Raiva e introspecção em Cabul depois da morte brutal de uma afegã
O homicídio da jovem de 27 anos por uma multidão galvanizou o Afeganistão de uma forma que nenhuma outra atrocidade tinha conseguido. (...)

Raiva e introspecção em Cabul depois da morte brutal de uma afegã
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.78
DATA: 2015-05-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: O homicídio da jovem de 27 anos por uma multidão galvanizou o Afeganistão de uma forma que nenhuma outra atrocidade tinha conseguido.
TEXTO: Em vida, Farkhunda seria um exemplo improvável da luta pelos direitos da mulher no Afeganistão. Vestia-se todos os dias com a peça de roupa que lhe cobria o corpo dos pés à cabeça, preferida pelas mulheres muçulmanas conservadoras. Estudava numa escola islâmica. Acreditava, de acordo com o seu pai, que as mulheres deveriam ser educadas para cuidarem dos filhos, assegurarem as tarefas domésticas e fazerem os maridos felizes. Depois de morta, no entanto, Farkhunda tornou-se num rosto dos direitos das mulheres. O homicídio brutal da jovem de 27 anos por uma multidão, na semana passada, galvanizou este país de uma forma que nenhuma outra atrocidade tinha conseguido. Libertou as frustrações enraizadas na sociedade em relação à violência diária que fica sem punição, e sublinhou a luta contínua entre os antigos costumes do Afeganistão e as leis modernas. “Até hoje, não sei por que é que a minha filha foi morta”, disse o pai de Farkhunda, Mohammad Nader Malikzadah, numa entrevista na casa da família, na quinta-feira. “Ela estava inocente. ”Antes da entrevista, milhares de afegãos tinham protestado em frente ao Supremo Tribunal do país, debaixo de chuva, na maior manifestação até hoje em defesa de justiça para a morte de Farkhunda. “Punam os assassinos”, gritaram alguns. “Despeçam o responsável pela polícia”, exigiram outros. Algumas mulheres pintaram a cara de encarnado, simbolizando a face ensanguentada de Farkhunda – que, à semelhança de muitos afegãos, só usava um nome. A face ensanguentada foi uma das suas últimas imagens, depois de uma multidão a ter espancado com paus e pedras em frente a uma das mais veneradas mesquitas de Cabul, no dia 19 de Março. Foi acusada de queimar o Corão, um crime punível com a morte no Afeganistão, segundo a lei islâmica – as autoridades disseram mais tarde que ela não tinha cometido esse crime. Longa morte públicaApesar de os pormenores não serem claros, algumas testemunhas sugeriram que o ataque foi suscitado por uma discussão entre Farkhunda e o imã da mesquita. Seja como for, a multidão estava decidida a matá-la da forma mais horrível possível. Amarraram o corpo a um carro, arrastaram-no, queimaram-no e lançaram-no ao rio Cabul. A multidão demorou duas horas a matá-la, sob o olhar de outras centenas de pessoas e de polícias armados, que nada fizeram para salvar Farkhunda dos seus atacantes. A esquadra da polícia mais próxima estava a apenas cinco minutos a pé da mesquita. Muitas testemunhas tiraram fotografias e gravaram vídeos com os seus telemóveis. Azizullah Royesh, um conhecido activista, disse que muitos afegãos ficaram chocados com a morte pública de Farkhunda, sem que ninguém a tivesse tentado ajudar. A morte dela obrigou muitas pessoas a fazerem uma introspecção, “para verem a situação miserável em que elas próprias vivem”. Repensar tudo“Este ultraje é um tipo de reacção das pessoas contra o seu próprio silêncio, contra a sua própria indiferença”, disse Royesh. “É uma fase em que os afegãos começam a repensar tudo. ”O homicídio, e a condenação pública que se seguiu, não poderiam ter chegado numa altura pior para o Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani. Ensombrou a sua primeira visita oficial a Washington, onde está a tentar fazer passar a imagem do Afeganistão como um país no caminho certo, comprometido com a democracia e com o primado da lei, mas ainda a precisar de muita ajuda militar e económica dos Estados Unidos. Antes de ter partido para Washington, Ghani referiu-se ao ataque como um acto “odioso” e prometeu uma investigação profunda. As autoridades agiram de forma rápida, mais do que em qualquer outro caso de homicídio. Na terça-feira, o ministro do Interior, Noor ul-Haq Ulumi, anunciou a detenção de 28 suspeitos no homicídio de Farkhunda, e o despedimento de 20 polícias, incluindo o chefe da polícia local. “Estão todos a ser interrogados para determinar as razões por trás da ausência de protecção a Farkhunda e o falhanço no controlo da situação”, disse Ulumi. Mas essa negligência da polícia foi apenas o mais recente caso numa longa história de falhanços na protecção das mulheres afegãs. Na época em que estiveram no poder, os taliban negavam às mulheres o acesso à educação e ao emprego, e obrigavam-nas a usar a burqa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave crime direitos morte filha lei escola homicídio violência tribunal educação ataque mulher ajuda mulheres corpo morta
Peso do salário mínimo nos novos contratos sobe para 40%
Incidência da remuneração mínima nas novas contratações aumentou de 37,3% para 40,7% entre o primeiro trimestre de 2016 e o de 2017. Cerca de 730 mil trabalhadores têm salário base de 557 euros por mês. (...)

Peso do salário mínimo nos novos contratos sobe para 40%
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.136
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Incidência da remuneração mínima nas novas contratações aumentou de 37,3% para 40,7% entre o primeiro trimestre de 2016 e o de 2017. Cerca de 730 mil trabalhadores têm salário base de 557 euros por mês.
