Morreu Catalina Pestana, “uma mulher de muitas convicções”
A antiga provedora foi o rosto da instituição durante o processo da Casa Pia. “Nunca desistiu de combater pelas causas em que acreditava”, recorda Marcelo Rebelo de Sousa. (...)

Morreu Catalina Pestana, “uma mulher de muitas convicções”
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-31 | Jornal Público
SUMÁRIO: A antiga provedora foi o rosto da instituição durante o processo da Casa Pia. “Nunca desistiu de combater pelas causas em que acreditava”, recorda Marcelo Rebelo de Sousa.
TEXTO: Maria Catalina Batalha Pestana foi a última provedora da Casa Pia de Lisboa e a primeira mulher a assumir aquele cargo tendo sido nomeada pelo então ministro da Segurança Social Bagão Félix, em 2002, na sequência do escândalo de abusos sexuais que envolveu alunos e um ex-funcionário da instituição. É lembrada como "mulher de muitas convicções", "uma força da natureza" que esteve "sempre ao lado dos que não têm voz". A antiga professora morreu aos 72 anos num hospital em Lisboa, na madrugada deste sábado, vítima de doença, confirmou o advogado da Casa Pia à agência Lusa. De acordo com Miguel Matias, Catalina Pestana estava internada numa unidade hospitalar em Lisboa e "morreu durante a noite" vítima de uma infecção generalizada. As cerimónias fúnebres decorrerão no domingo, a partir das 11h, na Igreja da Cruz Quebrada, Oeiras. "Foi uma pessoa admirável, com rosto, alma e coração. Esteve sempre ao lado dos que não têm voz, não têm poder e que não fazem notícias, não abrem telejornais, dos que estão indefesos", disse Bagão Félix em declarações à agência Lusa. Portugal perdeu "uma grande senhora, uma portuguesa de eleição, uma pessoa que ao longo da sua vida juntou qualidades essenciais para as causas cívicas e públicas em que se envolveu". Era alguém "que juntava o sentido de dever, força da coragem, a enorme sensibilidade humana e a consistência da vontade. Trabalhou sempre em nome de um valor ético que às vezes desprezamos, que é valor ético da esperança", acrescentou. Bagão Félix lembrou ainda que a antiga provedora lutou sempre contra "a tecnocracia estatística", que transforma pessoas em números. "Catalina Pestana teve uma vida feita pela grande luta pelas causas em que acreditava, com total autenticidade", sublinhou ainda. No site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa lembra que Catalina Pestana "foi a primeira mulher a assumir a direcção da centenária Casa Pia de Lisboa, num dos momentos mais difíceis que a instituição atravessou". "Catalina Pestana, professora e cuidadora, nunca desistiu de combater pelas causas em que acreditava, nomeadamente a defesa das crianças acolhidas. Depois da Casa Pia encarregou-se da refundação da Casa do Gaiato de Lisboa", acrescenta. O Presidente da República recorda assim "a sua coragem no desempenho das funções profissionais e a genuinidade com que tratava todos com quem convivia". Por seu lado, o conselho directivo da Casa Pia de Lisboa destaca, em comunicado, o legado "particularmente relevante" deixado pela antiga provedora Catalina Pestana na "defesa intransigente" dos direitos das crianças e jovens. Já Edmundo Martinho, actual provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), conta que trabalhou "muito próximo e em vários momentos da vida" com Catalina Pestana. "Era uma mulher de muitas convicções, muito combativa e muito enérgica a defender os seus pontos de vista mesmo que não fossem consensuais", lembra. "São características que não são muito comuns hoje em dia. " Fica como "um exemplo de participação cívica". "Era uma força da natureza", recorda também Rui Godinho, director para a Infância, Juventude e Família da SCML. Foi há "25 ou 30 anos" que o responsável da SCML se cruzou pela primeira vez com Catalina Pestana. Tinha 16 anos quando trabalharam juntos no âmbito de um programa do Projecto Vida, o Viva a Escola, para prevenção da toxicodependência nas escolas, recorda. "Era um jovem quando a conheci e foi uma grande inspiração. "Tinha "uma força contagiante e era muito empenhada e dedicada", lembra Rui Godinho. O advogado Miguel Matias lembrou, em declarações à Lusa, o "trabalho gigantesco", contra muitas dificuldades, da antiga provedora da Casa Pia de Lisboa na defesa das vítimas de abusos e da instituição. De acordo com o jurista, que trabalhou na defesa das vítimas juntamente com Catalina Pestana, a antiga provedora enfrentou as dificuldades do processo da Casa Pia "de peito aberto e sempre preocupada com a defesa das crianças, do bom nome da instituição e dos funcionários", num período que classificou como "muito conturbado e difícil". Catalina Pestana, frisou, teve sempre em mente "a justiça". "Foi uma pessoa com quem tive a sorte e o privilégio de trabalhar e de encetar uma amizade que ficou para sempre", disse. A imagem que fica, referiu, é "de uma pessoa amiga, muito determinada, muito boa" e que "soube reunir uma equipa" para levar a cabo um trabalho para que a defesa das crianças fosse "efectivamente salvaguardada". A antiga provedora da Casa Pia de Lisboa permaneceu no cargo até Maio de 2007 — quando o julgamento do processo Casa Pia ainda decorria — foi uma das principais defensoras das crianças e jovens que diziam ter sido abusados sexualmente. Em Outubro de 2007, mais de cinco anos depois de o escândalo ter rebentado, a ex-provedora veio a público afirmar que os abusos sexuais na instituição continuavam. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Catalina Pestana, natural do Barreiro, começou a sua carreira profissional aos 24 anos como professora de um colégio feminino, depois de se ter licenciado em Filosofia na Universidade de Letras de Lisboa. Foi uma das organizadoras dos campos de férias para os filhos de presos políticos. Um ano depois do 25 de Abril de 1974 assumiu a direcção do Colégio de Santa Catarina, em Lisboa, que estava sob a tutela da Casa Pia de Lisboa, cargo que exerceu durante mais de uma década. Nunca abandonou o ensino, concluiu o mestrado em Psicologia Educacional, na década de 80 deu aulas na Faculdade de Motricidade Humana e no início da década de 90 foi coordenadora nacional do Projecto Vida de Prevenção da Toxicodependência em Meio Escolar. Em 1998 foi directora do Plano para a Eliminação de Exploração do Trabalho Infantil. Em Dezembro de 2002, após a demissão de Luís Rebelo exonerado do cargo na sequência do maior escândalo de abusos sexuais em Portugal, foi nomeada provedora da Casa Pia. Assumiu até ao fim uma postura de defensora acérrima dos menores que afirmavam ter sido abusados.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos escola mulher social doença infantil
O que Emília mais quer é ver os filhos encaminhados
Só tem o 4.º ano, mas incentivou os filhos a fazer o 12.º. Um ainda está precário, o outro tem contrato de trabalho. É beneficiária do Rendimento Social de Inserção desde que ele foi inventado. (...)

O que Emília mais quer é ver os filhos encaminhados
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.35
DATA: 2018-12-16 | Jornal Público
SUMÁRIO: Só tem o 4.º ano, mas incentivou os filhos a fazer o 12.º. Um ainda está precário, o outro tem contrato de trabalho. É beneficiária do Rendimento Social de Inserção desde que ele foi inventado.
