Oposição a Cristas defende que CDS "não se esgota" em Lisboa
Jantar do grupo liderado por Filipe Lobo d’Ávila juntou centena e meia de pessoas. (...)

Oposição a Cristas defende que CDS "não se esgota" em Lisboa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2017-04-02 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170402191129/https://www.publico.pt/n1767383
SUMÁRIO: Jantar do grupo liderado por Filipe Lobo d’Ávila juntou centena e meia de pessoas.
TEXTO: O desafio das eleições autárquicas para o CDS é “cada um dos concelhos” e “não se esgota em Lisboa”. A mensagem foi deixada por Filipe Lobo d’Ávila, deputado e número um da lista do Conselho Nacional alternativa à lider do CDS, durante um jantar esta sexta-feira que juntou perto de 150 militantes. O grupo, que é crítico da direcção de Assunção Cristas, reuniu-se em Gondomar, cidade onde há um ano se realizou o congresso que elegeu a sucessora de Paulo Portas e em que se apresentou com a moção “Juntos pelo futuro”. Filipe Lobo d’Ávila, segundo um comunicado subscrito pelo grupo da moção, reforçou a ideia de que há disponibilidade para “participar” nas eleições autárquicas e para contribuir para um “bom resultado a nível nacional”. Mas deu voz aos que criticam que a líder do partido tem apostado tudo na sua candidatura à Câmara de Lisboa, esquecendo o resto do país. “A nossa prioridade é cada um dos concelhos em que estamos presentes, não se esgota em Lisboa”, declarou. O ex-secretário de Estado da Administração interna deixou ainda um recado à líder do CDS sobre a relação com o PSD, referindo que é necessário sublinhar as diferenças “sem faltas de respeito mútuo” e "sem a agressividade que impeça os entendimentos que Portugal possa vir a exigir”. E balizou as leituras dos resultados eleitorais que podem servir para as autárquicas, e em particular para Lisboa, onde a actual gestão socialista é vista como tendo fortes possibilidades de ganhar: “Nenhum resultado do CDS poderá ser tido como satisfatório em eleições que perpetuem o PS no poder”. No jantar, também intervieram José Carmo sobre política económica, e o ex-deputado Raul Almeida sobre os valores do partido. Raul Almeida defendeu que o CDS deveria ser contra as quotas para combater a desigualdade de género quando for chamado a votar no Parlamento uma proposta do Governo que pretende impor essa regra nas empresas públicas e cotadas em bolsa. Além de Altino Bessa, ex-deputado e membro deste grupo e João Casanova, ex-secretário de Estado da Educação, também compareceu José Paulo Carvalho, ex-deputado que estava afastado da vida partidária do CDS.
REFERÊNCIAS:
64p., uma colecção de fotolivros onde o que conta é a intensidade (e não o tamanho)
Os dois primeiros autores da colecção são o francês Antoine d’Agata, com Lilith, e o brasileiro Miguel Rio Branco, com Mechanics of Women. (...)

64p., uma colecção de fotolivros onde o que conta é a intensidade (e não o tamanho)
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-01 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os dois primeiros autores da colecção são o francês Antoine d’Agata, com Lilith, e o brasileiro Miguel Rio Branco, com Mechanics of Women.
TEXTO: No ano em que comemora os 20 anos do lançamento da colecção PhotoBolsillo (voltada para a divulgação de autores espanhóis e que já ultrapassou os 100 livros publicados), a editora espanhola La Fábrica lança-se num novo projecto editorial, a série 64p, que tem a ambição de revelar ensaios fotográficos curtos e inéditos de autores internacionalmente reconhecidos. Os dois primeiros autores da colecção são o francês Antoine d’Agata, com Lilith, e brasileiro Miguel Rio Branco, com Mechanics of Women. Álvaro Matías, director geral da La Fábrica, explicou na apresentação da colecção em Madrid que a ideia é encontrar trabalhos com uma dimensão pequena mas que se possam afirmar num livro. “Queremos mostrar estes ensaios de maneira compreensiva e pô-los no mercado a um preço acessível, que será de 19 euros. Cada escolha terá um tratamento de joalharia, mas manterá um formato simples”, explicou Matías. A 64P. “nasce com a vontade de reivindicar o valor do curto”. “Numa conjuntura como a actual, na qual o desenvolvimento das novas tecnologias nos converteu em consumidores vorazes e impacientes, esta colecção quer ocupar na fotografia o lugar que o conto ocupa na criação literária ou a curta-metragem no género cinematográfico. Um espaço para o curto, onde o importante é a intensidade e não a duração. ”Para liderar esta nova colecção, concebida com um formato pequeno, a La Fábrica escolheu o editor Gonzalo Golpe, que terá a responsabilidade de publicar quatro títulos por ano. Depois de ser apresentada no ParisPhoto, no início de Novembro, a série 64p. começará a ser distribuída por todo mundo. E porque se chama 64p. ? Álvaro Matías: “Chama-se assim porque cada livro terá 64 páginas, tão simples quanto isso. Queríamos um nome que funcionasse em todas as línguas e achamos que este se adaptava bem. Acho que as pessoas em Portugal, na Holanda ou em França o compreenderão bem. ”Em Lilith, Antoine d’Agata (Marselha, 1961) mostra a sua relação com uma mulher cambojana, viciada em metanfetamina e prostituta deste os 12 anos. O livro documenta três encontros entre o fotógrafo e a mulher, que ocorreram entre Janeiro de 2008 e Janeiro de 2016, sequência através da qual é possível vislumbrar fases de ascensão emocional, estagnação e colapso em que vivem os viciados nesta substância derivada da anfetamina, usada como estimulante do sistema nervoso central. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Aqui “Lilith mulher remete para Lilith mito, a primeira mulher de Adão, um demónio feminino que domina o homem sexualmente e que foi criada à imagem dos deuses não para servir o homem, mas para ser seu igual”. As imagens, violentas e perturbadoras, remetem para a imagética habitual do fotógrafo francês, onde a sua vida e a sua experiência íntima se mistura com a sua arte. Através de Mechanics of Women Miguel Rio Branco (Las Palmas de Gran Canaria, 1946) propõe uma reflexão sobre as relações, muitas vezes turvas e conflituosas, entre homens e mulheres. É também um ensaio fotográfico sobre “sedução a desigualdade de género, a dominação, possessão e sexo”. Nas imagens reina o confronto clássico entre o masculino e o feminino, através de combinações enunciadas poeticamente, como é timbre na obra de Rio Branco.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens mulher homem sexo género mulheres prostituta
Huntington: a "doença da vergonha" que devasta gerações inteiras
Associação Portuguesa de Doentes de Huntington entrega nesta segunda-feira uma petição no Parlamento para tornar conhecida uma doença "traiçoeira". Tem origem genética. Não tem cura. (...)

Huntington: a "doença da vergonha" que devasta gerações inteiras
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-07-11 | Jornal Público
SUMÁRIO: Associação Portuguesa de Doentes de Huntington entrega nesta segunda-feira uma petição no Parlamento para tornar conhecida uma doença "traiçoeira". Tem origem genética. Não tem cura.
