázaro.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime morte homens violência igualdade medo estudo mulheres doméstica agressor