TEXTO: Esta é a terceira de uma série de reportagens sobre pobreza. Acompanhe nos próximos dias o dossier O que é ser pobre hoje em Portugal?Emília Esteves não sabe precisar quando começou a receber o Rendimento Social de Inserção (RSI). “Foi logo no princípio”. E “logo no princípio” quer dizer há mais de 20 anos. O então Rendimento Mínimo Garantido foi lançado em 1996, no primeiro Governo de António Guterres, actual secretário-geral das Nações Unidas. Nunca deixou de precisar daquela prestação social. “Já fiz vários cursos, mas os cursos que eu faço depois não dão em nada”, diz ela, num encolher de ombros. Abate-se sobre quem se eterniza nesta medida um forte estigma. Só olhando para cada caso se notam os emaranhados de grande complexidade. Por vezes, diz Jacinta Melo, assistente social da Agência para o Desenvolvimento Integrado de Lordelo do Ouro, o ponto de partida é tão baixo que a mudança só se vê na geração seguinte. E é isso que está a acontecer na casa de Emília. A mulher, de 43 anos, não quer transmitir a pobreza aos filhos, como se fosse uma doença hereditária. Assinou contratos de inserção, como qualquer beneficiário de RSI. E cumpriu-os, conforme foi sendo possível. Filhos limpos, com as vacinas em dia, consultas periódicas ao médico de família, a horas na escola. Tem dois rapazes com o 12. º ano. O de 24 anos fez uma formação em segurança e trabalha como segurança, “com contrato e tudo”. O de 26 fez um curso de logística. Tem andado de um lado para o outro. “Vai fazer férias, substituir pessoas que fiquem doentes, grávidas”, explica ela. Ninguém lhe fale no RSI. Não quer ser beneficiário de RSI. Quer um trabalho estável. A rapariga, de 25 anos, tem um défice cognitivo. Seguiu um currículo ajustado às suas capacidades. Fez dois cursos de limpezas. “Ela quer trabalhar, mas ainda não arranjou. ” O menino, de dez anos, está na escola. Emília não trouxe a pobreza para a família. A pobreza já vinha de trás. Nasceu na Ribeira--Barredo, no centro histórico do Porto, então um lugar insalubre e sobrelotado, antes do esvaziamento e do turismo. Quando a família foi realojada no Bairro do Aleixo, ela mal sabia andar. O futuro de pobreza começou a delinear-se cedo. Ninguém lhe adivinhava outro. Nasceu com uma deficiência numa perna num tempo em que qualquer deficiência tendia a ser encarada como uma condenação. Ainda no início deste mês, no Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, o Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE, na sigla em inglês) alertou para o facto de as mulheres com deficiência enfrentarem um risco de pobreza (21%) superior ao das mulheres sem deficiência (16%) e ao dos homens com deficiência (19%). Ia nos sete anos, morreu-lhe a mãe. Pouco frequentou a escola. Só fez o 4. º ano. Cresceu entre a casa do pai e a casa da avó paterna. Uma confusão de que nem quer falar. Ainda adolescente, engravidou do cunhado. “Tive um filho aos 17, outro aos 18, outro aos 19. ” Entre os dois rapazes mais velhos, nasceu a rapariga. Foi vivendo com os filhos, a irmã e os filhos dela e o companheiro de ambas até a irmã “pôr o homem fora de casa, por violência doméstica”. Depois, a irmã saiu do apartamento camarário, deixando para trás um filho. E ela ficou com três filhos, um sobrinho, o companheiro, agora uma presença intermitente, e, logo, outro filho. É lá, na Pasteleira, que ainda mora, com a rapariga e o menino. Anda sempre a contar os trocos, sobretudo desde que o pai dos filhos morreu, já lá vai um ano. Organiza-se com 259 euros de RSI, 40 euros de pensão de sobrevivência, 37 de abono. “A minha filha tinha bolsa, mas o curso acabou”, conta. Tem de pedir um atestado para ver se tem direito a prestação social para a inclusão, destinada a quem tem um grau de incapacidade superior a 60%Vale-lhe que só paga 28, 45 euros de renda à Câmara do Porto. As outras despesas correntes são difíceis de suportar. “Água, luz, gás, TV cabo. Não tenho conseguido pagar a luz. Este mês foi 70, 80 euros. ” Raro é o mês em que a técnica que a acompanha não tem de fazer um pedido de apoio à acção social para a electricidade. Já pediu até uma fiscalização, não vá alguém estar a puxar a sua luz. A técnica da Agência para o Desenvolvimento Integrado de Lordelo do Ouro tentou que esta família beneficiasse do Programa Operacional de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas, só que o número desses cabazes alimentares é limitado: Emília não foi contemplada. E o apoio que recebe dos Vicentinos é demasiado pontual. Quando se vê muito aflita, pede ajuda ao filho segurança. “Ele lá vai ao supermercado, mas diz: ‘Maria, o dinheiro também é pouco. ’” Anda de supermercado em supermercado, sempre à procura “do mais baratinho”. Consegue comprar carne ou peixe. “Quando está a expirar o prazo, fica mais barato e eu compro. ”Se lhe perguntarem o que mais quer na vida, Emília dirá: “Ver os filhos todos encaminhados. E mais nada. ” Nenhum dos seus filhos quer viver na agonia dela. Emília bem vê como o que está precário, às vezes, até fica exasperado. “O meu filho não quer o RSI. O meu filho quer arranjar um emprego fixo que dê para ele se governar. ” Ele está à procura de uma oportunidade para fazer um curso de segurança, como o irmão. Fernando Diogo, professor da Universidade dos Açores, fala numa “espécie de corrida ao armamento escolar”. “À medida que aumenta a escolaridade entre os mais pobres, também aumenta nas outras classes sociais. ” E estes últimos estão em vantagem, desde logo por outro tipo de apoio escolar. Um estudo recente da ODCE indica que pode levar cinco gerações para uma criança que nasce numa família de baixos rendimentos alcançar um rendimento médio. No futuro dos filhos, Emília tem fé. No futuro dela, não. “Andei em cozinha, fiz coisa de ambiente, fiz competências básicas. Acho que isso não serve para nada”, diz. “Gostava de ter um trabalho. Podia fazer limpezas. Hoje, até para isso pedem muita coisa. É carta de condução. É falar línguas. É. . . ”Não é só a baixíssima escolaridade, a total inexistência de experiência laboral, a deficiência numa perna, nem a história de maus tratos de que prefere nem sequer falar. Há também o rosto cavado pela falta de dentes. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. “Já estive muito pior, só tinha raízes, apanhava muito abcesso”, vai dizendo. “Andei a tirar os dentes. Foi a ADILO que me arranjou para a clínica da Universidade Fernando Pessoa. Parece que a Junta de Freguesia de Lordelo do Ouro tem um protocolo. ” Tirar não chega. “Tenho de ter placa. Já pedi orçamentos, mas é muito caro”, lastima. A falta de saúde oral é um problema sério. Às vezes, a hipótese de arranjar emprego e, com isso, sair ou não da pobreza depende de ter ou não uma prótese dentária, lembrava, numa conversa telefónica, Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas. E este, como outros factores de exclusão, não é bem uma escolha. “Ou compro a placa ou ponho comida na mesa. ”, resume Emília. Há quem o use como trampolim, mas nem o ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, Vieira da Silva, encara o Rendimento Social de Inserção (RSI) como porta de saída da pobreza. “O RSI não é concebido para diminuir a linha de pobreza, mas para diminuir a severidade da pobreza”, sublinha. A linha de pobreza é um indicador relativo. Representa 60% da mediana do rendimento das famílias. A taxa de 2017 ficou-se pelos 468 euros por mês. Ora, um beneficiário de RSI recebe, no máximo, 188, 68 euros. O valor médio da prestação, em Setembro, era 114, 81 euros. “Não é indiferente se as pessoas estão longe ou perto daquele limiar”, diz. A taxa de pobreza tem vindo a baixar desde 2015, abrangendo agora 17, 3% da população portuguesa. A taxa de privação material também desceu para 16, 6% e a taxa de privação material severa para 6, 0%. Os beneficiários de RSI, os mais pobres dos mais pobres, nem chegam a 2, 5%. O ministro explica o aumento progressivo de beneficiários, que vem de 2015, com a alteração das regras de acesso. “O valor de referência subiu”, lembra. “À medida que se tem um objectivo mais ambicioso de apoiar pessoas, é natural que haja mais pessoas integradas nessa prestação social. ”Fernando Diogo – professor da Universidade dos Açores especializado em emprego, pobreza e RSI – concorda com a análise. “O número de beneficiários desceu quando as dificuldades das famílias aumentaram porque se restringiu o direito à prestação, agora assistimos ao efeito contrário”. Também não lhe parece que esta medida, por si só, possa tirar uma pessoa da pobreza. Para abandonar a medida há que encontrar um emprego estável e uma remuneração suficiente para viver. “Se há crescimento económico significativo, estabilidade no trabalho e empregos, então o trabalho dos técnicos para que as pessoas deixem de precisar da medida é facilitado”, salienta. No entender deste especialista, o RSI “tem uma utilidade muito concreta: reduz o impacto da pobreza na vida das pessoas, impede a fome e as carências mais agudas, vai contribuindo para a qualificação e para a capacitação das pessoas através de vários tipos de formação e até para a dignidade de alguns através de ocupações com um certo ar de emprego que se vão arranjando”. Quem são, afinal, os beneficiários de RSI? Uma parte considerável tem menos de 18 anos (70621) e um número razoável já ultrapassou os 65 (5267). Em Setembro, 145809 estavam em idade activa. Naquele mesmo mês, segundo o Instituto de Segurança Social, no território continental 8997 trabalhavam e 1 234 tinham trabalhado até há pouco, já que auferiam prestações de desemprego. Todos os beneficiários que estejam desempregados e em idade activa têm de estar inscritos no centro de emprego, só que nem todos estão aptos para o mercado de trabalho. Naquela altura, 10 409 frequentavam acções de emprego e 6 658 acções de formação profissional ou de educação. Muitos não têm escolaridade que lhes permita frequentar formação profissional. Não completaram qualquer ciclo, têm o 4º ano ou o 6. º ano. E isso torna a sua inserção laboral mais complexa. Ana Cristina Pereira
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave homens filha escola violência exclusão filho educação mulher fome ajuda homem carne adolescente social criança doença igualdade género estudo espécie mulheres doméstica pobreza desemprego rapariga abate
O enxoval, ou o destino numa arca
Lençóis, toalhas, bordados, heranças. Numa arca guardava-se "uma carga simbólica de aprisionamento feminino" no casamento e no lar. Foi substituído pela universidade, pela profissão, pela compra rápida. O enxoval enquanto objectivo social está em perda, mas ganha sempre na memória familiar e nos afectos. Último texto da segunda série Objectos (quase) obsoletos, em que olhamos para o que foi substituído, eliminado ou transformado nas casas portuguesas nas últimas décadas. (...)