TEXTO: Mais de 40% dos trabalhadores contratados no primeiro trimestre de 2017 tinham uma remuneração base mensal equivalente ao Salário Mínimo Nacional (SMN), um aumento significativo face aos 37, 3% verificados em 2016 ou aos 32, 3% de 2015. Os dados constam do relatório do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do Ministério do Trabalho, apresentado nesta quinta-feira aos parceiros sociais, que permite contabilizar pela primeira vez o impacto da subida do SMN de 530 para 557 euros e traz dados novos sobre o contributo da remuneração mínima para a redução das desigualdades salariais entre os trabalhadores. Os dados do Fundo de Compensação do Trabalho (onde as empresas têm de registar todos os novos contratos, com excepção dos que têm duração igual ou superior a dois meses) mostram que a dinâmica das novas contratações tem vindo a acentuar-se e, no primeiro trimestre de 2017, foram registados 262. 500 contratos (mais 8, 5% do que no período homólogo) e cessaram 150. 000. Mas o peso do SMN nas novas admissões também aumentou: 40, 7% dos novos contratos tinham uma remuneração base mensal de 557 euros. No primeiro trimestre de 2016, a proporção era de 37, 3%. Ao todo, no final de Março, cerca de 730 mil trabalhadores estavam abrangidos pelo salário mínimo, mais 13, 9% do que no período homólogo. Recorrendo aos registos da Segurança Social, o GEP conclui que o peso dos trabalhadores abrangidos pelo SMN no total das remunerações declaradas passou de 20, 7% para 22, 9%. Contudo, refere o GEP, “o crescimento do volume de trabalhadores abrangidos pelo SMN resultante da actualização [de Janeiro de 2017] foi inferior ao que resultou quer da actualização de 2016, quer da actualização de Outubro de 2014”. Feitas as contas, mais de um quinto dos trabalhadores (excepto funcionários públicos e trabalhadores independentes) tinham um salário base equivalente a 557 euros. O debate em torno do impacto dos aumentos do SMN no emprego não é consensual e, ao longo do relatório, o Ministério do Trabalho coloca em evidência alguns dados para defender a sua tese. Analisando as diferentes fontes estatísticas e administrativas, a tutela de Vieira da Silva conclui que “o comportamento dos principais indicadores do mercado de trabalho (…) prossegue positivo, não obstante os aumentos de 5% e 5, 1% [do SMN] realizados em 2016 e em 2017”. O relatório apresentado aos parceiros sociais defende ainda que a subida do SMN não tem uma grande influência nos salários convencionais que “parecem ter uma maior relação com o ciclo económico. Com efeito, alerta o GEP, “não parece haver evidências de um forte impacto das actualizações do SMN nas componentes do ganho e dos salários convencionais. O factor ganho tem tido, aliás, uma evolução muito reduzida desde 2010, o que reflecte a compressão e posterior moderação salarial na economia”. O relatório traz dados novos sobre a incidência do SMN nos vários sectores de actividade e por região concluindo que a remuneração mínima é particularmente expressiva na indústria transformadora (21, 6% do total de trabalhadores declarados), no comércio (20, 9%) e no alojamento e restauração (12%). O Norte (41, 2%) e a Área Metropolitana de Lisboa (26, 1%) são as regiões onde se concentram mais de metade dos trabalhadores com remuneração mínima. O GEP faz uma análise mais fina, comparando o peso de determinados grupos de trabalhadores no emprego total com a sua representatividade quando se trata do salário mínimo. Nessa perspectiva os dados apontam para resultado diferentes, concluindo-se que o alojamento e restauração (38, 5%), a agricultura (36, 8%), as actividades imobiliárias (29, 1%) e a construção (28, 9%) estão sobre-representados no salário mínimo. Tal como já apontava o documento relativo ao último trimestre de 2016, a remuneração mínima incide sobretudo nas mulheres, nos trabalhadores com baixas qualificações e nas empresas com menos de 10 trabalhadores. Embora a incidência do SMN nos trabalhadores jovens seja de apenas 9, 9% (muito abaixo da verificada nos outros escalões etários), o GEP alerta que esta percentagem é bastante superior ao peso dos trabalhadores com menos de 25 anos no total do emprego (que não vai além dos 7, 4%). O GEP apresenta dados novos sobre a relação entre o salário mínimo e a pobreza, concluindo que o aumento do SMN “constitui um importante mecanismo no âmbito de uma política de combate à pobreza e à exclusão social”. Ao mesmo tempo, e analisando os rácios de desigualdade apurados a partir das remunerações declaradas à Segurança Social, observa-se “uma ligeira melhoria das assimetrias salariais entre a base e a mediana e o topo da distribuição salarial”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. As desigualdades extremas, nota o GEP, diminuíram. E exemplifica: o rácio entre as remunerações dos 10% de trabalhadores com remunerações mais elevadas e os 10% com remuneração mais baixas diminuiu de 5, 31 em Outubro de 2014 para 4, 84 em Janeiro de 2017. Já a comparação entre os 20% com rendimentos mais altos e o escalão de 20% de rendimentos mais baixos, no mesmo período, melhorou de 3, 93 para 3, 60. Esta correcção das assimetrias na distribuição dos rendimentos, defendem os autores do relatório, decorre sobretudo do aumento dos rendimentos dos trabalhadores que estão na base da distribuição salarial, pelo que, além do potencial no combate à pobreza, a remuneração mínima “pode assumir um papel relevante na promoção de melhores níveis de igualdade salarial”.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave exclusão social igualdade mulheres pobreza salário
25 anos depois, os Prodigy de sempre são os bons Prodigy
No segundo dia do NOS Alive, os Prodigy foram iguais a si mesmos e isso era tudo o que lhes podíamos pedir. Os Mumford & Sons quiseram mostrar a sua nova vida e perderam-se pelo caminho. (...)

25 anos depois, os Prodigy de sempre são os bons Prodigy
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.15
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: No segundo dia do NOS Alive, os Prodigy foram iguais a si mesmos e isso era tudo o que lhes podíamos pedir. Os Mumford & Sons quiseram mostrar a sua nova vida e perderam-se pelo caminho.
TEXTO: Olhamos para o palco e pouco conseguimos distinguir entre as "flashadas" de luz. Olhamos para os ecrãs e também nada se distingue: a imagem vem num preto e branco em que surgem recortadas silhuetas vagas. Não vemos, mas ouvimos. O som frenético e diabólico de uma rave em roda livre, de um concerto punk apocalíptico, de um concerto rock (estão lá baixo, guitarra e bateria) que é também electrónica de sintetizadores sinistros e ritmos quebrados. Os Prodigy chegaram ao fim da noite (0h30) para encerrar o palco principal NOS Alive. Não haver novidade no que mostraram foi tudo menos um problema. O pouco memorável segundo dia do NOS Alive não nos ofereceu nenhum concerto arrebatador (reportamo-nos ao que vimos, naturalmente, dado que num festival desta dimensão é impossível ver tudo), mas os melhores momentos chegaram de “velhos” conhecidos. Foi o caso, no palco NOS Clubbing, da Batida criada por Pedro Coquenão, que reúne à sua volta uma imensa trupe e que é um verdadeiro festim para os sentidos pela riqueza dos ritmos mesclados (África nova e África antiga, Angola e Portugal unidos no mesmo gesto), pela união de performance de palco, com dança e coreografia livre, e de montagens vídeo que tanto nos mostravam o carnaval de Luanda (e Alegria chegou para a despedida) como serviam de homenagem a um gigante da rádio (e eis António Sérgio recordado). Foi também o caso de Capicua, que encheu o mesmo palco, de si já lotado, com a verve admirável que trouxe ao hip hop português, capaz de ternura (Casa no campo), de festa bem afinada (a inevitável Vayorken) e de denúncia consequente (a magnífica Medo do medo e a não menos magnífica