TEXTO: Foram necessários muitos anos para Maria do Carmo Milagre conseguir juntar as peças do puzzle da sua vida. Lembra-se dos tiques e comportamentos estranhos do sogro. Comportamentos que se exacerbaram no seu primeiro marido, de quem se separou por violência doméstica, já depois de terem tido uma filha. Quando a filha tinha perto de 20 anos, começaram uma vez mais as atitudes estranhas e “uma saída extemporânea de casa”. “A minha filha rapava o cabelo e atirava-o para a roupa dos vizinhos, não tinha filtro no que dizia ou fazia. Suicidou-se. ” Aquilo que aos olhos dos vizinhos era uma rebeldia acabou por ter um outro nome: Doença de Huntington, uma patologia com origem genética e sem cura, que pode levar a alterações motoras, comportamentais e cognitivas. A presidente da Associação Portuguesa de Doentes de Huntington, Helena Soares, sublinha que esta é “uma doença degenerativa do cérebro devastadora e que afecta gerações inteiras”. Quando um dos pais tem esta mutação genética, a probabilidade do filho herdar este problema é de 50% — mas já é possível fazer um diagnóstico genético através de técnicas de procriação medicamente assistida, para que os bebés nasçam livres do problema. Não há números oficiais. As estimativas da associação indicam que podemos ter cerca de 8000 doentes ou pessoas em risco de desenvolver a doença em Portugal. Por isso defende a criação de um espaço próprio, com centro de dia e internamento, para dar resposta adequada a esta patologia. Para tornar mais conhecida a “doença da vergonha”, como lhe chamam — por ninguém querer contar que a tem —, Helena Soares preparou uma petição com a ajuda de Maria do Carmo Milagre e de Francisco Mendia, consultor de comunicação e também ele livre da doença, mas de uma família com trisavó, avô, mãe, tios e primos afectados. O documento será entregue nesta segunda-feira no Parlamento, onde serão recebidos pelo vice-presidente, Jorge Lacão. A doença é “traiçoeira”, diz Helena Soares. Não há um padrão definido que permita ter a certeza dos primeiros sintomas ou idades em que surgem, já que tudo depende também da zona cerebral que está a ser afectada. À associação chegam casos de todos os géneros e idades, com sintomas que podem começar numa depressão e isolamento e ir até surtos psicóticos, situações violentas com recurso a armas, como facas, atitudes compulsivas perante a comida ou compras exageradas. “São pessoas que raramente conseguem manter os empregos e mesmo a família afasta-se”, lamenta Helena. Os tiques involuntários são o sintoma mais comum. O usual é a doença manifestar-se entre os 40/50 anos e a esperança média de vida não costuma ir além dos 15 anos — as quedas relacionadas com o desequilíbrio, os engasgamentos e as pneumonias por aspiração são as principais causas de morte, uma vez que a doença afecta a capacidade dos doentes cumprirem funções básicas como comer. A filha de Maria do Carmo Milagre ainda lhe chegou a dar uma neta antes de saber que tinha. O diagnóstico só apareceu aos 27 anos, aos 32 matou-se, “depois de ter pedido repetidamente para ser eutanasiada noutro país”. Maria do Carmo é agora cuidadora da neta Sara, mais um exemplo de como a doença pode ser sinuosa. Tem apenas 16 anos mas “já tem muitos sintomas”. Nestas idades é raro haver manifestações e quando começam cedo o prognóstico é pior. “O estigma é enorme. Ela diz que tem uma doença rara mas os amigos não acreditam e afastam-se. ”Apesar de saber os anos difíceis que terá como cuidadora, Maria do Carmo sente que o melhor que pode fazer pela filha e pela neta é ajudar a divulgar esta doença que define como “algo que agasta os neurónios e cria rios no cérebro, afectando todas as funções e músculos”. Muitas vezes os doentes acabam “numa cama como vegetais”. Helena tem também ela uma história familiar com o pai, o avô, tio, tia e prima afectados e já mortos. Ganhou o seu euromilhões no dia em que fez um teste genético que lhe permitiu saber que está livre da doença. “Fui comer uma mariscada para celebrar. ” No entanto, perante a ausência de cura, “muitas pessoas não querem fazer o teste genético porque acompanharam o sofrimento de familiares e preferem não sofrer antecipadamente”. Mesmo com um diagnóstico atempado, não há nada que se possa fazer, “a não ser controlar alguns dos sintomas motores e psiquiátricos”, reconhece a neurologista Cristina Costa, médica no Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) e responsável pela Consulta de Doenças Hereditárias do Sistema Nervoso. Em linhas simples, diz a médica, estes doentes têm mais repetições de um determinado gene do que o que seria suposto e esse gene produz uma proteína que degrada progressivamente o funcionamento do cérebro. Até determinado número de repetições a pessoa não desenvolve a doença mas passa-a na mesma para os filhos, a partir de certo valor o desfecho negativo é certo. A manifestação mais fácil de identificar são os tiques. Os promotores da petição que será entregue nesta segunda-feira já foram ouvidos por alguns grupos parlamentares. A petição conta com assinaturas como a do cardeal patriarca de Lisboa, do bastonário da Ordem dos Advogados e do vereador lisboeta José Sá Fernandes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O objectivo é ver discutida em plenário a criação do dia 15 de Junho como Dia da Doença de Huntington – numa data que coincide com o dia de São Vito, o padroeiro das doenças do movimento e “também ele queimado numa fogueira, como costumava acontecer a estes doentes”, recorda Helena. Cristina Costa acompanha a preocupação de Helena Soares e destaca que é fundamental divulgar esta doença e identificar os doentes. Porquê, se não há resposta? A médica lembra que há sintomas que os clínicos podem ajudar a controlar e que, existindo uma boa base de dados, é mais fácil incluir estes doentes em eventuais ensaios clínicos que prometam uma resposta a esta doença. Um dos seus trabalhos é encaminhar as pessoas para o “protocolo de diagnóstico preditivo” – ou seja, a análise genética que confirma se a pessoa tem ou não a repetição excessiva deste gene. “Mesmo sem consulta marcada mantenho sempre a porta aberta para doentes e familiares, o mais importante é saberem que têm com quem conversar e tomar decisões informadas. ”Mas a neurologista alerta que “sendo esta uma doença da família e com uma carga tão pesada” este diagnóstico segue um protocolo internacional. “Há várias consultas e primeiro é avaliada a capacidade psicológica de uma pessoa ter um diagnóstico destes. ” Muitos doentes nunca chegam a levantar o resultado do exame. A especialista reforça que compreende “qualquer decisão pessoal”, mas reitera que o papel dos médicos “é ajudar a acabar com a doença das famílias”, o que pode ser feito com uma aposta no planeamento familiar. Para quem já teve filhos, pode ser importante tirar a dúvida se o progenitor tem ou não alteração. “Chegam-me filhos com pais que nunca quiseram fazer o teste e que vêm de famílias com muitos casos. Se esses pais fizerem o teste ajudam na resposta aos filhos. ”
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE
Margaret Atwood está a escrever uma sequela de The Handmaid’s Tale e a culpa é da América de hoje
Livro de culto que se tornou símbolo da resistência feminina no século XXI vai ter sequela 34 anos depois. A autora canadiana diz que "a inspiração é o mundo em que temos estado a viver”. The Testaments é editado em Setembro. (...)

Margaret Atwood está a escrever uma sequela de The Handmaid’s Tale e a culpa é da América de hoje
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Livro de culto que se tornou símbolo da resistência feminina no século XXI vai ter sequela 34 anos depois. A autora canadiana diz que "a inspiração é o mundo em que temos estado a viver”. The Testaments é editado em Setembro.
TEXTO: Uma sequela, mais de 30 anos depois. Um livro que voltará à República de Gilead, o asfixiante e totalitário regime puritano numa América que Margaret Atwood sempre disse ser “ficção especulativa” e não uma distopia ou ficção científica, uma sequela de A História de uma Serva (The Handmaid’s Tale) para reflectir sobre a América actual. The Testaments, anunciou esta quarta-feira a autora canadiana, é o seu título e será publicado em todo o mundo em Setembro de 2019. “Queridos leitores: tudo o que alguma vez me perguntaram sobre Gliead e os seus meandros é a inspiração para este livro. Bom, quase tudo! A outra [fonte de] inspiração é o mundo em que temos estado a viver”, escreveu a autora, que há semanas esteve no Porto para participar no Fórum do Futuro. Sem mencionar o Presidente Donald Trump, o comunicado de imprensa contextualiza que a obra original se tornou “num símbolo do movimento contra ele, representando o empoderamento feminino e a resistência face à misoginia e ao recrudescer dos direitos das mulheres em todo o mundo”. A escritora assinou uma das suas obras emblemáticas – é uma autora prolífica, com dezenas de obras, da poesia ao conto, publicadas – em 1985, sublinhando o seu traço autoral preocupado com o futuro, com a evolução, mas sobretudo com o ambiente e com a situação das mulheres. Um sucesso de vendas na época, recebeu prémios como o Arthur C. Clarke Award em 1987 e foi nomeado para o Nebula e para o Booker em 1986. A sua narrativa constrita e a iconografia das personagens tornaram-na atreita a adaptações várias, desde um filme de Volker Schlöndorff, a uma ópera, mas a série que o serviço de streaming Hulu lançou em 2017, em pleno início da presidência Trump na América, expandiu inegavelmente o seu alcance. Nos últimos dois anos, só nos EUA vendeu mais três milhões de exemplares. Vencedora histórica do mais importante prémio de televisão para um serviço de streaming, fez parte da narrativa mediática do ano, mas também se tornou símbolo de resistência de género - as Handmaids, com as suas toucas restritivas e capas escarlates, estão nas manifestações em vários países sobre direitos reprodutivos ou assédio sexual. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Este ano, a série regressou para uma nova temporada, que ultrapassa, com consultoria de Atwood, a história de Offred incluída no romance. A editora já esclareceu que, apesar de ser mais um caso em que a ficção televisiva ultrapassa ou constrói sobre a escrita, “The Testaments não está ligado à adaptação televisiva de The Handmaid’s Tale”. The Testaments vai ser narrado por três vozes femininas e passar-se-á 15 anos depois dos acontecimentos do livro que em Portugal já teve dois títulos — Crónica de uma Serva (Europa-América, 1988) e A História de uma Serva (Bertrand, 2013). Será lançado dentro de um ano, a 10 de Setembro de 2019, e já está disponível em pré-venda nas livrarias online.