O enxoval, ou o destino numa arca
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Lençóis, toalhas, bordados, heranças. Numa arca guardava-se "uma carga simbólica de aprisionamento feminino" no casamento e no lar. Foi substituído pela universidade, pela profissão, pela compra rápida. O enxoval enquanto objectivo social está em perda, mas ganha sempre na memória familiar e nos afectos. Último texto da segunda série Objectos (quase) obsoletos, em que olhamos para o que foi substituído, eliminado ou transformado nas casas portuguesas nas últimas décadas.
TEXTO: Victor Castro é um homem no meio de enxovais. Trata os bordados por tu e na sua loja verde-água, a Príncipe Real Enxovais, debita os números com os quais o país, talvez sem pensar muito nisso, já se conformou. “Quando a minha mãe abriu esta loja havia 30 e tal lojas de enxovais em Lisboa e arredores. Agora estamos reduzidos a duas. ” A socióloga Sandra Marques Pereira confirma: “Enxoval é algo que nos é obsoleto, é minoritário. ” Mas a mulher que entra na loja lisboeta continua a ser recebida com o mesmo entusiasmo e cortesia de há sete décadas. Afinal, “esta é uma casa de rainhas, você é uma princesa”. No rol do enxoval de 2018 pode estar a tanga de Durão Barroso, as três camisas de dormir de Beatriz Costa ou a primeira mulher de Michael Douglas. O enxoval é um conjunto de objectos cuja ausência ocupa lugar. Um espaço simbólico tão central como era a sua presença física, guardado numa arca de cânfora, na vida dos últimos séculos. É também um conceito e uma prática que depois de séculos em vigor desacelerou abruptamente em poucas décadas – talvez sobretudo nos últimos 30 anos. Construir um enxoval de casamento é uma tradição nascida no século XIV e associada de perto à prática do dote, que punha uma rapariga na pole-position da montagem de uma casa e do começo da sua vida. Como esposa e fada do lar. “Ainda tenho uma arca com o enxoval da minha filha de 26 anos, que a minha mãe fez para a neta”, comenta Victor Castro. Espera que um dia ela lhe suceda no negócio dos enxovais, mas por agora a jovem segue a carreira diplomática noutros países. “A minha mãe morreu com 94 anos, ainda a trabalhar aqui”, continua Victor Castro, um septuagenário vigoroso. “Ela começou por fazer enxovais na casa onde nasci, aqui ao pé da Praça das Flores. Depois começou a ter empregadas e chegou a ter 30 e tal só em casa a bordar. E eu pequenino, a gatinhar debaixo das saias das bordadoras, fui praticamente criado no meio ambiente. ”Maria Cristina Castro fez o enxoval mais completo e dispendioso para o casamento de Diandra e Michael Douglas. Apesar de ter vendido também para Jackie Kennedy, Grace Kelly ou para a rainha Máxima da Holanda. Inaugurou a loja em 1960, decorando-a tal e qual como está hoje com a ajuda do filho, e chegou a ter 230 bordadoras a trabalhar para as clientes, sobretudo as ricas mulheres dos banqueiros e as latifundiárias do Alentejo. Uma loja de preciosidades que “só não conhecem os jovens, porque toda a gente de idade conhece esta casa”, garante Victor Castro. Dobra e desdobra toalhas únicas bordadas à mão com preços de quatro dígitos. Abrem-se gavetinhas para mostrar lenços e enxovais de bebé. A clientela renova-se, mas não volta a ser o que era. Nascer rapariga nas últimas quatro décadas era quase garantia da construção de um enxoval para um futuro casamento, normalmente mantido em segurança numa mala ou arca que, pelo menos a cada Natal ou aniversário, ganhava novos tesouros – mesmo que a contragosto das filhas e netas que queriam era receber uma bicicleta ou uns ténis mais cobiçados. “Era um objectivo de grande parte dos grupos sociais”, reflecte Sandra Marques Pereira, investigadora do ISCTE e especialista em temas ligados à habitação. “Mesmo dos grupos menos privilegiados. ”No final do século XIX, nos meios rurais portugueses, criar um enxoval, ou bragal, era um objectivo acompanhado de um dote, quando possível, dinheiro para ajudar o novo casal. Entre as donas de casa do Norte, um “bom bragal” era uma “arca de castanho cheia de roupa branca, alva de neve, rescendendo ao aroma do feno”, como descreve Sousa Viterbo em 1912 em Influencia do progresso nas industrias caseiras e domesticas, citado na História da Vida Privada em Portugal. Já em 1920, como mostra uma imagem de um armário carregado com um belo bragal, retirado da Revista ABC, “a cerimónia de noivado ou esponsais só era realizada pelas famílias mais gradas. Mas com ou sem ritual, ajustado o casamento, iniciava-se ou intensificava-se a preparação do enxoval da futura esposa, contratando-se modistas, percorrendo os armazéns, confeccionando a própria noiva parte do seu bragal”. As disparidades económicas impediam que este objectivo social transversal, bem como o ideal de mulher do Estado Novo, exclusivamente dedicada ao lar e à família, fosse cumprido por todos. Era preciso trabalhar fora e nem sempre havia dinheiro para grandes linhos, estopas e bordados, muito menos arcas de cânfora. Mas a aldeia mitificada seria sempre a da roupa branca, com “Três corpetes, um avental/ Sete fronhas, um lençol/ Três camisas do enxoval/ Que a freguesa deu ao rol” no trinar de Beatriz Costa nos anos 30. Na era colonial, os enxovais viajariam também com os portugueses para o chamado UItramar – "A arca da minha mãe foi para Moçambique com o seu enxoval, nas entranhas do [paquete da Companhia Colonial de Navegação] Infante”, relata Isabela Figueiredo no seu Caderno de Memórias Coloniais (2009). Noutra parte da experiência portuguesa, e desde meados do século XX, encontrávamos a clientela da Príncipe Real Enxovais. “Os principais clientes, que mais fama davam a esta loja, eram todos os banqueiros – Champalimaud, Espírito Santo, Mello, Pereira Coutinho”, elenca Victor Castro, que fala com carinho das clientes Mary Espírito Santo ou Amália Rodrigues. “Na década de 70, 80 e 90, quem pagava os enxovais em Portugal era a avó e a mãe. Vinham com a filha casadoira para fazer o seu enxoval. E havia avós e mães que assim que nascia um filho ou mais um neto começavam logo a fazer o enxoval. Entre as classes médias e os mais ricos, do Alentejo, os enxovais eram feitos na própria casa pelas mães e avós, e punham as filhas todas a bordar. Não havia televisão e a diversão era tudo a falar à noite a bordar para o enxoval. Os mais ricos, quando não estavam para fazer isso, vinham aqui. ” Victor Castro tem a história na ponta da língua. Ela acabava com Maria Cristina a entregar tudo “em caixinhas muito bonitas e em papel de seda”. Mas “desde que o Durão Barroso disse que isto estava tudo de tanga, começou a desaparecer esta gente toda, já não havia avós com dinheiro, já não havia mães com dinheiro, as mães agora trabalhavam. Acabou-se, é a própria noiva que vem”, dispara o comerciante. “O que não quer dizer que não haja casos excepcionais como a senhora que vende peixe lá em baixo no Mercado da Ribeira e que quis daqui o melhor que houvesse para a filha que ia casar. ”Nas últimas poucas décadas, ou as arcas ficaram para trás enquanto as raparigas faziam outros caminhos, ou os seus conteúdos viajaram com elas para vidas independentes. Nos centros urbanos e mesmo nas localidades mais pequenas, é menos frequente "fazer enxoval" ou algum jovem ter um enxoval à sua espera quando atingir o patamar da emancipação. Monta-se casa sozinho ou acompanhado, aluga-se quarto ou casa, comprar é mais difícil, mas às compras para os panos, lençóis e mobílias de montagem rápida é mais fácil. As finanças esticam e encolhem – e também deixaram de ter um só fim. O enxoval claramente “simboliza uma concepção da mulher e da família”, atesta ao PÚBLICO Sandra Marques Pereira, também autora de Casa e Mudança Social (2013). “É um objecto que, para os padrões contemporâneos, tem uma carga simbólica de aprisionamento feminino e de destino e acredito que isso [hoje] seja repudiado pela maioria porque significa a responsabilidade no tratamento da casa” exclusivamente para a mulher, analisa. “É um símbolo de uma perspectiva completamente anacrónica do que é a mulher e a família” – e do matrimónio como destino único. Vânia Estima, de 25 anos, cresceu numa aldeia na zona de Albergaria-a-Velha. A mãe e a tia, duas irmãs com dois anos de diferença nas idades e nascidas entre 1968 e 70, tiveram enxovais “exactamente iguais”. A mãe de Vânia casou, teve a filha, “tudo como os chamados parâmetros da sociedade exigiam”, conta ao telefone. A irmã não, e a avó de Vânia muitas vezes era ouvida a queixar-se: “Gastei tanto dinheiro no teu enxoval e não te casas?” Vânia Estima viu construir o seu próprio enxoval, embora algumas das suas