Medusa, desarmante no retrato do flagelo da violência doméstica, que trouxe o convidado Valete a palco). Apoiada pela habitual companheira de palco M7, suportada pelas ilustrações em tempo real que ofereciam no ecrã uma nova camada de leitura da música, mostrou uma vez mais que é uma rapper necessária e em estado de graça. No dia em que os Future Islands provocaram uma onda de entusiasmo no palco Heineken, com o público tão rendido ao synth pop e cintilância 80s da música, quanto à incontida e histriónica dança do vocalista Samuel T. Herring, nesse dia em que James Blake regressou para, uma vez mais, mostrar as suas canções rarefeitas, voz erguendo-se sobre o silêncio, perante uma tenda gigantesca mas, ainda assim, pequena para todos os que queriam vê-lo à uma da madrugada, descobrimos quando o sol ainda brilhava no céu que os Bleachers, sendo de Nova Iorque, só podiam ser de New Jersey - e isso foi a novidade do dia que valeu a pena. Sem a enchente registada no primeiro dia, que levou 55 mil ao Passeio Marítimo de Algés para ver os Muse, mas com o recinto num corrupio constante de gente em deambulação, o público aglomerou-se frente ao palco principal, primeiro, para ver os Mumford & Sons. A banda trocou os coletes e as camisas brancas por casaco de cabedal, para condizer com o som eléctrico do novo álbum, e alternou entre o formato folk velha guarda, com contrabaixo, banjo e metais, e a nova vida eléctrica. Marcus Mumford cantou o lamento que redundará em catarse, naquele neo-folk cruzado com o tom épico legado pelos Arcade Fire, e ouviu-se I will wait ou, com o vocalista sentado à bateria, Lover of the light. O som saído de palco era cristalino e o público aproveitava cada momento em que a cadência rítmica aumentava e as guitarras e banjo seguiam a aceleração com convicção para improvisar pequenas danças de celeiro em rodopio. O som saído do palco continuava cristalino, mas canções de Wilder Wind como Believe, o primeiro single, ou, principalmente, Tompkins Square Park, ligação directa ao rock FM de má memória da década de 1980 (solo virtuoso incluído no início da canção e tudo), castravam o entusiasmo do público. Tudo somado, resultou num concerto soluçante que não deixará grande memória. Também não é certo que os Prodigy a deixem, mas o seu concerto foi isento de solavancos. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Arrancam com Breathe, um dos clássicos, e a partir daí, não serenam por um segundo. Keith Flint e Maxim, os dois vocalistas, correm, esperneiam e cantam como se o mundo estivesse para acabar naquele preciso momento (e eles nada preocupados). À segunda canção, já se vê uma tocha iluminar-se entre o público. Quando chega Firestarter, outro clássico, já se abriu uma gigantesca roda de mosh, e ilumina-se outra tocha enquanto os corpos chocam na agressividade sem violência da dança. No palco, a banda toca sob uma torrente de flashes. Na plateia, vive-se uma euforia que ainda não tinha sido testemunhada no segundo dia de NOS Alive, misto de nostalgia pela memória que a música evoca e reacção instintiva à intensidade do som. Um fluxo contínuo, em que a indispensável Smack my bitch up convive sem sobressaltos com Rok-weiler, uma das novas de The Day Is My Enemy, álbum editado este ano. Não houve segredo nenhum, não houve espaço para qualquer surpresa. Foram os Prodigy de sempre. Não podíamos pedir melhor. O NOS Alive termina este sábado. Os Jesus & Mary Chain a interpretar Psychocandy, Disclosure, Azaelia Banks, Sleaford Mods, Mogwai, Sam Smith ou Dead Combo são alguns dos concertos em destaque.
REFERÊNCIAS:
Um casamento real, moderno e cheio de significado
Harry e Meghan, os novos duques de Sussex, casaram ao meio-dia, numa cerimónia ecuménica, onde a noiva caminhou sozinha até junto do noivo e um coro gospel cantou Stand By Me. (...)

Um casamento real, moderno e cheio de significado
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.4
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Harry e Meghan, os novos duques de Sussex, casaram ao meio-dia, numa cerimónia ecuménica, onde a noiva caminhou sozinha até junto do noivo e um coro gospel cantou Stand By Me.
TEXTO: Foi um dia animado na pequena cidade de Windsor, onde dezenas de milhares de pessoas se concentraram para cumprimentar o príncipe Harry, 33 anos, e Meghan Markle, 36 anos. Os novos duques de Sussex – título atribuído pela rainha –, sempre sorridentes, casaram ao meio-dia na Capela de S. Jorge, numa cerimónia ecuménica cheia de significado, com cerca de 600 convidados, entre grandes nomes de Hollywood, atletas e membros da família real. O aguardado beijo aconteceu logo à saída da capela, antes do casal partir para um cortejo de cerca de meia hora pelas ruas de Windsor, numa carruagem Ascot Landau. As celebrações dividiram-se depois em duas recepções: uma organizada pela rainha Isabel II, logo após a cerimónia, no Castelo de Windsor, à qual se seguiria outra organizada pelo príncipe Carlos, o pai, ao final da tarde, em Frogmore House, para um número mais reduzido de convidados. Seguida do grupo de pajens e damas de honor, Markle entrou sozinha na capela, juntando-se depois ao futuro sogro, o príncipe de Gales, apenas a meio do caminho. O gesto feminista da actriz – que em 2015 se tornou representante das Nações Unidas para a igualdade de género – já era esperado, depois de uma semana marcada pelas notícias que o pai, afinal, não iria estar presente. Parte do momento em que a Meghan se juntou ao Harry fugiu às câmaras, mas foi possível ver que, ao contrário do que aconteceu em 2011, no casamento de William e Kate, ninguém depositou a mão da noiva na mão do futuro marido. Foi a cargo de Clare Waight Keller, a primeira mulher à frente da direcção criativa da Givenchy, que ficou o vestido da noiva. Markle optou por um design simples e elegante, um decote em barco e mangas de três quartos. No véu de cinco metros de tule de seda foram bordadas à mão flores representativas da flora dos 53 países da Commonwealth. A segurar o véu, estava ainda a tiara de diamantes que pertenceu à rainha Maria, mulher de Jorge V (e trisavó de Harry). Foi emprestada à noiva pela rainha Isabel II. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A efusiva homilia do chefe da Igreja Episcopal norte-americana Michael Bruce Curry foi um dos momentos altos da cerimónia. Durante cerca de 13 minutos, o bispo falou sobre como o amor é como o fogo, citou Martin Luther King, mencionou a escravatura no EUA e descreveu as tecnologias modernas que nos ligam – enquanto discursava espreitando para o seu tablet. Apesar das caras austeras da realeza, o consagrado pregador ainda conseguiu roubar alguns sorrisos aos noivos e mesmo risos aos convidados. Esta foi uma cerimónia onde houve um equilíbrio entre a música clássica e o gospel. Do lado de Meghan Markle, no coro da igreja, sentaram-se figuras como George e Amal Clooney, Oprah Winfrey e Serena Williams. Do lado de Harry, a rainha Isabel II e todos os principais membros da família real. No casamento estiveram ainda presentes David e Victoria Beckham, o cantor James Blunt, o apresentador James Corden, a actriz Priyanka Chopra e duas das ex-namoradas de Harry. Ao contrário do que acontece noutros casamentos reais, o casal optou por não incluir uma lista de líderes políticos. A meio da tarde, a conta do Twitter do Palácio de Kensington já tinha mudado a fotografia e descrição, passando agora a incluir Meghan Markle. Como o próprio príncipe Harry mencionou recentemente, quando foi nomeado embaixador da juventude da Commonwealth, espera-se que a norte-americana se junte a si, no trabalho a serviço da coroa. Harry e Meghan são a nova dupla de Kensignton.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Meghan Markle veste Givenchy (e Stella McCartney)
O vestido de casamento de Meghan Markle foi desenhado por Clare Waight Keller (...)