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Entidades EUA
Cavaco Silva: "Surgiu perante mim uma mulher com ar simples e tímido"
Leonor Beleza apresenta no dia 24 de Outubro, pelas 18h30, o segundo volume de Quinta-feira e Outros dias: Da Coligação à "Geringonça". O PÚBLICO antecipa, em primeira mão, o capítulo onze das memórias do ex-Presidente da República, em cujas páginas Aníbal Cavaco Silva relata a sucessão de Pinto Monteiro e os bastidores da escolha de Joana Marques Vidal como procuradora-geral da República. Há segredos revelados. (...)

Cavaco Silva: "Surgiu perante mim uma mulher com ar simples e tímido"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento -0.25
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Leonor Beleza apresenta no dia 24 de Outubro, pelas 18h30, o segundo volume de Quinta-feira e Outros dias: Da Coligação à "Geringonça". O PÚBLICO antecipa, em primeira mão, o capítulo onze das memórias do ex-Presidente da República, em cujas páginas Aníbal Cavaco Silva relata a sucessão de Pinto Monteiro e os bastidores da escolha de Joana Marques Vidal como procuradora-geral da República. Há segredos revelados.
TEXTO: O Procurador-Geral da República, Juiz-Conselheiro Fernando Pinto Monteiro, terminava o seu mandato em 9 de outubro de 2012. Depois de, nas duas quintas-feiras anteriores, lhe ter lembrado este facto, o Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho entregou-me na reunião de 1 de outubro, segunda-feira, os curriculum de dois magistrados do Ministério Público. Mencionou um terceiro nome, de um ex-juiz do Tribunal Constitucional, em relação ao qual necessitava ainda de obter informação adicional. Sobre esses nomes tinha falado, disse-me, com o líder do Partido Socialista (PS), António José Seguro, mas este ainda não lhe tinha transmitido a sua opinião. Perante as informações que tinha vindo a recolher junto de pessoas conhecedoras dos meios judiciários e de elementos da minha Casa Civil, chegara à conclusão de que o próximo Procurador-Geral da República deveria ser oriundo do Ministério Público. O Juiz-Conselheiro Pinto Monteiro sempre mantivera um relacionamento correto com a Presidência da República. No entanto, confrontando as expectativas no momento da sua posse, quando lhe tinha recomendado “discrição na ação e visibilidade nos resultados”, e a realidade do seu desempenho, tinha de reconhecer que o mandato não correra bem. A sua dificuldade de diálogo e a tensão permanente com os elementos do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, em que as acusações mútuas na praça pública se sucediam, bem como as suas frequentes declarações à comunicação social e as controvérsias sobre casos concretos de investigação criminal, tinham sido muito negativas para a credibilidade e para a imagem do Ministério Público. Para a generalidade dos analistas e agentes da área da Justiça, ficara provado que a competência jurídica não era suficiente para gerir uma instituição como a Procuradoria-Geral da República. Após a tomada de posse do XIX Governo Constitucional, em 21 de junho de 2011, surgira a dúvida quanto à data em que o Juiz-Conselheiro Pinto Monteiro cessaria as suas funções: a idade legal de jubilação, setenta anos, tal como acontecia com os Presidentes do Supremo Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Administrativo, ou seis meses mais tarde, quando se completassem seis anos de mandato sobre a sua tomada de posse. Era sabido que o Juiz-Conselheiro Pinto Monteiro não tinha o apoio do novo Executivo, cujo desejo era substituí-lo o mais rapidamente possível. Vários membros do Governo tinham feito avaliações públicas muito negativas do trabalho por ele realizado. Embora não tendo lei expressa a suportar a sua tese, Pinto Monteiro entendia que, tal como acontece com o Provedor de Justiça, o Procurador-Geral da República não estava sujeito ao limite de idade para o exercício de funções públicas, se este ocorresse antes do fim do seu mandato. Decidi optar pela interpretação do Juiz-Conselheiro Pinto Monteiro e disso dei conhecimento ao Primeiro-Ministro. Para mim, a afirmação da defesa do princípio da autonomia do Ministério Público e da garantia de independência do Procurador-Geral da República face ao Governo eram mais importantes do que eventuais razões de perda de confiança política. Por outro lado, era meu entendimento que só em circunstâncias excecionais se poderia justificar a interrupção do mandato do Procurador-Geral da República. Na audiência que concedi a Pinto Monteiro, no princípio de maio de 2012, falei-lhe das dúvidas quanto à data de cessação do seu mandato. Pedi-lhe que evitasse polémicas e atritos institucionais com o Governo, em particular com a Ministra da Justiça. Apesar da minha advertência para que se empenhasse na criação de um clima de apaziguamento na área da Justiça que facilitasse a discussão pública das reformas decorrentes do Programa de Assistência Financeira, Pinto Monteiro sentiu necessidade de reiterar a acusação de que o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público dominava o Conselho Superior do Ministério Público, de exercer influência nociva sobre a Ministra da Justiça e de estar na origem de fugas de informação para a comunicação social. Um mês antes de cessar funções, voltei a receber o Procurador-Geral da República. Uma audiência cordial de despedida, em que me falou do orgulho que sentia por aquilo que tinha feito em diferentes áreas — cooperação com os PALOP, criação de equipas especiais de combate à criminalidade, combate às situações de violência doméstica, contra os idosos e nas escolas, investigação da corrupção, como nunca antes se verificara —, e também daquilo que gostaria de ter feito e não conseguira — alteração do Estatuto do Ministério Público e da composição do respetivo Conselho Superior. Por outro lado, fez uma breve análise das pessoas que poderiam ser candidatas à sua substituição. Fiquei a conhecer a sua preferência: uma Procuradora-Geral Adjunta diferente daquela que acabaria por ser escolhida. No dia 3 de outubro de 2012, ao chegar de Madrid, onde fora receber o Prémio Nueva Economia Fórum e participar no encerramento do Encontro da COTEC Europa, tinha no meu computador dois e-mails do Primeiro-Ministro. Um, em que me enviava a lista final das medidas a incluir no Orçamento do Estado para 2013 acordadas com a troika, na sequência do abandono pelo Governo da decisão de alterar a Taxa Social Única (TSU), assim como o documento de suporte à conferência de imprensa que o Ministro da Finanças daria às 15h00; e um outro e-mail, fazendo saber que queria dar-me conta do resultado da conversa com António José Seguro sobre o novo Procurador-Geral da República. Falámos telefonicamente cerca das 22h30. O líder do PS transmitira-lhe opiniões negativas relativamente a dois dos três nomes que me tinha apresentado a 1 de outubro. Quanto ao terceiro nome, Joana Marques Vidal, Procuradora-Geral Adjunta, que exercia funções nos Açores, a sua opinião era positiva e dava acordo à nomeação. O Primeiro-Ministro acrescentou que Joana Marques Vidal era também o nome preferido pelo Governo: tratava-se de uma mulher próxima da esquerda, sendo que obtivera informações de que era uma excelente profissional, de espírito independente. No dia seguinte, 4 de outubro, falei telefonicamente com o líder do PS. Confirmou-me o seu apoio à nomeação de Joana Marques Vidal. Apoiaria igualmente o nome do Juiz-Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça que referira ao Primeiro-Ministro, um magistrado de competência jurídica indiscutível, mas compreendia a explicação que lhe fora dada para a sua não inclusão na lista dos potenciais candidatos. Da análise