amigas e contemporâneas não tenham passado pelo mesmo processo. A socióloga Sandra Marques Pereira é cautelosa na avaliação do fenómeno, salvo em dizer que se trata de uma prática em desuso excepto em “certos segmentos sociais mais conservadores, mais católicos” ou “eventualmente em certos meios rurais”, diz, para quem “a ideia do casamento continua a ser algo cristalizado”. A tradição tem o seu peso, mas hoje um enxoval é o que fazemos dele. “Tenho uma arca desde pequena, sempre no meu quartinho, e a minha mãe e as minhas avós sempre que tinham algum dinheiro ou viam algo de útil iam lá juntando”, conta Vânia Estima. Não só têxteis, mas também tachos ou talheres. A mãe de Alexandra Silva, de 39 anos e que cresceu na Piedade, perto de Águeda, também preparou um enxoval para ela e para a irmã de 34. Parte dos enxovais de Alexandra e de Vânia tiveram o mesmo destino: acompanharam-nas, solteiras e boas raparigas, na ida para a universidade. Hoje Alexandra é professora, Vânia fisioterapeuta. “Fui a primeira pessoa da minha família a ir para a universidade e a minha mãe percebeu que quando eu saísse de lá não ia voltar”, conta Alexandra. Parte do enxoval foi com ela para Coimbra. “Quando fui para a universidade”, recorda Vânia, o enxoval “foi uma grande ajuda” entre despesas como as propinas. “Calhou mesmo bem estar tudo prontinho. ”O investimento social no matrimónio “foi substituído por outras coisas, nomeadamente o investimento na educação", confirma Sandra Marques Pereira. "A maior parte dos projectos para os pais, mesmo para as filhas – e as mulheres hoje estão em percentagem bastante superior no ensino superior – passam muito pelo capital escolar e pelo investimento profissional. As pessoas hoje não têm tanto um projecto de vida que seja condicionado pelo casamento – é a autonomia, é a tentativa de realização pessoal através da profissão. ”O que não quer dizer que se abra mão do sonho que se tem em casa aos pés da cama. Há peças, como as rendas feitas pelas avós e panos e toalhas pintados à mão “que não ponho a uso por respeito”, diz Vânia Estima. Têm valor afectivo. “Os linhos, as colchas que valem muito dinheiro com bordados à mão, isso a minha mãe não liberta – e estão guardados na arca”, acrescenta Alexandra Silva. “E há peças de enxoval que já serviram – durante dois dias, na Páscoa e na festa da terra. E voltaram exactamente para o mesmo sítio. Para a arca. ”O enxoval é uma experiência internacional, encontrada em força no Brasil actual ou na Kerala da indiana Arundhati Roy no seu Deus das Pequenas Coisas. Na Alemanha estão também em armários altos, com baixelas e trens de cozinha à mistura. O “trousseau” francês também define enxoval em inglês. Na Austrália chamam-lhe “glory box”, como a emblemática canção dessa espécie de última era forte dos enxovais, os anos 90 dos Portishead, e os americanos de 1955 já lhe chamavam a "hope chest", como aquela onde Lorraine pousa as calças de Marty McFly em Regresso ao Futuro. Os rapazes também podem ter enxoval, é certo, mas são uma minoria. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Nas últimas décadas, as camas cresceram, os edredons assentaram, o comércio globalizou-se, a manufactura não parece competitiva. Os gostos individualizaram-se. As peças de linho não são tão práticas, os lençóis podem não servir nas camas, as colchas de renda pesam. Compra-se peças de enxoval, mas as lojas especializadas são raras. E “tudo o que é bordado manual torna-se caro porque o preço das bordadoras é dez euros à hora, um napperon demora um dia a fazer, 80 euros para o fabricante”, enumera Victor Castro. "Antes, recorríamos às 900 e tal fábricas na ilha da Madeira; neste momento só há duas. Os Açores tinham 19 fábricas, neste momento só têm uma. ”Hoje tem bordadeiras na Lixa, “das melhores”, e diz ser a única casa de enxovais lisboeta em que tudo é feito à mão. O preço de um bom enxoval, de manufactura, é três mil euros. Todos os dias, apesar de tudo, faz boas vendas e por vezes bem avultadas. Mas de peças avulsas. “Fazíamos dez a 30 enxovais por mês, passou a um por mês e a um por ano. Este ano não tive nenhum. Estou aqui para perpetuar o nome da minha mãe, que é famosa em todo o mundo. ”A construção, manutenção e transmissão do enxoval é ainda praticada como “legado patrimonial de uma cultura familiar”, remata Sandra Marques Pereira – guardar o que foi das mães, avós, bisavós. O futuro dos enxovais pertence para já aos bebés, sempre candidatos à construção do devir em algodão macio. Já o seu presente pode muito bem ser aquele que Vânia Estima conjuga. “Hoje a arca é a minha caixinha dos tesouros, é mais uma caixinha de recordações do que um enxoval. Pus lá algumas das minhas recordações de infância, uma prenda de família mais especial, um poema, uma assinatura do meu avô. É onde vou para aumentar o calor interior, procurar alguma orientação. ”
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave filha cultura filho educação mulher rainha ajuda homem social espécie minoria mulheres princesa casamento rapariga
Nélida Piñon ganha Prémio Literário Vergílio Ferreira 2019
A cerimónia de entrega terá lugar a 1 de Março, em Évora. (...)

Nélida Piñon ganha Prémio Literário Vergílio Ferreira 2019
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.2
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: A cerimónia de entrega terá lugar a 1 de Março, em Évora.
TEXTO: A escritora brasileira Nélida Piñon (Rio de Janeiro, 1937) foi hoje distinguida com o Prémio Literário Vergílio Ferreira 2019, atribuído pela Universidade de Évora (UÉ), revelou à agência Lusa fonte da academia alentejana. A decisão foi tomada durante uma reunião do júri do prémio, presidido pelo professor da UÉ Antonio Sáez Delgado e que integra também os docentes universitários Cláudia Afonso Teixeira (UÉ), Fernando Cabral Martins (Universidade Nova de Lisboa) e Ângela Fernandes (Universidade de Lisboa), assim como a crítica literária Anabela Mota Ribeiro. Instituído pela UÉ em 1996, para homenagear o escritor que lhe dá o nome, o prémio destina-se a galardoar anualmente o conjunto da obra literária de um autor de língua portuguesa relevante no âmbito da narrativa e/ou ensaio. Segundo uma nota da UÉ, o júri decidiu atribuir este ano o prémio a Nélida Piñon pela "latitude e profundidade da sua obra, que revela uma linguagem capaz de estabelecer e harmonizar um diálogo fértil entre a memória feminina e a história". Nascida no Rio de Janeiro (Brasil) em 1937, Nélida Piñon, de 81 anos, foi a primeira mulher a presidir à Academia Brasileira de Letras, em 1996, e é uma das maiores escritoras brasileiras vivas, cuja obra tem sido distinguida com diversos prémios. A sua extensa produção literária já foi traduzida em diversas línguas e distinguida com os prémios Rosalía de Castro, Jabuti, Casa de las Americas e o Príncipe de Astúrias das Letras, entre outros. A autora tem editados em Portugal, entre outros, os títulos A República dos Sonhos, Livro das horas e Aprendiz de Homero. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. A Universidade de Évora indicou que a edição 2019 do Prémio Literário Vergílio Ferreira contou com candidaturas oriundas de quatro países e que a cerimónia de entrega do galardão terá lugar a 1 de Março de 2019, data em que se assinala a morte do escritor. Para esse dia, referiu a academia, está prevista a realização de uma cerimónia que contará com as intervenções da premiada, do júri e da reitora da UÉ. O prémio foi atribuído pela primeira vez a Maria Velho da Costa, a que se seguiram, entre outros, Mia Couto, Almeida Faria, Eduardo Lourenço, Agustina Bessa Luís, Vasco Graça Moura, Mário Cláudio, Luísa Dacosta, José Gil, Hélia Correia Lídia Jorge e João de Melo, tendo sido galardoado na edição de 2018 o escritor Gonçalo M. Tavares.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave morte mulher feminina
Um Quartett de crueldade, amor e compreensão
Passados 19 anos sobre a estreia original, as companhias belgas tg STAN e Rosas regressam a Quartett, de Heiner Müller. Acontece que o tempo passou também para os intérpretes e a fisicalidade da peça é hoje mais rica. De terça a quinta, ocupa o palco do D. Maria II, em Lisboa. (...)

Um Quartett de crueldade, amor e compreensão
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.5
DATA: 2018-12-20 | Jornal Público
SUMÁRIO: Passados 19 anos sobre a estreia original, as companhias belgas tg STAN e Rosas regressam a Quartett, de Heiner Müller. Acontece que o tempo passou também para os intérpretes e a fisicalidade da peça é hoje mais rica. De terça a quinta, ocupa o palco do D. Maria II, em Lisboa.