Meghan Markle veste Givenchy (e Stella McCartney)
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: O vestido de casamento de Meghan Markle foi desenhado por Clare Waight Keller
TEXTO: O vestido de casamento de Meghan Markle foi desenhado por Clare Waight Keller, a primeira mulher à frente da direcção criativa da Givenchy. Com um corte elegante e minimalista, o vestido tem um decote em barco, que destaca os ombros, e mangas de três quartos. Markle conheceu Keller no início de 2018 e escolheu trabalhar com a criadora "devido à sua estética elegante e intemporal, costura impecável e conduta calma" e de forma a poder "destacar o sucesso de um talento britânico", que já trabalhou em Pringle of Scotland, Chloé e, na presente, Givenchy, justifica o Palácio de Kensington, em comunicado. "Markle expressou o desejo de ter todos os 53 países da Commonwealth consigo", escreve o Palácio de Kensington. Assim, no véu de tule de seda de cinco metros foi bordado à mão uma composição de flores representativas da flora dos inúmeros territórios. Como o próprio príncipe Harry mencionou recentemente, quando foi nomeado embaixador da juventude da Commonwealth, Markle irá também trabalhar de perto com esta comunidade internacional. Assim, "quis expressar a sua gratidão" de forma simbólica, explica o Palácio de Kensignton. A segurar o véu está a tiara de diamantes e platina que pertenceu à rainha Maria, que casou com Jorge V (trisavó de Harry). É o "algo emprestado" de Meghan, já que foi Isabel II que lha emprestou. A noiva usa ainda brincos e uma pulseira da Cartier. Sobre os sapatos, o palácio avançou apenas que se baseavam num design de couture pontiagudo da Givenchy. À saída da primeira recepção, ainda no Castelo de Winsdor, os noivos apareceram uma última vez frente às câmaras por volta das 19h, a entrar no carro para se dirigirem para Frogmore House. Para a segunda recepção, Markle escolheu um vestido Stella McCartney de crepe de seda com um decote alto e uma gola, nos pés usou Aquazzura. "Sinto-me tão orgulhosa e honrada por ter sido escolhida pela duquesa de Sussex para fazer o seu vestido de noite e representar o design britânico. Foi verdadeiramente um dos momentos mais humildes da minha carreira", diz a criadora em comunicado, citada pela CNN. Enquanto acenava às câmaras, foi possível ver o anel azul que pertenceu outrora à princesa Diana, na mão direita de Markle. Terá sido, ao que tudo indica, um presente de casamento de Harry, escreve o Independent. Tal como a noiva (e grande parte dos convidados), também o príncipe mudou de roupa para a segunda recepção. Em vez do mais formal uniforme militar, vestiu um fato preto com laço. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Entre as várias flores que compunham o bouquet da noiva, o casal fez questão que estivessem incluídos miosótis (em inglês, forget-me-nots), em honra da mãe de Harry, já que eram as preferidas da princesa Diana. O próprio príncipe colheu algumas flores do seu jardim privado no Palácio de Kensington, no dia antes do casamento, para acrescentar ao ramo. Não estaria completo, claro, sem as flores de murta – uma tradição começada pela rainha Vitória. Clare Waight Keller desenhou também, no atelier de haute couture da Givenchy, os vestidos das seis pequenas damas de honor, que acompanharam Meghan Markle, no caminho ao altar. Já os pajens, vestiram uma versão em miniatura do casaco dos Blues and Royals, um dos regimentos de cavalaria do exército britânico – aquele cujo uniforme William e Harry usaram. Os pequenos uniformes foram feitos pela alfaiataria Savile Row Dege & Skinner. A notícia foi actualizada dia 21 às 12h10. Foi acrescentada informação sobre o segundo vestido.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave mulher rainha comunidade princesa casamento
Quando os atletas não merecem medalhas
Parecem super-heróis, mas alguns atletas de elite erram como os cidadãos comuns. O caso recente de Michael Phelps lembrou-nos disso. Entre Jogos Olímpicos e Mundiais de Natação, soma 55 medalhas (44 delas de ouro) e é recordista em ambos os eventos. Mas é outra contabilidade, indesejável, que domina a sua actualidade: foi detido por conduzir embriagado pela segunda vez em dez anos. (...)

Quando os atletas não merecem medalhas
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
SUMÁRIO: Parecem super-heróis, mas alguns atletas de elite erram como os cidadãos comuns. O caso recente de Michael Phelps lembrou-nos disso. Entre Jogos Olímpicos e Mundiais de Natação, soma 55 medalhas (44 delas de ouro) e é recordista em ambos os eventos. Mas é outra contabilidade, indesejável, que domina a sua actualidade: foi detido por conduzir embriagado pela segunda vez em dez anos.
TEXTO: É o mais medalhado em Jogos Olímpicos e integra necessariamente a lista reduzida de candidatos a melhor atleta da história, mas Michael Phelps nem sempre tem conseguido agir como um modelo a seguir. Nos últimos dias, o seu comportamento foi notícia por ser um exemplo a não imitar. O nadador foi preso na semana passada por conduzir em excesso de velocidade e, mais grave, sob o efeito de álcool. Esta foi a segunda vez em dez anos que o norte-americano foi detido e acusado por conduzir embriagado. Para um desportista de elite, a fama e o sucesso não são sinónimo de uma vida sem erros (mais ou menos condenáveis). Phelps não é caso único. Neste sentido, não são muito diferentes das outras pessoas. Para o melhor e, neste caso, para o pior. Phelps, depois de passar oito horas a jogar cartas num casino de Baltimore, a sua cidade-natal, foi mandado parar pela polícia devido a uma condução “suspeita” e depois de o seu Land Rover atingir 135 km/h numa estrada com limite de 72 km/h. O relatório policial especifica que Phelps “teve dificuldade em manter o equilíbrio e falar” e revela que o nadador apresentou uma taxa de álcool no sangue de 0, 14%, superior ao valor máximo legal (0, 08%) no estado de Maryland. O atleta de 29 anos vai a julgamento no início de Novembro e arrisca uma pena de prisão que pode ir até um ano. É justo, neste sentido, que vejamos os desportistas de elite como modelos a seguir? “São pessoas que servem de referência para muita gente, porque são um exemplo de excelência humana. Nesse sentido, é natural que sejam vistos como um modelo a seguir. Isso acontece e não se pode contornar”, afirma, ao PÚBLICO, Duarte Araújo, professor de Psicologia do Desporto da Faculdade de Motricidade Humana. “Contudo, essa excelência é circunscrita a alguns campos de acção. O problema é quando achamos que têm de ser excelentes em tudo o que fazem. Ninguém é assim. Nem os atletas de elite, nem nós que os julgamos”. Erram como os humanos anónimos. Segundo Duarte Araújo, nalguns casos, a preparação destes atletas de elite está tão focada no treino que pode descuidar outros aspectos formativos. “Por vezes, cometem erros de principiante, de quem sabe pouco viver fora da competição. O treino é tão absorvente que não se sabe viver fora dali”. Ryan Lochte, amigo e adversário de Phelps, criticou, por exemplo, o facto de