a que entretanto procedi sobre os três nomes que o Primeiro-Ministro me tinha apresentado, cheguei à conclusão de que a vantagem pendia para o lado de Joana Marques Vidal. No entanto, para além de não a conhecer pessoalmente — sabia apenas ser filha do Juiz Conselheiro José Alberto Marques Vidal, que fora diretor da Polícia Judiciária no meu tempo de Primeiro-Ministro —, as informações que sobre ela recolhera não eram uniformes. Para uns, como era o caso do Representante da República para a Região Autónoma dos Açores, embaixador Pedro Catarino, era uma mulher íntegra, independente, dedicada ao serviço público. Também o Ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, que a conhecia, transmitira ao Primeiro-Ministro as melhores referências. Já para outros, não tinha estatuto e competência jurídica nem capacidade de liderança. No final da tarde do dia 4 de outubro, telefonei à Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, perguntando-lhe se tinha sondado Joana Marques Vidal sobre se aceitaria ser proposta pelo Governo ao Presidente da República para ocupar o lugar de Procuradora-Geral. Respondeu-me que o tinha feito naquele mesmo dia e que ela lhe dissera que considerava que não tinha condições para desempenhar um lugar tão difícil e mostrara grande resistência. Estava preparada para insistir e tentar convencê-la. Conhecia-a do Conselho Superior do Ministério Público e tinha dela uma excelente impressão. Disse à Ministra que, apesar de Joana Marques Vidal merecer a preferência tanto do Governo como do PS, não podia dar luz verde à sua nomeação sem a ouvir e saber o que pensava do funcionamento do Ministério Público. Encontrando-se ela em Ponta Delgada, o melhor seria pedir-lhe para vir a Lisboa de modo a possibilitar uma apreciação mais completa. No dia 5 de outubro de 2012, após as cerimónias dos 102 anos da Proclamação da República, a Ministra da Justiça telefonou-me dizendo que Joana Marques Vidal estava em Lisboa, que tivera com ela uma longa conversa e que estava disponível para aceitar o lugar, desde que tivesse a confiança do Presidente da República. Combinei recebê-la às 17h00 no Palácio de Belém. Surgiu perante mim uma mulher com ar simples e tímido, pouco entusiasmada com a perspetiva de ocupar um lugar da relevância jurídica e política como o de Procuradora-Geral da República. Foi pouco clara quando lhe perguntei a opinião sobre a situação que se vivia no Ministério Público. Estava há sete anos nos Açores. Foi cuidadosa ao referir-se ao Procurador-Geral da República, mas não deixou de dizer que Pinto Monteiro sabia que ela discordava de várias das suas atitudes e decisões e deixara que se desenvolvesse a ideia de alguma interferência de poder político no Ministério Público. Contrariamente a Pinto Monteiro, não entendia que o Procurador-Geral da República tivesse falta de poderes. Surpreendeu-me a sua franqueza ao afirmar que era uma pessoa de esquerda, vista como não alinhada com o Governo em funções e que a sua nomeação podia dar lugar a críticas pelo facto de ter pertencido ao Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, de o seu irmão ser procurador em Aveiro e ter em mãos o processo “Face Oculta” e de o seu pai ter sido Diretor da Polícia Judiciária, aspetos que achava que eu devia ter em devida consideração. Sublinhei que o Procurador-Geral da República devia ser uma pessoa independente em relação ao poder político e a outros poderes existentes na sociedade portuguesa. Referi-lhe que a eficácia dos magistrados e a confiança dos cidadãos eram fatores essenciais à credibilidade, ao prestígio e ao bom funcionamento de uma instituição como o Ministério Público. Havia que melhorar o controlo do segredo de justiça e a coordenação entre o Ministério Público e a Polícia Judiciária no domínio da investigação criminal. Havia muito trabalho a fazer nestas áreas. Os conflitos entre o Procurador-Geral da República e o Sindicato — e também com o Governo —, as declarações intempestivas na praça pública, a gestão dos processos mediáticos e as fugas de informação tinham deteriorado bastante a imagem do Ministério Público, um pilar fundamental da nossa democracia, a quem cabe a responsabilidade pelo exercício da ação penal e a defesa da legalidade. O novo Procurador-Geral da República devia ser capaz de marcar uma viragem na vida da instituição. Devia manifestar abertura ao diálogo e à cooperação construtiva com os outros operadores do sistema de justiça, de modo a concretizar as reformas necessárias nesta área. Acrescentei que o mau funcionamento da Justiça era visto como um custo de contexto para as atividades empresariais e como um fator de bloqueio ao desenvolvimento económico do País. Era isso que explicava a longa lista de medidas na área da Justiça que fazia parte do Programa de Ajustamento que o anterior Governo tinha negociado com a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu. No final da conversa, retive a impressão de que Joana Marques Vidal tinha dúvidas quanto à sua capacidade para desempenhar cargo de tão grande responsabilidade e que nos últimos anos tinha estado envolvido em inúmeras controvérsias. Eu tão pouco estava seguro de que o seu perfil fosse o mais adequado para o lugar. Fiquei com a ideia de que se tratava de uma pessoa honesta, discreta, ponderada, não agressiva, que, pelo seu feitio, gostaria de ser vista como independente mesmo em relação aos mais próximos, como o Sindicato e a esquerda política, e que não seria uma mulher com apetência mediática. Fiquei convicto de que seria diferente do Juiz-Conselheiro Pinto Monteiro quanto a dois pontos importantes, em que ele, na minha opinião, tinha falhado: o diálogo com os magistrados do Ministério Público e com os outros responsáveis do sistema de Justiça, e a contenção verbal perante a comunicação social. Cheguei à conclusão de que Joana Marques Vidal tinha vantagem em relação aos outros nomes que o Governo me apresentara: estivera afastada das polémicas em que o Ministério Público se envolvera nos últimos anos e era aceite tanto pelo Governo como pelo maior partido da oposição. Foi na manhã desse 5 de outubro que se deu, durante a cerimónia comemorativa dos 102 anos da Implantação da República na Câmara Municipal de Lisboa, o episódio da Bandeira Nacional invertida. Da posição em que nos encontrávamos, na varanda dos Paços do Concelho, a puxar a adriça com o Presidente da Câmara, António Costa, não nos apercebemos de que a Bandeira Nacional estivesse mal colocada. De forma correta e mostrando-se disponível para procurar reparar a situação, António Costa escreveu-me no dia seguinte, ciente de que eu fora “totalmente alheio ao erro cometido”. Em seu nome e no do Município de Lisboa, apresentou desculpas pelo “desagradável incidente” e pelo “incómodo causado” e assumiu as responsabilidades pelo “lapso involuntário de quem embainhou a bandeira”. O episódio foi explorado mediaticamente para atacar o Governo e o Presidente da República, que nada tinham a ver com o erro. No rescaldo da crise da TSU e do anúncio do “enorme aumento de impostos”, era uma metáfora aliciante para os partidos da oposição e para a comunicação social, sobretudo num tempo em que as divisões internas no Governo se tornavam evidentes. Nesse dia 5 de outubro, antes do almoço, o líder do PS telefonara-me a dar conta da opinião sobre Joana Marques Vidal que tinha recolhido junto do Juiz-Conselheiro Fernando Pinto Monteiro e do Presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d’Oliveira Martins. Surpreendeu-me esta auscultação, tratando-se de um assunto confidencial. Não me espantou, pois, que já antes da audiência ao Primeiro-Ministro o nome de Joana Marques Vidal tivesse aparecido na