TEXTO: Em 1999, a bailarina Cynthia Loemij e o actor Frank Vercruyssen tinham pouco mais de 30 anos. O seu encontro em palco, enquanto Merteuil e Valmont, seguindo as pistas do texto de Heiner Müller (Quartett) a partir do romance epistolar As Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos, num jogo de manipulação de afectos e desejos, em que ambos tentavam tanto seduzir quanto manietar o outro, tinha então uma carga muito diferente. Agora que regressam a essa peça – apresentações de terça a quinta-feira no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa – que iniciou uma série de colaborações entre as companhias belgas tg STAN (teatro) e Rosas (dança), os seus corpos são outros e as histórias que carregam consigo têm outro lastro. Deixaram de ser corpos quase só com futuro pela frente para passarem a ser corpos marcados pelo passado que acumulam. A riqueza do texto e as enormes possibilidades que oferece fizeram da peça de Müller uma das mais apetecíveis do reportório teatral, tendo originado encenações como aquela em que Isabelle Huppert se bateu com Ariel Garcia Valdès sob a direcção de Robert Wilson – por cá, ainda há dois anos Crista Alfaiate e Ivo Canelas se precipitavam para o fim do mundo sob o olhar de Jorge Silva Melo. No caso do encontro entre tg STAN e Rosas, em 1999, acabou por ser o pretexto perfeito para as irmãs Jolente e Anne Teresa de Keersmaeker criarem um espaço que permitisse o encontro entre duas fortíssimas linguagens de teatro e de dança. “Aquilo que a Anne Teresa e eu fizemos nesses anos”, lembra ao PÚBLICO Jolente de Keersmaeker, co-criadora de um espectáculo inventado a quatro, “foi uma pesquisa sobre o que acontece quando um bailarino fala e quando um actor dança. ” E foi a partir dessa pesquisa que Quartett começou a tomar forma, encaminhando-se para algo que Jolente acredita ter correspondido à descoberta de “uma terceira linguagem”. Nem música, nem dança – antes um híbrido, em que nenhuma expressão subjuga a outra. Tentando combinar dois métodos de trabalho muitíssimo distintos – as coreografias de Anne Teresa são de um enorme rigor, as peças dos STAN são ensaiadas em leituras de mesa, só se descobrindo verdadeiramente no palco quando se vêem diante do público –, a coreógrafa começou por criar sequências de movimentos para Cynthia e para Frank. Só depois o texto entrou e procuraram estabelecer ligações entre o movimento e a palavra, inscrevendo uma narrativa nos corpos e retrabalhando a gestualidade que acompanha as palavras. Quartett tinha ficado num lugar bonito das prateleiras dos tg STAN e da companhia Rosas, enquanto iluminada colaboração que injectava uma extraordinária fisicalidade ao jogo de gato-e-rato que Merteuil e Valmont desembainhavam em palco. E teria permanecido nessa condição de passado caso Marie Collin, directora do Festival d’Automne, em Paris, não tivesse pedido que a peça fosse remontada para a edição deste ano, que inclui um foco particular sobre a obra de Anne Teresa de Keersmaeker. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. O desafio, recorda, Jolente de Keersmaeker, foi prontamente aceite. “Estando a Cynthia e o Frank quase 20 anos mais velhos, quisemos ver o que este texto faria com eles. ” E, na opinião da fundadora dos STAN, aquilo que aconteceu foi um profundo acréscimo de densidade. “É mesmo incrível”, comenta, não escondendo que prefere sem hesitações esta nova versão. “Cada palavra e cada significado nos jogos cruéis que eles têm um com o outro parecem muito diferentes. ” Mais do que a luta entre uma mulher e um homem, reconhece agora a actriz e encenadora, a peça coloca em cena “uma luta entre dois seres humanos que tentam viver juntos ou lidar com o outro”. O que importa não são questões de género ou de natureza sexual, acredita, mas sim “a linha ténue entre o amor e o ódio, a questão do que é realmente o amor e se é sempre cruel ou não”. Se há 19 anos esse jogo de crueldade era travado com as armas de uma enorme fisicalidade, essa característica mantém-se neste novo Quartett. Só que traz consigo corpos que, com os anos, se tornaram mais vulneráveis. A tentativa de manipulação e de controlo do outro, sem alterar uma vírgula ao texto, faz-se agora com as fraquezas mais expostas. E a idade operou em todos um olhar renovado sobre o texto de Müller, revelando sugestões de humor e toda uma série de nuances e ambiguidades que tornam a peça mais humana. A ponto de Jolente já não pensar de imediato apenas em crueldade em relação a Quartett, ocorrendo-lhe também as palavras “amor” e “compreensão”. Nem tudo é o que parece, diz-nos. Sobretudo passados 20 anos.
REFERÊNCIAS:
MBS: O ambicioso e carismático vencedor do jogo de tronos saudita
O primeiro príncipe moderno na Arábia Saudita é também o que reúne mais poder desde sempre na monarquia. Quer mudar tudo, quer fazê-lo agora. E gostaria que os EUA se envolvessem num conflito militar com o Irão. (...)

MBS: O ambicioso e carismático vencedor do jogo de tronos saudita
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.116
DATA: 2018-12-28 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20181228200253/https://www.publico.pt/1777706
SUMÁRIO: O primeiro príncipe moderno na Arábia Saudita é também o que reúne mais poder desde sempre na monarquia. Quer mudar tudo, quer fazê-lo agora. E gostaria que os EUA se envolvessem num conflito militar com o Irão.
TEXTO: Dois anos e meio absolutamente frenéticos num reino que sempre se quis sereno culminaram, em Junho, na promoção de Mohammed bin Salman a sucessor directo do pai, o rei Salman. MBS, como é conhecido na Arábia Saudita, será o próximo rei de uma das últimas monarquias absolutas do mundo. O Irão, que o príncipe acusa de “tentar controlar o mundo islâmico” (promete, se necessário, “levar a guerra ao centro” do país), descreveu a mudança na linha de sucessão como “um golpe branco” (soft coup). Há quatro décadas que o reino dos santuários do islão disputa a hegemonia política regional com o Irão e vê na potência xiita o grande rival. Pouco depois da revolução de 1979, que transformou a histórica Pérsia numa teocracia, Riad ensaiou uma aliança árabe sunita (Conselho de Cooperação do Golfo) precisamente para tentar limitar a influência iraniana. E nos últimos anos, enquanto a Administração Obama negociava com Teerão um acordo nuclear que ditaria o fim do seu estatuto de pária e das sanções que asfixiavam os iranianos, toda a política externa saudita visou conter o Irão. MBS recebe o título de príncipe herdeiro depois de dois anos e meio como ministro da Defesa, cargo que o pai lhe entregou assim que chegou ao trono, quando o jovem tinha 29 anos. Desde então, a Arábia Saudita assumiu uma atitude assertiva e agressiva como nunca: foi MBS que esteve por trás da intervenção no Iémen, uma acção desastrosa que tornou uma guerra civil num conflito regional, oficialmente para combater os rebeldes apoiados pelo Irão. Foi também ele o grande promotor da actual crise com o Qatar, país aliado a que Riad impôs um bloqueio para o forçar a desistir das relações com Irão e com a Turquia (outro rival) e a encerrar a sempre incómoda televisão pan-árabe Al-Jazira. Como se a guerra síria e a violência no Iraque, para além do descalabro iemenita, na fronteira Sul do país, não fossem suficientes para ocupar Riad. A postura impressa por MBS é, em parte, a resposta às revoltas árabes dos últimos anos, vaga de protestos que beliscou sem fazer estremecer a monarquia. Mas é também o esforço necessário para garantir a sobrevivência do reino onde o extremismo da doutrina ortodoxa wahhabita é lei, o país que quer ser âncora numa zona do mundo em acelerado processo de desagregação. Agora, aos 31, MBS prepara-se para ser o mais jovem rei de sempre, na primeira sucessão geracional na monarquia em 64 anos. Ambicioso, demasiado segundo os detractores, “é muito agressivo na defesa da segurança e soberania do país” e “quer torná-lo autónomo e independente da América”, diz Bernard Haykel, professor de Estudos do Médio Oriente na Universidade de Princeton. Mas apesar do enorme orçamento militar (um dos maiores do mundo) de que dispõe, MBS sabe que este “não passa de um desejo”. A Casa Branca, garante Haykel, não foi tida nem achada nesta