este não ter contratado um motorista: “Foi uma coisa estúpida de fazer”. Ainda para mais, esta é a segunda vez que Phelps tem problemas com a lei pelo mesmo motivo, que pode colocar a sua vida e a de outros em perigo. Em 2004, pouco tempo depois de ganhar seis medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas, e quando tinha 19 anos, também foi apanhado a conduzir alcoolizado (assumiu a culpa e recebeu 18 meses de pena suspensa). Então, tal como actualmente, pediu desculpa e reconheceu o seu erro. O campeão olímpico admitiu agora ter um problema e anunciou que vai fazer reabilitação. “Não foi o meu primeiro erro de julgamento e estou desapontado comigo. A natação é uma grande parte da minha vida, mas agora preciso de focar a atenção em mim como indivíduo e fazer o trabalho necessário para aprender com esta experiência e tomar melhores decisões no futuro”, afirmou. Para já, este incidente teve consequências desportivas. A Federação de Natação dos EUA suspendeu-o durante seis meses, até Abril de 2015, por violação do Código de Conduta da organização, e o nadador concordou também, apesar de a prova começar em Julho, não participar no Campeonato do Mundo do próximo ano, o último grande evento internacional antes dos Jogos do Rio de Janeiro. Desta forma, provavelmente está encerrada a carreira de Phelps no que aos Mundiais diz respeito. Ele tem 22 medalhas olímpicas, 18 delas de ouro (o dobro dos segundos da lista), mas nos Mundiais, em que soma 26 títulos e mais sete pódios, também não há quem lhe chegue aos calcanhares. Apesar da inactividade competitiva, à partida o castigo não deverá mexer decisivamente com a sua preparação para os Jogos de 2016, que se supôs ser o seu grande objectivo quando anunciou o regresso em Abril passado, depois de ter anunciado a reforma após a participação em Londres 2012. As provas de qualificação para a selecção olímpica dos EUA só se realizam em Junho de 2016. O corte do subsídio mensal de 1750 dólares (1394 euros) enquanto durar a suspensão também não fará mossa no orçamento de um atleta que tem proveitos anuais de oito milhões de euros em publicidade. Mas o incidente e a suspensão serão sempre uma distracção. “Num caso destes, a consequência mais imediata para a carreira é que os atletas, de um momento para o outro, estão impedidos de fazer o que mais gostam. É um pouco tirar-lhes o sentido da vida. E estes casos oferecem à pessoa uma imagem que não é aquela em que ela sempre se viu retratada. Atinge a auto-estima, mesmo que possa não impedir essa pessoa de continuar a destacar-se desportivamente”, explica Duarte Araújo. Esta é a segunda suspensão que a federação norte-americana impõe à sua superestrela. Em 2009, castigou-o por três meses depois de surgir numa foto a consumir canábis durante uma festa universitária, embora esse caso tenha levantado igualmente questões sobre o seu direito à privacidade. O último incidente com Phelps aconteceu apenas alguns dias depois de Rob Bironas (36 anos), um antigo jogador da NFL, a Liga de futebol americano, ter morrido na sequência de um desastre de viação, em que também colocou em causa a segurança de outros condutores. Os exames posteriores revelaram níveis de álcool bem superiores ao permitido por lei. O caso de Bironas, mais os de violência doméstica dos mais famosos Ray Rice e Adrian Peterson, ensombraram o início de época da NFL. Mas os maus exemplos, mais ou menos graves, estão presentes em quase todos os desportos e não escapam a algumas das grandes figuras. O inglês Paul Gascoigne, um futebolista genial, acabou a carreira há dez anos, mas ainda é tópico recorrente na imprensa britânica, devido aos seus problemas relacionados com o alcoolismo, com as várias tentativas de reabilitação a fracassarem. O ex-defesa-central Tony Adams, uma referência do Arsenal, também foi viciado em álcool e esteve dois meses na prisão, em 1990, por conduzir embriagado. Na mesma modalidade, são bem conhecidos os problemas passados de Diego Armando Maradona, um dos melhores jogadores da história do futebol, com a droga, primeiro, e o álcool, depois. Uma das figuras mais controversas da modalidade, o argentino teve uma longa dependência da cocaína enquanto ainda era futebolista, tendo cumprido uma suspensão de 15 meses quando jogava no Nápoles, em Itália. Mais tarde, durante o Campeonato do Mundo de 1994, acusou a presença de efedrina num controlo antidoping e voltou a ser suspenso. A cocaína, de resto, é um ponto comum às histórias de outros atletas de elite que viram as suas carreiras marcadas negativamente por essa droga. Martina Hingis espantou o mundo do ténis nos anos 90 do século passado, com um jogo diferente do das adversárias. Chegou a n. º 1 mundial com apenas 16 anos e ganhou 15 torneios do Grand Slam (cinco individuais e dez em pares). Depois de problemas físicos terem ditado uma primeira retirada em 2003, a sua carreira foi efectivamente encurtada no final de 2007, quando acusou a presença de cocaína num teste antidoping. Em 2004, Marco Pantani, uma das figuras mais carismáticas para os adeptos do ciclismo italiano e internacional, conhecido como “O Pirata”, terá morrido com uma overdose de cocaína — entretanto, a justiça italiana reabriu a investigação sobre a sua morte por suspeitas de assassinato. A sua carreira, que teve como ponto alto a vitória na Volta a França de 1998, foi marcada por suspeitas de doping. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Menos conhecido é o caso de Len Bias, um jogador que parecia predestinado a ser uma estrela da NBA, mas nunca chegou a efectuar um único jogo na melhor Liga de basquetebol do mundo. Aos 22 anos, na noite seguinte a ser escolhido na 2. ª posição do draft de 1986 pelos Celtics, morreu de overdose de cocaína enquanto festejava a sua entrada no clube de Boston. Tim Montgomery, figura do sprint nos anos 90, perdeu o recorde mundial dos 100m devido ao recurso ao doping. Mais tarde, já retirado, o norte-americano foi condenado por fraude bancária e tráfico de heroína, crimes pelos quais passou quatro anos detido. Em 1989, Pete Rose, um dos melhores jogadores da história do beisebol, foi banido daquele desporto depois de se ter descoberto que apostou em jogos da modalidade, incluindo partidas em que foi protagonista como atleta ou como treinador. No críquete, é famoso o caso de Hansie Cronje, estrela da África do Sul caída em desgraça depois de ter sido revelado que aceitou subornos para viciar resultados de jogos.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Uma retrospectiva da história feminista (e não muito feminista) da Mulher-Maravilha
Em 1942, a Mulher-Maravilha revela-se tão popular que ganha uma banda-desenhada própria na Sensation Comics. (...)

Uma retrospectiva da história feminista (e não muito feminista) da Mulher-Maravilha
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.1
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170602170556/http://publico.pt/1774201
SUMÁRIO: Em 1942, a Mulher-Maravilha revela-se tão popular que ganha uma banda-desenhada própria na Sensation Comics.