imprensa online. A decisão não podia ser adiada. Dos três nomes que o Governo me tinha apresentado, a minha preferência ia claramente para Joana Marques Vidal, e não tinha razões para declinar a sua nomeação. No dia 8 de outubro, segunda-feira, reuni-me com o Primeiro-Ministro para resolver em definitivo a escolha do novo Procurador-Geral da República. O Procurador em funções terminaria o mandato no dia seguinte. O Primeiro-Ministro confirmou-me que Joana Marques Vidal aceitava desempenhar o cargo, afirmou que a Ministra da Justiça estava convencida de que se tratava de uma excelente escolha e sublinhou a importância de ser uma pessoa que chegava “limpa” à Procuradoria-Geral da República, sem trazer consigo notícias ou polémicas referentes a casos passados. Comecei por dizer-lhe que a recebera no dia 5 de outubro. Se bem que uma única conversa não permita uma avaliação adequada de uma pessoa, ficara com a ideia de que era uma mulher séria, profissional, que pensava pela sua própria cabeça, com preocupações de isenção e rigor e sentido de serviço público. Quanto às suas capacidades de liderança e para enfrentar situações difíceis, não era capaz de me pronunciar. Concluí dizendo ao Primeiro-Ministro: “É fundamental que o Ministério Público entre numa nova fase. Deus queira que resulte. ”A posse de Joana Marques Vidal como Procuradora-Geral da República teve lugar no dia 12 de outubro. No discurso que então proferi, afirmei: “A atuação dos magistrados do Ministério Público deve pautar-se pelo rigor e pela discrição e deve ser avessa a protagonismos mediáticos (. . . ). A investigação criminal e a defesa da legalidade devem ser realizadas com isenção e com rigor, apresentando resultados concretos aos cidadãos que legitimamente aspiram a uma Justiça mais célere e mais eficaz. ”As minhas expectativas quanto à nova liderança da Procuradoria-Geral da República não eram muito elevadas, mas a verdade é que Joana Marques Vidal acabou por me surpreender pela positiva. Dos contactos que com ela mantive durante o meu tempo de Presidente da República, concluí que era, de facto, uma pessoa ponderada e reservada, dedicada ao serviço público, empenhada em imprimir um novo rumo à magistratura do Ministério Público e em melhorar a capacidade de investigação criminal. Na audiência que lhe concedi em dezembro de 2015, felicitei-a pela discrição e contenção verbal em relação à comunicação social, pela gestão cuidadosa das suas declarações públicas e pela abertura e serenidade demonstradas no diálogo com os órgãos de soberania e com o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, o que contribuíra significativamente para a melhoria da imagem da instituição. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Referi também, com agrado, o progresso registado no combate às fugas de informação, e às violações do segredo de justiça, domínios que exigiam um esforço continuado e absoluta determinação de penalizar os infratores. Em maio de 2015, em audiência no Palácio de Belém, o Presidente do Sindicato dissera-me: “A atual Procuradora-Geral da República, por ser da casa e conhecer o problema da investigação, pacificou o Ministério Público. ”Devo reconhecer que Joana Marques Vidal, em cujo mandato se concentraram casos de enorme complexidade, revelou capacidade de comunicação, firmeza nas difíceis decisões que foi chamada a tomar e imprimiu uma nova dinâmica à investigação criminal. Conquistou a confiança e o respeito dos portugueses.
REFERÊNCIAS:
A vida privada de Tamara Jenkins
Private Life, que saiu no Netflix, é apenas o terceiro filme da realizadora norte-americana numa carreira de mais de 25 anos. (...)

A vida privada de Tamara Jenkins
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-11-30 | Jornal Público
SUMÁRIO: Private Life, que saiu no Netflix, é apenas o terceiro filme da realizadora norte-americana numa carreira de mais de 25 anos.
TEXTO: É uma pena que Private Life, que saiu no início de Outubro no Netflix, seja apenas a terceira longa metragem de Tamara Jenkins em mais de 25 anos de carreira. A realizadora e argumentista responsável por pérolas como Slums of Beverly Hills, de 1998, e Os Savages, de 2007, ambos filmes que não tiveram estreia comercial em Portugal, tem muito para dar ao mundo em termos de comédias dramáticas idiossincrásicas que não têm pressa de chegar a lado nenhum e são inspiradas pela sua vida pessoal, além de terem sempre elencos notáveis. E devia ter mais do que um filme por década. Slums, com Natasha Lyonne, Marisa Tomei e Alan Arkin, olhava para a educação pouco convencional da realizadora, cujo pai pobre mudava a família para as casas mais baratas de Beverly Hills para poder dar acesso aos filhos a uma melhor educação, enquanto Savages, com Laura Linney e Philip Seymour Hoffman, mostrava uma irmã e um irmão a verem-se obrigados a cuidar da demência do pai. Private Life, com a invariavelmente impressionante Kathryn Hahn e Paul Giamatti, lida com as tentativas de um casal nova-iorquino infértil a tentar ter um filho depois dos 40, seja por fertilização in vitro ou adopção. São os dois dados às artes – ele, um encenador, é gerente de uma marca de pickles, ela é escritora –, e adiaram ter filhos para cuidarem das suas carreiras – num dos melhores diálogos do filme, ela culpa a segunda vaga de feminismo e Gloria Steinem pela infertilidade. É baseado, em parte, nos esforços que a realizadora e o marido, Jim Taylor, o parceiro de escrita de Alexander Payne – e com quem ela co-assinou o argumento de Juliet, Nua, de Jesse Peretz, que esteve nas salas portuguesas este ano. Na sua obra, Tamara Jenkins trata temas pessoais que, como ela diz em entrevistas, não são propriamente os mais apelativos para conseguirem financiamento (a demência na terceira idade e a infertilidade não são, alega, sexy para investidores), o que poderá explicar a pouca prolificidade dela. Mas são temas que, até agora, têm funcionado bem, seja pela escrita ou pela atenção dada pela realizadora aos actores, que aqui incluem também a novata Kayli Carter como uma jovem possível dadora de óvulos, a ex-Saturday Night Live Molly Shannon, que abrilhanta tudo aquilo em que aparece e John Carroll Lynch, presença assídua do cinema indie norte-americano – e o realizador de Lucky. É um elenco que parece ter sido talhado para o equilíbrio entre comédia e drama que ela procura (e consegue encontrar), com muito de desconfortável, verdadeiro, doce, humano e hilariante pelo meio. É verdade que, em termos de oferta de filmes originais, o Netflix por vezes deixa bastante a desejar – há alguém que se lembre de The Cloverfield Paradox, lançado de surpresa no serviço de streaming? Ao mesmo tempo, há milagres como Private Life, que talvez não existissem doutra maneira e, mesmo que fossem feitos, provavelmente não chegariam a Portugal a tempo e horas.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filho educação feminismo
Salome quer empresas a promover os direitos humanos
Os direitos económicos e sociais têm sido o foco da CiDA – Civil Development Agency, uma organização não-governamental da Geórgia que sensibiliza as empresas a melhorar a vida dos grupos mais vulneráveis do país. A directora executiva, Salome Zurabishvili, recebeu a Bolsa Sakharov em 2017. (...)

Salome quer empresas a promover os direitos humanos
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.1
DATA: 2018-12-19 | Jornal Público
SUMÁRIO: Os direitos económicos e sociais têm sido o foco da CiDA – Civil Development Agency, uma organização não-governamental da Geórgia que sensibiliza as empresas a melhorar a vida dos grupos mais vulneráveis do país. A directora executiva, Salome Zurabishvili, recebeu a Bolsa Sakharov em 2017.