alteração que afastou da sucessão e retirou todos os cargos ao antigo herdeiro, Mohammed bin Nayef, sobrinho do rei, “o saudita preferido de Washington”. “A equipa de [Donald] Trump foi apanhada de surpresa pelo anúncio mas deu as boas-vindas ao novo príncipe herdeiro”, diz, por seu turno, Bruce Riedel, analista do think tank Brookings Institution e do Center for Middle East Policy, depois de 30 anos ao serviço da CIA. A liderança saudita, nota Riedel, “está contente por ter um parceiro americano que não apoia reformas políticas ou de igualdade de género”. Se MBS for bem-sucedido, pode já estar em curso uma profunda alteração dos termos de uma aliança antiga, aquela que foi forjada em 1945 a bordo do USS Quincy, quando o Presidente Roosevelt e o rei Abdul Aziz trocaram, em segredo, garantias de segurança militar por acesso seguro a petróleo. Aqui, a mudança será mesmo lenta e nunca assumida. Afinal, foi MBS que jantou com Trump na Casa Branca em Março, abrindo caminho à visita do Presidente americano a Riad, onde este fez questão de descrever os sauditas como aliados fundamentais no combate ao terrorismo e ao extremismo. O salto geracional começava a tornar-se inevitável. Quando subiu ao trono, Salman nomeou um dos seus irmãos, Muqrin, como príncipe herdeiro, e o sobrinho Bin Nayef como segundo na linha de sucessão. Três meses depois, bastaram alguns decretos para afastar Muqrin, fazer subir Nayef e colocar o seu filho favorito, até então quase desconhecido, no seu lugar. Nunca um filho do fundador, Abdul Aziz, tinha sido afastado – ao fazê-lo, o rei fortaleceu a chamada linha dura, os mais radicais e anti-reformistas entre os Al-Saud, ao mesmo tempo que reforçava o controlo do ramo dos Sudairi (o grupo de seis irmãos do rei Fahd, monarca que mais anos esteve no trono, o maior clã da família). Agora, explica Haykel, a sucessão vertical (em vez de horizontal) só é possível porque a maioria dos príncipes da segunda geração de monarcas “está velha, morta ou incapacitada”. O próprio rei tem 81 anos e especula-se que poderá abdicar em vida. Haykel duvida, a não ser em caso de incapacidade mental; Riedel lembra que “o processo de sucessão está incompleto já que não foi nomeado nenhum vice-príncipe herdeiro [como tem acontecido]” e diz que “até isso acontecer é pouco provável que o rei Salman abdique”. Certo é que MBS já tem um poder nunca antes concentrado num príncipe saudita: para além de ministro da Defesa, chefia o Conselho da Economia e do Desenvolvimento e é autor de uma ambiciosa reforma económica que visa acabar com a dependência do país face ao petróleo até 2030 e que gere ainda as políticas de Educação e Saúde, e é presidente do conselho de administração da petrolífera estatal, a Aramco, tendo planos para a sua privatização parcial. MBS vai chegar ao trono num país rodeado no centro de todas as crises no preciso momento em que a economia do reino se tornou insustentável. “A ‘Visão 2030’ [nome da grande reforma promovida por MBS] é um reconhecimento corajoso de que o Estado social saudita é insustentável com os baixos preços do petróleo”, descreve Riedel. “As propostas do príncipe herdeiro não são suficientemente ambiciosas mas são um passo na transição necessária”, acrescenta. O problema, nota o analista, é que “para ser bem-sucedido MBS terá de cortar drasticamente nos gastos militares, o que implica uma política externa mais flexível e uma abordagem regional mais moderada, o que significa um revés abrupto para o jovem príncipe”. Tudo aquilo em que MBS não parece preparado para ceder. “Mas com o Irão, como é que comunicamos? A lógica deles [xiitas] baseia-se na noção de que o imã Mahdi vai chegar e que devem preparar um ambiente fértil para a sua vinda e devem controlar o mundo muçulmano. Eles privaram o seu próprio povo de desenvolvimento por mais de 30 anos e fizeram-nos passar fome”, afirmou, numa das suas habituais intervenções televisivas, em Maio. MBS descreve o Irão como país das trevas por oposição à sua Arábia Saudita; não a actual, que ele sabe não ser muito diferente, mas a que diz desejar. “Sou jovem. Setenta por cento dos nossos cidadãos são jovens”, disse numa entrevista ao Washington Post em que sugeriu lamentar o excesso de poder da polícia religiosa no reino. Não se espera dele que quebre o equilíbrio entre os Al-Saud e os líderes religiosos que fez deste território um país, apenas que aligeire algumas regras sociais e ofereça aos sauditas oxigénio e diversão. O próximo rei vai querer os súbditos “entretidos”, estimam diferentes observadores, até para os distrair das dificuldades económicas. “Não queremos passar o resto das nossas vidas como nos últimos 30 anos. Queremos pôr fim a esta época agora”, afirmou ao Post. “Enquanto sauditas, queremos usufruir dos próximos tempos e concentrarmo-nos em desenvolver a nossa sociedade e nós mesmos como indivíduos e famílias, mantendo ao mesmo tempo a nossa religião e os nossos costumes. ”O príncipe quer tudo e isso ainda é pouco. No reino e mesmo no seio dos Al-Saud, “a sua inábil gestão da guerra no Iémen não é popular e a maioria considera-o arrogante”, diz Riedel. A sucessão foi apresentada como tranquila, mas sabe-se que nem todos estiveram de acordo (o New York Times escreve que desde que foi afastado Nayef está confinado ao seu palácio, em Jidá, para limitar a oposição ao novo herdeiro). Alguns líderes na Europa estão preocupados com a falta de experiência do príncipe e com a sua atitude e retórica bélica. Ao contrário dos reis anteriores, que chegaram ao trono depois dos 60 anos, este vai provavelmente governar durante décadas e há dirigentes ocidentais que ainda não sabem se podem confiar nele. Esperava-se alguma diplomacia silenciosa e menos agressividade nas palavras e nos actos. Haykel acredita que MBS é “mais realista e pragmático do que parece”, não “é ideológico, não é radical nem extremista”, é “um político que procura soluções para os problemas”. Ainda que às vezes essas soluções lhe pareçam impossíveis: “O modelo económico dele é Singapura, quer equilibrar isso com um sistema político autoritário”. O analista dá-lhe muito crédito por ter “vencido a enorme competição que se viveu dentro da família real, afastando centenas de primos, muitos mais velhos e experientes”. Fazê-lo, diz, só é possível “com muita competência”. Com um perfil público e seguidores nas redes sociais, MBS é um príncipe moderno como nenhum outro até aqui no reino. “É muito carismático e é um verdadeiro político”, diz Haykel. “Tem aquele toque de político, faz-nos sentir no centro do universo quando fala connosco”. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Popular entre os jovens sauditas, assusta todos os outros que temem vê-lo pôr em causa os muitos equilíbrios que mantêm a Arábia Saudita unida. Na região, aplaude-se alguém que quer liderar mas receia-se que MBS contribua para mais polarização e fragmentação. No fundo, “o que a Arábia Saudita, tal como Israel, gostaria era de ver os Estados Unidos envolvidos num confronto militar com o Irão”, diz Haykel. “Espero que isso não aconteça, espero que a Administração Trump seja mais esperta do que isso. ” Pondo de lado esse cenário, o analista não vê nenhuma solução a curto prazo para a estabilidade na região. Haykel defende que MBS sabe que um dia terá de conversar com o Irão, quer é fazê-lo em posição de força. De momento quem olha de cima é mesmo Teerão. Para pôr fim à escalada nas tensões seria preciso um mediador, um papel que só os EUA poderiam desempenhar. Ora isso é algo que o académico não espera da “actual Administração, muito anti-Irão e contente por ver alguns dos seus aliados árabes numa frente unida contra Teerão”.
REFERÊNCIAS:
Partidos PAN
Sánchez anuncia governo socialista e já conta com a oposição dos que o puseram no poder
Novo executivo será "paritário e europeísta", diz o líder do PSOE. E terá muitas dificuldades em conseguir apoios no Parlamento. (...)

Sánchez anuncia governo socialista e já conta com a oposição dos que o puseram no poder
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-12-26 | Jornal Público
SUMÁRIO: Novo executivo será "paritário e europeísta", diz o líder do PSOE. E terá muitas dificuldades em conseguir apoios no Parlamento.