TEXTO: Durante a II Guerra Mundial, enquanto o Super-Homem e o Batman emergiam como símbolos pop dominantes de força e de moralidade, a editora que viria a tornar-se a DC Comics precisava de um antídoto para aquilo a que um psicólogo de Harvard chamava o pior crime das bandas-desenhadas de super-heróis: a “masculinidade aterradora”. Afinal, este psicólogo (William Moulton Marston) tinha um plano para combater este crime – sob a forma de uma guerreira com as estrelas e as listas da bandeira americana, que conseguia escapar constantemente às amarras de um mundo masculino de orgulho e preconceito desmedido. Essa criação foi Diana Prince, que ao chegar à América, vinda da sua isolada Ilha do Paraíso, assumiu a identidade de Mulher-Maravilha. Por um lado, Marston era um homem com ideias políticas progressistas, que declarava com entusiasmo que estava em curso um grande movimento das mulheres. Por outro lado, ele também personificava algumas ideias primitivas. Marston insistia que a Mulher-Maravilha estivesse acorrentada ou presa de alguma maneira em todos os capítulos, dizendo ao seu editor da DC que “as mulheres gostam de submissão” – mesmo quando este acorrentar torturante gerou críticas por parte dos leitores. Mas Marston também estava bem ciente de que o “romper de amarras” era um poderoso símbolo feminista de emancipação. E Marston – cujo trabalho científico conduziu ao desenvolvimento do teste de detecção de mentiras – também equipou a Mulher-Maravilha com o Laço da Verdade dourado e poderoso, que obriga quem for capturado por ele a contar a verdade. (Marston era pouco verdadeiro em relação a si próprio: vivia em segredo numa relação poliamorosa com duas feministas – a mulher, a advogada Elizabeth Holloway Marston, e a sua antiga aluna da faculdade, Olive Byrne, sobrinha de Margaret Sanger, a pioneira da pílula contraceptiva. Teve dois filhos com cada uma delas. )Vinda desta complexa história sobre sua origem, nascida de uma mente complicada, a Mulher-Maravilha estreou-se na All-Star Comics em 1941. Na véspera da estreia do novo filme Mulher-Maravilha – que, sendo a primeira longa-metragem a solo da personagem, também riposta contra o domínio dos super-heróis masculinos no mercado – apresenta-se aqui uma cronologia da história feminista (e pouco feminista) da Mulher-Maravilha. 1941: A criação: Segundo a tradição, inicialmente Marston não pensou numa personagem feminina quando imaginou um super-herói menos masculino do que o Super-Homem. Mas, posteriormente, Marston caracteriza esta solução como natural, afirmando: “As qualidades fortes das mulheres têm-se tornado odiadas por causa da fraqueza delas. A solução óbvia é criar uma personagem feminina com a mesma força do Super-Homem e também com o encanto de uma mulher bondosa e bela. ”Ao ser contratado como conselheiro editorial na All-American/Detective Comics, Marston vende a sua personagem da Mulher-Maravilha ao editor, sob o acordo de as suas histórias destacarem “o crescimento do poder das mulheres”. Ele une-se ao artista homem Harry G. Peter (e não a uma mulher) para criar o fato da Mulher-Maravilha, que mostra muito o corpo e inclui uma tiara. A Mulher-Maravilha aparece pela primeira vez no All-Star Comics Nº8, usando pulseiras parecidas às que usava Byrne (a antiga aluna de Marston que se tornou sua amante). De acordo com a prosa da Mulher- Maravilha, as pulseiras tinham sido “construídas pelos nossos captores” como símbolos físicos de que “temos de nos manter sempre distantes dos homens”. Jill Lepore, da The New Yorker, autora do livro The Secret History of Wonder Woman, escreve que o aspecto da Mulher-Maravilha – com uma alusão às sensuais “Varga Girls” da época – é “a sufragista como pinup”. Primavera de 1942: “Parte do grupo dos rapazes” – mais ou menos: Ao fim de meia-dúzia de edições do All-Star Comics, a Mulher-Maravilha torna-se membro honorário da Liga da Justiça da América, mas, durante muito tempo, a sua posição oficial continua a ser de “secretária” – uma distinção surpreendente, em comparação com os outros heróis. Verão de 1942: Estrelato a solo: A Mulher-Maravilha revela-se tão popular que ganha uma banda-desenhada própria na Sensation Comics. Como escreve Martin Pasko no seu livro The DC Vault, a ascensão da Mulher-Maravilha foi garantida “por uma epidemia de veneração de heróis que se viria a apoderar da ‘frente interna’ enquanto os homens iam para a guerra”. À medida que Rosie the Riveter se torna um ícone e as mulheres assumem o lugar dos homens nos EUA, os leitores de todas as idades aceitam mais facilmente a heroína feminina dura e musculada. Dentro de poucos anos, a Mulher-Maravilha tem dez milhões de leitores e a sua própria banda-desenhada, publicada em vários jornais em simultâneo. Década de 1950: A ascensão do romance novelesco: A reacção exagerada do Congresso americano face às conclusões questionáveis do psiquiatra Fredric Wertham — autor do livro Sedução dos Inocentes, sobre os “efeitos” da banda-desenhada nas crianças — leva à criação do Comics Code Authority — essencialmente, o consentimento por parte dos editores em moderar os conteúdos. Como resultado desta medida repressiva, as bandas-desenhadas de super-heróis e de terror declinam e as histórias românticas crescem. Seguindo esta tendência, Diana Prince – que abandonou a Ilha do Paraíso, habitada apenas por mulheres, com o herói militar Steve Trevor, cujo avião se tinha despenhado – torna-se uma figura com uma mentalidade mais doméstica, cujos pensamentos estão muitas vezes centrados no casamento e em ser modelo, quando não está a trabalhar como cronista dedicada a “corações solitários”. Final da década de 1960: Rendição total: o sacrifício fica completo: Diana decide abdicar dos seus superpoderes para poder ficar perto de Steve. Duas décadas depois da morte de Marston, a narrativa está muito longe das intenções expressas pelo criador, quando este escrevera: “A Mulher-Maravilha é propaganda psicológica para um novo tipo de mulher que devia, creio eu, mandar no mundo. ”1972: Figura de capa: A Mulher-Maravilha reforça a sua percepção como ícone feminista ao aparecer na primeira capa da revista Ms. , de Gloria Steinem, ligando desta forma a sua imagem ao movimento dos direitos das mulheres. 