TEXTO: “Sem as empresas, não é possível melhorar a situação dos direitos humanos”, vinca Salome Zurabishvili, activista da Geórgia. Foi a partir desta evidência – de que a sociedade civil e o Estado não podem fazer tudo sozinhos – que esta jovem advogada especializada em direitos humanos dinamizou um projecto de responsabilidade corporativa que já abrange mais de cem empresas no seu país. É nesta plataforma empresarial que a CiDA – Civil Development Agency tem alicerçado a maioria dos seus projectos de promoção de direitos humanos nos últimos anos. “É um aspecto que tende a ser ignorado. Mas se queremos um desenvolvimento sustentável e inclusivo - argumenta a directora executiva desta ONG - isso não pode ser atingido sem as empresas, porque elas controlam uma boa parte da economia do país”. Salome é também coordenadora, desde 2016, da rede UN Global Compact na Geórgia, uma iniciativa internacional que incentiva a adesão voluntária das empresas a princípios de sustentabilidade. Na Geórgia, há 32 que já assinaram o compromisso. A lógica é simples: quanto mais empresas participam, mais pessoas se protegem. “Algumas destas empresas têm mais de 2000 ou 3000 funcionários”, lembra Salome Zurabishvili. “Quanto mais empresas envolvemos – deduz - maior cobertura temos do país”. Esta organização não-governamental, criada em 2002, tem procurado expandir o seu alcance a todo o território nacional, dinamizando projectos para a revitalização económica de zonas de fronteira (com o Azerbaijão) ou promovendo acções para a capacitação de ONG de dimensão mais local. Todas as empresas colaboram com a associação “de forma diferente”, mas partilhando valores comuns de protecção dos direitos humanos e de prevenção da discriminação no local de trabalho, através de projectos que visam a integração de pessoas com deficiência, a capacitação das mulheres ou a inclusão de ex-presidiários e minorias étnicas. A disseminação de boas práticas e estratégias de integração é feita através de consultoria, acções de formação ou conferências temáticas. Uma das últimas conferências, realizada no passado dia 10 de Dezembro, congregou mais de 90 empresas e 150 gestores de topo, e focou a importância da igualdade de género para o crescimento do país e o papel do sector privado no empoderamento das mulheres. De resto, garantir que as mulheres têm a sua autonomia (nomeadamente pela via económica) e beneficiam do desenvolvimento do país tem sido uma das principais linhas de acção do trabalho desta activista georgiana. O interesse de Salome Zurabishvili no papel que as empresas podem desempenhar em prol dos direitos humanos não é de agora. Remonta a 2013, quanto a advogada escolheu como tema da sua tese de mestrado, defendida na Universidade de Lund, na Suécia, o papel da responsabilidade corporativa em países em transição. O estudo de caso focava a desigualdade, com base na religião, género e deficiência, em locais de trabalho no Myanmar. O passo seguinte era tentar fazer a diferença no terreno. O desejo de se tornar advogada e de proteger os direitos humanos vem ainda mais de trás: Salome tinha apenas 15 anos quando identificou a sua vocação e, aos 16, entrava na Faculdade de Direito. Pouco depois de concluir a licenciatura, já estava embrenhada na área, trabalhando directamente com diferentes ministérios do governo da Geórgia e organizações internacionais na preparação de relatórios oficiais para as Nações Unidas sobre o progresso do país em matéria de direitos humanos. “Estava sempre bem informada sobre o que se passava no país e também no resto do mundo”, salienta a jovem advogada, que partilha com a recém-eleita presidente da Geórgia o nome e apelido, mas não qualquer parentesco. Também por esta proximidade que foi cultivando com diferentes forças da sociedade, a activista lamenta que na Geórgia a desconfiança e o descrédito mútuo ainda prevaleçam, muitas vezes, na relação entre o governo e a sociedade civil. Ainda assim, admite, como a CiDA trabalha na área dos direitos económicos e sociais – e não em temas “mais sensíveis, como os direitos políticos, por exemplo” – acaba por ter uma relação facilitada com as autoridades. “Esta divisão não é benéfica para o país”, insiste. “Os diferentes stakeholders deviam coordenar o seu trabalho para melhorar a situação. Cada sector tem algo a oferecer” em prol dos direitos humanos, considera. A falta de consenso político em torno da reforma do sistema eleitoral do país e suspeitas de interferência do governo em meios de comunicação social têm sido alguns dos principais motivos de alerta sobre o país de organizações internacionais como a Human Rights Watch. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. No âmbito da sua política de promoção dos direitos humanos em países terceiros, a União Europeia tem financiado diversos projectos da CiDA, nomeadamente na área da responsabilidade corporativa e da reabilitação de ex-reclusos. A participação no programa de formação da Bolsa Sakharov, organizado pelo Parlamento Europeu, foi mais uma oportunidade para Salome Zurabishvili partilhar a sua visão inclusiva e os bons resultados que tem alcançado junto de decisores à escala europeia. “Temos uma cooperação muito boa”, afirma. Com os colegas activistas dos vários cantos do mundo, também “aprendeu muito” sobre temas que lhe interessam, como a cibersegurança ou a liberdade de informação em contexto eleitoral. Ainda assim, a advogada não deixa de apontar oportunidades de melhoria na cooperação com a Europa. O que mais a preocupa é o sistema de distribuição de fundos de apoio à sociedade civil deixar de lado as pequenas organizações de base, mais próximas do terreno e das pessoas, privilegiando antes grandes fundações e organizações internacionais. Um mecanismo de atribuição de pequenas subvenções “teria melhores resultados e fortaleceria a sociedade civil em zonas onde a população mais precisa dela”, vaticina. O apoio político é tão ou mais importante que o financeiro. “É muito importante que a UE pressione para que as obrigações a que o governo [georgiano] se comprometeu, [na área dos direitos humanos] sejam cumpridas”, defende ainda.
REFERÊNCIAS:
Entidades UE
Palavras, expressões e algumas irritações: caixa de Pandora
Abriu-se o “saco dos ventos”, disse Manuel Alegre, que ficou perplexo com a mudança de estratégia do secretário-geral do PS relativamente ao caso Sócrates. Mas só agora é que António Costa descobriu a brisa... da corrupção que se escapou da “caixa de Pandora”, onde cabiam Manuel Pinho e o Banco Espírito Santo. (...)

Palavras, expressões e algumas irritações: caixa de Pandora
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-05-28 | Jornal Público
SUMÁRIO: Abriu-se o “saco dos ventos”, disse Manuel Alegre, que ficou perplexo com a mudança de estratégia do secretário-geral do PS relativamente ao caso Sócrates. Mas só agora é que António Costa descobriu a brisa... da corrupção que se escapou da “caixa de Pandora”, onde cabiam Manuel Pinho e o Banco Espírito Santo.
TEXTO: A “caixa de Pandora” significa “a origem de todos os males”. A expressão voltou a circular na comunicação social através das palavras de Manuel Alegre, depois de, “de um momento para o outro, ter caído a estratégia de António Costa com mais de três anos de separar o caso Sócrates da política e do PS”. Falou e disse: “Abriram o saco dos ventos. ”Afinal, quem foi e o que fez Pandora? O dicionário enciclopédico explica o mito grego: “Primeira mulher, segundo Hesíodo. Criada por Atena e Hefesto com todas as perfeições, Hermes fê-la curiosa e enganadora. Zeus entregou-lhe uma vasilha fechada, que Pandora destapou e todos os males que ela continha se espalharam pelo mundo. ”Os males teriam sido inveja, ódio, dor, velhice, fome, pobreza, guerra e morte. Entre as várias listagens dos “ventos” malévolos que se libertaram da caixa, não consta a corrupção. Mas foi esta brisa. . . que António Costa, ex-ministro de José Sócrates, descobriu (só) agora. Para evitar “embaraço mútuo”, Sócrates “desfiliou-se” do PS. Se na altura da detenção do ex-primeiro-ministro o actual secretário-geral do PS conseguiu que sobre isso não se falasse no congresso que se avizinhava, agora será difícil fugir ao tema no próximo encontro na Batalha. O homem da “palavra dada, palavra honrada” tem agora a versão da “desonra para a democracia”, caso se provem as ilegalidades. A “vergonha” que os dirigentes socialistas dizem sentir chegou com algum atraso. “Finalmente começou a reflexão no PS”, disse Ana Gomes, que andou a falar sozinha desde que se divulgaram as ligações duvidosas entre Manuel Pinho e o BES enquanto era ministro de José Sócrates. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Diz-se que no fundo da “caixa de Pandora” se encontrava a “esperança” e que foi a última a escapar. Mas também se diz que Pandora não voltou a abrir a caixa e, por isso, “a esperança permanece até hoje guardada”. “Pandora” também significa “molusco hemibrânquio” e ainda “instrumento de dezanove cordas que é o baixo da mandolina”. E não há mal nisso. A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Trump já tem um adversário de peso em 2020: Elizabeth Warren
A corrida está aberta, agora que já há um nome de peso em jogo. A conhecida senadora do Massachusetts quer garantir a dianteira entre os democratas. (...)

Trump já tem um adversário de peso em 2020: Elizabeth Warren
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.433
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A corrida está aberta, agora que já há um nome de peso em jogo. A conhecida senadora do Massachusetts quer garantir a dianteira entre os democratas.