TEXTO: A frase é da maior aliada de Mariano Rajoy, a sua vice-presidente Soraya Sáenz de Santamaría: “Já começou a festa”, disse nos corredores do Congresso, citada pelo jornal El Mundo. Santamaría referia-se aos cinco vetos à Lei do Orçamento Geral do Estado registados esta sexta-feira por cinco partidos que votaram ao lado do novo primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez. Ora, o líder do PSOE e agora do país já dissera que vai cumprir o Orçamento aprovado pelo PP para 2018, o mesmo que descreveu como “um ataque ao Estado de bem-estar” e uma chantagem do PNV, os nacionalistas bascos que votaram ao lado de Rajoy e depois ajudaram Sánchez a derrotá-lo. Naturalmente, não vem do PNV nenhum dos vetos ao Orçamento: Podemos, PDeCAT (Partido Democrata Europeu Catalão, do ex-líder da Generalitat, Carles Puigdemont), ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), Compromís (coligação que inclui o Podemos em Valência) e EH Bildu (bascos pró-independência) foram os partidos que votaram ao lado do PSOE na moção de censura que destronou Rajoy e o levou ao poder, horas antes de registarem esses vetos. A oposição destes partidos ao Orçamento não terá consequências práticas – o PP já confirmou que mantém a sua aprovação –, mas dá o tom para as dificuldades que esperam o novo chefe de Governo. Como afirmou o veterano Joan Tardà, porta-voz da ERC no Congresso, os votos do seu partido não foram a favor de Sánchez, mas sim “contra” Rajoy. Pablo Iglesias e o seu Podemos, essenciais para garantir o sucesso da moção de Sánchez, negociando e confirmando apoios nos bastidores, ofereceram-se para integrar o próximo executivo. O abraço entre Iglesias e Sánchez, no fim da votação, podia ser um símbolo para o futuro. Mas o líder do PSOE “agradece e recusa”, optando por formar um governo “inteiramente socialista e paritário” (algo que só José Luis Rodríguez Zapatero conseguiu, em 2004, com oito ministras em 16). “Espanha necessita de um governo estável e é muito difícil dar estabilidade a um governo com 84 deputados”, afirmou Iglesias, numa espécie de inversão de papéis – afinal, é o líder do Podemos, partido que tantos temem pelo seu suposto radicalismo, a bater na tecla da estabilidade, enquanto Sánchez, à frente de um partido com décadas de história, aposta num cenário mais arriscado. Para além de “socialista e paritário”, Sánchez, que toma oficialmente posse este sábado às 12h, promete um governo “europeísta, garante de estabilidade orçamental e económica e cumpridor dos seus deveres europeus”. Nada disto se antecipa fácil, principalmente se lhe juntarmos as promessas de “reconstruir” consensos sobre o Estado social, que diz terem sido “destruídos”, a recuperação do carácter universal do acesso ao sistema de saúde pública e uma lei que assegure a igualdade de género no trabalho. Mais complicado ainda será fazer isto tudo enquanto tenta resolver a crise catalã. Sánchez garante que não prometeu nada a nenhum partido em troca de votos (não precisava, a vontade de derrubar Rajoy aliada ao interesse em adiar eleições do PNV chegariam). Mas ofereceu diálogo a Barcelona sem abdicar um milímetro na questão da independência. Já se sabe que a proposta socialista é próxima da do Podemos e implica uma Espanha federal – e que os independentistas não têm nada contra, querem é um referendo em que surjam todas as possibilidades. Seja como for, onde as questões nacionalistas se colocam com mais urgência, na Catalunha e no País Basco, os socialistas estão muito mais bem colocados para as discutir do que estavam os populares. A imprensa catalã aposta até que o líder do PS da região, Miquel Iceta, volte a Madrid (já foi deputado no Congresso e responsável do Gabinete da Presidência nos anos 1990), talvez até como vice-presidente. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Sánchez disse que em democracia a corrupção não é uma banalidade e acertou, como acaba de se ver. A corrupção, defendeu, cria instabilidade. Governar exige um pouco mais e ele já admitiu que “nada será fácil”. O PSOE conseguiu juntar deputados suficientes para derrubar Rajoy, mas, tal como o PP, está num momento de mínimos históricos nas sondagens. Algo que esta moção tenderá a inverter, já que o apoio a Rajoy na questão catalã lhe custou apoios. Não falta quem enterre o seu Governo, antes mesmo de este anunciar os seus ministros – durantes uns dias, Sánchez vai governar com os ministros de Rajoy. Para além do PP e do Cidadãos (Albert Rivera jogou mal ao apostar que esta moção não passaria e que acabaria por conseguir provocar eleições antecipadas), sobram textos de comentaristas. “Tentar governar sem apoios ou, pior, com apoios contraproducentes, é uma imprudência”, escreve o diário El País num editorial intitulado Um Governo inviável. Para o mesmo jornal, Sánchez era um líder politicamente morto em 2016. Renasceu. Quem sabe o que mais conseguirá.
REFERÊNCIAS:
Partidos PS
Sobreviventes
Simone Veil foi uma das últimas testemunhas do que o nacionalismo extremo é capaz de fazer aos homens. (...)

Sobreviventes
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2017-09-24 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20170924011811/https://www.publico.pt/mundo/noticia/sobreviventes-1777630
SUMÁRIO: Simone Veil foi uma das últimas testemunhas do que o nacionalismo extremo é capaz de fazer aos homens.
TEXTO: 1. Entrevistei-a já lá vão muitos anos, creio que em finais dos anos 80, numa visita que fez a Lisboa e ao Parlamento português. Foi a primeira e única vez que tive diante dos olhos, sem as imagens dos filmes e as descrições dos livros, o número gravado no seu braço esquerdo, fruto da sua passagem por Auschwitz e Bergen-Belsen. Podia tê-lo feito remover. Não quis. A sua vida política, a sua determinação, a necessidade de levar até ao fim as suas causas e as suas convicções e nunca fugir às responsabilidades nasceram no dia em que entrou num comboio para gado com a mãe e uma irmã em direcção a Auschwitz. Tinha 16 anos, era de uma velha família judia francesa de Nice bem na vida. Quando desembarcou no campo de extermínio, alguém lhe sussurrou ao ouvido que devia dizer que tinha 18 anos — menos do que isso, seria inútil para os campos de trabalho e caminharia directamente para a câmara de gás. Uma “kapo” polaca e prostituta achou que “era bela de mais para morrer”. O pai e o irmão seguiram outro destino e ninguém sabe em que condições desapareceram. A mãe não resistiu à doença na caminhada de 70 quilómetros na neve em direcção a Bergen-Belsen, quando os alemães fugiam ao Exército Vermelho, que entrava na Polónia. Ao contrário de tantos sobreviventes que não conseguiram conviver com a sua sobrevivência, Simone Jacob, depois Veil, fez dessa sobrevivência a força que a acompanhou em tudo aquilo que fez. Era uma espécie de dever. Seguiu a magistratura e o conselho mais importante da sua mãe: para seres independente, tens de trabalhar. A memória da Shoah, os direitos das mulheres e a Europa foram as suas três grandes causas. Não deixa de ser notável que a ministra da Saúde de um governo de centro-direita, o primeiro a que pertenceu entre 1974 e 1979, tenha ousado travar a batalha pela legalização do aborto, numa altura em que era ainda um tabu. Fora uma promessa eleitoral de Giscard d’Estaing, que ela se encarregou de cumprir. Perdeu amigos e colegas de governo e enfrentou uma campanha sem piedade. Ganhou. Transformou-se num exemplo. Nunca deixou de lutar pela memória dos judeus franceses, 60 mil dos quais foram enviados para os campos de concentração. Denunciou com palavras serenas e rigorosas as sucessivas vagas de anti-semitismo que atingiram o seu país. Sabia que era preciso lembrar sempre, mas sem confundir o mal absoluto do Holocausto com o anti-semitismo que emergia quase sempre em função do que se passava no Médio Oriente. Amou sempre a França. O número no seu antebraço, a sua figura serena e o seu inesquecível olhar azul sombrio ficaram gravados na minha memória. Não era empatia, que não tinha, era uma sobriedade difícil de penetrar e uma firmeza que emanava da sua figura serena. Em 1979, Giscard desafiou-a a candidatar-se às primeiras eleições por sufrágio universal para o Parlamento Europeu. Foi a sua primeira presidente. Ela própria um símbolo da ideia que esteve na base da integração europeia: “Nunca mais. ” Para quem sobreviveu, a Europa era um imperativo. E Estrasburgo o lugar perfeito de um tempo ao qual ninguém queria regressar. A cidade alsaciana na fronteira entre a França e a Alemanha que foi sendo francesa e alemã ao longo da trágica história da primeira metade do século XX. Até à Comunidade Europeia, criada para abolir o significado de todas as fronteiras. Veil foi uma das últimas testemunhas do que o nacionalismo extremo é capaz de fazer aos homens, retirando-lhes toda a humanidade. Aos carrascos e às suas vítimas. Não havia humanidade nos campos, apenas seres transformados em fantasmas. Esqueletos sem vida embora ainda vivos. Ninguém poderia ter imaginado. Veil sobreviveu para dar um sentido à sobrevivência. 2. Primo Levi, depois de ter escrito Se isto é um Homem (1947), pôs termo à vida em 1987. Jorge Semprúm, que nasceu espanhol e morreu francês, foi preso e enviado pela Gestapo para Buchenwald, o destino dos resistentes à ocupação nazi, e apenas conseguiu escrever sobre a sua experiência muitos anos depois do fim da guerra. A Escrita ou a Vida foi uma das suas últimas obras. Robert Antelme, combatente da Resistência francesa, casado com a escritora Marguerite Duras, foi preso em 1944 e enviado para Buchenwald. Regressou para constatar que era impossível comunicar com aqueles que não estiveram lá. Escreveu apenas um livro: L’Espèce Humaine, onde registou o dia-a-dia do campo de concentração, como se o estivesse a observar de fora, distante da sua própria existência, reduzindo as palavras à mera descrição dos factos. Não era a mesma pessoa. A mesma vida não lhe era permitida. Página a página, a sua obsessão era provar que a degradação extrema não conseguira aniquilar o ser humano. Separou-se de Duras, cuja obra La Douleur transmite o mesmo sentimento de distância por vezes intransponível. Simone Veil sobreviveu. Para dar testemunho. Não pela escrita mas pela acção. “Sou o que aqueles anos fizeram de mim. ” Uma rocha. Uma vida para que ninguém esqueça. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. 3. Ontem em Estrasburgo, pela primeira vez desde a fundação da Comunidade, a Europa organizou o seu primeiro “funeral de Estado”. No centro do gigantesco hemiciclo do Parlamento Europeu, o caixão de Helmut Kohl apenas coberto com a bandeira europeia, recebeu a última homenagem à sua dimensão política e humana. Mal-amado no seu próprio país, reconhecido pelos europeus como uma figura política central da construção europeia, na sua mais importante dimensão: impedir o regresso dos demónios que por duas vezes destruíram a Europa e mergulharam o mundo em duas guerras mundiais. Veil e Kohl, a França e a Alemanha, a sobrevivente dos campos e o jovem que ajudou a enterrar os mortos na sua cidade natal na Renânia, bombardeada pela aviação aliada, cuja idade o poupou ao recrutamento. Mas que nunca esqueceu. Ontem estiveram em Estrasburgo os líderes ocidentais com quem conviveu durante e depois do fim da Guerra Fria. Bill Clinton, Felipe González, Jean-Claude Juncker, a quem chamava “junior”, Medvedev, o primeiro-ministro russo exibindo a face mais aceitável do regime de Putin. Clinton, o grande comunicador, resumiu tudo numa frase: “Kohl deu-nos a oportunidade de participar em algo maior do que nós próprios, maior do que os nossos mandatos, maior do que as nossas carreiras. ” O antigo Presidente americano costumava ir com ele a uma pizzeria de Georgetown, para ambos se deliciarem com um número pouco recomendado de pizzas e outras espécies de junk-food. “Era a única pessoa que tinha mais apetite do que eu. ”González e Guterres eram os seus dois “enfants terribles”. Queriam sempre mais e Kohl estava quase sempre na disposição de passar um cheque. Era a sua grande arma para resolver conflitos. Com ele, a Alemanha ainda não era totalmente um país “normal”, como proclamou Gerhard Schroeder quando o destronou, em 1998. Reconhecia a dívida da Alemanha aos aliados, quando lhe permitiram juntar-se ao concerto das nações civilizadas pouco depois do fim da guerra. Emmanuel Macron e Angela Merkel discursaram na cerimónia, ao lado dos velhos companheiros de Kohl. O chanceler prometeu-lhes uma Alemanha europeia e não uma Europa alemã. Cumpriu. Como Veil. Resta saber quem estará agora à altura do testemunho.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave aborto direitos homens guerra campo concentração homem comunidade doença espécie mulheres prostituta
Sampaio recorda inteligência e força moral do "amigo" Kofi Annan
Jorge Sampaio enaltece ainda a "faculdade extraordinária" que Kofi Annan tinha "de fazer sentir cada pessoa que encontrava especial e única, testemunhando-lhe sempre um afecto próprio e uma amizade certa". (...)

Sampaio recorda inteligência e força moral do "amigo" Kofi Annan
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.0
DATA: 2018-08-19 | Jornal Público
URL: https://arquivo.pt/wayback/20180819194144/https://www.publico.pt/n1841392
SUMÁRIO: Jorge Sampaio enaltece ainda a "faculdade extraordinária" que Kofi Annan tinha "de fazer sentir cada pessoa que encontrava especial e única, testemunhando-lhe sempre um afecto próprio e uma amizade certa".
TEXTO: O ex-presidente da República Jorge Sampaio recebeu hoje com "mágoa" a notícia da morte do "amigo" Kofi Annan, antigo secretário-jeral das Nações Unidas, que recorda pela "estatura intelectual e força moral", "dinamismo" e solidez de presença e convicções. "São raras as pessoas que dificilmente imaginamos que possam um dia desaparecer, mas Kofi Annan era seguramente uma delas. A sua estatura intelectual e força moral, o seu dinamismo, a solidez da sua presença e convicções sempre se sobrepuseram ao sentido da vida efémera e à mortalidade própria dos humanos", afirma Jorge Sampaio, num comunicado. Para o antigo Presidente da República, o "desaparecimento súbito" de Kofi Annan provoca um "sentimento de choque e injustiça que não são facilmente superáveis", principalmente para alguém que, como Jorge Sampaio, privou com ele "em contextos diversos e durante vários anos". Jorge Sampaio recorda como, enquanto Presidente da República, se encontrou com o então secretário-geral das Nações Unidas a propósito da causa de Timor Leste, da luta contra o HIV-SIDA e da agenda dos Objectivos do Desenvolvimento Milénio. Foi, aliás, Jorge Sampaio quem distinguiu Kofi Annan, em nome de Portugal e dos portugueses, com o grande colar da Ordem da Liberdade, em Outubro de 2005. Uma distinção que traduziu a homenagem portuguesa a quem soube "dar voz e defender os valores consagrados na Carta das Nações Unidas e conferir um novo sentido e uma nova urgência ao papel insubstituível que cabe a esta Organização desempenhar no mundo, em prol da paz, do desenvolvimento e da defesa dos direitos humanos". O antigo Presidente da República sublinha como, na altura, destacou em particular o "sentido de independência e a coragem" de Kofi Annan, bem como a sua "vigorosa" defesa dos direitos humanos, o empenho que colocou na promoção do estatuto da mulher e na igualdade de género, a prioridade à luta contra a pobreza e a doença, o "decisivo impulso" ao processo de reforma da Organização e o "papel fundamental" que desempenhou no processo que culminou na independência de Timor Leste. Jorge Sampaio evoca também o momento -- em Abril de 2006, já após o final do seu mandato de Presidente da República -- em que recebeu uma chamada telefónica de Kofi Annan, convidando-o para seu enviado especial para a luta contra a tuberculose, missão relacionada com a Agenda dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio. Esse desafio, permitiu o início de um novo ciclo de relacionamento de trabalho entre Jorge Sampaio e Kofi AnnanDepois de deixar a liderança das Nações Unidas, Kofi Annan manteve ainda contacto com Jorge Sampaio no âmbito da Comissão Global para a Política das Drogas. "Continuei a encontrar o meu amigo Kofi Annan, sempre extremamente activo e envolvido na promoção de causas em que entendia ser útil e poder marcar uma diferença", sublinha. Jorge Sampaio enaltece ainda a "faculdade extraordinária" que Kofi Annan tinha "de fazer sentir cada pessoa que encontrava especial e única, testemunhando-lhe sempre um afecto próprio e uma amizade certa". Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. "Talvez seja esta faceta de Kofi Annan que guardarei sempre viva na memória e que tive ocasião de observar", fosse em situações mais formais, como as reuniões em Genebra, ou informais, como um encontro acidental numa remota sala de espera do aeroporto de Nairóbi. Jorge Sampaio termina evocando o "olhar frontal e sorriso luminoso" do antigo secretário-geral das Nações Unidas, bem como o seu "sentido de humor", "sabedoria funda, feita de experiência e inteligência rara". "Kofi Annan deixa-nos no ano do centenário do nascimento de Nelson Mandela. São dois vultos e dois legados que devemos celebrar conjuntamente, por tudo o que os une e que representam para a afirmação da nossa humanidade comum e da universalidade dos valores e princípios em que assenta", considera.
REFERÊNCIAS:
Palavras-chave direitos morte humanos mulher doença igualdade género pobreza desaparecimento
Abusos sexuais no Porto: jovem foi identificada, mas não apresentou queixa
Situação ocorreu num autocarro, depois de uma das noites de Queima das Fitas do Porto. Segundo o Expresso, a jovem é maior de idade. (...)

Abusos sexuais no Porto: jovem foi identificada, mas não apresentou queixa
MINORIA(S): Mulheres Pontuação: 6 | Sentimento 0.3
DATA: 2017-05-18 | Jornal Público
SUMÁRIO: Situação ocorreu num autocarro, depois de uma das noites de Queima das Fitas do Porto. Segundo o Expresso, a jovem é maior de idade.
TEXTO: A polícia identificou a rapariga filmada num autocarro numa das noites da Queima das Fitas do Porto, quando estaria alegadamente a ser vítima de abusos sexuais. No entanto, a jovem não quis apresentar qualquer queixa, avança o Expresso. A edição desta quarta-feira do jornal Correio da Manhã divulga uma "alegada violação num autocarro do Porto" que, de acordo com "testemunhos e comentários que circulam em várias redes sociais, terá ocorrido durante a Queima das Fitas, entre 7 e 14 de Maio". Esta situação pode resultar num crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência, mas o respectivo inquérito só pode ser iniciado depois de apresentada queixa. O Expresso relata que a rapariga, que é maior de idade, não fez nenhuma denúncia relacionada com a suposta violação, nem a propósito da divulgação de imagens. A Polícia Judiciária (PJ) confirmou que tem inspectores "no terreno" para averiguar o caso. "Temos gente no terreno. Estamos a recolher elementos para ver se há matéria para investigação. Neste momento ainda não foi instaurado nenhum inquérito", disse à Lusa fonte da Judiciária ligada ao processo, acrescentando que este caso será considerado um crime semipúblico e, por essa razão, depende de queixa criminal para se avançar com uma investigação. Subscreva gratuitamente as newsletters e receba o melhor da actualidade e os trabalhos mais profundos do Público. Também a divulgação do referido vídeo levou a uma série de reacções ao longo desta quarta-feira. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) abriu um processo para averiguar a transmissão pelo jornal Correio da Manhã de “um vídeo em que é visível um alegado abuso sexual sobre uma jovem”. O conselho deontológico do Sindicato dos Jornalistas (CDSJ), por sua vez, condenou a divulgação pelo jornal e pela televisão do Correio da Manhã do vídeo. Em comunicado, o CDSJ "considera que o vídeo sobre uma suposta violação publicado pelo Correio da Manhã no seu site e exibido na CMTV atenta contra todas as regras do jornalismo e deve por isso ser retirado do site e não deve ser exibido na sua emissão televisiva". Além disto, a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) avançou para uma queixa contra o jornal no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa, para apuramento de responsabilidade criminal, "uma vez que as imagens divulgadas indiciam a prática de crime contra a honra ou contra a reserva da vida privada". A CIG anunciou também que iria apresentar queixa no DIAP do Porto contra incertos, igualmente para apuramento de responsabilidade criminal, "uma vez que as imagens indiciam comportamentos que consubstanciam a prática de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual".
REFERÊNCIAS:
Entidades PJ