1973-1975: Estrelato feminino: A Mulher-Maravilha aumenta a sua presença e popularidade na televisão, quando participa na série de animação Super Friends; faz a sua estreia no pequeno ecrã em live-action, com um telefilme de 1974 protagonizado por Cathy Lee Crosby; e, posteriormente, obtém a sua própria série de televisão nomeada para os Emmy, protagonizada pela icónica Lynda Carter. A Mulher-Maravilha “engloba todos os aspectos excelentes e poderosos de ser mulher e Lynda levou tudo a sério”, disse ao fansite da DC Comics Marc Andreyko, autor da série de banda-desenhada Wonder Woman ’77. 1997-1999: A série afunda-se: A NBC desenvolve uma nova série de live-action em que Diana Prince vai trabalhar como professora de História Grega na UCLA. Apesar de iniciativas de casting a nível nacional, a série é cancelada antes de se filmar um único frame. Entretanto, na banda-desenhada, John Byrne escreve uma série memorável da Mulher-Maravilha em meados dos anos 90, onde a apresenta como uma deusa musculada. 2009: Apontar para um regresso: A Mulher-Maravilha volta a ter um sucesso a solo nos ecrãs. Keri Russell dá voz à super-heroína amazona no filme animado directo para DVD Wonder Woman, da WB/DC, realizado por Lauren Montgomery. Setembro de 2016: Os rumores são verdade: O autor da DC Greg Rucka confirma a crença de longa data de que a Mulher-Maravilha é canonicamente gay . Rucka diz ao site Comicosity: “Pelos nossos padrões, na minha posição actual… Themyscira [Ilha do Paraíso] é cultura queer. Não estou a fugir a isso. Quem quiser ser ambíguo em relação a isto está a ser parvo. ”Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Outubro-Dezembro de 2016: Embaixadora Prince: As Nações Unidas nomeiam a Mulher-Maravilha como embaixadora honorária, com a intenção de a transformar em mais do que uma heroína que combate o crime e luta contra supervilões, de modo a ajudar a consciencializar as pessoas para a igualdade de género e para “a capacitação das mulheres e das raparigas como componente crucial para um mundo pacífico e próspero”. No entanto, em Dezembro, as Nações Unidas livram-se da Mulher-Maravilha depois de muitos dos seus funcionários terem protestado contra uma personagem que afirmam, numa petição, ser uma figura fortemente sexualizada – “a epítome de uma pinup girl” que agora personifica “uma mulher branca de seios grandes e proporções impossíveis, muito pouco vestida num fato brilhante que revela as coxas, com um padrão da bandeira americana e botas até ao joelho. ”2 de Junho de 2017: A passadeira vermelha decorada com a bandeira americana: Mulher-Maravilha marca o primeiro filme a solo para uma heroína do Universo Alargado da DC (DCEU) e o primeiro filme da DCEU a ser realizado por uma mulher, Patty Jenkins. Mas, ainda assim, Jenkins diz à secção Comic Riffs do Washington Post: “Não me considero uma cineasta mulher e não penso no Mulher Maravilha como um filme feminino — é sobre um herói”.
REFERÊNCIAS:
Entidades EUA
Dia da Criança: da Operação Nariz Vermelho a debates sobre género
Em todo o país, o dia é assinalado com exposições, teatros, debates, passeios e visitas. (...)

Dia da Criança: da Operação Nariz Vermelho a debates sobre género
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
SUMÁRIO: Em todo o país, o dia é assinalado com exposições, teatros, debates, passeios e visitas.
TEXTO: O Dia da Mundial da Criança assinala-se esta quinta-feira com iniciativas que vão desde uma Operação Nariz Vermelho a um debate sobre género na infância ou a uma peça de teatro protagonizada por pessoas com deficiência. Logo de manhã, o primeiro-ministro António Costa vai estar na escola EB1/JI Eng. Ressano Garcia, onde vai decorrer uma iniciativa da Operação Nariz Vermelho, à qual se junta o ministro da Educação. Também durante a manhã, a Direcção-Geral de Saúde organiza um encontro sob o tema "Saúde, Género e Violência Interpessoal", onde vai ser discutida a dimensão da igualdade de género nos cuidados a crianças e jovens, além de um debate sobre a convenção dos direitos das crianças, uma mesa redonda sobre "Boas práticas na prevenção dos maus-tratos em crianças e jovens", bem como uma discussão sobre os desafios e inovações das vacinas. As comemorações em Lisboa incluem ainda a peça de teatro "Olívia e Eugénio, uma lição de amor", protagonizada pela actriz Rita Ribeiro e pelos actores Tomás de Almeida e Nuno Rodrigues, os dois com síndrome de Down. No Porto, as celebrações do Dia Mundial da Criança incluem uma sessão protocolar organizada pelo Centro Hospitalar de São João, a apresentação do "Guia de Boas Práticas para a Audição da Criança em Tribunal", um manual dirigido aos magistrados e todos os funcionários que tenham de lidar com os mais jovens. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Paralelamente, estão marcadas iniciativas um pouco por todo o país, desde uma "Festa da Criança em Ambiente e Segurança", em Oeiras, um espectáculo com o "Avô Cantigas", no Seixal, um passeio com cerca de 30 crianças com doenças raras em Tavira, ou um desfile em Tomar, com a participação de duas mil crianças. Lugar também para uma acção do Comando Metropolitano da Polícia de Segurança Pública em parceria com a Câmara Municipal de Cascais que inclui exposição de meios policiais, demonstração do grupo cinotécnico ou distribuição de brindes. No mesmo local, a PSP apresenta a sexta edição do programa "Estou Aqui", de distribuição de pulseiras gratuitas para ajudar os pais e educadores a localizar crianças entre os dois e os 10 anos que estejam perdidas. Em Coimbra vai ser inaugurada uma galeria de fotos de ex-directores clínicos do Hospital Pediátrico e a escultura de Cabral Antunes, "A Maternidade", junto à portaria principal.
REFERÊNCIAS:
Entidades PSP
Salário mínimo abrange 730 mil trabalhadores em 2017
A subida para os 557 euros, em Janeiro, levou a um aumento dos trabalhadores a receber remuneração mínima, que são agora 22,9% do total. (...)

Salário mínimo abrange 730 mil trabalhadores em 2017
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-06-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170602173830/https://www.publico.pt/1774222
SUMÁRIO: A subida para os 557 euros, em Janeiro, levou a um aumento dos trabalhadores a receber remuneração mínima, que são agora 22,9% do total.