TEXTO: A senadora democrata do Massachussets Elizabeth Warren acaba de se tornar na primeira política de peso a declarar a intenção de se candidatar às eleições presidenciais de 2020 nos Estados Unidos. Com um vídeo a meio caminho entre a biografia e um programa económico divulgado online na véspera de Ano Novo, Warren coloca-se na dianteira dos vários membros do Partido Democrata que deverão tentar a candidatura. “A classe média da América está sob ataque”, diz no vídeo a senadora a quem o Presidente Donald Trump chamou várias vezes Pocahontas – isto porque ela diz ter antepassados nativo-americanos; entretanto, e depois de uma longa polémica, em Outubro apresentou os resultados de um teste de ADN que provam com grande probabilidade a existência de um distante antepassado na sua árvore genealógica. “Como é que aqui chegámos?”, pergunta Warren. “Os bilionários e as grandes corporações decidiram que queriam mais uma parte do bolo e recrutaram políticos para lhes cortar uma fatia mais gorda”, afirma, tocando nas suas habituais críticas aos grandes bancos e corporações. Warren anunciou que está a criar um comité exploratório – legalmente, esse é o primeiro passo para entrar numa corrida presidencial. Fá-lo num momento em que “outros candidatos, incluindo alguns dos seus colegas senadores, ultimam os preparativos para os seus próprios anúncios, alguns dos quais se esperam para os próximos dias”, escreve o diário The Washington Post. Até agora, só declararam interesse em concorrer dois políticos menos conhecidos, o republicano do Maryland John Delaney, e Julián Castro, antigo mayor de San Antonio, democrata que também foi secretário de Barack Obama para a Habitação e o Desenvolvimento Urbano – aconteceu no segundo mandato do ex-Presidente; Castro, hoje com 44 anos, era o membro mais novo da Administração. No vídeo divulgado por Elizabeth Warren, episódios da sua infância dura em Oklahoma (teve de servir à mesa aos 13 anos para ajudar a pagar as contas médicas do pai, que sofrera um ataque cardíaco) são intercalados com gráficos que ilustram a perda de poder de compra por parte da classe média, imagens de Trump e de alguns dos seus assessores de que os liberais menos gostam, incluindo Stephen Miller, o autor, entre outras, da política que levou à separação das crianças que entram de forma irregular pela fronteira mexicana dos familiares que com elas viajavam. Kellyane Conway, que foi directora da campanha do actual Presidente e é sua assessora desde Agosto de 2016, aparecendo com frequência nos média a defender as opções de Trump, também tem o seu lugar no vídeo. Para além do episódio do teste de ADN, ao qual não se faz qualquer referência nesta apresentação de candidatura, os seus apoiantes temem que também tenha perdido terreno com os resultados das eleições de Novembro, quando o sucesso dos democratas, que reconquistaram a Câmara dos Representantes, se ficou a dever a candidatos que em muitos casos pertencem a uma geração mais nova. “Warren perdeu o seu momento em 2016, e há razões para sermos cépticos face à sua possível candidatura em 2020”, escreveu este mês em editorial o jornal Boston Globe, da cidade que se espera venha a ser a sede de campanha da senadora. “Apesar de ser uma senadora eficiente e com impacto, e uma voz importante em termos nacionais, tornou-se uma figura divisiva. O que o país precisa depois das políticas de polarazição de Donald Trump é de uma voz unificadora. ”Mas aos 69 anos, a ex-professora de Direito não deixa de ser uma grande candidata. Para além da sua comprovada formidável capacidade de recolher fundos de pequenos doadores, tem uma facilidade em criar momentos virais que a colocam no centro das atenções. Num episódio em Fevereiro de 2017, quando foi impedida de criticar o então candidato de Trump a attorney general (equivalente a ministro da Justiça), Jeff Sessions (entretanto demitido), no Senado, desencadeou uma vaga de apoio nas redes sociais simbolizada pelo hashtag #shepersisted. Warren queria ler uma carta da viúva de Martin Luther King no debate sobre a nomeação de Sessions. O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, impediu-a: “Ela foi avisada. Recebeu uma explicação e, mesmo assim, ela persistiu [na leitura da carta de Coretta Scott King de 1986, onde esta criticava Sessions, nomeado na altura para juiz federal]”, afirmou para justificar a votação que se seguiu, e com a qual os republicanos conseguiram impedir que a democrata voltasse a tomar a palavra. Ora, foi precisamente o facto de ela ter “persistido” que foi sublinhado no apoio que originou. “Mesmo assim, ela persistiu” transformou-se num grito em comícios e manifestações de americanos liberais. Entretanto, lembra o Washington Post, passou este ano a apoiar candidatos ao Congresso um pouco por todo o país, montando “um gabinete de guerra” na suas sedes de campanha para a reeleição no Senado que permitiu “mentorar, ajudar e recolher dinheiro para outros candidatos ao Congresso ou a cargos locais, criando alianças no processo”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Passei a minha carreira a tentar ir ao centro da resposta, perceber porque é que a promessa da América funciona para algumas famílias, mas para outros que trabalham tão duro lhes escapa das mãos, entre as fendas abertas por um desastre”, afirma a agora candidata às primárias democratas. “O que encontrei é aterrador. Não é em fendas que as famílias caem, é em armadilhas. ”Warren foi eleita para o Senado em 2012, derrotando Scott Brown e recuperando um lugar ocupado antes por Edward M. Kennedy. Ao fazê-lo, tornou-se na primeira mulher senadora do Massachusetts. O vídeo divulgado esta segunda-feira termina com Warren na cozinha da sua casa, em Cambridge, no seu estado: “Se nos organizarmos juntos, se lutarmos juntos, se persistirmos juntos podemos vencer. Podemos e vamos vencer. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave guerra ataque mulher
"Dizer que está tudo online é uma forma de matar a privacidade"
Para Eva Galperin, directora de cibersegurança da Electronic Frontier Foundation, a ideia de que “a privacidade está morta com a Internet” é um caminho perigoso. (...)

"Dizer que está tudo online é uma forma de matar a privacidade"
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: Para Eva Galperin, directora de cibersegurança da Electronic Frontier Foundation, a ideia de que “a privacidade está morta com a Internet” é um caminho perigoso.
TEXTO: Desde cedo que Eva Galperin soube que queria lutar pelo direito das pessoas poderem expressar uma opinião – e ter ideias diferentes – sem medo. Filha de pais judeus, a família deixou a antiga União Soviética quando ainda era criança devido ao aumento do anti-semitismo na região, e mudou-se para a Califórnia. "Cresci a pensar no que poderia fazer se o meu país actual ganhasse interesse em restringir as minhas liberdades”, diz Galperin. Hoje, é a directora de cibersegurança da Electronic Frontier Foundation (EFF), uma organização sem fins lucrativos dedicada a proteger a privacidade e liberdade expressão no meio digital. Em entrevista ao PÚBLICO durante uma conferência de cibersegurança organizada pela Kaspersky Labs, admite estar preocupada sobre a forma como “a Internet já é usada como uma ferramenta para abusar os direitos das pessoas. ”Desde 2007 que passa os dias a monitorizar formas de “pessoas poderosas” abusarem da Internet, e a escrever relatórios sobre aquilo que descobre. É conhecida, entre os profissionais da área, como ‘a fada da indignação’ – encarregue da missão de alertar as pessoas sobre os problemas no digital. Quais são os maiores focos da EFF em 2018?Proteger as populações vulneráveis em todo o mundo. Grande parte do meu trabalho é ensinar as pessoas a terem mais segurança online. Em particular, a protegerem a sua informação pessoal e evitarem serem vítimas de cibervigilância. Faço muita investigação sobre ataques desencadeados por estados, mas também trabalho com vítimas de violência doméstica que estão preocupadas com os seus dispositivos e as suas contas. Cada vez mais, os problemas começam em casa. É muito comum a Internet ser utilizada para abusos domésticos?Ainda não temos estatísticas, mas cada vez mais pessoas vêm ter comigo com medo que outras pessoas usem aparelhos ligados à Internet para as espiar ou assustar. Ligar e desligar luzes, por exemplo. Uma das grandes mudanças que vimos nos últimos anos tem sido o aumento da facilidade com que se ligam aparelhos electrónicos à Internet. Há uns anos, tinha-se de ser um geek e saber fazer as ligações sozinho, mas hoje basta ir a uma loja de aparelhos electrónicos e comprar assistentes digitais inteligentes, e lâmpadas ou microondas que se ligam do telemóvel. Deve-se evitar este tipo de aparelhos?Não, mas temos de garantir que têm segurança. Como é que se faz isto?Pressionamos os fabricantes para criar melhores políticas e prácticas. Por exemplo, no estado da Califórnia, tornaram recentemente ilegal o uso de palavras-passe básicas. Por exemplo, "1234" ou "Admin Admin" eram passes muito comuns. Só isto, já aumenta a segurança de muitos dispositivos. Depois, é preciso mais educação. As pessoas têm de saber controlar os seus dispositivos, mantê-los actualizados, e conseguir saber imediatamente se alguém os utilizou. . . E têm de saber como desligar os aparelhos, ou como descobrir quando estão a ser gravadas. Muitas vezes, as vítimas em casos de abuso doméstico não têm este conhecimento porque é o abusador que gere os dispositivos. Há cada vez mais alertas nas notícias sobre falhas de segurança e ataques na Internet, mas as pessoas parecem não estar a alterar os seus hábitos ou escolher o que partilham online. O Facebook é um exemplo – inquéritos nos EUA após o escândalo com a Cambridge Analytica mostra que a utilização das redes sociais mudou pouco. As pessoas não estão a levar a privacidade a sério?As empresas tentam esconder as desvantagens e as trocas que as pessoas têm de fazer para ter acesso a certos serviços. As pessoas são empurradas para achar "Oh, que giro, serviços grátis. Sim, quero. " O crescimento da casa inteligente é um dos grandes perigos, não apenas porque os criminosos podem ter acesso à informação, mas porque os governos podem ter acesso à informação. E as más ideias não vêm apenas dos países autoritários. O FBI, por exemplo, quer acesso rápido aos dispositivos das pessoas. Há uma batalha constante das autoridades e dos governos para saber tudo o que as pessoas fazem online. Tenho um andar inteiro na EFF que emitem processos legais contra a invasão da privacidade, e trabalham com a ONU e a OECD. Falamos com governos sobre o que é que se pode fazer. Não há motivos legítimos para se recolherem dados anonimizados? Por exemplo, com as cidades inteligentes que instalam sensores para se gastar menos em iluminação pública, poupar água, ou gerir o trânsito. Sim. Mas o que é feito com esses dados e com quem é que são partilhados é muito importante. E é preciso definir isto antes de partilhar os dados, porque depois de abrir a caixa de Pandora é muito difícil voltar atrás. Quando os governos falam de cidades inteligentes e dados é importante conhecer as políticas: o que é feito para garantir a segurança da informação? Quem é que vai ter acesso aos dados? São apagados? Quando?Quais são os alertas vermelhos a que os cidadãos devem estar atentos?Os problemas com a tecnologia – em particular, a possibilidade de vigilância em excesso – é que afectam primeiro os grupos mais discriminados das populações, como as minorias, as pessoas com menos dinheiro. São as pessoas que não têm o poder para impedir o governo de investigar as suas vidas, que não sabem pedir ajuda. Um dos nossos projectos é o Street-Level Surveillance [vigilância nas ruas], que alerta para o aumento das tecnologias de videovigilância usadas pelas autoridades. Por exemplo, bases de dados para reconhecer tatuagens. É preciso perceber as várias formas como a polícia e os governos usam os dados que recolhem das pessoas. Há casos em que os aparelhos tecnológicos ajudam a resolver crimes. Por exemplo, encontrar o culpado de assassinos devido a dados em relógios inteligentes. Sim, mas se criamos um atalho para as autoridades, é impossível garantir que só os bons da fita – o que quer que isto signifique – os usem. Se é algo que aprendemos, ao ver novas falhas de segurança ano após ano em vários governos, é que os backdoors criados [métodos e atalhos para contornar sistemas autenticação num computador] são inevitavelmente ser usados por pessoas fora do sistema. Mesmo que confiemos no nosso governo e nas nossas autoridades, será que confiamos em todos os governos que podem tentar aceder à Informação? É o fim da segurança como a conhecemos. A tendência das autoridades quererem mais acesso a dados é algo que se vê em todo o mundo?É ridículo achar que só os governos autoritários querem ver as mensagens das pessoas. [Na EFF] vemos ataques deste tipo dos EUA vezes sem conta. O FBI essencialmente decidiu que deve ter este poder e está sempre a pedir mensagens encriptadas às empresas. Na Austrália, por exemplo, há uma proposta para criar backdoors para chegar a sistemas de encriptação. No Reino Unido foi aprovado há pouco tempo o Investigatory Powers Act que diz que as empresas devem poder fornecer dados encriptados às autoridades em casos especiais. Há muita legislação perturbante a ser preparada. É importante alertar as pessoas. É daí que vem o nome ‘fada da indignação’, como parte da sua descrição na EFF?É uma alcunha do trabalho. Veio depois de muitos anos a escrever no nosso site sobre os problemas que afectam a Internet e o mundo da cibersegurança. No final de um texto, e de explicar tudo, muitas vezes alguém diz "Ok, boa, explicaste tudo, mas agora precisamos do parágrafo de indignação". Alguém tem de espicaçar o interesse das pessoas, criar um sentimento de indignação sobre os problemas, para levar as pessoas à acção. Qual é a solução? Usar menos aparelhos tecnológicos, partilhar menos informação online?E tornarmo-nos eremitas? Voltamos para uma caverna? Recusamos electricidade? Ninguém partilha tudo online. É um argumento que oiço muito, mas é a falácia do espantalho. Quando as pessoas dizem que a privacidade está morta porque tudo está online, estão-se a esquecer que o objectivo da privacidade não é ter pessoas a viver isoladas sem partilhar nada com ninguém. O conceito de privacidade é que as pessoas devem ter o direito de decidir o que é que vão partilhar e com quem. Temos várias partes de nós que mostramos a diferentes pessoas. A pessoa que somos no trabalho é diferente da pessoa que somos em casa, que é diferente da pessoa que mostramos ao governo, que é diferente que a pessoa que somos quando vamos à igreja… E temos o direito de controlar essas identidades. É assim que eu vejo a privacidade. Nesse sentido, a privacidade não está morta, mas dizer às pessoas que "está tudo online" é uma forma de a matar. Há alguma forma de as pessoas se protegerem? Li que a Eva considera que o Walkman foi uma das primeiras tecnologias para garantir a privacidade. E agora, o que é que se faz?A minha mãe tem uma teoria que o colapso da União Soviética começou com a invenção do Walkman. Havia uma cassete, mais ninguém podia ouvir o que lá estava, as pessoas podiam ficar sozinhas e havia privacidade. Hoje, há as VPN [redes virtuais privadas que permitem aos utilizadores mascarar a sua identidade online]. Quando se tem uma VPN pode-se fingir que se vem de outro local e, de certa forma, escapar à censura. E permite ofuscar o tráfego de Internet. Depois há aplicações para encriptar mensagens. Há cada vez mais países interessados em ter acesso a isto e é preciso continuar a lutar. Chegou à EFF em 2007. Como é que a Internet, e os problemas associados à Internet, mudaram na última década?Quando comecei a trabalhar na EFF, estávamos a passar pela Primavera Árabe e tínhamos uma ideia muito ingénua da Internet. Durante a minha licenciatura, estudei a censura da Internet na China… O motivo de a estudar era porque na altura pensava-se que era o único exemplo de censura óbvio da Internet. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Achávamos que a Internet só se ia tornar mais livre e mais aberta, e que tudo ia ser fantástico e uma força para a democracia e para o bem. Só que não. Acho que nos últimos cinco anos descobrimos que isto foi muito ingénuo da nossa parte. Estamos a assistir à balcanização da Internet – está-se a dividir e a separar cada vez mais seja por política, economia…Além do aumento da vigilância e do controlo online, que outros problemas é que a EFF segue?Há vários países a aproveitarem-se da Internet para campanhas de propaganda – a influência que têm ainda é incerta. Nos Estados Unidos tornou-se de bom gosto culpar a eleição de Donald Trump em manipulação russa das redes sociais. É claro que a Internet não é a única culpada. Nenhuma campanha de bots funcionava se não estivesse a explorar problemas que já existem. O PÚBLICO viajou até Barcelona para assistir à conferência de cibersegurança Kaspersky NeXT a convite da Kaspersky Labs.
REFERÊNCIAS:
Partidos LIVRE