TEXTO: Cerca de 730 mil trabalhadores tinham, em Março de 2017, uma remuneração igual ao salário mínimo, o que representa um aumento de 13, 9% em relação ao mesmo período de 2016. O relatório do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) do Ministério do Trabalho, apresentado nesta quinta-feira aos parceiros sociais, permite contabilizar pela primeira vez o impacto da subida do Salário Mínimo Nacional (SMN) de 530 para 557 euros e traz dados novos sobre o contributo da remuneração mínima para a redução das desigualdades salariais entre os trabalhadores. Recorrendo aos dados da Segurança Social, o GEP conclui que o peso dos trabalhadores abrangidos pelo SMN no total das remunerações declaradas passou de 20, 7% (em Março de 2016) para 22, 9% (em Março de 2017). Mas nota que “o crescimento do volume de trabalhadores abrangidos pelo SMN resultante da actualização [de Janeiro de 2017] foi inferior ao que resultou quer da actualização de 2016, quer da actualização de Outubro de 2014”. Na prática, mais de um quinto dos trabalhadores que declararam remunerações (excepto funcionários públicos e independentes) tinham, no final do primeiro trimestre de 2017, um um salário bruto de 557 euros. O GEP apresenta dados novos sobre a relação entre o salário mínimo e a pobreza, concluindo que o aumento do SMN “constitui um importante mecanismo no âmbito de uma política de combate à pobreza e à exclusão social”. Ao mesmo tempo, e analisando os rácios de desigualdade apurados a partir dos dados das remunerações declaradas à Segurança Social, observa-se “uma ligeira melhoria das assimetrias salariais entre a base e a mediana e o topo da distribuição salarial”. ´As desigualdades extremas, nota o GEP, diminuíram. E exemplifica: o rácio entre as remunerações dos 10% de trabalhadores com remunerações mais elevadas e os 10% com remuneração mais baixas diminuiu de 5, 31 em Outubro de 2014 para 4, 84 em Janeiro de 2017. Já a comparação entre os 20% com rendimentos mais altos e o escalão de 20% de rendimentos mais baixos, no mesmo período, melhorou de 3, 93 para 3, 60. O GEP destaca que além do potencial no combate à pobreza, a remuneração mínima “pode assumir um papel relevante na promoção de melhores níveis de igualdade salarial”. O documento conclui ainda que o aumento do salário mínimo não teve efeitos nefastos no emprego. O volume médio de trabalhadores com remuneração permanente declarada à Segurança Social alcançou 3. 278. 500 pessoas no primeiro trimestre de 2017, mais 3, 8% do que no período homólogo. O relatório frisa que se trata do crescimento “mais elevado desde que o emprego começou a recuperar, em 2014” e destaca o crescimento homólogo de 8, 8% do emprego dos jovens. O relatório traz dados novos sobre a incidência do SMN nos vários sectores de actividade e por região e conclui que a remuneração mínima é particularmente expressiva na indústria transformadora (21, 6% do total de trabalhadores declarados), no comércio (20, 9%) e no alojamento e restauração (12%). O Norte (41, 2%) e a Área Metropolitana de Lisboa (26, 1%) são as regiões onde se concentram mais de metade dos trabalhadores com remuneração mínima. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O GEP faz uma análise mais fina, comparando o peso de determinados grupos de trabalhadores no emprego total com a sua representatividade quando se trata do salário mínimo. Nessa perspectiva os dados apontam para resultado diferentes, concluindo-se que o alojamento e restauração (38, 5%), a agricultura (36, 8%), as actividades imobiliárias (29, 1%) e a construção (28, 9%) estão sobre-representados no salário mínimo. Tal como já apontava o documento relativo ao último trimestre de 2016, a remuneração mínima incide sobretudo nas mulheres, nos trabalhadores com baixas qualificações e nas empresas com menos de 10 trabalhadores. Embora a incidência do SMN nos trabalhadores jovens seja de apenas 9, 9% (muito abaixo da verificada nos outros escalões etários), o GEP alerta que esta percentagem é bastante superior ao peso dos trabalhadores com menos de 25 anos no total do emprego (que não vai além dos 7, 4%). O relatório sobre a evolução do salário minimo é um dos pontos da agenda da reunião da concertação social que está a decorrer nesta quinta-feira à tarde. No encontro estará também presente o ministro das Finanças, Mário Centeno, que vai discutir com os parceiros sociais a saída o Procedimento por Défice Excessivo. Já as reformas antecipadas não estão na ordem de trabalhos, ao contrário do que era a expectativa.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave exclusão social igualdade mulheres pobreza salário
Conflito, reparação e reconciliação na família Carter
Os Carters são Beyoncé e Jay-Z, que num álbum a dois, reflectem sobre a sua relação e o mundo. (...)

Conflito, reparação e reconciliação na família Carter
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-06-21 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os Carters são Beyoncé e Jay-Z, que num álbum a dois, reflectem sobre a sua relação e o mundo.
TEXTO: Em 2003, quando entrevistámos Beyoncé, havia rumores de que teria iniciado uma relação com Jay-Z. Era uma altura em que ela separava com nitidez a vida pública da privada, atitude que manteve durante anos. Beyoncé era então uma cantora global que se lançava a solo, depois de anos com as Destiny’s Child, e Jay-Z era um dos nomes mais venerados do rap. Talvez por isso a imprensa dizia que Beyoncé, do ponto de vista da credibilidade artística junto de um público transgeracional, tinha mais a ganhar com a relação do que Jay-Z. É discutível. Mas, ainda que assim fosse, essa equação deixou de fazer sentido. Se hoje existe uma cantora que domina a pop de massas, do ponto de vista industrial e artístico, é ela, superando largamente o efeito que o marido ainda desencadeia. Autoria: Beyoncé & Jay-Z (The Carters) Roc Nation, distri. Sony MusicSão milionários, os dois, podendo o seu poder — simbólico e real — ser aquilatado pelo vídeo da canção Apeshit, filmado no Louvre, em diálogo com a história da arte. Construíram a família e o império The Carters, mas nos últimos anos Beyoncé tem brilhado mais do que o marido. Curiosamente, os dois melhores álbuns dos dois na última década giram em torno da relação: Lemonade (2016), de Beyoncé, e 4:44 (2017), de Jay-Z. Claro que ambos são atravessados por questões sociopolíticas, o que é mais verdade em relação a Beyoncé (que tem insistido nas questões da negritude e do feminismo), mas acima de tudo é o amor, no sentido mais universal, ou mesmo no âmbito mais particular das atribulações do seu casamento, que é abordado. Como Jay-Z já afirmou, é como se, depois de a relação ter entrado em zonas de conflito, os dois tivessem tido necessidade de se reposicionar enquanto figuras públicas e também entre eles, processo que contaminou os seus trabalhos artísticos. É neste contexto que agora é lançado Everything Is Love, assinado pelos dois, como a conclusão de uma trilogia terapêutica. Depois dos conflitos, eis o álbum da reconciliação, numa narrativa que os dois foram construindo a partir dessa ideia real de que todos os relacionamentos passam por altos e baixos e é preciso resiliência e compreensão para os superar. E quando isso acontece é a relação que acaba por sair fortalecida. Se antes tínhamos tido acesso às versões de Beyoncé e de Jay-Z, através dos seus respectivos álbuns, aqui acedemos ao elo que os atravessa. Nem tudo o que se ouve tem espessura (por vezes é o preço a pagar quando se tenta comunicar globalmente), mas é quase sempre estimulante. As batidas hip-hop são lúdicas e lânguidas, inventando sempre espaço para acolher os mais diversos elementos, e as vozes de Beyoncé e Jay-Z completam-se, com ela a mostrar os seus dotes como rapper. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A lista de créditos é extensa (entre outros, Pharrell Williams, Ty Dolla $ign, Boi-1, Dave Sitek, Cool & Dre ou James Fauntleroy), mas o que domina são os ambientes envolventes próximos da soul, os dinamismos rítmicos do hip-hop e esse jogo verbal que os aproxima quase sempre de uma sensualidade marcada pela compreensão. Nesse sentido, é uma obra menos convulsa do que os dois álbuns a solo, mas é um refrescante capítulo final onde ambos assumem não só as responsabilidades autobiográficas, como também se põem em causa enquanto celebridades negras multimilionárias, num vértice de múltiplas leituras onde as dimensões privadas e públicas, e as fronteiras entre entretenimento, arte ou activismo, podem ser reflectidas. Se juntarmos a tudo isto uma sonoridade caleidoscópica, tão clássica quanto relaxada, assente no hip-hop, percebe-se porque é que a dinastia dos Carters parece ter asas para perdurar.
REFERÊNCIAS: